opposites | l.s

By malwt6q

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Ninguém entendeu nada quando o filho do diretor Tomlinson apareceu de repente na escola. Na verdade, ninguém... More

Avisos!
1. Trying.
2. Darkness.
3. Algebra.
5. In another life.

4. Jump.

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By malwt6q

passando rapidinho no começo para pedir que vocês comentem e votem se puderem!!

Boa leitura <3

⋆。°✩

"You smile at me and say it's time to go
But I don't feel like going home"
Silver Tongues, by LT.

⋆。°✩

Louis

Estou de braços cruzados apoiado na pedra suja da pia enquanto vejo Harry mexer incessantemente no seu piercing no lábio e olhando ao redor. Acredito que ele esteja procurando uma saída, mas não há nenhuma. Se eu me esforçasse um pouco, tenho quase certeza que conseguiria ver fumaça saindo de suas orelhas repletas de piercings de tanto que sua cabeça está a mil.

— Como que a gente vai sair daqui? — Harry me lança um olhar cortante na minha direção e eu levanto as mãos em rendição. — Não está mais aqui quem falou.

Harry suspirou, passou a mão nos cachos, desfazendo alguns cachos e depois balançou a cabeça negativamente.

— Não faço a mínima ideia.

O silêncio paira entre nós por um tempo e eu começo a bater o pé direito repetidas vezes no chão. Não suporto o silêncio extenso, as batidas e os gritos dentro da minha cabeça ficam mais altos que o normal. Altos demais. Me sinto oprimido e sufocado. Isso é terrível para mim, além do óbvio, porque eu acabo tendo que pôr vídeos, músicas ou filmes para dormir, estudar ou fazer qualquer outra coisa da minha vida. Nada que eu faço tem silêncio. Por esse motivo, eu volto a falar, tentando preencher esse silêncio opressor.

— Por que esse banheiro é todo fudido assim? — me desencosto da pia e ando pelo espaço, indo de uma ponta a outra. O banheiro não era muito grande, de forma que eu chego na parede oposta em exatos sete passos. Não foi muito complicado contar.

— Ele está “abandonado” há uns anos, quando uns alunos foram fazer trote de último ano bêbados e acabaram quebrando a maçaneta da porta — Me viro a tempo de ver Harry olhando para mim com seus olhos opacos, ele desvia o olhar e aponta para uma marca na porta que indica que um dia existiu uma maçaneta ali. — Eles ficaram umas boas horas aqui dentro. Se um aluno sóbrio é capaz de sem querer quebrar uma porta, imagine o que um bando de adolescentes bêbados não são capazes de fazer juntos trancados em um banheiro. — Styles se virou para o espelho um um enorme rachado no meio e arrumou um cacho do seu mullet que estava caindo na testa.

— Suruba? — brinquei.

Apesar do vidro rachado, eu tenho quase certeza que vi a sombra e um sorriso no seu rosto. Umedeci meus lábios com minha língua em uma tentativa miserável de conter meu próprio sorriso orgulhoso. Não consegui.

Uma dúvida surgiu na minha mente.

— Por que meu pai não consertou esse banheiro — pergunto — ou a luz daquele quarto de limpeza?

Harry deu de ombros, se virando e apoiando o quadril na pia com os braços cruzados.

— Não sei, me diz você.

Eu abri os lábios para responder mas minhas palavras morreram na minha garganta. De repente minha mochila começou a ficar muito pesada, tiro ela das minhas costas e coloco no cantinho mais limpo que eu encontro da pia, ao lado da mochila de Harry. Nós nunca colocaríamos elas nesse chão nojento.

— Não é como se eu soubesse também — resmungo, não tenho certeza se ele ouviu, espero que não. Olho para a tela apagada do meu celular e aperto o botão na lateral só para confirmar o que eu já sabia: descarregado.

Esse é o preço que eu pago por passar o dia todo ouvindo música e ficar no Twitter brigando com pessoas aleatórias, só pelo prazer de contrariar desconhecidos, mesmo que algumas vezes eles estejam certos e eu, completamente errado. Perturbar os fãs da Taylor Swift é o mais engraçado.

— Você consegue ligar para alguém?

