Serendipity of a dream

By Estrela_rana

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[ LIVRO FÍSICO EM BREVE PELA EDITORA SINGULARITY 📖 ] [Em andamento] Jeon Jungkook, um adolescente que tem s... More

AVISOS!
Lembranças
O loirinho bonito.
Tudo que sinto é... medo.
Sorvete de menta
Quase um encontro
Molho de pimenta
Rosa azul
Sombras do passado
Foi só um beijo bobo, né?
Cheirinho de morango
Viva sem medo
Verdade oculta
O meu único refúgio
Pelo teu sorriso
sinceridade
Foi tudo um sonho
Me apaixonando mais a cada dia
Um passo de cada vez
Perdido por você
Meu coração palpita por você
Eu sou você...
Você sou eu
Amizade em primeiro lugar
Mudanças
onde a verdade se revela (1)
uma palavra dá autora :)
Onde a verdade se revela (2)
Arrependimento
Ainda há esperança?
Memorias perdidas
Coração quebrado
NOVA TEMPORADA
Novo cronograma
Pesadelo
Sem forças
Desavenças
Um momento de paz
Uma volta no tempo
Confusão
Grupo novo no Instagram
Calmaria
Mostrando as garras
A dor que sempre volta
"Nervos a flor da pele"
Melhor amigo
A última briga
Apenas Continue
Dores do passado
O seu lado da dor
Uma nova chance
Incerteza
Estou com você
Um momento só nosso
Me deixe ser feliz
A noite em que fizemos amor
O monstro se revelou

Sofrimento

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By Estrela_rana

Gente, me perdoe se tiver erros no capítulo, essa semana foi muito corrida pra mim, quase não consigo finalizar ele no prazo.

🚨 Capítulo com gatilho para automutilação. Pessoas sensível ao tema, a cena em questão começará quando este sinal (⚠️) aparecer🚨


Talvez eu já estivesse chegando em casa agora, se assim como antes, pegasse um ônibus. Mas preferi deixar que meus pés me levassem calmamente ao meu abrigo da solidão. 

Mesmo com o frio me abraçando, e as pessoas em volta andando em um vai e vem sem fim, ou até mesmo com o barulho dos carros soando pelas ruas, mesmo com tudo isso me incomodando, não me importo em demorar a chegar em casa. Pois só de pensar que ao chegar lá, irei precisar olhar para o rosto da minha mãe e do meu pai. Faz meu estômago embrulhar. 

Tento distrair minha mente com pensamentos que não me levam à destruição. E Jimin é o primeiro que surge em minhas lembranças. 

Apesar da nossa conversa não ter sido inteiramente alegre, passar o tempo com ele foi como um calmante para mim. Mas ver ele chorando foi de partir o coração. Quando me abraçou, o calor do seu corpo me aqueceu por completo, mesmo que a fonte estivesse inundada. Eu não pude confortá-lo da melhor maneira possível, muito menos o agradeci pela companhia. Com isso em mente, ligeiramente pego o meu celular no bolso para mandar uma mensagem a ele. 

Penso muito no que escrever, primeiro dígito “Oi, Jimin, aqui é o Jungkook”, mas aí lembro que ele obviamente vai saber que sou eu, já que tem meu contato salvo em seu celular. Sou obrigado a parar em uma calçada quando o sinal de trânsito fecha. Volto a me concentrar na tela do aparelho em minhas mãos. 

Jungkook 💙

Obrigado por hoje

Tenha bons sonhos ♡ 

Digito a mensagem tão rápido que, sem perceber, envio ela com um emoji de coração ao lado. O meu teclado está tão acostumado com mensagem que eu costumava mandar para Jimin antes que automaticamente ele as tem prontas.

— Você é idiota, Jungkook?! — Pergunto baixo para mim mesmo enquanto atravesso a rua, me condenando mentalmente pela burrada que fiz. 

E se Jimin interpretar aquele coração como uma resposta minha sobre o assunto que conversamos hoje? Não. Não era isso que eu queria que acontecesse. Porque mesmo que naquele momento eu disse a ele que estava tudo bem entre nós, seria uma grande mentira. Eu ainda não o perdoei. 

