Convergência Sombria | Bonkai...

By Dark_Siren4

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Depois de fugir do Mundo Prisão de 1994, Bonnie acha que pode ter uma vida normal ao lado de seus antigos am... More

1. Eu me caso com um sociopata
2. O Ritual de União das Almas
3. Enfrento a fúria da minha esposa
4. Deixo Kai me tocar
5. Bonnie me dá um perdido
6. Acordando com Kai
7. Meu novo emprego e um cadáver
8. Canção de Ninar
9. Meus sentimentos e Minha sogra
11. Incêndeio um Espectro folgado
12. Um coração partido
13. O meu e o seu coração
14. Entre dois idiotas e minhas descobertas
15. Eu? Apaixonado? Quem diria
16. E o tiro saiu pela culatra
17. Um velho me ataca
18. Sou dele
19. Sem ele
20. Visito o cemitério
21. Sou flagrado
22. Ela me domina
23. Férias forçadas
24. A Revanche
25. Amigos e Respostas
26. A Flora e o Mar
27. Um lago de verdades
28. Para Sempre
29. Reunião de família
30. Nas Sombras
31.Conhecendo o inimigo
32. Possessão
33. Supernova
34. Em casa
35. O que falta em mim
36. Nós dois
37. Um pedaço de mim
Capítulo 38: Minhas Prioridades
Capítulo 39: O homem em chamas
Epílogo:
Antes que eu me vá...
Capítulo Bônus: Linhas de Sangue
Livro Novo!

10. Meu novo colega de quarto

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By Dark_Siren4

Me despedi de Damon e Caroline. Eu fiquei muito irritada com minha melhor amiga, mas era praticamente impossível ficar muito tempo sem falar com Caroline Forbes e seus olhos azuis e meigos. Principalmente, quando ela ficava me perseguindo e pedindo desculpas.

Sorri, revirando os olhos e voltando para a cozinha, onde Kai se encontrava.

Ele estava sentado em seu lugar de costume, brincando distraidamente com sua lata de refrigerante vazia. 

Suas sobrancelhas estavam juntas; ele parecia muito preocupado com alguma coisa.

— Vou brigar com você mais vezes assim, de repente, você para de ser tão irritante — provoquei—o.

Seus olhos cinza voltaram para mim. Kai sorriu daquele modo exasperante.

— Então, quer dizer que sua mãe vem nos visitar? — provocou ele.

— Pelo visto, sim — respondi sem olhar para ele, pegando a louça suja sobre a bancada e pondo na pia. 

— Que foi? — perguntou, daquele modo brincalhão, mas havia um quê a mais em sua pergunta, como se estivesse tentando esconder o que realmente sentia — Você tem vergonha de mim?

Continuei colocando os pratos na pia sem olhá—lo nos olhos, porque tinha medo de ter aquela sensação estranha que tinha sempre quando ele estava por perto.

— Sentir vergonha implica em sentir alguma emoção por você — disse bruscamente — Coisa que não sinto. Então, não. 

— Ui! Você acabou de partir meu coração de sociopata — cantarolou, fingindo dor.

Suspirei.

Quando ele vai deixar de ser tão idiota?, me perguntei. Me virei, indo pegar outros pratos na bancada.

— Me passa esse prato, por favor? — pedi, apontando para um que estava em frente à ele.

— Olha, como ela é educada! — disse ele, sorrindo e inclinando para frente, pegando o prato na bancada e o estendendo para mim. Nesse momento, ele se encolheu, fazendo uma careta de dor. Sua mão que segurava o prato tremia levemente.

Eu tinha notado que Kai estava meio esquisito naquela manhã. Percebi quando ele fez uma careta ao abrir a geladeira. Mas como ele sempre foi meio estranho, não me importei.

Entretanto, não deixei de notar que durante o café da manhã, ele não mexia muito o braço direito.

— Tira a camisa — disse eu contornando a bancada indo até ele.

Ele ergueu uma sobrancelha, sorrindo de um jeito totalmente canalha.

— Opa, vai com calma, BonBon. Não vou deixar você se aproveitar do meu corpinho assim — disse, me provocando. Mas pude sentir seu coração acelerando.

Senti um rubor cobrir minhas bochechas.

— Você seria o último homem na face da Terra de quem eu tentaria me aproveitar, Kai — disse eu, tirando o prato de sua mão e colocando na mesa — Agora, tira a droga da camisa.

Seu sorriso divertido diminuiu e sua expressão se tornou desafiadora.

— Por que você quer que eu tire? — perguntou, me encarando.

Ergui uma sobrancelha.

— Porque tem alguma coisa errada com você.

— Bobagem, estou ótimo — disse ele, se virando para a bancada e voltando a mexer naquela lata.

— Para de ser infantil, Malachai, me deixe ver — murmurei, já puxando a manga de sua camisa para cima, mas ele me afastou, bruscamente.

O encarei com uma mistura de raiva e ressentimento. Seus olhos cinzentos focaram nos meus e sua expressão de indiferença sumiu. Ele parecia mais terno.

— Ok, sua chata! — disse revirando os olhos.

Ele tentou tirar a camisa, mas a dor em seu braço, o deixava meio atrapalhado e no fim das contas eu o ajudei a tirá—la. Meus dedos estavam meio trêmulos, quando seguraram a barra de sua camisa, puxando—a para cima.

A visão de Kai sem camisa conseguiu ser melhor que a primeira vez.

Minha Nossa! Deveria ser pecado um cara tão malvado ter um corpo tão gostoso e quente, daqueles.

Percebi que segurava sua camisa nas mãos, a torcendo de leve, enquanto mordia meu lábio. Eu estava secando Kai descaradamente. E ele percebeu.

— Você quer uma toalha? — perguntou, me olhando de um jeito perversamente brincalhão.

— Hã. O quê..? Toalha para quê? — perguntei, saindo do transe.

— Para limpar essa baba que está escorrendo do canto da sua boca — murmurou, rindo.

— Ah, vai para o inferno, seu babaca! — disse eu, jogando sua camisa na bancada e o encarei irritada e super envergonhada.

— Admita, Bonnie — falou, com aqueles olhos cinzentos me mirando, daquele jeito perturbador — Você me acha gostoso.

Perdi o dom da fala momentaneamente. Sacudi a cabeça, me recuperando.

— O seu problema — murmurei — é que você passou tanto tempo mofando naquele Mundo Prisão, Kai, que ficou doido e fica imaginando coisas que não existem.

Ele sorriu, não dando a mínima para o que eu disse. Alguma coisa em seu ombro chamou minha atenção. Cheguei mais perto dele e lá estava o hematoma mais feio e grande que já vi em toda minha vida. Aquilo começava em um tom de roxo—escuro, indo para o preto e descendo por seu braço até quase o cotovelo.

Coloquei a ponta dos dedos, tocando levemente a contusão, vendo o braço de Kai tremendo com a dor.

— Você fez isso ontem à noite? — disse eu, ainda olhando para a grande mancha roxa—escura — Tentando entrar no meu quarto?

