Refém por acaso

By AutoraVanessaAlmeida

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Alguns filósofos dizem que o destino é uma mão de via dupla, uma hora ele te ajuda e na outra te joga em um r... More

Avisos
Elenco
Dedicatória
001| A teoria do efeito borboleta
002| Cacciatore Vs preda
003| A premeditação dos males
004| Il male che semini
005| A energia que emana das matas
006| L'atto di giocare con il fuoco
007|Sangue Carmesim
008| Vendetta
009| Made In Brasil
011| Pé na areia, caipirinha, água de coco
012| Conflitti interni
013| É mais uma do GG
014| Benvenuti nel cespuglio
015| O sol já nasceu na fazendinha
Então meus amores...
016| Lo splendore dei tuoi occhi
017| Olhos não mentem
018| Conseguenze
019| Io e il diavolo
020| O amor me enlouqueceu
...
021| Girassóis de Van Gogh
Aviso

010| Coazione a ripetere

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By AutoraVanessaAlmeida

Seu pai sempre esteve perto, mas nunca foi presente
Ele traía sua mãe, mas ela nunca o deixou
De primeira eu não entendi
Mas agora eu entendo, ele partiu seu coração
E deixou dinheiro em suas mãos

Então tudo foi pago, ela garantiu
Que você e seu irmão tivessem muito mais
Do que ela jamais teve quando menor
Mas quando você me contou toda a história
Eu quis vomitar
Daddy Issues (remix) - The Neighborhood



A inveja é definida como um sentimento de desgosto provocado pela infelicidade ou pela prosperidade alheia.

O sentimento em meu âmago era de pura inveja, olhar o Arthur feliz com os pais era presenciar algo que nunca tive na vida, a única coisa que os meus pais faziam era brigar entre si e fingir para as outras pessoas que estava tudo bem e que éramos uma família feliz.

Arthur tinha tudo aquilo que eu nunca tive em minha vida, ele tinha um lar estável com pais amorosos, que mesmo sem estar muito em casa, faziam questão de mostrar ao filho o quão amado ele era.

- Ele tem tudo o que não tivemos - Diego ponderou ao olhar para o Arthur que sambava feliz com o pai e a mãe.

- Por isso faço questão de estar sempre com a Giulia. Não quero que ela sinta a falta de afeto e insegurança que ambos passamos a vida inteira.

- O quão profundo isso nos afetou?

- O suficiente para ficarmos com inveja de pessoas com famílias boas - Murmurei ainda olhando a interação do Arthur com os pais.

Aquele sentimento ruim de abandono parental ainda residia em nós dois mesmo depois da vida adulta, mas todos os psicólogos apontam que crianças ignoradas na infância crescem com um eterno sentimento de que será sempre abandonado, e por isso nunca permito ninguém entrar na minha vida, não depois dela.

Arthur caminhou até nós com um drink colorido nas mãos e um sorriso gentil nos lábios, ele nunca sorriu daquele jeito desde o momento que obriguei ele a trabalhar para mim, e talvez isso fosse efeito de estar de volta ao lar.

- Vocês dois são estranhos - Ele ponderou maroto e fez o Diego rir nasalado, mas eu mantive a expressão fechada.

- Se vocês me derem licença.

Caminhei para fora da casa e ignorei a cena onde a minha mãe flertava com um cara dez anos mais nova que ela, dona Donatella merecia ser feliz.

A praia a noite parece uma verdadeira pintura, principalmente em noite de lua cheia. O aroma e a brisa salgada do mar invadiam as minhas narinas ao mesmo tempo que alguns respingos das ondas caiam suavemente em meu rosto.

Notei uma senhora toda de branco caminhando pela areia com algo em suas mãos, o sorriso dela era genuíno e contagiante mesmo não entendendo o motivo dela estar jogando flores brancas dentro do mar.

- O moço não é daqui né? - Ela indagou após se aproximar de onde eu estava.

- Não. Está tão na cara assim?

- Pelo jeito que me olha como se fosse maluca? Sim.

- Me perdoe se a ofendi - Pedi sincero - Apenas fiquei curioso no que a senhora estava fazendo.

Ela sorriu e entregou uma rosa branca nas minhas mãos, a senhora tinha uma áurea tão leve e neutra que contratava com a minha escura e densa.

