Convergência Sombria | Bonkai...

By Dark_Siren4

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Depois de fugir do Mundo Prisão de 1994, Bonnie acha que pode ter uma vida normal ao lado de seus antigos am... More

1. Eu me caso com um sociopata
2. O Ritual de União das Almas
3. Enfrento a fúria da minha esposa
4. Deixo Kai me tocar
5. Bonnie me dá um perdido
6. Acordando com Kai
7. Meu novo emprego e um cadáver
8. Canção de Ninar
9. Meus sentimentos e Minha sogra
10. Meu novo colega de quarto
11. Incêndeio um Espectro folgado
12. Um coração partido
13. O meu e o seu coração
14. Entre dois idiotas e minhas descobertas
15. Eu? Apaixonado? Quem diria
16. E o tiro saiu pela culatra
17. Um velho me ataca
18. Sou dele
19. Sem ele
20. Visito o cemitério
22. Ela me domina
23. Férias forçadas
24. A Revanche
25. Amigos e Respostas
26. A Flora e o Mar
27. Um lago de verdades
28. Para Sempre
29. Reunião de família
30. Nas Sombras
31.Conhecendo o inimigo
32. Possessão
33. Supernova
34. Em casa
35. O que falta em mim
36. Nós dois
37. Um pedaço de mim
Capítulo 38: Minhas Prioridades
Capítulo 39: O homem em chamas
Epílogo:
Antes que eu me vá...
Capítulo Bônus: Linhas de Sangue
Livro Novo!

21. Sou flagrado

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By Dark_Siren4

A cada dia me sentia mais fora de controle. Tudo por causa dela. Bonnie. Eu nunca fiquei tão obcecado por uma garota como estava ficando por ela.

Tudo começou quando a vi ir toda arrumada para aquela festa de Elena. 

Bonnie usava um vestido preto e curto, que marcava sua cintura. E aquelas pernas sensacionais estavam a mostra. E só de pensar que ela iria para aquele antro cheio de homens, já estava me deixando louco de ciúme. Não que não confiasse nela. Eu não confiava naqueles babacas cheios de bebida e testosterona.

E obviamente, ele estaria lá. Jeremy Gilbert, ou fedelho, como gostava de chamá-lo. Pensar que ele ficaria perto de Bonnie me fazia sentir um ódio devastador.

Mas, claramente, Bonnie não dava a mínima para o meu ciúme idiota. Não que ela soubesse que eu sentia isso. Ainda não tive coragem de contar o que sentia por ela, aliás, tentava fugir daquilo loucamente. Não queria aceitar que, eu, Malachai Parker, estava me tornando um boboca apaixonado.

Quando ela saiu, tentei ao máximo me distrair com outras coisas, mas só conseguia pensar no safado do Jeremy Gilbert colocando as mãos na minha esposa. Não queria ficar pensando em Bonnie, mas não conseguia, meus pensamentos voltavam para ela a cada momento. Como uma fixação impossível de se livrar.

Algumas horas depois, não aguentei mais, e simplesmente saí de casa. Eu iria trazê-la nem que fosse arrastada. Os pensamentos ciumentos tomando conta de mim como uma doença.

Nem me importei em pegar meu casaco, apenas marchei furiosamente para a Mansão Salvatore, ignorando o frio. E pude ouvir o som da música eletrônica tocando antes mesmo de ver a casa. Ao entrar, quase fiquei surdo com aquela barulheira.

Como os jovens de hoje em dia podem gostar dessa porcaria de música?, pensei, com desgosto.

Andei pela multidão de pessoas tentando encontrar Bonnie. 

Vi alguns de seus amigos caminhando pela festa, mas nenhum deles pareceu notar minha presença.

Senti alguém segurar minha mão. Olhei para trás, com meu coração acelerado, pensando que fosse Bonnie, mas não. Era uma garota de cabelos ruivos e olhos azuis. Ela sorria e tentava me puxar para dançar com ela, mas me soltei rapidamente de seu toque, só pensando em encontrar Bonnie. A garota pareceu desapontada.

Continuei caminhando pela casa apinhada de pessoas quando vi.

Bonnie no meio da pista, com luzes coloridas piscando a seu redor e dançava, seguindo as batidas da música. E parecia uma deusa etérea e linda, se mexendo daquela forma e fazendo meu sangue esquentar na hora. Com a respiração acelerada, andei por entre a multidão de pessoas, querendo tocá-la. 

E estaquei, ao me dar conta de que ela não dançava sozinha. Um cara de cabelos castanhos e olhos da mesma cor estava com ela. 

Cerrei os olhos em fendas, tentando enxergar melhor. Pois é, largar os óculos de grau foi uma das piores coisas que fiz ao longo dos anos.

E não fiquei surpreso ao perceber que era o fedelho que dançava com ela. Ele estava com os braços em volta de sua cintura, com o corpo colado ao dela de um jeito que só eu podia fazer. Pelo menos, para o que eu achava que podia.

Não pensei duas vezes, comecei a caminhar por entre a multidão de pessoas, mas era muito difícil atravessar aquela turba. Estiquei o pescoço, tentando ver Bonnie e o moleque.

Meu coração acelerou quando o vi puxando-a para um beijo. Porém, estranhamente... ela o afastou?

Ele tentou de novo e  a  bruxa fez o mesmo. O cara parecia magoado.

Meu lado malévolo saboreou aquilo maravilhosamente. Se ferrou Gilbert!, pensei, igual um garoto de dez anos competitivo.

E ele começou a falar algo para ela que não consegui compreender. Bonnie parecia muito triste e confusa.

Faltava pouco para me aproximar deles, quando ela virou-se para ir embora, mas o fedelho a pegou pelo pulso e fez com que se voltasse para ele. E não aguentei, atravessei aquele mar de pessoas e desferi um tremendo soco no rosto dele. Como ele ousava tocar nela?!

Bonnie ficou louca de raiva e começou a gritar comigo. E quando dei por mim, já havia levado um soco daquele idiota.

E foi aí, que começamos a brigar de verdade.

Bonnie gritava pedindo para que parássemos, mas claro que nenhum dos dois deu ouvidos à ela. Tinha todo aquele lance de macho alfa e testosterona envolvido ali.

Eu havia conseguido ficar por cima de Jeremy, dando socos sucessivos em seu rosto, mas fui agarrado por alguém. Esperneei e gritei, tentando fazer o babaca do Damon Salvatore me largar. Queria muito matar aquele fedelho idiota e aquilo não me causaria culpa nenhuma. Entretanto, Stefan o arrastou para fora da festa e quando Damon me soltou, não pensei duas vezes, marchei furiosamente para Bonnie que deu alguns passos para trás, assustada. Agarrei seu braço plenamente consciente de que a estava machucando e a puxei comigo.

Uma parte muito irritante e relativamente nova de minha mente começou a apontar o quão troglodita eu estava sendo. Mas quem disse que o sociopata em mim quis dar ouvidos?

Subitamente, Damon surgiu na minha frente, me impedindo de passar. E vi pela forma que ele olhava para Bonnie que estava preocupado com ela.

Se Bonnie não tivesse feito algo, do jeito que eu estava irritado, com certeza teria matado Damon ali mesmo. Saí da festa, puxando Bonnie comigo.

Eu estava doente de raiva daquele fedelho e dela. Na verdade, estava mais furioso por ela ter ficado perto dele, mesmo que não tenha cedido à ele. Me irritava o fato de ela o querer por perto e a mim não. Estava tão cego de ódio que não fazia ideia do que queria fazer com ela. Aparentemente, cogitei a hipótese de dar umas palmadas nela para ver se aprendia a não se aproximar mais do Gilbert. Aliás, de homem nenhum.

Eu a queria só para mim. A queria presa na mesma teia de obsessão e loucura na qual ela estava me prendendo.

