TOQUE-ME SE FOR CAPAZ

By paollamagalhaes

366K 34.4K 12.9K

ESSE LIVRO É UM DARK ROMANCE 🚨 Eu sou uma criminosa, uma... Assassina. De bailarina de primeira classe a pár... More

➵ AVISOS
➵ GATILHOS
➵ TRILHA SONORA
➵ CAST
➵ DEDICATÓRIA
➵ PRÓLOGO
➵ 1. Obscure
➵ 2. Little Bunny
➵ 3. Negative Party
➵ 4. Race
➵ 5. Power Games
➵ 6. Echoes of the Mask
➵ 7. Submundo
➵ 8. Dark Secrets
➵ 9. Clandestine Temptation
➵ 10. I killed her
➵ 11. Dark Desire
➵ 12. Momentary provocation
➵ 13. Sky Burning
➵ 14. Ungrateful Bitch
➵ 16. Save Me
➵ 17. Pique-hide
➵ 18. Do you hate me?
➵ 19. Because you are Calina Sartori
➵ 20. Phase one of anarchy
➵ 21. Loser
➵ 22. Who are you?
➵ 23. Unveiling the Masks
➵ 24. Sins Unveiled
➵ 25. Masks and Manipulations
➵ 26. Make your choice
➵ 27. For you
➵ 28. Racing Against Time
➵ 29: Echoes of Freedom
➵ 30: Secrets revealed
➵ 31: I'm devoted to you
➵ 32: Under the domain of terror
➵ 33: In the shadow of monsters
➵ 34: Bitch
➵ 35: Calina Sartori judgment day
➵ 36: Death
➵ 37: Who is Lykaios?
➵ 38: Bonds Amidst Chaos
➵ 39: The Pact of Destruction
➵ 40: Act 2
➵ 41: The curse of the pigs
➵ 42: Welcome to the Submundo
➵ 43: Bugsy come for you
➵ 44: We want you to trust us

➵ 15. What did I do?

5.9K 606 181
By paollamagalhaes

Calina Sartori
Seis anos atrás...

A brisa fria da noite atingiu meu rosto enquanto observamos o casarão Sartori a nossa frente através da janela do carro com o vidro abaixado. Estamos aninhados entre a mata e uma estrada bem antiga que nos levaria a um chalé bem antigo, mas que já não tinha uso há anos, ou seja, era uma estrada vazia que ninguém usava. Minhas mãos agarravam o celular com força, aguardando a mensagem de Hailey que demorava para dar a resposta. As luzes da casa estavam acesas, eu precisava saber se meus pais já haviam voltado ou não. E ela seria minha porta-voz.

— O que estamos fazendo aqui? — Aiken colocou a cabeça pra fora da janela do Toyota à nossa esquerda.

O ignorei sentindo o telefone vibrar nas minhas mãos. Rapidamente olhei para baixo acendendo a tela vendo a mensagem de Hailey dizendo que eles ainda estavam lá e que demorariam para voltar para casa. Meus lábios se estenderam em um sorriso quase cruel. Levei meu olhar até Bugsy que me encarava através da máscara com a cabeça caída um pouco para o lado.

— E então? — Ele perguntou.

Apenas levei minha mão até a maçaneta abrindo a porta do carro me esgueirando para o lado de fora. Antes de passar correndo pela estrada de terra cruzei os braços ao redor do corpo sentindo o frio se intensificar. Mesmo com a janela do carro aberta não estava tão ruim assim. A mata escura que corria ao redor de toda a minha casa dava um ar afastado e gélido, talvez até mesmo sombrio. Me apressei correndo até o muro abrindo o portão pequeno preto de metal enferrujado — que berrou como se não tivesse tido óleo por mais de 15 anos — colocando minha cabeça para o lado de dentro.

Eu sabia que nesse horário os seguranças não vagavam pelos arredores — esse portão sempre foi minha fuga para noites de diversão com Hailey e Tyler — por ser um lugar mais afastado da propriedade. Olhei para trás vendo os três rapazes descerem de seus veículos após o meu sinal, os outros dois colocando as máscaras de volta em seus rostos e puxando os capuzes para suas cabeças. Levantei a mão para cima balançando para que eles apressassem seus passos e rapidamente eles estavam ao meu lado.

