MARLEY TINHA apenas uma vaga ideia do que se passava ao seu redor. Após aquele primeiro
mergulho no esquecimento, percebeu estar sendo carregada para dentro de um carro. Ouviu a
voz preocupada de Chrysander murmurando-lhe palavras ao ouvido, mas se fechou em seu
íntimo para tudo que vinha daquele homem.
Quando despertou outra vez, se encontrava deitada em uma cama. Olhando ao redor,
reconheceu onde estava e, com isso, foi invadida por uma nova onda de agonia, quente como
uma lava, que lhe percorreu todo o corpo e lhe tirou o ar.
Chrysander não seria capaz. Certamente não poderia ser tão cruel a ponto de trazê-la para o
lugar em que viveram e do qual a expulsara.
Esperou pelas lágrimas, mas curiosamente tudo que sentia era um estranho distanciamento,
um vácuo sem fundo, com a necessidade de sair daquele lugar.
Quando se sentou, o olhar se fixou em uma cadeira, próxima à janela, onde Chrysander
estava adormecido. Encontrava-se tombado sobre o braço da cadeira, com a roupa
amarfanhada e a barba de um dia lhe escurecendo a mandíbula.
Marley esperou pelo acesso de raiva, de fúria, porém mais uma vez, tudo que sentiu foi um
entorpecimento sufocante e a necessidade de escapar.
Levantou-se da cama, sem perceber as próprias roupas amassadas. Ocorreu-lhe que deveria
trocá-las, mas não poderia arriscar acordar Chrysander. Não. Precisava sair dali. Não poderia
encará-lo sabendo que ele lhe fizera tão terríveis acusações e depois a deixara à mercê dos
sequestradores.
O polegar roçou a argola fina do anel de noivado e ela o retirou com um movimento brusco.
O metal era frio contra a palma de sua mão. Com um movimento suave, ela o pousou sobre o
criado mudo, girou e saiu.
Com os pés descalços, se encaminhou ao elevador. Sentia o estômago revirar enquanto
revivia a noite em que entrara naquele elevador, com o mundo desmoronando ao seu redor e
as acusações de Chrysander reverberando em seus ouvidos. Como ele fora capaz? Aquele era
o único pensamento que espiralava em sua mente até fazê-la ter vontade de gritar para
dispersá-lo.
Quando alcançou o saguão, estacou, percebendo que não só o pessoal da segurança de
Chrysander estaria guardando a entrada da frente como o porteiro também não a deixaria sair
naquelas condições.
Marley girou e se encaminhou, apressada, à entrada dos fundos. Para seu desapontamento,
um dos homens que ela reconheceu como pertencente ao destacamento de Chrysander se
encontrava a postos. Rapidamente, desviou para a entrada de serviço e cruzou o corredor que
levava à lavanderia e à sala de manutenção. Minutos depois, Marley abriu uma porta e saiu
para a luz pálida que prenunciava o amanhecer.
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Traição
RomanceMentiras, sedução e um homem inesquecível.Como se não bastasse Marley Jameson ter traído a confiança de Chrysander Anetakis e estar grávida dele, ela foi acometida por amnésia. A antiga amante do magnata grego vendeu segredos da empresa dele, e depo...