Golden State. (Camren)

By milabedumb

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Quando Lauren Jauregui recebeu a oportunidade de deixar Winston City e se mudar para a cidade vizinha, por um... More

Ponta pé inicial
Capítulo 1: Bem-vindo a Grand Water
Capítulo 2: Armário Número 3
Capítulo 3: Go, Hawks!
Capítulo 4: A Lista dos Mais Provavéis
Capítulo 5: Eu só jogo a isca, Jauregui
Capítulo 6: Luau em Deer Bay
Capítulo 7: Você fez tudo o que eu queria que fizesse
Capítulo 8: Um encontro?
Capítulo 9: Noite dos Vinhos
Capítulo 10: Olá, me chamo... Lauren
Capítulo 11: Eu não vou ceder para você
Capítulo 12: Destino? Molina Port
Capítulo 13: Estrela da sorte
Capítulo 14: Corrida pelo ouro
Capítulo 15: Amém, George Washington!
Capítulo 16: Leilão Silencioso
Capítulo 17: Só você.
Capítulo 18: Eu juro que não amo o drama, ele que me ama.
Capítulo 19: Café da manhã
Capítulo 20: The Lucky One (Parte 1)
Capítulo 20.1: The Lucky One (Parte 2)
Capítulo 21: Xeque-mate
Capítulo 22: Acha que vale a pena?
Capítulo 23: Descobertas
Capítulo 24: Bem-vindo a Winston City
Capítulo 26: EARWOOD x DEPORT (Parte 1)

Capítulo 25: Decisões

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Lauren Jauregui POV

— Meu Deus, olha como você é! Falando desse jeito, parece que menospreza a minha cidade. Você me menospreza, Camila! — Joguei as palavras na cara dela, irritada com tudo aquilo. No outro lado, Cabello soltava fogo pelas narinas, encarando-me com o rosto avermelhado graças a raiva que estava sentindo de mim; sentimento mais do que recíproco no momento. — O que eu seria aos seus olhos, caso tivéssemos nos conhecido aqui?! Uma caipira qualquer?! Se você não se sentisse atraída por mim, me trataria igual lixo, do mesmo jeito que tratou as pessoas lá dentro?! — Indiquei as portas do ginásio com a cabeça. — Não fode! Essa é a primeira festa divertida 'pra mim em anos! A primeira festa onde, fora as meninas, as pessoas me tratam minimamente bem, e eu não preciso lidar com a Peyton Mullins ou o Trent Ho Cho falando merda! Me desculpa por ter passado uma hora sem te ver como o centro do meu universo!

Porra! A minha intenção nunca foi deixar Camila de lado! É óbvio que eu ficaria com ela assim que parássemos de jogar, ainda tínhamos uma festa inteira pela frente! Sou babaca por me distrair durante, sei lá, cinquenta minutos?!

Em cada lugar que nós íamos juntas, eu a perseguia igual a um cachorrinho e compartilhava a sua atenção com os "afazeres reais". Era injusto que, na primeira e única vez em que acabei me afastando um pouco e não lhe fiz "o centro de tudo", a líder me pintasse como um monstro que não se importava com ela.

Parecia até que abandonei-a sozinha no ginásio, sendo que as meninas estavam lá também e tinham feito amizade com outras pessoas. Céus, eu só saí por uma hora!

Afinal, qual o problema dela?! Eu passei o dia inteiro explicando o quão importante e significativa esse cidade era para mim, mostrei para ela a casa onde cresci, os meus ex-colegas... apenas para tê-la gritando aos quatro ventos que Winston City era uma "roça" e uma "cidadezinha", com uma "escolinha" e pessoas "de quinta"? Nem mesmo se importando comigo, ou com o peso que as suas palavras carregavam? Resumindo todo mundo a caipirinhas insignificantes, sem sequer ligar para o fato de também estar ofendendo a mim e a minha família?

Porra, que besteira foi aquela sobre os "seis filhos"?! Eu esperava Peyton Mullins ou Trent Ho Cho dizendo alguma merda desse tipo. Agora, Camila? Sabendo o que aquela festa representava para mim? Sabendo que eu já aguentei coisas piores do que meia dúzia de meninas me olhando torto, e nem por isso deixei a minha a raiva ou a minha frustração falarem mais alto do que a minha consideração por ela?

Droga, eu deveria ter imaginado que isso aconteceria. Cabello o seu egoísmo jamais pensariam além do próprio umbigo.

— Eu não queria ser o "centro do seu universo", mas você me deixou de lado, Lauren! — Ela rebateu, cruzando os braços.

De fato, eu errei. Me distraí conversando e poderia ter lhe chamado para ficar com a gente, mas fiquei com medo. Medo porque sentia vergonha de estar bebendo, e sabia que as chances de ela iniciar uma confusão por causa disso — ou por causa de Sadie e Isabella —, eram enormes, e não queria isso acontecendo. Não queria que nada estragasse a minha noite, afinal, era sempre assim em Grand Water; eu saia para me divertir e acabava na merda toda a maldita vez. Na maioria delas, sem ao menos saber o porquê. Nunca entendi porque era inferiorizada perto dos outros, perto de Camila...

Então, sim, eu aproveitei a oportunidade de ter um pouco de diversão sem temer pelo meu bem-estar. Aproveitei a oportunidade de me sentir bem, de pertencer a algum lugar. Ou pelo menos sentir que pertencia.

— Você me deixou de lado em toda a maldita festa que estivemos juntas e nem por isso eu tive esses surtos!

Retruquei, cega pelos meus próprios motivos e pela quantidade exagerada de álcool ocupando o meu organismo. E, por mais que entendesse as razões dela, não queria enxergá-las no momento. Estava puta para caralho.

Surtos?! Eu nunca te vi e nunca te veria como uma caipira, muito menos iniciei alguma briga de graça lá dentro! Mas você 'tava ocupada demais reforçando 'pros outros o quão legal e anti Grand Water é, 'pra ver alguma coisa acontecendo! E, ah, Lauren, vai a merda! Onde eu menosprezei Winston City?!

Ah, onde menosprezou? Pelo amor de Deus, é mais fácil contar às vezes que ela NÃO menosprezou a cidade! O melhor elogio foi "pequena e terrosa"!

E eu não julgava a Cabello por pensar assim, muito menos esperava que ela fosse elogiar a cidade ou algo do tipo. Só que também não esperava tê-la rebaixando os habitantes, a escola e o lugar, com o único objetivo de ofender e menosprezar os outros. Mesmo que as líderes tenham provocado, ela não pode sair por aí sendo escrota dessa forma!

— De verdade, às vezes, eu acho que você não se escuta! Porra, não acredito que nós tivemos a merda de um dia perfeito e as coisas vão acabar assim, por causa dessa sua birra irritante! É sempre desse jeito! A gente vive um momento bom e você vem e estraga tudo!

Em uma situação normal, eu jamais teria falado aquilo. Mas eu falei e, no mesmo instante, percebi o quanto as minhas palavras afetaram Camila. O que, durante alguns segundos, fez eu me odiar por ter topado aquela brincadeira idiota e por ter bebido além da conta. Porém, já era tarde demais, e ela não parecia arrependida de nada. Por que eu deveria me arrepender?

Não vou mais abaixar a cabeça e fazer as vontades dela.

— Me desculpa se não sou o que você quer que eu seja, Lauren!

Abri e fechei a boca diversas vezes, sem acreditar no que estava escutando. Em que momento eu disse isso?!

— Não vem com esse discurso não, Camila!

— E é mentira?! Eu costumava pensar que era, que você me via de verdade. E agora, parece que só vê as suas projeções sobre mim! Talvez, eu não seja do jeito que você imaginou! E sinto muito se isso estraga as coisas! Eu não queria estragar nada! Merda, tudo o que eu queria era um último dia agradável ao seu lado antes de...

Os absurdos proferidos por ela foram perdendo a força conforme a sua voz morria aos poucos. Franzi o cenho, séria, esperando pela conclusão do discurso, entretanto, Camila permaneceu calada.

— Um dia antes de quê? — Perguntei, encarando-a no fundo dos seus olhos castanhos. E quando a resposta tardou a aparecer, reforcei a pergunta, ainda mais irritada: — Fala, Camila!

— Não é nada! — Gritou de volta. — Por favor, me dá as minhas coisas!

A sua implicância em esquivar-se dos nossos diálogos me tirava do sério; Camila nunca se comunicava comigo, a não ser quando eu implorava para conversarmos. O quão fodido isso era?!