Nem sabia ao certo porque fiz aquilo. Quando dei por mim, tinha arrastado Bonnie para os fundos da Mansão colocando-a contra a parede. Ela tremia e me olhava com aquelas esmeraldas assustadas. Perguntei o que ela fazia com aquele projeto de homem, mas como sempre, agiu como uma teimosa orgulhosa, dizendo que não era da minha conta.

Como assim, não era da minha conta?

E sei lá, o que deu em mim. Talvez fossem aquelas emoções me atravessando ou, talvez, a proximidade de nossos corpos. Acho que a raiva se converteu para excitação, pois enlacei sua cintura, a puxando contra meu corpo.

Não tinha a mínima ideia de como Bonnie conseguia fazer aquilo comigo: me deixar louco de raiva e ciúme num segundo e, no outro, super excitado e ansioso.

Ela me mandava soltá-la, mas não consegui, já havia me perdido em seu cheiro doce de jasmim e em sua pele quente e caramelada. Eu a queria de um modo que chegava a doer fisicamente.

Contudo, ainda estava super irritado com ela, então me recusei a beijá-la e a fiz implorar por aquilo. E não daria o que ela tanto queria. Apenas a provocaria e a deixaria sedenta pelo que podia oferecer. Ela habitaria o mesmo inferno de desejo que eu.

— Você é minha — disse eu, completamente fora de mim. Queria que ela soubesse que me pertencia, que era só minha e não haveria escapatória. Que estávamos fadados um ao outro.

Repeti as mesmas palavras, tentando confirmar para mim mesmo. Eu a considerava minha, mas não queria dizer que Bonnie fosse realmente isso. Era o que me deixava mais louco por ela. Eu nunca conseguiria domar aquela mulher.

— Sim, sou sua… — disse ela, ofegante, completamente hipnotizada.

E sinceramente, pensei que tinha imaginado aquelas palavras. Senti todo meu corpo vibrar e tremer de felicidade. Não me lembro qual foi a última vez em que me senti tão feliz por algo.

— Minha — sussurrei, ofegando loucamente. E mandei toda minha raiva e aquele joguinho para o inferno.

Meus lábios atacaram os seus com desejo. 

Acho que nunca a tinha beijado daquela forma. Não tão intensamente, não tão forte como naquele momento. Bonnie retribuía meu beijo com voracidade e desejo, suspirando de prazer. Apertei sua cintura e ela soltou um gemido que fez todo o meu corpo estremecer.

Seus lábios eram doces como mel, me deixando mais sedento por aquilo. 

Bonnie se remexeu, tentando soltar seus pulsos que eu prendia acima de sua cabeça contra a parede. Sabia que ela queria me tocar e sabia que se ela o fizesse eu perderia o controle totalmente e me entregaria completamente. Não deixaria isso acontecer.

Mas aí ela jogou sujo.

Mordeu meu lábio inferior daquele jeito que me deixava maluco, o puxando devagar entre os dentes.

Porra, meus olhos até reviraram nas órbitas. Garota desgraçada!

Gemi, soltando seus pulsos e segurei seu rosto contra o meu. Bonnie colocou os braços em volta de meu pescoço, me puxando para mais perto, agarrando meus cabelos, me fazendo ficar todo arrepiado.

A apertei mais contra a parede, sentindo cada curva de seu corpo estonteante. Suas coxas enroscadas com as minhas, seus seios cobertos pelo vestido pressionando meu peito. E senti nossos corações pulsando no mesmo ritmo, se tornando um só.

Ela é minha, pensei, eufórico de felicidade. Apenas minha.

E ouvi um barulho.

Merda! pensei irritado. Estava demorando.

Era impressionante que todas as coisas ruins sempre convergiam para mim e Bonnie quando estávamos dessa forma. Nós vivíamos brigando, droga! Eu queria apenas um segundo — ou talvez algumas horas — daquelas carícias e beijos.

Foda-se! Eu a quero! E continuei a beijá-la. Mas aquele barulho ficou mais e mais alto.

Afastei meus lábios dos seus, pronto para matar os desgraçados que estavam nos atrapalhando e quem sabe chutar alguns traseiros.

Olhei em volta, procurando, porém, não havia ninguém ali. Olhei para Bonnie confuso. Ela estava com as bochechas muito coradas e parecia um pouco tonta. Vi seus olhos, também, confusos percorrerem o pátio, não vendo nada, assim como eu. 

Foi então que me dei conta de que a barulheira vinha de dentro da casa. Saí de perto de Bonnie, seguindo o som e percebi que ela estava me seguindo. E seja lá o que estivesse acontecendo, não queria que ficasse por perto, mas quem disse que aquela bruxa teimosa me escutou?

E a única coisa que pude fazer, foi deixá-la ir comigo, ficando na sua frente, quando entramos na casa, agora estranhamente vazia e sem nenhum som. Queria protegê-la de qualquer coisa que pudesse machucá-la.

Então, a proteja de você, murmurou aquela voz pessimista em minha cabeça. Tentei ignorá-la.

Aquele lugar estava extremamente sinistro, totalmente vazio. E senti um arrepio esquisito me percorrer todo.

A situação ficou totalmente fora de controle, quando entramos na sala, onde a alguns segundos antes, acontecia a festa. E Tyler Lockwood, nos atacou.

Eu nunca tinha visto um lobisomem na vida e, obviamente, fiquei tão chocado quanto a situação exigia.

Tentei defender Bonnie, mas aquele monstro idiota, me arremessou contra a janela e caí no chão com um monte de cacos de vidro me cortando. Tentei me levantar, mas tudo estava girando de uma forma nauseante. Acho que havia batido a cabeça. Aquele animal idiota atacou Bonnie e eu não conseguia fazer nada. Nem proferir um feitiço!

Sorte a minha que Caroline e Damon, estavam por perto e a protegiam, mas ainda assim não foi o suficiente. Vi quando Tyler atirou um pedaço de madeira no abdômen de Damon como quem arremessa um dardo que caiu gritando.

O lobo se adiantou, indo para cima de Bonnie. Mas o que diabos ele tanto queria com ela?

E a única coisa em que consegui pensar foi: Ela, não.

Rapidamente, me pus de pé, proferindo um feitiço e vendo aquele cachorro cheio de esteróides cair no chão, gemendo e gritando de dor.

Eu com certeza iria matá-lo! Ele nunca mais machucaria a minha bruxinha.

— Kai! Para,você vai matá-lo! — ouvi Bonnie gritando alarmada e olhando para mim.

Aquilo me tirou totalmente a concentração e parei, me dando conta do que estava fazendo.

Eu quase matei o cara! Tyler desabou desmaiado no piso de madeira.

Damon conseguiu se levantar, tirando a estaca de seu abdômen com uma cara de poucos amigos.

Tentei caminhar na direção de Bonnie, pois estava preocupado com ela, quando senti uma dor lancinante em minha barriga. Olhei para baixo procurando o sangue, mas não havia nada. Ainda assim, caí no chão completamente sem forças, ao mesmo tempo em que ouvi o som de outro corpo caindo no assoalho de madeira.

Virei a cabeça, vendo Bonnie caída de bruços com a mão no abdômen, como eu. Ela olhou para mim, assustada. 

Tentei dizer alguma coisa, mas senti o sangue subindo pela minha garganta. Cuspi, vendo uma grande quantidade dele diante de mim. O mesmo ocorreu com Bonnie.

Eu estava assustado, pois sabia que estava morrendo, mas o que me deixava mais apavorado era saber que ela também morreria. Tentei me arrastar até ela, mas estava completamente sem forças. Bonnie esticou o braço pelo piso, como se quisesse muito me tocar.

Sorte a nossa que dois terços dos nossos amigos consistiam de vampiros. Damon me deu seu sangue e fiquei melhor em questão de segundos.

E cara! Sangue é nojento! Eu sei que sou um sociopata e já matei um monte de pessoas e tudo o mais, mas isso não me impedia de sentir nojo de vez em quando. Mal me recuperei e já corri para perto de Bonnie, para ver como ela estava. E ela parecia muito melhor.