— Sim — respondeu, sério — Mas estou bem, Bonnie.

— Bem?! — exclamei sem acreditar — Comparada com essa marca, a minha parece tapinha de criança. Por que você não usou um feitiço de arrombamento, seu burro?!

Eu tentei manter minha voz o mais estável possível, mas não conseguia esconder minha preocupação com ele.

Droga, porque me importo tanto com Kai?!, pensei exasperada.

Ele bufou, revirando os olhos.

— Não sou tão burro assim. Foi a primeira coisa que tentei, mas a porta não queria abrir — explicou — E a propósito: Você dorme com o ar condicionado no máximo ou o quê? 

Franzi o cenho.

— Não tem ar condicionado no meu quarto, Kai.

Suas sobrancelhas se juntaram, ele estava tão confuso quanto eu.

— Quando eu entrei lá foi como se...

— Tivesse um iceberg, lá dentro? — completei a frase. Kai assentiu com a cabeça.

— Como sabe o que eu iria dizer?

Minha respiração estava entrecortada.

— Porque eu senti a mesma coisa quando entrei no seu quarto, quando ouvi você gritar.

Sua expressão estava atônita.

— O que foi? — perguntei, preocupada.

— Eu tive um pesadelo, naquela noite, diferente dos outros. Você... — ela sacudiu a cabeça, como que afastando algo — Quer dizer, Melanie estava nele.

O encarei, sabendo que a mesma coisa passava por sua cabeça.

— Você acha que alguém invadiu minha cabeça para causar aquele pesadelo? — perguntou, parecendo assustado.

Assenti com a cabeça.

— Então, a coisa é muito mais séria do que pensávamos — murmurou preocupado.

Ficamos nos encarando, tentando digerir aquela descoberta assustadora.

***

Não sabia bem o que fazer com aquele ombro de Kai. Fiquei olhando para a marca roxa.

— Isso dói? — perguntei, cutucando seu braço.

— AI! Sua bruta! — resmungou ele — Vai devagar, aí.

— Para de ser bebê chorão, Kai, nem deve estar doendo tanto assim — brinquei, rindo da cara feia que ele fez.

Cutuquei seu braço, vendo ele se encolher outra vez. Ri de novo.

— Você está se divertindo muito com isso, não é? — murmurou Kai, ressentido.

— Claro que sim — murmurei, indo pegar uma bolsa com gelo, no freezer da geladeira — Não é todo dia que posso me divertir à sua custa.

— Haha... Bonnie, A Sádica — disse ele de cara feia — Ai! tira esse troço gelado do meu braço! 

Ele tentou afastar a bolsa de gelo, que coloquei sobre o  hematoma.

— Larga de ser bebezão, cara! — disse eu, revirando os olhos e pressionando o objeto contra seu braço — Seu braço está tão inchado que até parece que você tomou anabolizantes.

— Dane—se, deixe que fique assim — falou, pegando a bolsa de gelo e a jogando na parede da cozinha.

— Argh! Você é tão teimoso, seu idiota! — grunhi de raiva, batendo o pé no chão.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Olha só quem está falando? Você tem bacharel em teimosia, Bennett.

Suspirei. Ele não vai me irritar, ele não vai me irritar.., pensei, tentando me acalmar.

— Ok. Dou outro jeito — falei, indo até perto dele outra vez.

Coloquei as mãos sobre seu braço machucado, sentindo os músculos rígidos ali.

Kai ficou quieto, apenas observando.

Fechei os olhos e comecei a pronunciar um feitiço de cura. E senti aquela familiar quentura na ponta dos dedos, a magia fluindo por eles. Quando os abri, o hematoma tinha perdido muito daquele tom escuro, ficando de um lilás claro e amarelado nas bordas.

Voltei meu olhar para Kai, sentindo seus olhos azuis—cinzentos ardendo sobre mim.

— Obrigado — disse ele, sorrindo para mim. E aquele sorriso não era cheio de ironia e sarcasmo como das outras vezes. Parecia sincero.

Não pude deixar de retribuir a simpatia.

— Não, eu que agradeço — murmurei,  minhas bochechas corando vergonhosamente — Se você não tivesse invadido meu quarto, nem sei o que aquela coisa teria feito comigo. Obrigada, mesmo.

Seu semblante estava iluminado. Suas bochechas ficaram muito mais coradas que as minhas. E ele sorria, deixando aquelas covinhas lindas à mostra.

Senti meu coração acelerando. E fiquei hiper consciente de que estava muito próxima dele com aquele cheiro gostoso de almíscar envolvendo o ar ao meu redor.

Olhei para baixo, percebendo que ainda estava com minhas mãos pousadas em seu braço. As tirei rapidamente dali.

Senti meu rosto queimando de constrangimento.

— Aqui, sua camisa — a entreguei à ele.

Ele a pegou e seus dedos esbarraram nos meus por acidente e aquela eletricidade estranha me percorrer inteira como na noite de nossa União.

Kai, também, pareceu sentir o mesmo, pois ficou me olhando de um modo inquisitivo com um misto de espanto e júbilo.

Ele vestiu a camisa azul escura rapidamente, cobrindo aquele corpo sensacional. E seus movimentos, principalmente, no braço ferido estavam mais naturais.

Fiquei feliz que o feitiço tenha funcionado.

— Por que você ficou brava com Caroline por ela não ter contado que sua mãe vinha vê—la? — questionou, quando eu estava lavando a louça — Você não parece ser do tipo que se ressente de coisas tão pequenas.

E me arrependi de tê—lo obrigado a ficar em casa. Kai com certeza iria me infernizar se pudesse.

— Por que, quer saber? — perguntei de má vontade.

— Não sei, fiquei curioso — deu de ombros — Você ficou toda irritada, pelo que me pareceu motivo, nenhum.

Suspirei, encarando os pratos na pia.

— Você não entenderia — disse eu, feliz por estar de costas para ele.

— Ei, agora sou ex—sociopata em reabilitação, então, não me trate feito uma criança boba — quase pude ouvir o som de seu sorriso com covinhas.

Suspirei, pensando se dizia o que realmente estava pensando ou não.

Desisti.

— Como você já sabe, fui criada pela minha avó e meu pai. Abby, quer dizer, minha mãe, foi embora quando eu era muito pequena — murmurou, esfregando um prato.

— Você... — perguntou Kai um tanto desconfortável — sentia falta dela?

— Como toda criança que sente falta da mãe — dei de ombros, tentando não demonstrar o quão as lembranças me magoavam.

O bruxo ponderou aquilo por alguns segundos antes de continuar:

— Se ressente do fato de ela tê—la abandonado?

Deus, como ele é curioso!, pensei.

Aquele assunto me deixava muito desconfortável, mas tentei não deixar transparecer.

— Durante muito tempo, me senti assim, mas depois que a encontrei novamente, entendi que ela foi embora por medo. Do que essa cidade trás a todos que têm o azar de nascer aqui —  murmurei, sentindo minha voz um pouco embargada — E eu a perdoei. Porque a amo.

