Serendipity of a dream

By Estrela_rana

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[ LIVRO FÍSICO EM BREVE PELA EDITORA SINGULARITY 📖 ] [Em andamento] Jeon Jungkook, um adolescente que tem s... More

AVISOS!
Lembranças
O loirinho bonito.
Tudo que sinto é... medo.
Sorvete de menta
Quase um encontro
Molho de pimenta
Rosa azul
Sombras do passado
Foi só um beijo bobo, né?
Cheirinho de morango
Viva sem medo
Verdade oculta
O meu único refúgio
Pelo teu sorriso
sinceridade
Foi tudo um sonho
Me apaixonando mais a cada dia
Um passo de cada vez
Perdido por você
Meu coração palpita por você
Eu sou você...
Você sou eu
Amizade em primeiro lugar
Mudanças
onde a verdade se revela (1)
uma palavra dá autora :)
Onde a verdade se revela (2)
Arrependimento
Ainda há esperança?
Memorias perdidas
Coração quebrado
NOVA TEMPORADA
Novo cronograma
Pesadelo
Sem forças
Desavenças
Um momento de paz
Uma volta no tempo
Confusão
Grupo novo no Instagram
Calmaria
Sofrimento
Mostrando as garras
A dor que sempre volta
"Nervos a flor da pele"
Melhor amigo
A última briga
Apenas Continue
Dores do passado
O seu lado da dor
Uma nova chance
Incerteza
Um momento só nosso
Me deixe ser feliz
A noite em que fizemos amor
O monstro se revelou

Estou com você

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By Estrela_rana

Não esqueçam de votar e comentar bastante no capítulo, quem me acompanha no insta sabe as noites que passei em claro pra escrever ele hahaha. Boa leitura e me perdoe por qualquer erro.

Jungkook

Ouço as palavras de Jimin com atenção. É a nossa última chance. Não sei bem o que deveria dizer, meu corpo nem ao menos reage como eu gostaria, continuo em silêncio pensando: Eu não posso errar outra vez. Porque agora qualquer erro pode levar ao separados para sempre. 

Estou deitado, de barriga para cima, em minha cama neste momento, geralmente essa é a posição mais confortável para mim, mas de repente, é estranho, sinto como se estivesse caído sobre espinhos pontiagudos ao extremo e qualquer mísero movimento é capaz de me levar a morte. O pensamento de “E se” percorre por entre as linhas do meu raciocínio. E se eu estragar tudo de novo? E se por minha culpa ele sofrer como antes? E se…

Sou obrigado a encarar a realidade quando escuto sua voz do outro lado da linha chamar pelo meu nome. Engulo em seco, e em uma tentativa de controlar o ritmo agitado das batidas do meu coração, seguro o celular em minha mão com bastante firmeza, o posicionando melhor próximo a minha orelha.

— O-oi… obrigado. — Minha voz sai falha e não demora nem um minuto para que eu sinta a umidade de lágrimas, molharem minha face. Acompanhadas de um fungado que tento abafar com a mão esquerda. Porque estou chorando? Nem eu sei explicar. Jimin deve está me achando o cara mais patético do mundo agora, capaz até de querer desistir de ter me perdoado. 
— De-desculpa, e-eu prometo que dessa vez vai ser diferente. — “Melhor não fazermos nenhuma promessa, vamos só tentar fazer melhor dessa vez.” Ele diz em um tom de voz sério. — V-você tem razão, vamos fazer dar certo dessa vez. — Uso o dorso da mão para limpar meu rosto molhado, e me viro ficando de lado com a mão que segura o celular encostado na cama, esperando que ele prossiga: “Eu…senti sua falta, kookie”. nunca achei que uma simples frase teria um efeito tão grande sobre mim. Sinto em meu coração algo diferente de tudo que já senti antes nesses meus anos de vida, é como se meu corpo estivesse sendo puxado de volta para a superfície depois de longos anos em queda livre, ou como se correntes que me aprisionavam, me sufocavam, estivessem sendo quebradas e jogadas para longe. Me sinto momentaneamente livre, e essa sensação é fantástica. — Eu também senti sua falta, Ji, muita. Meus dias sem você são uma completa escuridão. Você é minha luz, Jimin. Eu não seria nada sem você. — “Não fala isso. Você é incrível, não foi atoa que me apaixonei por você” Ele solta um risinho fraco. O que é suficiente para me deixar mais tranquilo e despertar um riso em mim também, mas diferente do dele, acabo rindo alto. “Do que você tá rindo?”
— Desculpa, é que eu tô tão feliz. — Jimin também sorri e então diz: “Você continua sendo um fofo, Jungkook”.

Não queria que a conversa terminasse ali, por isso tentei puxar outro assunto. Perguntei sobre Sirius, Jimin disse que ele está bem, mas que um de seus sapatos estava totalmente destruído pelos dentes do danadinho, foi impossível não dar risada quando começou a narrar toda a história de como pegou ele no flagra. Jimin perguntou se eu queria ver Sirius, disse que sim, sem pensar duas vezes, foi então que ele ligou a câmera de vídeo e nossa ligação seguiu assim. Dei risada quando Sirius subiu em cima de Jimin e lambeu seu rosto, também sorri quando ambos ficaram se encarando com só metade da câmera focada em seus rostos. Sorri tanto que os músculos do meu rosto já estavam doloridos. 

Alguns minutos depois, Sirius deitou ao lado de Jimin para descansar e eu tive a atenção do loirinho só para mim outra vez. — Ele dormiu? — pergunto enquanto observo Jimin se virar de lado sobre a cama, trazendo seu rosto bem mais para perto do celular. Tive que me controlar para não expor o quanto estou achando os olhos dele a coisa mais fofa do mundo agora.

— Não, mas acho que ele se cansou. — diz, deixando um lindo sorriso no rosto. — Ah, você viu que tem um filme japonês que tá fazendo bastante sucesso nos cinemas aqui da coreia? Se chama monster, ele saiu faz uns meses já, e pelo pouco que vi na internet as pessoas estão elogiando muito. 

— Sério? Não vi, tem um bom tempo que não olho mais as notícias, na verdade nem ânimo pra levantar da cama eu estava tendo ultimamente. 

— … Desculpa, foi muito babaca minha pergunta. 

— Não se preocupa. Me fala mais sobre esse filme, você já assistiu?

— Não, ainda não tive tempo, e nem tava com cabeça pra isso.