Encaro o celular novamente pensando se deveria mandar outra mensagem dizendo que foi engano, no entanto, antes que eu comece a digitar recebo a resposta de Jimin.

Minnie

Boa noite, Kookie ❤

Aproximo a tela do meu rosto para reler a mensagem. 

Que ódio! Porque ele teve que me chamar justo assim?! Parece que deixei ele me conhecer bem demais, sabe perfeitamente como fazer meu coração amolecer. 

Por não achar que vale a pena enviar outra mensagem, guardo o celular no bolso e prossigo meu caminho. 

Alguns minutos se passam e quando percebo em qual rua estou entrando, rapidamente, meus pés antes calmos, começam a se arrastar como se pesassem toneladas. À medida com que eu me aproximo da fachada tão conhecida por mim, meu corpo começa a dar sinais de desânimo.  

Em frente ao Ho'omau, eu paro. 

Puxo o ar pelas narinas e o solto pesadamente pela boca. Tentando evitar que o choro me pegue outra vez em uma única noite. 

— Oi, senhora Choi. — Digo olhando para sua foto que ainda está presente no local em que a vi pela primeira vez, levo meu olhar para a porta trancada. 

— Esse lugar perdeu a graça sem a senhora aqui. — Eu me sento ao lado do mural com as costas apoiadas na parede do prédio. 

— A senhora ainda consegue me ouvir, não é? — Fico em silêncio em uma falsa esperança de que ouviria algo como resposta, mas não há nada além das pessoas passando na rua, alguns me olhando estranho outros simplesmente vivendo suas vidas. — Hoje eu me encontrei com Jimin, ele chorou muito enquanto me abraçava, e me implorou por perdão. Mas eu não consegui perdoar… A senhora acha que eu estou errado em ter agido dessa forma? Acha que eu deveria perdoá-lo de vez? — Outra vez o silêncio se apresenta entre “nós”. — Eu pensei na possibilidade de dizer a ele que estava tudo bem entre nós, pensei de verdade, mas sempre que eu lembro como ele conseguiu mentir pra mim, eu regresso dois passos para trás e penso “se ele mentiu uma vez, o que garante que não mentirá de novo?”

Apesar do céu não ter estrelas, fico o observando como costumava fazer quando estava com Jimin. 

— Eu sei que não estou pronto para perdoar ele, porque eu viveria em uma constante briga com minha desconfiança confusa. E eu não quero ter que viver assim.  — Miro meu olhar em um gatinho amarelo que se aproxima de mim e sem pedir nem licença começa a se esfregar por minhas pernas. Ele parece tão relaxado, como se já me conhecesse. Olho para a foto da senhora choi outra vez, mas agora dou um pequeno sorriso de canto de lábio. — Vou parecer louco por achar que foi a senhora que mandou ele vir me ouvir? — O gatinho continua ao meu lado e eu engulo em seco e decido continuar falando: — Jimin também disse que aceitaria o nosso fim se isso fosse o melhor pra mim. Confesso que ouvir ele dizer isso fez meu coração doer. Mas me sinto um idiota por me sentir assim, porque eu fui o primeiro a dizer que queria o nosso fim. Acho que agora eu entendo um pouco de como ele se sentiu naquele dia. — Mais uma vez fico em silêncio, no entanto, uso desse tempo para visualizar a imagem de Jimin no dia da nossa briga. — Ele parece estar tão arrependido, mas tenho medo de mais uma vez estar caindo em uma mentira. — O gatinho que estava ao meu lado se levanta e sai como se nada tivesse acontecido. 

Fico de pé para ver até onde ele vai, minutos depois, ele acaba sumindo do meu campo de visão. Me curvo em frente ao Ho'omau, em uma reverência de despedida. 

— Preciso ir agora. — Antes de sair respiro fundo outra vez e então, sigo rumo a minha casa. 

Meu celular vibra no bolso, pego para olhar, é uma mensagem de Yoongi perguntando como eu estou e como foi minha conversa com o Seokjin. Eu apenas respondo que estou indo para casa e sobre a conversa, digo que outro dia conto como foi. 