— Então, por que não quer que ela venha para cá?

Sorri minimamente, olhando rapidamente por cima do ombro.

— Você é muito curioso, não é?

— Não fuja da pergunta, Bonnie.

Suspirei, exasperada. Kai não deixaria aquele assunto de lado enquanto não tivesse respostas.

— Porque Mystic Falls é perigosa. E mesmo que minha mãe seja vampira, ainda corre mais perigo aqui do que em qualquer outro lugar. E não quero que ela se machuque.

Virei, olhando para um Kai, muito sério, que me avaliava, aparentemente, maravilhado com alguma coisa. Como se meu pequeno discurso de garota abandonada fosse muito interessante.

— O que foi? — perguntei, estranhando o modo como seus olhos azuis—cinzentos cismavam em encontrar os meus.

— Você — disse ele simplesmente.

— O que tem eu?

— Como consegue ser assim?

— Assim como? — perguntei, confusa.

— Tão altruísta e desapegada  — disse ele — Eu nunca teria perdoado minha mãe se ela tivesse me deixado como a sua.

—  Não sou tão perfeita assim —  murmurei, enxugando as mãos em um pano de prato — Nem a santa Bonnie, como você e Damon adoram dizer. Eu simplesmente perdoo quem eu amo. Não tem muito mistério nisso.

Ele ainda ficou me encarando daquele jeito estranho. Não como quando ficava meio ofegante e esquisito, era mais como se Kai estivesse tentando ver através de mim.

Aquele olhar penetrante estava fazendo meu coração dar trancos.

Ele sorriu torto.

— Eu a deixo nervosa? — perguntou, convencido.

—Não! — gaguejei, vendo— o sorrir mais ainda.

Droga! Como ele fazia isso?

Eu estava com medo dele? O que estava acontecendo comigo?

— V—Você, não tem nada melhor para fazer, Kai? — inquiri, irritada por estar gaguejando como uma idiota.

— Não, já que fui terminantemente proibido de ir para o trabalho — disse, me provocando com aqueles olhos azuis.

Bufei indignada.

— Então, fica aí — disse eu, saindo da cozinha — Vou para o meu quarto.

Estava passando pela sala, quando ouvi o som da campainha.

Oh, meu Deus!, pensei em pânico. A Abby chegou!

Kai surgiu ao meu lado daquele seu modo silencioso. Eu estava tão ansiosa que nem mesmo levei um susto sequer com isso.

— Ué, Caroline disse que sua mãe chegaria só por volta do meio—dia — disse ele confuso.

— Então, não pode ser ela — murmurei aliviada — Deve ser a Caroline, que como sempre esquece alguma coisa.

Ouvi o som da campainha de novo.

— Ô dedinho nervoso, esse! — exclamou um Kai irritado, indo até a porta.

Ele a abriu e encarando foi lá quem estava de pé sobre a varanda. Não consegui ver quem era, pois Kai, alto como um poste, tampava minha visão.

Ele se virou para mim um tanto pálido. Bom, mais pálido que o normal. O rapaz olhava para mim e para a pessoa que estava na varanda alternadamente.

— Quem está aí? — perguntei indo até ele, que parecia ter perdido o dom da fala.

O afastei gentilmente da porta, vendo parada na minha varanda com uma mala, minha mãe.

— Abby? — perguntei, embasbacada.

Ela sorriu para mim.

—  Oi, meu amor! Feliz em me ver?

— Eu pensei que você viria mais tarde... — disse ainda sem acreditar que ela estava aqui.

— Pois é, meu voo saiu adiantado e eu cheguei mais cedo... Opa! Como sabia que eu viria? Era para ser uma surpresa!

— Caroline.

Ela sorriu e revirou os olhos cor de mel.

— Ah, claro.

Ficamos nos encarando em um silêncio meio constrangedor.

— Hã...não vai me convidar para entrar? — perguntou ela de modo divertido.

— Quê? Ah, claro, claro! Entrando, Abby — soltei embasbacada, empurrando Kai e saindo da porta para que ela pudesse entrar com a mala.

Quando já estávamos no vestíbulo, Pulei em seus braços, dando—lhe um abraço apertado. Tinha me esquecido de quanta falta ela me fazia.

Abby retribuiu meu abraço com carinho.

— Eu também senti sua falta, meu amor — disse, sua voz embargada.

Me afastei dela com lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu definitivamente fiquei muito feliz em tê—la aqui.

— Você está tão linda! — suas mãos estavam dos dois lados do meu rosto avaliando — Mas está tão magrinha...Tem se alimentado direito?

Revirei os olhos sorrindo.

— Eu sou ótima, mãe. Não se preocupe! 

Ela me soltou, olhando para Kai e sorrindo. Ele ainda parecia chocado.

— E você deve ser o felizardo, não é? — murmurou ela, estendendo a mão para ele — Prazer, Abigail Bennett, mas pode me chamar de Abby.

Ele a apertou, parecendo estar em outra dimensão. Outra vez.

— Oi... Sou o Kai... — cantarolou, desajeitado — Marido da Bonnie...

— Desculpe, ele não é tão idiota assim normalmente — falei, irritada — Acho que está apenas nervoso.

Mas o que será que deu nele?, pensei.

Kai sacudiu a cabeça um pouco, parecendo sair do transe.

— Desculpe ficar encarando, mas é que você e Bonnie são tão parecidas! Agora entendo de onde ela herdou tanta beleza.

Minha mãe sorriu.

— Já gostei de você, querido. Onde achou esse rapaz bonito, Bonnie?

— Acredite — disse eu — Foi totalmente por acaso. Quase coisa de outro mundo. 

***

Sou obrigada a dizer que minha mãe e Kai se deram muito bem. Pareciam até coleguinhas de primário. Engataram em uma conversa animada, enquanto subíamos as escadas. E claro que o assunto da conversa em questão não podia ser outra coisa a não ser eu.

— Ah, me lembro que Bonnie adorava se vestir de bailarina quando tinha quatro anos. E ela fez com que eu deixasse que ela fosse fantasiada, durante um mês inteiro para a escolinha — murmurou minha mãe, enquanto Kai carregava sua mala.

— É mesmo? Adoraria ter visto isso — murmurou ele me olhando por cima do ombro, sorrindo de um jeito travesso —  Você não teria nenhuma foto aí, teria?

Abby estava distraída subindo as escadas e nem percebeu o olhar que aquele idiota me lançou.

— Para sua sorte, querido. Eu trouxe um álbum antigo com todas as fotos do meu bebezinho lindo.

— Ah, não, mãe! Não mostrei o álbum para ele! — implorei.

Me dava arrepios imaginar Kai vendo minhas fotos super constrangedoras de quando eu era bebê e depois minha fase da queda dos dentes de leite e, em seguida, da minha pré—adolescência desajeitada.

Ele iria me zoar até cansar!

