ANA FLÁVIA,
point off view.
As semanas foram passando mais rápidas do que eu imaginava. Faltava apenas uma semana para as férias acabarem e voltarmos para casa.
Agora eu estava indo para a sala de artes. Eu andava lentamente, sem o mínimo ânimo para fazer nada. Eu estava exausta e nem sabia ao certo o motivo disso.
As coisas entre mim e Gustavo ficaram estranhas depois daquela nossa conversa. Ele finalmente parou de me encher o saco, mas a sensação de não o ter por perto não foi tão agradável como eu achei que seria. Não posso mentir e dizer que não senti nem um pouco de saudades das piadinhas sem graça. Mas foi melhor assim.
Abri devagar a porta de vidro da sala de artes, e entrei fazendo de tudo para a professora não notar que eu cheguei atrasada. Todos já estavam lá dentro, e provavelmente as atividades que a professora passou já começaram, pois estavam todos de pé e em duplas.
- Posso saber o motivo do atraso? - escutei a professora me perguntar, fazendo os olhares de todos da sala pararem em mim.
- Eu fui ao banheiro antes de vir para cá. - eu disse claramente mentindo.
A professora respirou fundo e concordou com a cabeça.
- As atividades já começaram e como chegou atrasada e não estava aqui para escolher sua dupla, vai ficar com Gustavo que sobrou. - disse apontando com a cabeça para o garoto sentado em uma das cadeiras.
Ele me olhou com desgosto, e eu não fiz esforço para esconder minha infelicidade.
- Não tem nenhuma outra pessoa? - perguntei esperançosa.
- Não. Agora, Gustavo vem aqui. - ela disse chamando ele, que levantou do lugar que estava sentado e veio ao meu lado.
A professora foi para perto da prateleira que tinha na sala, e voltou de lá com um rádio em mãos. Arqueei uma sombrancelha tentando adivinhar o que ela queria com aquilo.
- Hoje vamos dançar. - disse animada e colocou o rádio em cima de uma das mesas da sala.
Fiz uma careta e olhei com nojo para Gustavo ao meu lado. Ele claramente não estava feliz com isso. Eu estava estranhando estar ao lado dele e não escutar uma coisa idiota, ou ele tentando me tirar do sério.
Uma música começou a tocar e eu reconheci ela. Era a música do Shrek. Que legal, a professora de artes do acampamento é fã do Shrek. Mas eu já deveria saber disso pela camiseta com o gato de botas estampado e por alguns grafites nas paredes do Burro.
Comecei a escutar a voz do cantor, me fazendo sentir a maravilhosa sensação de nostalgia ao me lembrar de mim pequena assistindo Shrek.
"So she said what's the problem baby"
Então ela disse qual é o problema baby
"What's the problem I don't know"
Qual é o problema eu não sei
"Well maybe I'm in love"
Bem, talvez eu esteja apaixonado
- Vamos pessoal, agitem aí. - disse a professora, que já estava dançando com o seu par.
Essa música nem ao menos é de se dançar em par.
Senti Gustavo se aproximar de mim, me fazendo olhar para o mesmo. Começamos a dançar contra nossa vontade enquanto a música tocava.
Senti as mãos de Gustavo em minha cintura. Mas como eu disse, essa música nem é de se dançar em par. Não entendo o porquê estava se aproximando tanto.
Eu deveria o afastar, mas não fiz isso. Só deixei meu corpo dançar devagar, assim como o de Gustavo. Estávamos mais nos mexendo para um lado e para o outro. Eu não sabia dançar, e ele muito menos.
"Come on, come on"
Venha, venha
"We were once"
Era uma vez
"Upon a time in love"
Nós apaixonados
Em algum momento, meus olhos se prenderam nos olhos de Gustavo, e eu não consegui desviar. Seus olhos me encaravam como se pudessem me ler.
Eu não deveria estar próxima a ele. Eu deveria ignorar sua existência, ainda mais depois que me chamou de apenas uma diversão. Mas eu não consegui ficar longe por muito tempo, e eu jogo a culpa toda no Gustavo.
"We're accidentally in love"
Nos apaixonamos sem querer
"Accidentally in love"
Apaixonamos sem querer
Meu olhar sem querer desceu em direção aos lábios de Gustavo, e ele umedeceu seus lábios. Não sei nem porque caralhos meu coração estava acelerado nesse momento.
Engoli em seco, quando vi ele aproximar mais seu corpo do meu. Para minha felicidade, a música terminou, e Gustavo se afastou de mim.
Não sei porque, mas meu corpo reclamou disso.
- Muito bem pessoal. exclamou a professora.
GUSTAVO MIOTO,
point off view.
Sai da sala de artes balançando a cabeça. Eu tinha que tirar a Morena da minha cabeça.
Eu não gostava do fato dela estar ocupando boa parte dos meus pensamentos diários. E por algum motivo, isso aumentou gradativamente quando nos afastamos.
Eu queria continuar o que tínhamos antes, nada sério. Mas ela não queria.
Isso é se que tínhamos algo.
Eu sei que fui um babaca ao dizer que era só diversão, mas é a verdade e não tinha como dizer isso de uma forma menos "agressiva"
Eu não quero nada sério, nem com ela e nem com ninguém. Mas minha mente é uma confusão, e ao mesmo tempo que eu não quero nada com ninguém, às vezes eu penso em como seria ter algo com ela.
Passei minha mão direita nos meus cabelos, bagunçando os fios e tentando parar de pensar na morena. Se eu continuar a pensar nela tão frequentemente, eu vou enlouquecer.
- Gustavo - escutei a voz doce da garota que tento fingir para todos e até para mim mesmo, que não é ninguém importante.
Me virei, vendo Ana Flávia correr um pouco para me alcançar. Seus cabelos pretos balançavam conforme ela corria.
- Esqueceu isso. - disse estendendo sua mão que segurava meu celular.
- Obrigado. - respondi pegando de sua mão meu celular.
Quando ia voltar a andar escutei sua voz me impedindo de continuar.
- Escuta. Não que eu goste de você, ou que sinta falta de algo... - me virei novamente para ela e a olhei atentamente enquanto ela falava. - Mas não precisa me tratar como uma estranha todas as vezes que me ver.
- Ana, eu não quero ser seu amigo e acho que isso já estava claro. - eu disse estranhando a chamar de Ana e não de "morena" - O que eu queria com você, você já deixou claro que não quer comigo, então não vou ficar insistindo.
- Não fale como se você quisesse um relacionamento sério comigo e eu tivesse jogado seus sonhos no lixo. - ela disse tudo rápido, e vi suas bochechas começarem a ficar vermelhas. - Eu não sou obrigada a ficar com você e servir só de "diversão"
- Nunca te disse que era obrigada a nada. Mas ao mesmo tempo que você não é obrigada a isso, eu muito menos sou obrigado a falar com você se não quer ser minha "diversão". - eu disse fazendo aspas com meus dedos na palavra "diversão".
Ela abriu a boca para falar alguma coisa, mas não disse nada. Eu respirei fundo, e voltei a andar na direção que estava indo antes dela me barrar.
- Você é um idiota, sabia? - escutei sua voz gritar quando eu já estava um pouco longe.
Virei um pouco a cabeça, vendo ela com as bochechas coradas e uma expressão irritada.
- Você já me disse isso tantas vezes que parei de contar. - eu disse e vi ela bufar.
Ah, morena, Ana Flávia.Você me deixa tão confuso.
—————————————————
Oi gente
era aqui que estavam
com saudade de "I hate you? Kkkk
Espero que estejam gostando até a amanhã 🤍