Cidade em Chamas - Shingeki n...

By LaisDeLuca

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Em "Cidade em Chamas", somos apresentados a uma cidade dividida em dois pela opressão do governo. As pessoas... More

✨ 𝒩𝑜𝑡𝑎 𝑑𝑜 𝒜𝑢𝑡𝑜𝑟:
Capítulo I - O Ataque
Capítulo II - O Encontro
Capítulo III - Conhecendo o Inimigo (+18)
Capítulo IV - Sangue Raro
Capítulo V - Vilões?
Capítulo VI - Testes (+18)
Capítulo VII - Monstro
Capítulo VIII - Flashback
Capítulo IX - A primeira vez +(18)
Capítulo X - Amanhecer
Capítulo XI - Treinamento
Capítulo XII - Sombra Crescente
Capítulo XIV - Descobertas
Capítulo XV - Problemas
Capítulo XVI - Laboratório

Capítulo XIII - O Castigo

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By LaisDeLuca

• Pov Levi

Tudo iniciou antes das 02:00h da manhã quando Hange invadiu meu quarto, batendo na porta com força e desespero.

--- Nome e propósito. — Perguntei, observando de relance o relógio de ponteiros na parede.

--- Hange, é urgente.

Suspirei esfregando minha testa, já previa a dor de cabeça futura. — Entre.

Hange entrou no escritório como um vendaval, semblante em pânico e toda bagunçada parecia ter vindo de uma guerra.

--- Você está péssima. O que houve? — A questionei ainda segurando os documentos em mãos, observava-a por debaixo os papéis.

--- Mikasa achou o celular.

Aquelas poucas palavras me desestabilizaram de uma maneira inexplicável, senti a raiva fluir no meu interior e engoli o ódio com dificuldade.

--- A onde você o deixou? Sua irresponsável de merda! — Levantei estressado batendo os punhos na mesa de madeira, assustando Hange e amassando a papelada.

--- E-Eu deixei ele dentro do meu laboratório. — Apertava os dedos da mão em ansiedade.

Fechei os olhos controlando o nervoso. Ela havia mentido, sabia que não podia confiar nela, aquela demora toda não poderia ter sido apenas no banheiro.

--- Como ela entrou na minha sala, se está sempre acompanhada?

--- Foi durante o treinamento de hoje, ela foi ao banheiro sozinha. — Assumi minha falha em não tê-la acompanhado. — Como sabe que foi ela? — Perguntei buscando a incerteza da quartro-olhos, não queria assumir que Mikasa era a culpada.

--- Zeke a viu dentro do meu laboratório.

--- O que aquele desgraçado queria aqui? — Aumentei o tom de voz, mais puto ainda.

--- Ele tinha vindo buscar alguns resultados dos exames que fez na capital.

--- E por que diabos você estava com eles? — Me aproximei de Hange com passos apressados e vi a morena recuando amedrontada até esbarrar na cômoda de madeira.

--- Foram ordens de Erwin. — Sussurrou, cerrando os olhos em minha direção com medo.

--- Acha que ela entrou em contato com alguém? — Perguntei, pensativo. Calçando as botas apressadamente.

--- Creio que não, retirei o chip do celular antes de guardá-lo.

--- Vou concertar a merda que você fez e destruir a porra do celular de uma vez por todas.

Saí da sala o mais apressado que podia, desconfiava que mesmo sem chip ela poderia ligar ou entrar em contato com alguém para ajudá-la.

--- Você vai assim? — Hange gritou da porta do meu escritório e percebi como estava vestido.

Sem camisa e com uma calça de moletom cinza, estava pronto para me deitar, provavelmente não para dormir e sim para passar horas e horas deitado sobre a cama, com os pensamentos acelerados, lotados de culpa, medo e angústia, rodeando minha cabeça enquanto buscava a paz do sono.

Não me importei com minha aparência, marchei irritado até o quarto dela no andar de baixo.
Bufava a cada novo passo que ecoava pelo corredor silencioso da madrugada.