— Quer saber? Eu não posso te obrigar a ficar. Se quiser ir embora sem mim, vá. — Desisti, estendendo a sua bolsa e a chave do seu carro em sua direção, juntamente com a jaqueta de couro que antes ocupava os meus ombros. — Eu gosto de você, mas estou cansada disso. Cansada de correr atrás desde o primeiro dia, desde a época em que você me esnobava. Cansada de implorar, porque não é assim que deveria ser. Eu não posso fazer tudo! Faça alguma coisa também!

Desabafei, motivada pela embriaguez e pela frustração de estar naquele lugar outra vez; um lugar escuro, onde eu não entendia o que estava se passando na mente de Camila ou qual era o rumo que a nossa relação tomava.

— Eu não sei o que fazer, Lauren! — Respondeu no mesmo instante, piscando rapidamente para afastar as lágrimas que se formavam nos cantos dos seus olhos. — Então, por favor, me deixa ir embora!

Deixar Camila ir.

A única coisa que eu não queria fazer por ela.

As portas do ginásio foram abertas, interrompendo a nossa discussão. James, o meu antigo colega, estava sendo segurado pela capa de sua fantasia de vampiro, enquanto um dos meus ex-professores o carregava para fora. Até mesmo já sabia o motivo da confusão, e o cantil de whisky nas mãos do mais velho não me deixaria errar: o pegaram no flagra bebendo.

É água! — James protestava.

Cala a boca, menino! — O homem respondia.

Sadie veio logo atrás, olhando de um lado para o outro, parecendo procurar pela gente no corredor. Deixei a cabeça cair e resmunguei baixinho, sabendo que aquilo seria mais um motivo para Camila falar na minha cabeça até amanhã.

A morena alternou o olhar entre a ruiva e eu, ajeitando a bolsa no ombro antes de virar as costas, se dirigindo à saída de Deport High School.

Merda.

Chutei a lata de lixo que ficava no canto do corredor, grunhindo irritada. Camila passou pela porta de entrada sem ao menos vacilar e saiu do colégio, deixando-me para trás. Eu a conhecia muito bem para saber que ela não queria mais olhar na minha cara e preferia ficar sozinha, assim como eume encontrava extremamente irritada graças a todas as situações que antecederam a sua ida; sem vontade de ir atrás da líder. Porém, os resquícios de sobriedade no meu cérebro entenderam que eu não poderia deixá-la dirigindo naquele estado, desacompanhada, por uma cidade que não conhecia.

— Lau...

— Esquece, Sadie!

Levantei a mão em um sinal de "pare" e, antes que a ruiva pudesse rebater algo, corri em direção à saída de Deport, buscando pela mais nova e encontrando-a próxima ao seu carro.

— Camila, espera! — Consegui chegar a tempo de fechar a porta da caminhonete dela, lhe impedindo de entrar. — Você não vai embora sozinha!

— Caralho, Lauren! — Ela se vira de prontidão, apoiando as mãos no meu peitoral e me empurrando para trás. — Sai daqui! Você acha que é quem 'pra ficar me controlando?!

— Eu não 'tô controlando você, eu só quer...

— Você não é ninguém 'pra me mandar calar a boca, ouviu?! Nem 'pra decidir se eu vou embora ou não!

Voltou a abrir a porta do veículo e eu a impedi de entrar outra vez, me projetando em frente a ela.

Ninguém? Eu não sou ninguém 'pra você?!

Pergunto, encarando-a.

— Você é alguém 'pra mim, mas parece que não é recíproco!

Não é recíproco?! Camila, você enlouqueceu?!

— Saí da frente, Lauren! — Pediu, tentando driblar-me para entrar no carro. — Acabou!

— Acabou?

Durante cinco segundos, o mundo parou para mim. "Acabou"?! O que isso quer dizer?!

— Nós duas? Isso acabou?

Consegui perguntar, mas a Cabello não respondeu.

E céus, eu queria que ela respondesse. Queria que ela me xingasse, que ela me dissesse qualquer coisa; porque qualquer coisa doeria menos do que o silêncio que pairou no ar.

— Camz, por favor...

Insisti. Mas quando a conversa não continuou, precisei aceitar que aquela era a sua decisão. Então, dei um passo para o lado e lhe deixei entrar na camionete, equilibrando os meus pés sobre o meio-fio da calçada enquanto assistia Camila indo embora.

— Laur! — Veronica apareceu na parte de fora do colégio, seguida das outras meninas. — Você 'tá bem? Cadê a Mila?

— Ela já foi. — Enfiei as mãos nos bolsos, engolindo o bolo que se formava na minha garganta ao observar o carro prateado dobrando a esquina. — Você pode ligar 'pra ela, DJ?

— É claro que a Camila já foi. — Jane ironizou, levando o celular até a orelha. — Você agiu que nem uma idiota, Lauren!

— Eu só queria que aquela briga acabasse!

Porra, foi por impulso! Eu não tenho o direito de errar?!

— E aí a solução foi mandar a sua namorada calar a boca?!

— A sua amiga não é minha namorada, Dinah! Pode ter certeza disso!

— Meninas, chega! — Sofia exclamou, se intrometendo na discussão. — Vamos brigar até entre a gente agora?!

Oi, Chancho... — A loira começou a falar ao telefone, fazendo sinal para que ficássemos quietas. Respirei aliviada; a única pessoa na qual Camila minimamente escutava, era ela. E mesmo com tudo o que havia acontecido, eu realmente não queria que a líder voltasse sozinha. — Sim, já sei... Mila, volta 'pra cá que eu vou embora com você... 'tá aqui... ok, mas...

Dinah se afastou, de modo que nós não pudéssemos ouvir a chamada. Comecei a perceber que os alunos saíam da escola, parecendo chateados e frustrados. Pelo jeito, os professores encerraram a festa depois das discussões e das bebedeiras, já que a música havia parado e as luzes estavam acessas. Belo jeito de voltar a Winston City: destruindo a porra de uma festa. Vão caçar o meu pescoço!

— Jauregui! — Sadie cutucou o meu braço. — Acho melhor você e suas amigas irem embora, o pessoal 'tá irritado... desculpa por isso.

— Não é sua culpa, Sisi.

Balancei a cabeça, notando que muitas pessoas olhavam para cá; certamente colocando a culpa na gente pela noite de Halloween arruinada.

— Vem, Lauren, vamos logo. — Hailee falou e eu assenti, me despedindo de Sink.

— Peça desculpas à Isabella e Amandla por mim?

— Pode deixar.

No carro de Veronica, o clima era de enterro. Ao menos, eu sabia que Dinah estava com Camila, o que me tranquilava na mesma medida que me tirava do sério, afinal, nós planejamos uma noite inteira juntas e, agora, tudo acabou.

Porra, tudo acabou? Foi isso o que a Cabello quis dizer? Esse era o nosso último dia juntas antes de terminarmos?

Encostei a cabeça no vidro da janela e encarei a paisagem de Winston City, esperando que a familiaridade me trouxesse um pouco de conforto. Mas tudo o que eu conseguia sentir era frustração e enjoo. Muito enjoo. Caralho, eu não bebo nunca mais.

(...)

— LEVANTA, LAUREN MICHELLE!

As cortinas do meu quarto foram abertas num golpe cruel e brutal para os meus olhos claros e cansados. Rapidamente, escondi o rosto entre as cobertas, fugindo da queimação que se espalhou nas minhas orbes.

— JÁ CHEGA DE DORMIR!

Clara continuou gritando e, céus, o meu cérebro latejou junto com o resto do meu corpo. Era como se um caminhão tivesse passado por cima de mim, feito drift e dado ré umas dez vezes seguidas.

— Mãe, qual é... — Resmunguei, tentando agarrar-me ao cobertor, porém, a mais velha o arrancou da cama sem dó nem piedade. — Para com isso!

— O que aconteceu? — Ela questionou, levando as mãos até a cintura. — Você nem levantou 'pra correr hoje de manhã.

— Eu não quero correr... — Usei o antebraço para cobrir os olhos. — Eu não quero correr, não quero levantar, não quero fazer nada!

Desabafei, virando-me de barriga para baixo no colchão e enfiando o rosto no travesseiro. As lembranças da noite passada chegavam com tudo.

— Resumindo: a sua filha se embebedou ontem, Clara. — Harriet apareceu na porta do quarto para soltar a acusação. Droga, como ela sabe disso?! Vovó sequer viu o meu rosto! — Ficou doida, hein, Michelle? A sua avó e a sua mãe já não são um bom exemplo contra o álcool?

