O espírito da Agua

By Gabriel_Todero

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Henrique (Henry) Aznik perdeu seu avô com quem tinha muito convivio recentemente e herdou dele um colar miste... More

Capítulo 1: O menino, o colar e o cachorro
Capítulo 2: A garota, um gato e meu professor de história
Capítulo 3: A garota da casa ao lado

CAPÍTULO 4 - VERDADES E CONVITE

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By Gabriel_Todero


Meu quarto estava bastante escuro exceto, pelo filete de luz prateada que vinha da lua pela janela com as cortinas entreabertas, abri lentamente meus olhos pois achei ter ouvido um som vindo da minha janela, notei que ela estava abrindo lentamente e por ela entrou algo que era pequeno demais para ser uma pessoa, era algo como um pequeno macaco, mas também não era um macaco, tinha orelhas pontudas e finas, pelos que me pareceram verdes e olhos vermelhos brilhantes, ele desceu da janela e foi sorrateiramente até a mesinha onde eu havia deixado o colar ao lado do computador, eu não sabia se estava sonhando ou não mas quando ele tocou o colar eu tive uma sensação ruim e me levantei assustando a pequena criatura

—PARADO

—UGUHARU?

Ele balbuciou algo e tentou correr com o colar nas mãos, mas felizmente o Fuu nesse momento apareceu no quarto e saltou na sua forma original sobre ele que se desviou e saltando pela janela pulou o muro e saiu correndo, peguei meu colar que ele havia deixado cair quando desviou e pulamos atrás dele, pensando agora era a segunda vez que eu saia pela janela em uma semana, esperava que isso não virasse um padrão

Corremos até a rua, mas ela estava deserta como se nada estivesse saído por lá

Fuu farejava o ar como se o cheiro tivesse sumido também

-Ei Fuu

-Diga, garoto. – Ele falou ao sentar-se no chão para me encarar. 

- O que era aquilo? – eu perguntei tentando fazer parecer que era a coisa mais normal do mundo. 

-Aquilo? – ele fez uma cara como se estivesse pensando sobre o assunto nem eu sabia que cães conseguiam fazer esse tipo de cara, mas logo ele recomeçou 

- Bem..., aquilo eu não faço a mínima ideia do que seja, mas pelo cheiro não era coisa boa, de toda a forma vamos voltar para dentro sua mãe vai ter um ataque se vir nos dois aqui fora.  

Ele estava certo, a mamãe era muito gentil, mas também era assustadora quando ficava brava. Entramos e eu me certifiquei de que as janelas estavam bem fechadas, dessa vez deixei meu colar em meu pescoço só por garantia

Pensei em falar com Fuu mas ele já tinha ido dormir novamente, na sala ainda parecia querer me evitar por algum motivo.

Era de manhã eu me levantei, tirei meu pijama e coloquei uma bermuda preta com camiseta azul escuro, sai do meu quarto e fui tomar café quando minha mãe saiu do quarto e me pediu para buscar o pão para o café, geralmente meu pai buscava, mas ele precisou ir para o trabalho algo sobre alguns materiais que sumiram da construção, pensei em tentar falar com o Fuu mas possivelmente ele me ignoraria ainda.

No caminho eu notei que havia algumas pessoas nas calçadas conversando

—Não acredito, Leontina a aliança que meu falecido esposo me deu quando nos casamos sumiu- Disse uma senhora de cabelos brancos varrendo a calçada

—Então Maria, os nossos utensílios de prata que herdei dos meus pais também desapareceu –Disse a outra senhora

Caminhei mais um pouco e então ouvi o choro de uma criança

— BUAAAAA MEU CARRINHO SUMIU, MAMAE EU QUERO MEU CARRINHO

—Você deve ter perdido ele, PARE DE CHORAR

Era estranho o bairro era calmo, nunca houve problemas assim por aqui, no máximo uma ou outra discussão de vizinhos, mas isso era normal considerando como as pessoas odeiam admitir quando estão erradas, então resolvi pergunta para o Fu quando chegasse em casa, afinal talvez tivesse algo a ver com aquele incidente da madrugada.