[•••]

Em frente a minha casa bato na porta, porque estou sem a chave. Quem me atende é meu pai.

— Isso são horas de chegar em casa, Jungkook? 

Eu não respondo sua pergunta, continuo em silêncio e entro na casa. Mas assim que a porta é fechada sinto ele segurando firme em meu braço me forçando a parar de imediato. 

— Não me ouviu? Eu estou falando com você. 

— Solta meu braço, pai. Eu já ouvi o que o senhor disse, satisfeito? 

— E porque não me responde? Ficou mudo por acaso? — Seu olhar sobre mim é pesado como uma rocha de mil toneladas. — Vamos, Jungkook, responda!

— Só me solta logo. — Eu tento puxar o meu braço, porém é inútil. — O que o senhor quer comigo afinal?! Nem é tão tarde assim, isso é motivo pra tanta importância?! — Falo com a voz alterada. 

— Baixe o seu tom de voz pra falar comigo seu bixinha! — É rápido demais que tudo acontece, quando percebo já sinto os seus dedos grandes e pesados batendo em um tapa contra o meu rosto. Eu não consigo encará-lo de imediato. — Sua mãe já me contou tudo sobre você e aquele outro merdinha! — Ele começa a cuspir as palavras na minha cara. — Você não tem vergonha de ser assim? 

“Eu deveria ter vergonha de quem eu sou?” É o que penso em perguntar, mas em vez disso não respondo sua pergunta, porque meus pensamentos estão travados na parte em que ele revela que minha mãe contou sobre mim. Eu confiei nela e mais uma vez… ela me traiu. 

— ME RESPONDE, JUNGKOOK! — Ele levanta a mão para me bater outra vez, porém, no mesmo instante nossa atenção é roubada para as batidas que vem da porta. Meu pai muda completamente o seu comportamento e se direciona até a entrada, antes de abrir a porta me olha de relance. 

— Depois a gente conversa. 

Eu continuo sem reação.

Acabei de levar um tapa no rosto do meu pai, minha mãe outra vez me traiu. Outra vez foi tratado como lixo. 

— Boa noite, senhor. — Ouço uma voz familiar falar lá de fora, quando tento ver de quem se trata, percebo o namorado da minha mãe parado ao lado de fora. — Ah, oi Jungkook. — Ele diz entrando assim que me vê. — Quem é esse senhor? — Seu olhar varia entre eu e meu pai. 

De braços cruzados meu pai se aproxima de Jin-goo. — Eu que deveria fazer essa pergunta. Quem é você e porque entrou como se fosse alguém da família? 

— Perdão pelo meu comportamento. Devo me apresentar formalmente? Olá, sou Yoon Jin-goo, não nos conhecemos ainda, sou namorado da Ji-woo, mãe do Jungkook. 

— Ele estende a mão para cumprimentar meu pai. — O senhor é algum parente que está de visita? 

Sem nenhum aviso prévio, em um ato de violência meu pai parte para cima de Jin-goo segurando firme na gola de sua camisa e com o punho fechado no ar pronto para usá-lo da pior forma possível. 

— Repete o que você disse de novo, seu desgraçado! — Ele ameaça Jin-goo, esse que mesmo confuso, tenta livrar das mãos que apertam sua camisa. 

— Tira a mão de mim, seu louco! 

Ao contrário do que ele pede meu pai o puxa para mais perto. 

— Pai, para com isso! — Mesmo que eu peça, ele não me escuta. 

— A Ji-woo é minha mulher, seu desgraçado! — Meu pai dá uma cabeçada em Jin-goo fazendo ele cambalear para trás. 

Sem saber o que fazer, eu apenas observo a cena. Jin-goo se recupera colocando a mão sobre o local antingido e sem nenhum aviso prévio ele revida a cabeçada com um soco de direita no rosto do meu pai. Esse que cai sentado no chão. 

— FIQUE SABENDO QUE EU ODEIO USAR VIOLÊNCIA, MAS NUNCA VOU DEIXAR QUE ME AMEACEM! — Jin-goo grita ofegante olhando para meu pai sentado no chão com os cotovelos apoiados na cerâmica. 