— Vamos ver junto então… aceita ir no cinema comigo? 

 — Está me convidando pra um encontro, Jungkook? 

Desvio o olhar que antes estava concentrado no seu. — Sim. Aceita ir a um encontro comigo, Jimin? 

— Olha pra mim, gosto de admirar seus olhos. — Tinha esquecido do quanto Jimin consegue me deixar com vergonha sem nem se esforçar. Mesmo sentindo minhas bochechas esquentarem, faço o que ele pede. — Agora sim. E sim, aceito ir ao cinema com você. Mas pode ser na parte da tarde? É que amanhã é dia de levar o Sirius no pet shop e também quero visitar meu irmão. 

— Claro, por mim tudo bem. — Jimin abre um bocão em um grande bocejo. — Você já quer dormir, não é? Já tá bem tarde mesmo, acho melhor eu desligar. 

— É, não vou mentir, tô bem cansado mesmo. Mas não me importo de continuar falando com você. — ele boceja outra vez. 

— É melhor você descansar, senão vai dormir amanhã na hora do filme. — brinco e ele sorri. — Boa noite, Ji… tenha bons sonhos. 

— Se você aparecer neles, serão perfeitos. — Ele ri outra vez. — Boa noite, kookie. Até amanhã. — Ele espera que eu responda, e depois desliga a chamada. 

Deixo o celular sobre a cama e afundo a cara no travesseiro. Não consigo controlar minha euforia e começo a gritar, não tão alto para que meus pais não escutem, enquanto bato com os pés contra a cama. 

Eu vou a um encontro com Park Jimin. Não é como se esse fosse nosso primeiro encontro, porém agora sinto como se todo o nervosismo do começo do nosso namoro estivesse voltado para mim. É assim que nos sentimos quando amamos alguém de verdade? Como se todo e qualquer encontro fosse o primeiro?

[●●●]

Jimin

Caminho até o jardim da minha casa à procura de Sirius, o encontro deitado ao lado de sua casinha. Chamo ele e observo o rabinho peludo caminhar na minha direção. 

O pego no colo, e reclamo em tom de brincadeira, sobre estar acima do peso. Fico feliz que ele esteja crescendo forte. — Hoje é dia de banho, Sirius e mais tarde vou encontrar com seu outro papai. — Ele late em resposta. Faço carinho na cabeça dele, enquanto me direciono para dentro de casa. Passo pela cozinha e assim que coloco os pés na sala principal, ouço a campainha tocar. 

Não saio para atender a porta, diferente da última vez, hoje os funcionários estão em horário de serviço. Continuo parado esperando, quem quer que seja a pessoa lá fora, tenho certeza que não chamei ninguém para vir aqui hoje. O telefone fixo da casa toca e por estar perto o bastante, acabo atendendo. Do outro lado da linha me informam que há um senhor chamado Hyung-sik, que diz estar aqui a convite da minha mãe. Digo para que liberem a entrada dele. 

E não demora para que o amigo da minha mãe esteja de frente para mim. Nos comprimentamos formalmente. Quando estou prestes a pedir que ele se sente no sofá, percebo que seu olhar está vidrado na direção das escadas. Viro minha cabeça no mesmo local, curioso sobre o que o hipnotizou tanto, barulhos de salto se aproximam à medida que a senhora Park caminha cada degrau calmamente, ela não economizou na produção hoje, está usando um vestido na cor preta e detalhes em braco nas mangas, com os cabelos soltos  jogados para trás, pendurada no ombro direito uma bolsa branca, e em seu pulso ela usa uma pulseira fina de prata que ganhou do meu pai anos atrás no natal.

É só um bem material, não vou deixar que esse detalhe estrague meu bom humor. O importante é que o divorcio dos dois já está em andamento.  

Não digo mais nada, só observo ela comprimentar o amigo com um largo sorriso estampado no rosto, um tanto forçado, confesso, mas nada fora do comum. 

— A senhora vai sair, Mãe?

— O Senhor Hyung-sik me convidou para um café. Resolvi aceitar.

— Não foi fácil convencer sua mãe, mas fiquei muito feliz quando ela aceitou. — diz parecendo convencido. 

— Humm… — ergo uma das sobrancelhas —, Então isso é um encontro? — pergunto olhando diretamente para ele.

— Sim. 

— Não. 

respondem em uníssono. 

Me seguro para não rir da situação. 

— Só vamos tomar um café filho, nada mais. — minha mãe explica. — Vamos na cafeteria aqui perto, se quiser pode vir com a gente. 

— Minha intenção era que isso fosse um encontro. — Ele confessa na maior cara limpa. 

— Bom, não quero atrapalhar vocês, e já estou de saída também, vou levar esse grandão no pet shop e depois vou passar na casa do Jin. 

— Jin é aquele seu irmão do outro dia, correto?

— Isso mesmo, senhor. 

— Gostei muito do pouco que conheci dele e do namorado, Kim Namjoon, não é? — balanço a cabeça em concordância. — Diga a eles que mandei um ‘oi’ e que prometo cuidar bem da sua mãe hoje. 

— Hyung-sik, não brinque com isso. Desse jeito você vai alimentar a imaginação fertil do meu filho. 

Acabo deixando um sorriso escapar. — Pode deixar que falo sim. E espero que o senhor também cumpra com sua palavra. — Sirus se mexe em meus braços e late. — Ele disse que se o senhor não se comportar vai levar uma mordida. 

O senhor Hyung-sik acaba sorrindo. 

— Já chega vocês dois. Vamos indo então? 

— Claro. Foi um prazer rever você, Jimin. Espero que possamos nos encontrar mais vezes.  

Faço uma pequena reverência. 

Minutos depois os dois saem e eu subo para o meu quarto, pego meu celular e aproveito para mandar mensagem para Jungkook avisando que comprei nossos ingressos online no site do cinema, disse também o horário e marcamos de nos encontrar na entrada do local. Ele não está online, então opto por não esperar uma resposta rápida. Depois disso, peguei minha carteira e minutos depois eu estava adentrando o carro para que o motorista me levasse até o meu destino. 


[●●●]

Deixei Sirius tomando seu banho da semana e como prometido vim visitar meu irmão. Toco a campainha da porta e aguardo por alguns longos segundos. Jin abre a porta surpreso com minha aparição, em seguida libera espaço para que eu possa entrar. 