Abri sua porta com tudo, um som ecoou e ela se assustou, estava em pé diante da cama, de costas para mim.

--- Onde está?! — A questionei ainda a porta, inquieto. Tinha fé que era apenas um mal entendido.

Ela se manteve de costas o tempo todo, paralisada enquanto me ouvia chamando-a.

--- Não está me ouvindo, porra?! — Ela testava todo meu autocontrole. Me aproximei rapidamente e a virei para mim de forma brusca, desequilibrando-a um pouco, segurei firme meus braços com medo que caísse.

A morena me olhava confusa, me perdi momentaneamente observando seu olhar tão brilhoso, os olhos levemente puxados da coloração azul destacavam em sua pele pálida e macia.

--- Me responda quando lhe fizer uma pergunta, pirralha. — Tentei me controlar novamente.

--- Capitão. — Soou tão manhosa. — O que faz no meu quarto, essa hora, com essas vestes?

A encarei estarrecido, jurava que a garota não repararia nisso, a questionava por situações problemáticas e ela me perguntava sobre roupas?
Só podia estar brincando com a minha cara!

Senti um forte empurrão e vi o momento que se retraiu, indo em direção a cama, seu olhar possuía medo e apesar de não querer que ela me visse de tal maneira, achei melhor.

--- Onde está a porra do celular, Mikasa? — Bufei, irritado. Tirei alguns fios de cabelo sobre meu rosto e contei até 10 mentalmente.

--- Não sei do que está falando. — Deu de ombros, me afastando. — Por favor, se retire, estou com sono. — Fingiu um bocejo, nem ela acreditaria.

Sua última ação mandou meu autocontrole para o inferno, uma onda de raiva me subiu até a garganta, rangi os dentes, fechei o punho apertando os dedos enquanto avancei sobre ela nervoso.

--- Mentirosa! — Gritei com ela, puxando com força seu pulso. Ela tentou em vão me empurrar para longe, espalmando as mãos frias sobre meu peito , mas segurei seu braço ainda mais forte, não com toda minha força, tinha medo de feri-la...

--- Não estou mentindo! — Ela jurou, enquanto a empurrava em direção à cama para fazer com que ficasse quieta, pois se debatia como um animal selvagem.

O celular se soltou do shorts folgado que ela vestia, caindo no chão e quicando algumas vezes antes de parar próximo à porta ainda aberta.
Ri internamente, ela havia realmente mentido, e eu iludido, acreditava na mudança que ela pregava.
Imagino-me possuir cara de palhaço, não é?

--- Desgraçada! — Apertei seus braços com força, subindo sobre ela na cama. Minha vontade era de sufocá-la até que a vida deixasse seus olhos brilhantes, amaria torná-los opacos. — Achei que estivesse do nosso lado e quisesse ajudar. — Ela continuava resistindo, me chutando, até que me posicionei entre suas pernas grossas, imobilizando-a. — Por que eu acreditei que você seria capaz de entender? — Gritei, decepcionado.

Tudo o que havíamos arriscado por ela parecia em vão. Queria acabar com aquilo de uma vez por todas.

--- Você me sequestrou! — Disse raivosa. — Você me torturou! Atacaram minha cidade, prenderam meu pai, atearam fogo nas casas, mataram crianças! — Gritou chorosa, soluçando descontroladamente.

--- Quieta! — Apertei sua mandíbula. — Quieta! Fique quieta. — Sentia minha própria mão tremendo sobre seu rosto delicado, eu estava furioso, não a perdoaria, não confiaria novamente, contudo meu corpo não me obedecia, sentia minha mão soltando-a aos poucos.

Tudo o que ela dizia era verdade, infelizmente eu tinha total ciência dos fatos que jogava em minha cara, e posso assumir que cada palavra doeu como os tiros que ela havia me atingido.

Fechei os olhos com força, tentava entender o que acontecia comigo, queria compreender a guerra interna que travava ali naquele momento.

--- Levi? — Hange exclamou espantada, diante da porta ao ver a cena caótica que se desenrolava sobre a cama.