— Porque não, meu amor? — disse me olhando — , ele é seu marido e não vejo nada de errado em ele saber algumas coisas sobre você.

— Ele não precisa me ver de fralda! — reclamei, como uma menina de cinco anos.

Kai riu.

— Claro, que preciso.

— Ele com toda a certeza a vê nua constantemente — citou, Abby ainda olhando em volta — Isso é o menor de seus problemas, meu amor.

Kai lançou um olhar para mim que constrangeram o mais devasso dos homens.

Eu o fulminei com os olhos. Ele nem deu a mínima, parecendo estar se divertindo muito.

Passávamos pelo corredor, quando Abby estacou, olhando para a porta do meu quarto com a fechadura arrebentada.

— O que aconteceu aqui? — perguntou desconfiada.

Fiquei sem fala. Kai foi mais rápido que eu.

— Ah, isso fui eu — disse ele, e o encarei alarmada — Cismei em trocar a lâmpada do corredor e me desequilibrei na escada e caí por cima da porta.

Respirei, aliviada. Pelo menos o cinismo dele servia de alguma coisa.

Essa foi a desculpa mais esfarrapada que eu já ouvi!, pensei revirando os olhos.

Abby logo ficou toda preocupada.

— Ah, minha nossa. Você está bem, querido?! 

— Claro. Fiquei só com um hematoma no braço, mas Bonnie já cuidou disso — explicou, sorrindo para ela.

— Que bom que a tem por perto. Ela é maravilhosa, não é?

Kai sorriu daquele jeito canalha, olhando para mim.

— Ah, sim. Ela é maravilhosa.

Revirei os olhos, o ignorando.

Abri a porta, deixando que Abby entrasse no outro quarto de hóspedes da casa. Diferente de Kai, aquele quarto era mais feminino, com as paredes pintadas de um amarelo alegre e com uma cama de casal com uma colcha de tecido floral.

O rapaz colocou a mala de Abby sobre a cama.

— Bom, você já conhece a casa, não é, mãe? — disse eu — O banheiro é logo ali — apontei para uma porta branca na outra parede — Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, mesmo, pode me chamar.

— Obrigada, querida — disse ela, acariciando minha bochecha — Acho que preciso de um banho, para tirar aquele cheiro de amendoim de avião.

Assenti, rindo de sua piada.

— Claro, vamos lhe dar privacidade — disse eu, já puxando Kai para fora do quarto.

Estávamos passando pelo corredor, quando o empurrei para dentro do meu quarto. Já encostando a porta.

— O que foi agora, Bonnie?— perguntou, irritado com a minha brutalidade súbita.

Ignorei aquilo.

— Olha aqui, Malachai, minha mãe não sabe sobre você e seu lado psicopata no Mundo Prisão, eu não contei à ela sobre o que aconteceu. E você também não vai contar. Para todos os efeitos, nós somos namorados recém—casados, entendeu? — soltei em uma só torrente, sacudindo um dedo na sua cara.

Ele cruzou os braços, me encarando.

— Por que não conta logo a verdade para ela? — disse ele.

Ah, que ótimo! Um psicopata me dando lição de moral, pensei, sarcástica.

— Porque eu não quero que ela fique preocupada que você vá me degolar ou coisa do gênero — disse eu, de forma fria, vendo—o fazer uma careta de desagrado — Ou então, que ela tente arrancar sua cabeça, já que se você morrer, eu morro também.

— E você acha que ela vai acreditar em nós dois? — murmurou, incrédulo — Você vive me dando patadas o tempo todo. Ela vai sacar na hora que tem algo errado. E aliás, nós dormimos em quartos separados. Acha que ela não vai estranhar, isso?

Bufei de raiva.

— Droga, tinha me esquecido disso...— Sibilei, então, suspirei — Tudo bem! Você pode dormir aqui. Mas só até Abby ir embora.

Senti o coração dele disparar em meu peito. Seu rosto ficou meio vermelho.

— Mas se você roncar... — ameacei.

Ele franziu o cenho, ofendido.

— Ei! Eu não ronco! — disse mirando a mim com os olhos cinzentos — Agora, já não sei você...

— Ei! Eu não ronco! — o interrompi, bufando de raiva.

Após nossa conversa/ameaça/acordo, descemos para a sala e ficamos sentados no sofá, fingindo assistir televisão.

— Ei, esqueceu que temos que parecer um casal apaixonado? — sussurrou ele, me olhando do outro sofá.

— É, mas não precisa ter que ficar grudado em mim — sussurrei de volta, de forma ríspida.

Quem nos visse falando daquele jeito, acharia que somos loucos. Porém, isso se devia ao fato da audição de um vampiro ser muito boa e eu não queria que Abby nos ouvisse.

— Casais adoram ficar grudados uns nos outros. Principalmente, quando são recém casados — disse ele.

— Sem chance — sacudi a cabeça, voltando a olhar para a TV.

Ouvi Kai se levantando do outro sofá e virei a tempo de vê—lo sentando—se ao meu lado.

Ele agarrou minha cintura, me puxando para mais perto dele. Passou o braço por cima de meus ombros e, com a mão livre, puxou minha perna por cima das suas.

— Agora, parecemos um casal — sorriu, me olhando daquele jeito convencido.

— Não faça, mais isso! — empurrei—o, tirando seu braço de cima de meus ombros e recolhendo minha perna.

Ouvi sons de passos na escada.

— Droga! — disse eu, voltando à mesma posição meio abraçada com Kai.

Vi sua expressão de contentamento.

Idiota convencido!

— Vocês estão brigados ou é impressão minha? — disse minha mãe, aparecendo na porta da sala. Ela vestiu outra roupa. Uma blusa cor magenta, jeans escuros e botas pretas.

Ela era tão linda! Eu sempre quis ser como ela. Com aqueles cabelos compridos e encaracolados e todos aqueles um metro e setenta.

Minha mãe sempre chamava a atenção dos homens sempre que andava na rua. E eu, em vez disso, nasci baixinha e pequena, totalmente sem graça.

Claro que aquela declaração me assustou. Pensei que ela tinha descoberto tudo sobre mim e Kai.

— Brigados? De onde você tirou isso, Abby? — perguntei, tentando ser o mais dissimulada possível, mas todo mundo sabia que eu era péssima mentirosa.

— Pois é? — Kai concordou, colocando a mão em minha cintura e apertando um pouco mais contra ele.

Meu coração acelerou com seu toque.

— Bom, é que eu vi uma mala e um monte de roupas de homem espalhadas no outro quarto — explicou ela, nos encarando com seus olhos cor de âmbar.

Merda! Eu tinha esquecido de dizer para Kai levar suas coisas para o meu quarto.

— Mas... aquelas coisas não são do Kai! — murmurei rapidamente.

— Não são? — perguntou Kai.

Dei uma cotovelada em suas costelas.

— Ai! Quer dizer... Ah, sim! Não são — rearranjou, atrapalhado.

