Convergência Sombria | Bonkai...

By Dark_Siren4

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Depois de fugir do Mundo Prisão de 1994, Bonnie acha que pode ter uma vida normal ao lado de seus antigos am... More

1. Eu me caso com um sociopata
2. O Ritual de União das Almas
3. Enfrento a fúria da minha esposa
4. Deixo Kai me tocar
5. Bonnie me dá um perdido
6. Acordando com Kai
7. Meu novo emprego e um cadáver
8. Canção de Ninar
9. Meus sentimentos e Minha sogra
10. Meu novo colega de quarto
11. Incêndeio um Espectro folgado
12. Um coração partido
13. O meu e o seu coração
14. Entre dois idiotas e minhas descobertas
15. Eu? Apaixonado? Quem diria
17. Um velho me ataca
18. Sou dele
19. Sem ele
20. Visito o cemitério
21. Sou flagrado
22. Ela me domina
23. Férias forçadas
24. A Revanche
25. Amigos e Respostas
26. A Flora e o Mar
27. Um lago de verdades
28. Para Sempre
29. Reunião de família
30. Nas Sombras
31.Conhecendo o inimigo
32. Possessão
33. Supernova
34. Em casa
35. O que falta em mim
36. Nós dois
37. Um pedaço de mim
Capítulo 38: Minhas Prioridades
Capítulo 39: O homem em chamas
Epílogo:
Antes que eu me vá...
Capítulo Bônus: Linhas de Sangue
Livro Novo!

16. E o tiro saiu pela culatra

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By Dark_Siren4

Depois daquela descoberta bizarra sobre Anyra e a tribo de sua avó, fui para casa cheia de coisas na cabeça.

Passei boa parte do dia em frente ao computador tentando encontrar alguma coisa referente àquilo, mas não tinha nada.

Só me dei conta de que havia passado muito tempo sentada ali no sofá, quando ouvi o som da porta da frente sendo fechada.

Dei um pulo, assustada.

Ah, minha nossa! O Kai chegou!, pensei, ficando apavorada. 

Eu havia passado o dia todo tentando não pensar nele e naquele beijo idiota, mas foi impossível. E claro que me ocorreu uma ideia muito infantil: correr para o meu quarto e me trancar lá até a próxima década.

Para com isso, Bonnie Bennett. Você é uma mulher adulta! Não pode ficar se escondendo de um cara, só porque ele a beijou!, gritou minha consciência, repreendendo.

Ok, não vou me esconder dele, pensei, respirando fundo. E uma que também não dá tempo de correr para lá sem que ele me veja.

Minha consciência balançou a cabeça em sinal de desgosto.

Ouvi os passos pesados de Kai se aproximando e o vi parando na entrada da sala, parecendo surpreso de me ver ali. Seus olhos cinzentos, miravam os meus de um modo estranho. Parecia que algo o estava incomodando muito.

Senti seu coração batendo acelerado em meu peito. E o meu estava da mesma forma.

Fui a primeira a quebrar o silêncio:

— Oi, Kai — disse com uma voz fraquinha.

Ele parecia muito incomodado com algo, quase como se estivesse envergonhado com alguma coisa.

— Oi, Bonnie — murmurou ele, ficando todo vermelho.

E minha nossa, ele ficava muito fofo quando fazia isso. Parecia tão infantil e ingênuo. 

Tentei conter um sorrisinho idiota. Ficamos nos encarando, sem jeito.

Ele abriu a boca como se fosse dizer alguma coisa, mas a fechou rapidamente. E começou a andar em direção a escada.

— Kai! — chamei e nem sei porque fiz aquilo.

Ele se virou, ansioso demais.

— Hã… É que… — comecei a falar, mas nem sabia o que dizer — Eu... Eu fui ver a Theodora!— inventei na hora.

Ele parou com os braços cruzados. Então, rapidamente comecei a explicar sobre a forma como Theodora estava me evitando. E contei sobre ter ido ao necrotério e roubado os prontuários.

Kai franziu as sobrancelhas quando contei sobre o que tive que fazer para pegá-los. E uma parte de mim, não deixou de se perguntar se ele não estava sentindo ciúmes, mas logo descartei aquela possibilidade. Era ridículo.

E lhe expliquei sobre Anyra e a tribo. E aquilo, o deixou interessado.

— Parece que você teve um dia bem agitado — disse ele, sorrindo torto. E aquilo fez meu coração disparar como louco — Essa, Anyra, não explicou sobre algum feitiço ou alguma coisa que possa nos ajudar?

Neguei com a cabeça. 

— Ela sabe tanto quanto nós.

— Mas o pouco que ela sabe já nos ajuda. Agora sabemos que não estamos lidando apenas com um bruxo — murmurou ele, seriamente — E sim com algo maior e muito mais antigo.

O olhei preocupada, também sentia o mesmo. Aquela energia que nos bloqueou quando fizemos o feitiço de localização, era muito mais forte do que qualquer coisa que eu já tenha enfrentado.

— E sobre Theodora? — perguntei. — Ainda acho que ela sabe de alguma coisa, mas não quer nos contar ou está com muito medo.

— Amanhã, vou ligar para ela — murmurou, levemente irritado — E Dora que tente me evitar

Aquela ameaça me fez tremer.

Depois de nossa conversa — que se limitou a Convenção e a morte das garotas — Kai subiu para o seu quarto dizendo que estava cansado.

E aquilo me deixou estranhamente inquieta. 

Eu quero que ele fique perto de mim?, me perguntei, confusa e angustiada.

Fiquei mais algum tempo, procurando mais alguma coisa útil sobre a tribo de Anyra, mas não encontrei nada. Depois subi para o meu quarto, dando uma olhada na porta de Kai que estava fechada.

Suspirei, entrando no meu.

***

Uma semana se passou. 

E Kai e eu fugimos um do outro como o Capeta foge da cruz.

Sempre que Kai entrava em algum cômodo da casa e me via, logo inventava uma desculpa e saía. E eu fazia o mesmo. Nem café da manhã, tomávamos juntos agora. E olha que era a única hora do dia em que tínhamos que ficar em um mesmo cômodo. Só parávamos para falar um com o outro, quando era algo realmente importante.

