*Narrador
Dinho abre o portão para os amigos com uma expressão irritada.
- Porra, demoraram hein. - ele reclama e espera os três passarem e tranca o portão novamente.
- O casal ali estava ocupado. - Samuel resmunga. - E o que você está fazendo acordado antes da uma hora da tarde?
- Vamos entrar e lá dentro o Júlio explica. - Dinho responde empurrando os três para dentro da casa.
Bento estava sentado no chão, Júlio em um sofá e Diana esparramada no outro, ela se senta ao ver os três entrarem na sala. Cláudia senta ao lado da mesma e ela joga as pernas no colo da amiga que a encara de forma séria.
- O Rick ligou e disse que enviou a nossa fita pra uma gravadora através de um conhecido. - Júlio começa a falar assim que vê os quatro entrarem na sala. - Minutos depois o João da EMI ligou novamente e... - ele é interrompido por Bento.
- Estou passando mal de nervoso.
- Cala a boca, japonês. - Samuel dá um tapa na cabeça de Bento. - Deixa ele terminar.
- A gravadora que recebeu a fita do Rick foi a EMI e o João pediu para descermos para o Boqueirão ainda hoje, ele quer assistir uma apresentação e não estava muito feliz na ligação.
- Puta que pariu. - Sérgio xinga animado e abre um sorriso. - Nós vamos.
- Vamos? - Samuel pergunta confuso.
- Vocês não estão entendendo? Qual a chance dele ser a tal gravadora que o doido do estúdio iria mandar? Ele deve estar puto da vida porque sabe que estamos atrás de outras gravadoras.
- Porra, estou sentindo que vem coisa boa por aí e nós vamos ir fazer esse show. - Bento fala animado.
- Você não pede, você manda meu patrão. - Diana fala e estende o braço, Sérgio faz um hi-five com ela. - Vocês vão ir fazer esse show.
- E vocês duas vão com a gente. - Dinho fala e ela arqueia uma sobrancelha.
- Vamos?
- Claro, vão fazer o que agora que estão desempregadas? - Bento pergunta e as duas o encaram. - Peguei na ferida né? - como resposta ele recebe uma almofadada na cara vinda de Cláudia.
- Mas vocês não precisam da gente. - Diana fala e todos a encaram, incluindo Cláudia. - O quê?
- Por que não quer ir? - Dinho pergunta desconfiado.
- Não é que eu não quero ir, mas é algo importante e vocês precisam se concentrar. - ela explica. - Não quero atrapalhar e... - ela é interrompida por Júlio.
- Olha lá, a sem vergonha está mentindo. - ele aponta pra ela. - 'Tá apertando os dedos e só faz isso quando esta mentindo.
- Eu não estou mentindo, insuportável.
- Esta mentindo sim, insuportávelzinha. - Bento retruca e ela olha para Dinho e Sérgio.
- Nem adianta olhar para os seus irmãozinhos que eles não vão te ajudar nessa, você vai e pronto e não adianta mentir, uma hora ou outra vamos descobrir o porquê você não quer ir. - Júlio fala e ela suspira. - É o seguinte, temos poucas horas para nos arrumarmos e cairmos na estrada, o João quer conversar com a gente antes do show.
- E vamos ficar na Brasília novamente? - Bento pergunta. - Porque da última vez eu que me fudi. - ele fala e eles dão risada.
- Vamos em dois carros dessa vez, assim tem mais lugar pra dormir. - Sérgio fala e eles assentem, mas Júlio nega.
- João disse que iria cuidar da nossa estadia. - ele fala e todos o encaram surpresos. - Acho que não consegui verbalizar pra vocês o desespero dele para nos ver tocar hoje a noite. - Júlio fala e todos ficam tensos. - Esse show precisa ser perfeito, galera.
- Podíamos aproveitar uma praia né? E eu quero dizer aproveitar mesmo e não se jogar no mar de roupa e de madrugada. - Cláudia fala e Sérgio da risada.
- Vamos aproveitar o máximo que conseguirmos, estou sentindo que vai ser um dia bom. - ele fala e beija o rosto da namorada.
...
Sérgio, Cláudia, Júlio e Samuel foram no carro dos Reoli e Diana foi na Brasília com Dinho e Bento.