Ele nega com a cabeça, balançando o celular também desligado na minha direção.

— Ótimo, agora temos dois pesos de papel — finjo animação. — Já posso escrever minha carta de despedida? Acho que vou usar a folha do caderno de Geometría. Vou começar com: “minha querida mamãe, se você está lendo isso é porque eu morri nesse banheiro fedido e imundo cheio de merda e mijo…”— Divago com os olhos fechados e uma mão sobre o coração, considerando a hipótese.

Ouço uma risada baixinha e abro os olhos na velocidade da luz, encarando o sorriso pequeno, mas ainda sim um sorriso, ainda presente no rosto de Styles. Sinto o pé da minha barriga revirar e tenho a sensação que o lugar onde fica meu coração está quentinho, algo como mel quente se espalhando pelo meu corpo. Doce e reconfortante. Não sei explicar, mas consigo sentir, e a sensação é muito, muito boa.

— Você é muito besta — seu sorriso vai diminuindo aos poucos, até não ter mais nenhum resquício que ele um dia esteve lá. Sinto falta dele no mesmo instante, quero fazer mais uma palhaçada para que ele volte. Faria loucuras por mais um sorriso daquele.

Dou um sorriso de lado e me aproximo dele diante do seu olhar atento, parando bem na sua frente, a ponta dos nossos pés se tocam mas alguns centímetros ainda nos separam. Sou um pouquinho maior que ele, acredito que por ser mais velho, então Harry tem que erguer um pouco o queixo para me olhar nos olhos. Estamos tão próximos que nossa respiração se entrelaça. Se eu for mais um pouquinho para frente nossos narizes irão se tocar, e se eu for um pouco mais, os nossos lábios.

Espero ele me empurrar e se afastar de mim, mas não acontece, então tomo como uma bandeira branca.

— Vai fingir que não gosta, coração? — o apelido desliza dos meus lábios antes que eu me de conta. Eu hesito, pensando que fui longe demais, mas pela vermelhidão fofa que se espalhou rapidamente do pescoço de Harry até suas bochechas, eu falaria outras centenas de vezes só para ter essa reação de novo.

— Eu não sei do que… — sua voz foi diminuindo até eu não ouvir mais, o olhar de Harry deslizou do meu rosto para algo que está nas minhas costas. Suas sobrancelhas se franzem antes dele separá-las totalmente, como se tivesse entendido alguma coisa. Estou confuso, olho para trás mas não vejo nada, somente as cabines vandalizadas e uma janelinha. Olho para ele novamente ainda sem entender. — A janela! — diz animado, saindo da minha frente para andar em passos rápidos até ela. — A gente pode tentar passar por ela. — Aponta se virando para mim.

Eu encaro-o incrédulo, olhando da janela para ele repetidas vezes antes de fechar meus lábios e aceitar que tentar passar por aquela janelinha é melhor do que ficar horas presos nesse banheiro nojento.

— Tudo bem, e como vamos fazer isso?

Harry mexe no colar com um pingente em formato de livro enquanto pensa antes de voltar a falar, voltando a encarar a janela.

— Ao invés de ir os dois pela janela, alguém pode pular, entrar no colégio de novo e abrir a porta. Eu poderia-

— Eu vou. — Interrompo sua fala.

— O que? Não! — Harry virou com tudo, acredito que ele não soubesse que eu estava tão próximo pois acabou batendo seu corpo em mim com força. Ele bambeou para o lado e eu segurei na sua cintura com as duas mãos, pressionando um pouco para estabilizá-lo, ele apoiou as duas mãos no meu ombro para tentar recuperar o equilíbrio. Sua respiração engatou com o susto e eu não me contive em rir da sua expressão assustada. — Oops. — Styles falou baixinho, suas bochechas estavam extremamente vermelhas pela vergonha.

Me pergunto se Harry é tímido assim ou se as suas bochechas só coram para mim. Pode ser um pensamento um pouco narcisista e um tanto possessivo, mas fico louco de pensar que mais alguém já viu o quão lindo ele fica com as bochechas vermelhas.

— Oi — brinco. — Eu posso? — Pergunto erguendo a minha mão na direção dele.