— São do seu primo... o Charlie, meu amor — ergui as sobrancelhas para sinalizar que devia seguir meu plano.

— Seu primo está hospedado aqui? —  perguntou minha mãe, parecendo confusa.

— Sim — respondi.

— Não — disse Kai, ao mesmo tempo.

Eu e ele nos entreolhamos.

Merda! Isso não está dando certo!, pensei exasperada. E Kai parecia pensar o mesmo.

— Quer dizer, está e não está — disse ele, complicando mais a situação.

Abby inclinou a cabeça para o lado, mais confusa que antes.

— Ele estava aqui há cerca de um dia atrás, mas foi embora, não é, Kai? — falei nervosamente.

— Sim — confirmou.

— E ele deixou todas as suas coisas, aí? — inquiriu Abby.

Senti um tremor percorrer meu corpo. 

— Bom, é que o Charlie é do lado rico da família — explicou Kai — Então, ele apareceu para o nosso casamento. Porém, ele é um cara extremamente consumista. Comprou tudo que viu aqui na cidade e quando acabou a festança, deixou tudo para trás e disse que eu podia ficar, pois já tinha enjoado daquelas coisas.

Que criatividade!, pensei. Pena, que a história é uma porcaria e com toda certeza Abby não cairia nessa.

— Seu primo já pensou em fazer um tratamento? — perguntou minha mãe de forma séria — Porque isso é doença.

Fiquei surpresa por ela ter acreditado naquilo.

— Ah, ele não é doente, não — forcei um sorriso para Kai — Apenas muito mimado e egoísta, não é, amor?

— Mas ele é um cara legal quando quer, querida — cantarolou com cada sílaba carregada de sarcasmo.

— Só quando lhe convém —  disse eu de forma ríspida.

Eu e Kai ficamos nos encarando em uma espécie de luta silenciosa. E acho que Abby notou a tensão na sala, pois pigarreou chamando nossa atenção.

— Ah, minha nossa — murmurei olhando para ela — Nós aqui falando sobre o Charlie e nem perguntei como foi sua viagem não é, mãe? Senta aí e conta tudo!

Abby nos falou sobre a viagem e ficou muito feliz em saber que Kai, também era bruxo como eu. Contei que ele já sabia sobre o fato de ela ser vampira e que conhecia todos os meus amigos.

Ela quis saber como havíamos nos conhecido. Então, inventamos uma história de que tínhamos amigos em comum e assim começamos a namorar. Algo super normal e bem longe de nossa realidade com tentativas de homicídio mútuas.

Kai nos convidou para almoçar fora. Então fomos para um restaurante ali perto e onde passamos boa parte do dia.

Abby estava encantada com Kai, os dois conversavam sobre feitiços e outras coisas que eu não conhecia. Aparentemente os dois tinham coisas em comum por causa de suas idades similares, embora, Kai não aparenta ter quarenta anos nem mesmo em um único fio de cabelo. E Abby não fazia ideia sobre isso.

Droga! Agora minha mãe adora ele, pensei, roendo uma unha enquanto os via rir feito bobos de uma piada que havia sido ressuscitada dos anos 80. Estou perdida, mesmo.

E a maior parte do tempo, Kai ficava segurando minha mão ou colocava o braço em volta de minha cintura. E aquilo me deixava muito inquieta, pois queria que ele continuasse me tocando daquele modo.

E isso me assustava.

Quando voltamos para casa já era noite. Subimos e dei um beijo de boa noite em Abby. Entrei no meu quarto com Kai logo atrás de mim.

Saber que ele iria dormir ali comigo me deixava assustada e nervosa.

Claro que na noite passada eu havia dormido no quarto dele, mas eu estava com tanto medo. O agarrei daquele modo, porque estava apavorada com a ideia daquela coisa voltar. Embora, não possa negar que não gostei da sensação de ter meu corpo contra o dele, sentindo seu calor e seu cheiro. E quando ele me abraçou daquela maneira tão carinhosa pensei que meu coração fosse parar.

Senti um rubor se espalhar pelo meu rosto ao lembrar disso.

Ele entrou comigo e ficou parado no meio do quarto, encarando—me de um jeito estranho.

— Só um segundo — disse saindo do quarto.

— Maluco — soltei, baixinho.

Sentei—me na cama tirando os sapatos.

Kai ressurgiu na porta, segurando a alça de sua mala, com todas as suas tralhas e a largou em um canto perto da parede. O bruxo abaixou—se para tirar os sapatos e, em seguida, a camisa.

Senti meu coração acelerando.

Ah, minha nossa..., pensei mordendo o lábio, olhando para aquele corpo incrível.

Senti um rubor quente se espalhar pelo meu rosto e desviei o olhar, tentando me concentrar em qualquer outra coisa que estivesse fazendo.

— O que você pensa que está fazendo? —  perguntei sem olhar para ele com medo de minha reação.

— Calma, não estou fazendo nenhum strip tease para você — riu ele — A menos que queira, é claro... — e com isto, deixou a mão livre percorrer o abdômen musculoso, descendo...

Levou um segundo para perceber que eu estava encarando a cena sem nenhuma reação. Então, de súbito, peguei um travesseiro ao meu lado e joguei nele. Kai o aparou no ar com facilidade e riu.

— Vá se danar, seu maldito convencido! — exclamei, muito irritada.

Como esse babaca me tira do sério!, grunhe com raiva.

Ele nem se importou com meu xingamento.

— Cara, eu tô morto! Vou tomar um banho — anunciou, largando o travesseiro no chão e indo para a porta do banheiro do meu quarto — Se quiser entrar comigo, está convidada, BonBon — disse por cima do ombro ao adentrar.

— Vai sonhando, seu doente! — gritei para ele, sentindo meu rosto corar mais ainda.

Pude ouvir sua risada, quando ele fechou a porta.

— Idiota! — grunhi.

Se me dissessem há alguns anos atrás, que eu me casaria com um psicopata e que ainda dormiria no mesmo quarto que ele por vontade própria, riria na cara da pessoa. Porém, como a vida é uma grande ironia, meus piores pesadelos se concretizam.

Tentei me distrair lendo um grimório de minha avó, mas não conseguia me concentrar sabendo que a qualquer momento Kai sairia por aquela porta.

Minha respiração estava um pouco ofegante.

Droga! Por que ele me deixa tão... tão nervosa desse jeito?

Senti a voz da consciência presente.

Você sente medo dele, disse ela. É muito natural.

Será? Parecia uma explicação tão sem sentido. Eu não tinha mais medo de Kai?

Quer dizer... C—Claro que tenho! Fico tremendo igual bambu, quando ele está perto de mim! Embora parecesse um tipo de medo diferente...

Nem tinha me dado conta de quanto tempo havia passado até ouvir a porta do banheiro se abrindo. O vapor da água quente se dissipa no ar.

E Kai apareceu na porta.

Pensei que eu fosse desmaiar ou algo do gênero.

Ele estava todo molhado, com o cabelo pingado e com apenas uma toalha branca pendendo dos quadris estreitos.