Eu estava tão aliviado de ela estar bem, que nem me importei se os outros fossem ver. A abracei, envolvendo seu corpo quente e pequeno. Ela era tão frágil... Eu queria a proteger de tudo que pudesse machucá-la.

A ouvi suspirar, parecendo satisfeita.

Alguns minutos após Damon levar Tyler para o porão, eu e Bonnie fomos para casa. E durante todo o caminho eu não disse uma palavra. 

Estava feliz por ela estar bem, mas minha raiva ao vê-la com aquele fedelho cheirando a leite ainda não tinha passado. Quando chegamos em casa Bonnie foi direto para a cozinha. E estava muito inquieto, não me aguentando com a raiva que estava sentindo. E fui atrás dela, vendo-a parada de costas com o copo de água na mão. 

Encostei no batente da porta, a observando. Ela era linda de todos os ângulos.

— União de merda — resmungou ela.

Eu achava engraçado vê-la falando algum palavrão, pois Bonnie era tão certinha. Como consegui me apaixonar por uma garota, tão diferente de mim?, me perguntei.

— Também acho — disse eu, sério.

Ela se sobressaltou ao ouvir minha voz e acabou deixando o copo com água cair. Esse que se espatifou pelo chão, fazendo a água e cacos de vidro se espalhar pelo piso.

Pronto. Aquilo foi o suficiente para começarmos a maior briga de todas. Nunca havíamos discutido daquela forma. E Bonnie ficou me dizendo aquelas coisas que me magoaram muito e me deixaram doente de ciúmes dela. Perdi o controle a colocando contra a parede. Estava com tanto medo de perdê-la para aquele fedelho que a agarrei pela cintura, a beijando desesperadamente. E sabia que aquilo a estava machucando, mas não queria que ela me deixasse. 

Ela era minha.

Mas Bonnie me afastou, porém não desisti, a puxei de novo e ela me empurrou outra vez, me dando um tremendo tapa no rosto. E aquilo doeu muito, mas não era apenas a dor física. Foi dentro de mim, como se meu coração estivesse estilhaçado.

Ela estava me rejeitando por aquele moleque.

E quem me conhece bem sabe que não sei lidar com a rejeição.

Olhei para ela cheio de fúria e ela se encolheu contra a parede, assustada. Ergui minha mão, pronto para revidar o tapa. E sabia que o meu a machucaria muito mais.

E gostei de pensar naquilo, pois violência foi a única coisa que conheci em minha vida. Não aquela bobagem de empatia e emoções.

Bonnie se encolheu mais contra a parede, fechando seus olhos com força, esperando o tapa que iria lhe dar.

E… parei. 

Fixei meus olhos em sua expressão assustada. E os voltei para minha mão erguida.

O que eu estou fazendo?!, me perguntei horrorizado, não conseguia acreditar a que ponto eu havia chegado. Estava prestes a bater na minha BonBon, a garota pela qual eu era apaixonado.

Meus olhos arderam com as lágrimas que queriam se precipitar.

Tentei me desculpar com ela, mas eu havia passado de todos os limites.  Bonnie me encarava, magoada e assustada. Tentei me aproximar dela, mas a garota se encolheu contra a parede com aqueles lindos olhos verdes aterrorizados. Até me desculpei, mas sabia que aquilo não tinha perdão. E ela me mandou embora.

Não consigo descrever a dor que senti ao ouvir aquelas palavras. Hesitante, caminhei para longe dela, parei no batente da porta da cozinha.

— Adeus, Bonnie — murmurei, olhando uma última vez para seus lindos olhos verdes. E saí caminhando rapidamente para longe dela e daquela casa.  Eu sentia aquela atração insuportável, tentando me arrastar de volta para ela, porém, lutei bravamente. Não iria ceder a aquilo. De novo, não. Eu chorava feito um idiota, desesperado para voltar correndo para ela, mas não o faria, pois estava destruindo a vida de Bonnie.

Um trovão ressoou forte no céu noturno e uma tempestade começou a cair, me molhando da cabeça aos pés. Caminhei até um ponto de ônibus deserto. Parei ali, me sentando na calçada, enquanto o céu desabava em mim. Não peguei meus pertences, mas ao menos tinha alguns trocados na carteira do poderia me hospedar em algum lugar por um tempo.

— Bonnie… — sussurrei, desesperado, pois a tinha perdido para sempre. A única coisa boa na merda de vida que tive desde que nasci. E eu consegui afastar até mesmo ela.

Ouvi o som de um grande motor e levantei a cabeça, vendo um ônibus de viagem. Não pensei duas vezes, subi nele, não querendo nem saber para onde estava indo. Só queria que fosse longe o suficiente dela. Longe o suficiente daquela atração doentia.

Me sentei no ônibus meio vazio, deixando que ele me levasse para qualquer lugar. 

É um pouco vergonhoso admitir isso: mas só precisei de dez minutos para começar a me desesperar de verdade. 

Eu estava deixando tudo para trás e, principalmente, ela. E aquilo estava me sufocando e matando por dentro. Nunca havia sentido uma dor tão grande e desesperadora, como aquela. Nem mesmo quando estava no Mundo Prisão. E olha que aquele lugar era super deprimente.

E mais vergonhoso ainda?

Só precisei de meia hora para infernizar a vida do motorista, para que ele parasse o ônibus no meio da estrada e me deixasse descer. Quando coloquei os pés no asfalto molhado, quase que imediatamente, comecei a correr. Meu coração estava disparado, pois sabia que iria me juntar a Bonnie.  E não me importava que ela tivesse me colocado para fora. Eu voltaria assim mesmo. E se ela não me aceitasse de volta, iria acampar no quintal de sua casa. A venceria pela insistência, pois eu bom nisso.

Eu deveria parecer um maluco: correndo na estrada noturna, embaixo de uma chuva torrencial e sorrindo para o nada. O que eu podia dizer? Era o poder do amor.

Demorei mais para voltar para a cidade outra vez, já que fui andando. Quase uma hora depois, eu estava virando a esquina de casa e corri para a entrada da grande casa branca. Pisei na varanda, com o coração aos pulos.

— Bon… — sussurrei, colocando a mão na maçaneta e sorrindo. 

Eu vou vê-la!, pensei, eufórico de felicidade. Meu Deus, que ela não jogue uma panela na minha cabeça.

Estranhemente, tive aquele arrepio esquisito subindo por minha coluna. Girei nos calcanhares e olhei para a rua com a sensação de ser observado, mas não havia ninguém lá. Franzi as sobrancelhas.

Me virei outra vez, fazendo a menção de abrir a porta, no entanto, comecei a me sentir tonto. Minhas pernas ficaram bambas e eu caí sobre o chão da varanda. Tudo girava à minha volta, não conseguia ver com clareza.  Pontos pretos dançavam diante de meus olhos.

Tentei dizer algo, mas minha fala saía um pouco embolada. Minha língua pesando uma tonelada.

Meus olhos estavam se fechando, porém, me lembro de ter visto alguém em pé diante de mim.

Parecia uma… sombra?

E tudo se apagou.

***

Não sabia quanto tempo havia se passado. Presumi que fossem um ou dois dias, mas era difícil saber dentro daquele buraco escuro em que me encontrei.

Não sabia como havia ido parar ali. Estava acorrentado e tentei por muitas vezes me soltar, mas não conseguia. Percebi que aquelas correntes tinham algum tipo de feitiço, pois sempre que utilizava magia para me soltar, não surtia nenhum efeito. Então, resolvi usar meus poderes para sugar a magia das correntes, mas sempre que fazia isso, elas aqueciam feito brasas e queimavam meus pulsos.

Desgraçado inteligente!, pensei, amargamente. Usou algum feitiço para bloquear os meus poderes.