— Você nem avisou que vinha hoje. Aconteceu alguma coisa? — Observo ele trancar a porta. 

— Não, só queria passar um tempo com meu irmão, não posso?

— Depende, meu tempo custa dinheiro, 100 mil wons a hora. 

— Desse jeito você vai me levar à falência. — comento sorrindo. Sua sala não é tão grande, dou alguns poucos passos e estou de frente ao sofá, me sento e ele faz o mesmo. Aproveito a proximidade para encostar minha cabeça no ombro dele. — Preciso te falar uma coisa. 

— Sabia que não tinha vindo aqui só pra me ver. Desembucha. 

— Lembra que eu tinha dito que o Jungkook e eu tínhamos terminado? — ele assente com a cabeça. — Então… eu decidi perdoar ele. Depois que ele foi lá em casa arrependido, pediu perdão e me explicou como tudo aconteceu, eu entendi melhor os motivos dele. 

— Você tem certeza que essa foi a melhor decisão? Não sei todos os detalhes, mas ele machucou você, Jimin. 

— Eu sei, as coisas são complicadas Jin. Se coloca no meu lugar. Se o Nam mentisse pra você e te deixasse muito triste com isso, mas depois você descobrisse que na verdade ele mentiu só pra te proteger do pai homofobico dele, que fez ameaças proibindo vocês de se verem, caso contrário você é quem sofreria as consequências. O que você faria se em uma noite chuvosa o amor da sua vida aparecer na porta da sua casa implorando por perdão?

— Calma, Calma, muita informação. Então aquele seu palpite sobre o pai dele ter batido nele estava certo? 

— Sim… e confesso que quando soube me senti mal porque fiquei pensando que por culpa minha o Jungkook teve que passar por algo assim. 

— A culpa não é sua, só existe um culpado nessa história, e é o imbencil do Jeon Ji-chu. Sabe, olhando de fora essa situação de vocês posso dizer com certeza que, mesmo que vocês tenham errado um com o outro, são as vítimas dessa história. É realmente uma situação muito complicada. — O peito dele sobe e desce, em um respirar fundo. 
— Respondendo sua pergunta de antes, eu sou muito apaixonada pelo Nam, acho que não conseguiria ficar muito tempo brigado com ele. Mas viver tudo isso na pele é bem mais difícil do que só imaginar, então talvez eu não saberia a melhor forma de reagir. 

Sempre imaginei meu irmão como uma pessoa forte, ele saiu da nossa casa, e se reergueu. Conseguiu um novo lar, emprego e até um namorado, e mesmo não vivendo sob o mesmo teto que eu, nunca deixou de me apoiar. Pensei que Seokjin fosse alguém imbatível que lida facilmente com qualquer situação, mas ouvindo agora o que ele disse, percebo que ele é apenas alguém normal como eu. Saber disso é um alívio, significa que um dia posso conseguir ser tão incrível quanto ele. 

Me aconchego melhor o abraçando pela cintura.

— Então você sabe como me sinto. Por que minha vida tinha que ser tão difícil assim, hein? — minha voz sai mais manhosa que o normal. — Você tá chateado por eu ter perdoado o Jungkook? 

Sinto os dedos dele bagunçar meu cabelo. — Claro que não. É sua vida, sei que se você perdoou, é porque sabe que vale a pena. E independente do que aconteça, saiba que eu vou sempre estar do seu lado apoiando no que eu puder. 

— Obrigado Seokjin, sabe eu acho que se não fosse por você eu não estaria aguentando tudo isso. Não tenho e nunca tive apoio do nosso pai, a mamãe até se esforça, mas não é o bastante pra que eu consiga confiar 100% e contar tudo que eu sinto, assim como faço com você. Então, obrigado de verdade.  

— Sou o melhor irmão mais velho do mundo, não é? 

— Não se sinta tão convencido assim. — comento em meio a risos. Me afasto dele, ajeitando as costas no encosto macio do sofá. Tiro meu celular do bolso ao sentir ele vibrar. — Ah, e adivinha só quem foi em um encontro? 

— A nossa mãe? — questiona levantando uma das sobrancelhas.

— Como você sabia? 

— Só chutei. Mora apenas você e ela naquela casa, se você tá aqui supôs que ela foi a pessoa que saiu em um encontro. 

— Pois é, ela saiu com aquele amigo dela do jantar do outro dia. Ele mandou um oi pra você e o Nam. Falando nele, onde o Namjoon, tá? — Faço a senha na tela para desbloquear o celular. Mas volto minha atenção para meu irmão. 

— Ele disse que precisava resolver umas coisas na escola. 

— No sábado? 

— Pra você ver como a vida de professor não é fácil.

— Imagino… — Fico um instante em silêncio tentando criar coragem para falar sobre um novo assunto que venho matutando na cabeça faz uns dias. Depois de alguns segundos finalmente começo a dizer: — Jin, e porque você não vem trabalhar na empresa da família comigo? Sei que naqueles documentos tá escrito que eu sou o CEO e tudo mais, mas nada impede que eu possa contratar você como meu braço direito. — Estou pensando nessa ideia de trabalharmos juntos desde o dia em que ele me ajudou na empresa, com certeza eu me sentiria muito mais tranquilo trabalhando ao lado de alguém de confiança como meu irmão. 

— Eu…? Mas porque eu? 

— Naquele dia você me ajudou muito, e eu sei que você é muito inteligente, vem trabalhar comigo, por favor.

Seokjin abaixa a cabeça. — Esse sempre foi meu sonho, sabia? Sempre quis trabalhar na empresa junto do nosso pai, mas… você sabe, ele me odeia mais que tudo, e eu também odeio aquele velho escroto. — Jin faz uma pausa. — Nunca imaginei que um dia seria meu irmãozinho que me convidaria para trabalhar na empresa da família. — Ele volta a olhar para mim. — Só me deixa pensar um pouco, tá bom? — aceno em concordância. — Vamos mudar de assunto agora, porque o clima ficou tenso demais. — Completa com um sorriso. 

Não entendo porque ele precisa de tempo para pensar, se era o sonho dele não seria mais fácil aceitar de vez? No entanto, se é assim que ele quer, vou respeitar sua decisão. Não seria justo da minha parte obrigar ele a aceitar, Jin já me ajuda muito ouvindo meus desabafos, isso é bom o bastante para mim. 