Caminhei até a padaria do seu Paulo que ficava perto de casa, ele era um senhor muito gentil, tinha cabelos grisalhos óculos de fundo de garrafa, sempre usava uma camiseta de botões com gola dobrada, atendia a todos com um sorriso no rosto, mas nesse dia ele tinha um ar muito tristonho

-Bom dia seu Paulo, aconteceu alguma coisa? gostaria de levar 5 pães

Ele demorou alguns instantes para notar que eu estava ali, mas tentou abrir um sorriso gentil como o de costume

-Bom dia Henry, tudo bem sim, apenas acho que eu esteja ficando muito velho

-Que isso, eu não diria que o senhor tem mais de 45

Ele deu uma risada fraca

-Eu acho que perdi o relógio que ganhei do meu pai, uso ele a 40 anos foi o último presente que ele me deu, mas tudo bem eu devo ter guardado em algum lugar minha cabeça já não é mais a mesma sabe, aqui seus pães.

—Muito obrigado, até mais

— Volte sempre

Me senti mal por ele, entendo como é ter um objeto de valor sentimental. Enquanto caminhava pela rua mais pessoas se queijando de que haviam perdido objetos.

Voltei para casa trazendo os pães, tomei meu café normalmente, arrumamos a mesa e fui pegar meu celular no meu quarto, quando resolvi olhar as horas eram 8:30

—Acho que ela deve estar lá na praça uma hora dessas.... vou lá

Disse a minha mãe que iria dar uma caminhada após o café para animar um pouco e ela me mandou tomar cuidado com a rua, sai deixando o Fuu em casa, ele ainda dormia como uma pedra de qualquer forma

Cheguei na praça em alguns minutos, era uma praça comum dessa com áreas gramadas, algumas arvores, bancos para as pessoas se sentarem e conversarem, então notei quase no final da praça embaixo de uma mangueira sentada em um banco de madeira usando um boné preto com uma camiseta cinza, jeans e um tênis preto estava ela de braços cruzados olhando um casal de pássaros comendo as frutas

Me aproximei de modo que ela me visse chegando de frente

—Bom dia! Estou aqui para conversarmos

—Já não era sem tempo, achei que ia me deixar esperando aqui por muito tempo, enfim o que prefere saber primeiro?

Havia várias perguntas na minha mente, mas uma era prioridade, ainda em pé de frente com ela, olhei em seu rosto e disse firmemente

—Essa história do senhor Jones... me explique ela inteira por favor

—Tudo bem, antes você já deve ter entendido que aquele que eu derrotei e o que você viu no velório não eram os mesmos certo?

—Tinha minhas suspeitas, mas ao ver ele no enterro eu tive a certeza

—Bom você não é tão lento quanto eu suspeitava, ótimo

— Mas e então?

— O que eu derrotei era um ogro ou melhor o que ficou conhecido como ogro nas lendas, existem dois tipos de espíritos da natureza, existem os elementares como o seu cachorro e a minha gata, e existem os espíritos comuns ,ambos são feitos quase puramente de energia, com a diferença que elementares são resistentes a corrupção de energia já os comuns podem ser afetados por energias negativas de pessoas outros animais que a acumulam e os deixam agressivos, outra diferença é que elementares podem ser vistos por humanos comuns normalmente mas os comuns só por algumas pessoas como nos, a não ser quando estão corrompidos, nessa forma eles se tornam mais físicos que energia, para lidar com esses casos existem pessoas como nós os Sacerdotes Elementares

—Espera então você está me dizendo que tudo isso existe realmente? Então sei lá o pé grande é real?

Ela me olhou com cara de "Fala sério, que idiota!"

—Não viaja cara

Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos algumas coisas eu acharia que essa garota era maluca com toda a certeza, mas ainda algo não estava totalmente claro para mim

—Falando sério agora, o que isso tem a ver com o senhor Jones e a morte dele?

Eu precisava saber a verdadeira causa da morte dele

—Não vou tentar enfeitar os acontecimentos para você é melhor saber disso...em termos mais simples de entender...ele morreu porque era próximo de você

Ela me encarou esperando minha resposta

Eu senti como se eu tivesse caído de cara no chão a culpa era minha? O que essa maluca estava dizendo eu não fiz nada para que ele fosse morto

—Culpa minha? Como assim culpa minha? —Eu estava incrédulo

Ela se levantou e se sentou no encosto do banco com os pés no assento segurando as duas mãos e me olhou nos olhos

—Ele não te disse nada quando te atacou?

Eu tentei puxar na memória aquele dia assustador

— "Tenho boas lembranças de você como aluno, mas sendo quem é será uma dor de cabeça no futuro" acho que foi isso

Seu olhar mudou como se tivesse admirada por eu estar ligando os pontos

—Exatamente, o ogro tinha as memorias do Jones, por que alguém as plantou nele para saber como te achar, eles são ótimos caçadores, mas são naturalmente burros, apesar de serem mais fortes que uma pessoa comum, eles não se atrevem a enfrentar espíritos elementares por isso armou uma emboscada e atraiu com uma isca que você morderia

—Espera aí, implantou memorias? Como isso é possível? Quem fez isso foi o responsável pela morte do Senhor Jones?