Não fiz ideia de quem havia feito aquilo comigo e o que pretendia, mas com certeza eu o mataria se o encontrasse. Dividi meu tempo entre dormir, tentar me soltar e pensar em Bonnie. Eu estava com uma saudade terrível dela. E quando não tinha algum daqueles pesadelos, estava sonhando com ela e seus olhos lindos e verdes. Mais de uma vez acordei chamando por ela. Porém, ela não estava em lugar nenhum.

E a cada hora parecia que a temperatura caía mais. Eu tremia incontrolavelmente. E minha falta de casaco e roupas molhadas não ajudava em nada. Nem preciso citar que o fim do outono também era bem preocupante.

O mais estranho era que não lembrava de certas coisas direito, como se estivesse com uma espécie de memória seletiva. Foi estranho, porque eu adorava me gabar de minha excelente memória.

As horas ou dias — não tinha certeza — começaram a se passar. Eu tentava me aquecer, mas não estava dando certo. E sabia que se continuasse assim, poderia morrer. Me agarrei desesperadamente a todas as lembranças de Bonnie em que podia pensar. 

Eu não podia morrer. Ela não merecia isso.

Entretanto, comecei a perder a consciência e sabia que era por causa do frio. Merda! Eu estava tendo hipotermia, mas não podia ceder ao frio e aos desmaios. Tinha que manter firme, por ela! Mas às vezes, a tentação de fechar os olhos e deixar que a morte me levasse parecia tão forte. Estava tão cansado de tentar lutar contra isso e eu não tinha nada que me prendesse a essa vida. Todos me odiavam e eu não faria a mínima falta.

Porém, me lembrei que todo meu clã dependia de mim, mesmo que me odiassem. E Bonnie, também. E me manteria vivo por eles. E principalmente por ela.

***

Eu estava muito fraco e cansado. Acho que desmaiei de novo quando senti uma luz forte batendo no meu rosto.

— Kai? — ouvi Bonnie, dizer.

Droga, já estou alucinando, pensei, rindo amargamente

— Kai?— e senti um toque suave em meu ombro.

Mas… parecia tão real…

Levantei a cabeça e procurei de onde parecia vir o som daquela linda voz.

Ela estava tão perto, me olhando e parecendo muito feliz e preocupada.

— Bonnie? — perguntei, querendo me certificar de que não tinha ficado louco mesmo.

E depois tudo escureceu.

Quando acordei, estava envolto em cobertores e ela dormia abraçada a mim. Bonnie estava sendo tão carinhosa e amável, que me perguntei o que a fez mudar tanto em tão pouco tempo. Mas eu também havia mudado.

***

— Abra a boca — ordenou Bonnie.

Revirei os olhos.

— Sério? Realmente precisa disso? — resmunguei.

— Fique quieto, idiota. Abra logo a boca.

Suspirei pesadamente, me rendendo.

E Bonnie colocou o pequeno termômetro de vidro no canto de minha boca.

— Satisfeita?— perguntei, prendendo a coisa entre os dentes.

— Ainda não — resmungou.

Eu estava com uma febre terrível há dois dias. E sem falar na coriza, dor de cabeça, tosse e a sensação de que um caminhão esmagou todos os meus ossos. E Bonnie estava cuidando de mim.

No primeiro dia, quando acordei na sala, Bonnie dormiu comigo a tarde toda no meu quarto. E fomos acordados pelas ligações insistentes de Damon que queria saber se estávamos vivos ou não. 

Naqueles dois dias que se passaram, voltamos a um pouco de nossa "rotina" do dia a dia. Bonnie dormia no quarto dela e eu no meu, mas na primeira noite tive um pesadelo horrível. Pior que todos os outros e acordei com Bonnie me sacudindo.

Eu estava terrivelmente apavorado. E ela me perguntou se queria que ela dormisse ali. Ok, pensei ter ficado louco de vez. Bonnie Bennett? Se oferecendo para ficar comigo?

Claro que eu disse sim. Não queria ficar sozinho e adorava a sensação do calor do corpo dela contra o meu.

E na segunda noite foi diferente. Eu não tive nenhum pesadelo, mas Bonnie me acordou, perguntando se poderia ficar comigo, pois não conseguia dormir.

Nem preciso dizer o que respondi, não é?

Estranhamente, ela deixou que eu a tocasse. A abracei, envolvendo meus braços em sua cintura, a puxando para mim. E era tão gostoso dormir assim com ela…

No dia seguinte, não era tão bom assim.

Não conseguia entender o que acontecia com o meu corpo idiota. Eu simplesmente acordava com ereções que eu nunca tive antes quando estava perto dela dessa forma. Mas, também, não tínhamos tanta intimidade como agora. Bonnie ficou extremamente rubra, quando viu isso, mas balançou a cabeça e sorriu daquele jeito lindo e se levantou, indo para o seu quarto se trocar. E eu tinha que esperar a "situação baixar", pois do jeito que eu estava doente, não passava nem perto de banhos gelados.

— Você está com trinta e nove e meio de febre, Kai — disse Bonnie, pegando o termômetro, com preocupação — Por que não age como um ser humano normal e vai à um hospital? Eu já disse que levo você.

Revirei os olhos outra vez.

— Estou me sentindo bem, Bonnie — falei — Porque você fica pegando tanto no meu pé?

Ela não disse nada, apenas se limitou a me encarar com a sobrancelha erguida. E ficava igualzinha a sua mãe fazendo isso.

— Você vai se arrepender — murmurou, ameaçadoramente.

— Ui, o que você vai fazer? Me fazer engolir outro analgésico, Dra. Bennett? Peraí, vai medir minha pressão?

Eu ri, enquanto ela não disse nada. Apenas ficou me encarando de cara feia e braços cruzados. 

— Lembre-se que foi você quem provocou isso — disse e foi para a cozinha.

Continuei sentado no sofá com um monte de cobertores em cima de mim e assistindo a maratona de "Os Flintstones". Mas, como de costume, fiquei paranóico com a ameaça de Bonnie. Será que ela vai me fazer beber mais um daqueles remédios caseiros e nojentos?, pensei, ficando apavorado.

Eu podia não ter conhecido Sheila Bennett, mas conheci sua vasta gama de remédios caseiros por meio de Bonnie. Mas aquilo era uma questão de orgulho. Eu tomaria todas aquelas gororobas nojentas, mas não cederia às ameaças de Bonnie. Se fosse para eu ficar melhor, que fosse em casa. Não é como se eu fosse morrer de um resfriado ou algo assim.

Algum tempo depois, ouvi a campainha tocando.

Deve ser a Loura, pensei, revirando os olhos. Desde que descobriu que eu estava doente, aquela vampira não saía mais daqui para praticar o que ela chamava de "revanche". Caroline e Bonnie se juntavam naquela cozinha para criar as coisas mais nojentas e assustadoras. E eu tinha que beber tudo.

Suspirei — ou pelo menos tentei, com o nariz completamente entupido — me levantando para atender a porta. Bonnie foi mais rápida, saindo da cozinha e me fazendo sentar no sofá outra vez. Comecei a mudar de canal, procurando algo bom para assistir. E parei em um em que estava passando "Nosferatu". Um filme de vampiros em preto e branco. Até que foi legal.

— Você morria de medo desse filme — disse uma voz muito conhecida. 

Gelei até a alma.

Vi Bonnie parando na minha frente, de braços cruzados, resignada.

Meu coração acelerou como uma turbina de avião e minha respiração vinha superficialmente.

Virei a cabeça, vendo a mulher alta, de cabelos negros e pele alva. Seus olhos azuis miravam os meus de forma séria. 

— Mas, também, era uma das poucas coisas que o assustavam — murmurou ela de braços cruzados.

Respirei fundo, tentando me acalmar.

— Josette.

— Malachai — assentiu.

A droga da minha irmã gêmea estava aqui. Custei a acreditar nisso. 