Seokjin vira o corpo na minha direção colocando uma das pernas dobradas sobre o sofá, — Esse homem que saiu com a nossa mãe, você gostou dele, acha que é uma boa pessoa? 

— Olha, ele não pareceu ser homofobico e trata a nossa mãe bem, isso já é meio caminho andado pra mim. 

— Hum, não sei. É estranho, não acho que a senhora Park vai conseguir superar o senhor Seo-joon tão rápido assim. 

— Eu também não acho, mas prefiro acreditar na mudança dela. — volto a ligar o meu celular e desbloquear a tela que tinha apagado pelo tempo que passei sem tocá-la. — Aproveitando o tema da conversa, vou a um encontro hoje também, Jungkook me convidou pra ir ao cinema. — deslizo o dedo sobre a tela do celular e entro no aplicativo de mensagens abrindo no contato de Jungkook. Ele respondeu a mensagem dizendo que compraria nossas pipocas e mandou a figura de um cachorrinho com sorriso congelado. 

— Todo mundo saindo em encontros hoje. E pelo seu sorrisinho aí, aposto que você tá trocando mensagem com ele, não é? 

Volto a guardar meu celular e me levantar do sofá. — Acertou de novo, irmãozinho. Agora me diz, o que você preparou pro almoço? Sai de casa sem comer nada porque queria provar a sua comida hoje.

— É mais 200 mil wons por comida aqui. Trouxe dinheiro aí com você? — questiona levantando também.

Tiro minha carteira do bolso e mostro para ele. — Hoje eu vim preparado. — Ambos acabamos rindo da nossa brincadeira de irmãos.

[●●●]

Algumas horas depois naquele mesmo dia… 



Jungkook


Paro em frente ao espelho, e despejo uma quantidade pequena do perfume, de cheiro suave, sobre meus pulsos e pescoço. Também borrifo um pouco por cima da minha camisa preta, ela é uma das minhas preferidas, por ser larga do jeito que gosto de usar e por ter estampado o rosto de Satoru Gojo, um dos meus personagem favoritos dos animes. Uma das vantagens dela ser larga, é que me ajuda a disfarçar a magreza do meu corpo feio. Me sento na cama e colo um dos pés sobre a mesma, subo um pouco a barra da minha calça jeans para que eu tenha mais facilidade para amarrar o cadarço do meu tênis que desamarrou sem que eu percebesse. 

Acordei hoje muito melhor do que todos os últimos dias, ter tido aquela conversa com Jimin ontem me deixou mais animado. Eu só preciso fazer tudo dar certo dessa vez. 

Nos meses de namoro que tivemos, por incrível que pareça nunca fomos ao cinema juntos, a gente fazia outras coisas, e víamos filmes em casa mesmo. Então esse vai ser o nosso primeiro encontro no cinema. Já fui nesse mesmo lugar uma vez anos atrás com meu primo quando saiu o lançamento de um dos filmes do homem aranha, me sinto confortável por ser um lugar que sou mais familiarizado. Acho que é um bom recomeço, ou pelo menos espero que seja. 

Escuto batidas na porta do quarto. —  Só um momento. — Me levanto e vou até lá, assim que abro a porta encontro minha mãe. — O que a senhora quer, mãe? 

Ela me observa de cima a baixo. — Vai sair?
 
— Yoongi me convidou pra passar o dia na casa dele. Se não acredita em mim pode mandar mensagem pra ele. — Hoje pela manhã contei o que aconteceu para Yoongi e ele se ofereceu para me acobertar nessa saída. 

— Não precisa, vou confiar em você dessa vez. Vai voltar pra casa que horas?

— Quando me der vontade. Se era só isso que a senhora queria, então co… 

— Eu na verdade queria aproveitar minha folga de hoje pra passar o final de semana com você e seu pai, mas o Ji-chu saiu às pressas depois de receber uma ligação. Disse que precisava resolver coisas de trabalho. Ia chamar você pra gente assistir um dorama junto e comer uma pipoca, o que acha? 

— Não quero, me dê licença, agora, por favor. — Forço a porta a fechando, e agradeço mentalmente por minha mãe não ter insistido em me fazer passar o dia com ela.   

Vou até minha cama e pego meu celular. Jimin mandou uma mensagem avisando que já saiu de casa. Respondo dizendo que estou a caminho também. 

[●●●]

Empurro a porta à minha frente e me assusto com o barulho que o sino acima, faz assim que ela se abre por completo. A um moço no balcão, ele usa uma camisa de mangas brancas por baixo de um uniforme verde, estilo avental, com o desenho de uma flor branca, no peito e mais abaixo o nome da floricultura, Best Wishes. 

— Boa tarde, senhor, seja bem vindo a floricultura Best Wishes. Como posso ajudar? Está a procura de alguma flor para dar de presente para namorada, mãe ou amigo? — O atendente questiona enquanto sai de trás do balcão de recepção. 

Coço a garganta em um pigarro e limpo a palma das mãos, que estão um pouco húmidas, no tecido da minha calça. — Boa tarde. — Faço uma pequena reverência. — O senhor teria rosas azuis aqui? 

Ele cruza os braços levando uma das mãos até o queixo. — Você deu muita sorte, temos sim. Só preciso checar quantas unidades ainda restaram. — Ele descruza os braços e começa a andar entre as prateleiras decoradas com arranjos de flores diversas. Eu o acompanho, enquanto passo o olho por todos aqueles buquês prontos para a venda, cada um tendo a sua beleza única, não sou um conhecedor de jardinagem, as flores que reconheci foram: rosas, lírios e girassol. Ele parou a mais ou menos um metro de distância de mim e me chamou para ir até ele. Deixei de admirar as flores e fiz o que me foi pedido. 
— Infelizmente da que o senhor quer só restou essas três aqui. Tá tudo bem ou o senhor queria um buquê grande? Se preferir podemos incluir algumas outras flores também. Temos tulipas, e… 

— Está tudo bem. Vou levar só essas mesmo. 

— Tem certeza? Se for pra namorada, talvez ela goste se o senhor levar um maior, hein?

— Meu namorado não se importa com isso, senhor. Estou com um pouco de pressa, será que podemos agilizar o pagamento logo? — Talvez eu tenha sido um pouco grosso demais no meu modo de falar, mas já estava ficando sem paciência. Jimin provavelmente deve ter chegado no cinema, não quero fazer ele esperar muito tempo. O plano era eu ir direto para lá, mas quando passei em frente a essa loja pensei que ele ficaria feliz se ganhasse um presente. A roza azul me faz lembrar do dia do nosso primeiro beijo, acredito que ela seja tão especial para ele quanto é para mim. 