—Certamente, afinal os ferimentos foram como de animais certo? Foi isso que a polícia divulgou ou melhor foi isso que eles acharam, pessoas sem conhecimento de toda a verdade sempre buscam acreditar no que é mais "realista"

Ela tinha razão, as pessoas tendem a querer justificar tudo que acontece como se fosse algo que elas já conhecem, foi assim até mesmo na época que as pessoas acreditavam que a terra era o centro do universo

—Mas porque eu era o alvo? Eu nem sabia direito sobre essas coisas

—Por causa daquele cachorro

Eu senti como se ela estivesse olhando para algo atrás de mim, mas não havia nada

—O Fuu ?... "Não sei como você consegui ocultar esse seu cheiro de cachorro" então ele foi atraído pelo cheiro do Fuu ? Mas ele não tem um cheiro forte afinal eu dei banho nele

Ela colocou a mão na têmpora esquerda como se tivesse ouvido a coisa mais imbecil do mundo e suspirou

—Não, escuta, ele foi mandado atrás de você, mas o cheiro que ele se referiu foi o de um espírito Elemental, após o pacto as duas almas se juntam em uma só, ou seja, ele tem sua essência e você a dele

Pensei nesse momento se em algum tempo eu iria ter vontade de me coçar com a perna ou correr atrás de gatos, sinceramente esperava que isso fosse apenas uma suposição idiota

—Tem algo que eu possa fazer quanto a isso? Não quero que meus pais sejam afetados por isso também, nem meus amigos

Quanto mais eu pensava pior eu me sentia, se eu atraia esses caras então todo mundo estaria em perigo perto de mim

—Não se preocupe muito não, do jeito que as coisas estão agora você não vai viver muito mesmo

Ela sorriu gentilmente, fala sério quem sorri depois de fala algo assim? Ela era psicopata?

—Espera aí, como assim?

Eu não iria viver muito? Outro choque, ela queria dizer que eu seria morto assim como o senhor Jones?

—Ah é mesmo você não sabe né? Firmar um contrato com um espírito elemental sem consentimento da E.S.P.E.R.O. é um crime passivo de morte, além disso um elemental atrai naturalmente corrompidos

—OQUE?

— E.S.P.E.R.O. é a organização que monitora e controla os espíritos elementares visando manter o equilibro no mundo, claro que não somos reconhecidos oficialmente pelo governo, apenas algumas pessoas de alto escalão sabem sobre ele com presidentes e outros assim

—Que maluquice é essa? e como assim atrai corrompidos?

—Eles viram atras de você e do cachorro, para se alimentar de vocês, consumir a energia, carne e sangue de um sacerdote aumenta os poderes deles ao menos é o que a maioria deles acreditam

Eu me sentei no chão, sentia minha cabeça girar, até mês passado eu era apenas um estudante vivendo uma "vida entediante", mas segura, depois que resgatei aquele cachorro tudo virou uma bagunça, eu queria escapar dessa loucura toda, mas então algo me veio à mente

—Espera Marcelly, quando você me salvou aquele dia me chamou de "Herdeiro do espadachim azul" não foi? o que isso quer dizer?

Ela me olhou de cima ainda sentada no banco e bateu palmas sarcasticamente

—Bingo, finalmente uma pergunta inteligente, você não estranha esse colar ter alguma propriedade diferente? como por exemplo esquentar ou esfriar isso porque ele é um Catalisador Elemental?

—Catalisador Elemental? esse foi um presente do meu.... MEU AVÔ

—Isso, eu não sei muito bem os detalhes do porquê você tem isso, mas são poucas famílias que podem ser sacerdotes e geralmente é um dever passado de geração

Era estranho, segundo o meu avô o colar havia sido dado a ele pelo seu pai, porém a minha mãe não recebeu dele o colar

—Mas se era um dever passado de geração, por que meu avô teria isso?

Ela me olhava com cara de "meu deus"

—Você realmente não se ligou né? escuta qual o sobrenome da sua mãe?

Pensando aqui Aznik era o sobrenome do meu pai..

—Alves é o sobrenome da minha mãe

— Poxa, então....