Bom, éramos um par de gêmeos bem estranhos, porque Jo era bem mais velha que eu. Tudo porque fiquei naquele Mundo Prisão por quase duas décadas, então, ainda tinha vinte e dois anos, enquanto ela beirava os quarenta. Mas o tempo não havia levado sua beleza, ainda parecia a mesma menina de que me lembrava.

Olhei de um modo assustador para Bonnie, que mantinha uma expressão neutra.

— O que ela faz aqui?

Bonnie ergueu uma sobrancelha, desafiadora.

— Você pediu por isso, Kai. E eu disse que você se arrependeria.

Estava pensando seriamente em dar umas palmadas no bumbum de Bonnie. Aquela garota atrevida às vezes fazia coisas que me tiravam do sério. 

— Você não tinha esse direito — murmurei irritado.

— Sou sua esposa, tenho o direito de fazer o que quiser — disse — Ainda mais se a vida de outros estiverem em risco.

Revirei os olhos.

— Como se um resfriado de nada, fosse me matar… — resmunguei.

— Você está mais que resfriado — respondeu ela — Ontem você estava delirando e ardendo em febre, seu idiota.

— E daí, eu fico doente como todo o mundo! — exclamei — É algum crime?!

Ela apertou as mãos, parecendo irritada.

— Não! Crime é ser um idiota orgulhoso, como você é! — rebateu.

— Puxa...— murmurou Jo, olhando para mim e Bonnie com as sobrancelhas erguidas — Vocês levam a Síndrome de Estocolmo a outro nível, não?

Devo citar o olhar de ódio que lancei na sua direção?

Bonnie silenciou.

— Seja lá o que veio fazer aqui pode desistir — murmurei, tentando fazê-la ir embora.

Ela revirou os olhos azuis.

— Acredite, não estou aqui em nome do meu amor por você — foi sarcástica — Apenas estou tentando salvar minha própria pele. 

Suspirei pesadamente.

— Por que isso não me surpreende? — sorri irônico. 

— Talvez, porque você compreenda muito bem esse sentimento de asco que eu sinto por você?

Eu ri, desgostoso.

— E como vão os meus lindos sobrinhos? — perguntei, olhando para o leve volume embaixo de sua blusa azul-clara.

Obviamente, aquilo era uma ameaça.

Jo me lançou um olhar assassino, colocando as mãos sobre a barriga, como se pudesse proteger aquelas pestes de mim.

— Não ouse tocar nos meus filhos, Kai, ou eu juro que acabo com você — murmurou, com os olhos brilhando em um fogo azul de ódio.

Eu ri.

— Olha! A gravidez fez bem para você. Lhe deu mais coragem — murmurei, a provocando — E como anda o Rick, meu cunhado preferido? Acho que depois que eu estiver melhor vou fazer uma pequena visita. Afinal, a família é algo para se valorizar, não é?

Vi as bochechas de Jo ficarem rubras de raiva. Eu estava ameaçando seu noivo e seus filhos descaradamente.

O fiz simplesmente como forma de autodefesa. Ela era a lembrança física de todas as coisas horríveis que fiz no passado e não conseguia olhar para ela sem sentir aquela culpa acabando comigo.

Droga de empatia!, pensei, com raiva de mim por ceder àqueles sentimentos idiotas.

— Já chega, Kai — murmurou Bonnie, me olhando com os penetrantes olhos verdes — Deixe a sua irmã o examinar.

— Nem pensar — cruzei os braços — Pode ir embora, Jo.

Josette limitou-se a cruzar os braços e me encarar. Bonnie suspirou, colocando o polegar e o indicador na ponte do nariz. E seus olhos me perguraram com aquela intensidade apenas dela.

— Kai, por favor, muitas outras pessoas dependem da sua recuperação — disse chegando perto, parando em frente a mim — E sabe que eu… — ela hesitou por um segundo — eu me preocupo com você.

Será que ela podia sentir a força com que meu coração pulava em meu peito? Ah, com toda a certeza!

Ela não vai me vencer com esses olhos bonitos!, pensei, resignado. E nem com esse sorriso e essa boca...

Quando dei por mim, já estava ofegante loucamente e olhando para seu rosto lindo, com aquela pele suave e morena que me provocava.

Tentei lutar contra aquilo.

— Não. De jeito nenhum, Bonnie.

Ela deu outro passo na minha direção.

— Por favor, Kai.

Ah, merda!

— Eu… E-Eu… — falei debilmente, me perdendo em seus olhos lindos — Bonnie…

Ela ainda me olhava cheia de expectativa. E como eu podia recusar algo com ela quase ronronando na minha frente?

Respirei fundo, fechando a cara.

— Tudo bem!

Bonnie sorriu e deu um ligeiro pulo.

Ela se abaixou e pegou meu rosto entre suas pequenas mãos e me deu um beijo suave na bochecha. Aquele toque foi muito inocente, mas minha nossa! O que fez comigo não foi nada saudável.

Ela se afastou. A olhei completamente enrubescido e abobado. Uma droga de um beijo na bochecha e pensei que poderia sair flutuando por aí.

Minha respiração vinha de forma irregular. Olhei para Jo, que observava a cena confusa, como se tivesse visto algo muito perturbador.

— O que foi? — perguntei, rispidamente.

Ela cruzou os braços, me encarando com a mesma expressão incrédula, mas não disse nada.

— Agora, Jo vai examinar você, Kai — murmurou Bonnie com ar de aviso — Seja um bom menino.

Eu sorri perversamente.

— Não posso dar garantias — murmurei, olhando para ela que se limitou a me encarar com um olhar de ódio.

Bonnie se afastou, enquanto minha irmã me examinava. E ficava me cutucando e apertando o tempo todo. Checando minhas pupilas, minha respiração e as batidas de meu coração. E quando encostou o estetoscópio contra meu peito, sua expressão tornou-se confusa, porém voltou ao normal.

Jo sabia que nossos pais haviam passado pelo ritual de União das Almas, então ela conhecia tudo sobre aquilo. Pelo menos eu não teria que explicar aquilo.

Ela estava hesitante em me tocar, como se eu fosse fazer algo a qualquer momento. E o fato de ela não confiar em mim me magoava muito. Embora, ela tivesse motivos para isso. Sei que não deveria, mas aquilo me atingiu.

Jo soltou um longo suspiro e se afastou de mim.

— Então, Dra. Laughlin, qual é o seu veredicto? — perguntei, com um sorrisinho.

Ela cruzou os braços, me olhando seriamente.

— A boa notícia é que você está a um passo de ter pneumonia. 

Revirei os olhos.

— E isso é uma boa notícia?

— Para mim, sim — disse sorrindo — Mas, a má notícia é que se você morrer, toda a Convenção vai junto com você, inclusive eu. E não estou a fim de morrer agora. Acabei de comprar o enxoval dos bebês.

Bufei. Como se eu ligasse para a porcaria dos bebês dela, pensei, com raiva.

— Vou receitar alguns medicamentos — murmurou ela, abrindo sua bolsa e pegando um bloquinho e anotou algumas coisas.

Suspirei pesadamente.

— Não precisa. Bonnie, já está dando uma de curandeira Bennett.

E olhei para Bonnie, que se limitou a me encarar com uma sobrancelha erguida.

— Pode zombar — murmurou Jô, ainda anotando algo no papel — Mas o que você chama de "gororoba nojenta", que o impediu de piorar. Agradeça a Bonnie por se dar ao trabalho de ficar cuidando de um ingrato como você.

Aquilo me incomodou. Me dar conta de que Bonnie se desdobrava para cuidar de mim e eu nem agradecia.

— Kai está sendo ótimo, Jo — murmurou Bonnie a interrompendo — Um pouco teimoso e cabeça dura, mas está colaborando.

Incredulidade era uma palavra muito fraca para explicar o que eu senti. Bonnie está me defendendo?, perguntei, sem acreditar.

A bruxa me fitou com seus penetrantes olhos verdes. Foi impossível saber o que passavam com eles.

Meu coração começou a acelerar de uma forma assustadora. 