Sem mencionar a noite.

Eu sempre o ouvia gritando enquanto dormia, mas nunca me levantava para ficar com ele. E isso acabava comigo. Enquanto Kai tinha aqueles pesadelos horríveis, eu chorava em meu quarto, querendo loucamente correr para ele, abraçá-lo e dizer que tudo iria ficar bem. Mas tinha medo de não conseguir resistir a ele.

E quando não o ouvia gritando a noite, acordava completamente assustada com meu coração acelerado. E sabia que Kai, havia despertado apavorado.

E nessas noites, eu odiava aquela ligação que nos prendia.

E como se minha vida já não estivesse complicada o suficiente, ainda tinha Jeremy, me ligando o tempo todo e mandando um milhão de torpedos, dizendo que queria me ver. E eu realmente me sentia tentada a responder a aquelas mensagens e as ligações, mas ainda me sentia confusa com relação a ele e Kai.

E conhecendo bem Jeremy, não sabia como ele ainda não havia vindo até minha casa e botado a porta abaixo para ter alguma explicação minha. 

A Elena deve estar segurando ele na Mansão Salvatore, pensei, ainda ressentida com minha melhor amiga. 

Se passaram todos aqueles dias e eu ainda não tinha tentado falar com ela. Elena me ligou algumas vezes, mas não fiz questão de retornar às ligações.

De certa forma, até era agradecida por Elena não deixá-lo vir até aqui, pois tremia de medo, só de pensar em Jeremy e Kai se esmurrando por minha causa.

Não queria que Jeremy se machucasse. E estranhamente, também me preocupava com aquele sociopata idiota.

Isso é só instinto de autopreservação..., murmurou minha consciência. Afinal, se Jeremy o matar, você morre também.

Será que é por isso que me preocupo, tanto com Kai?, pensei, intrigada.

***

Dirigi até a casa de Caroline.

Durante essa semana, havia passado muito tempo com ela.  E aquilo era só uma desculpa, para não ficar em casa, porque estava evitando Kai. Porém, quando ele não estava por perto, me sentia muito sozinha e comecei a alimentar minhas paranóias de que Jeremy surgiria ali a qualquer momento. E eu ainda não me sentia pronta para conversar com ele.

Estacionei o carro no meio fio. Saí, sentindo a brisa gelada do outono, me percorrer. O céu estava carregado de nuvens nubladas. O inverno não demoraria muito a chegar esse ano.

Passei pela varanda de Caroline, parei em frente a entrada, apertando a campainha.

Ela abriu a porta, usando um jeans azul, um casaquinho branco de lã e um gorro azul bebê. Caroline sorriu ao me ver.

— Entrar, Bonnie! — murmurou, alegremente.

Sorri, passando pelo vestíbulo.

— Está pronta pra nossa maratona de filmes de terror?— perguntei.

Eu e Caroline havíamos cismado que hoje seria o dia dos filmes de terror. Seis horas completas de todos os filmes mais aterrorizantes de todos os tempos.

Ela estava sendo uma boa amiga, me aturando a semana inteira, em vez de curtir o seu retorno com Stefan. Embora, eu não tenha contado sobre Kai ter me beijado. Deixava que ela pensasse que eu estava agindo assim por causa de Jeremy — o que não deixava de ser verdade também.

Caroline me guiou pelo corredor até a sala, mas antes que eu pudesse chegar perto da entrada, ela me deteve com as mãos em meus ombros.

— O que foi? — perguntei confusa — Peraí, não vai me dizer que você está redecorando a sala de novo, não é?

— Pois, é… — murmurou Caroline, nervosamente— Olha, Bon, não fica brava, tá?

E claro que eu já fiquei desconfiada. Semicerrei os olhos, a encarando.

— Caroline...

— Só escuta, ok? — murmurou ela, e soltou meus ombros, saindo da minha frente, deixando a passagem livre. 

Olhei para o batente da porta, desconfiada e em seguida para Caroline.

Será que ela...?, pensei, paranóica. Não, ela não faria isso.

Passei pela porta, entrando na sala de Caroline, que estava com as paredes pintadas de um azul bebê e com móveis novos. Mas aquilo eu já havia visto, durante toda semana. E o único elemento diferente ali, era a garota alta de cabelos castanhos e olhos da mesma cor.

Ela se virou para mim com um sorriso tímido.

— Oi, Bonnie.

— Elena — assenti, com a cabeça e de braços cruzados — CAROLINE VOCÊ ME PAGA! — gritei, sentindo minhas bochechas rubras.

— Desculpa, Bon! — disse ela, no corredor — Eu precisei fazer isso.

Elena se aproximou um pouco.

— Bonnie, não briga com ela, tá? Fui eu quem dei a ideia de vir aqui para conversar com você — murmurou ela — E ainda mais depois da festa...

Arqueei uma sobrancelha.

— Por que não me disse, Elena?

— Você sabe o porquê, Bonnie. Eu fiquei com medo do Jeremy tentar ir atrás de você e ainda mais com Kai por perto, não confio nele.

Bufei em exasperação.

— E você preferiu deixar o Jeremy aparecer na minha festa de noivado, onde ele com certeza encontraria com o Kai? — acusei — Sabia, que os dois, quase brigaram?

Elena pareceu chocada.

— Eles o quê?!

— É, se eu não tivesse me intrometido no meio, aquilo iria virar um ringue de luta livre — expliquei.

— Bonnie, eu juro que não sabia que o Jeremy sabia da sua festa. Nem sei como ele descobriu isso.

Revirei os olhos.

— Isso não teria acontecido se você não tivesse tratado ele como criança. Sabe que ele odeia isso — disse eu, irritada — Você não pode ficar tentando controlar a vida dele, Elena e ainda mais a minha. Está parecendo a Caroline.

— Ei! — fez a loura, ofendida.

— Você aprontou — briguei — Agora aguenta.

Caroline fez um beicinho.

— Vocês vivem arrumando problemas e quando eu tento consertar, ainda levo patadas!— resmungou, ela, igual a quando tínhamos seis anos de idade.