Ela bateu palmas mais uma vez e se levantou em um salto do banco enquanto suspirava

—Então também não é isso, ela deve ter se confundido quando me contou sobre aquilo, poxa então não faço ideia talvez meu tio saberia, mas, se ele te descobrir agora...

Seu olhar mudou como se ela tivesse tido uma ideia genial e seus lábios se abriram, mas pararam na metade de formar uma palavra

—Se ele me descobrir agora?

Ela balança as mãos em sinal de "não ligue pra isso"

—Henry tenho uma proposta pra você, já que não parece que você quer morrer, nem colocar as pessoas em risco, que tal trabalhar com a gente, afinal a morte do Jones foi unicamente por ele te conhecer, não quer vingança?

Do nada essa doida estava me convidando para trabalhar com quem? mas uma coisa ela estava certa, eu não queria morrer, mas...

—Como trabalhar com você me faria não morrer?

—Simples, eu vou te ensinar algumas coisas e vamos te botar na E.S.P.E.R.O. assim você não vai ser um criminoso e de bônus podemos dar um jeito de proteger sua família além de descobrir por que seu avô tinha esse colar, matamos 3 pássaros com uma pedra só

Ela disse isso mostrando 3 dedos erguidos para mim, ela usava um tom de um vendedor tentando te enfiar um produto da loja, era estranhamente convincente, no entanto...

—Espera é muita coisa pra eu processar agora, digo eu vou ter que lutar contra essas coisas malucas o tempo todo? E como fica a minha vida normal? E a escola as aulas voltam no fim do próximo mês

Ela suspirou e pegou um papel dobrado e me entregou

—Anda pega quando se decidir me avisa, mas acho que logo você vai aceitar mesmo

Dito isso ela simplesmente saiu andando e me deixou ali olhando para suas costas enquanto sumia da minha vista, não tive outra escolha se não voltar para casa

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Após chegar em casa eu fui direto para a sala ver se o Fuu estava lá, nem sinal dele, procurei pela casa e não o achei em lugar nenhum

—Mãe, a senhora viu o Fuu em algum lugar?

Ela apareceu vinda do quarto, usava seu cabelo em um rabo de cavalo, uma blusa amarela e calça preta totalmente "modo relaxada" realmente professores tinham algum descanso quando estamos em época de férias

—Na verdade não vi, acho que ele deve ter saído para passear um pouco depois de ter comido

Que ótimo eu precisava falar com ele, mesmo ele me ignorando eu queria perguntar o que ele achava dessa loucura e dar uma bronca nele por não me contar que eu podia ser morto por fazer um pacto com ele

—Aliás filho você viu as novidades? Parece que um circo veio para a cidade, a muito tempo não temos um por aqui né

—Realmente faz tempo, olha mãe eu vou para o meu quarto, se o Fuu aparecer me avise por favor

Subi diretamente para o meu quarto, sentei-me à mesa e liguei o computador, procurei por E.S.PE.R.O., espadachim azul, Catalisador Elemental, mas nenhuma resposta satisfatória, frustrado me levantei e me joguei na cama de costas

Francamente era possível existir um grupo desses em pleno século XXI e não ter nada na internet? Olhei para o papel que ela havia me dado mais cedo ainda estava dobrado eu não sabia se deveria abrir ou deixar pra lá, após ponderar um pouco resolvi deixar o papel na gaveta do computador

PLIM

—Em?

O som de notificação vindo do meu celular era do meu E-mail, peguei meu celular e o acessei

De: anonymus1548

Para: aznikhenry

Assunto: se toca

"Acho que você deveria estar indo para um local onde houve acidentes que não se pode dar uma mão, boa sorte 😊 😊"

—Que negócio é esse?

Eu raramente recebia e-mail e nas maiorias dos casos era apenas uma propaganda ou notificação do Mytube, isso só podia ser alguma pegadinha "não se pode dar uma mão?" era uma charada?

Me levantei e coloquei o celular sobre o travesseiro resolvi ignorar aquilo só podia se alguma pegadinha

—Esses spams estão cada vez mais esquisitos

Senti sede então desci até a cozinha, chegando lá tive uma sensação estranha, como se eu estivesse de frente a algo assustador e um arrepio subiu minha espinha

—NOSSA! isso é aqui perto olha só Henry!

Minha mãe chegou mostrando seu celular um vídeo

—O que foi?