Eu observei Harry bastante nos corredores e nas aulas que temos juntos, percebi que ele fica um pouco amuado com muitos toques ou toques repentinos. Ele sempre acaba se esquivando ou ficando com o corpo completamente tenso, então para não deixá-lo desconfortável, imagino que seja melhor perguntar.

Vejo-o engolir seco e pensar bastante se deixaria ou não por alguns segundos. Por fim, ele concorda timidamente com a cabeça. Eu sorrio, erguendo a minha mão para deslizar sobre a sua bochecha quente e macia, fazendo um carinho de leve com o dedão, sentindo ele apoiar sua cabeça inconscientemente na minha mão, igual um gatinho.

Umedeço meus lábios com a língua, ainda deslizando meu dedo suavemente por sua pele, acabo atraindo a atenção de Harry para meus lábios com o movimento, não me contenho e desço o olhar para os seus também. Seus lábios são tão cheinhos e vermelhinhos, uma tentação enorme. Se eu inclinar um pouco a cabeça…

Harry se afasta bruscamente e meus braços caem ao lado do corpo, sinto a palma da minha mão que estava na sua bochecha formigar e contenho o impulso de puxá-lo de volta para mim.

Parece errado ele ficar longe, agora que eu já sei a sensação do seu corpo rodeado pelos meus braços.

— Você pode ir, se é o que você quer — sua voz rouca me tira dos meus pensamentos, sua respiração está descompassada e suas bochechas ainda estão vermelhinhas. Abro e fecho a minha mão repetidas vezes, tentando fazer o formigamento parar.

Acho que sei o que está acontecendo comigo, mas não sei se quero aceitar.

— Louis? — vejo ele me encarando com curiosidade, um brilho tímido no seu olhar.

— Hm — percebo que eu não respondi nada a ele então me apresso a corrigir esse erro. — Sim, claro, eu vou — penso por um segundo se devo ou não antes de dar de ombros mentalmente e completar a frase: —, coração.

Harry estreitou os olhos para mim, mordendo com força o seu lábio inferior antes de me dar um pequeno empurrão no ombro e dizer um “vai logo” baixo.

Dou uma risada e vou em direção a janela, ela é um pouco alta, mas eu ainda posso subir na cerâmica do vaso e tentar abrí-la o máximo possível. Tomo cuidado para não pisar no meio e acabar metendo o pé na água um tanto insalubre do vaso, principalmente quando eu não sei o que está ali e tento não pensar no seu conteúdo. Está começando a escurecer lá fora, tenho que ser rápido antes do colégio ser fechado — isso se ele já não foi — e eu não conseguir ir pela porta da frente.

Eu abri a janela o suficiente para que eu conseguisse passar, tive que fazer um pouco mais de esforço para que o trilho enferrujado deixasse eu abrir mais, mas fui bem sucedido. Me ergo e olho para o lado de fora, não é tão alto ao ponto de eu me machucar — assim espero —  e ainda tem um pouco de mato que eu espero que amorteça minha queda.

Tento tomar coragem.

Inspira.

Expira.

Um,

dois,

três,

vai!

E então, eu estou no chão.

Não sei muito bem o que aconteceu antes disso, foi muito rápido, mas eu passei meu tronco pelo quadrado e no segundo seguinte eu estava no mato alto.

Ele não amorteceu a queda como eu esperava, minhas costas bateram no chão com força e agora eu estou com falta de ar há uns bons segundos. Tento respirar mas parece que o ar não entra. Começo a me desesperar, tento puxar o ar com mais força mas ele simplesmente meus pulmões não querem fazer o trabalho deles .

Tento mais algumas vezes até ter sucesso, o alívio do ar correndo pelo meu corpo é instantâneo, volto a deitar a cabeça na grama e relaxo, deixando o ar entrar com mais facilidade.

Ouço Harry chamar meu nome de longe e logo sua cabeça cacheada aparece pelo quadrado onde eu pulei para logo em seguida sumir, como se ele estivesse pulando em cima do vaso para ver o que aconteceu. Eu me sinto zonzo, mas sei que ele está falando algumas coisas, quero pedir para ele tomar cuidado para não acabar quebrando a cerâmica com os pulos mas não consigo. Acho que está perguntando se eu estou bem?

