Convergência Sombria | Bonkai...

By Dark_Siren4

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Depois de fugir do Mundo Prisão de 1994, Bonnie acha que pode ter uma vida normal ao lado de seus antigos am... More

1. Eu me caso com um sociopata
2. O Ritual de União das Almas
3. Enfrento a fúria da minha esposa
4. Deixo Kai me tocar
5. Bonnie me dá um perdido
7. Meu novo emprego e um cadáver
8. Canção de Ninar
9. Meus sentimentos e Minha sogra
10. Meu novo colega de quarto
11. Incêndeio um Espectro folgado
12. Um coração partido
13. O meu e o seu coração
14. Entre dois idiotas e minhas descobertas
15. Eu? Apaixonado? Quem diria
16. E o tiro saiu pela culatra
17. Um velho me ataca
18. Sou dele
19. Sem ele
20. Visito o cemitério
21. Sou flagrado
22. Ela me domina
23. Férias forçadas
24. A Revanche
25. Amigos e Respostas
26. A Flora e o Mar
27. Um lago de verdades
28. Para Sempre
29. Reunião de família
30. Nas Sombras
31.Conhecendo o inimigo
32. Possessão
33. Supernova
34. Em casa
35. O que falta em mim
36. Nós dois
37. Um pedaço de mim
Capítulo 38: Minhas Prioridades
Capítulo 39: O homem em chamas
Epílogo:
Antes que eu me vá...
Capítulo Bônus: Linhas de Sangue
Livro Novo!

6. Acordando com Kai

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By Dark_Siren4

Tive um sonho esquisito, no qual eu me encontrava na varanda de minha casa. Fazia um lindo dia de sol e podia ouvir sons de pássaros cantando ao longe.

Eu estava deitada no balanço da varanda. Daqueles grandes em que cabem duas pessoas. No entanto, eu não estava sozinha.

Minha cabeça repousava confortavelmente na perna de alguém que eu não conseguia ver. Tudo que eu enxergava era sua calça jeans gasta.

Sua mão acariciava lentamente entre meus cabelos. Suspirei, aquilo era bom.

O balanço rangia de forma ritmada, conforme ia para frente e para trás.

No momento, eu não queria saber quem era, apenas queria que continuasse a fazer aquele cafuné gostoso. Embora, aquela pessoa transmitisse uma sensação de acolhimento como se com ele, minha metade, eu pudesse me sentir segura para sempre.

Meus olhos estavam se fechando lentamente, estava com muito sono. Os abri preguiçosamente, então, pude ver uma figura parada no meio do jardim.

Minha visão ficou estranhamente turva, motivo pelo qual não pude distingui—lo. Apenas deu para notar sua pele alva e que se vestia de negro da cabeça aos pés. Ele era alto e corpulento.

A figura não fez nada, só ficou ali parada, olhando para nós. Parecia esperar por alguma coisa.

Acordei lentamente, tentando me espreguiçar, mas senti algo quente e um pouco maior que minha mão, aprendendo.

Abri meus olhos e dei de cara com Kai. Fiquei paralisada de medo.

Mas... Espera aí.

Ele estava dormindo, sentado no chão e com a cabeça e o braço direito apoiados no meu colchão. A pressão que senti em minha mão, era sua sobre a minha.

Que raios ele estava fazendo ali?!, a voz em minha cabeça gritou para mim.

Tentei tirar minha mão devagar de debaixo da sua, mas ele grunhiu alguma coisa e a segurou, entrelaçando seus dedos nos meus.

Sua mão era quente, áspera e era tão reconfortante maior que a minha...

Larga de ser maluca mulher!, gritei para mim. Não tem essa de reconfortante, não!

Estiquei meu outro braço, meio atrapalhada, e já ia dar um cutucão nele, quando vi sua expressão e parei.

Ele dormia tranquilamente com o rosto apoiado sobre o braço musculoso. Sua expressão era tão... serena. Os olhos fechados, suas sobrancelhas juntas como se estivesse preocupado com alguma coisa e a boca levemente entreaberta.

Fiquei olhando para sua boca que nem uma idiota.

Ele tinha o lábio superior mais fino, enquanto o inferior era mais cheio. Sua barba estava por fazer, dando aquele ar mais velho, apesar de ele ter apenas vinte e dois anos — pelo menos, no que se referia à aparência, pois ele tinha o dobro do idade.

Tive que admitir que ele era bem bonito. Ok! Ele era um tremendo gato! Mas eu nunca diria isso a ele.

Com aquela expressão, ele parecia um menininho, tão inocente e indefeso...

Todos os alarmes na minha cabeça soaram, quando as palavras “Kai Parker” e “inocente” se juntaram na mesma frase. E desde quando eu reparava na aparência de sociopatas?

Levantei a mão outra vez para dar outro cutucão no braço dele. Aquele braço grande, musculoso e enorme...

Minha mão parou no ar novamente. Percebi que estava mordendo meu lábio.

Levei mais um segundo para me dar conta do que estava se passando por minha cabeça. E os pensamentos estavam para lá de pecaminosos.