Ela parecia agitada além de estar sem folego porque desceu correndo do andar de cima

—Veja por si mesmo

Na tela do celular havia um vídeo de uma fábrica que ficava na região, ela pegava fogo, as labaredas subiam para o céu como se o fogo estivesse vivo, e havia gritos enquanto os trabalhadores saiam correndo, era um vídeo de 40 segundos, estranhamente é engraçado como as pessoas sempre param pra filmar desgraças que aconteciam

—Nossa que desastre em, as coisas estão ficando malucas mesmo

Eu disse enquanto dava um gole na água gelada que havia pegado na geladeira

—Não é? Disseram que um funcionário perdeu uma mão em uma máquina que enlouqueceu e não quis desligar

—Perdeu a mão?

"Um local onde houve acidentes que não se pode dar uma mão" a frase veio minha mente, será que era isso? não, não podia ser. Foi aí que senti outro arrepio na espinha

—Fico feliz que não é tão perto daqui, olha a altura daquelas chamas

Ela olhava boquiaberta enquanto lia os comentários

—Mãe, quer um sorvete? Está muito quente hoje

—OI? Ah claro aceito sim

Ela pareceu muito surpresa com a minha frase

—Ótimo vou buscar pra gente

Sai correndo assim que coloquei a garrafa em cima da mesa

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Peguei minha velha bicicleta que estava no quintal e fui pedalando, em poucos minutos cheguei perto da fábrica, era possível ouvir o estalar das chamas e estava notavelmente mais quente

Havia alguns policiais afastando curiosos enquanto os bombeiros ainda não haviam chegado, eu sentia cada vez mais o arrepio nas costas enquanto me aproximava, então senti um toque

—Ei garoto, aqui não é lugar para brincar não

Um policial me segurou pelo ombro enquanto me dava uma leve bronca, normalmente eu realmente teria obedecido e me virado para ir embora, mas algo me dizia que eu não podia simplesmente fazer isso

—Ah me desculpe senhor policial, mas eu tenho quer ir pra lá

Ele me olhou como se eu fosse louco

—Filho, eu não sei o que vocês jovens veem em correr perigo, mas não posso te deixar entrar

—Não, você não está entendendo é que...

KABUM!!

—CAIM!!

Ouvem uma forte explosão vinda da fábrica o som alto de um impacto metálico e um som de dor de um cão, eu conhecia aquele choro, aproveitando que o policial se distraiu com o som eu larguei a bicicleta e corri em direção a fábrica

A visão do interior dela parecia o próprio inferno, havia labaredas para todo o lado, e muita fumaça, cobri meu rosto com a camiseta para diminuir a fumaça que fosse inalada por mim

—FUUUUU!! EU ESTOU AQUI

KABUM!!

O teto do andar de cima se abriu e um enorme cão branco agora coberto de cinzas caiu na minha frente, havia sangue em alguns lugares do seu corpo, sem retirar os olhos do buraco no teto ele falou

—Henry? O que você está fazendo aqui?

—Eu que te pergunto isso seu maluco, você sumiu do nada e agora te acho aqui todo ferrado

—VÁ EMBORA!

Nesse momento do buraco no teto 3 feras de fogo saíram, pareciam jiboias com desenhos circulares em laranja nos corpos vermelhos, sua aparência parecia dançar no mesmo ritmo das labaredas, ela parecia aquelas cobras do amazonas que engoliam um boi inteiro

—O que são eles?

—São corrompidos, eles estão bravos aparentemente foram eles que arrancaram as mãos do funcionário e fizeram tudo pegar fogo

Elas se levantaram como se fosse dar um bote a qualquer momento e o Fuu se abaixou se preparando para atacar

—Fuu vamos nos unir de uma vez!

—NÃO, VÁ EMBORA

Ele não queria minha ajuda? Mas o que estava acontecendo

—Deixa de ser teimoso

Nessa hora as três serpentes cuspiram um jato triplo de fogo que voou em minha direção enquanto o Fuu me protegeu com um escudo de água, mas não conseguiu se proteger

—FUUUU!!—Eu gritei a plenos pulmões enquanto tudo que eu podia fazer era assistir

Quando o fogo parou o escudo que me protegia caiu e se dissolveu no chão, tudo estava esfumaçado e a fumaça preta entrou em minhas narinas me deixando meio zonzo

—Cof cof Fuuuu!

Eu o vi a minha frente todo chamuscado, deveria ser por ser um espírito elemental que ele não havia virado churrasco, mas estava muito machucado

—Eu já falei, Henry vai embora daqui!

—Deixa de ser cabeça dura como eu posso te deixar aqui assim?

