- Você vai mesmo cabular aula? - Athena pergunta, olhando Elijah sentado numa arquibancada.
- Bem... Digamos que... Não te interessa. - Ele responde, olhando de cima para a garota.
- Não sei o porquê ainda falo contigo, sinceramente.
- Também não sei, agora pode ir vazando. - Ele diz, e a menina revira os olhos começando a caminhar.
Duas semanas tinham passado desde a travessura deles.
O professor que teve seu carro vandalizado, estava se achando mais do que nunca, pois havia reformado seu carro e ainda comprado algumas coisas com o dinheiro que Lopez lhe entregou.
E digamos que não tinha nada de muito diferente acontecendo na vida de ninguém. Só a mesma coisa de sempre.
Elijah olha para o chão, e percebe que Athena deve ter deixado algo cair. Ele desce as arquibancadas, e pega um papel.
Ou melhor, uma foto.
Ele vê duas pessoas. Duas meninas.
Uma delas ele percebe que é Athena, e deve ser uma foto mais antiga, pois ela parece mais jovem.
A outra mulher Elijah não conhece, mas percebe que ela se parece muito com Athena.
Ou melhor, Athena se parece muito com ela, já que a outra aparenta ser mais velha.
O garoto suspira, e pensa se deveria ir atrás da menina, para entregar a foto.
Mas sinceramente? Ele não tá nem aí.
Por isso ele volta para a arquibancada, e começa a mexer no celular.
Sua tia tinha confiscado seu celular, como forma de castigo.
"Está proibido de pegar esse celular".
Mas ela não disse nada sobre pegar o celular na bolsa dela.
[...]
- Ophelia? - Thomas chama, percebendo que mais uma vez a mulher olhava o janelão da sala de reuniões, pensativa.
A mulher balança a cabeça, espantando os pensamentos que estava tendo.
Ela olha para Thomas, e volta a expressão fria de sempre.
- Sempre pontual, não é? - Ela diz, olhando o relógio da sala.
- Fazer o que, né? Eu sou um bom funcionário. - Ele diz, fingindo se gabar, e ela se senta em sua respectiva cadeira, nem aí.
Thomas olha para aquela mulher, que sempre está séria. Ele se pergunta como é um sorriso dela, e o que uma pessoa tem de passar para ficar naquele estado de espírito.
- Tem algo no meu rosto, Sr. Garred? - Ela pergunta, notando o olhar de Thomas nela.
- Ah... Não eu... - Ele fica sem graça, mas logo percebe do que ela o chamou. - Ophelia, eu já disse, por favor, me chame de Thomas.
Ela revira os olhos, e pega alguns relatórios que estavam sobre a mesa, começando a folhear cada um.
Ela pretendia focar em analisar os relatórios, até que todos da reunião chegassem.
Tinha um aviso para dar, e precisava de todos juntos.
Por isso, preferia o silêncio.
Mas Thomas estava ali, logo...
- Ophelia - Thomas chama, se sentando na cadeira ao lado. A mulher suspira, mas não tira os olhos do relatório que segura. - Aquele seu sobrinho, o Elijah, ele é ótimo.
Ophelia olha para Thomas, que sorri.
Depois de Elijah ter dormido na casa de Thomas, ninguém comentou nada sobre.
E esse assunto vindo agora, do nada, fez Ophelia questionar onde Thomas queria chegar.
- Eu sei. - Ela responde simplesmente, voltando a atenção para o relatório.
- Sabe... Temos muito em comum - Ele diz, e Ophelia apoia uma mão na testa, se perguntando o porquê de Thomas estar tão falante hoje. - Ele também gosta de NEFFEX, acredita?
- Aquela bandinha lá? - Ela dá de ombros. - Sem ofensas, mas não gosto de rock.
Thomas se segura para não corrigir a mulher.
Não era uma banda. E não era rock.
Mas ele decide fechar a boca, por incrível que pareça.
- De que tipo de música você gosta? - Ele pergunta, levemente ofendido pelo termo "bandinha".
- Sinceramente, nenhuma. - Ela ouve o homem ao seu lado suspirar, e percebe que talvez, só talvez, ela deva começar a ser um pouco mais agradável com seus funcionários. Por isso, após um suspiro, ela completa:
- Mas as vezes eu ouço música clássica.