— Sério... O que nós vamos fazer? — Aiken sussurrou.

— O que ela ordenar. — Bugsy respondeu e então o olhar dos três vieram até mim fazendo o meu estômago sacudir como se houvesse uma tempestade lá dentro.

Sorri faceira para eles como uma criança que iria aprontar. E nós realmente iríamos colocar o céu abaixo por uma noite. Me esgueirei passando pelo portão mantendo uma brecha aberta para eles. Do lado de dentro da imensa propriedade olhei de um lado para o outro caminhando apressadamente em direção ao pequeno galpão de madeira que armazenamos os materiais de limpeza das gramas e árvores. Ao adentrarmos o velho lugar iluminado apenas pela luz da lua um vento gélido percorreu pela minha espinha. Uma sensação estranha e distante que eu não consegui distinguir. Poucas vezes eu havia vindo aqui e pelo que eu me lembre nunca havia sentido isso.

— Está tudo bem? — Dei um pequeno salto ao sentir a mão gelada de Hunter tocar a pele nua das minhas costas.

— Hum... Sim... Está tudo bem. — Gaguejei mordendo meu lábio inferior logo em seguida. Seja o que fosse que havia aqui eu não tinha tempo para descobrir. — Vamos pegar aquilo.

Apontei na direção de vários galões de gasolina brancos que havia para as máquinas de aparar as gramas. Caminhei lentamente entre os equipamentos tirando uma lona preta de cima. Os rapazes rapidamente agarraram dois galões cada um e caminharam para o lado de fora. Peguei um menor que estava no canto e os acompanhei voltando a observar o casarão. Madeira para todos os lugares, isso pegaria fogo em um piscar de olhos, mas eu já não ligava para nada.

Eu sou uma decepção?
Por que?

Eu nunca havia feito nada na minha vida para ser uma decepção de verdade. Tudo que eu fiz, tudo que eu me importei, tudo que eles queriam que eu lutasse. Eu sempre fiz isso por eles. Participei de centenas de festas pós apresentações, fui em dezenas de reuniões da empresa do papai. Eu fiz tudo que eles me mandaram... E ainda sim eu sou uma decepção.

Okay, vamos fazer isso se tornar real.

— Se colocarmos fogo naquela ponta, demoraria quanto tempo para se alastrar totalmente por toda a propriedade? — Murmurei pensando um pouco alto tentando calcular.

— Cerca de 15 minutos a casa toda estaria abaixo. Aquela região é a da cozinha... — Aiken disse em resposta, fazendo meu olhar ir até ele. — Eu posso fazer isso se tornar bem mais divertido.

— Como? — Perguntei em pura curiosidade com a forma que seus olhos brilharam em segundos.

— Uma bomba. Posso fazer uma pequena bomba fazendo tudo explodir. Bum! — Bati em seu ombro dando risada após um leve susto com seu grito. Mas aos poucos meus lábios foram morrendo e uma expressão séria pairou em minha face.

Uma bomba? Ele realmente está falando sério?

O sorriso de canto em seus lábios mostrava toda a sua diversão. Fazendo uma pontada de curiosidade crescer em meu interior. Realmente seria mais divertido uma bomba? Tombei minha cabeça para o lado analisando sua proposta e sorri com a minha própria loucura.

— Nós vamos fazer do jeito dela, Aiken. — Bugsy o repreendeu tirando uma risada bufada do amigo.

— Tuuudo bem. Se colocamos fogo naquele ponto demoraria uns 30 minutos. É tempo suficiente para você?

Ele apontou na direção onde ficava um pequeno estúdio de dança projetado a pedido de meu pai. Por um tempo eu pensei que ele havia sido projetado diretamente para mim, mas depois que eu entrei lá por uma noite, tudo mudou. Eu jamais me esqueceria daquela cena... Meu pai deitado no chão, corpos nus, gemidos abafados mas altos o suficiente para serem ouvidos do lado de fora. Ele não se importou se nós ouviríamos, se minha mãe descobriria. Ele apenas fodeu com a filha da puta da minha professora de ballet embaixo dos nossos narizes. E no outro dia sorriu como se nada houvesse acontecido.