Vi Elena se sentando no sofá. Ela parecia cansada.

— Você tem razão, Bonnie — disse ela — Eu não devia ter interferido no relacionamento de vocês...

Ver Elena, assim me fazia sentir mais culpada por ter sido tão fria com ela durante todos esses dias. Suspirei, me rendendo.

Me sentei ao seu lado e a abracei. Senti seus braços me envolvendo também.

— Me desculpe — disse ela.

—Não, eu que peço desculpas por ser tão cabeça-dura — murmurei.

— Estamos desculpadas, então — a ouvi dizer com um sorriso na voz.

A soltei.

Estava feliz de ter minha melhor amiga de volta. Detestava brigar com Elena. Olhamos para Caroline, que ainda estava parada, perto da porta com aquela carinha emburrada.

— Vem cá, Care — chamei estendendo a mão para ela.

Ela cruzou os braços, e se recusando a olhar para nós.

—Não — disse brava.

— Por favor? — pedi, fazendo minha carinha meiga.

Ela me olhou de soslaio e ainda de cara feia e arrastando os pés veio até mim e Elena, e se sentou em nosso colo.

— O que faríamos sem nossa doce e linda Care para nos reconciliar? — disse Elena, acariciando os cabelos de Caroline como se falasse com uma criança.

— Você me perdoa, Care? — perguntei, fazendo carinha de cachorrinho que caiu da mudança.

Ela ainda tentou manter um pouco de sua dignidade, mas acabou cedendo. Um sorriso escapou de seus lábios e ela me abraçou.

— Claro, que perdôo.

Então, eu, Elena e Caroline nos abraçamos.

Fiquei muito feliz de estar tão bem com minhas melhores amigas.

Elena não gostava de ficar parada. E a possibilidade de ficar o dia inteiro sentada assistindo a seis horas de filmes seguidos, a deixava de cabelos em pé. Então, ela nos arrastou para comer fora.

Decidimos ir andando mesmo, assim poderíamos nos decidir em que restaurante almoçaríamos.

— Que tal irmos para o Mystic Grill? — perguntou ela, enquanto caminhávamos pela calçada. 

Revirei os olhos.

— O Kai está trabalhando lá e para mim, já basta ver a cara dele todo santo dia em casa — resmunguei.

Elena riu.

— Tem alguma coisa acontecendo, para você o estar evitando, senhorita Bennett?— brincou ela.

Senti meu coração acelerando. Eu odiava quando Elena fazia isso. Ela sempre sabia o que estava se passando comigo, mesmo sem querer.

— Claro que não, Len — murmurei, tentando esconder meu nervosismo — É que ele é muito irritante, sabe?

E foi a vez dela revirar os olhos.

— Nem me fale, ainda não esqueci do dia em que ele ficou me torturando, para treinar os poderes recém- adquiridos da barreira de proteção dos Viajantes — disse ela, com um forte ressentimento — Estava quase pedindo que ele tivesse misericórdia e me matasse, pois, aquele ali, fala pelos cotovelos. Como você aguenta ele, Bonnie?

— Bem, a maior parte do tempo, tento ignorar a tagarelice dele — expliquei, dando de ombros.

— Haja, paciência! — murmurou Caroline, que também não era muito fã de Kai.

E estranhamente, aquilo me deixou incomodada. 

Desde quando fico incomodada de alguém não gostar de Kai? Afinal, ele é o antagonismo em carne e osso. Não fazia o mínimo de esforço para que alguém gostasse dele. E quando fazia, parecia mais um chato obsessivo. Tentei pensar em outras coisas, não podia ficar obcecada com Kai o dia todo.

E naquele exato momento passamos em frente ao Mystic Grill. Não queria, mas acabei olhando para a vitrine do estabelecimento. Havia muitas pessoas lá dentro. E claro, como uma boba, fiquei procurando por Kai.

E o vi a algumas mesas de distância. Estava parado com uma camisa branca, jeans e botas e usava um avental de garçom. Estava sorrindo, daquele modo lindo com as covinhas à mostra. Anotava o pedido de um cliente...

Peraí!, pensei, parando bruscamente na calçada.

Olhei mais de perto e vi que a pessoa que Kai atendia era nada menos que Sofia Cross. Ela sorria, daquele modo fingido, balançando os cabelos e dizia algo a Kai que eu não conseguia compreender. A vi pegando a mão esquerda dele e olhando para a aliança em seu dedo. Ela arregalou os olhos, sorriu mais ainda e ficou alisando a mão dele, enquanto, olhava para ele.

E aquele idiota ficou todo vermelho e retirou a mão da sua, encabulado.

Fiquei mais vermelha que um tomate. 

— O que foi, Bonnie?— perguntou, Caroline vindo até mim. Elena a seguiu.

— Mudei de idéia — murmurei, possessa de raiva, ainda encarando o vidro — Não vou deixar de vir ao Mistyc Grill por causa daquele bruxo idiota, sem vergonha e safado! 

— Bonnie está tudo bem? — perguntou Elena, confusa.

- Claro, está tudo ótimo. Vem! — murmurei, agarrando a mão de Elena e Caroline, às arrastando para dentro da lanchonete.

Ao entrarmos pude sentir o forte cheiro de fritura e uísque que dominava o lugar. Aquele era o cheiro familiar do Mystic Grill.

Foi difícil acharmos um lugar para nos sentar, pois estava lotado. Mas acabamos conseguindo um.

Eu escolhi aquele estrategicamente, pois me dava uma boa visão da mesa de Sofia e ainda me mantinha escondida.

Pude ver que Lily, sua irmã, a acompanhava. E pela cara dela, era visível que preferia se mesclar aos móveis do que ficar perto da irmã mais velha.

Kai anotava o pedido de Lily, enquanto Sofia falava com ele, e pude ver o modo como ela o comia com olhos descaradamente.

Senti meu rosto esquentar de ódio.

— Bonnie?— chamou Caroline, que estava sentada ao meu lado.

Me virei sobressaltada para ela.

— Sim?

— Você está amassando o cardápio...— explicou ela, um tanto assustada por minha agressividade súbita.