Thomas leva o olhar até ela, e sorri levemente.
Ophelia não tirou os olhos do relatório, mas pelo menos o moreno percebe que ultrapassou uma barreira com ela.
E o melhor, não levou uma patada.
- Combina com você. - Ele diz, e a mulher arquea a sobrancelha, tirando os olhos por um minuto dos papéis.
- O que quer dizer? - Ela questiona, levemente na defensiva, e Thomas engole em seco.
- Não... É que...
E para o alívio dele, as pessoas que faltavam para a reunião chegam.
Salvo pelo gongo.
[...]
- Só eu que notei o Ethan bem quieto esses dias? - Zoe pergunta num sussurro para Orion.
Ambos estavam encostados na parede da sala, esperando a professora, que com certeza se atrasou.
- Bem... O Ethan não é tão agitado quanto o Elijah, então... - Orion comenta, olhando o garoto que está sentado em seu lugar, olhando o celular.
- Aí, vocês meninos não percebem nada também. - Ela diz, cruzando os braços e fazendo um leve biquinho emburrado.
Orion sorri levemente com a expressão da garota.
E ao olhar melhor, ele percebe que ela havia se maquiado mais hoje.
Não tanto, pois ela não gostava de coisas exageradas, mas o suficiente para Orion notar.
- Está querendo impressionar alguém, ou simplesmente quis se produzir hoje? - Orion provoca levemente, sorrindo.
Zoe o encara, e suas bochechas ganham um tom rosada, que não tem nada a ver com o blush que está usando.
- Para de ser tonto... Eu... Só quis mudar um pouco... - A menina fala, franzindo as sobrancelhas, e Orion ri.
O garoto se aproxima levemente, e a garota sente um nó na garganta. Uma reação que ela não entende, mas mesmo assim sente.
- E agora? Quem disse que nós meninos não reparamos em nada? - Orion questiona, sussurrando perto da orelha da garota, que fica completamente desconcertada.
- Como você é idiota, sério. - E os dois riem.
Em um certo momento, Ethan olhou para os dois. Foi bem na hora em que Orion se aproximou de Zoe.
E a cena fez ele sorri levemente.
A vontade de bancar uma de cupido era enorme. Só que era mais divertido ver os dois aos poucos descobrindo seus próprios sentimentos.
Mas sinceramente, ele tinha os próprios sentimentos para lidar, então não tinha tempo para cuidar do que as outras pessoas sentem ou não.
Ele volta a olhar o celular, evitando muito contato com seu derredor.
É compreensível, as vezes acordamos simplesmente sem vontade nenhuma de socializar, e só queremos ficar na nossa.
Mas parece até que as pessoas sentem quando estamos assim, e justamente quando não queremos muita conversa, vem alguém para...
- Tá tudo bem, Ethan? - Zoe pergunta, ao se aproximar junto com Orion.
Ele tira o olhar do celular mais uma vez, e força um leve sorriso.
- Sim, está sim. - Ele responde, e Zoe suspende uma sobrancelha.
- Bem... Eu percebi que você está meio quieto, mas não vou forçar - A menina fala, sorrindo levemente. - Caso queira um amigo, você sabe que tem dois aqui prontinhos pra te ouvir.
Ela alterna a mão entre ela e Orion, se referindo aos dois. Ethan sorri, e dessa vez é verdadeiro, assentindo com a cabeça.
Então, a professora atrasada chega, e todos vão para seus devidos lugares.
O moreno agradecia por ter feito amizades tão boas quanto Orion e Zoe. E ele sabe que a oferta de Zoe para ouvir ele quando quisesse, era verdadeira.
Talvez no intervalo ele falasse um pouco o que sente. O único problema era o medo do julgamento. Medo de que não o entendessem, como sabe que a maioria das pessoas fazem.
Mal sabia ele que o intervalo reservava outra coisa.
[...]
- Agora que estão todos aqui, gostaria de fazer um aviso antes de começarmos a discutir sobre o livro que será exposto no projeto. - Ophelia fala, sentada em sua cadeira que fica na ponta da mesa, onde ela podia olhar para todos os presentes.