— Tenho a leve impressão que o chuveiro do seu banheiro é melhor que o meu — disse com um ar conspiratório 7 semicerrando os olhos e fitando a mim — Bonnie, você está bem? — perguntou, inclinando a cabeça levemente.

Me dei conta de que estava hiperventilando feito uma louca.

Mas aquilo era tudo culpa de Kai! Por que ele tinha que ser tão... tão gostoso?!

Ele se aproximou de mim lentamente, parecendo preocupado. 

Senti meu coração se acelerando em meu peito.

— Bonnie está tudo bem com você? — e mirou aqueles olhos azuis em mim — Você está sentindo aquilo de novo? Está tendo um daqueles, hã, ataques da ansiedade?

Ele estava tão perto. Perto o suficiente para que eu visse cada gotinha de água escorrendo por seu abdômen e descendo para as entradas expostas em seus quadris...

Sua mão estava prestes a tocar meu ombro quando me levantei bruscamente, ficando de frente para ele.

— E—Eu estou bem! Estou ótima! — exclamei um pouco alto demais — Por que não estaria? — não pude deixar de notar minhas mãos estendidas diante de mim, como que o impedindo de se aproximar mais.

E saí o mais rápido possível de perto dele. Kai ficou com cara de quem não estava entendendo nada.

Fui rapidamente até meu armário e peguei a primeira roupa que vi na minha frente. E corri para o banheiro, fechando a porta atrás de mim.

O que foi isso?!, gritei, com minha respiração fora de controle. 

Encostei na madeira, tentando não perder o equilíbrio. Meus joelhos estavam bambos.

Não acredito que fiquei assim só porque vi Kai só de toalha, pensei sentindo minhas bochechas corando violentamente.

Tentei clarear minha mente.

O que está dando em você, Bonnie Bennett?! Porcaria!, ralhei. É a droga do Malachai Parker! Ele a torturou, a machucou e abandonou!

Me despi e entrei no chuveiro, deixando que a água escaldante acalmasse aqueles pensamentos vacilantes. E ajudou muito.

Alguns minutos depois, saí do box enrolada na toalha. Fiquei de frente para o espelho, limpando o vapor e me vi refletida nele. Nele estava refletida uma Bonnie totalmente diferente da que eu via todos os dias. Havia um brilho excessivo em seus olhos verdes e suas bochechas estavam de um tom forte de vermelho.

O que está acontecendo comigo?, pensei eu, deixando as pontas dos dedos correrem por minhas feições que antes eram tão suaves, agora ostentavam todos os tipos de emoções.

Demorei o máximo de tempo possível no banheiro. Escovei os dentes e resolvi secar meus cabelos com o secador, pois eu detestava dormir com eles molhados. Concentrei—me apenas naquela tarefa, mas acabou rapidamente. Quando já estava devidamente seca, vesti a calcinha e peguei a roupa que iria vestir.

— Ah, merda... — proferi, olhando para a peça de seda rosa chá em minhas mãos.

No meio do meu afobamento para escapar de Kai, havia pegado aquela camisola. Eu nunca a tinha usado antes, havia sido um presente de Caroline.

Bom, eu tinha duas opções: a vestia e saía só de toalha para pegar outra roupa.

Pensar nisso fez com que eu vestisse a camisola rapidamente. Fiquei me olhando no espelho, avaliando pela primeira vez a peça de roupa nova.

O tecido descia perfeitamente pelas minhas curvas e a camisola batia na metade da coxa e tinha um leve decote com renda no busto. Não era nada vulgar, mas aquilo com certeza não era algo que eu estivesse habituada a usar. Pelo menos, não na frente de um homem.

E claro, me peguei pensando o que Kai pensaria quando me visse assim.

Bufei. Desde quando ele era importante?

— Dane—se o Kai! — murmurei decidida.

Abri a porta do banheiro num rompante.

Kai estava sentado na cama com meu grimório nas mãos e parecia concentrado na leitura. Ele não estava mais de toalha. Usava uma calça de moletom e uma camisa branca.

Ao ouvir o som da porta sendo aberta, olhou diretamente para mim. E juro que parecia que seus olhos iam saltar das órbitas, sua boca estava aberta em um Ó redondo. A respiração dele saía entrecortada.

— Que foi? — questionei, já na defensiva.

— Hã? — fez ele, ainda olhando que nem um idiota para mim.

Suspirei pacientemente.

— O que você está olhando, Kai? — repetir.

Ele sacudiu a cabeça, confuso, como se aquilo fosse clarear suas ideias.

— Eu não estou olhando nada —  murmurou ele, voltando a encarar o livro, mas sua voz parecia incerta.

Revirei os olhos e fui sentar em uma poltrona ali perto. Peguei um hidratante que ficava na mesinha ao lado, espremi a embalagem e comecei a esfregar nas pernas. Espalhei um pouco nos braços também.

E tive a sensação de estar sendo observada.

Levantei a cabeça e peguei Kai me olhando descaradamente. Sua respiração estava acelerada e seu coração pulava como louco em meu peito. Ele mordia o lábio inferior com força.

A forma como ele me fitava fez um rubor de vergonha tomar toda minha face. Baixei os olhos, constrangida. Com medo daquele mar cinza me engolir.

— Para — disse eu, ainda encarando minhas mãos.

— O quê? — ouvi—o perguntar.

Torci minhas mãos nervosamente no colo.

— Para de me olhar desse jeito, Kai — murmurei, mais envergonhada por ter que pedir.

— Desculpe — ouvi—o dizer, sua voz queimava de arrependimento.

Levantei os olhos, o encarando.

E ele não estava mais olhando para mim. Kai deitou sobre o colchão, encarando o teto.

— Por que você sempre fica me olhando assim? — perguntei antes que pudesse me conter e me arrependendo logo em seguida.

Ele continuou fitando o teto por um bom tempo, enquanto eu o olhava.

— Não sei se você reparou, mas é muito bonita, Bonnie — declarou de maneira simples.

O quê?! Ele disse que eu sou bonita?! E disse com todas as palavras!

— É por isso que você vive me encarando? — perguntei, tentando esconder o sorrisinho idiota que apareceu no meu rosto. E por um segundo, aquela pequena e esquecida atração que tive por ele no Mundo Prisão retornou como uma onda.

Ele olhou para mim com aqueles olhos cinza que me deixavam nervosa e sorriu daquele jeito descarado.

— Sim — respondeu.

Sorri mais ainda, lisonjeada.

— Mas até que as outras garotas dessa cidade também são bem bonitinhas — disse ele, como um cafajeste — Deve ser a água.

Meu sorriso minguou, substituído pela raiva.

Porque eu ainda me iludo?! Kai nunca vai mudar!, pensei com raiva.

Ele ainda me encarava, parecendo se divertir com minha irritação.

Me levantei, resignada, pegando uma pilha de travesseiros no armário, marchei até a cama e os coloquei entre mim e Kai.

— O que está fazendo? — perguntou, franzindo o cenho.