Meu pai usa suas pernas para acertar as de Jin-goo fazendo ele cair. Eu me afasto dos dois que brigam feito duas crianças imaturas. 

Com Jin-goo caído no chão meu pai avança em cima dele, seu pescoço e têmporas estão tomado de veias evidentes, sua fúria é tanta que qualquer um que estivesse no meu lugar correria para longe por medo de sofrer consequências alheias. Mas eu continuo com meus pés grudados no chão, ele se prepara para dar o próximo soco. Mas antes que o faça minha mãe surge na porta, com algumas sacolas de compras na mão, sacolas essas que ela as deixa cair assim que percebe a cena caótica que tem a sua frente. Minha mãe corre para separar os dois e enquanto faz isso, me questiona o porque não fiz nada para separá-los. 

Ela esperava mesmo que eu fosse me intrometer em uma briga que não é minha? 

Ambos se levantaram. Meu pai com a ajuda da minha mãe, que pergunta preocupada se ele se machucou e Jin-goo é obrigado a se levantar por conta própria. 

Parado um pouco mais a minha frente, ele começa a falar: — Ji-woo, me explica o que está acontecendo aqui. Porque esse homem está dizendo que é seu marido? — Não conheço Jin-goo tão intimamente quanto minha mãe para saber como ele costuma agir em situações de estresse, mas é nítido o quanto ele está diferente do habitual, geralmente ele parece ser sempre calmo, mas hoje mostrou o total oposto.

— Você é surdo? Não me ouviu antes? Eu sou o único homem que a Ji-woo amou na vida. 

— Ela não precisa que você fale por ela. — sua resposta irrita meu pai, e ele outra vez tenta ir pra cima de Jin-goo, mas minha mãe o impede. 

— Jungkook. Vai pro seu quarto, por favor. — Ela pede. 

— Não. Eu não vou. 

Ela gesticula com a mão apontando para o andar de cima. — Agora, Jungkook! 

— Eu não sou mais criança mãe, isso não funciona mais comigo! — Frustrada ela desiste de me mandar subir e volta seu foco para o assunto principal da discussão. 

— Eu… Jin-goo. O que você veio fazer aqui? Porque não me avisou que viria? 

— E isso importa agora, Ji-woo? Por quanto tempo você pretendia esconder que era casada?

— Espera aí. Eu não menti pra você em nada, eu não fazia ideia de que meu marido estava vivo. Eu nunca me relacionaria com você se eu soubesse desde o início que ele está bem. 

— Então o que a gente viveu foi tão insignificante assim pra você? — A voz do homem sai embolada, quase como se quisesse chorar. 

— Claro que não, Jin-goo. — Ela tenta argumentar. — Eu amava você é só qu- 

— O que? Vai dizer que porque esse homem apareceu você mágicamente deixou de me amar?!

— Não é isso, é qu- 

— Você não precisa explicar nada pra ele. — Meu pai segura no pulso da minha mãe, trazendo ela para mais próximo de si.— Sai da nossa casa e não volte nunca mais. 

— Ele mostra a saída para Jin-goo. 

— Ji-woo. — Seu namorado chama. Não sei se o que minha mãe tem é vergonha, mas ela não consegue parar de encarar o chão. — Você não vai dizer nada?... Que merda! Porque você não diz nada?! 

— Se você não sair por bem, você vai sair por mal. — Meu pai avisa, mas Jin-goo parece não se importar com nada, além de minha mãe. 

Ele se aproxima ficando novamente de frente para ela. De dentro do bolso do seu casaco ele tira uma caixinha vermelha pequena. 

Ele a analisa cuidadosamente com um olhar triste, antes de dizer: — Isso, era pra você. — Ela aperta a caixa nas mãos. — Lembra da conversa que tivemos aquela dia no nosso jantar? Eu disse que quando fosse pra você trocar o anel que te dei, seria para uma aliança de casamento. 

Minha mãe toma coragem para olhar diretamente em seus olhos. Ela também aparenta estar triste, mas não está chorando. 