Todos assentem, e esperam o aviso. A mulher pega os papéis, junta todos e da uma batidinha na mesa, para organiza-los.
- Uma mulher muito reconhecida na cidade se ofereceu para patrocinar o livro. O nome dela é Britney - Ophelia começa a falar, se levantando da cadeira para poder ser ouvida melhor. - Por isso, a pré-venda do livro será realizada na casa dela. Ela está organizando um evento para isso.
Ninguém diz nada, apenas assentem com a cabeça para cada palavra de Ophelia. Ela explica outros detalhes, e finalmente termina o aviso.
- Ah, gostaria de lembra-los sobre a importância desse projeto. Não é somente um livro como todos os outros que a HarperCollins já produziu - Os presentes assentem mais uma vez, parecendo terem sido programados para isso. - Esse projeto foca no protagonismo negro, e aborda temas sensíveis como algumas condições especiais.
Agora ninguém assente, pois estão focados nas palavras da mulher. Todos sabem a importância desse projeto, pois iria abordar muitos temas sensíveis, e isso era necessário.
Ela continua:
- Por isso, refresco a memória de vocês para darem o melhor de si em suas respectivas áreas. A pré-venda será realizada um dia depois do Natal, assim todos podem passar o feriado com a família - Ophelia diz, e se senta novamente em sua cadeira. - Alguma dúvida?
Ninguém diz nada.
Na verdade, uma pessoa levanta a mão, como um aluno pedindo permissão a um professor para falar.
E óbvio que essa pessoa é Thomas.
Ophelia suspira levemente, e acena com a cabeça para que Thomas continue.
- Que tipo de evento será?
- Ah, claro. Ótima pergunta, Senhor... Digo, Thomas - Ophelia diz, pegando seu celular e olhando algo. Thomas fica com um ar levemente pomposo por ter sido "elogiado". - Será... Um baile de máscaras.
E se antes todos estavam quietos, agora a sala de reuniões virou uma verdadeira baderna.
Ophelia tenta chamar a atenção de todos, porém os presentes estão muito agitados para ouvirem.
Entenda, todos pensam a mesma coisa: "Como assim um baile de máscaras para uma pré-venda de livro?"
Ophelia finalmente consegue chamar a atenção de todos, depois de falar bem alto para que todos ficassem quietos.
- Eu também achei um exagero, porém digamos que essa mulher é um tanto... Excêntrica... - A mulher diz, com um leve desgosto. - Vocês poderão levar familiares e convidados, como ela mesma disse "quanto mais gente, melhor", agora, vamos voltar ao que interessa.
E assim, ainda meio agitados, a reunião "inicia" realmente, para discutirem umas últimas ideias antes de finalmente estarem prontos para o evento da pré-venda.
Afinal, dezembro estava se aproximando, e logo logo, o baile de máscaras de Britney chegaria.
[...]
O intervalo tinha chegado, para a alegria de todos os alunos.
Orion e Zoe estavam sentados em seu canto de sempre, afastados da maioria das pessoas.
Elijah tinha chegado logo depois, e se sentou de frente para Orion.
- Viram o Ethan? - Ele pergunta, bebendo um suco de caixinha.
- Agora que você falou... A gente veio direto pra cá, e acho que ele ficou na sala. - Zoe diz, comendo um lanche que sua vó tinha preparado para ela levar para a escola.
- Acho melhor eu ir ver como ele tá... Estou achando ele quieto demais ultimamente... - Elijah fala, suspirando.
- Viu só? Eu disse! - Zoe fala se referindo a Orion que balança negativamente a cabeça. - Também percebi isso.
Porém, antes de alguém falar mais alguma coisa, Athena chega praticamente correndo, e se apoia na mesa, com a respiração ofegante.
- Pessoal...! Vocês... Não estão ouvindo...? - Ela pergunta entre respirações, e todos ficam com a expressão confusa.
- Ouvindo o quê? - Orion questiona, ficando quieto para ouvir o que quer que a garota esteja se referindo.
- Nem deve ser nada. Se quiser chamar atenção por que não coloca uma melancia no pescoço? - Elijah diz, provocando a garota que o encara com uma expressão completamente desgostosa.