Olhei para o cardápio em minhas mãos. Estava todo retorcido, amassado e rasgado em alguns pontos. O reflexo perfeito do que eu queria fazer com Sofia Cross.

Soltei o papel, envergonhada.

Pude ver o modo como Elena me olhava do outro lado da mesa, como se estivesse me avaliando. E claro, aquilo me deixou extremamente nervosa.

— Hã… Eu vou ao banheiro — inventei.

— Ah, eu vou com você! — murmurou, Caroline.

— Não! — e nem sei porque eu disse aquilo e daquela forma — É que... é que...

Caroline franziu as sobrancelhas, confusa.

— Deixa, eu não preciso ir mesmo, já que eu sou vampira e não preciso mais disso há muito tempo — disse ela, dando de ombros.

Me levantei, ciente do olhar penetrante de Elena sobre mim.

Andei pelo bar apinhado de pessoas e estava mesmo indo até o banheiro, quando do nada, mudei de direção. Fui em direção à mesa onde Sofia estava sentada.

Vi Kai terminando de anotar algumas coisas. E nossa! Ele era lindo até de costas, com aqueles ombros largos e aqueles braços fortes. Senti meu coração acelerando.

Respira, sua idiota!, gritei para mim mesma, tentando me acalmar.

Ele estava prestes a sair, quando do nada virou de frente para mim, como se tivesse sentido minha aproximação ou coisa do tipo.

Seus olhos cinzentos me encaravam com surpresa.

— Bonnie? O que você está fazendo aqui?

Gostaria muito de dizer que tinha respostas inteligentes para dar, mas não me ocorreu nada muito bom.

Pensa, garota!, gritou minha consciência.

— Hã... É que a Caroline e Elena me trouxeram para cá — murmurei, com a maior cara de pau.

Kai me encarava daquele modo penetrante, como se estivesse tentando ver através de mim. E era a primeira vez em dias que ele fazia aquilo.

Senti meu coração acelerar muito.

—Bonnie?— perguntou Sofia, com aquela vozinha doce e enjoada.

Kai saiu da minha frente para que eu pudesse vê- la.

E lá estava, aquela loira azeda com um vestido rosa decotado e bonito. E não sei como ela havia chegado ali sem congelar com o frio que fazia lá fora. E claro, que meu sexto sentido de esposa (coisa que eu nem sabia que tinha) me dizia que ela não se vestiu daquele modo só para comer um lanchinho. 

Arqueei uma sobrancelha, a encarando. Ela retribuiu um olhar de escárnio na minha direção, mas disfarçou rapidamente com um sorriso falso.

— Bonnie, querida! — murmurou ela com a maior cara lavada.

Semicerrei os olhos, dando um fraco sorrisinho.

Eu queria tanto socar aquela vadia!

— Olá, Sofia — murmurei a contragosto.

Meus olhos recaíram sobre Lily, que estava totalmente diferente da primeira vez em que a vi.

Na festa ela usava um vestido lilás mais delicado e feminino, mas hoje ela vestia uma camiseta preta, com o emblema de uma banda de rock que eu não conhecia. Seus olhos amendoados, estavam marcados com delineador preto e seus cabelos cor de areia, caiam por sobre os ombros em ondas suaves e desarrumadas.

E ela sorriu para mim, parecendo genuinamente feliz em ver.

— Oi, Bonnie! Como você tá? — perguntou, com um sorriso.

E não pude deixar de sorrir para ela. Tinha alguma coisa nela que era muito contagiante. Era impossível não gostar dela.

— Oi, Lily — murmurei — Eu vou muito bem, obrigada.

— Porque não se senta conosco?— perguntou ela.

Vi Sofia dando um olhar de aviso à irmã. Não gostando nem um pouco da ideia de eu me sentar com elas.

— Não, Liliana! Quer dizer, a Bonnie veio com as amigas dela e não pode deixá-las para ficar conosco — disse Sofia, rapidamente, tentando disfarçar seu desgosto.

Eu sabia que ela queria ficar sozinha com Kai para poder dar em cima dele, e se eu ficasse ali, atrapalharia seus planos.

Sorri, adorando a ideia.

Eu com certeza vou ferrar com ela, pensei de forma maligna.

— Não se preocupe com Elena e Carolin. Elas vão entender — cantarolei, me sentando de frente para as duas irmãs — Afinal, acabei de conhecer vocês, não é?

Sorri, vendo Sofia ficar tão vermelha quanto um semáforo.

— Mas você veio com elas — insistiu, tentando achar uma desculpa para me tirar dali. — Não seria descortês da sua parte deixá-las sozinhas?

Arqueei uma sobrancelha, a desafiando.

— As duas já são bem grandinhas e sabem se virar sem mim por perto — falei, deixando tudo bem claro para aquela garota — E logo, logo, é capaz dos namorados delas aparecerem por aí.

Sofia sorriu um pouco, mas de um jeito duro e forçado. E Lily estava radiante com minha presença, provavelmente, porque eu era melhor companhia que a irmã.

— Você vai querer alguma coisa, Bonnie?— Kai perguntou ainda próximo de nossa mesa.

O mirei, vendo-o segurar o bloquinho e a caneta. E o modo como seus olhos azuis encontraram os meus, era eletrizante. 

— Um suco de laranja — murmurei, sorrindo para ele, apoiando o queixo em minha mão.

O vi dando um sorriso torto, que fez meu coração acelerar.

— Você não disse que era alérgica a suco de laranja?

O olhei com intensidade.

— Hoje não, meu amor — respondi, vendo a surpresa estampada em seus olhos cinzentos.

Ele não disse nada, apenas anotou os pedidos e saiu, mas podia jurar que vi um sorrisinho bobo estampado em seus lábios.

— Vocês são tão lindos juntos — murmurou Lily.

E Sofia parecia furiosa, muito ao contrário de sua irmã mais nova.

— Para de ser chata, Lily — resmungou ela, completamente azeda.

— Deixa ela falar Sofia — disse eu, sorrindo como o gato de "Alice no País das Maravilhas" — O Kai é tão fofo, não é? Olha só a aliança linda que ele me deu.