A olhei por cima do ombro com um semblante de "não é o que pensa", mas a avistei se abaixando diante do celular para pegá-lo, e nesse mesmo momento senti uma dor aguda na mão, deixando escapar um suspiro angustiado. Mikasa havia cravado os dentes na minha mão com firmeza. Demônia.

Rapidamente liberei seus braços, pressionava sua boca em busca de liberdade.

--- Me solta, sua bruxa! — Gemi sentindo a pele ser rasgada pelos dentes daquela canibal dos infernos.

Hange segurava o celular sobre o peito, observando a cena enquanto não fazia nada para me ajudar. Pressionava sua mandíbula com raiva, não me importava mais se a machucaria.
Sem aviso prévio, Mikasa acertou uma joelhada entre minhas pernas, a soltei instantaneamente segurando as partes sensíveis, enquanto grunhia me encolhendo na cama.

A briga com Hange foi extremamente rápida, em poucos movimentos ela interceptou a quatro-olhos e recuperou o maldito celular, enquanto fugia pelos corredores do quartel.

Assim que me recuperei da dor infernal, coloquei-me de pé, decidido a alcançá-la, não teria piedade quando colocasse meus dedos sobre ela.

(...)

Podia sentir seus cabelos quebrando em meio aos meus dedos que a seguravam firmemente.

A raiva que corria em minhas veias pelas coisas que ela havia feito, me deixaram desnorteado, descontrolado.

--- Levi, onde vai levá-la? — Hange voltou a entrar em nosso caminho depois de ter sido ignorada por mim.

--- A jogarei na masmorra. — Respondi, nervoso.

--- Levi! — Hange gritou no corredor, fazendo-me parar bruscamente, puxando Mikasa em seguida, que gemeu e levou as mãos diretamente à cabeça, tocando seus cabelos emaranhados.

Quando notei que massageava o couro cabeludo, dei-lhe um tapa forte na mão, lançando-lhe um olhar mortal.

--- Tem uma ideia melhor? — Perguntei, erguendo a sobrancelha. — Tudo o que já fizemos não resolveu. Farei do meu jeito agora, ela vai aprender.

Retomei os passos apressados enquanto a trazia junto a mim.
Seus pés melados de lama escorregavam em meio a madeira encerada do chão.

--- Levi, no estado em que ela está, não vai ser nada bom presenciar o que tem lá em baixo. — Insistiu novamente.

--- Hange, eu não quero saber. Eu não estou nem aí. Eu estou cansado e quero paz! — Soltei os cabelos da morena que suspirou de alívio.

Mikasa nos olhava amedrontada, suja, acuada, como um bichinho ferido.
Seus olhos fitavam entre mim, Hange e o corredor.

--- Se correr, eu vou te alcançar e não vai gostar do que vou fazer com você. — Alertei a garota, seria um desperdício matá-la agora, depois de tantos riscos corridos, seria tudo em vão.

--- Por favor, coloque-a na prisão, mas não a leve até o subsolo. — Hange juntou as mãos em sinal de oração, clamando pela vida da garota ingrata que não aproveitou as chances que demos a ela. — Pelo menos por agora. — Completou, preocupada. — Vai ser um choque para ela, você sabe do que estou falando.

Respirei fundo por um breve momento, ponderava entre o que Hange alertava-me e o que achava certo a fazer.
Minha cabeça doía com os acontecimentos estressantes daquela madrugada.

Respirei fundo, esgotado de pensar, sujo de lama e decidido sobre o destino da jovem. Segurei forte no seu braço e a ouvi reclamar enquanto tentava afastar meu aperto de seu braço fino.

A tagarela de Hange havia ficado para trás, mas suas palavras ainda ecoavam em minha mente.

--- Para onde está me levando? — Mikasa perguntou, assustada.

--- Não dirija a palavra a mim.

--- O que tem no subsolo? — Me fitou, seus olhos mais escuros que o normal.

--- Cala a boca. — Apertei seu braço em um aviso. — Sua voz está me irritando.