- Escuta aqui, eu tive a boa vontade de vir aqui avisar, mas provavelmente você não se importa com o fato do seu irmão estar brigando com Harold Reid lá fora! - A garota diz, saindo de perto do trio, indo em direção a saída do refeitório.
Os três arregalam os olhos, e num pulo Elijah se levanta e praticamente corre para fora também, seguido de Orion e Zoe.
[...]
A cena é simplesmente impressionante, surreal e assustadora.
Isso porque Ethan é conhecido por ser uma pessoa calma, e que praticamente nunca se mete em brigas.
Por isso, ver ele praticamente rolando no chão junto com o valentão, era algo difícil de digerir, principalmente para Elijah.
Ambos estavam machucados, Ethan tinha um corte no lábio, e Harold um olho levemente roxo.
A bochecha do moreno estava um pouco inchada.
Foi difícil chegar no centro da briga, pois muitos alunos estavam rodeando e gritando, atiçando mais ainda a briga.
O trio chega, e Elijah não está nem aí para Harold, mas não quer que Ethan se machuque mais ainda.
- Alguém separa eles, pelo amor! - Zoe exclama ficando nervosa.
Orion franze as sobrancelhas, e com um olhar para Elijah, os dois de aproximam, para tentar separar Ethan e Harold.
Elijah segura o irmão pelos dois braços, o levantando do chão, e Orion faz o mesmo com Harold, com um pouco mais de dificuldade, pois o garoto é maior que ele.
Ambos ainda tentam se soltar do aperto e voltar a brigar mas são impedidos.
- Ethan! Para! - Elijah tem de gritar para que o irmão pudesse ouvi-lo, já que as pessoas ao redor começaram a vaiar por eles terem acabado com a briga.
- Me solta Elijah! Eu já cansei desse idiota pagando de "bomzão" por aqui! - Ethan diz, tentando se desvencilhar do irmão.
- Você não é assim! O que houve? - Ele pergunta, e Harold que ainda está sendo segurado por Orion, e agora por mais um aluno, ri.
- O que houve Elijahzinho, é que seu irmão não é tão durão quanto você... - Harold provoca, e franze a testa.
- Ethan... Eu vou te soltar... Mas me prometa que não vai partir pra cima desse idiota de novo, embora ele mereça. - Elijah diz, afrouxando um pouco o aperto nos braços do irmão.
Porém, Ethan fica quieto, e Elijah suspira.
- Ethan...
- Tá bom, tá bom! Me solta agora! - Ethan exclama, alterado.
Elijah solta o irmão, que ajeita o uniforme e continua olhando feio para Harold.
Orion e o colega que seguravam o valentão, o soltam meio receosos dele partir pra cima de Ethan, porém ele também apenas o encara, sorrindo debochado.
- Vamos na enfermaria, sua cara tá horrível. - Elijah diz, dando um leve tapinha nas costas do irmão.
- É Ethanzinho, vai com seu irmãozinho. - Harold fala forçando uma voz fofa.
Elijah suspira, e passa o braço pelo ombro do irmão, fazendo ele andar antes que a briga comece de novo.
Zoe e Orion já se aproximavam também e todos ainda estavam fazendo uma rodinha, esperançosos de que a briga iria continuar.
É, uma ótima geração essa, que prefere ver dois colegas se matando pelo puro entretenimento, ao invés de ajudar.
E ainda reclamam quando a briga acaba.
Harold, com seu sorriso debochado, volta a falar:
- Isso, vão juntinhos ajudar ele. Que fofinho, é tão fraco que precisa da ajuda dos amiguinhos pra cuidar dos machucadinhos. - Ele provoca, e Ethan suspira tentando manter a calma.
Os quatro tentam passar pela rodinha de alunos, mas Harold não para com as provocações.
Se tem uma coisa que esse garoto ama, é irritar até o limite uma pessoa.
Seja ela qual for.
- Isso, foge mesmo! É como eu pensei, você não aguenta, não é? - Ele praticamente grita, e os quatro param de costas.
Elijah aperta o ombro do irmão, tentando acalma-lo.