— Se embebedou? — A mais velha ergueu as sobrancelhas. — Lauren, você chegou bêbada da festa?!

— Clarinha, por favor, né? Você já viu muito bêbado nessa sua vida, é só olhar 'pra meliante! O mendigo bebum no final da rua 'tá mais sóbrio do que essa aí hoje!

Urgh! — Grunhi irritada, virando-me novamente e sentando sobre a cama. — Me deixem em paz!

A minha avó riu da minha desgraça, enquanto a minha mãe tocava o meu rosto, preocupada.

— Lauren, eu não acredito que você ficou bêbada!

— Mãe, foi sem querer... — Comecei a choramingar, buscando escapar de um provável castigo. Deus me puniu o suficiente ontem!

— Ah, sim, entendo, já vi alguns... — Harriet provocou. — Aconteceu comigo em 2003, fiiquei bêbada sem querer o verão inteiro. No resto dos verões foi por querer mesmo.

— Vovó! — Protestei, enfiando o rosto entre as mãos e gemendo frustrada. — Me desculpem, ok? Prometo que nunca mais faço isso. Essa é a pior sensação que eu já tive na vida!

Os meus olhos ardiam, os meus pés latejavam, a minha boca estava seca, a minha cabeça pulsava... era uma morte lenta e dolorosa. Não bebo nunca mais!

— Vamos, levanta! — Clara deu duas batidinhas no colchão, suspirando. — Conversaremos melhor depois que você tomar um banho.

Assenti com a cabeça e fui deixada sozinha no quarto. Ok, onde eu coloquei o meu celular?

Corri os olhos pelo lugar e encontrei uma peça de roupa em cada canto dele; a camiseta na cadeira, a calça no tapete e a cueca pendurada na maçaneta da porta. Seja lá como isso aconteceu!

Com muito esforço, fiquei de pé, indo até a calça e encontrando o meu iPhone dentro de um dos bolsos. Precisava ler as mensagens.

Veronica
Amiga, te amo
Você sabe que eu vou ficar do seu lado se quiser conversar
Entendo que tenha se irritado, a Mila foi bem desnecessária

Dinah
Só pra você saber, a Camila chegou bem, vamos dormir aqui em casa
Você sabe que eu gosto de você, mas você foi rude pra caralho com ela
Não passo a mão na cabeça dela, só que foi ridículo, Lauren

Normani
Oi, Laur! Fiquei sabendo do que aconteceu ontem
Tipo, eu não fiquei sabendo, a Dinah me contou
Tipo, não que a gente converse muito
Tipo, ew, não
Enfim, me explica melhor depois. Bjs!

Sadie
Ei, Laur-Laur
Só checando se você está bem?
Ontem não foi muito legal, desculpa pelo o que aconteceu

206-599-8538
Ei, Lauren, é a Isabella

Corri o dedo por todos os chats, buscando pelo único que me interessava naquele momento.

Camila
(Camila deletou uma mensagem)

Soltei um suspiro e desliguei o visor do celular, lançando-o para cima da cama. Lidaria com isso depois; agora, tomar um banho e beber um gole d'água eram uma questão de sobrevivência.

Quando saí do chuveiro, vesti uma roupa confortável e me dirigi à cozinha, basicamente tendo a caminhada da vergonha. Clara e Harriet manteram os seus braços cruzados e me encararam o percurso inteiro, com aquelas caras de quem jogaria tomate em mim.

— Oi... — Sentei na mesa, notando que a minha mãe havia servido o meu suco e cortado o meu bacon. Awn, ela ainda me ama...

— Olha aí, a mais nova bebum da família! — A matriarca anunciou, ganhando um olhar mortal por parte da filha. — As nossas vagas estão acabando!

— Laur-Laur... — Clara resolveu ignorar a sua mãe, mantendo-se calma, e eu bebi um gole de suco enquanto ouvia atentamente. — Sua avó e eu conversamos, e decidimos que não iríamos brigar com você. Apesar de ter sido uma atitude irresponsável, sei que você tem apenas dezessete anos, e que isso aconteceria uma hora ou outra. É normal na sua idade, mesmo que a gente já tenha conversado milhares de vezes sobre álcool, e sobre o que penso de você bebendo...

— 'Tá no sangue, não é? — Harriet se intrometeu e eu ri pelo nariz, negando com a cabeça.

— Na verdade, mãe, você está certa. — Aí uma coisa que a Dona Clara não dizia com frequência; graças a Deus! — Semana passada, no encontro dos Alcoólatras Anônimos, nós falamos sobre a tendência genética dos nossos filhos, e muitas pessoas de lá relataram que seus filhos também passaram por dependência alcoólica.

— Mãe, eu juro por Deus que não gosto de beber álcool. É sério! Eu gosto de Gatorade e... sei lá, batida de morango!

Não era mentira; até os chás gelados da Camila eram mais gostosos do que whisky.

Urgh. Camila...

— Eu sei que você nunca foi de beber, Lauren. Mas por que você bebeu, então?

— Eu só... — Deixei os ombros caírem, levando um pedaço de bacon até a boca. — Queria me enturmar com o pessoal de Deport, e pensei que seria divertido... não tive intenção de deixar as coisas saírem do controle.

— A sua namorada estava com você? — Clara perguntou. Certo, aparentemente, eu namoro e ninguém me contou. Ou, pelo menos, namorava a uma noite atrás. — Camila também bebeu? Te incentivou a beber? Lembro-me muito bem de tê-la alcoolizada debaixo do meu teto. E eu a adoro, mas...

— O quê? Não! A Camila sequer estava comigo quando eu bebi, muito menos me incentivou a fazer alguma coisa. — Expliquei, soltando um suspiro. — Ela não teve nada a ver com isso. E beber não foi bom, 'tá?! Me desculpem!

Dei de ombros, realmente arrependida. Não sabia qual era a pior parte disso tudo; a ressaca moral ou a física.

— Laur... — Minha mãe acariciou o meu antebraço, forçando um sorriso. — Erros acontecem, filha. E eu te desculpo por ter bebido, tudo bem?

— Tudo b- outch?! — Contrariando as suas palavras, ganhei um belo tapa no meio da nuca. — Mãe?!

— Na verdade, agora eu perdoo. — Ela sorriu, voltando a me fazer carinho. — Apenas prometa que não vai mais ir na onda de outras pessoas. Se eles sabem que você não gosta de algo e, mesmo assim, te induzem a fazê-lo, então não são seus amigos de verdade. Não que eu tire a sua responsabilidade disso, porque aposto que ninguém lá te amarrou e te obrigou a beber, não é?

— N...

— Não! Pois é! E como ficam os seus treinos? Você não levantou 'pra correr hoje, e com certeza não vai ter animação 'pra treinar à tarde. Acha que a treinadora Burnett gostaria disso? Logo no meio do campeonato?

— N...

— Não, né? Foi o que eu pensei! — A mais velha voltou a assumir uma pose de "mãe séria", deixando um pouco do seu carinho e compreensão de lado. — Agora, termine de comer, lave a louça e depois vá me ajudar a limpar o quintal. E eu não quero ouvir um piu negativo sobre isso, entendeu, Lauren Michelle?! — Apontou o seu indicador em minha direção, tendo-me quietinha na cadeira. — Também não quero saber de Camila, nem de Vero, e nem de ninguém nesse final de semana, ouviu bem?! Vai ficar de castigo!

Argh! — Harriet murmurou, jogando a cabeça para trás e bufando entediada. — Deixa a menina em paz! Se a sua avó tivesse sido chata desse jeito sempre que eu bebia, eu não teria virado alcoólatra. Seria sóbria igual a um crente!

— Não precisa se preocupar com a Camila vindo aqui, mãe. Nós... nós brigamos bastante ontem. — Engoli a seco, abaixando a cabeça. — Não sei se vamos nos resolver tão cedo.

— Não diga que... — Vovó Harriet levou a mão até o peito, soando preocupada. — Me segura, Clara...

— Vó! — Revirei os olhos. Era só o que me faltava: Cabello e eu discutimos, e quem tem um piripaque é a minha avó?! — Acho que ela quis terminar, sei lá...

— Brigas são normais, filha. — Minha mãe segurou a minha mão, usando aquela sua voz maternal para conversar comigo. — Vocês vão se acertar. Não foi nada demais, foi?