Finalmente a jovem se silenciou, deixando-me em paz com as mil vozes que latejavam dentro da minha cabeça.

Caminhei até as escadas que levavam até o subsolo, naquele mesmo andar havia um jaula, e por sorte estava desocupada.

O escuro daquele ambiente nos transmitia uma sensação estranha, com o tempo havia me acostumado, mas a escuridão insistia em nos fazer sentir que estávamos sendo observados.

Abri a porta de ferro que rangeu como em um filme de terror e abri o portão de grade, empurrando-a lá dentro.
Mikasa caiu de joelhos, olhando em volta rapidamente checando o ambiente em que estava.

--- Por favor, não me deixe aqui! — Rastejou patéticamente até a grade, colocando suas mãos para fora, agarrando minhas botas, enquanto suplicava.

--- Não seja ridícula. Onde está a mulher com quem lutei na ilha? — Me distanciei, forçando-a me soltar. — Onde está a única mulher que conseguiu me balear?

--- Estou com medo. — Assumiu, me irritando.

--- Não seja patética pirralha de merda! Decida logo de que lado está, e desta forma poderemos chegar a um acordo. Até lá, fique a sós com seus pensamentos.

Virei rapidamente lançando-lhe um último olhar, antes de deixá-la sozinha naquele breu.

Subi as escadas de ferro, rumando finalmente meu quarto, contudo, encontrei Hange logo na entrada do subsolo.

--- O que é? — Perguntei, raivoso. — Vai soltá-la, Tenente?

--- Não. — Deu-me um sorriso forçado. — Só queria saber se havia arrastado a menina até nossos amiguinhos.

--- Aquelas bestas infernais não são meus amigos. E não, não a levei lá, por sua causa.

--- Levi.

Chamou-me assim que passei por ela retomando meu caminho. Ergui a sobrancelha com certa impaciência.

--- Obrigada, por isso.

--- Não foi por você. — Virei de costas e caminhei alguns passos. — Ah, outra coisa, se não conseguir a localização dos sobreviventes, você e sua amiguinha estarão em apuros. — Falei, deixando-a sozinha no corredor.

(...)

O restante da noite foi longa, demorado o amanhecer e tedioso o dia, evitei pensar na garota e na situação precária a qual foi deixada, pelas próprias ações.

Três dias já haviam passado, Hange tentava argumentar com a morena, mas nada era respondido, ela não comia e nem queria nos ver diante dela, isolando-se em seu cárcere.

Esquivei-me das inúmeras perguntas dos componentes do esquadrão, um bando de curiosos que diziam estar preocupados com a mais nova amiga.

Sasha foi a mais insistente, se propondo a ajudá-la com a doença misteriosa, neguei desde o início.

--- Mas... Capitão. — Sasha bateu os pés andando atrás de mim no pátio, sendo seguida pelo palhaço e o cavalo. — Eu posso fazer comida para ela, Mikasa estava tão magrinha quando entrou para o esquadrão, desnutrida! — Quanto drama. — Ultimamente ela ganhou até cor de gente, precisa se alimentar direito.

--- Pirralha. — Virei irritado lhe lançando um olhar mortal. — Eu já disse que é algo viral, Mikasa não pode ter contato com ninguém.

--- Mas qual é a doença, Capitão Levi? — Foi a vez de Connie.

--- Hange ainda está esperando os exames.

--- Será que estamos doentes também? — Petra me olhou aflita, com seus grandes olhos brilhantes.

--- Nada de pânico, qualquer sintoma diferente, Hange examinará vocês também. — Disse, saindo do pátio, contudo, não foi o suficiente para os jovens que continuavam andando atrás de mim, me enchendo de perguntas.

--- Mas precisamos saber se ela está bem. — Foi a vez do cavalo me confrontar.

--- Ela está bem. — Respondi, subindo as escadas em direção a meu escritório.

--- Como sabe que ela está bem? — Jean puxou-me pelo braço.

O olhei furioso, o sangue fervendo nas veias. O chutaria escada abaixo se Connie e Sasha não estivessem atrás dele.