E estendi a mão para Lily, que a pegou fixando os olhos castanhos no solitário negro, abismada.

— Nossa... é lindo!

E vi o modo como Sofia olhou para o meu anel com choque. Seus olhos brilhavam com a inveja.

Suspirei, saboreando aquilo de forma cruel.

— O Kai é tão romântico e carinhoso. Eu não poderia ter escolhido um marido melhor — menti.

Eu nem sabia porquê estava fazendo aquilo. Eu simplesmente não suportava a ideia de Sofia dando em cima de Kai. E a ideia de qualquer outra garota com ele me deixava muito perturbada.

Será que estou sentindo ciúmes? Como Damon disse?, me perguntei, confusa.

Claro que não sua idiota! Você odeia ele, não é? Você odeia o Kai!, gritou minha consciência. E sinceramente, não soube como responder aquela pergunta.

Sofia revirou os olhos, não conseguindo conter sua raiva.

— Sério? Um diamante negro? Que tipo de cara dá uma coisa dessas para uma mulher?— murmurou ela, deixando todo seu ressentimento e raiva evidentes.

Lily, bufou.

— Sei lá, um cara apaixonado talvez? — murmurou com sarcasmo.

Apaixonado? Como assim, apaixonado?!, parei no tempo.

Entretanto, afastei aquela ideia rapidamente. Kai nunca poderia se apaixonar por mim. E eu nem queria aquilo, afinal, eu o odiava.

— Eu adorei — murmurei, dando de ombros.

Sofia sorriu de um jeito venenoso, disfarçando o quanto me odiava.

— Sabe, há boatos na Convenção… — murmurou ela.

Lily, deu um olhar de aviso para a irmã.

— Sofia.

Mas a irmã a ignorou totalmente, continuando.

— ...de que o casamento de vocês foi arranjado e que se odeiam — disse ela, deixando toda sua raiva e inveja, transparecer — E me disseram que vocês nem dormem no mesmo quarto...

— Já chega, Sofia! — gritou Lily, dando um soco na mesa, fazendo-a balançar um pouco. Ele era bem forte para uma menina franzina de quinze anos.

A fuzilei com os olhos, mas dei um sorrisinho debochado.

— Deixa ela, Lily — disse eu, de forma fria — Inveja faz mal para a pele. Nunca lhe disseram, Sofia?

Ela riu, embora tenha sido uma risada fria e sem emoção.

— E por que eu teria inveja? E ainda mais de você?

Sorri de maneira altiva.

— Não sei, talvez, porque você quisesse estar no meu lugar? Com um marido lindo como o Kai e ainda ser líder de uma Convenção inteira? Imagine, Sofia, ter todo esse poder percorrendo cada fibra nervosa do seu corpo? Imagine ser tão poderosa? E agora imagine ter tudo isso tão perto e do nada ser tirado de você por uma total desconhecida? Uma garota qualquer que nem fazia parte da Convenção Gemini até poucos dias atrás?

Sofia estava ofegante e com o rosto queimando de ódio.

— Eu posso não ter a Convenção, mas eu posso ter algo que você ainda não possui — murmurou ela, venenosa.

Arqueei uma sobrancelha.

— O quê? — questionei.

Seu sorriso de alargou.

— Kai — respondeu.

Senti meu rosto esquentar de raiva. Não acreditava que ela tinha a cara de pau de dizer aquilo na minha frente.

— Você nunca o terá — murmurei com raiva.

— É o que veremos — disse ela, me desafiando.

Eu vou esfregar a cara dessa vadia no chão!, a voz menos civilizada em minha mente gritou.

— Já chega, Sofia! — murmurou Lily, se levantando e puxando a mão da irmã, que se recusava a levantar — Você já deu seu showzinho, agora vamos embora!

Sofia riu.

— Querida, eu acabei de começar — disse a vaca.

E nesse momento Kai apareceu com nossas bebidas. Ele encarou Lily e Sofia,  confuso.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou, parando ao lado de nossa mesa com a bandeja na mão esquerda.

Lily estava prestes a dizer algo, quando foi interrompida pela irmã.

— Nada, querido. É que a Lily quer ir ao banheiro — mentiu, sem vergonha nenhuma, soltando a mão do aperto de sua irmã mais nova.

Querido?! Que intimidade é essa?!

Segurei a vontade de voar por cima daquela mesa e dar uma boa surra naquela vadia.

Lily fazia cara de quem não estava nada feliz com aquilo.

— Pra mim já deu, chega! — esbravejou, pegando sua jaqueta de couro preta — Bonnie, nos vemos por aí?

— Claro, Lily — dei um sorriso genuíno para ela.

A garota assentiu, saindo do bar.

Eu também teria vergonha de ter uma irmã como Sofia, pensei, solidária.

— O que deu nela? — Kaj franziu as sobrancelhas.

Sofia deu de ombros de maneira cínica.

— Não faço a mínima ideia. Acho que é a adolescência e os hormônios descontrolados.

— Ok — disse ele, confuso.

E colocou uma garrafa de água na mesa em frente a Sofia. E antes que ele pudesse retirar a mão, a loura a pegou. E ela começou a deslizar a mão pelo braço de Kai, apertando um pouco o bíceps dele.

— Nossa, você é tão musculoso, Kai — murmurou de um jeito sedutor e fazendo aquela cara de piranha — Sabia que eu tenho fetiche por garçons? Gosto de pensar que eles estão sempre à disposição e prontos para fazer qualquer coisa.

Só faltava aquela vagabunda tirar a calcinha e se oferecer pra ele!

Meu rosto ardia de ódio.

Senti meu coração batendo com tanta força, que pensei fosse pular do meu peito.

Kai ficou todo vermelho e se desvencilhou do toque de Sofia. Esta que me olhou com um sorriso vitorioso que dizia: "Viu o que posso fazer com ele? Você não tem chances, contra mim."

Minha respiração estava descontrolada. Kai se virou para mim, constrangido

Eu queria muito ficar brava com ele. Queria xingá-lo de todos os nomes que eu conhecia. Queria até bater nele e perguntar o que ele viu naquela piranha. Mas aquilo era tudo que Sofia mais queria. Ela iria tentar afastar Kai de mim de todas as formas possíveis.