E ainda não bastasse isso, agora tinha que lidar com os efeitos colaterais constantes de se estar apaixonado. Eu ficava mais nervoso do que nunca quando Bonnie apenas olhava para mim. E ficava gaguejando feito um idiota e só conseguia pensar no quanto ela era inteligente e bonita e engraçada e intensa e sexy e….

Então, me dei conta de que a estava encarando feito um lunático obcecado. Acho que tinha feito uma poça de baba no chão.

Jo pigarreou, chamando minha atenção. A olhei alarmado e com vergonha.

Eu me sentia muito constrangido por sentir esse tipo de coisa e ainda mais, quando dava essas gafes na frente de outras pessoas. Sempre considerei sentimentos como amor e paixão, fraquezas inúteis. Coisas que nos deixavam vulneráveis sem motivo nenhum. E pensei que nunca sentiria algo assim por ninguém, ainda mais por Bonnie Bennett. Mas de certa forma, eu até gostava de sentir aquilo. Fazia eu me sentir… vivo, outra vez.

Bonnie convidou Jo para ficar e almoçar conosco, mas claro que ela não aceitou.

E achei uma boa ideia mesmo. Não queria cair na tentação de pegar uma faca na cozinha e "acidentalmente" matar Jo e as pragas em seu ventre. Seria uma lambança de sangue sem precedentes e Bonnie ficaria irritada pela bagunça.

Eu não podia deixar aquelas crianças viverem, pois tomariam minha liderança na Convenção. Porém a ideia de tirar a vida de Jo e as crianças, me deixam enojado de mim. Eu não suportaria aquela culpa, ela iria me sufocar até meu limite.

Meus pensamentos foram interrompidos, por uma musiquinha que tocava ao longe.

— Desculpem, é o meu celular — murmurou Bonnie e subiu as escadas para atender.

Jo e eu ficamos na sala sozinhos.

Ela ainda estava de pé, parecendo tensa. No entanto, seus olhos miravam os meus desafiadoramente. E eu fazia o mesmo. Na brincadeira de encarar, sempre fui muito melhor que ela.

— Agora que você já deu uma de Dr. House, pode ir embora — falei, gesticulando com a mão para que ela saísse do recinto.

Ela riu, mas foi um riso amargo.

— O único motivo de eu ter vindo até aqui, foi por causa da insistência de Bonnie — murmurou de forma fria — Porque se dependesse de mim, deixaria você apodrecer.

Dei um sorriso torto, a provocando.

— E eu deveria ser agradecido pela sua bondade? — disse eu, sarcástico — Sabendo que você só veio aqui, porque não quer morrer com seus bebezinhos inúteis?

— Você deveria ser ao menos um pouco agradecido pelo que eu e Bonnie estamos fazendo — disse, com uma sobrancelha erguida — Sabe, qual é o seu problema Kai? Você sempre teve demais das pessoas que sempre o amaram, mas você nunca se contentou com isso. Sempre quis mais e mais poder. E que se danasse quem estivesse no caminho.

Eu ri amargamente.

— Tive demais? — lancei, não acreditando naquela hipocrisia — Eu tive apenas as migalhas, pois sempre fui o monstro, a aberração e a vergonha da família.

Jo se encolheu um pouco, como se aquelas palavras a ferissem. Continuei, não me importando.

— Você sempre foi Josette, a gêmea doce e boa. E eu era o mal, a perversão em pessoa. E vocês sempre me rejeitaram por eu ser diferente do que esperavam, por não conseguirem me controlar. Mas, agora lhe pergunto: Eu tenho culpa de ter nascido assim? Eu não pedi para ser diferente, não pedi para ser uma aberração!

Jo me olhava seriamente e seus olhos tinham aquele sentimento que sempre vi neles desde quando éramos crianças. Pena.

E odiei aquilo. Odiava que ela me olhasse de cima, como se eu fosse um vira-lata  chafurdando no lixo.

— Você reclama, mas mesmo que não tenha percebido, você foi muito amado — disse ela, com o maxilar trincado — Ninguém tem culpa de que você resolveu se tornar um monstro.

— Só me tornei o que vocês sempre viram em mim — falei, de forma fria.

Minha voz estava carregada de ressentimento. 

A expressão de Jo se tornou mais vulnerável enquanto me observava. Ela riu, mas pude ver que seus olhos estavam vermelhos, tentando conter o choro.

— O que aconteceu conosco, Kai? — disse ela, enquanto uma lágrima escorria por sua face. E a capturou rapidamente — Éramos tão próximos, tão amigos… Onde tudo isso mudou?

Eu não disse nada.

Senti minha garganta se apertar e tentei conter aquilo.

Ela sorriu da mesma forma que eu me lembrava. E isso me provocou sentimentos estranhos, parecidos com a época em que ainda amava minha irmã.

— Você... Você se lembra de quando o papai nos ensinava feitiços? — me perguntou.

Cruzei os braços, desviando o olhar. Não queria me lembrar daquilo.

— Você era péssima, errava tudo — resmunguei.

— E você não conseguia fazer nada — alfinetou, mas sorriu outra vez — E teve esse dia em que eu errei um feitiço que o papai estava me ensinando pela milésima vez. Acho que tínhamos uns dez anos de idade. Papai ficou bravo e gritou comigo. E eu fui para o jardim chorar escondida e você me encontrou lá. Sentou do meu lado e me abraçou. Eu fiquei surpresa, pois foi nessa época que você começou a se afastar de mim — Ela riu de enxugando as lágrimas — E você teve essa ideia maluca de roubar a carteira do papai. E me levou em um parque de diversões perto de casa. Foi o dia mais maravilhoso da minha vida. Nunca me diverti tanto. E quando chegamos em casa, já era noite. E o papai estava muito aborrecido, porque havíamos sumido o dia todo. Ele brigou conosco, mas você assumiu toda a culpa. Eu me safei, mas você levou uma surra daquelas... Fiquei de castigo uma semana e você, um mês inteiro.

Eu me recusava a olhar para ela, pois sabia que cairia aos prantos se o fizesse. Senti uma lágrima escapar, enxuguei-a rapidamente. Não vou chorar, não na frente dela, pensei, com raiva de mim.

— E só queria saber onde foi parar o meu irmão? — disse, me olhando intensamente — O meu melhor amigo, que me fazia rir e sempre estava comigo nas aventuras mais loucas? Quem assumia a culpa por algo que eu fazia? Que me defendia e acima de tudo, me amava.

Não conseguia olhar para ela. Uma dor agoniante me possuía. Eu sentia… falta, daquele tempo?

Antes que eu pudesse perceber, senti um toque carinhoso em meu cabelo. Jo estava perto de mim e seus olhos eram cheios de ternura.

— Apesar de tudo o que você fez, de todo o ódio que eu sinto por você… Eu… — sua voz tremer — Ainda amo você.

Aquilo foi o suficiente. Levantei de súbito, afastando sua mão e fiquei de frente para ela, superando em muito sua baixa estatura.

— EU NÃO QUERO A MERDA DO SEU AMOR! NÃO QUERO NADA QUE VENHA DE VOCÊ! — gritei, cego de ódio, vendo Jo se encolher — VAI EMBORA OU, ENTÃO, EU JURO QUE MATO VOCÊ!

Jô ficou paralisada me olhando, contendo as lágrimas, que cismavam em cair de seus olhos. E senti mais raiva de mim, mesmo por assustá-la daquela forma. E mais raiva dela por me fazer perder o controle daquela forma.

— Vai embora — sussurrei, sentindo aquelas lágrimas idiotas descendo pelo meu rosto.

— Mas o que está acontecendo aqui? — perguntou Bonnie, surgindo ao pé da escada.

Seus olhos encaram uma Jo paralisada de medo. Ela fez uma expressão de reprovação e aposto que já iria brigar comigo quando viu meu rosto. Confusão tomou suas feições.

Ela olhou novamente para minha irmã, que se apressou em pegar sua bolsa.