--- Porque vi com meus próprios olhos o estado de saúde dela.

--- Mas o senhor mesmo disse que ela não podia ter contato com ninguém. — Jean me encarava como se eu houvesse cometido um crime.

Puxei meu braço com força, fazendo sua mão soltar bruscamente.

--- Na próxima vez que encostar em mim sem permissão, vou concertar essa sua cara de cavalo com um soco.

--- D-Desculpe, Capitão. — Sussurrou Sasha, apressada.

--- Não queríamos atrapalhar. — Connie completou.

--- Onde ela está?

Céus... Ele ainda insistia!

--- Eu não direi. Não quero ninguém doente, impossibilitado de trabalhar. — Virei-me de costas, deixando-os para trás.

--- Não me importo de trabalhar doente, só quero vê-la. — Exigiu, seguindo-me.

--- Kirstein, se não parar de me desafiar, vai limpar todo o castelo do esquadrão com a porra da sua língua. Desapareça da minha frente!

Entrei no escritório e bati a porta com força. Afrouxei as roupas, retirando a jaqueta marrom, sentei-me na cadeira de couro do escritório e respirei fundo, tentando controlar a raiva que pulsava em minhas veias. As emoções tumultuadas refletiam-se em meu olhar fixo na parede, enquanto eu tentava compreender as afrontas persistentes de Jean e a preocupação com Mikasa, que ainda estava presa.

A porta do escritório rangeu ao se abrir. Hange entrou com a expressão típica de curiosidade, mas ao perceber a tensão no ar, seu rosto assumiu um tom mais sério.

Ainda dominado pela raiva, mal dei espaço para a saudação habitual antes de questioná-la.

--- O que você quer aqui, Hange?

Sua expressão mostrou surpresa e, talvez, uma ponta de mágoa. No entanto, antes que pudesse responder, ela lançou a revelação que interrompeu minha crise de ira.

--- Capitão, encontrei o paradeiro dos sobreviventes. — Hange segurava os papéis com firmeza, com sua expressão séria estampada no rosto.

A revelação abrupta desarmou momentaneamente minha postura defensiva. Levantei-me para pegar os papéis de suas mãos apressado, lendo o mapa e as informações escritas ao lado do documento no envelope amarelo.

Agarrei os papéis com força e saí do escritório com pressa.

--- Para onde vai? — Me questionou, confusa.

Não me dei o trabalho de respondê-la, em breve, se meus planos dessem certo, Hange saberia exatamente aonde estava indo.

Passei pelo corredor lotado de jovens escandalosos, que riam e faziam brincadeiras depois de um longo dia se treinamento.

Alguns me lançaram olhares surpresos, abrindo espaço para minha passagem. Outros sequer perceberam minha súbita presença no corredor, e tão rapidamente quanto entrei, saí.

Desci as escadas solitárias a qual levavam ao subsolo e lá estava eu, diante da porta pesada de ferro, aguardando minha respiração regularizar, para que entrasse na pequena sela rodeada de grades fortes.

Num impulso, abri a porta, que rangeu como de costume. O silêncio do ambiente me guiava rapidamente até minha vítima, encolhida e suja, abraçando as próprias pernas, soluçava baixinho.

Me aproximei, percebi que não havia erguido a cabeça, provavelmente não sabia que era eu quem estava lá, a observando graças a pouca luz que surgia de uma única janela lateral.

Seu corpo magro tremia pelo frio, fraqueza ou medo. Ri anasalado enquanto caminhava próximo à grade, tocando meus dedos nos cabelos da jovem que escapavam pelas barras de ferro.

Mikasa se encolheu e afastou-se engatinhando, olhando para trás rapidamente certificando-se de quem estava ali.

--- Estou sentindo seu medo. — Disse, cruzando os braços e a observando no chão.

--- O que você quer?! Desgraçado! — Tentou gritar, mas sua garganta doeu, provocando-lhe uma crise de tosse.

