No céu havia uma mistura de azul escuro, rosa e laranja, o sol já havia se escondido atrás dos prédios e as luzes neon de Los Angeles começavam a acender. Porém, as luzes do set Hollywoodiano estavam sendo apagadas, as janelas sendo fechadas, as câmeras sendo desligadas, a portas sendo trancadas e o motor dos carros estavam sendo ligados.
Arabella usou sua jaqueta jeans por cima dos ombros por causa da brisa. Após um dia cansativo de trabalho tudo que Arabella queria era estar em sua cama e ter pelo menos quatro horas de sono sem interrupções, mas fazia tempo que não dormia como um bebê, talvez anos até.
Sem olhar para os dois lados como sua mãe ensinou, Arabella colocou um pé na rua para atravessar, mas seu corpo deu um pulo pra trás ao ver um enorme Cadillac parar a sua frente, resmungou um xingamento.
-Mio Dio! - A morena se espantou em italiano.
As janelas se abaixaram e Alex riu, como um garotinho feliz ao ver um gatinho indefeso se assustar. Até os felinos mais ágeis se assustam. Pensou Arabella.
-Oh! Eu te assustei? - Alex diz, soltando o ar do cigarro - Quer uma carona?
-Ah Alex, por que diabos eu iria querer uma carona sua se meu carro está... - Arabella olha em direção aonde havia estacionado o seu ford - Mas o que?
Arabella corre para procurar o seu carro mas não encontra de forma alguma, Alex desce do carro e anda até ela com a mão na cintura, se divertindo com a situação.
-Amor, não consegue ver o hidrante? está bem na sua frente - As mãos de Alex guiam o rosto de Arabella para objeto vermelho que realmente estava ali.
-Maldição! Eu posso jurar que ele não estava aí quando coloquei - Arabella bufa - Terceiro dia em Los Angeles e levaram meu carro? Que tipo de brincadeira sem graça é essa?
Dava pra ver a frustração se acumulando em Arabella. Tudo estava dando errado e aquilo a deixava furiosa, o sentimento de não poder controlar sua vida a deixava furiosa, tudo que não tinha alcance a deixa furiosa.
-Aceita a carona agora? - Alex diz, atrás dela com um ar esperançoso.
Arabella se vira para o olhar, estava tão cansada que sem pensar duas vezes apenas andou até o carro e entrou. Alex deu um sorriso antes de andar e entrar no lugar do motorista.
-Para onde vamos senhorita? - Diz, com um sorriso travesso.
-Recuperar meu carro - Diz Arabella, sem hesitar.
-Bell...Arabella tem certeza que quer resolver isso agora? - Alex segura o volante com apenas uma mão, enquanto a outra se apoia no banco dela.
-Ou o que? Depender de você? Prefiro a morte, vamos logo.
Afiada, pensou Alex, ligando o carro e ligeiramente empurrando o acelerador.
...
Já se passava das nove, e o ar condicionado arrepiava cada pelo de seu corpo. Alex estava sentado na cadeira desconfortável enquanto via Arabella andar de um lado pro outro esperando para pagar a quantidade que fosse para ter seu carro de volta. Mas como tudo no governo americano acontece devagar, aquilo estava demorando mais que o esperado.
Ver a inquietude de Arabella estava dando nos nervos de Alex, o que fez agir rápido em agarrar os ombros dela e a puxar para a cadeira.
-Você precisa sentar, ficar em pé não vai acelerar o professo, só vai te deixar mais cansada.
-O tempo parece se mover como uma lesma aqui - Vencida pelo cansaço, Arabella se senta ao lado de Alex.
Em silêncio, ambos observam o local extremamente branco com bandeiras dos estados unidos, diversos cartazes com regras de trânsito, ou proibições.
-É frustante, tudo está dando errado hoje! - Arabella começa - Jenny pegou uma gripe e mal conseguimos filmar as cenas dela. Duas câmeras quebraram e o roteirista perdeu o roteiro, parece ter uma nuvem de coisas ruins encima de mim.