Mas eu não entraria naquele joguinho. Em vez disso, engoli todo aquele ódio.

Kai colocou um copo com suco de laranja na minha frente e pousei minha mão sobre a sua, sentindo o calor gostoso que irradiava dela.

Seus olhos se fixaram em meu rosto com surpresa 

— Kai… — comecei, sentindo minhas bochechas corarem— ...eu vim aqui, porque...

Mordi, meu lábio de propósito, sabendo que aquilo o deixaria louco. E vi sua respiração ficando acelerada. Seus olhos desceram para meus lábios com avidez.

Observei, enquanto ele passava a língua de leve no lábio inferior, como se estivesse sedento. O bruxo esperava o que eu iria dizer em expectativa.

— Eu vim aqui, porque senti sua falta, meu amor — murmurei, fazendo uma expressão envergonhada. Tentei parecer o mais convincente possível.

Pela visão periférica, pude ver a expressão de preocupação que Sofia fazia. Ela sabia que estava perdendo terreno para mim. E eu adorei aquilo.

Kai estava tão chocado com o que eu acabara de dizer, que senti seu coração parar e bater com o dobro da velocidade em meu peito. E ele não se afastou de mim, como fez com Sofia, apenas ficou parado ali. Como se aquilo fosse um pouco demais para ele.

— V—Você… você sentiu minha falta?— gaguejou, incrédulo.

Assenti com a cabeça, ainda fazendo aquela expressão constrangida.

— Você saiu tão cedo, hoje... e eu queria, pelo menos, ter visto você… — disse eu, me levantando e ficando de frente para ele. Ele respirava muito rápido.

— Sério?— perguntou com esperança e desconfiança lutando em suas feições.

— Uhum — assenti com a cabeça. E senti seu coração batendo como louco.

Kai tomou alguns centímetros de distância de mim, ainda desconfiado.

Saí de meu lugar, dando a volta nele e fiz Kai ficar de costas para a mesa em que eu e Sofia estávamos sentadas.

Olhei rapidamente por cima do ombro dele, vendo a  garota me lançar um olhar de puro ódio. Contive a vontade de sorrir e esfregar na cara dela o quanto eu era melhor que ela.

Kai que ainda me fitava, confuso e assustado. Acho que o coitado não estava entendendo nada.

Me aproximei um pouco mais e ele deu um passo para trás.

— E você? Sente minha falta quando não estou por perto? — perguntei, prendendo seus olhos nos meus.

As bochechas de Kai ficaram de um tom de escarlate forte. Ele ofegava, inebriado pelo momento.

— Sim… —sussurrou ele.

Eu sorri.

Ele sente minha falta!, gritei de felicidade como uma garotinha boba.

Foco, Bonnie! O propósito é mostrar para aquela vadia, quem é que manda aqui e não ficar se derretendo pelo babaca do Kai, murmurou minha consciência.

Ok. Foco.

Me aproximei um pouco mais e Kai deu outro passo para trás, só que ele encostou no tampo da mesa. Ele não tinha mais escapatória.

Encostei minha mão em seu peito, sentindo seu coração palpitando sob a palma. Kai parou de respirar, me olhando com surpresa.

Coloquei minha outra mão, sobre seu peito e dei um leve empurrão, fazendo-o se sentar na beirada da mesa.

Aproximei meu rosto do dele, enquanto deslizava minhas mãos por suas pernas, subindo para seu abdômen e por seu peito, sentindo os músculos por baixo da camisa e do avental. Contive um suspiro de prazer que ameaçava sair de meus lábios.

Kai parecia a ponto de ter um colapso. Sua respiração estava fora de controle, enquanto seus olhos azuis fitavam os meus com uma intensidade abrasadora. E ele mordia o lábio inferior de um jeito...

Meu coração batia descompassado.

Minhas mãos subiram por seus ombros largos, e continuaram pelas laterais de seu pescoço, sentindo tremores percorrerem seu corpo. 

Pousei as mãos dos dois lados de seu rosto, sentindo a aspereza deliciosa de sua barba por fazer.

Kai fechou os olhos, tentando respirar direito. Encostei minha testa contra a sua.

— Você me deseja? — sussurrei , enquanto roçava meu nariz no seu, o ouvindo arfar, com seus lábios a milímetros dos meus.

— Você sabe que, sim… — sussurrou ele, de volta.

E naquele momento, eu me esqueci completamente de Sofia, as pessoas a nossa volta e até mesmo daquela estúpida competição. Estar com Kai parecia ser melhor do que tudo aquilo. E isso foi o suficiente.

Colei meus lábios nos seus, suspirando de prazer. 

Era praticamente impossível descrever a sensação do que era beijar Kai Parker. Havia uma doçura torturante no formato de sua boca e seu gosto era indescritível.

Kai parecia hesitante em retribuir meu beijo. Considerando a forma como me portei quando ele o fez pela primeira vez. Então, mordi seu lábio inferior de leve, puxando-o um pouco com os dentes. E o ouvi gemer de prazer e seus braços contornaram minha cintura, me puxando para mais perto com força.

Seus lábios devoravam os meus com uma sede descontrolada, enquanto sua língua se enroscava com a minha, me fazendo delirar de desejo.

Agarrei seus cabelos escuros e macios, puxando-o para mais perto. O ouvi soltar outro gemido e nosso beijo se tornou mais profundo e exigente.

Senti suas mãos descerem por minha coluna até meu bumbum, parando ali. E apertou de leve, me fazendo gemer contra seus lábios, enquanto eu agarrava seus cabelos com mais força. Nossos corpos estavam tão grudados, que parecíamos um só vistos de longe.

Eu não queria mais nada no mundo, não desejava mais nada que não fosse Kai. O queria com um desespero assustador e torturante.

Queria ficar assim, com seus braços quentes me envolvendo para sempre, me protegendo de tudo, pois eu sabia que ele era capaz disso.

Eu estava quase me sentindo… Aquela sensação gostosa e reconfortante de nossos corações entrando em sincronia. Estava quase acontecendo.

