Capítulo 18

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MARLEY TINHA apenas uma vaga ideia do que se passava ao seu redor. Após aquele primeiro

mergulho no esquecimento, percebeu estar sendo carregada para dentro de um carro. Ouviu a

voz preocupada de Chrysander murmurando-lhe palavras ao ouvido, mas se fechou em seu

íntimo para tudo que vinha daquele homem.

Quando despertou outra vez, se encontrava deitada em uma cama. Olhando ao redor,

reconheceu onde estava e, com isso, foi invadida por uma nova onda de agonia, quente como

uma lava, que lhe percorreu todo o corpo e lhe tirou o ar.

Chrysander não seria capaz. Certamente não poderia ser tão cruel a ponto de trazê-la para o

lugar em que viveram e do qual a expulsara.

Esperou pelas lágrimas, mas curiosamente tudo que sentia era um estranho distanciamento,

um vácuo sem fundo, com a necessidade de sair daquele lugar.

Quando se sentou, o olhar se fixou em uma cadeira, próxima à janela, onde Chrysander

estava adormecido. Encontrava-se tombado sobre o braço da cadeira, com a roupa

amarfanhada e a barba de um dia lhe escurecendo a mandíbula.

Marley esperou pelo acesso de raiva, de fúria, porém mais uma vez, tudo que sentiu foi um

entorpecimento sufocante e a necessidade de escapar.

Levantou-se da cama, sem perceber as próprias roupas amassadas. Ocorreu-lhe que deveria

trocá-las, mas não poderia arriscar acordar Chrysander. Não. Precisava sair dali. Não poderia

encará-lo sabendo que ele lhe fizera tão terríveis acusações e depois a deixara à mercê dos

sequestradores.

O polegar roçou a argola fina do anel de noivado e ela o retirou com um movimento brusco.

O metal era frio contra a palma de sua mão. Com um movimento suave, ela o pousou sobre o

criado mudo, girou e saiu.

Com os pés descalços, se encaminhou ao elevador. Sentia o estômago revirar enquanto

revivia a noite em que entrara naquele elevador, com o mundo desmoronando ao seu redor e

as acusações de Chrysander reverberando em seus ouvidos. Como ele fora capaz? Aquele era

o único pensamento que espiralava em sua mente até fazê-la ter vontade de gritar para

dispersá-lo.

Quando alcançou o saguão, estacou, percebendo que não só o pessoal da segurança de

Chrysander estaria guardando a entrada da frente como o porteiro também não a deixaria sair

naquelas condições.

Marley girou e se encaminhou, apressada, à entrada dos fundos. Para seu desapontamento,

um dos homens que ela reconheceu como pertencente ao destacamento de Chrysander se

encontrava a postos. Rapidamente, desviou para a entrada de serviço e cruzou o corredor que

levava à lavanderia e à sala de manutenção. Minutos depois, Marley abriu uma porta e saiu

para a luz pálida que prenunciava o amanhecer.

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