O atendente recebeu meu pagamento pelo mini buquê e se desculpou por qualquer incómodo, quando saí de lá me disse um “boa sorte no seu encontro” não falei para ele sobre estar indo em um encontro, mas acho que seu trabalho lhe permite ter experiência nesse tipo de palpite sobre a vida alheia. 

Não podendo perder mais tempo começo a caminhar o mais rápido possível pelas ruas e calçadas. Por sorte não estava tão longe do meu local de destino, então pouco mais de sete minutos depois, parei em frente a entrada do cinema. Respirei fundo, três vezes seguidas e caminhei para dentro do estabelecimento, já que não encontrei Jimin esperando do lado de fora, no entanto, assim que entrei também não o vi. Olhei de um lado para o outro, observando as pessoas passarem, umas acompanhadas de amigos, outras de mãos dadas como um casal, algumas com baldes de pipocas na mão, outras encarando a tela de seus celulares. 

Continuei a procurar em volta, porém, nada de encontrar ele. Me sentindo para baixo, caminhei até um dos pilares que dividem o espaço grandioso da sala de chegada do cinema e me encostei ali. Coloquei a mão no bolso da minha calça e peguei meu celular para mandar mensagem para Jimin, no entanto, acabei optando por fazer uma ligação. 

Ele atendeu. — Oi, Jimin, já cheguei aqui no cinema. Você foi embora porque eu te fiz esperar muito? Desculpa, eu juro que não era a minha intenção. — “Onde você tá? Eu não fui embora tô aqui também. Sabe onde fica a máquina de pegar bichinho? Estou aqui do lado dela”. Suspiro aliviado. — Sei sim, me espera aí, já tô indo. — Desliguei o celular e me apressei a ir até ele. 

A cinco passos de distância dele, parei por um segundo engolindo minha saliva com dificuldade, fiz questão de esconder as flores atrás do corpo para que ele não visse de imediato. Jimin sorri ao me ver e eu fiço o mesmo, ele está lindo como sempre: Está usando uma camisa de mangas longas amarela por baixo de uma jardineira de jeans azul claro, na cabeça usa uma touca na cor cinza, colocada de modo que deixa alguns dos seus fios loiros da parte da frente, a mostra. Caminho na sua direção parando a três passos de distância. Sinto como se meu coração estivesse prestes a explodir. 

— O-oi, Jimin. 

— Oi, Jungkook. 

Nossos olhares estão conectados um ao outro, e de repente o barulho das pessoas ao nosso redor, parece desaparecer. Estamos só nós em nosso mundo. 

Não há espaço para dúvidas, meu coração não pertence só a mim, desde o dia em que o vi pela primeira vez, meu coração ganhou um novo dono. Pertence a Park Jimin.  

Tiro o buquê de trás das costas e seguro em sua direção. — Pra você. — Não sei qual a reação dele, porque não consegui manter contato visual. 

— São lindas, obrigado. — Sinto seus dedos tocarem os meus quando ele levanta a mão para pegar o buquê. — Foi por conta delas que você se atrasou? — pergunta cheirando as flores. 

— Foi. Me desculpa, eu juro que não queria ter feito você esperar tanto assim, desculpa mesmo. Prometo que isso não vai mais acontecer. 

— Calma, não se preocupa com isso. Eu sei que eu disse ontem que essa era a nossa última chance, mas você não precisa ficar com medo ou se desculpando por tudo que faz de “errado”. — faz aspas com os dedos na última palavra da frase. — Tá tudo bem, você pode continuar sendo quem você sempre foi comigo, não vou deixar você sozinho por culpa de erros bobos. 

— Muito obrigado. — è tudo que digo, por algum motivo sinto que se eu tentar dizer algo a mais vou acabar chorando. De repente falar sobre meus sentimentos em voz alta se tornou algo doloroso. 

Ele sorri gentilmente. — Você pode esperar um pouco aqui? Preciso ir ao banheiro. O filme começa em cinco minutos, prometo ser rápido.

— Pode ir, eu espero aqui. Quer que eu segure isso pra você? 

— Pode ser. Valeu. — Ele então me entrega o buquê e sai repetindo mais uma vez que não demora para voltar. 

Fico ali parado olhando as pessoas em volta caminharem de um lado para o outro. De repente começo a sentir como se seus olhares estivessem todos voltados para mim. Baixo a cabeça me sentindo intimidado, observo meus pés com atenção. Começo a batucar o pé direito na tentativa de que minha concentração saia do barulho à minha volta e eu consiga focar em outra coisa. Mas é inútil. Ainda sinto que estão olhando para cada movimento meu. Será que estão notando o quanto o meu corpo desnutrido é estranho? Ou estão percebendo que não passo de um fracassado na vida? Engulo em seco, minha respiração se agita, batuco com a mão esquerda na minha perna. Sinto minha palma começar a suar, respiro fundo tentando mais uma vez me acalmar. 

— Jungkook, você tá bem? 

Sinto braços tocando em ambos os meus ombros, levanto o queixo encontrando Jimin a minha frente. — Chamei você mais de uma vez e você não respondeu, tá tudo bem? 

— Ji-Jimin… — balanço a cabeça rapidamente, piscando forte os olhos. — Você pode me abraçar, por favor? 

Nenhum questionamento sai de sua boca, ele não me acha estranho? Sem demora, Jimin apenas acena em concordância com a cabeça e me puxa para um abraço firme. 

Deito minha cabeça em seu ombro, seguindo suas ordens passo a respirar e inspirar fundo. Jimin passa as mãos pelos meus cabelos e diz: — Estou aqui com você. 

Abracei ele mais forte ainda. Não sei ao certo quantos minutos ficamos naquele abraço, mas em nenhum momento ele tentou se afastar. E eu me senti seguro nos braços dele. 
Depois que consegui me acalmar ele perguntou se eu queria ir embora ou não, respondi que estava tudo bem, Jimin pareceu muito animado falando sobre esse filme, eu não podia estragar nosso encontro. Fomos juntos comprar pipoca e coca-cola de acompanhamento para ver o filme. Quando entramos na sala de cinema, o filme já estava com dez minutos que havia sido iniciado. Fomos em silêncio para as cadeiras da quinta fileira à nossa esquerda. 

