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- Eu acho que vou seguir meu rumo - Beijamin disse e rapidamente nego
- Claro que não, você não pode voltar pra rua e ficar jogado lá.
- Tio, é o meu destino.
- Não é não, fica aqui. Você vai poder ir pra escola, estudar e realizar os seus sonhos.
- Não vai, Ben - Miguel chorou agarrando os seus pés e Beijamin o pegou no colo
- Eu não posso ficar, isso é abusar demais da boa vontade de vocês
- Claro que não, Beijamin - minha esposa disse séria - a gente quer muito te ajudar.
- Não precisa, tia. Eu sou grande e sei resolver os meus problemas. - ele disse sério e sinto um nó se formar em minha garganta.
- Não sabe não, você ainda é um pré adolescente, você ainda tem que brincar e aproveitar essa fase da vida, o seu destino não é simplesmente sair por aí vendendo balinha e vê no que vai da. - digo bravo
- vocês estão sendo bons demais comigo e eu agradeço por isso mas eu só sou eu e preciso seguir minha vida.
- você não é só você, Ben. - Gigi disse nervosa
- Você tem a gente, Beben - Elena disse chorando
- já fiquei aqui por uma semana, já é demais. Eu agradeço o carinho.
- Beijamin - me aproximo dele - Não vai, fica aqui.
- Não...
- deixa a gente ser a sua família, Beben - Elena disse engolindo em seco
Suspiro fundo observando o silêncio que ficou no ar, Elena Valentina simplesmente falou o que eu e minha esposa estávamos tomando coragem essa semana inteira pra perguntar.
Olho pra Azedinha que ficou em silêncio observando a cena com algumas lágrimas rolando do seu rosto, Ben parecia ter entrado em transe com o pedido da minha filha.
Passo a mão no rosto ansioso pela resposta de Beijamin sentindo o meu coração quase sai do peito de tão acelerado que estava.
Mordo a bochecha por dentro tentando me manter o mais clamo possível, caso contrário, seria capaz de ter um ataque cardíaco aqui.
Perder o meu bebê foi e tá sendo algo tão doloroso pra minha família e a gente simplesmente não entende muito bem os planos de Deus mas acho que isso era um propósito dele.
Encontramos Beijamin pouco tempo depois sendo vítima da desigualdade social brasileira, nos sentimos fragilizados com a situação e é claro que o fato de termos perdido um filho mexeu muito com a gente naquele momento. Mas Deus já havia escrito nas estrelas que era pra acontecer exatamente assim.
Podemos até não entender de início mas só o tempo explica e cura absolutamente todas as feridas.
- Por favor. Responde, Beijamin. - minha esposa disse roendo as unhas nervosa
- Vocês querem que eu faça parte da família de vocês? - ele questionou incrédulo piscando os olhos várias vezes parecendo não raciocinar.
- Sim, você quer? - Questiono me aproximando da minha mulher - Quer ser nosso filho? Podemos te adotar, Beijamin?
- Eu não sei nem o que falar, achei que isso nunca fosse acontecer na minha vida - ele colocou as mãos no rosto chorando
- isso o que, Ben? - Miguel questionou
- Me sentir amado por alguém - ele disse com dor no olhar.
Durante essa semana em que passou aqui em casa, Beijamin me contou sobre algumas das coisas que acontecia na cidade do Rio de Janeiro. Em um dos relatos, ele diz já ter comido lixo, osso e até ter amarrado o estômago com uma linha pra não sentir fome.
Aquilo doeu tanto dentro de mim e dentro da minha Azedinha.
Ele também contou que alguns policiais já o espancaram diversas vezes só por ele ser preto, colocava sempre a culpa nele como se por conta da sua pele e por ser um vendedor simples de bala no semáforo sempre o comparava com um marginal.
O Racismo sempre está presente, pra todas as pessoas negras de todas as idades.
Lamentavelmente.
- A nossa conexão foi instantemente, Beijamin - minha esposa se aproximou dele o abraçando
- Eu sei, eu também sentir isso. Me sinto em casa aqui.
- Então, faça desse lugar a sua casa - digo me aproximando dele
- Nos deixa te adotar, Beijamin. - minha esposa beijou sua testa - Não precisa nos chamar de pai e mãe sem se sentir confortável mas nós deixe cuidar de você como se fosse nosso filho.
- Eu tô com medo - ele disse com as mãos tremendo - e se um dia vocês se cansarem de mim? Filho adotivo é sempre diferente de filho de sangue.
- não, não é. - sinto meus olhos lacrimejar - não tem distinção entre eles e não vai haver com você - sussurro somente pra ele ouvir
- do que tá falando? - ele questionou chorando
- o Miguel é adotado - mumurro baixinho - eu o amo da mesma forma que amo a Giovanna e a Elena, são as melhores coisas que aconteceram na minha vida.
- Eu aceito - ele disse soluçando de chorar e nos abraçando em coletivo.
As crianças correm até a gente ficando ao redor nos cercando por um abraço quentinho.
Abraço de família. Por que sempre seremos uma família, onde amamos um ao outro com a maior intensidade possível.
A Azedinha e meus filhos foi a melhor coisa que me aconteceu nesses últimos anos, eu era só o Coringa, mulherengo que só ligava pras mulheres, farra, dinheiro e sexo.
Mas aquela mulher chegou junto deles e mudou todo o rumo da história, eu e meus companheiros de times costumamos falar que eu quem cruzei a fronteira da vida dela.
Mas está completamente errado. A Azedinha é quem foi a protagonista dessa história. Foi a Azedinha quem cruzou a fronteira.
Duas vezes.