— Desculpa, Jin-goo. — Ela pausa antes de continuar. — Eu não queria que isso tivesse acontecido desse jeito. Você é um homem incrível e tenho certeza de que vai enco- 

— Não fala mais nada, Ji-woo! Eu não quero ouvir isso de você. — Jin-goo não consegue se controlar e acaba deixando suas lágrimas saírem. Ele alcança uma das mãos da minha mãe que está livre e sobre sua palma deixa a caixa que antes segurava. — Fica pra você, ela era sua desde o início mesmo. — Ele se prepara para sair, mas antes que dê dois passos para e se vira para mim. — Jungkook, foi bom conhecer você, continue firme. E me procure se precisar de ajuda com qualquer coisa. — Eu apenas aceno com a cabeça e depois de dar um pequeno sorriso de canto de lábio, ele se vai. 

Quando só restam meus pais e eu na sala, meu pai toma a caixa de alianças das mãos da minha mãe e a joga contra a porta. 

— Querido, se acalme. — Ela tenta o acalmar segurando em seus braços. 

— Como a senhora pode fazer isso, mãe? —  a atenção dos dois recai sobre mim. — O Jin-goo merecia uma explicação e a senhora simplesmente deixou ele ir embora assim? 

— Jungkook vai pro seu quarto. Eu já disse pra você ir pro seu quarto, o que você ainda tá fazendo aqui? 

Fico parado.

— Não ouviu sua mãe, Jungkook? 

Fecho minha mão em um punho fazendo com que minhas unhas que estão mais grandes que o normal, façam pressão contra minha pele sensível. Sentir a dor que elas causam faz eu manter meus pensamentos no lugar e não surtar de vez. 

— Eu ouvi. Ouvi ela, ouvi o senhor. Mas mesmo se eu escutasse vocês mil vezes, eu continuaria sem entender como podem estar agindo dessa forma. — Olho para minha mãe. — Porque a senhora disse ao meu pai sobre eu e o Jimin? — Meus olhos começam a lacrimejar. — A senhora prometeu que não iria contar.

— Então você pretendia mentir para o seu pai, filho? Mas porque isso, papai te ama do jeito que você é. — Incrédulo, é assim que fico após ouvir suas palavras. Como ele pode dizer isso agora se a pouco tempo estava tentando me agredir? 

— Tá vendo, Jungkook. Eu falei porque eu confio no seu pai. Você sabe que eu nunca fui contra você ser gay, o que eu não aceito é o seu relacionamento com aquele garoto. — Ela me olha de cima a baixo. — Olha só como você tá ficando, filho. Vale mesmo a pena se acabar assim por conta do Jimin? Você merece coisa melhor. 

Ouvir suas palavras me doem tanto que meu corpo cansado nem se importa mais em prender as lágrimas em meus olhos. 

— Mãe, a senhora acha mesmo que esse é o problema? — Uso o dorso da minha mão para limpar meu choro. — Se o Jin-goo não tivesse entrado por aquela porta a senhora sabe o que teria acontecido comigo? Eu teria levado uma surra do meu pai. 

— Jungkook. — Ele chama meu nome com sua voz grossa e autoritária. — Pare de ficar inventando história para sua mãe.

— Inventando história? Eu não tô inventando nada pai, e o senhor sabe muito bem disso. 

— Ji-chul, isso que o Jungkook acabou de dizer é verdade? Você tentou bater no nosso filho? 

— Não, Ji-woo, é claro que eu jamais faria isso. — Ele a segura pelos ombros e beija sua testa. — Eu só voltei porque amo minha família, eu jamais faria algum mal para vocês. Vem cá Jungkook. — Ele me chama com o braço querendo que eu me junte ao abraço repugnante deles. 

Nojo, é isso que sinto vendo esses dois agindo como se fossem um casal feliz. 

Ignorando totalmente o chamado do homem, eu subo para o meu quarto o mais rápido possível. Quando entro no cômodo fecho a porta com força como se aquilo fosse o suficiente para liberar meu ódio, giro a chave no trinco para garantir que ninguém me perturbe. 

Sento na minha cama e aperto firme o tecido grosso sobre o colchão. De onde estou consigo ver o violão que ganhei de meu pai ao lado da minha escrivaninha, e junto de alguns cadernos na mesa, a foto de nós dois juntos. 