Achei que não gostaria tanto do filme, mas me enganei, tudo é muito interessante e o mais legal é que, mesmo falando sobre dois meninos, a história conta sobre eles estarem confusos em relação ao sentimento de gostarem um do outro de forma romântica. 

Cerca de 98% do filme já se passou. Tiro minha atenção da tela e observo o rosto de Jimin. Ele está chorando com o filme, é estranho eu achar isso fofo? Baixo o olhar para sua mão em cima da poltrona, lentamente aproximo meus dedos dos seus e quando estou prestes a tocá-los ele afasta a mão primeiro fazendo com que nossos dedos se esbarrem. Olho para Jimin e ele está me encarando, baixo a cabeça e sem aviso prévio seguro sua mão, volto a olhar para ele e ele está sorrindo. Retribuo o seu sorriso e voltamos a nos concentrar no filme. 

No fim acabei chorando também, foi simplesmente lindo e triste ao mesmo tempo. 

Os créditos finais começaram a rolar na tela. 

—- Eu tô sem palavras, que filme incrível. — Jimin diz usando a mão para limpar o rosto. 

— É incrível mesmo. Não sabia que você chorava com filme.

— Ah, para! Você também chorou que eu vi. — ele dá um empurrãozinho de leve em meu ombro. 

— Que nada, isso que você viu era suor. — digo prendendo um sorriso. 

— È? Então deixa eu ver isso de perto. — ele se inclina sobre a poltrona ficando muito próximo do meu rosto, sua mão repousa em minha bochecha, e um de seus dedos toca na pele abaixo dos meus olhos. Observo tudo em silêncio. —- Admite que você chorou, isso não é suor. — A respiração dele bater contra a minha, Jimin não se afasta e continua a falar outras coisas, que não entendo, devido estar perdido demais em seus lábios rosados à minha frente. Sem controle, deixo que minha boca se abra brevemente, liberando espaço para minha respiração pesada. Não conseguindo conter meus próprios pensamentos, levo a mão para de trás de sua nuca, querendo deixar claro que quero que ele continue onde está. Umedeço meus lábios com a língua quando percebo que ele encara minha boca. — Eu quero beijar você, Jungkook.  — a voz dele sai rouca e arrastada.

— Me beija, Jimin. — Nossos rosto se aproximam mais ainda fazendo nossos narizes se tocarem, no entanto, quando estamos prestes a unir nossas bocas, sinto um esbarro em minha perna e nos afastamos. 

A pessoa que esbarrou começa a pedir desculpas e de repente me dou conta de que a conheço. 

— Suzy, você aqui? —- Jimin fala primeiro que eu. 

— Jimin, Jungkook? Nossa desculpa por ter atrapalhado vocês. Podem continuar, eu só estou de passagem, não liguem pra mim. 

— Sem problemas, eu que deixei minha perna no meio do caminho. — Explico me desculpando. 

— Você veio sozinha? — Jimin questiona. 

— Não vim com o Tae, ele tá sentado ali falando com a mãe dele no celular, disse que ia sair na frente porque eu queria ir ao banheiro. 

Me viro para olhar na direção que ela apontou e vejo Taehyung levantando da cadeira, não demora para que ele esteja próximo a nós também. Ele se desculpa com Suzy pela demora e depois nos comprimenta surpreso por nos encontrar. O clima de beijo entre eu e Jimin já era. Mas isso não me desanima, só de saber que Jimin queria me beijar me sinto como se estivesse nas nuvens. Tae nos convida para tomar um sorvete, sem motivos para negar, acabamos aceitando. 

Saímos os quatro do cinema, o motorista de Jimin aparece ao ser chamado por ele, e nos leva até uma sorveteria. Jimin, como é de se esperar, comprou seu sabor preferido de sorvete. Taehyung preferiu um suco de laranja, eu e Suzy escolhemos picolés de chocolate, os quatro nos sentamos em uma única mesa, eu ao lado de Jimin e Tae ao lado de Suzy. 

— A Suzy hoje mais cedo tava me contando que o Ho’omau vai ser reaberto, não é Su? 

Estava prestes a morder o picolé, mas ao ouvir as palavras de Taehyung, paro no meio do caminho. Volto minhas mãos sobre a mesa. — O quê? 

— É, pelo que minha mãe disse, no dia do velório da senhora Choi, foi um advogado até lá procurando algum familiar dela, ele informou que pouco tempo antes de morrer ela procurou ele para falar sobre a doação do Ho´omau para uma instituição de câncer. Eles já tinham dado início em toda a papelada e só estavam esperando a confirmação da instituição, ele explicou que foi ao Ho’omau contar a Senhora Choi que tudo tinha corrido bem, mas infelizmente ela já estava… Bom, vocês sabem o que aconteceu. Ele disse que ficou sabendo do velório pela vizinhança e resolveu ir prestar suas condolências, e como minha mãe estava como responsável naquele dia, acabou explicando tudo pra ela. 

Eles continuam falando entre si. Mas minha mente fica empacada no que Suzy disse.   

Quer dizer que ela aceitou tão bem que era seu fim que conseguiu se organizar para a sua partida? Não, eu não consigo entender, porque ela não pediu por ajuda? Porque não me deixou saber o que estava acontecendo desde o início? É inaceitável que tudo que eu tenha seja uma carta, não é justo que eu não possa mais ouvir sua voz. Nada do que está acontecendo é justo!

— Minha nossa, Jungkook, você tá sujando sua mão inteira. 

— Hã?... — Observo Jimin limpar minha mão com um guardanapo, nem percebi que estava pingando picolé em minha mão. Agradeço a ele quando entrega um guardanapo para que eu termine de limpar, acabo deixando o que sobrou do meu sorvete sobre uma bandeja no centro da mesa. 

— Tá tudo bem contigo, Jk? Tô achando você meio fora de órbita, sabe? — Tae acaba sorrindo, eu apenas forço achar engraçado. 

— Você e a senhora Choi eram muito próximos, não era Jungkook? No tempo em que eu trabalhei lá ela vivia falando de você. 

— Ela amava o Jung demais mesmo. 

— Verdade, isso qualquer um de nós percebia. Ela era muito legal. — Taehyung comenta.

Porque todos estão falando dela no passado?... Ela ainda continua me amando e sendo incrível. 