Soltei o ar entre meus lábios vendo a camada branca se formar e rapidamente desaparecer com o vento gélido. Raiva começando a consumir meu peito juntamente com o nojo. Agarrei a alça do galão com força caminhando lentamente até a pequena porta de madeira que daria acesso ao estúdio. Toquei no cadeado prateado bufando. Obviamente ele iria manter esse lugar trancado. Bugsy se aproximou passando por mim colocando sua mão em minha cintura me afastando de perto da porta. E com um chute bem no meio ela escancarou como se fosse simplesmente uma porta de papel. Meus lábios se umedeceram ao observá-lo enrijecer a postura enfiando as mãos dentro do jeans adentrando a sala.

— O que é esse lugar? — Aiken perguntou assim que pisou no lado de dentro.

Passei os olhos ao redor vendo todos os espelhos cobertos por cortinas brancas. A sala era bem isolada do restante da casa, mas ainda era ligada por um pequeno corredor. Dei dois passos indo até o interruptor fazendo as luzes de led postas atrás dos espelhos serem acendidas fazendo meu estômago revirar. Vermelho. Mal consegui respirar pensando no que eles faziam com essa maldita luz vermelha. Me aproximei pegando o controle e trocando para uma iluminação mais amarelo blond, fazendo assim eu enxergar direito os arredores. Com o controle em mãos liguei o bluetooth do som puxando o meu celular e colocando Courtesy Call para tocar.

Naquela noite não tive tempo de observar. Em diferença ao contraste do interior da nossa casa, aqui parecia muito mais moderno. Os poucos espaços de parede vistos continham tinta branco gelo, os espelhos completamente lisos do teto ao chão e apenas uma porta que nos levaria para o interior da casa. Me aproximei do espelho observando meu rosto com as bochechas coradas pelo repentino calor que nos atingiu com o aquecimento do lugar. Levantei meu olhar observando os três rapazes posicionados nas minhas costas como se fossem uma muralha gigantesca.

Meus lábios se curvaram em um sorriso ardiloso enquanto meus pés deslizavam pelo chão liso amadeirado em um tom marrom claro. Mesmo com o tênis simplesmente deslizava como se tudo estivesse com óleo. Balancei minha cabeça de um lado para o outro de uma forma sofisticada enquanto torcia a tampa do galão. Aos poucos o cheiro de gasolina atingiu em cheio meu olfato me fazendo puxar o ar com força. Viciante.

Abri os braços em uma pose inicial de ballet colocando meus pés em terceira posição despejando uma boa quantidade de gasolina na porta que liga o estúdio até a sala de estar. Mesmo com o tênis me obriguei a ficar em ponta, vacilando um pouco no equilíbrio mas não o suficiente para me fazer cair. Os acordes de guitarra, o toque da bateria atingindo em cheio meus ouvidos. E o Arabesque que deveria ser uma posição harmoniosa com cada fibra do meu corpo se tornou preguiçoso. Rodopiei mantendo meus pés em quarta posição quando me aproximei dos espelhos jogando mais uma boa quantidade de gasolina.

O grito do vocalista no refrão provocou minha fúria, fazendo os passos de ballet se tornarem cada vez mais desalinhados. Mas não pela roupa, nem pelo sapato e muito menos pelo desconforto. Mas porque eu queria. Me movimentei mais uma vez sendo seguida pelos seus olhares através das máscaras, eu os sentia. Suas atenções fixadas em mim me trazem um sentimento de poder. Eu os tinha, aqui, agora. Eles estavam aqui sem sequer me conhecer.

Por que?

Eu queria perguntar. Mas apenas me mantive em silêncio sentindo cada batida do meu coração desenfreado. Jogando gasolina em cada canto possível da sala. Apoiei meus dois pés no chão em posição para um Échappé e o executei soltando agora o galão vazio. Me aproximei mais uma vez da porta de madeira e a abri armazenando o peso do meu corpo em minhas pernas e arqueando as costas em um Cambré.