Me levanto em um impulso e pego o porta-retrato na mão, olho para o lado e vejo uma caneta, aperto ela como se quisesse quebrar, e começo a furar a foto fazendo a parte em vidro se multiplicar em estilhaços. Sinto um caco de vidro que se solta perfurar minha mão, mas ignoro completamente e jogo o objeto no chão para pisoteá-lo com toda a força que consigo ter no momento. 

Quando o estrago já está feito me aproximo em passos pesados do violão. Chorando feito um bebê que sente falta de sua mãe, pego o objeto nas mãos. Observo atentamente as cordas empoeiradas. Lembranças do dia em que ganhei o violão invadem a minha cabeça fazendo o meu coração machucado se retorcer em dor. 

— Será que eu passei a vida querendo ser o seu orgulho por uma mentira, pai? O senhor era realmente apaixonado por música, como costumava dizer? — Lembro dele tentando me bater minutos atrás. E a raiva me consome outra vez. Seguro firme no braço do violão e o jogo contra o chão como quem bate em um prego sobre um martelo. O barulho do objeto se quebrando soa alto, mas não satisfeito, eu bato outra vez e outra, e outra até que… ouço batidas na porta, é minha mãe gritando desesperada para que eu abra a porta. 

— SAI DAQUI, MÃE! SAI, ME DEIXA EM PAZ EU SEI QUE A SENHORA NÃO VAI ME OUVIR MESMO, ENTÃO ME DEIXA SOZINHO! — Grito a todo pulmão para que ela entenda que estou falando sério. Mas minha mãe continua insistindo, cansado de só gritar sem olhar em seus olhos, eu abro a porta e sem que eu diga uma palavra ela entra no meu quarto procurando o que fez tal barulho. Quando percebe o que sobrou do violão na minha mão ela entende de imediato. 

— Filho, porque você fez isso? — Questiona encarando meus dedos. Meu pai aparece parado ao lado de fora do quarto analisando toda a cena. — Sua mão está sangrando, Jungkook. — Ela tenta pegar em minha mão, mas eu desvio.

— Não me toca, mãe. A senhora já viu o que queria então me deixa aqui sozinho agora. — Peço com a voz arrastada por conta do meu choro recente. 

— Vamos Ji-woo, deixa esse menino aí, precisamos mesmo conversar. — Ele diz lá de fora. Minha mãe nega seu pedido. — Vou esperar você no quarto então, vê se dá um jeito nesse moleque. — Com as mãos dentro do bolso da calça ele desaparece no corredor, indo na direção do quarto da minha mãe. 

— Jungkook deixa eu ver sua mão. — Ela se aproxima outra vez. 

— Não. Eu já disse pra senhora não tocar em mim. 

— JUNGKOOK! EU SOU SUA MÃE!

— E isso faz diferença? — Pergunto baixo, mas ela parece ouvir.

— Repete o que você acabou de dizer Jungkook. Vamos diga outra vez. — Dessa vez ela se aproxima, e sem me deixar pensar, me acerta com um tapa fazendo meu rosto virar para o lado. — Repete Jungkook. Eu estou esperando. Eu já tô ficando cansada de você me tratando como se eu não fosse nada sua. Eu sou sua mãe Jungkook, sua mãe! 

— A mãe que eu amo nunca iria me bater assim. — E mais uma vez lágrimas começam a escorrer dos meus olhos. — Ela me abraçaria e diria que tudo ia ficar bem. — Miro meu olhar no seu. — É por essa mulher que eu tentava ser um homem forte todos os dias. Mas eu não sei mais se ela existe e também não tenho mais forças pra ser forte. 

— Essa sou eu de verdade, Jungkook. — Seus olhos estão cobertos por lágrimas aprisionadas. Me sinto tão confuso com isso, ela está sendo sincera ou só quer me punir pela forma que venho agindo? — Limpe toda essa bagunça e desça para comer depois. — Ela não diz mais nada, sai do quarto cabisbaixa. 

Me ajoelho deixando outra vez ser controlado por minha dor. Choro na esperança de que ela se amenize, mas a cada segundo que se passa a dor só aumenta.