— É ISSO AÍ, GAROTO! PEGA ELA! — ouvi alguém gritando e o som foi seguido por outros sons de gritos, assobios e aplausos.

Kai parou de me beijar, olhando em volta com uma expressão de poucos amigos. Abri os olhos confusos e desnorteados. Olhei em volta do bar e todos — e quando digo todos, era metade da cidade de Mystic Falls — olhavam para nós, sorrindo, apontando e dando gritos e assobios.

E nem consigo descrever o constrangimento que me percorreu todinha. Senti minhas bochechas queimando de vergonha.

Escondi meu rosto no pescoço de Kai.

— Ah, merda — praguejei — Merda dupla!

Porque eu fui beijar ele logo na frente da metade da cidade?! Porque sou tão idiota e impulsiva?! Qual é o meu problema?!

Tudo culpa daquela vadia, que resolveu me provocar!, pensei com ódio de Sofia.

Ao me lembrar dela, levantei os olhos procurando por cima do ombro de Kai, mas ela não estava mais lá. Ignorando a vergonha, levantei a cabeça procurando pelo bar apinhado de gente e com aquela confusão e barulheira. 

A encontrei passando por um monte de pessoas, marchando furiosamente para a saída. Ela tremia de ódio.

A vi voltar o olhar na minha direção e de Kai. E nossos olhos se encontraram. E não pude deixar de sorrir com um ar superior.

Meu sorriso dizia o mesmo que o dela dizia a alguns segundos atrás: "Viu o que posso fazer com ele? Você não tem chances contra mim."

Ela se virou, saindo do bar, quase derrubando um cara que estava parado na entrada. 

Franzi as sobrancelhas. Aquele cabelo castanho era muito familiar...

— Jeremy?! — exclamei.

Ele estava parado na entrada e daquela distância, conseguia distinguir um pouco de seu rosto, mas pelo modo como estava petrificado, ele já estava ali a um bom tempo.

Oh, merda! Ele me viu beijando Kai!

Kai voltou os olhos na mesma direção que eu. E vi a expressão de ódio em seu semblante.

Me afastei dele, já saindo dali. 

Senti a mão de alguém agarrando a minha. Girei a cabeça, olhando para Kai, que estava possuído de ódio.

— Isso tudo foi um showzinho para causar ciúme no Gilbert? — inquiriu ele, me olhando de forma fria.

— Me larga, Kai! — murmurei tentando me soltar dele, olhando desesperada na direção de Jeremy, que estava se retirando, desolado.

— Para você poder voltar com ele?! — disse, quase gritando.

Ele estava realmente furioso.

E não sei de onde ele havia tirado aquela história, pois eu nem sabia que Jeremy viria aqui hoje.

— Me larga, Kai! — gritei de volta para ele.

Ele me deu um puxão, fazendo-me voltar para ele como um ioiô. Suas mãos agarraram meus ombros, enquanto seus olhos fitavam os meus com raiva.

— Faça o que fizer, Bonnie, mas você nunca vai se livrar de mim, ouviu?— ameaçou ele — Nunca.

Um tremor de puro medo desceu por minha espinha. Aquilo era mais que uma ameaça. Era uma promessa. 

E Kai era a pessoa mais rancorosa que já conheci. Ele conseguiu alimentar um ódio assassino por seu pai e seus irmãos durante duas décadas. Então, seja lá o que estivesse planejando para mim, seria assustador.

Então, ele me soltou, indo para algum lugar nos fundos do bar. Não pensei no que estava fazendo, apenas saí correndo para a entrada do estabelecimento.

Parei na calçada, olhando para todos os lados da rua. E vi Jeremy, se afastando, quase virando a esquina.

— Jeremy! — gritei correndo atrás dele e ignorando o vento frio contra a blusa fina que eu usava — Jeremy!

Ele me ignorou, marchando furiosamente pela calçada.

— Jeremy! — chamei mais uma vez.

Estava quase me aproximando.

— Sai daqui, Bonnie! — gritou ele por cima do ombro.

Apertei mais o passo, ficando ao lado dele.

— Jeremy, por favor, me escute — supliquei — O que você viu… Eu e Kai… não é o que você está pensando.

Ele riu, amargurado, enquanto caminhava a passadas largas e eu corria um pouco para acompanhá-lo. 

— Não é? Então, estou com algum problema grave de visão — murmurou de forma azeda — Porque eu acho que vi nitidamente minha namorada no maior amasso com o psicopata que fez da vida dela um inferno.

Eu me encolhi com aquelas palavras, pois sabia que ele tinha razão.

— Por favor, Jeremy… Vamos conversar? — pedi com a voz sumindo. 

Me permiti tocar seu braço, tentando fazê-lo olhar para mim. E Jeremy se desvencilhou rapidamente de meu toque, como se eu fosse feita de ácido. Ele parou bruscamente na calçada de frente para mim.

— Agora você quer conversar?! — gritou ele ficando irritado — Eu mandei um monte de mensagens para você Bonnie! E perdi as contas de quantas vezes eu liguei! E você nem se dignou a responder nenhuma delas ou retornar as minhas ligações! E o único motivo para eu não ter ido na sua casa, era porque a Elena me fez prometer que eu não faria isso! Eu me mantive afastado por você! 

Me encolhi ainda mais. As palavras dele eram como chicotadas, cada uma cortava mais fundo que a outra.

— Eu… — tentei dizer, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

Ele continuou falando sem me dar espaço.

— Você é a pessoa mais egoísta que eu conheço! Nem se importou com o que eu sentiria, quando resolveu se sacrificar para salvar todos do Outro Lado. Os amigos vêm antes de mim e até mesmo de você! Você já morreu por todos Bonnie! E o que mais você quer?! Que seja definitivo?! — ele gritou, me fuzilando com seus olhos castanhos — Eu paguei sua conta de telefone durante meses, só pra poder ouvir as mesmas cinco palavras todos os dias. Eu queria mantê-la viva dentro de mim. Eu só queria ter visto você uma última vez...

Vi as lágrimas que desciam por sua face. E vi a dor refletida em seus olhos. E foi aí que percebi o tamanho e dimensão do estrago que havia feito na vida de Jeremy.