Eu estou bem?

Não sei.

Acho que sim.

Quando finalmente consigo voltar a plena consciência, me sento na grama, respirando fundo antes de me levantar de forma definitiva. Bambeio um pouco para o lado, minha vista fica preta, talvez por ter levantado rápido demais ou por conta da queda, independente do motivo, me seguro na parede e logo a vertigem passa.

Ouço a voz preocupada de Harry mais uma vez e agora respondo-o falando que estou bem. Ele solta um suspiro de alívio e eu dou uma risada, sem acreditar no que acabou de acontecer.

— Caralho, coração, quase que eu apareço em stories de luto — brinco, batendo a mão pela roupa para tirar as gramas que ficaram grudadas em mim, passo a mão pelo meu cabelo, vendo algumas gramas caírem de lá também.

— Não acredito que você está rindo. — ouço a voz abafada de Harry e ergo os olhos para ver somente a ponta do seu nariz, alguns cachos e as suas unhas pintadas. Acho adorável.

— Você não iria postar nem um storieszinho para mim?

— Para de brincar e me tira daqui logo — diz irritado batendo a mão no ferro para fazer barulho. Com os anéis que adornam seus dedos, o som fica mais alto e estridente.

— Sim, senhor — presto continência, mesmo sabendo que ele não pode ver, mas, apesar disso, ouço um rosnado irritado vindo dele mesmo assim.

Caminho rápido para dentro do colégio me sentindo um pouco dolorido, principalente nas costas. Ignoro a dor, na vã esperança dela ir embora, mas sei que ela não irá me deixar tão cedo. Espero pelo menos fingir que estou bem na frente de Harry, não quero que ele perceba que eu me machuquei e fique preocupado.

Abro a porta do banheiro, desta vez tomando cuidado para mantê-la aberta com o pé. Harry vem voando até mim, me analisando de cima para baixo em busca de um machucado exposto. Sinto que ele faz menção de me abraçar, mas algo muda na sua mente que faz com que ele na verdade se afaste ao ver que estou bem.

— Vou pegar as nossas mochilas.

— Pensei que o colégio já estaria trancado uma hora dessas — digo.

— Deveria estar, mas o Diretor Tomlinson nunca fiscaliza as entradas do colégio para ver se elas estão fechadas e eu acho que o sr. Nelson esquece de trancar.

Nós caminhamos em direção a saída, o corredor está com a luzes desligadas e vazio e o céu está cada vez mais escuro. Novamente, o silêncio da espaço aos meus pensamentos conturbados e flashes de memórias que eu fiz de tudo para esquecer. Se eu ficar mais um segundo somente ouvindo nossos passos, vou enlouquecer.

— Quer carona para casa? — pergunto ao finalmente empurrar as portas duplas e sair do colégio.

— Não precisa, eu moro aqui perto.

Caminho até a minha moto e Harry vem atrás de mim.

— Mas está tarde… — paro, enfim, me virando para Harry que me lança um sorriso de lábios fechados. Eu não tinha percebido antes, mas seus olhos estão caídos de sono, acho que ele não teve uma boa noite de sono noite passada. A forma que seus olhos piscam lentos depois de toda a adrenalina passar, prova isso. — Harry, você está morrendo de sono, eu não posso deixar você voltar assim sozinho. —  Vejo que ele vai começar a negar e interrompo-o, voltando a falar com mais rapidez. — Deixa eu te dar carona, por favor, coração. Prometo ir devagar.

Harry começa a mexer no piercing no lábio em dúvida. Eu não posso deixar ele ir para a casa sozinho, me sentiria mal a noite inteira pensando que aconteceu algo no caminho até ver na manhã seguinte se ele chegou bem em casa.

— Por favor — uso a minha melhor cara de cachorrinho que caiu da mudança e dou um passo na sua direção, novamente encostando a ponta dos nossos sapatos. — Por favorzinho?

Styles suspirou em derrota, falando que tudo bem a contragosto. Ele me disse onde morava, é bem perto de uma cafeteria que eu descobri uns dias atrás que tem um café divino, então não vai ser tão difícil levá-lo até lá.