- Você está mais perdido que cego em tiroteio meu filho. Conta para a mãe Maria o que lhe aflige.

- É muita coisa que a senhora não iria entender.

- Então entregue essa rosa a Iemanjá, faça uma oração e peça a ela que ilumine e abençoe os seus caminhos e aquiete o seu coração turbulento.

- Obrigada - Agradeci.

- E lembre-se filhinho: Se suncê precisar, é só pensar na vovó - Cantarolou e deixou um beijo em minha testa.

Mãe Maria, como ela se intitulava, saiu tão rápida como chegou, a roupa totalmente branca e esvoaçante se movimentava com a força do vento, ela acenou uma última vez e foi embora.

Intercalei meu olhar entre a imensidão do mar a minha frente e a rosa branca que repousava em minhas mãos.

- Olha Iemanjá, eu não conheço nada sobre você e nem quem você foi, mas acredito que a senhora possa realmente apaziguar o meu coração turbulento - Iniciei a oração segurando a rosa em minhas mãos - Peço que acalme a minha alma e leve todo o sentimento ruim de inveja e solidão.

Talvez seja impressão minha, ou efeito das duas caipirinhas, mas posso jurar que vi uma mulher de pele negra e vestido azul perolado no meio do mar e era como se ela tivesse levado todo a preocupação que estava me afligindo naquele momento.

Arthur surgiu do meu lado no mesmo instante que a mulher, ou meus devaneios, desapareceu.

- Diego me contou, superficialmente, sobre o motivo de você estar me odiando, mais do que o normal.

- Diego é um linguarudo que não sabe cuidar da vida dele.

- Dimitri - Ele chamou e me fez encarar a imensidão das suas orbes acastanhadas - Você não pode deixar o seu passado afetar o seu futuro, ou você encara ele e supera isso, ou irá acabar se perdendo de si mesmo.

- As vezes esqueço que você é um estudante metido que banca o psicólogo.

- E você um macho alfa que no fundo não sabe lidar com os traumas da infância.

As suas palavras saíram frias e ríspidas, mas carregava.m um fundo de verdade. O fato é que não superei o abandono parental e nem a ida dela da minha vida, e talvez nunca fosse me acostumar a ter pessoas comigo mais uma vez.

- As vezes questiono o por que ainda não matei você.

- Por que você tem medo de perder a minha doce presença - Ponderou bem humorado.

- Ou por que não tenho escolhas.

- Nós sempre temos escolhas Dimitri.

Ele se aproximou de mim e sentou na areia ao meu lado, a brisa do mar trazia o aroma salgado e a suavidade do perfume que o Arthur usava, além de proporcionar a vista das ondas se quebrando antes de chegar até onde estávamos.

- Você é um bom pai.

- Está bêbado para estar me elogiando desse jeito? Ou com piedade? - Indaguei para o loiro.

- Freud tem uma teoria chamada compulsão à repetição. Basicamente é o ato de repetir algo, mesmo que de modo inconsciente, em nossa vida.

- Realmente estou considerando a possibilidade de você estar bêbado.

- Se você deixar que eu explique logo irá entender - Rebateu estressado - Como era a relação do seu pai com os seus avós?

- Meus avós maternos abandonaram a minha mãe aos cuidados da madrinha dela e os paternos nunca ligaram muita para o meu pai, segundo ele.

- Isso é a compulsão à repetição! Porém você quebrou esse ciclo de abandono parental e emocional ao dedicar a sua vida para cuidar e zelar pela Giulia, ou seja, você não é igual ao seu pai e nem ao pai dele.

Ouvir que eu não era igual ao meu pai parecia ser um peso tirado das minhas costas, um fardo extremamente grande que carreguei a vida inteira.

- Nunca quis ser pai por isso - Admiti e obtive toda a atenção do loiro - Sempre tive medo de ser igual ao meu pai e estragar a infância e a vida do meu filho igual ele estragou a minha e a do Diego.

- Quebrar o ciclo da dor é difícil, mas conviver com o peso dos traumas de outras pessoas é algo que te aprisiona e inclausura você em uma prisão infinita de culpa.