Podiam dizer o que quiser dele.

Que ele havia me traído com metade das garotas da cidade depois que ele pensou que eu morri. Que ele ficava se embebedando e jogando no sofá o dia todo.

Mas eu sabia o que se passava dentro dele. Sabia que ele me amava com tanta profundidade, com tanta paixão que seria capaz de sacrificar sua vida por mim, como uma vez fiz por ele. E eu o amava por isso, mas não sabia se esse amor ainda era o suficiente.

Ele pegou meu rosto entre as mãos, secando as lágrimas sob meus olhos.

—Eu a amo tanto — sussurrou ele— Mas não posso ter metade de você, Bonnie. Eu a quero por inteira sem ter que dividir com ninguém, entende?

Balancei a cabeça, afirmativamente.

— Nós ainda podemos ficar juntos — sussurrei, querendo acreditar desesperadamente naquelas palavras — Nós ainda podemos...

Eu quis acreditar naquilo.

E imaginei todo um futuro para mim e Jeremy. Nos formando juntos na faculdade. Ele como renomado artista. Nosso casamento. Nós com nossos filhos lindos e depois que eles crescessem, nós dois envelhecendo juntos.

Ele sacudiu a cabeça em negativa.

— Você já não me ama como antes, eu vejo isso nos seus olhos, Bonnie — murmurou ele me fitando — Algo em você mudou.

— Não, não. Eu o amo, eu o amo — disse eu, desesperada — Por favor, não me deixe...

Seu olhar era suplicante.

Jeremy sofria tanto quanto eu.

Coloquei minhas mãos sobre as suas que estavam em meu rosto.

— Fica comigo… — supliquei, chorando sem parar.

Ele se inclinou beijando minha testa e inspirando o cheiro em meu cabelo.

— Eu vou lhe dar um tempo até você se decidir, ok? — sussurrou ele contra meus cabelos.

Depois disso me soltou e saiu andando pela calçada. Fiquei parada o observando até que ele sumisse de vista. Depois disso, voltei pelo mesmo caminho em que vim.

Parei em frente ao Mystic Grill, olhando para a vitrine e não vi Kai, em lugar nenhum. Me encostei no vidro, chorando desesperadamente.

— Jeremy — sussurrei, em meio às lágrimas.

Eu simplesmente não suportava a ideia de ele me deixar. Eu não queria viver sem Jeremy. Era como se me pedissem para parar de respirar.

Ele me deu um tempo para decidir se realmente queria ficar com ele.  E se no fim eu descobrir que não o quero?, perguntei, apavorada com a ideia.

E ainda tinha essa ligação com Kai. E eu me sentia atraída por ele de um modo assustador, de um jeito que eu nunca senti com nenhum outro cara. Como se não fossem só nossos corações que estivessem interligados. Era algo mais arraigado e selvagem em nosso interior. 

Definitivamente, eu sentia algo forte por Kai. Só não sabia distinguir se era bom ou mau.

Meu Deus, o que está acontecendo comigo?!, perguntei, com frustração e raiva.

Se isso fosse a alguns dias atrás, eu não pensaria duas vezes em ir embora dessa merda de cidade com Jeremy para sempre. Mas com essa ligação com Kai, ele simplesmente me encontraria em qualquer lugar e não importa o quanto eu fugisse dele.

Eu quero fugir dele?, perguntei. Eu quero ficar longe de Kai para sempre?

— Não… — respondi em voz alta.

A ideia de ficar longe de Kai, conseguiu ser mais dolorosa e desesperadora do que Jeremy me deixar. Como uma dor horrível.

E só de pensar nisso, tive vontade de correr para dentro do bar e me agarrar a ele desesperadamente para impedir que ele fosse para longe de mim.

E claro, comecei a chorar mais ainda. Sentindo o estremecer ao meu redor. Acabaria ficando louca com aquilo.

Nesse momento, Elena e Caroline saíram do Grill. A loura sorriu quando me viu e aposto que iria fazer alguma piadinha sobre eu ter beijado Kai, mas parou quando viu minha expressão.

— Ei, Bon, o que aconteceu?— perguntou, vindo até mim e afastando meus cabelos do rosto.

Um soluço irrompeu pelo meu peito.

— Jeremy… Jeremy viu tudo — disse e chorei mais ainda.

— Oh, minha nossa...— murmurou, Elena, que também veio na minha direção e me abraçou — Vai ficar tudo bem, Bonnie. Eu vou conversar com ele.

E naquele momento agradeci aos céus por ter uma amiga tão compreensiva como Elena. Eu magoei seu irmão e, ainda assim, ela continuava do meu lado.

Me odiei muito naquele momento, pois não merecia uma amizade assim. Solucei mais uma vez.

— Ele vai me deixar, Elena...

— Não diga isso, Bonnie — disse ela, reprovando — O Jeremy ama você. Ele nunca vai deixá-la.

Aquilo até podia ser verdade, mas eu sentia, lá no fundo, minha relação com Jeremy desmoronando aos poucos. E eu não conseguia suportar.

Nós três voltamos para a casa de Caroline e naquela noite, Elena ligou para Damon, dizendo que iria passar a noite lá. E pedi a Caroline que ligasse para Kai, avisando que eu não iria dormir em casa, se não, ele seria capaz de descobrir onde eu estava e derrubar a porta da casa de minha amiga e me arrastar de volta. E o segundo motivo era porque, eu me sentia muito culpada por tê-lo usado daquela forma, só para atingir Sofia.

Kai havia feito muito mal a minha vida e eu deveria me sentir ótima por achar que ele estava sofrendo por algum motivo relacionado a mim, mas eu não conseguia. Era como vê-lo tendo aqueles pesadelos. A dor dele era minha dor.

♡♡♡♡♡

Nota da Autora:

Oi meus amores,

Eita, que esse quengaral já tá pegando fogo há muito tempo, né? Quem será que nossa BonBon vai escolher?

Agradeço a todos os comentários e votos. Vocês são sempre especiais para mim. Obrigada! ❤

Beijinhos xxx. Até o próximo!

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