Bonnie Bennett, gritou minha consciência. Esse é o psicopata do Kai Parker, que a torturou friamente. Ele não é um cara legal. Definitivamente.

Franzi o cenho. O que esse babaca, estava fazendo no meu quarto?

Olhei para a porta, alarmada. Estava aberta. Senti meu estômago afundar.

Virei—me para o Parker resolutamente. Cutuquei seu braço. Ele não acordou.

Tentei de novo. Nada. Sacudi seu ombro com a mão. Nada outra vez.

Ô homenzinho do sono pesado!

— Kai? — chamei—o. Nenhuma movimentação — Kai? — falei um pouco mais alto.

Ele nem se mexeu. Suspirei irritada.

— KAI, ACORDA!

Ele abriu os olhos sobressaltado. Levantando a cabeça muito rápido e batendo no criado—mudo ao lado da minha cama.

—  Ai, merda! — disse com a voz rouca de sono, esfregando a parte de trás da cabeça — Você ficou maluca, sua bruxa idiota?!

Senti meu rosto ficando vermelho de raiva.

— Eu?Idiota?! — exclamei, louca da vida — O que você está fazendo no meu quarto, seu retardado?!

Sua expressão mudou de súbito da raiva ao choque. Ele ficou olhando em volta como se tivesse sido abduzido por uma nave alienígena.

— Porra, acabei pegando no sono — sussurrou para si mesmo.

E se levantou rapidamente, indo em direção à porta. Me sentei na cama, irada.

Ah, ele não vai se safar dela mesmo!, pensei, saindo da cama. Marchei para fora do meu quarto passando pelo corredor.

A porta de seu quarto estava fechada. A abrir sem me importar se ele ficaria bravo. Afinal, ele quem havia invadido meu quarto para início de conversa.

E lá estava ele, sentado na beirada de sua cama desarrumada, esfregando as mãos nos cabelos.

— O que você estava fazendo no meu quarto?! — gritei para ele.

— Ah, Bonnie — resmungou, irritado — Não enche meu saco logo de manhã —  disse sem me olhar, ainda de cabeça baixa, esfregando os cabelos.

— Vai se foder, Malachai! O que você estava fazendo no meu quarto, seu idiota de merda?!

Ele não me respondeu. Ele estava me ignorando?!

Meu rosto ficou quente, a raiva fluindo para ele.

— Só porque fizemos aquela droga de ritual isso não dá a você o direito de invadir o meu quarto quando quiser, seu bastardo! — gritei fora de mim.

Eu não tinha o costume de perder a paciência desse jeito, mas aquele bruxo me tirava do sério.

Ele se levantou em um rompante, vindo na minha direção e parando diante de mim.

— Cala a droga da boca, Bonnie! — gritou para mim.

Aquilo me assustou, mas não demonstrei. Não daria esse gosto à ele.

— Não! Cala a boca você, seu babaca!—gritei de volta, cutucando seu peito com o indicador — Quem você pensa que é para falar assim comigo?!

— Aaahhh!!! — gritou parecendo um maluco na minha frente. Seu rosto ficando completamente vermelho.

Eu me sobressaltei com o grito surpresa com tanta raiva e selvageria da parte dele. Kai estava completamente descontrolado.

— NÃO GRITA COMIGO!!! — me assustei com minha própria ousadia. Ele pareceu levemente surpreso com minha coragem, porém, seu rosto se transformou naquele mar de fúria novamente.

Ele me empurrou contra a parede, suas mãos ao lado da minha cintura e da minha cabeça, me aprisionando. Tentei sair, mas Kai me empurrou de volta de forma brusca.

Seus olhos tinham aquele mesmo brilho frio de antigamente. Seu rosto estava muito próximo ao meu, senti sua respiração em meu rosto.

Comecei a tremer, temendo que ele fosse fazer alguma coisa. Tentei não demonstrar isso em minha expressão, deixando que todo o meu ódio por ele ficasse óbvio. 

Ele avaliava minha expressão.

— Quer saber o que eu estava fazendo no seu quarto noite passada? — perguntou de um jeito assustador, seu nariz quase roçando no meu.

Tremi mais ainda.

— Sabe o que eu fiz com você, Bonnie? — sussurrou contra meu rosto.

Senti a pele de minha nuca se arrepiar de tanto medo. Será que ele tinha feito algo comigo? Enquanto eu dormia?

Meu coração se acelerou em meu peito.

Kai chegou perto, muito perto de mim. As curvas de seu corpo quase se colaram às minhas.

Meus joelhos começaram a tremer.

— Eu...não...fiz...nada — sussurrou lentamente com escárnio.

Eu já tinha visto muitas facetas de Kai. O psicopata divertido, o rapaz irado, o cara simpático, mas nunca na minha vida o tinha visto daquele jeito tão descontroladamente frio e intenso.

Eu o fitei, confusa.

— Então... o que você estava fazendo lá? — perguntei, minha voz praticamente desaparecida.

A fúria e a frieza desapareceram de seu rosto, substituída por pesar. Ele desviou os olhos azuis—cinzentos  olhando para baixo. E por um segundo foi como se todas as facetas que havia construído, tivessem caído por terra.