— Mais ou menos... — Suspirei, lembrando das palavras que proferimos uma contra a outra. — É que... às vezes, parece que o nosso namoro nunca vai dar certo.

Camila agiu de maneira mimada e a forma como ela desprezou Winston City e os alunos de Deport me tirou do sério. Coisa que, obviamente, não me dava o direito de mandá-la "calar a boca", e eu me arrependia para caramba de ter feito isso, com cada fibra do meu ser, porque lembrar do seu olhar chateado vindo ao encontro do meu estava matando-me por dentro.

E, céus, ela não "estragava" tudo. Eu não deveria ter dito essas coisas, e sei lá porque as disse. Nós duas estragamos a festa de Halloween.

Mas isso é motivo para a Cabello colocar um ponto final no que temos? Depois de prometermos que nada e nem ninguém atrapalharia a gente? Depois de assumirmos o quanto nós nos gostávamos e lutaríamos uma pela outra?

Porra, eu aceitei arriscar a minha bolsa de estudos pela Camila. Eu a desculpei na nossa primeira briga séria — quando ela assistiu ao Trent Ho Cho me desrespeitando —, e fiz cada uma das vontades dela. Eu fiz tudo por ela. Uma palavra errada apaga isso?! Sendo que ela errou também?!

— Laur-Laur, vocês duas sequer chegaram aos dezoito anos ainda, são adolescentes descobrindo sobre a vida. E eu te disse, no seu primeiro 'namorico', que relacionamentos são complicados. Ainda mais entre Camila e você, que vieram de mundos totalmente diferentes... — Seus dedos deslizaram pelos meus cabelos e eu senti a minha cabeça latejando mais e mais. Lembrar daquela briga piorava a dor. — Vocês ainda não têm maturidade 'pra isso, nenhum adolescente tem. É normal que se desentendam.

— Mas não faz sentido, sabe? — Tomei mais um gole do meu suco, tentando não ficar emotiva demais. — Eu gosto tanto dela. Por que é complicado?

— Querida, gostar não quer dizer nada. É importante, claro, mas não é tudo. Eu, como sua mãe, gostaria de afirmar que vocês duas vão se resolver, e que é muito fácil, só que não é assim que funciona. Por mim, você nem namoraria agora, porque precisa focar no atletismo e na faculdade. Mas eu adoro a Camila e sei que proibi-la não adiantaria... — Oh, não mesmo. Nem a madrasta psicopata dela adiantou. — O conselho que posso te dar no momento, é que vocês precisam respeitar uma à outra e saberem a hora de dar um tempo. Na adolescência, tudo é intenso demais.

Dar um tempo da namorada herdeira... — Minha avó resmungou, de braços cruzados. — Não me faça te agredir.

— Mãe, dinheiro nem sempre é tudo, sabia?! — Clara rebateu. — Camila tem dezesseis anos, Lauren tem dezessete... nem é idade 'pra começar um relacionamento sério!

— Por favor, Clara, com essa idade, eu 'tava tendo você! Lauren pode muito bem namorar uma milionária!

— Deus...

Empurrei o prato, descansando os braços sobre a mesa e escondendo a cabeça entre eles. Eu estou tão ferrada.

(...)

Grand Water, Califórnia
Earwood High School
Segunda-feira. 10:30

— Laur-Laur! — Veronica enlaçou o braço nos meus ombros. — Se isso aqui não te animar, não sei mais o que te animaria...

Minha melhor amiga me mostrou o seu celular. Estampado na tela, estava uma foto da estátua do busto do Diretor Romeu C. Litories, com um pequeno vandalismo feito com tinta spray em sua base:

"Diretor Clitóris"

— Meu Deus... — Soltei uma risadinha nasal, parando em frente ao bebedouro. — Não me diga que foi você que aprontou isso aí... — Curvei o meu corpo sobre ele, apertando o botão que liberava a água.

— Nunca... — Negou com a cabeça, não soando nada convincente. — Vamos lá, você não pode ficar nessa fossa 'pra sempre! Cadê a minha garota?

— Logo você falando de fossa, Vero? A menina que eu encontrei jogada no chão da sala, comendo um pote de sorvete inteiro sozinha, e ouvindo Olivia Rodrigo num volume definitivamente vergonhoso?

— Ei! — Ela deu um 'tapinha' no pequeno chafariz d'água, molhando o meu rosto. — Primeiro: você jurou que nunca mais falaríamos sobre isso. E segundo: é diferente, Jauregui! A Sofia olhou 'pra mim e falou que nós não éramos mais namoradas. Já você e A-Que-Não-Pode-Ser-Nomeada só tiveram uma briga numa festa, como sempre!

— Não foi "como sempre", Iglesias! — Fiz aspas com os dedos. — Ela disse que acabou! É quase a mesma coisa que a Sofia fez 'pra você!

— Deve ter sido da boca 'pra fora, Laur! Tente chamá-la 'pra conversar!

— E por que eu tenho que ir atrás?! Ela também errou!

— Porra, caralho! — Veronica exclamou, assustando-me um pouco. — Sabe de uma coisa? Você é uma cabeça-dura, a sua namorada é uma mimada, e uma merece a chatice da outra! Pronto, falei!

— Vero?!

Sequei os lábios com a manga do blazer do uniforme, levemente ofendida pelas palavras da morena. Qual é! Ela soltou isso como quem guardava uma coisa no peito há anos e pôde finalmente verbalizá-la.

— Ai, amiga, eu 'tô do seu lado 'pra sempre, mas, nossa, vocês duas não se ajudam!

Nós voltamos a caminhar pelo corredor, uma do lado da outra.

— Sei lá, Vero...

Abri a porta do meu armário, pegando a mochila e passando a separar os meus livros.

E é claro que a Cabello apareceu logo atrás de mim, se aproximando do seu próprio armário, que ficava na coluna em frente ao do meu.

Nós não trocamos nenhuma palavra desde a festa em Winston City. Obviamente, eu pensei em mandar alguma mensagem para ela no final de semana — já que fiquei de castigo e não pude sair de casa —, mas apaguei tudo o que escrevi. Nada parecia bom o suficiente — e eu estava cansado de ser a garota que sempre corria atrás.

Além disso, em que página nós nos encontrávamos agora? O que diabos significava "acabou"? A conversa acabou? A gente acabou?

Porque, se aquele era o nosso último dia juntas, eu merecia saber o porquê. Porra, Camila, eu merecia!

Soltei um suspiro pesado, esforçando-me para não encará-la demais, focada nas minhas próprias coisas. O cartão escrito à mão pela líder, muito bem guardado entre o meu amontoado de tralhas, encarou-me numa dolorosa lembrança de tudo dela que eu guardava dentro de mim. E, ao deslizar a ponta dos dedos pela sua caligrafia, eu soube que não seria uma briga idiota que colocaria um ponto final nas coisas que vivemos juntas.

Mesmo chateada pelas suas atitudes de princesa-herdeira prepotente, e pelas coisas escondidas de mim, não era justo que nós nos distanciássemos desse jeito. Ainda somos apaixonadas, não somos? Uma merece a chatice da outra. Essas coisas não mudam da noite para o dia.

Por isso, resolvi engolir o meu orgulho — como sempre — e falar com a Cabello.

Vamos lá, Lauren, você consegue. Já se humilhou por ela antes!

Dei dois passos em sua direção, respirando fundo, do mesmo jeito que fazia antes de entrar numa pista de corrida.

Porém, bastou essa pequena aproximação, para que Camila fechasse a porta do seu armário de maneira apressada e corresse até o 'grupinho' de líderes que se formava no corredor, tornando-se intocável para mim.

Entreabri levemente os lábios, frustrada. Então vai ser assim? Ela simplesmente vai fingir que eu não existo?

Antes que eu pudesse fazer qualquer outra coisa, o sinal tocou, e a grande onda de alunos levou Cabello para longe.

(...)

Dois dias se passaram.

Dois dias inteiros sem contato algum com a Camila.

Era um belo déjà vu da época em que a gente se conheceu; quando a mais nova me ignorava e me fazia de gato e sapato.

A nossa briga acabou abalando o grupo inteiro, já que Veronica, Normani e Hailee ficaram do meu lado, enquanto Dinah, Sofia e Allyson preferiram defender a amizade mais longeva. Apesar disso, nós continuamos andando juntas — quase sempre sem a presença da Cabello — e, aos poucos, o clima foi evoluindo. Não era justo que os problemas entre nós prejudicassem todo mundo.