— Eu tenho… tenho que ir. Me ligaram do hospital — mentiu.

Bonnie se adiantou.

— Eu levo você até a porta… — tentou dizer.

— Não, deixa que eu vou sozinha — interrompeu ela, entregando a receita que fez para Bonnie. E saiu, batendo a porta da sala.

Bonnie, se remexeu um pouco, desconfortável.

— Kai...

— Não diga, nada, Bonnie — avisei, erguendo um dedo no ar — Não deveria tê-la trazido aqui.

Bonnie tentou tocar em meu braço, com tristeza estampada em seus olhos, mas me desviei de seu toque.

— Não. Me deixa em paz — murmurei, dando a volta nela e subindo as escadas.  E quando entrei em meu quarto, me permiti desabar.

Chorei desesperadamente, sentindo ódio, tristeza e pesar. Tudo isso de uma só vez. As lembranças de minha infância insuportável e a rejeição de todos me assaltando subitamente.

Ouvi o som dos passos leves de Bonnie no corredor.

— Kai? — disse através da porta.

Não respondi, só queria que ela fosse embora.

— Kai? Por favor, precisamos conversar — sua voz estava cheia de preocupação. Continuei em silêncio.

Ela ficou um bom tempo tentando falar comigo, mas me recusei a falar com ela e continuei com a porta trancada. Não suportaria ver aquela mesma pena nos olhos de Bonnie.

***

Já eram duas e quarenta e cinco da manhã. E eu ainda não conseguia pegar no sono. Só conseguia pensar em Jo e na culpa idiota que eu sentia por ter destruído sua vida e nossa família ridícula e disfuncional. 

Em algum momento, meus pensamentos voltaram-se para Bonnie. Ainda estava bravo com ela por ter trazido minha irmã aqui sem me consultar ou perguntar o que eu achava.

Quem mandou você ser teimoso?, zombou a voz em minha mente. Vai à merda, pensei, irritado, pois sabia que ela tinha razão.

Puxei as cobertas, me virando de lado e tentando dormir. Alguns segundos depois, ouvi o som da porta se abrindo devagar.

— Kai?— sussurrou Bonnie.

Eu não respondi, fingindo que estava dormindo. Mas claro que meu coração inútil me entregou se acelerando.

— Kai? Você ainda está irritado comigo? —  sua voz era triste.

Eu queria muito dizer que não, que só estava irritado comigo mesmo, porém, meu orgulho idiota não me permitia.

Bonnie ainda continuou parada na entrada. E depois ouvi o som da porta se fechando. E fiquei triste por ela não ter ficado comigo mesmo que eu não merecesse. Precisava mais dela do que Bonnie poderia imaginar.

Quando ouvi  passos no meu quarto.

Ela não saiu, pensei, com meu coração acelerando mais. Senti quando as cobertas foram afastadas, enquanto Bonnie se deitava ao meu lado.

Ela se aconchegou em minhas costas. E senti seu braço transpassando meu dorso. Ela colou suas curvas em meu corpo.

Meu coração martelava loucamente.

Senti sua respiração quente em minha nuca, me deixando todo arrepiado. Ela apertou seus braços magros e delicados em volta de meu corpo.

— Não fique bravo comigo — implorou ela — Eu queria apenas ajudar.

Cansei do meu orgulho idiota.

Me virei, a puxando pela cintura. A ajeitei em cima do meu peito, deixando-a confortável. Bonnie se aconchegou mais, colocando o rosto entre minha clavícula e meu queixo, suspirando.

E sei que não deveria, mas minhas mãos — que estavam pousadas em sua cintura — desceram por sua coluna, sentindo, tremores percorrerem seu corpo. Foram deslizando até a base de suas costas, por seu bumbum, sentindo as curvas de seu corpo.

O fato de ela estar só de blusa e calcinha, pode ter contribuído para um quase início de parada cardíaca. Mas quem precisava de coração, não é, mesmo?

Bonnie não reclamou daquilo, pelo contrário. Senti seu coração disparado em meu peito.

Suas mãos também me percorriam. Senti seu toque em meu peito, deslizando por cima da camisa, me deixando em chamas. E elas estavam perigosamente perto da barra do tecido, tencionando se infiltrar por baixo dele.

Suspirei, tentando me controlar.

Sabia que se não parasse aquilo iria longe demais. E eu falava por mim. De má vontade, subi minhas mãos para suas costas. 

Bonnie também parou de me tocar, parecendo um pouco desapontada.

A abracei, tentando me acalmar. Aquilo era meu pedido de desculpas silencioso. Por ser uma babaca teimoso e chato.

Aos poucos, fui sendo embalado, me perdendo em seu cheiro adocicado de jasmim. E adormeci profundamente sem nenhum pesadelo.

***

— Você vai ou não?— perguntou Matt.

— Não — murmurei de cara feia, terminando de limpar uma mesa.

Três dias haviam se passado e graças aos cuidados de Bonnie e aos remédios que Jo receitou eu me sentia melhor.

Bem, eu não estava mais trocando as sílabas por B's. O que era um grande começo. Até pude voltar para o trabalho, o que me deixou muito feliz, porque não aguentava mais ver aquelas reprises de "Friends".

— Ah, cara, todo o mundo vai — insistiu ele.

Depois que descobriu que eu tinha um lado humano, Matt começou a me tratar como um igual. E isso era legal.

— Minha mãe disse que não sou todo mundo — resmunguei.

Ok. Não tão legal assim.

— Para um sociopata você não é muito divertido, não?— murmurou Matt, provocando.

Larguei o pano na mesa, o encarando.

— Eu tenho um monte de coisas na cabeça, Matt. Não posso largar tudo para ir numa festa idiota — expliquei, mais carrancudo do que queria. E odiava fazer isso. Eu ficava parecendo o meu pai.

— Que tipo de coisas?— inquiriu, cruzando os braços sobre o peito.

Coisas do tipo: o desaparecimento de minha tia, o espectro que atacou Bonnie, o sangue roubado de Damon, as mortes das duas garotas e meu próprio sequestro, pensei, com raiva, coisas bem normais.

— Do tipo, "não são da sua conta, Donovan" — fui ríspido, pegando algumas bandejas e as levando para o balcão. 

Matt revirou os olhos.

Mas o cara não desistia mesmo! Ele simplesmente usou meu método de "seguir e pedir", durante dez minutos seguidos.

— Mas que porra, Matt! — gritei, ficando irritado — Eu vou nessa merda de festa! Tá satisfeito?

Ele sorriu.

— Vou ficar apenas um pouco — adiantei.

Não queria deixar Bonnie sozinha em casa à noite. Ainda mais por causa do que aconteceu comigo. 

— Tudo bem — disse ele e voltou para seu trabalho feliz da vida.

Uma hora depois, chegamos a uma casa grande e barulhenta. 

Pude ver um monte de jovens, que se reuniram na varanda e dentro da casa. Felizmente, não estava nevando naquela noite.

— Vamos, cara — disse Matt, saindo do carro com outros três garçons do Grill.

Os segui, entrando na festa de um cara chamado Tommy Trevinski. Pelo que sabia, o cara se aproveitou de que os pais não estavam para dar aquela festa. Entramos na casa apinhada de pessoas e com música alta. E com um cheiro de uma fumaça muito suspeita que não era cigarro.

Os outros garçons logo se dispersaram pela festa. O único que permaneceu ao meu lado foi Matt.

— Toma cara — disse ele, colocando uma garrafa de cerveja em minha mão e dando um gole na sua.

Fiz uma careta para a garrafa. Eu não era muito fã de bebidas.

— Para de frescura, Kai — murmurou Matt, revirando os olhos, percebendo meu desconforto — Bebe um pouco, relaxa. A sua Convenção de bruxos malucos ainda vai continuar no mesmo lugar de sempre.

Ele tinha razão. Dei de ombros, dando um gole na cerveja.

Uma não vai matar, não é?, pensei.