Alex permanece em silêncio, observou como Arabella era pessimista e negativa em diversas situações que ela não costumava ser no passado. E ele sabe que muitas vezes o otimismo é o pior inimigo do pessimismo.
-Você tem razão - Ele diz, com uma das mãos no ombro de Arabella.
-O que? - Ela pergunta, o encarando surpresa, tão surpresa que mal havia percebido o braço dele passando por seu pescoço.
-Você tem razão, coisas ruins estão acontecendo com você e todos a sua volta, você deveria se benzer, ir a igreja, chamar um exorcista, tomar banho de sal grosso eu sei lá.
Alex diz tão rápido que era difícil o acompanhar, Arabella apenas soltou um grunhido e apoiou sua cabeça no peito dele, as mãos de Alex faziam um movimento de sobe e desce no braço dela.
Arabella estava quieta e pensativa, estava tão cansada que seus olhos pesavam, e sua cabeça estava esvaziando aos poucos, tudo o que ela queria era plenitude, e aquele momento, por mais caótico que fosse lhe trazia o gostinho de uma vida mais calma, ao lado do homem que ela já amou.
Alex a segurava com apenas um dos braços e fazia anos que queria sentir o calor de ter alguém que lhe trazia conforto, ele gostaria de susurrar algo como "Ei está tudo bem, você está fazendo um ótimo trabalho" mas seu orgulho era grande demais, e o seu ego maior ainda.
Os dois permaneceram naquela posição por bastante tempo, era como se apenas um movimento fosse separar os dois, e poderia assim como palavras.
A calmaria foi substituída por uma voz rouca e cansada parada na frente de ambos, com olheiras e um óculos de corrente vestindo uma saia lápis e suéter, segurando um papel na mão e as chaves do ford.
-Sua multa, 60 dólares - Disse a mulher.
Com a mão sobrando Alex pegou o papel. Arabella parecia dormir tranquila no peito de Alex, e mal havia percebido a presença da mulher, menos ainda que Alex havia pegado o papel, amassado e guardado no bolso.
Com um dos dedos ele tirou uns fios de cabelo do rosto de Arabella, e a serenidade lhe fez dar um pequeno sorriso, com as mãos a sacudiu um pouco.
-Arabella, acorde - Os olhos acinzentados começaram a se abrir lentamente, em confusão - Disseram que vão enviar a multa no seu email, recuperamos o seu carro.
Arabella respira aliviada e se levanta lentamente, arrumando os fios que caiam em seu rosto com as mãos.
-Sério? - Agora havia frustração em sua voz - Esses americanos nos fazem esperar por horas para enviar em nosso Email?
Alex concorda com um sorriso bobo, ajuda ela a se apoiar e começam a andar para a garagem.
-Ah sim, esses americanos - Alex revira os olhos, segurando o riso.
A garagem enorme nos fundos cheia de carros velhos e arrebentados de um lado, e os novos e de perfeito estado do outro, como era o de Arabella, parecia que ver seu carro ali havia dado uma apreciação.
-Graças a Deus ele está bem - Alex ri, parando de andar enquanto ela corre até o carro e observa pra ver se tem algum arranhão.
Alex joga as chaves pra ela e observa ela contornar o carro como uma professora crítica, nem gostaria de saber o que ela se tornaria se vesse um pequeno arranhão na lataria preta e perfeita. O moreno se aproximou com a mão nos bolsos e um pequeno sorriso.
Arabella abriu a porta do carro e colocou um dos pés lá dentro, mas antes parou e sorriu antes de se virar para Alex.
-Obrigada - Ela diz, colocando uns fios atrás da orelha.
Ele faz um sinal com as mãos e balança a cabeça.
-Não precisa agradecer.
Arabella sorri desviando o olhar.
-Talvez um exorcista seja bom - Arabella o encara mordendo o lábio inferior.
Alex ri, acenando pra ela enquanto a vê entrar no carro. Da meia volta e anda até o balcão onde a mulher de voz rouca e cansada se instalava, deixou uma nota de 50 dólares e contornou seu caminho para seu carro.