Problemas esses que poderiam ser resolvidos, se ela simplesmente olhasse na minha cara uma única vez.

Eu decidi que não me humilharia pela sua atenção ou ficaria correndo atrás dela; não importava o quanto doesse. Clara não criou uma idiota completa, eu ainda tinha um resquício de dignidade guardado dentro de mim, e não o desperdiçaria tentando me resolver com alguém que não se esforçava de volta. É uma via de mão dupla, afinal.

Nesse meio-tempo, Camila almoçou com os seus outros amigos, não andou muito com o "nosso grupo" e sequer apareceu na cafeteria. Admito que era estranho não conversar com ela ou não saber o que ela andava fazendo. Através de Dinah, ouvi que a morena foi passar alguns dias na casa da sua avó, Blanche, por causa de uma briga com o pai, Alejandro, mas não ganhei mais detalhes sobre isso.

Às vezes, batucava a ponta dos dedos no meu celular e quase lhe enviava alguma mensagem checando o seu bem-estar, só que sempre acabava desistindo. Camila parecia bem longe de mim, e não fazia questão de esconder que estava me evitando; sempre que eu a olhava, ela desviava o rosto, e nem dava bola para as coisas que eu falava.

Minhas amigas diziam que Cabello estava chateada demais pela discussão, ou que talvez a briga com o pai tinha lhe deixado mal e por isso nós não havíamos conversado ainda. E eu me esforçava para acreditar nessas justificativas, ao mesmo tempo em que pensava que ela simplesmente não queria se acertar comigo.

Por isso, ao invés de me rastejar feito uma trouxa, dei um jeito de distrair a mente daqueles problemas.

— Lauren, vai devagar... — Sadie pediu, respirando ofegante.

— Você não aguenta, é? — Provoquei, erguendo as sobrancelhas.

— Claro que não aguenta. Ela é fracote! — Isabella também caçoou, empurrando a ruiva. — Se mova, Sink!

— Pelo amor de Deus, nenhum ser humano normal aguenta isso! — Ela resmungou, correndo para descansar as costas na primeira árvore que apareceu, enquanto levava as mãos até os joelhos, recuperando o fôlego perdido. — Vocês correm muito rápido, puta que pariu!

Sadie, Isabella e eu nos aproximamos mais nesses últimos dias, o que me ajudou a não perder totalmente a cabeça. Eu costumava descontar todas as minhas frustrações no atletismo, e ter amigas para correrem comigo era divertido.

Por outro lado, elas eram as únicas pessoas de Deport — e de Winston City — que queriam contato comigo, porque o resto estava me odiando. Eu era, sei lá, a ingrata que estragou a festa de Halloween.

— Isso que dá fumar todo dia, né? — Dei de ombros, cheia de energia. Poderia dar mais dez voltas no quarteirão e, ainda assim, não estaria cansada. A ansiedade andava me corroendo por dentro.

— Eu não fumo todo dia. — Sadie retrucou, ainda se recuperando. — E não quero ser atleta que nem vocês duas, ok? Só gosto dos pontos extras que a equipe me dá!

— Deixa de ser chata! — Dei um leve chute em sua canela. — Só mais uma volta e a gente para!

— Ah, n...

Sadie tentou negar, porém, já estava sendo arrastada por Isabella e eu.

— Vamos! Vamos! Vamos!

Batemos palmas em sintonia, rindo da cara de sofrimento expressada pela Sink antes de obrigar a si mesma a voltar a correr.

Vinte minutos depois, nós fomos parar na praça principal de Winston City, descansando sobre a grama fofa e levemente mal-cuidada do parque.

— Então, Laur... — A ruiva começou, cuidadosa, e eu soube que havia uma bomba à caminho. — Como estão as coisas com a herdeirinha?

Camila, Sisi. — Corrigi, assistindo-as revirarem os olhos. Digamos que, atualmente, nenhum morador de Winston City vá com a cara da princesa-herdeira de Grand Water. — E as coisas estão normais.

Desde que nos aproximamos outra vez, eu optei por ocultar o meu relacionamento complicado. Mesmo confiando nelas, Camila ainda não tinha se assumido para todo mundo, e... era difícil explicar, sei lá.

— Tem certeza? — Ferreira insistiu. — Porque nós duas apostamos que vocês namoravam.

— Bella!

Sadie lhe repreendeu.

— O quê? É verdade! — Deu de ombros, dando mais uma colherada no sorvete que havia comprado num pequeno carrinho do parque. — A gente ia perguntar depois do jogo em Earwood, mas eu 'tô curiosa e afim de ganhar cinco pratas.

— Eu não namoro a Cab... — Investiguei os arredores, em busca de algum enxerido que pudesse escutar a nossa conversa. — Eu não namoro a Cabello, ok?! — Consertei o tom de voz, falando mais baixo.

Ahá! — Isabella sorriu, estendendo a palma da mão em direção à garota ao lado. — Págame, mami!

— Para com isso! — Sadie bateu no seu pulso. — Não é sobre a aposta, é sobre você, Laur. Sei lá, a Cabello parece meio...

Fuera de la casita...

Isabella assobiou. Fue... o quê?

— Bella, ninguém está te entendendo!

Sadie reclamou.

Cállate, pandeja!

— Ei, "pandeja" eu entendo! — Apontei em sua direção. — Assisti María la del Barrio com a Vovó Harriet!

— Fica quieta, Isabella! — Sink sacudiu a cabeça e a outra bufou impaciente. — O que quero dizer, Laur, é que ela parece meio tóxica na sua vida, só isso.

— A Camila não é tóxica. — Afirmei, convicta. De certa forma, nós duas tomávamos atitudes erradas de vez em quando, mas não era como se existisse algum jeito de ter um relacionamento cem por cento saudável na adolescência. — Somos amigas, 'tá tudo certo.

— Se você diz... — Ergueu as mãos em um sinal de rendição. — Não 'tá mais aqui quem falou.

— Você vai ao jogo, Jauregui?

Semana que vem, acontecerá a tão aguardada partida de futebol americano entre Earwood e Deport. Ou melhor, entre Grand Water e Winston City.

— Não sei... — Suspirei, arrancando alguns pedacinhos de grama da terra. Eu esperava que, até lá, Camila e eu estivéssemos bem outra vez, para que eu pudesse curtir a sua apresentação em paz. — Talvez. Vocês vão?

— Acho que sim. — Respondeu Sadie. — Algo me diz que essa partida vai dar o que falar.

De fato, tinha tudo para acabar mal...

(...)

Grand Water, Califórnia
Earwood High School
Quinta-feira. 02:20 PM

— Boa tarde, alunos! — Sra. López soprou o apito pendurado em seu pescoço. — Peço a atenção de todos vocês! Como já devem saber, um dos nossos professores de educação física, o Sr. Shedden, passou por alguns problemas pessoais recentemente, e está afastado da escola.

Coitado, levou um chifre e enlouqueceu. — Normani sussurrou para mim. Nenhum acontecimento dessa cidade fugia dos ouvidos da co-capitã. — A esposa dele preferiu ficar com a professora de ginástica, acredita?!

Mani, deixe de ser fofoqueira.

Eu não estou fofocando, querida. Estou repassando a informação!

— Kordei, Jauregui, silêncio, por favor! — Sra. López nos repreendeu e eu rapidamente ajeitei a minha postura, me desculpando pelo inconveniente. — A partir de hoje, nós teremos algumas atividades em conjunto com as turmas dele, enquanto não contratam um professor substituto.

Sinceramente? Eu não poderia ligar menos para essa aula.

Amanhã, faria uma semana desde que Camila e eu paramos de conversar. E eu estava começando a aceitar que, se não fosse atrás dela igual a um cachorrinho sem dono, nós não voltaríamos a nos falar tão cedo; e não entendia o porquê de a mais nova estar tão irritada comigo.

Quer dizer, eu também tinha bons motivos para desejá-la longe de mim, mas sentia a sua falta literalmente o tempo inteiro. Ontem à noite, fiquei até tarde relendo as nossas conversas e olhando as fotos que tiramos na casa dela.

Porra, eu só queria saber como consertar as coisas. No final, é tudo culpa minha? Ela não sente saudades de mim também? Não podemos nos acertar?

— Lauren, não surta... — Normani se aproximou para falar no meu ouvido. — Mas a Mila 'tá vindo.

Ótimo! Era o que eu precisava: uma hora encarando a Camila e o seu ódio por mim.