— Uma barreira para que você não encoste em mim, seu bastardo — expliquei, possessa de ódio. 

Ele suspirou pesadamente.

— Como se uma pilhazinha de travesseiros, fosse proteger você de mim! — me olhou enviesado — Se eu quisesse pegá—la agora, nada me deteria.

Parei bruscamente de arrumar os travesseiros, olhando para ele com meu coração acelerando.

Kai sorriu, totalmente descarado.

— Não que eu vá fazer isso, agora — disse com aquele olhar diabólico — A menos que você queira, é claro.

Ele realmente estava me propondo aquilo?

Senti meu rosto enrubescer de raiva e vergonha.

— Prefiro ser estraçalhada por uma matilha de lobisomens — declarei com frieza.

Ele ainda tinha aquele sorriso idiota na cara.

— Ah, para! Aposto que sou mais bonito que um lobisomem.

Idiota! Estúpido! Maluco!

Me deitei na cama, o mais afastada possível dele.

— Não sei, não — cantarolei — O Tyler está tão gostoso, ultimamente.

Tyler era meu amigo, e carregava a maldição de sua família, que eram lobisomens. Claro que nunca tivemos nada. Só disse aquilo para calar a boca de Kai.

E surtiu o efeito desejado.

Vi seu sorriso desaparecer, substituído por uma fúria assassina.

Ele virou—se bruscamente, apagando o abajur ao seu lado. E puxou o cobertor com mais força que o necessário, me descobrindo.

Como ele era egocêntrico! Ficou irritado apenas porque eu disse que Tyler é bonito. O que não era nenhuma mentira.

Não consegui esconder meu sorrisinho de satisfação.

Puxei o cobertor, me cobrindo outra vez e apaguei a luz do meu abajur. Tentei pegar no sono, mas Kai ficava se remexendo na cama.

— Dá para você ficar quieto? Estou tentando dormir aqui — esbravejei, sem me virar para ele.

— Ah, me desculpe! — disse de forma sarcástica — Mas, não dá para dormir com esse monte de travesseiros tomando todo o espaço na cama.

Revirei os olhos. Duvidava que os travesseiros fossem o problema ali.

— Para de ser dramático, Kai — disse eu — Essa cama é imensa. Cabem quatro pessoas e ainda sobra espaço.

— Você diz isso, porque não tem o meu tamanho, Pequena Polegar — provocou ele.

E aquela sensação de ódio se espalhou pelo meu corpo.

— Disse o Pé Grande — soltei, irritada — Deve ser incrível ver o céu lá de cima.

Ouvi ele suspirar pesadamente, sentando na cama.

Então, os travesseiros que estavam ao meu lado, foram tirados um a um. Virei—me a tempo de ver Kai jogando o último no chão.

— Idiota — o fulminei com os olhos.

Ele sorriu, deitando—se todo esparramado na cama. 

— Dá pra ir mais pra lá, seu folgado? — falei, empurrando sua perna e seu braço que estavam praticamente sobre mim.

— Só consigo dormir assim, você vai ter que se acostumar — provocou.

— Então, dorme sozinho — resmunguei, levantando da cama e levei o cobertor comigo. 

Sentei—me toda encolhida na poltrona. Eu preferia ficar desconfortável, a ter que ficar levando pontapés e chutes a noite toda. Porque certamente seria o que aconteceria se eu dormisse na mesma cama que aquele espaço.

— Para de frescura, Bonnie —  pediu ele com a voz um pouco mais doce — Volta para a cama, hã?

O ignorei, fechei os olhos e tentei dormir.

***

A luz da manhã acariciava meu rosto de um modo gostoso. Percebi que a poltrona estava confortável demais. Dava até para eu me esticar.

Me espreguicei um pouco, mas senti algo desconfortável e pesado sobre mim.

Abri meus olhos.

Eu não estava mais sentada na poltrona, e sim em minha cama, mas não me lembrava de ter me voltado para ela noite passada. Tentei me mexer, mas uma coisa pesada como uma bigorna estava em cima de mim.

Olhei para baixo e o vi.

O peso em cima de mim era nada menos que Kai Parker.

Ele dormia profundamente com a cabeça em cima do meu peito. E seus braços estavam em volta de minha cintura, me apertando forte contra seu corpo. E não sei como aquilo aconteceu, mas minhas pernas estavam meio enroscadas com as suas.

Tentei me mexer, mas ele era muito pesado. E eu já estava ficando com dificuldade para respirar.

Sacudi seu ombro, tentando acordá—lo.

— Kai — chamei, mas ele não acordava.

Meus pulmões já estavam pegando fogo. Comecei a dar tapas em seu braço, desesperada.

—  Kai... não consigo... respirar! — ofeguei, tentando tirá—lo de cima de mim.

— Humm... — murmurou ele, apertando mais os braços em volta da minha cintura e aninhando mais a cabeça em meu peito. Inspirando o cheiro de minha pele.

Me arrepiei inteira com aquela simples carícia.

Até teria apreciado aquilo um pouco mais... se não estivesse sendo esmagada por um cara de um metro e oitenta e cinco, e com oitenta quilos!

Comecei a dar tapas fortes em seu braço. Ele levantou a cabeça do meu peito, grogue de sono.

— Aaaaiiii... O que você está fazendo? — reclamou ele.

Ele abriu os olhos focando meu rosto. E acho que se deu conta de como estava tão perto de mim, porque ficou me encarando de um jeito confuso. Depois seus olhos desceram para o decote de minha camisola e em seguida para mim e depois de novo para meu decote.

E ficou um bom tempo olhando para os meus seios.

— Bem que desconfiei que o travesseiro estava macio e cheiroso demais — sussurrou para si mesmo, achando que eu não podia ouvi—lo.

Semicerrei os olhos com raiva.

— Se nos próximos cinco segundos, você não parar de olhar para os meus seios e sair de cima de mim. Vai voar por aquela janela como um canário — ameacei, apontando a janela com a cabeça.

Ele suspirou pesadamente, olhando uma última vez para o meu corpo e saindo de cima de mim — com muita má vontade, devo admitir.

E uma parte de mim, ficou um pouco triste pelo fato de ele não estar mais me abraçando.

Eu não deveria me sentir assim em relação à ele, droga, pensei, angustiada.

O rapaz deitou—se ao meu lado com o rosto voltado pra mim.

— Você estava querendo me matar esmagada ou o quê? — perguntei, indignada.

— Como se você não tivesse gostado de dormir agarradinha em mim — murmurou ele, sorrindo com aqueles olhos perturbadoramente lindos.

Meu Deus! Como ele estava gato! Com aquela carinha de sono e o cabelo castanho escuro todo desgrenhado.

Perdi um pouco do ar que me restava, mas tentei manter o foco.

— Ainda prefiro a matilha de lobos — declarei, me levantando.

— E adoraria que o idiota do Tyler Lockwood estivesse com você não é? —disse Kai de forma brusca com a voz azeda.