As serpentes não esperaram nós conversamos e já estavam vindo em nossa direção, a primeira lançou um bote e se agarrou em uma das pernas da frente do Fuu com os dentes serrilhados como as de uma sucuri, sangue pingou ele arfou em dor e em seguida desferiu uma mordida na cabeça da serpente que não queria o largar de jeito nenhum

—Fuu você não vai conseguir ganhar assim

—Eu, não posso te arrastar pra isso, eu ouvi aquela garota dizendo que eu te coloco em risco

—Como você ouviu isso?

—Eu segui você escondido, mas acho que a garota me notou ela me chamou de cachorro, se eu ficar por perto vou te colocar em risco e atrair esses caras

Ele estava fazendo aquilo pra me proteger?

—Mas...Fuu

—Já chega, está bem, vai embora não vou te arrastar mais nisso eu vou caçar essas coisas sozinho

Sangue escorrida se sua pata quando as outras duas atacaram, uma mordeu sua outra perna dianteira e a outra se enrolou no seu corpo enquanto mordia dias costas era uma visão terrível

—Deixa de ser teimoso!!

—Henry, se eu morrer você vai estar livre eles ainda não sabem de você...então cof cof

Sangue saiu da boca do Fuu enquanto ele falava, eu não podia mais ficar observando aquilo

—AAAAHHHHH!! SOLTA COBRA DESGRAÇADA!!

Eu corri e agarrei a cobra que estava em cima do Fuu dando-a socos na cabeça, mas ela era muito quente, sentia meus punhos queimando

—Henry para você vai se queimar

—Eu não estou nem aí, não vou deixar meu cachorro ser devorado por um monstro

A cobra que mordia a perna do fuu soltou e abriu suas presas para mim sibilando com sua língua enorme e negra como carvão, voou sobre mim, nesse momento por um breve segundo eu senti algo como se fosse uma pequena voz em minha mente dizendo "ABAIXA" eu me esquivei por milímetros do bote da enorme cobra que bateu a cara em um cano de ferro e ficou tonta olhando para o chão enquanto balançava a enorme cabeça lentamente tentado recobrar os sentidos

—Henry, você sabe, eu não queria arrastar um inocente, quando vi o colar eu achei que você fosse de uma família de sacerdotes, até tentei disfarçar que não sabia de nada, mas notei que você e sua família são normais

Ele estava mesmo decidido a me fazer simplesmente virar as costas e ir embora assim

—O Jones!

Eu pensei comigo, aprender com o passado, pessoas que podiam fazer algo para melhorar o mundo e não fizeram garantiram que coisas ruins ocorram

—AH?

Fuu arregalou os olhos enquanto segurava a cobra que ainda estava em sua perna com a boca

—O senhor Jones morreu, eu não posso deixar aquilo em branco, e mais pessoas podem se ferir mesmo se eu não estiver nisso certo, então se eu puder fazer algo certo eu não deveria fazer?

Ele arregalou os olhos como se tivesse ouvido algo inacreditável

—Você está falando sério garoto?

Garoto em ?,Fuu havia me chamado poucas vezes pelo meu nome até aquele momento então acho que garoto pareceu mais natural

—Até que enfim me chamou de garoto de novo em, já estava achando que ia me abandonar

Fuu arrancou a cobra que estava em sua perna e com um rápido giro fez com a que estava em suas costas o soltasse

—Você entendeu o que continuar comigo significa, não é? Vamos ter muitas lutas e muitas pessoas pra proteger além de podermos morrer

Eu estranhamente dei uma risada e abri um sorriso, aquilo parecia ser algo que naturalmente eu deveria fazer, mas por quê?

—Eu sempre odiei pessoas que abandonam seus animais estimação sabia?

A cobras se levantaram e se juntaram de frente a nós, um sibilado terrível saiu da boa das três ao mesmo tempo e elas começaram a se misturar como uma massa informe de foco vermelho e laranja, uma enorme serpente de fogo agora aparecia em nossa frente e lançou um sibilado alto como se um carro buzinasse

—Se vamos fazer isso, então é agora

Eu agarrei o meu colar com a mão direita, mesmo naquela situação seu metal era gélido como um mergulho em uma piscina num dia quente

—Eu, o herdeiro das águas rogo ao espírito que me empreste seu poder, alma carne e sangue ambos em um só!