Meu peito desceu e subiu descontroladamente me embriagando com o cheiro da gasolina. Os rapazes aos poucos atravessaram a porta jogando o restante dos galões de gasolina pelo corredor e sala de estar. Deixei o som ainda ligado saindo para o lado de fora, percebendo eles também saindo. Agarrando a ponta da minha regata a puxei para baixo cobrindo minha barriga. Inspirei profundamente olhando para o céu. Logo após, voltei a olhar para os três mascarados. Aiken a minha direita, Hunter a minha esquerda e Bugsy a minha frente, mais uma vez formando uma muralha enorme.

— Tem certeza que quer fazer isso? — Bugsy perguntou. — Não terá volta depois disso.

Ele retirou a mão de dentro do bolso. E só agora eu havia percebido algumas faixas ensanguentadas cobrindo parte de sua pele. Mordi meu lábio inferior estendo a mão para pegar o pequeno objeto dourado.

Não terá volta...

Eu realmente queria fazer isso? Deixar de ser a filha perfeita? Eu realmente queria fazer o céu queimar essa noite ou era apenas um plano de uma mente insana?

Então naquele momento eu entendi. Faces da anarquia. Eles eram elas e eu estava me tornando uma naquele momento. Era isso que eles queriam. Peguei o isqueiro de suas mãos acendendo a pequena chama vermelha com azul. Dei dois passos para trás me afastando do lugar e joguei para dentro da sala sem tirar os olhos do mascarado à minha frente. A combustão instantânea fez com que o fogo explodisse em suas costas, mas ambos presos em um transe infinito que não nos permitiu nos movermos.

— Não teve volta no segundo que entrei dentro do seu carro.

O vento frio bateu em minhas costas levando meu cabelo para o alto, arrastei meu olhar para o mesmo lugar vendo as chamas começarem a subir pelas vigas de madeira. O barulho das sirenes começou a soar mostrando o quão efetivo é o sistema de bombeiros de Londres. Meus lábios se curvaram sabendo que quando chegassem as partes mais importantes da casa estariam destruídas. O estúdio, a sala de estar, o quarto dos meus pais seguido pelo o de Willian e o melhor lugar de todos. A sala de punições.

Levei minha mão até a parte interna dos meus braços, sentindo o pequeno relevo das cicatrizes. Acabou. Eu não permitiria que isso acontecesse nunca mais. Meus olhos arderam e minha cabeça foi atingida em cheio me perguntando se esse era um momento que eu necessitava chorar, mas ao invés disso meus lábios se torceram em um sorriso orgulhoso.

— Precisamos ir antes que a polícia chegue. — Hunter disse se virando em direção ao portão que entramos.

— Vão na frente. — Murmurei para eles agarrando o galão com um pouco de gasolina que restou nas mãos de Aiken.

— Não vamos deixar você para trás. — Hunter se virou para mim levantando a máscara com um olhar preocupado.

— Vai logo. Vou estar logo atrás de vocês. — Sorri balançando a cabeça para eles irem.

O barulho das sirenes ecoaram ainda mais alto mostrando que eles estavam próximos. Mesmo relutante, Hunter se virou voltando a caminhar sendo acompanhado pelos outros dois. Voltei a olhar para a casa, o fogo se alastrando ainda mais pelo lado de fora. A fumaça saindo entre as madeiras e o vermelho das chamas iluminava as janelas. Soltei o ar com força cantarolando a música que ainda soava através das paredes e caminhei em direção ao pequeno galpão outra vez. Abri bem as portas da frente iluminando agora praticamente todo o lugar por conta das chamas.

Passei os olhos ao redor mais uma vez sentindo o frio gélido passar pela minha espinha. Minha expressão se fechou e meus lábios ficaram secos. Meu coração começou a palpitar como um cavalo cavalgando pela mata.

O que aconteceu aqui?
O que eu não estava me lembrando?