— Droga... — Resmunguei comigo mesma, observando-a caminhar pelo ginásio de Earwood ao lado de Eloise Cooper, Peyton Mullins e o restante da sua turma. — Achei que ela inventava desculpas 'pra pular as aulas de educação física, que nem você.

— Jauregui, olha o tamanho das minhas unhas. Eu não vou segurar bola nenhuma. — Kordei deu de ombros. — Inclusive, com licença, preciso ir mentir 'pra Sra. López que estou com problemas femininos.

De primeira, Cabello não percebeu a minha presença ali, entretanto, eu não fazia questão alguma de ser vista por ela, porque a princesa-herdeira com certeza me ignoraria outra vez, e aquilo doía como o inferno.

— Vamos lá, comecem dando voltas 'pra se aquecerem! — A professora soprou o apito outra vez. — Quero ver vocês se movimentando!

Soltei um suspiro e comecei a correr pela quadra. Camila, obviamente, se opôs à ideia de dar as voltas, e eu acabei sendo notada ao passar na frente do trio de líderes de torcida sentadas no banco.

— LJ! — Eloise fez o favor de exclamar. Droga!

— Ei... — Diminui a velocidade dos meus passos até alcançá-las. — E aí, meninas.

— Oi, Winston!

Até mesmo Peyton foi "educada" — entre muitas, muitas aspas — comigo, e a Cabello seguiu me ignorando.

Era um sinal para eu ficar na minha? Com certeza. Mas não me contentei com a sua indiferença e resolvi ir atrás da humilhação.

— Ahm... Camila... — Engoli a seco, tentando soar firme, mas parecendo um gatinho indefeso. — Você quer... correr?

Disse a primeira coisa que veio na minha cabeça.

— Nah.

Ela sequer se deu o trabalho de olhar para mim enquanto falava, mais concentrada em prender os seus cabelos em um rabo-de-cavalo.

Juntando toda a coragem e paciência que guardava dentro de mim, insisti: — Pensei que a gente po...

— Eu não quero, Jauregui.

Foi curta e grossa comigo, cortando-me no meio da frase.

Naquele instante, o meu sangue começou a ferver.

Alguns dias atrás, ela chorava ao se dizer apaixonada por mim, e agora eu não sou ninguém na sua vida? Camila só vai colocar um oceano entre a gente e esperar que eu lide com isso? Sem sequer me dar a porra de um encerramento decente?

— Muito bem! — Sra. López bateu palmas, interrompendo o aquecimento. — Hoje, nós vamos jogar queimada! A turma está grande, por isso, irei separá-los em quatro equipes, e trocar alguns alunos quando necessário! Jauregui, você é a capitã da equipe número um! — É claro que a professora diria o meu nome em alto e bom som, levando a atenção de todos até mim, inclusive a de Camila. — Pode escolher dez colegas, e vocês vestirão os coletes verdes!

— Certo, Sra. López. — Assenti, parando no meio da quadra. — Eu escolho a Angela, a Suzy... — Comecei pelas meninas da equipe de atletismo, sabendo que elas seriam boas. — O Rick, o Steve... — Corri os olhos pelos alunos, listando aqueles que me pareciam mais habilidosos. Digamos que eu era competitiva e gostava de ganhar, mesmo quando as competições não valiam nada.

E, quando faltava apenas um aluno para completar o meu time, eu tomei uma decisão idiota e infantil, encarando Cabello no fundo dos seus olhos antes de dizer: — Eloise Cooper.

A capitã sorriu animada, correndo até mim. A outra líder não esboçou nenhuma reação; somente virou-se de costas e voltou a se sentar no banco, séria.

Eu não queria irritá-la ou chateá-la, só queria a droga de uma conversa! E parecia que a única forma de conseguir isso dela, era mexendo com aquilo que ela mais prezava: o seu ego.

Desde as nossas primeiras brigas, Camila só aceitou conversar comigo quando me impus e abalei a sua egomania. O que era injusto, afinal, nós estávamos juntas, e deveríamos conversar sobre as coisas sem que eu precisasse montar esses planos e esquemas.

Urgh!

A primeira partida de queimada começou, com a equipe de número, liderada por mim, enfrentando a equipe de número três, liderada pelo Miles Farley.

Se eu já estava com fogo nos olhos antes, quando vi o capitão dos Hawks do outro lado da quadra, apertei as mãos em punhos, focada em vencê-lo. Sentia um ódio genuíno daquele engomadinho que cercava a Camila sem parar, ainda mais depois do leilão silencioso e do jantar. Além disso, ele se divertiu com as provocações contra Winston City, e fez um 'discursinho' ridículo chamando os alunos de Deport de "perdedores".

Sra. López apitou e as bolas começaram a sobrevoar a quadra. O meu primeiro alvo foi o Eric Flowers, no qual não fez questão nenhuma de desviar da bolada, agradecendo-me quando o eliminei do jogo. Matt Dolan, do time de basquete, tentou me atingir, mas eu fui mais rápida e consegui me esquivar. Graças às corridas com barreiras, o meu reflexo era ótimo.

Não demorou muito para que sobrassem poucas pessoas em cada time, incluindo Miles e eu. A equipe de número três estava em maior número, rindo e sorrindo para a gente, como se já tivessem ganhado a partida. Consegui eliminar mais um e me concentrei em desviar da bolada de Jackson Hill, o braço direito do Trent Ho Cho.

Sra. Burnett, a treinadora de atletismo, sempre nos ensinou que a maneira mais fácil de perder era subestimando os nossos adversários. E, quando sobrou apenas Angela, Suzy e eu na equipe, os garotos do outro lado da quadra começaram a nos provocar, duvidando da capacidade de três garotas do atletismo de ganharem de quatro jogadores de futebol americano.

Até que Suzy conseguiu eliminar o tackle, Jason — que deixou a quadra explodindo de ódio — e equilibrou os números dos times.

A partir dali, os Hawks pararam com as gracinhas, e eu até mesmo consegui ouvir Jackson dizendo que eles deveriam "acabar logo com aquilo".

Imaginem o sorriso que abri ao vê-lo sendo eliminado por uma bola de Angela, passando de raspão pelo seu braço.

Porém, o tight end do time de futebol, Cole, eliminou-a logo depois..

Não tive tempo de olhá-la, pois precisei pular para desviar de uma bola arremessada pelo Miles, no qual pareceu focar em me tirar do jogo. E, céus, eu preferia que o Diabo subisse aqui na Terra e me desse uma bolada, do que perder para esse loiro almofadinha.

— Você é boa, Lauren. — Ele provocou, esquivando-se da bola vermelha que joguei em sua direção.

Do nosso lado, Cole e Suzy conseguiram a proeza de se eliminarem ao mesmo tempo, um acertando o outro. Ou seja, sobrou somente Farley e eu.

O capitão sorriu daquele jeito presunçoso, fingindo que arremessaria a bola apenas para rir quando fiz menção em me mover. Por sorte, o meu psicológico em competições não era ruim, e eu havia aprendido a não "pegar pilha" dentro das pistas.

Ele tentou me acertar outra vez e eu joguei o corpo para o lado, fugindo sem grandes esforços.

— Você também é muito bom.

Dei de ombros, tentando não deixar claro se aquilo era uma provocação ou não. E errei aquele loiro oxigenado outra vez. Droga!

Miles era mais ágil do que eu pegando as bolas do chão, e conseguia arremessá-las mais rápido e com mais força, mas eu era melhor do que ele correndo e desviando das queimadas. O que não me adiantava muito, porque não conseguia devolvê-las, e comecei a aceitar que perderia para o Chad Dylan Cooper.

Até pegá-lo direcionando o olhar aos bancos. Exatamente onde a Cabello lixava as suas unhas.

Foi como se alguém tivesse segurado os meus ombros e começado a me motivar, como faziam com os lutadores de boxe quando eles saíam dos ringues entre um round e outro. Quem esse filha da puta pensava que era para ficar encarando ela na minha frente igual a um maldito psicopata?!

Não. Não mesmo.

Respirei fundo e joguei a bola em sua direção com toda a força que eu tinha, errando por um triz; e Farley ficou a um fio de me acertar quando lançou-a de volta.

— Medo de perder?

O jogador voltou a provocar, me encarando.

— Acho que você que 'tá tentando demais.

Sequei a camada fina de suor que cobria a minha testa. Mais uma vez, eu usava o ego de alguém ao meu favor.

— Farley, Jauregui, parem! — Sra. López pediu do lado de fora da quadra. — Sem provocações!