Zoe coloca a mão no outro ombro de Ethan, que sorri levemente pra garota.
Orion apenas encara Harold com desgosto.
- Elijah! Você não tem vergonha de ter um irmão como esse? - Harold pergunta, e o moreno se vira, caminhando lentamente até o valentão.
- Eu teria vergonha se meu irmão fosse você. - Elijah rebate, e os alunos que ainda permaneciam ali gritam.
Mas surpreendentemente, Harold apenas ri, fazendo Elijah suspender uma sobrancelha.
Orion se aproxima do moreno, colocando uma mão no ombro dele.
- Vem Elijah, não liga pra ele. - Ele diz, e Elijah assente.
- Não vale a pena mesmo. - O moreno diz, franzindo a testa para Harold.
Os quatro estavam decididos a não caírem mais na provocação de Harold, porém, o valentão não sabe a hora de parar, e dessa vez, ele pegou muito pesado.
- Você não tem vergonha Elijah? - O valentão provoca, e o moreno nem liga. - De ter um gayzinho na família?
Elijah para no meio do caminho, porém não se vira imediatamente.
Ethan arregala os olhos, num misto de raiva e medo.
E também com um resquício de vergonha.
Orion e Zoe se entreolham, com a testa franzida, indignados com a desnecessária fala do valentão.
Harold se aproxima de Elijah que ainda está de costas, com os punhos cerrados.
- É um ótimo contraste, não é? - Harold diz, próximo ao garoto. - Você, todo encrenqueiro, e durão... Com um irmão assim... Sinceramente, eu fingiria que ele não é da minha famí...
A fala do valentão é interrompida quando Elijah se vira de vez, dando um soco no rosto dele.
O soco foi tão forte e inesperado, que se ouve um "CRACK" vindo do nariz de Harold, que cai no chão.
Os alunos que ainda estavam em volta começam a gritar novamente, atiçando outra possível briga. E os que já tinham saído começam a voltar pra perto.
Harold lentamente ergue o rosto, e pelo ângulo de seu nariz, dá para se deduzir que o soco de Elijah foi tão forte que o nariz do garoto quebrou.
O valentão cospe no chão, e em seu rosto só pode ser visto um sentimento: fúria.
E no lugar onde ele cuspiu, um pouco de sangue se misturava com a saliva.
Harold faz como que vai levantar, mas não é só ele que está furioso, Elijah também.
Por isso, o garoto nem permite que ele se levante, pois se aproxima já com outro soco, que faz Harold cair o pouco que tinha conseguido levantar.
O moreno fica por cima dele, agarrando a gola do uniforme.
Seu olhar era de ira. O de Harold, pela primeira vez, exibia medo.
- Nunca mais. Nunca mais fale do meu irmão, ouviu?! - Elijah praticamente grita na cara de Harold que engole em seco. - Você implicar comigo é uma coisa, mas a partir do momento em que você pensar em fazer mal a meu irmão, ou insultar ele, se considere morto!
As pessoas que novamente formaram um círculo ao redor deles, eram só silêncio. Todos sabiam o quanto Elijah era "encrenqueiro", mas ninguém imaginaria que ele seria capaz de ficar tão furioso com algo.
Mas esse "algo" era seu irmão, e mesmo que amasse sua mãe e sua tia, Ethan sempre seria a pessoa da família que Elijah mais ama. Afinal, ele sempre esteve com o moreno em todas as fases, mesmo quando começaram a morar separados.
Harold, notando que estava passando vergonha, franziu ambas as sobrancelhas (num gesto que com certeza doeu, mas ele não iria admitir), e então bateu com a própria testa na testa de Elijah, com muita força.
Ethan tenta entrar na briga, com preocupação eminente no rosto, mas Orion o impede. Ele já estava muito machucado, e sinceramente? Ele também quer ver Elijah dando uma surra em Harold.
Ele merece.
Com o impacto, Elijah se levanta cambaleante e meio tonto, o que dá tempo para Harold se levantar e retribuir um dos socos em Elijah. É a vez de Harold levar a melhor.
Em um momento, parece que tudo passa em câmera lenta, as pessoas ao redor, Ethan, os amigos de Elijah, e uma pessoa.