Ignorando a pergunta que me foi feita antes acabo por tirar uma dúvida: — Quando o Ho'omau vai ser reaberto? — Coloco ambas as mãos por debaixo da mesa onde tenho liberdade para apertar o tecido da minha calça com força entre os dedos. 

— Isso eu não vou saber te dizer, mas fiquei sabendo que hoje vai um pessoal lá limpar o quarto dela. Confesso que fiquei surpresa quando descobri que a senhora Choi morava em um quartinho no Ho’omau. 

— E tem quarto lá? — Tae questiona olhando surpreso para ela. 

— Tem, fica no andar de cima próximo à biblioteca. — sou eu quem responde. — Que horas essas pessoas vão passar lá? 

— Acho que já devem tá finalizando o serviço uma hora dessas. Inclusive isso me fez lembrar que minha mãe tinha pedido que eu fosse até lá pra pegar as chaves, porque ela ia se ocupar agora a tarde. Acho que na segunda ela vai ter que entregar as chaves pros novos donos, só não devolveu antes porque ela pediu a eles um tempo em respeito a memória da senhora Choi. 

— Poxa, então nosso encontro vai ter que terminar aqui, Su?... — Tae parece triste. 

— Sinto muito, Tae, mas… 

— Preciso ir até lá. — falo me levantando de uma vez da cadeira. Olho para Jimin quando sinto tocar minha mão. — Eu tenho que ir… — não preciso dizer mais nada, em uma comunicação visual ele consegue me entender, e assim como eu, também se levanta da cadeira. 

— Suzy, tudo bem pra você se eu ficar responsável por pegar as chaves? Eu mando mensagem para você assim que tudo terminar. — Fico surpreso com as palavras de Jimin, mas ao mesmo tempo agradecido por sua ajuda. 

— Sem problemas. Assim vou poder aproveitar mais o meu encontro com o TaeTae. — os dois se olham sorrindo. Jimin aperta firme minha mão e se curva levemente para frente para pegar as flores que lhe entreguei mais cedo que ele havia  deixado ao seu lado sobre a mesa. — Vamos indo então. Bom encontro pra vocês. 

[●●●]

O motorista de Jimin para com o carro em frente ao Ho'omau. Enquanto abro a porta à minha esquerda percebo que do lado oposto da calçada tem uma vã na cor cinza com detalhes em marrom na parte inferior, escrito na parte de trás, em letras de caixa alta, o nome “A caminho do céu”¹.

— Obrigado, senhor. Nos espere aqui, por favor. — Ouço Jimin agradecer o motorista enquanto sai do carro. — A porta tá aberta, então eles ainda estão aí. Vamos entrar? 

Jimin questiona assim que para ao meu lado. 

Aceno rapidamente com a cabeça e começo a andar na direção da porta, vejo ele entrar por ela, mas meus pés travam por um instante, fico de cabeça baixa. 

Eu não posso chorar agora, não posso. 

Jimin chama pelo meu nome. Levanto a cabeça, respirando fundo e finalmente dou o primeiro passo para dentro do estabelecimento. 

— Eles devem estar no andar de cima. — Jimin comenta. 

À medida que vamos em direção às escadas, continuo tentando não me levar pela emoção. Tudo aqui me lembra dela, em cada canto que olho vejo o rosto da senhora Choi sorrindo gentilmente para mim enquanto me chama para um de seus abraços apertados. Isso dói demais, porque quando pisco os olhos me dou conta de que tudo é fruto da minha imaginação. Ela não está aqui e nunca mais poderei abraçá-lá. 

Já no andar de cima, nos aproximamos da porta do quarto dela que está aberta. Paro em frente, Jimin comprimenta e explica quem somos para dois homens que estão lá dentro. Ambos usam um uniforme preto, um deles parece ter mais ou menos a minha idade, olho de relance e consigo ler o nome escrito em seu uniforme como, Han Geu-ru, ele tem um fone grande branco de ouvido pendurado no pescoço, já o outro aparenta ser bem mais velho, provável que tenha a idade da minha mãe. 

O homem mais velho pede que a gente entre. Jimin parece confortável de estar dentro do quarto, mas eu não consigo entrar. Isso é demais para mim. 

Fico parado escorado na parede ao lado da porta, digo a Jimin que estou bem quando me é perguntado, apenas explico que prefiro esperar ao lado de fora. 

Menos de dois minutos depois, todos saem do quarto fechando a porta em seguida. 

O cara que se chama Han Geu-ru segura uma caixa amarela nas mãos, ele para na minha frente, e o outro desce as escadas com um saco grande contendo alguns objetos que desconheço, Jimin o acompanha. 

— Muito prazer, me chamo Han Geu-ru, eu e meu tio somos donos da empresa de traumas, a caminho do céu. — Ele se curva formalmente. Mesmo que eu não entenda o motivo dele está se apresentando tão de repente, eu apenas retribuo a reverência me apresentando também. — Senhor, Jungkook, a Senhora Choi, dona desse quarto, era alguém importante para o senhor? 

— Sim, eu a considerava como minha avó. E não precisa de tanta formalidade, acho que não sou mais velho que você. 

— E porque não quis entrar no quarto quando meu tio chamou vocês? 

— E-eu não consigo… não aguento, tudo aqui me lembra ela. — falo de cabeça baixa. 

— Entendo, também perdi meu pai faz pouco tempo e tudo na minha casa me faz lembrar dele, meu tio prepara a comida para mim, mas nada se compara aos ovos que meu pai me fazia no café da manhã. — volto a olhar para ele, meus olhos estão cheios de lágrimas.  — A senhora Choi não vai voltar nunca mais, assim como meu pai. 

— Eu sei disso, você não precisa me lembrar! 

Apesar do meu tom sério de voz ele continua a falar:  

— Mas você já se perguntou o que ela diria se soubesse que toda lembrança dela lhe faz chorar? Tenho certeza que ela não ficaria feliz com isso. 

— Não é como se eu pudesse evitar… 

— Você não precisa deixar de sentir ou ignorar sua dor, apenas tente lidar com ela encarando tudo de frente. Mesmo que seja difícil no início, se continuar tentando uma hora você irá perceber que não se cura a dor do luto fugindo dela, você só aprende a superar quando se permite aceitá-la por completo. Vai doer bastante, mas vai chegar um momento em que você vai lembrar da pessoa que amou e, em vez de chorar, você irá sorrir lembrando dos bons momentos que passaram juntos. Isso funcionou para mim, talvez funcione para você também. 