[•••]

Dia seguinte 

— Jungkook, Jungkook! — Ouço baixo alguém chamando. Mas apenas me viro pra o outro lado da cama e continuo a dormir. — Jungkook, acorda agora! — Sou desperto do meu sono. Abro meus olhos com dificuldade e demora até que eles se adaptem com a mudança de claridade. — Jungkook, levanta agora, tem uma menina aqui embaixo querendo falar com você. — Reconheço a voz, é meu pai quem bate na minha porta. 

Uma menina querendo falar comigo? Mas que menina é essa? 

— Jungkook. — Ele chama outra vez.

— Eu já acordei. — Assim que respondo ouço os passos dele se distanciando da porta. Vou até o banheiro e de frente para o espelho, analiso o inchaço nos meus olhos. — Que droga, a cada dia que se passa eu mais parece um morto do que vivo. — passo rapidamente um pouco da água em meu rosto para espantar meu sono e depois de uns minutos desço até a sala. 

Conforme desço as escadas vejo uma menina sentada no sofá. Quando ela nota minha presença ela se vira pra mim, e só agora reconheço o rosto. É Suzy, a menina que trabalhou com a senhora Choi. 

— Ah, oi Jungkook! — Ela diz sorridente, se levantando para me cumprimentar. 

— Oi. — Digo simples. — O que você veio fazer aqui? — Percebo que em sua mão ela segura um papel, mas prefiro não perguntar sobre coisas que não me dizem respeito.

— Então, eu pretendia vir aqui muito antes, mas eu estava em uma viagem com minha mãe e só pude aparecer agora. — Percebendo a dúvida escancarada em minha face, ela continua: — Vim porque precisava te entregar isso. — Ela estica a mão com a carta na minha direção. 

— O que é isso? 

— São as últimas palavras da senhora Choi. Encontrei isso junto com ela no Ho'omau no dia em que ela faleceu. Tem seu nome na dedicatória, ela fez isso pra você, Jungkook. 

Recebo a carta em minhas mãos. 

— Não se preocupa, eu não li tudo que tem aí, quando vi seu nome eu guardei porque achei que poderia ser importante pra você. 

Eu encaro o papel amarelado dobrado ao meio. — Obrigado. — Digo assim que volto a olhar para ela. 

— Não precisa agradecer. Bom, vou indo. Tenho compromisso agora. — Ela se vira para pegar sua bolsa e depois se prepara para sair. — A gente se ver por aí. — Eu tento retribuir seu sorriso. 

— Não quer tomar café, filho? — Minha mãe aparece em seguida. 

— Não. — Volto para o meu quarto e tranco a porta. Me sento em minha cama e respiro fundo antes de ter coragem para abrir a carta. Depois de mais uns segundos como um covarde, eu abro o papel. 

Essa carta é para o meu netinho de coração, Jeon Jungkook.

Assim que leio a primeira linha sinto vontade de chorar. Mas respiro fundo e continuo. 

 Se você está lendo essa carta então significa que essa velhinha aqui já partiu dessa pra melhor, mas não se preocupe, eu tô bem aqui. O amor da minha vida tá aqui comigo. 

Jungkook, eu tenho tantas coisas que ainda queria poder dizer a você, mas sei que o meu tempo é curto. Há 1 ano eu descobri um câncer no estômago, ele já está em um estágio avançado demais, os médicos disseram que sem a cirurgia eu não viverei muito tempo, mas eu não queria fazer por medo do meu corpo idoso não aguentar. Não quero que você fique com raiva por eu ter escondido minha doença, eu fiz isso porque sabia que você iria se preocupar comigo. E eu não queria que me olhasse com pena.

O que me dói mais nem é estar doente, mas sim saber que nunca mais vou poder ver você. 

O menino que me trouxe tantos momentos de alegria, é que graças a você e seus amigos eu não perdi o Ho'omau e graças a vocês eu tive os melhores últimos meses da minha vida. 