Inspirei profundamente tirando a tampa do galão e comecei a jogar a gasolina por todos os cantos. Seja o que fosse que estivesse aqui sairia juntamente com o fogo. Mas eu não tinha mais um isqueiro. Me aprofundei ainda mais nas prateleiras do galpão procurando por algo, até achar para a minha sorte uma caixa de fósforos. Me apressei em sair para o lado de fora, mas antes que eu saísse completamente da escuridão escutei passos ao redor mas que aos poucos foram cessando. Balancei a cabeça afastando o medo e terminei de sair do galpão olhando ao redor. Não havia ninguém.

Mordi meu lábio assustada sentindo um calor de adrenalina correr por todo o meu corpo. Mas apenas ignorei tirando um palito da caixa e voltando a olhar para o galpão. Estava prestes a risca-lo quando fui agarrada, uma mão gélida em meu ombro que fez minha respiração travar no mesmo instante. Lentamente arrastei minha cabeça para o lado, recuperando o ar quando vi os olhos castanhos de Willian me encarando enfurecido.

— O que está fazendo? — Ele perguntou puxando o ar e tampando o nariz logo em seguida. — Cadê a mamãe?

— O que? Como assim? — O olhei confusa.

— Ela não está com você? — Balancei a cabeça negando e no mesmo instante em sincronia olhamos para a casa. — Merda...

— Não... Não...

Me desvenciliei de seu toque correndo disparadamente para a frente da casa. A polícia, caminhões de bombeiros tentavam controlar o fogo. Me esgueirei entre eles tentando chegar em frente a casa, mas fui agarrada por um policial que me arrastou para longe enquanto eu berrava descontroladamente. Chutei o ar tentando me desvencilhar de seu agarre, mas foi completamente em vão quando ele me colocou em frente ao meu pai.

Senti minhas pernas fraquejarem com seu olhar decadente sobre mim, como se já soubesse o que eu havia feito. O olhei de baixo sentindo meus lábios tremerem seguindo seu olhar até minha mão onde a caixa de fósforos ainda estava entre meus dedos. Sua cabeça balançou de um lado para o outro em negação e eu senti um soco no estômago. Voltei a olhar para a casa sentindo meu coração quase em minha garganta. Contei as janelas vendo que o quarto dos meus pais já estava em chamas, se ela estivesse lá... Talvez, talvez já estaria morta...

— Ai meu Deus... — Sussurrei colocando minhas mãos em minha boca. — Meu Deus...

— O que você fez? — Willian se aproximou berrando, mas fez uma cara de arrependimento assim que viu nosso pai. — Merda, Calina...

— Eu... Eu... Eu não sei. — Balancei a cabeça gaguejando.

— Cale a boca. — A voz grave de nosso pai fez com que o silêncio entre nós pairasse por pelo menos uns 10 minutos.

Eu olhava para a casa implorando para que ela saísse de lá. Que ela estivesse na cozinha, no meu quarto, nas escadas.

Por favor...
Por favor...
Por favor, mãe!

E meus olhos se arregalaram no instante em que a vi sendo carregada para fora em uma maca. Corri derrapando nas pequenas pedras que faziam composição do jardim até chegar na ambulância. A olhei inconsciente e meu estômago embrulhou no mesmo instante. Levei minhas mãos trêmulas até meus lábios. Sua pele lisa e bem cuidada havia se transformado em um máscara deformada, como uma estátua de cera derretida e disforme, pelo menos metade do seu corpo estava da mesma forma. O tecido branco de seu baby-doll longo grudado por toda a extensão do seu corpo. Seu cabelo longo escuro como o meu agora estava curto de um lado também queimado.

— Mãe... — Sussurrei me afastando de seu corpo.

Meu estômago queimou e a súbita ânsia de vômito subiu pela minha garganta. Corri até um carro e me abaixei colocando para fora tudo. A tosse disparadamente impregnou-me a minha respiração. Meu peito começou a descer e subir descontroladamente enquanto eu olhava para as luzes da ambulância saindo para fora da propriedade a levando.

Meu Deus... O que eu fiz?

— Se levante. — Entre arfadas me coloquei de pé observando a postura rígida de meu pai, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa sua mão atingiu em cheio o meu rosto. — Desapareça, Calina.

— Pai... — Sussurrei colocando a mão em minha bochecha que ardia. — Por favor... Eu... Eu não quis fazer isso.