Uma sensação refrescante tomou conta do meu corpo, eu fui envolto por uma luz fraca azul e branca enquanto Fuu pulou em minha direção, em instantes eu estava vestindo novamente minha roupa que constituía em uma camiseta preta de manga longa com um sobretudo azul e calças pretas com sapatos pretos, luvas brancas e duas espadas em minhas mãos

—Vamos fazer isso juntos

A voz do Fuu vinha da minha mente

—Vamos, meu amigo

A cobra enorme se lançou sobre mim eu bloqueei seus dentes com a espada, mas ela me levantou me jogando para cima onde atravessamos o buraco do segundo andar e saímos por uma janela a arrebentando-a inteira, caímos atrás da empresa onde deveria ser o estacionamento pois havia vários desenhos de vagas de carro no chão, havia vidro quebrado, mas eu não tinha me ferido com ele

—Pode vir dona minhoca, estou doido pra fazer uma pescaria—a voz do fuu saiu da minha boca

—Essa foi péssima, aliás como você fez isso? — eu respondi

—Não pensa nisso agora, e a piada foi muito boa—disse novamente o Fuu

Ela se lançou sobre nós novamente e eu desviei para o lado direito e sua presa passou a centímetros do meu rosto

—Droga, essa foi perto cobra idiota

Eu avancei em direção a ela com um soco de direita

POFT

A cobra caiu como se tivesse levado uma enorme pancada e seus olhos giraram nas orbitas

—UAU! eu não tinha reparado como eu ficava mais forte assim

—Humf claro que sim afinal somos a melhor dupla garoto

Ele realmente era bastante convencido, mas eu também me sentia invencível naquela hora, ouvimos sons das sirenes dos bombeiros eles haviam chegado e começaram a jogar água, tínhamos que acabar com aquilo antes para que as pessoas normais não se machucassem

—VAMOS!!—gritamos juntos

A enorme serpente tentava de várias maneiras nos morder enquanto eu desviava e a atacava com socos e chutes

—Droga isso não vai acabar assim, ela é muito resistente

Parecia que eu socava uma pedra toda a vez que eu acertava

—Garoto vamos fazer uma coisa que eu queria testar

Como estávamos fundidos eu podia saber o que ele estava querendo, me concentrei nas lâminas, as sentia reverberar como se estivessem vibrando e água começou a se formar ao redor dela como uma pequena camada entorno da lâmina

—AHHHH CASCATA CORANTE!

Avancei em direção a serpente que respondeu com um último bote com todas as forças, minha lâmina atingiu em forma vertical sua cabeça a abrindo ao meio, mas eu n parei meu avanço e a abri ao meio

— Que a paz interior seja seu oásis, como a água no deserto —A voz do Fuu saiu da minha boca com essa frase clichê

O som de fogo sendo abafado pela água vinda da fábrica sobrepujou o som da cobra sendo apagada e desaparecendo, nesse momento eu vi 3 esferas verdes dançarem e desaparecerem no ar

—Conseguimos!!

Uma sensação de alívio me atingiu, mas logo em seguida

—O QUE?

Virei meu rosto para o topo da fábrica, por um instante tive a sensação de que alguém me observava e tive a impressão de ver uma sombra saltar muito rapidamente e desaparecer, mas eu deveria pensar nisso depois

—Fuu você também sentiu?

—Sim, mas não parecia algo com hostilidade

—Muito estranho...

Voltamos ao normal e Fuu agora no seu tamanho compacto seus machucados haviam melhorado um pouco embora eu sentia algumas dores e cansaço aquilo devia exigir bastante do meu corpo aparentemente

—Ei você parece melhor do que antes

Onde deveria haver buracos das presas das cobras havia apenas alguns sinais pequenos na pele, apenas seus pelos estavam sujos

—Agora que você falou realmente é estranho

CRAK

O barulho da porta da fábrica sendo posta abaixo ressoou

—PROCUREM SE HA VÍTIMAS DENTRO DA FÁBRICA

A voz dos bombeiros vinha de dentro da fábrica agarrei o fuu e corri dando a volta nela, me misturei em meio à multidão de curiosos que estavam ao redor do incidente e sai de fininho com o Fuu nos braços

**************************************************************

Minhas roupas apesar de meio sujas não cheiravam a queimado quando cheguei em casa, pensei que talvez tenha algo a ver com a nossa fusão

—A que droga a minha mãe vai me matar, AH MERDA O SORVETE E A BICICLETA... ué

Pendurada na maçaneta da porta uma sacolinha estava lá com um papel colado nela com fita adesiva

"Você me deve 5 reais pelo sorvete e 5 pela bicicleta assinado: Marcelly" do lado havia um desenho de um rosto feminino com cabelo curto mostrando a língua enquanto fazia um sinal de "V" com os dedos

—Essa garota, o quanto ela sabe sobre mim em? Que bizarra, aliás esse sorvete é picolé de 1,50

Então notei que havia mais uma linha abaixo "o sorvete é de 1,50. mas o resto é o frete, disponha"

—Mercenária maldita..., mas eu preciso agradecer ela depois com certeza

Eu comecei a rir, ela parecia ser divertida apesar de estranha, eu não sabia se deveria achar ela legal ou rude.