Me virei para ele, de cara fechada.

— Você cismou com o Tyler, não é, Kai? — acusei, com as mãos nos quadris o encarando — Sabe que ele é namorado da sua irmã, não é? E aposto que Liv não iria gostar de nada dividi—lo com você.

— E muito menos com você — rebateu, cruzando os braços.

— Argh! Às vezes você é tão ridículo, Kai! — murmurei batendo o pé e saindo de perto dele.

Peguei meu robe branco de seda e saí do quarto, deixando aquela desgraça na minha vida que se chamava Kai Parker.

Fui para a cozinha. Minha mãe estava lá e havia feito um café da manhã completo.

— Bom dia, filha — falou sorrindo e colocando uma jarra de suco sobre a bancada repleta de outras coisas.

Me sentei de cara feia.

— Bom dia — resmunguei, pegando uma torrada e mastigando com mais força que o necessário.

Abby percebeu. 

— Ou você acordou do lado errado da cama ou brigou com o Kai — murmurou ela com aquele sorriso compreensivo.

Olhei para ela sem saber o que dizer. Não queria que ela desconfiasse de alguma coisa, mas estava cansada de não ter mais ninguém para falar sobre meus problemas.

— É que ás vezes ele é tão... idiota! — murmurei, dando outra dentada na torrada.

Minha mãe suspirou, compreensiva.

— Homens são assim mesmo, querida. Principalmente na idade de Kai.

Se ela soubesse quantos anos ele tem..., pensei, conspiratória.

Tentei me distrair tomando meu café da manhã. 

Kai desceu alguns minutos depois, vestindo uma camisa marrom escura e jeans. Ele entrou na cozinha e deu um bom dia animado para Abby e sentou—se para tomar café conosco. Só me dei conta de que estava me ignorando, quando pedi a ele que me passasse a manteiga e aquele bastardo nem me olhou nos olhos.

Fiquei louca da vida, então, fiz a manteiga flutuar até mim. E continuei comendo, morta de raiva.

Depois, Kai levantou, deu um beijo na bochecha de Abby e saiu, indo para o trabalho.

Não sei porque fiquei tão incomodada por ele não estar falando comigo. Era tudo que eu mais queria desde que nos casamos. Então, por que eu me sentia tão ressentida em relação a isso?

— Você por acaso mencionou o nome de outro cara na frente dele? — perguntou Abby, atrapalhando minha linha de raciocínio.

— Hã, como você sabe? — perguntei alarmada.

— Apenas responda. Você falou sobre Jeremy com ele? — perguntou ela, com aqueles olhos cor de âmbar sobre mim.

Jeremy — o irmão mais novo de Elena — e eu havíamos namorado antes de eu morrer e ficar presa naquele lugar. E quando retornei, ele havia ido embora para outra cidade.

Claro que fiquei muito magoada com ele. Ainda mais por todas as traições, mas no fim, resolvi ficar sozinha. Sabia que nossa história não tinha mais futuro.

— Não tenho nada para falar de Jeremy com o Kai, mãe — expliquei — Foi só uma coisa idiota que eu disse a ele sobre Tyler, porém, foi apenas para irritá—lo. 

Ela sorriu abertamente, parecendo compreender algo.

— E você conseguiu, meu amor — murmurou ela — Ele está louco de ciúmes.

Quase engasguei com o chá que estava bebendo. Comecei a tossir, tentando respirar direito.

— O que você disse? Kai está com ciúmes? — perguntei — De quem?!

— De você, querida — falou, como se fosse algo muito óbvio.

Kai? Com ciúmes de mim?! Por quê?!, pensei assustada.

— Kai não tem ciúmes de mim, Abby — expliquei — Ele só deve ter acordado com TPM de bruxo ou coisa do gênero.

Abby riu.

— Conheço muito bem um ataque de ciúmes quando vejo um — disse ela, ainda me olhando — Seu pai também era ciumento. Acredite, Kai está com ciúmes de você. E muito.

Minha mãe só podia estar doida ou andava bebendo sangue estragado. Sei lá. Na minha cabeça, eu não conseguia conceber a ideia de que Kai estivesse com ciúmes de mim. Era impossível!

Nós não conseguimos passar cinco minutos sem tentar nos matar. Se ele realmente estivesse sentindo isso, então, quer dizer que ele sente algo por mim?

Só de pensar nisso, meu coração acelerou.

Mas ele era um sociopata. Não era capaz de nutrir nenhum sentimento de afeição por ninguém além de si mesmo! 

E se a fusão com Lucas, seu irmão, realmente tivesse mudado? Então, ele era capaz de sentir emoções como dor, medo, amor...

Essa possibilidade me deixou atônita.

Não é possível que ele esteja sentindo algo por você!, gritou minha consciência. Há muitos tipos de ciúme, principalmente de coisas que acham que são suas.

Será que Kai me considera algo seu, como uma propriedade?, pensei brava. Será que ele se considera meu dono ou coisa do gênero?

Só podia ser isso! Claro que era uma possibilidade mais provável do que aceitar que Kai podia sentir alguma coisa por alguém.

Depois de tomar café com minha mãe, resolvemos sair. Fomos na casa de Caroline, que aliás, ficou muito feliz com minha presença e de minha mãe. Elena apareceu logo depois, então, se formou a bagunça das meninas.

Foi uma tarde legal, exceto pelo fato de que eu não conseguia parar de pensar naquele sociopata babaca!

***

Dois dias se passaram e Kai ainda estava me ignorando.

E aquilo estava me deixando estranhamente irritada, mas havia algo a mais como se aquilo estivesse me magoando?

Entretanto, no terceiro dia, ele estava menos irritado e até deu um bom dia, porém não passou daquilo.

Quando estava em casa e sem Abby por perto, Kai quase sempre estava no computador ou lendo meus grimórios. Quase como se estivesse procurando algo. Mas eu não quebraria seu silêncio para perguntar.

E claro, havíamos desenvolvido uma relação esquisita. Na frente de Abby tínhamos que fingir que nós gostávamos. E quando estávamos sozinhos — quando Kai, não estava me ignorando —, brigávamos feito cães. Porém, quando nós dormíamos e ele acordava assustado com aqueles pesadelos, eu acariciava seus cabelos daquele mesmo modo até que ele dormisse outra vez.

E quando eu acordava, quase sempre estávamos dormindo um por cima do outro. E as mãos dele sempre estavam em partes do meu corpo onde não deveriam estar e assim começava nossa briga matinal. E aquilo estava se tornando um ciclo vicioso doentio e envolvente.

♡♡♡♡♡

Nota da Autora:

Oin!

Espero que esteja gostando desses capítulos doidos. E agradeço de coração à quem está acompanhando minha filhinha linda.

Para os leitores mais antigos, devo acrescentar que mudei levemente alguns diálogos e acrescentei mais alguns. Claro, que tudo isso com o propósito de enriquecer a história. Espero que tenham gostado!

Beijinhos xxx. Até o próximo! ○/

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