Miles tentou me acertar de novo, sem esperar um segundo antes de jogar outra bola, e só Deus sabe como eu escapei.

— Não era 'pra ser fácil, Farley?

Ignorei as orientações da professora, vendo o ódio crescendo nos olhos de Miles, que perdia a paciência comigo.

Passei a usar a sua própria idiotice contra ele mesmo. O quarterback começou a lançar as bolas de qualquer jeito, irritado, tentando ganhar a todo custo.

E foi assim que ele perdeu para mim, lançando-me uma bola desajeitada, que agarrei sem deixá-la atingir-me no peito.

— A equipe um venceu! — A professora apitou. Isso, porra!

Abri um sorriso convencido enquanto assistia Miles deixando a quadra soltando fogo pelas narinas. Obviamente, ele foi zoado pelos colegas por ter perdido para uma garota, e eu precisei me controlar para não mandá-los para a puta que pariu.

— Boa, LJ! — Eloise tocou levemente no meu braço assim que deixei a quadra do ginásio. Nem lhe vi sendo eliminada. — Foi mal, eu saí logo no começo.

— Nah, tudo bem. — Sorri, trocando toques de mãos com os outros participantes da equipe que montei.

Camila continuou sentada nos bancos do ginásio, cuidando das próprias unhas sem se preocupar com o mundo ao seu redor. Porém, eu a conhecia como ninguém, e conhecia a maneira como ela franzia as sobrancelhas quando estava irritada.

Era a sua vez de jogar, e Sra. López logo chamou a atenção dela: — Cabello, venha pegar o colete!

A mais nova levantou calmamente, caminhando em direção à mais velha e dizendo: — Eu? Usar isso aí? Nem morta, obrigada.

Fitou com nojo a caixa dos coletes vermelhos.

— Todos os seus colegas estão usando, Srta. Cabello.

— Esse é o problema, Sra. López.

Deu de ombros, entrando na quadra sem colete algum. E é claro que a professora não teve colhões para questionar a Miss Grand Water, deixando-a fazer o que bem entendesse, como a boa garotinha mimada que era. Todo mundo aqui estendia um tapete vermelho para a integrante da dinastia Cabello passar.

Era por isso que ela estava tão acostumada a tratar os outros feito mosquinhas irritantes em volta de si, e descartar quem não prestava mais.

— Sra. López, eu tenho problema no joelho! — Normani seguia tentando escapar da aula de educação física.

— Srta. Kordei, você é uma líder de torcida. — A mulher rebateu.

— É, mas eu não uso o meu joelho nisso. Uso a beleza! — Explicou como se fosse óbvio, a ponto de suplicar para não entrar em quadra. — Coloca a Lauren no meu lugar! Ela tem que treinar essas pernas brancas! Earwood precisa disso!

Outch?

— Certo, Kordei! — A professora suspirou derrotada. — Você pode se sentar. Jauregui, quer entrar no lugar da sua amiga?

— Claro... — Arranquei o colete verde do meu corpo, substituindo-o pelo azul alcançado pela co-capitã das líderes.

A Cabello já estava do outro lado da quadra, posicionada o mais longe possível da linha que a dividia em duas. Ela se escondeu atrás do jogador de basquete e talvez-ex-namorado de Normani, Chad Koldyke, e ali ficou até o jogo começar.

Parecia brincadeira, mas ninguém tentava acertar a princesa-herdeira. De certo, eles pensavam que ela os expulsaria das mesas do refeitório, ou escreveria os seus nomes no livro do arraso.

— O objetivo da queimada é jogar as bolas, Srta. Cabello!

A Sra. López até tentava incentivá-la, mas a morena sequer se movia, entediada quase no final da quadra.

Uma bola veio girando pelo chão, parando no meu pé, e eu resolvi usá-la para tentar acertar o Chad, rindo com o jogador.

O problema foi que o maldito resolveu se abaixar, e a bola acabou indo em direção à última garota que eu deveria provocar naquela escola.

Não, não, não...

Por sorte, ela passou de raspão pela Camila. Entretanto, a morena ergueu um olhar mortal até mim, como se eu tivesse feito alguma coisa de propósito!

Em resposta, sorri nervosamente, movendo os lábios em um pedido silencioso de desculpas.

Entretanto, aquilo não foi suficiente.

Cabello pegou a primeira bola que encontrou no chão e marchou pela quadra, pouco se importando com as regras da brincadeira. Ao redor da líder, todo mundo paralisou, observando-a depositar todo o seu ódio em passos pesados no piso do ginásio. Ódio esse que tinha endereço marcado: eu.

Congelei sobre os meus pés, engolindo à seco. Ela desrespeitou os limites da quadra e nos deixou frente à frente.

— Ca...

Tentei explicar o mal-entendido, porém, fui calada por uma bolada à queima roupa no meu abdômen. Mas que p...

— Vai se foder, Lauren! — Gritou em alto e bom som.

— Ei! Ei! Ei! — A professora apitou seguidas vezes, intervindo na discussão. — Cabello, Jauregui, vocês estão expulsas! Quero as duas na vice-diretoria!

— O quê?! — Minha voz escapou esganiçada. — O que eu fiz?!

Merda! Não posso me envolver em mais confusões e brigas! A Sra. Woodward vai acabar com a minha ficha estudantil!

— Srta. Jauregui, por favor! — Sra. López me interrompeu. — Saia. Agora!

Camila forçou um sorriso, virando-se de costas. Soltei um suspiro pesado e comecei a caminhar, arrancando o colete do meu tronco e jogando a peça em qualquer canto do chão.

Afinal, era fácil para a Cabello: ela podia fazer o que quisesse em Earwood. E eu? Eu que me fodesse!

O nosso caminho até a sala de espera da vice-diretora foi silencioso. Quando chegamos, a secretária nos informou que ela estava em reunião, mas nós poderíamos entrar para aguardá-la.

A mais nova sentou-se sobre a poltrona em frente à mesa e eu fiquei no sofá, ajeitando a postura enquanto batucava os pés no chão de maneira preocupada. Não queria prejudicar ainda mais a minha bolsa. Porra, eu não podia sair por aí arranjando mais motivos para eles me detestarem!

— Isso é ridículo! — Camila ficou de pé depois de nem mesmo dois minutos sentada. — Eu não vou ficar aqui esperando que nem idiota!

— Sim, você vai! — Rebati, cruzando os braços. — Eu não comecei essa confusão sozinha! Na verdade, não comecei confusão nenhuma, foi você que fez isso!

— Que seja, Jauregui! Eu converso com a vice-diretora Woodward depois!

— Não, Camila! — Esbrajevei, de saco cheio daquilo. — O seu sobrenome resolve as coisas 'pra você, mas eu não vou aceitar me foder sozinha, então não seja uma mimada irritante pela primeira vez na sua vida e sente aí!

— Você é tão babaca, Lauren, puta que pariu!

Ouvir aquilo fez o meu sangue voltar a ferver.

— Eu sou babaca? Eu? Você 'tá há seis dias sem olhar na porra da minha cara direito, e a babaca sou eu?! Faz seis dias que você me trata que nem merda!

— Você sabe o porquê! — Ela exclamou, caminhando em direção a mim. — Não se faça de coitada aqui! Foi você que me desmoralizou na frente de todo mundo!

— Eu sei disso, e te pedi desculpas, não pedi?! O que mais posso fazer?! Ajoelhar-me em frente à princesa-herdeira e implorar por misericórdia?! Enfiar uma estaca no meu peito?! — Zombei, revirando os olhos. — Nem pense nisso, porque eu não vou mais me humilhar aos seus pés! Aliás, você pediu desculpas pelas coisas que falou?! Ou melhor, você ao menos viu algo de errado naqueles seus discursos sobre Winston City?! Literalmente menosprezando uma cidade inteira por se sentir superior as pessoas de lá?! Chamando todo mundo de caipirinhas insignificantes?!

— Eu fiz isso porque estava irritada com as provocações daquelas garotas, e você sequer estava ao meu lado para me defender! Você me trocou, Lauren!

Puta que pariu...

— Eu não tive intenção alguma de te machucar ou de te trocar, só queria me divertir com o pessoal de Winston! Coisa que eu quase nunca faço quando te acompanho nas suas festas! — Levantei do sofá, ficando de frente para ela. — Você não passou nem um por cento das coisas que eu já passei nesses lugares! Tinham garotas "te olhando torto"?! É uma merda, eu sei, porque é assim que os seus amiguinhos me olham! Isso quando não estão me ameaçando ou tentando me bater!