Só tenho um capacete e, como o trajeto até a casa de Harry é curto, não vejo muito problema de só um de nós dois utilizá-lo, mas faço questão que ele use a proteção. Harry protestou um pouco falando que que eu que deveria usar mas eu, novamente, acabei ganhando essa batalha.

Tenho certeza que ele só está maleável assim por conta do sono. O Harry no seu estado 100% disposto nunca deixaria eu ganhar uma briga.

Eu coloco o capacete nele com cuidado e afivelo embaixo do seu queixo. Styles fica paradinho, piscando lento de sono esporadicamente e até chegou a bocejar algumas vezes. Eu subo na moto e ponho minha mochila na frente do meu corpo, dou algumas instruções de como ele deve se acomodar no banco do passageiro e ele assente. Uma vez sentado corretamente, Harry passa os braços ao redor da minha cintura em um abraço meio frouxo sob minha mochila, sinto ele apoiar a cabeça nas minhas costas e tenho certeza que ele fechou os olhos.

— Ei — cutuco o seu braço ao redor da minha cintura, guardando o pé de apoio da moto. — Não durma, coração, você pode acabar caindo da moto. — Ouço ele dizendo em uma resposta abafada que não irá cair, mas eu ainda estou meio apreensivo. — Você pode me abraçar mais forte então? Se você dormir, eu vou perceber se seu braço afrouxar. — Estou realmente preocupado, mas ao mesmo tempo eu também quero sentí-lo mais próximo, não nego.

Dou partida na moto quando sinto seus braços mais apertados na minha cintura. Ignoro a dor que vem junto do seu aperto, ainda sentindo o resultado da minha tentativa distorcida de um voo falho. Poucos minutos depois eu estou passando pela cafeteria e logo eu estou procurando pela casa que tem uma cerca azul claro. É um pouco difícil já que o céu está cada vez mais escuro, mas eu consigo identificá-la com certo esforço.

Cutuco o seu braço novamente e digo como ele deve descer da moto. Uma vez que Harry está em pé, eu também saio do veículo, parando na frente do cacheado para tirar o capacete. Encaro os seus olhos que estão muito mais atentos agora, como se o sono tivesse evaporado. Ele olha de mim para a porta da sua casa e depois refaz o caminho só para repetir o processo novamente.

— Está tudo bem? — Ergo a mão para pôr em sua bochecha mas ele se afasta, quase com medo. Meu coração se parte ao pensar que ele tem medo de mim, eu não queria isso. Não sei o que foi que eu fiz para fazê-lo desconfiar dos meus atos.

Acredito que Harry percebeu para onde meus pensamentos foram, pois torna a se aproximar e a negar a cabeça.

— Não, não, eu não- escute, se minha mãe ver que… —  ele olha para trás rapidamente e depois volta seu olhar para mim. A apreensão queima em seu olhar. —  enfim, pode ser que o meu dia legal seja jogado no lixo pelas coisas que eu vou ouvir. Não é nada com você, eu juro.

Sinto como se uma pedra tivesse sido retirada do meu peito e forço um sorriso de lado, volto à minha motocicleta, me distanciando dele com muito esforço. Uma parte minha não queria ir, mas não há nada para fazer. Coloco a minha mochila corretamente nas minhas costas e pego o capacete de suas mãos, sem colocá-lo. Eu ainda não vou embora, vou espera-lo entrar.

— Tudo bem. Boa noite, coração — me despeço e ele faz o mesmo. Observo ele caminhar até a porta de casa, abri-la e entrar. Vou embora só quando não vejo mais seus cachos e ouço o barulho do trinco da porta girando.

O ronco que a minha moto faz até o caminho da minha casa é extremamente reconfortante, preenche o silêncio com excelência e ainda me acalma, sem que a música se faça necessária para abafar o barulho dentro da minha cabeça.

Penso no dia de hoje e dou um sorriso fraco sozinho, sentindo o pé da minha barriga revirar e novamente aquela sensação gostosa de mel quente atingir meu corpo. Eu não sei o que está acontecendo, e não sei se quero descobrir.

Ou talvez eu queira, muito.

Quando chego em casa, abro o portão na garagem o com o controle e entro de uma vez com a moto. Mal estacionei quando minha mãe aparece na garagem como um furacão, ela me olha preocupada, me puxa para um abraço apertado antes de se afastar e me dar um tapa no braço.