Elijah consegue notar uma pessoa no meio da multidão de alunos.
Athena.
E o que mais surpreendeu Elijah não foi ela estar ali, e sim a expressão em seu rosto.
Preocupação. Preocupação com ele.
E isso, por algum motivo fez Elijah tirar forças de sabe se lá onde, e reagir, partindo novamente pra cima do valentão.
Não entenda mal, ele não se motivou porque gosta dela, claro que não.
E sim, porque não iria apanhar e dar a ela um motivo para zombar dele.
Esses jovens.
A gritaria dos alunos chamou a atenção dos adultos, e logo logo, a diretora vinha vindo, com uma expressão de confusão e descrença, se perguntando se realmente era o que estava pensando.
Ela passa com dificuldade pelo meio dos alunos, e finalmente chega ao centro.
A cena a deixa completamente incrédula e irritada.
Harold e Elijah estão rolando no chão, e tudo acontecia tão rápido que era impossível distinguir quem "ganhava" e quem "perdia", além de não dar pra saber quem batia em quem.
Lembrava a cena de quando era Ethan brigando, só que muito mais violenta.
Afinal, mesmo que ele não admitisse, Elijah aprendeu um pouco com seu pai.
- O que significa isso?! - A diretora exclama, e os alunos que não tinha percebido a presença dela colocam a mão na boca, percebendo a situação que irá se desenrolar.
Orion finalmente age, e junto com mais dois colegas, separam Elijah e Harold.
E agora sim todos podiam saber quem é que estava "ganhando".
Mesmo que Harold fosse maior que Elijah, aparentemente tamanho não é documento, pois o valentão estava acabado, e um pouco ensanguentado, sem contar no ângulo de seu nariz quebrado.
Elijah também não estava muito bem, em sua testa já havia sinais do galo que provavelmente iria se formar, da cabeçada que Harold deu.
Sangue escorria do canto de sua boca, e aparentemente, havia um corte em sua bochecha, provavelmente do anel que normalmente Harold usa.
Quando ambos notam a professora, provavelmente percebem a confusão que se meteram, pois Elijah suspira fundo, e Harold finge um olhar de coitadinho.
[...]
O moreno agora está sentado na beira de uma cama, na enfermaria. Está com os cotovelos apoiados nos joelhos, e uma das mãos massageando as sobrancelhas.
Ethan, Orion e Zoe entram pela porta, e caminham em direção a ele.
- Onde você tava com a cabeça? Não era pra ter caído na provocação dele. - Ethan diz, cruzando os braços.
Em seu lábio já tinha um curativo no lugar do corte que conseguiu quando era ele brigando com Harold, e sua bochecha já estava menos inchada.
Elijah suspende a cabeça, olhando para Ethan com as sobrancelhas franzidas.
Orion e Zoe nesse momento, se perguntam se deveriam estar ali.
- Onde eu tava com a cabeça, Ethan? Eu? Você começou brigando com o Harold. - Ele diz, apontando para o irmão e em seguida cruzando os braços.
- Mas era assunto meu, ninguém mandou você se meter! E agora tá encrencado como sempre - Ethan diz, com a cara fechada. - Você já não tá com a ficha limpa com nosso pai Elijah, e quando ele souber que você brigou na escola?
- Com ele eu me resolvo. - Elijah diz, olhando para o chão.
- Não precisa ser assim. - Ethan diz, se aproximando e colocando uma mão no ombro do irmão.
- A quanto tempo o Harold vinha te enchendo? - Ele pergunta, mudando de assunto.
Ethan suspira, incomodado. Ele sabia que o irmão iria perguntar isso, porém pensou que podia fazê-lo esquecer.
Mas não deu.
- A algum tempo... Acho que algumas semanas... - Ele responde, baixando levemente a cabeça.
Zoe e Orion se entreolham, mas continuam quietos. Estavam ali para prestar apoia aos amigos, e não queriam se meter em assuntos pessoais.
- Por que você não disse nada? Eu sou seu irmão, Ethan. Eu poderia ter te ajudado. - Elijah diz, num tom que não é raivoso e sim preocupado.