— Eles não são o seu pessoal! Lauren, qual deles se importou com você quando você se mudou?! Eu duvido muito que alguém tenha te ligado! — Camila fechou os olhos, negando com a cabeça. — E eu não sei lidar com provocações, ok?! Me desculpa se você está acostumada com essas merdas e, sei lá, tem sangue de barata, mas eu não consigo!

"Sangue de barata", sério?!

— Eu não tenho "sangue de barata", Cabello, somente não nasci com os seus privilégios e com essa sua mentalidade mimada! Você sabe muito bem que sempre me abandonava nas festas! E algum dia eu esperneei por não ser o "centro do seu universo"?!

— Nunca foi escolha minha sair do seu lado! Por mim, eu teria ficado com você durante cada maldito minuto, sua idiota! Se eu pudesse, você seria a porra do centro do meu universo!

— Você sempre foi o centro do meu! — Segurei-a pelos pulsos, impedindo-a de se afastar. — Não tem ninguém que eu me importe mais do que me importo com você!

— Não foi o que pareceu! — Camila puxou os braços e eu rapidamente a soltei.

— Eu errei, Camila! Sei que errei e fui uma escrota! Mas é algo que você não pode perdoar?! — Soltei um suspiro, encarando-a no fundo dos seus olhos castanhos, que piscavam rapidamente. — Porra, eu já te perdoei muitas vezes! Até quando você ficou quieta assistindo aos seus amigos me humilharem, eu perdoei você!

— Não é exatamente perdoar quando você insiste em vir aqui e jogar na minha cara!

— Eu não estou jogando na sua cara, só estou te lembrando das coisas que fiz por você, e você não é capaz de fazer por mim!

— Não tente virar o jogo dessa maneira! Lauren, mesmo na briga da cafeteria, eu fui atrás de você! Eu fiquei do seu lado em todas as discussões! Isso você não foi capaz de fazer por mim!

— Eu fui atrás de você também! Não concordava com o que você estava dizendo, e nem com a maneira como estava agindo, mas eu fui! E, adivinha?! Você tentou terminar comigo! — Ri sem humor. — Caralho, Camila, se erros pesassem tanto assim, eu já teria terminado com você há muito tempo!

— Então termina, Lauren!

Cabello gritou. Seu peito subia e descia rapidamente graças à respiração descompensada, e eu podia sentí-la batendo contra o meu rosto.

— O quê?! — Franzi o cenho, incrédula. — Não! Não bote esse peso nos meus ombros! É por isso que você não quer falar comigo?! Não tem coragem de olhar na minha cara e terminar?! — Questionei, séria, assistindo-a desviar o olhar para um ponto qualquer da sala. — Se terminarmos por causa dessa briga idiota, é escolha sua! Estará na sua conta!

— Não é sobre a briga! — Camila rapidamente voltou a falar.

— Então me conta sobre o que é, porque eu não posso adivinhar sozinha! Diga logo os seus motivos, já que é sempre tudo sobre você!

— EU SEI DISSO! — Me assustei com a maneira como a morena esbravejou, levando as mãos até os seus cabelos e prendendo os fios entre os dedos, respirando fundo. — Eu sei que é sobre mim, e eu sei que a culpa é minha! Você deixou bem claro que eu estrago tudo!

— Camila... — Encostei em seus antebraços, temendo que ela acabasse machucando a si mesma pela força com que puxava as suas próprias madeixas. — Não faz assim...

Permiti que a minha guarda abaixasse, descansando as mãos sobre as suas e lhe incentivando a afastá-las dos seus cabelos.

— Lauren... — Cabello olhou dentro dos meus olhos, e aquilo foi a pior coisa que ela poderia ter feito comigo. — Me deixa...

— Nós podemos nos resolver, não podemos? — Uma ansiedade desesperadora tomou conta do meu peito. Eu sabia que, quando ela pedisse para nos afastarmos olhando-me nos olhos, a guerra estaria perdida. — Me desculpa por gritar com você...— Mordi o lábio inferior, sentindo-o começando a tremer. — E me desculpa por ser babaca, e por jogar as coisas na sua cara e... eu... eu tento t-tanto...

Levei a mão esquerda até o seu rosto, segurando-o de maneira terna, como se aquilo fosse lhe manter comigo.

— Eu sei... — Camila esfregou a bochecha na minha palma, fechando os olhos. — Eu sei, Laur...

— Camz, não faz isso... — Agarrei o seu rosto entre as mãos, encostando a testa na dela. — Eu juro que vou mudar. Meu Deus, eu faço qualquer coisa por você! — Uma lágrima solitária escorreu pela minha bochecha assim que a minha ficha começou a cair, seguida de outra, e de outra... eu não lembrava da última vez em que havia entrado em prantos daquele jeito, na frente de alguém, sentindo-me sufocada por dentro. — P-Por favor, eu não quero ficar sem você...

— Me desculpa... — Ela engoliu a seco, tentando secar as minhas lágrimas com os polegares. É só isso o que Camila tem para me dizer? Desculpa? — Eu juro que não é sobre a discussão no Halloween, eu tenho pensado e... e não consigo ver como isso pode dar certo... é melhor que a gente termine antes que... alguém saia muito machucado...

— Tudo bem.

— Não, Laur, não 'tá tud...

— Tudo bem, Camila! — Esbravejei, cortando-a.

— Eu juro por Deus que queria que fosse diferente.

Ela tentou se aproximar de novo, e eu dei um passo para trás.

— Só use os seus poderes de Cabello e nos tire dessa. Me tire dessa, porque a minha ficha não precisa de outro aviso.

Pedi, soltando um suspiro antes de me dirigir até a porta, deixando-a sozinha lá dentro. Precisava sair dali o mais rápido possível.

No fundo, eu sabia que isso iria acontecer uma hora ou outra. Não era um mistério; Camila sempre seria a Cabello e eu não cabia no mundo dourado dela. A sua madrasta me detestava, o seu pai provavelmente não me aceitaria também, assim como a sua avó e os seus outros amigos... no final, nós estávamos apenas adiando o inadiável.

E, porra, eu tentei. Eu fiz de tudo por ela. O que posso fazer além disso?

Fugi para o banheiro de Earwood e joguei água no rosto, tentando manter-me calma. Não podia perder a cabeça naquele momento; precisava treinar e, depois da aula, tinha que trabalhar.

Coisas que, obviamente, não deram certo.

No treino, fui expulsa pela treinadora Burnett quando lhe irritei com a minha lerdeza. Na Funky's House, troquei pedidos, quebrei um copo e acabei dispensada mais cedo pelo Jamal.

Não conseguia pensar em nada. Somente em Camila.

Calcei os tênis de corrida e me despedi dos meus colegas de trabalho, decidindo que correria até a minha casa. Coloquei os fones de ouvido e escolhi o rock mais barulhento da minha playlist, torcendo para que aquilo calasse os meus pensamentos.

O que não funcionou. Nada funcionaria.

Não sei como fui idiota o suficiente de acreditar que ela era apaixonada por mim de verdade. Se fosse, nós passaríamos por tudo isso juntas, não passaríamos? Ceús, eu ficaria do lado dela mesmo se essa cidade inteira se voltasse contra a gente!

É só que... em Winston City, enquanto bebia com aquelas pessoas e elas riam em volta de mim, eu não me senti realmente pertencente. No começo, parecia que era o lugar ideal, onde eu conseguiria ser alguém de verdade. Não era Grand Water! Era a minha cidade! Eu nasci lá e os alunos de Deport compartilhavam da mesma realidade que a minha, e entendiam as coisas pelas quais eu passava! Eles eram como eu!

Entretanto, todo mundo que falou comigo, só estava interessado pelo "meu carro" e pela minha vida em Grand Water. Era superficial e estúpido. Ninguém queria me incluir ou fazer com que eu me sentisse bem. Fui idiota de gastar o meu tempo jogando com eles e tentando fazer parte de Winston.

Eu não faço parte de lugar algum. Não me sinto bem aqui e não me sinto bem lá.

Porém, ainda me restava Camila. Eu pensava que teria um lugar do lado dela. E agora... não tenho mais ela comigo.

As lágrimas foram caindo conforme eu corria pelo asfalto, observando o céu dourado dando adeus ao sol. Ajeitei o meu moletom e dobrei a rua, correndo mais rápido à medida que a minha frustração aumentava.

Porra, é assim que acaba?

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