— Ai, o que foi isso, mamãe? — passo a minha mão algumas vezes na área onde ela atingiu antes de retirar o capacete e colocar no guidão da moto.

O tapa não doeu de verdade, mas eu sou bom fazendo drama e minha mãe nunca foi de me bater, então logo eu vejo a culpa nos seus olhos que antes estavam preocupados.

— Me desculpa, bebê, é que você sumiu a tarde inteira, não respondia o telefone e eu achei que tinha aconte- — noto sua respiração acelerada e a sua voz um pouco embargada, como se tivesse segurando o choro. A culpa recai sobre mim e não deixo ela terminar de falar, saio da moto com rapidez e a puxo para um abraço apertado.

Não faço a mínima ideia de que horas são, hoje eu esqueci meu relógio em casa, e, sem meu celular, eu fiquei completamente perdido com os horários. Arregalo os olhos ao perguntar que horas eram e ela dizer que eram quase 7 da noite e, então, entendo a preocupação da minha mãe. Eu havia avisado que ia voltar para casa às quatro da tarde e não falei mais nada depois.

Eu realmente ia voltar esse horário. Antes de Harry nos encontrar no chão da biblioteca, eu tinha posto em mente que iria ler só mais um capítulo do livro e então iria para casa. Obviamente não foi o que aconteceu, eu decidi ficar mais uns minutos com Harry.

Mas esses minutos viraram horas que eu nem vi passar, tão perdido no conforto da presença dele que nem me importei com mais nada.

E minha mãe não sabia de nada.

Estamos em uma cidade nova, um lugar novo que ela não sabe como as coisas funcionam e não confia totalmente, eu também iria ficar um tanto desesperado se meu filho não desse sinal de vida por quase três horas em uma cidade estranha, sem conseguir receber minhas mensagens e com as ligações caindo direto na caixa postal.

— Desculpa ter sumido todo esse tempo, eu estava no colégio e meu celular descarregou — sussuro em seu ouvido e subo e desço a minha mão nas suas costas, em uma tentativa de acalmá-la. Eu tenho êxito alguns segundos depois quando sinto seu corpo relaxar contra o meu e a sua respiração ficar mais lenta.

Quando nós soltamos, vejo uma pessoinha parada no batente da porta um pouco acanhada pela situação que presenciou, mexendo com a ponta do pé de um lado para o outro. Sorrio para Mikaella, mostrando que está tudo bem e chamo-a para fazer parte do abraço. Ela vem com um sorriso rasgando o rosto e logo está entre mim e nossa mãe, em um abraço quentinho e amoroso.

Me desculpo mais algumas vezes com minha mãe por preocupá-la e ela dispensa minhas desculpas depois da terceira vez. Nós jantamos a sopa de legumes que ela tinha feito para o jantar, cada um contou um pouco sobre seu dia, mas deixamos Mikaella guiar a maior parte da conversa, já que era a mais animada para falar sobre seu dia.

E como era minha vez de escolher o filme, terminamos assistindo Top Gun. Minha mãe não gostou muito da minha escolha, mas ela aceitou a muito contragosto, já que eu mesmo não aguentava mais assistir Diário de uma Paixão e mesmo assim acabava tendo que ver esse filme quase todo mês.

Quando Mika pega no sono no meio do filme, eu vejo seus olhos brilhando para mim, em uma pergunta silenciosa do meu dia. Dou um sorriso e conto tudo o que aconteceu enquanto o filme passa de fundo, vendo cada uma das suas reações exageradas.

Foi um bom dia, um ótimo dia.

⋆。°✩

muuuito obrigada pelas 100 leituras!! 🥹🥹 veio bem antes do que eu esperava na verdade, estou muitissimo feliz com isso

perguntinha, como vcs acham que está o desenvolvimento deles como casal? muito rápido, devagar demais ou bom assim? estou um tico insegura com isso

Louis na latam!!!!! vão em algum show do querido? eu vou no do rj 🥹

não esqueçam de votar!!

por fim, vejo vocês em menos de 2 semanas <3

Com amor, Ma.

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