Entrei escondido após deixar o sorvete no freezer

—Mãe achei o Fuu vou tomar um banho, e preciso limpar ele, está todo sujo o sorvete está no freezer

—Você demorou em, até terminei de ver o meu filme aqui e nada de usar minhas toalhas novas pra secar ele em!

Passei correndo pela minha mãe e entrei no banheiro junto ao Fuu antes que ela pudesse notar minha sujeira.

Enquanto tomava banho e lavava os pelos do Fuu eu notei que seus machucados estavam praticamente curados, será que era porque ele era um espírito? Talvez eu devesse perguntar Marcelly depois...

Após o banho eu sequei o Fuu com o secador e uma toalha velha o deixando com cheirinho de cachorro molhado + shampoo de flores, incrivelmente ele adorou, aproveitando que estávamos em meu quarto resolvi falar com ele

—Fuu, você ouviu toda a conversa certo?

—Sim

—O que você acha sobre tudo isso?

—Sinceramente é uma escolha sua, meu pai me criou para ser um guerreiro e proteger as pessoas e animais

—Acho que se eu puder proteger as pessoas vou me sentir realizado? E agora tenho mais dúvidas sobre meu avô ele nunca me contou nada sobre isso apesar de ter o colar...talvez o papel que a garota me deu

Caminhei até a gaveta da mesa do computador, peguei o papel e o desdobrei

—Vamos ver o que diz dentro

"quando criar coragem e quiser arriscar só me mandar uma mensagem +55 19 *********" havia o número dela ali junto a mais um desenho como no papel de mais cedo, espera, o número de uma garota? Parando pra pensar apesar de ser rude ela era bonita.... espera esse não é o foco aqui

Eu salvei o número dela e abri o aplicativo Chat Flow, salvei com o nome de "Marcelly estranha" mandei a primeira mensagem

"Olá, sou eu"

—Bom fuu acho que ela deve demorar pra responder já está ficando tarde e...

PLIM, PLIM

—EITA

"Já não era sem tempo em 😐"

Que garota estranha, mas enfim precisava falar com ela

"Desculpe aconteceram algumas coisas, mas me decidi sobre aquilo"

"E então?"

Ela era bem direta né?

"Eu estou dentro"

"Que ótimo, então me encontre na semana que vem no mesmo local e dessa vez leva o cachorrinho também, eu te aviso o dia depois. Só confia na mãe aqui, operação não morrer como um bobalhão vai ter início 😎"

—Qual é a dessa maluca com esses emojis em?

"Ok combinado, mas porque semana que vem?"

"Relaxa e confia, até mais🐱" 

Ela parecia mais fofa por mensagem do que pessoalmente

**************************************************************

Após terminar de me arrumar eu desci para o jantar, meu pai já havia chegado e estava a mesa com a minha mãe

—Oi pai como foi o dia?

Ele tinha uma aparência cansada seus olhos estavam claramente presados

—Ah está um caos, roubaram vigas de metal e outras coisas, mas as câmeras pararam de funcionar bem na hora e não temos pistas

—A polícia não tem como investigar assim então?

Era realmente estranho coisas assim estarem acontecendo tão repentinamente

—Na verdade não tem como não, Pedro disse que estão atolados de tantas queixas de furto de objetos de metal e coisas assim...

Eu me lembrei da estranha criatura que havia invadido meu quarto na noite anterior, com toda a certeza eu iria falar disso com a Marcelly amanhã, talvez estivessem interligadas

Após o jantar fui me direcionando para o meu quarto eu estava exausto e precisava muito dormir, mas dessa vez Fuu foi junto comigo sem eu precisar chamar

—Olha só Henry ele está te seguindo vocês se acertaram?

Eu olhei nos olhos dele que me encaravam gentilmente

—Sim, estamos juntos de agora em diante

Naquela noite dormi com o colar em meu pescoço e o Fuu dormiu junto comigo na cama, foi uma noite muito confortável, mas amanhã seria outro dia agitado, acho que minha vida pacífica realmente havia acabado. 

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