- Não queria preocupar ninguém. E também, é coisa minha, e que tipo de pessoa eu seria se não conseguisse lidar com meus próprios assuntos?
- Ah... É questão de honra, né? E você ainda vem falar que eu sou o teimoso, metido a corajoso? - Elijah diz, num tom irônico, e Ethan até ri levemente.
- Vamos deixar você descansar, depois conversamos melhor. Temos aula, tchau mano. - Ele diz, estendendo a mão num "toca aqui".
- Certo, tchau. - Ele bate na mão de Ethan, e o moreno sai logo em seguida, seguido de Orion e Zoe após se despedirem também.
A enfermeira passa mais um remédio, que Elijah deduz ser um antibiótico, no lugar do galo na testa dele.
E nesse momento, outra pessoa chega para visitar ele.
E essa pessoa surpreende levemente Elijah, pela sua presença.
- Você só se mete em confusão, em? - Athena diz, se aproximando e ficando um pouco afastada, para dar espaço a enfermeira.
- Se veio aqui encher meu saco, me zoar, ou dizer "você é um irresponsável", pode ir voltando de onde veio. - O moreno diz, recebendo um olhar de advertência da enfermeira, pela má educação.
- Eu vim aqui fazer tudo isso, mas decidi mudar de ideia. Vim te parabenizar. - Athena diz, sorrindo satisfeita ao ver a expressão de surpresa e confusão no rosto de Elijah.
- Como? - Ele questiona, e a enfermeira termina de aplicar o remédio, se retirando em direção a Harold, que está numa cama do outro lado.
Sim estavam afastados de propósito.
- O que você fez pelo seu irmão, foi bonito, embora estúpido - E essa última frase faz Elijah enrugar o nariz. - Mas... Foi muito corajoso. E ainda mais porque nós estamos todos de castigo ainda, pelo ocorrido do Sr. Williams.
- Você me elogiando? Onde estão as câmeras? - Ele pergunta, fingindo procurar ao redor.
- Para de ser ridículo, não tô te elogiando. Estou elogiando sua atitude. - Ela fala, e ele faz uma careta para ela, que retribui com outra.
Então ele lembra que tem uma coisa para entregar a garota. Por isso, coloca a mão no bolso da calça, revelando a foto.
- Você... Deixou cair lá nas arquibancadas... - Ele diz, estendendo a mão na direção da garota.
Ela suspende as sobrancelhas, e por reflexo, bate nos próprios bolsos da saia, percebendo que realmente tinha perdido a foto.
Então ela se aproxima e pega a foto da mão de Elijah.
As mãos de ambos se tocaram por alguns milissegundos, porém ninguém iria falar sobre isso.
Então pare de pensar nisso, ok?
- Eu... Obrigada. - Ela diz, simplesmente.
Ele assente com a cabeça, em sinal de "não há de quê", e morde o lábio se questionando se deve ou não fazer essa pergunta.
Ele decide arriscar.
- É... Sua irmã? - O tom de voz é meio incerto.
A garota também se questiona, mas em seu caso é se perguntando se deve responder ou não.
Ela decide arriscar.
- Sim. - Ela responde, e suspira, se afastando para sair da enfermaria.
Pelo tom da garota, e pela forma como ela reagiu ao assentir, Elijah percebe que algo não está certo.
Ele não deveria, mas pergunta.
- Ei... - Ele chama antes dela sair, e a mesma para um passo antes da porta. - Você... É próxima da sua irmã...?
- Hoje em dia não, moramos separadas, ela... É mais velha. - Ela diz sem se virar.
Elijah engole em seco, imaginando algo, porém não quer tirar conclusões precipitadas.
- Desculpe ser intrometido, mas... - Ele inicia, meio incerto e confuso do porquê está fazendo essas perguntas. - Onde ela mora?
O silêncio de Athena quase responde a pergunta de Elijah.
Quase, se ela não tivesse respondido.
- No céu, eu espero. - E após dizer isso, a garota abre a porta da enfermaria e sai sem dizer mais nada.
E as suspeitas de Elijah se concretizam, o que faz ele suspirar, arrependido de ter sido tão intrometido.
Recentemente, ele tem se arrependido de muita coisa.
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