Acabo deixando uma lágrima escapar, mas rapidamente eu a limpo com o dorso da mão. 
— Por que está me dizendo tudo isso? 

— Apenas senti que você precisava ouvir. — Nossa atenção é roubada quando lá de baixo uma voz grossa grita pelo nome dele. — Com licença, preciso ir agora, meu tio está chamando. 

Ele sai na frente e eu o acompanho descer as escadas. 

Quando chegamos no andar de baixo, Jimin pergunta mais uma vez se estou bem, faço que sim em um balançar de cabeça. 

— Bom, estamos de saida agora. Geu-ru, entregue a caixa a eles. — O tio do garoto pede. 

Han Geu-ru dá três passos à frente e entrega a caixa para Jimin. — Aqui estão alguns dos pertences importantes que achamos no quarto da falecida.

— Muito obrigado pelo trabalho de vocês. — Jimin agradece para ambos em uma reverência. 

— Obrigado pelo que me disse, Han Geu-ru. — Me curvo em agradecimento, ele faz o mesmo. Não demora para que ambos estejam saindo pela porta nos deixando a sós.  

Ambos nos sentamos no sofá, o mesmo que eu e senhora Choi sempre nos sentávamos para conversar sobre a vida, Jimin coloca a caixa sobre a mesa. 
— O que será que tem aqui? — ele pergunta baixinho enquanto retira a tampa de cima da caixa. — Ah… é só um porta retrato com uma foto dela mais jovem ao lado de uma mulher. — Ele me mostra a foto. — Então essa era a companheira da senhora Choi. — Balanço a cabeça em concordância.
— Tem alguns livros aqui também e uma… 

— Uma o quê? — pergunto curioso quando ele se cala de repente. 

— Um envelope com o meu nome. — Jimin tira o envelope de dentro da caixa. Ele encara o papel em sua mão e depois concentra seu olhar no meu. — É uma carta da senhora Choi pra mim. 

Observo ele abrir o envelope e depois desdobrar o papel ao meio colocando entre nós dois para que ambos possamos ler em silêncio. 

Carta: 

Sei que pode parecer estranho eu estar escrevendo uma carta para um ex-funcionário meu, mas Jimin, tenho muito carinho por você. E por todos os seus amigos e por Jungkook também, minha vontade era de escrever uma carta para cada um, mas acho que isso já seria exagero demais da minha parte. Jimin, sei que as coisas não são fáceis pra você, tive a certeza disso no dia da festa que fizeram para mim e seu pai atrapalhou com todo aquele escândalo, mas nunca deixe que a maldade de pessoas ao seu redor mude quem você é, um dia você verá que sua luta não foi em vão.
 Tenho que confessar uma coisa, no início quando apareceu me pedindo emprego, eu apostei comigo mesma “esse aí não dura um dia”, achava que você era só um garoto riquinho fazendo birra, mas eu também já fui jovem e sei que às vezes queremos nos provar suficientes, por isso aceitei você como funcionário. E você me fez morder a língua, viu? Você me mostrou que é um ser humano incrível e de bom coração. Não me arrependo de ter ajudado você, mesmo que por pouco tempo. 
Sou muito feliz por saber que meu menino Jungkook tenha encontrado o amor em um rapaz tão gentil quanto você. Sabe, Jungkook é uma das pessoas mais especiais da minha vida, garanto a você que ele é um menino de ouro, às vezes ele pode ser um pouco complicado, mas acho que isso é algo normal na idade de vocês. Seja paciente com ele, Jungkook é alguém que vale a pena. Vivemos em um mundo com pessoas ruins à espreita, mas torço do fundo do meu coração para que vocês dois consigam ter uma vida feliz. Preciso me lembrar de escrever uma carta para Jungkook também, porque não quero que ele fique com ciúmes. Meu plano é escrever essas duas cartas e entregá-las pessoalmente a vocês. Não sei quanto tempo ainda me resta, mas queria aguentar por mais um tempo, em agosto é meu aniversário, gostaria muito de comemorar com todos vocês aqui no Ho’omau. Mas caso eu não consiga realizar esse desejo, está tudo bem também. 
Jungkook comentou comigo uma vez que você gosta muito de admirar o céu, então sempre que sentirem saudades de mim, olhem para o céu, eu estarei lá cuidado de vocês dois, e durante a noite, procurem pela a estrela mais brilhante, provavelmente essa será eu sorrindo para que vocês me encontrem mais rápido. 

Assinado: Senhora Choi, a melhor chefe do mundo. 

Lágrimas pesadas banham o meu rosto. Mordo meu lábio inferior com força para não deixar que meus soluços saiam alto. Viro meu rosto na direção de Jimin e percebo que ele também está chorando. Eu o abraço sem pensar duas vezes. — Eu sinto tanta falta dela. — Digo enquanto deixo minhas lágrimas molharem seu ombro. 

— Eu também, Jungkook, eu também. — sinto ele fazer carinho em minha costas com a mão. — Mas ela deve estar em um bom lugar agora. 

— Eu queria ela aqui comigo. — Aperto ele com mais força — Não é justo que ela tenha morrido…. — Minha fala é interrompida por um de meus soluços. — Eu não consigo fazer isso passar, tá doendo demais, me ajuda Jimin, por favor, eu não aguento mais sentir essa dor. Eu quero ela de volta.  

Ele segura meu rosto com ambas as mãos me fazendo encara-lo. Seu rosto está molhado por conta das lágrimas recém caídas. — C-calma, meu amor. Eu tô aqui com você, a gente vai passar por isso juntos. 

Encosto minha testa na dele. — Você promete? 

Ele balança a cabeça em concordância e depois se aproxima mais ainda fazendo nossas bocas se tocarem de leve, mas o contato é rápido, e logo ele volta a posição onde somente nossas testas estão unidas. — Eu prometo. E você sabe que eu estou falando a verdade, não é? Porque eu sou você…

Respiro fundo e depois de outro soluçar eu digo: —... E você sou eu. 














———☆☆☆☆———

Referência: A caminho do céu, dorama. (Assistam, é muito bom pra te fazer chorar).

Espero que tenham se divertindo com esse capítulo, lá nos meus stories eu postei sobre ter chorando escrevendo ele, o que me fez chorar foi a carta e esse final, mas duvido que alguém tenha chorado com ele kkkk obrigada por estarem sempre acompanhando a história.

Beijos e até logo 💙
















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