Não demorou muito para que Matt achasse uma garota. Deixei os dois conversando e fui andar pela festa.  Eu havia bebido três cervejas. Já estava sentindo os primeiros efeitos da embriaguez. Culpa da minha falta de consumo constante de álcool.

Alguém me ofereceu uma dose de tequila. E claro, idiota como estava, achei uma grande idéia beber um pouco mais.  Acho que consegui beber mais umas quatro doses. Pois é. E foi aí que eu fiquei bêbado mesmo.

Tudo parecia meio colorido e animado demais. E quando dei por mim, estava parado em um canto falando com uns garotos magrelos com cara de nerds. E admito, com muita vergonha, que estava tendo uma crise existencial de bêbado.

— E foi assim que matei meus quatro irmãos. Aliás, se vocês forem contar com o Luke, também. Mas é uma história muito complicada, envolvendo gêmeos e uma convenção — murmurei, com a fala meio arrastada. Na hora, eu não percebi, mas os caras me olhavam como se tivesse ficado louco ou bêbado demais. Talvez um pouco dos dois — E eu já falei da Bonnie?

Eles negaram com a cabeça, nervosos.

— Pra começar… Ela é muito chata! A garota mais chata, que eu já conheci, mas nós somos casados — solucei, meu estômago cheio de álcool — O que é muito esquisito por sinal. Mas estranhamente, eu sou louco por ela. Vai entender, não é? Só que ela não percebe isso. E ela é tão bonita… Deviam vê-la irritada — eu ri— Fica mais linda que nunca… — Fechei a cara, olhando feio para os garotos — Mas nenhum de vocês vai se aproximar dela, ouviram? Ela é minha!

Os garotos se encolheram, com medo, negando com a cabeça. Eu sorri.

— Então, estamos de acordo — meu sorriso se alargou e estendi os braços — Hector, Bryan e Liam! Vocês são muito legais!

Os garotos olhavam em todas as direções, buscando alguma alternativa de fuga.

Senti um toque em meu ombro. Me virei lentamente.

E vi uma garota loura e alta. Sua pele era muito alva e seus olhos de um castanho amendoado.

Estava usando uma blusa decotada e uma saia… Deus, que saia era aquela?

Ok. Deixo bem claro que sou homem, e detalhes assim, não consigo deixar passar. A garota era Sofia Cross.

— Oi, lindo — murmurou com uma voz doce, me pegando em um abraço caloroso demais — O que faz aqui?

Seu cheiro de baunilha me deixou atordoado.

— Eu… Eu, hã, vim com um amigo.

Ela sorriu.

— Onde está Bonnie? — e fez uma careta estranha ao dizer o nome dela.

Passei a mão nos cabelos nervosamente, com seus olhos que percorriam todo o meu corpo.

— Ela tá em casa — disse eu com a fala arrastada.

Sofia sorriu diabolicamente.

— Saiu para uma festa e deixou sua esposa em casa? — disse ela, travessa — Você é danadinho, Kai.

Não gostei de sua insinuação. Eu nunca faria isso com Bonnie. Mesmo que aquela relação só existisse em minha cabeça.

— E aliás, acho que já deu minha hora — murmurei, me adiantando para ir embora. Passei por ela, mas parei quando senti seu toque em minha mão. Olhei para Sofia.

— Ei, fica mais um pouco? — pediu, fazendo uma expressão de súplica — Por favor? É que vim com algumas amigas, mas elas foram para algum canto da casa e não consigo encontrá-las. Juro que quando vir alguma delas, o deixo ir na hora.

Fiquei em dúvida, pois queria voltar para Bonnie e seus cuidados, mas o modo como Sofia pediu, deixou-me indeciso.

— Hã... tudo bem, eu fico mais um pouco — murmurei e isso a fez sorrir.

Mesmo sendo um tanto manipuladora e mimada, Sofia foi uma das poucas pessoas que recebeu bem a minha chegada como líder da Convenção. E isso fez com que eu me aproximasse dela e cogitar uma proposta de casamento. Mas nós nunca tivemos nada e eu meio que já estava na de Bonnie há muito tempo.

Nesse momento começou a tocar "I Love Rock N Roll" da Joan Jett.

Finalmente, uma música que eu conheço!, pensei.

— Adoro essa música! — murmurou Sofia, me puxando para dançar.

Fui, porém, hesitante.

Se a Bonnie pode dançar com o pirralho, posso muito bem me divertir um pouco, pensei, com raiva daquele fedelho.

Eu e Sofia dançamos ao som do rock.  E ela ficava se esfregando em mim o tempo todo, me provocando. Mordia os lábios e apertava os olhos de um modo muito sexy.  Se bem que no estado alcoolizado em que me encontrava, tudo me pareceria sexy ou no minino divertido.

Ela colocou os braços em volta do meu pescoço e, do nada, me puxou, tentando me beijar. A afastei gentilmente.

— Sofia, não.

Ela me olhava, confusa. E nem dei tempo para ela dizer alguma coisa, apenas saí de perto dela. Andei pela festa, tentando achar a saída, mas bêbado como estava, fiquei meio perdido. E quando dei por mim, estava em um longo corredor que dava para outros cômodos da casa.

Procurei pelo banheiro, já que o excesso de cerveja resultava em bexiga cheia.

Entrei no que parecia um quarto, com uma grande cama de casal com lençóis brancos e paredes pintadas de um magenta escuro. E havia um banheiro ali. Agradeci aos céus!

Alguns segundos depois, saí do banheiro, querendo ir para casa e ver Bonnie, quando me deparei com Sofia encostada na porta do quarto que estava fechada atrás dela.

Ela sorria maliciosamente.

— Ainda não acabamos — murmurou e veio na minha direção rebolando enquanto andava.

Ela tentou me tocar, porém, me esquivei dela, sentindo o tecido dos lençóis da cama roçando na parte de trás de meus joelhos. Sofia me empurrou e eu caí sobre o colchão. Ela foi mais rápida, subindo em cima de mim, com as mãos deslizando pelo meu peito.

— Sofia, o que você tá fazendo?— murmurei, confuso, tentando tirá-la de cima de mim — Para com isso.

Ela deslizou as mãos por baixo da minha camisa.

— Você é tão gostoso — sussurrou ela, mordendo o lábio.

Tentei tirar suas mãos do meu corpo, mas ela não queria me largar.

— Sofia, para — tentei dizer — A Bonnie e eu...

Ela se inclinou sobre mim com seus olhos castanhos me penetrando.

— Esquece ela — murmurou — Essa noite somos apenas eu e você. E além do mais, ela não precisa saber.

— Não, Sofia, não… — tentei afastá-la, mas já era muito tarde. Ela me beijou.

Me debati, tentando me soltar dela, mas como estava um pouco mais do que bêbado, poderia acabar machucando-a no ato. Entretanto, continuei tentando afastá-la com alguns empurrões. Era muito estranho ter outra garota que não a minha esposa me beijando.

Merda de bebida!, pensei, com raiva da minha burrice.

Ouvi o som da porta se abrindo. O barulho da festa invadiu o quarto.

— Ah, me desculpe… — murmurou, com uma voz envergonhada.

Gelei até onde pensei que minha alma não estava.

Sofia me soltou, olhando feio para a pessoa quando estava parada na porta. Meu coração acelerou.

Bonnie estava parada na entrada, e olhava para nós, incrédula.

— Kai?!

E olhou para a garota em cima de mim. E parecia o diabo com aquele olhar.

— Sofia?!

Isso vai dar numa bela merda, pensei, com sarcasmo.

♡♡♡♡♡

Nota da Autora:

Oi queridos!

Kai recebeu uma visita da maninha e foi atacado pela Sofia. Coitado desse homem, né? *modo sarcasmo on*

Espero que tenham gostado e comenta o que você está achando. Muito obrigada por todos os votos e amo vocês!

Beijinhos xxx. Até o próximo o/

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