Eu queria estar presente na sua formatura e quem sabe no seu casamento com Jimin, sei que você ama ele, dá pra ver isso nos seus olhos, então espero que se casem um dia. Queria poder conversar com você por horas e horas sobre assuntos aleatórios ou cotidianos. Queria poder te dar mil abraços quentinhos e dizer o quanto você é especial pra mim. Mas a vida nem sempre segue o rumo que a gente quer e não podemos fazer muito para mudar. 

Pelo que conheço, sei que você não deve estar lidando bem com a minha ausência, certo? Não fique assim, meu netinho. Sua vovó do coração não quer ser o motivo do seu choro, quero que você sempre se lembre de mim com um sorriso, lembre dos nossos abraços e se sinta acolhido. Eu não sei como funciona quando morremos, mas prometo que vou fazer de tudo para estar do seu lado, minha promessa será eterna, vou sempre ajudar você a se lembrar do quanto é forte.

Eu espero que em uma próxima vida a gente possa se encontrar de novo e dar muitas risadas juntos. Meu bem, muito obrigada por ser o meu melhor amigo e aguentar as minhas reclamações bobas. 

Te amo com todo o meu coração, por favor, se mantenha saudável, continue sendo o menino maravilhoso que você é, e se torne um homem incrível. 

Seja sempre o mais feliz que puder, viva cada momento da sua vida como uma criança que acabou de conhecer o mundo. Continue acreditando nos seus sonhos e lute por eles até o fim. E quando os momentos de dificuldades aparecerem, lembre-se que você nunca estará sozinho. 

Sorria, Jungkook, seus olhos sempre brilham quando você sorri. E por favor, nunca se esqueça de mim, eu vou sempre lembrar de você, até o fim. 

⚠️

Quando termino de ler a carta meu choro já é tão forte que mal consigo enxergar, sinto minha respiração pesada e começo a ter certa dificuldade para respirar. Soluços ecoam pelo quarto pouco iluminado. Seguro a carta sobre o meu peito, amassando o papel em minha mão. — Senhora Choi. — Chamo pelo seu nome quase que em uma súplica. — Me perdoa por não ter cuidado bem da senhora. — Imaginar a dor e o sofrimento que ela teve que suportar sozinha durante meses, sem ninguém para contar, as noites que deve ter passado em claro sem saber se veria o amanhecer. Imaginar tudo isso sabendo que enquanto ela sofria eu estava por aí me divertindo e sorrindo, faz com que eu me sinta a pior pessoa do mundo e que deveria sofrer pela eternidade. 

Minha cabeça dói com tantos pensamentos de arrependimentos, e eu não consigo parar de chorar. Nunca senti uma dor tão forte quanto a que estou sentindo agora, quero me livrar disso antes que eu morra. 

Avisto o meu estilete parado na minha mesa de matérias de estudos. Deixou a carta sobre a cama e levanto indo na direção do objeto, sem exitar, o pego. Ergo a maga da minha camisa e com as mãos trêmulas seguro o objeto próximo ao meu pulso. A sensação que tive no dia em que fiz isso pela primeira vez, fez toda a dor que eu estava sentindo amenizar, talvez esse seja o único jeito de me manter vivo. 

Coloco a ponta do estilete para fora e começo a riscar a minha pele lentamente, ver o sangue saindo faz com que pouco a pouco a dor se direcione para meus cortes e deixe meu coração. O corte que faço é profundo o bastante para que o sangue pingue no chão. Faço isso outra vez, dessa vez com mais pressão, se paro de pressionar por um segundo, volto a sentir o arrependimento batendo em mim. Uma pequena poça de sangue começa a se formar próximo aos meus pés, minha visão embaçada só piora e meu corpo fraco me dá sinais de que está prestes a ceder. Me preparo para fazer mais um corte, mas minha visão se escurece por completo e tudo que sinto é meu corpo caindo no chão frio do cômodo. 



————********—————

Comente aqui se você chorou, pq eu chorei 😭😭 (desculpa Jungkook).

Sei que vocês devem estar sofrendo com essa fase da fic, mas estejam cientes de que não é fácil por nosso menino Jk. Acreditem, ele vai sair dessa e voltar a ser feliz, como merece ser, então aguentem firme que o final feliz desse casal vai valer muito a pena.

Bjs e até sábado 💙💙






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