Observando ao redor, deparei-me com um prato repleto de comida infestada por baratas e insetos, ao lado de um copo sujo de água.

--- Tsk! — Estralei a língua enojado, chutando o prato em seguida.

Mikasa se encolheu com o barulho, enquanto os insetos fugiam desesperados pelo chão.

Caminhei até o copo e o peguei. Próximo a porta havia uma pia pequena e quebrada, sua torneira pingava incessantemente, distoando o silêncio com os pingos de água no chão.

Dobrei os papeis colocando-os no bolso da calça, lavei o copo com as mãos e o enchi com a água da torneira. Nada higiênico, porém, para quem estava morrendo de sede, serveria.

--- Venho aqui para negociar... — Disse, caminhando lentamente em direção as grades.

Agachei diante da prisão e a encarei na escuridão. Parecia uma gatinha ou uma ratinha? Questionava-me internamente.

--- Tome. — Estendi minha mão por entre as barras, observando-a se mover temerosa em minha direção.

Ela agarrou o copo com ambas as mãos e bebeu desesperadamente, sem se importar se havia veneno na água.

Com o desespero pelo líquido, gotas escorreram por seu rosto, caindo sobre a camisa frouxa que usava no dia da fuga e sobre seu rosto sujo de lama, poeira e qualquer outra coisa do chão daquela sela.

Ela abaixou o copo vazio, respirando ofegante, ainda de joelhos me fitava com remorso.

Estiquei novamente o braço em direção a ela, tocando a lateral de seu rosto, agora úmido pela água, suavemente secando a pele.

Ela virou o rosto na direção contrária, arisca. — Negociar o quê?

--- Sua liberdade. — Levantei-me e notei o momento em que acompanhou meu movimento com os olhos.

--- O que mais vocês querem? Já não conseguiram destruir tudo que queriam? Tudo o que eu amava e protegia?

Seus olhos revelavam a dor profunda que carregava, sua voz falha quase me fez sentir pena. Quase.

--- Encontrei seu pai. — Retirei os papéis ainda dobrados do bolso, abrindo-os diante dela.

Seu rosto se encheu de esperança no mesmo instante, tentou se colocar de pé para visualizar melhor o mapa, porém, dobrei antes que visse com detalhes.

--- Aqui está a proposta. Eu te levo para ver seu pai e faço tudo ao meu alcance para mantê-lo seguro. Em troca, você fica do nosso lado, luta conosco, nos ajuda no que for preciso, e, o mais importante, me obedece.

--- O-Obedecer? — Pensativa ela repetia a palavra inúmeras vezes.

--- É tão difícil assim ser submissa uma vez na vida? — Irritado, a questionei.

--- A questão é ser submissa a você. — Respondeu, ríspida.

--- Só quero que não faça nenhuma merda enquanto eu não estiver perto.

--- Não! — Ela virou as costas e sentou-se no chão novamente. — Deve estar mentindo. Para que continuar lutando? Todos que amo morreram, não existe ninguém para resgatar, ninguém para proteger, ninguém para amar...

Respirei fundo, antes de bater a mão na grade, assustando-a. Não me controlei, agarrei as chaves no meu bolso e destranquei a porta, entrando na sela em seguida.

Agachei-me ao seu lado, o odor repugnante do lugar me fazia sentir náuseas ao imaginar estar trancado ali por dias e noites.

--- Mikasa. — A chamei calmamente. — Não seja burra, pirralha de merda. — Ela me encarou indignada. — Estou te oferecendo a chance de escapar deste lugar.  — Apontei em volta.

--- Saia daqui, Capitão.

--- Se não sair, vou ficar aqui também. Ótima companhia, não acha?

--- Por quê?

--- Porque não quero que morra em um buraco sujo, escuro e abandonado. — Senti um aperto no peito ao tentar persuadi-la a escolher a vida.

--- Meu pai está realmente vivo? — Perguntou, esfregando os dedos nervosamente.

--- Você só vai descobrir que falo a verdade quando sair daqui. — Estendi a mão em sua direção, aguardando sua decisão.

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