- 'Tá quietinha, pitchula. - Bento fala olhando para o banco de trás, onde Diana estava deitada. - Você geralmente não cala a boca, estou até estranhando.
Dinho da risada e Diana mostra o dedo do meio para Bento como resposta.
- Eu estou com dor de cabeça, mas quando melhorar vou ficar resmungando na sua orelha. - ela fala e Bento sorri, mas o sorriso logo se desfaz e confusão surge em seu rosto.
- Dinho, pra onde você está indo? - ele pergunta e Dinho o encara confuso. - Você acabou de passar pela boate.
- Eita porra, perai. - Dinho olha para os dois lados e vai pra contramão. Diana se segura no banco desesperada e Bento encara o amigo irritado quando o mesmo estaciona. - Chegamos.
- Quando você quiser se matar espera não ter ninguém no carro com você, animal. - ele fala irritado e desce da Brasília.
- Foi mal, japonês. - Dinho fala descendo da Brasília e abrindo a porta para Diana. - Desculpa aí, pitchula... A pista estava vazia e eu quis cortar caminho. - ele fala e recebe como resposta tapas da irmã, o mesmo a abraça com força e entra na boate com ela e Bento.
- Que demora, hein. - Júlio reclama quando vê os amigos entrarem. - Virou camiseta de força da menina? - ele pergunta e Dinho da risada e solta Diana.
- Posso voltar com vocês? - Diana pergunta ao abraçar Sérgio. - Bom dia.
Ela cumprimenta todos com um beijo no rosto e um abraço e quando chega a vez de Samuel, ela recua e dá apenas um beijo rápido em seu rosto.
- Por que? O que aconteceu? - Sérgio pergunta e Bento levanta as mãos de forma dramática.
- O animal do irmão dela quase matou a gente.
- Não exagera, japonês. - Dinho fala se sentando. - Cadê o carinha?
- Estou aqui. - um homem que aparentava estar na casa de seus quarenta anos desce as escadas ao lado de André, proprietário da boate. - Finalmente estou conhecendo vocês, meu filho não para de falar sobre vocês desde sábado.
- 'Eai, garotada. - André os cumprimenta com um aceno de cabeça e um sorriso. - Se apresentem.
- Eu sou o Dinho, o mais bonito e mais modesto. - Dinho começa e Sérgio revira os olhos. - Aquele é o Bento, o nosso japonês italiano. - ele aponta para Bento que sorri para João. - Aquele é o Júlio, pão Pullman da banda e não é porque é gordo e fofinho não, é porque todo mundo come.
- Dinho! - Diana repreende o irmão e Júlio da um soco no braço do amigo.
- Aí porra, deixa eu continuar. - ele passa a mão no lugar do soco. - Aqueles ali são os irmãos da banda, Sérgio é o nosso Falcão e o Samuel o narigudo, como pode ver somos uma banda cheia de qualidades.
- Eu estou vendo. - João cruza os braços, analisando um por um e os meninos ficam tensos. - E essa duas imaginos que sejam as bailarinas do Faustão que dançaram aquela música "Roda Roda".
- É Vira Vira e são elas mesmas. - Dinho o corrige e ele assente.
- Seguinte, não tenho tempo a perder e principalmente por saber que vocês estão procurando por outras gravadoras. - ele fala e os meninos engolem em seco. - Sorte a minha que a fita veio pra mim, eu escutei todas as músicas e gostei de cinco.
- Cinco? Mas tem oito músicas na fita. - Júlio fala e João assente.
- Eu tenho uma proposta para vocês e primeiro preciso saber se não é armação de estúdio, vocês tocam tudo aquilo mesmo? - ele pergunta e os meninos assentem. - Estou me responsabilizando pelo show de hoje, vou arcar com os custos e estadia de vocês essa noite e ofereço um cachê de setecentos reais pelo show de hoje, mas... - ele é interrompido por Samuel.
- Quando surge um "Mas" no meio não vem coisa boa. - ele fala e leva um tapa do irmão.
- Quero que toquem apenas as músicas engraçadas e nada daqueles três rocks tristes, vocês fizeram a vinheta dos Mamonas Assassinas antes de começar as cinco músicas e é isso que eu quero ouvir essa noite. Me surpreendam e conversamos no final do show.
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Escrito: 07.12.2023
Postado: 31.12.2023