— A partir de hoje você não é mais uma Sartori. Desapareça antes que eu diga a todos que foi você que fez isso com ela. — Apertei com força a caixa de fósforo ainda em minha mão sentindo os palitos de madeira cravando em minha pele. — Você a matou, Calina. Você a matou.

Ele simplesmente virou as costas caminhando até o Mercedes-Benz juntamente com Willian. Arfei levando minhas mãos até o peito procurando disparadamente pelo ar. Comecei a andar entre as pessoas sentindo minhas vistas escurecerem e apenas a visão de minha mãe deitada naquela maca em minha mente. Tropecei entre meus próprios pés caindo de joelhos em cima das pedras. Puxei o ar com força arregalando os olhos.

Que tipo de monstro eu sou?
Como eu posso nem sequer estar chorando?

Me levantei mais uma vez sentindo meu corpo pesado, mas apressei meus passos indo até o portão sabendo que eles estariam lá me esperando. Passei a mão em meu rosto tentando afastar a tontura, a ânsia que prevalecia em meu estômago. Agarrei o portão o puxando com tudo para o lado fazendo o barulho estridente chegar em meus ouvidos causando um incômodo.

Passei meu olhar em direção a mata onde os carros deveriam estar. Coloquei todo o meu corpo para o lado de fora apenas vendo a escuridão. Eles deveriam estar aqui. Eles disseram que não iriam me deixar para trás.

Minhas pernas falharam me fazendo ir ao chão mais uma vez. A sensação de ser consumida me atingindo em cheio, me arrastando para um abismo escuro que não entendia. Por que eu estava lá? Como eu havia ido parar lá? Eu não sabia. Mas já era um lugar conhecido desde os meus dez anos.

Toquei meu peito mais uma vez puxando o ar com força voltando a olhar para o portão. Sem saber para onde eu iria. Para quem eu correria. Mas o brilho de algo no canto escondido na lateral me fez levantar e em passos lentos e bambos caminhar até lá. Enfiei minha mão na pequena brecha agarrando o objeto desconhecido e o puxando para o lado de fora.

A máscara do Bugsy.

Olhei ao redor mais uma vez averiguando se eles realmente tinham ido embora. E ao ver o lado de dentro continha um bilhete.

"Um presente."

Soltei o ar entre meus lábios rasgando o bilhete em mil pedaços. Eu queria fazê-lo desaparecer. Me levantei agarrando aquela máscara e caminhando na rua deserta lotada de escuridão. Ouvindo apenas o barulho dos meus pés arrastando pelo chão de pedras. Puxei o ar com força olhando para a estrada vazia, mas para a minha surpresa vi o Skyline de Bugsy a uma grande distância.

Meu peito se preencheu com um sentimento desconhecido. E involuntariamente eu sorri deixando meu coração se aquecer com a sensação de que eu não tinha sido abandonada. Apressei meus passos que aos poucos se tornaram uma corrida frenética. O carro estava completamente apagado com as portas abertas. Me aproximei olhando para o lado de dentro percebendo que não havia ninguém. Olhei ao redor vendo apenas a mata escura me cercando, nenhuma pessoa à espreita, nenhuma sensação estranha. Apenas o vento uivando entre as folhas secas das árvores que caíam devido ao início do outono.

Eles me deixaram. Eu a matei. Eu fui usada.

Continue Reading

You'll Also Like

33.5K 1K 17
Crônicas para trazer uma reflexão de que sempre tem algo bom no meio de tudo que acontece ao nosso redor.
1.5M 131K 95
Os irmãos Lambertt estão a procura de uma mulher que possa suprir o fetiche em comum entre eles. Anna esta no lugar errado na hora errada, e assim qu...
293K 4.5K 5
Dark romance - Se tocar nela de novo, ou sequer a olhar, eu não vou só desfigurar seu rosto, vou quebrar cada osso de seu corpo. ⚠︎ Classificação par...
90.8K 12.7K 27
Scarlett com seus trinta e sete anos, casada e feliz, leva uma vida agitada como uma atriz muito bem sucedida e tendo que comparecer sempre a vários...