Arthur tinha apenas vinte anos, mas ele conseguia ser mais sábio que muita gente que já cruzou em minha história, talvez isso seja pela sua trajetória na psicologia ou o fato da criação dele ter sido esplêndida ao ponto de criar um ser humano decente.

Ele levantou da areia e limpou as mãos já calça off white que usava, Arthur estendeu a mão em minha direção em um pedido incompressível da minha parte.

- Dança comigo diabinho?

- E por que eu dançaria com você? E sem música ainda.

- Não seja por isso então - Ele ponderou sorridente ao pegar o celular e selecionar a música La vie en rose de Edith Piaf.

- Não irei dançar com você Arthur.

Arthur fez um biquinho manhoso e puxou o meu corpo de encontro ao seu, por instinto as minhas mãos circundaram a sua cintura e mantiveram ele junto a mim de modo que o seu peito estivesse colado ao meu.

Ele depositou uma mão suavemente em meu ombro e repousou a cabeça em meu peito e iniciou uma dança desengonçada devido a minha vergonha da situação em que nos encontrávamos.

Ignorei o quão acelerado estava o meu coração e dancei com ele sem me importar com qualquer coisa naquele momento, apenas aproveitei a sensação de calma que residia em meu peito.

Quando voltamos para a casa da família Almeida já era duas horas da manhã, os pais do Arthur dançavam algo como uma valsa lenta enquanto alguns convidados já estavam bêbados no meio do quintal.

- Festa brasileira é sempre assim?

- Pode ser pior - Arthur respondeu - Uma vez meu amigo bebeu tanto que pegou um ônibus até Salvador. Por sorte ele acordou na metade do caminho e voltou.

O menino que conversava com o Arthur na cozinha puxou ele para dançar e rodopiou o loiro no ar, encarei a interação com uma expressão impassiva de ser lida.

- Kaio e Arthur se conhecem desde bebês, basicamente cresceram juntos - A mãe do Arthur contou ao se aproximar.

- Eles devem ser bastante amigos.

- Já foram bem mais do que isso, mas hoje são apenas melhores amigos mesmo. Posso lhe pedir algo Dimitri?

- Se estiver ao meu alcance.

- Não machuque o meu filho - Pediu sincera - Arthur já sofreu muita coisa nessa vida, já perdi ele duas vezes e não irei suportar perder novamente.

- Perdeu?

- Ele lutou pela vida desde bebê, teve duas paradas cardíacas enquanto ainda estava dentro da minha barriga. Você imagina a dor de uma mãe em ver os médicos ponderando quem eles iriam salvar? Mas Deus foi tão bom que salvou a nós dois.

- Ele realmente é alguém incrível - Ponderei para Letícia e ela sorriu.

- A outra foi quando ele sofria homofobia na escola, ele não contou para nós e até foi bom já que o pai dele seria capaz de ir até o colégio e quebrar tudo - Contou nostálgica, mas com um olhar triste - Arthur tentou suicídio no mesmo dia que dois meninos bateram nele. Quando cheguei em casa ele estava jogado no chão com um monte de cartela de remédio ao seu lado.

Não consigo nem pensar a dor que ela sentiu naquele momento, pais devem ser eternos, mas o certo é pai nenhum ter que enterrar um filho.

A noite ainda era longa, mas meu corpo necessitava descansar.

Caminhei pelo corredor até o quarto do loiro e observei que o local só tinha uma cama igual aos livros clichês, talvez isso seja alguma piada com a minha cara.

- Ou você dorme no chão, no sofá da sala ou na minha cama - Arthur ponderou ao entrar no quarto e adentrar o banheiro.a

O som da água do chuveiro caia suavemente e logo o quarto foi preenchido pelo aroma do seu famoso sabonete de lavanda, ele saiu com os fios loiros respingando água e andou até o seu closet.

- Não sabia que você queria me ver tirando a roupa.

- Só se eu quisesse ter pesadelos pelo o resto da vida.

Entrei no banheiro e aproveitei o tempo para um longo banho que revigorou as minhas forças, ao sair notei que o pirralho vestia um pijama do Harry Potter nos tons azuis da casa Corvinal.

Deitei do seu lado mantendo uma certa distância e logo cedi ao sono e apaguei para um novo dia no Brasil.

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