— Eu... não sei — sussurrou, quase como se fosse uma confissão de algo muito vergonhoso.

Não era o tipo de resposta que eu esperava. Continuei o fitando, mas seus olhos não encontravam os meus.

Senti o coração dele batendo loucamente em meu peito. E o modo como ele estava tão próximo de mim não ajudava em nada.

Senti meu próprio coração batendo de uma forma meio maluca.

O calor do corpo dele me envolvia e seu cheiro... Era algo parecido com árvores e terra molhada. Algo completamente seu.

Sua expressão era dura, como se estivesse lidando com um conflito interno muito forte.

Por fim, Kai suspirou, afastando—se de mim alguns centímetros, me liberando daquela prisão.

— Me desculpe — murmurou, com o maxilar apertado — Não vou mais entrar no seu quarto.

Limitei—me a encará—lo, tentando saber o que se passava naquela cabeça maluca, mas não me veio nada que eu pudesse comparar.

Então, andei em direção a porta.

— Bonnie?

Me virei, ansiosa demais.

— O quê? — perguntei.

Ele ainda tinha aquele olhar sério, mas um leve sorriso se formou em seus lábios.

— Vê se viste alguma coisa, tá?

Olhei para mim mesma confusa. E foi aí que me toquei que estava apenas de blusa e calcinha na frente dele. Outra vez.

Senti meu rosto queimando de vergonha. Olhei—o furiosa.

— E você não ia me dizer nada?

Ele cruzou os braços, parecendo se divertir de uma forma diabólica.

— E estragar a ótima vista que eu estava tendo?

Saí do quarto dele antes que começasse a xingá—lo de novo. Entrei no meu louca da vida. 

Panaca!, bufei com raiva. Só porque tem aqueles olhinhos bonitos, acha que pode fazer o que quiser.

Não acreditei no que tinha acabado de pensar. Olhos bonitos? O que deu em mim? Eu só podia ficar maluca!

Ontem ele tinha sido rude comigo e depois eu tive aquele maldito ataque de ansiedade. Tudo por culpa dele!

Me lembro de ter dirigido como uma louca pela cidade, não sabendo para onde ir. Não queria ir para a casa de Carolina, pois ela acabaria ligando para todos os nossos amigos. E eu já sentia vergonha demais, só de ter um daqueles ataques na frente de alguém. Até pensei em ir para a Mansão Salvatore, mas não queria deixar Damon e Elena preocupados comigo.

Então, fui para o único lugar em que pude pensar. Minha casa. Aquela em que havia morado com meu pai, antes de ele ser morto por Silas.

Estacionei o carro de qualquer jeito ao chegar lá. E procurei pela chave, que meu pai deixava embaixo do tapete na entrada. E me escondi lá dentro.

Ficar lá sozinha, foi uma sensação horrível, porque sentia falta dele, do meu pai. E pensar nele fazia com que toda a dor voltasse com força. Corri para meu antigo quarto e me encolhi em minha cama, chorando. Deixando que a dor e o medo se juntassem.

É tudo culpa dele! Tudo culpa de Kai! Eu estava muito bem sem ele por perto, pensei, chorando desesperadamente.

Até que ouvi uma voz familiar chamando. Era Damon, parado na porta do meu quarto. Mandei—o ir embora, mas ele não foi, veio até mim e me abraçou, deixando que eu chorasse em seus braços.

Ele me levou à Mansão Salvatore, deixando—me aos cuidados de Elena. Sentia falta de conversar com ela. Vesti suas roupas que ficaram meio grandes em mim, mas estava feliz de estar com eles.

No entanto, como dizem mesmo? A alegria de pobre dura pouco. Pois, Kai chegou lá, parecendo furioso e pensei que ele e Damon fossem brigar. Porém, os dois apenas conversaram no escritório e Kai saiu de lá muito estranho. Estava quieto demais.

E quando aquele tal de Ezequiel Trainor apareceu na minha casa, foi um tremendo inferno.

Só de pensar que ele havia dito a Kai, que eu era virgem, fez com que me sentisse extremamente envergonhada e patética. Pensei que ia avançar no pescoço daquele velho, mas Kai interveio, tentando me acalmar. E quando seus olhos cinzentos focaram nos meus, me senti estranhamente...bem. Tinha alguma coisa naqueles olhos azuis—cinzentos, que me hipnotizaram.

Que droga está acontecendo comigo?

***

Escovei os dentes e lavei o rosto. Vesti uma blusa de manga comprida cinza e um jeans preto. E meus inseparáveis sapatos de salto marrom.

Desci para tomar café e Kai não estava na cozinha.

Ótimo, pensei ligar a torradeira, colocando as fatias de pão. Abri a geladeira, derramando um pouco de suco de laranja em meu copo.

Sentei em um dos bancos altos estendidos ao longo do balcão,  esperando minhas torradas ficarem prontas.

—  Suponho, que você não fez nada pra mim — disse atrás de mim.

Virei—me assustada.

Kai estava recostado contra o batente da porta de braços cruzados. Vestia uma calça jeans surrada e uma camisa preta, enrolada nos cotovelos.

— Já falei para não fazer isso — disse irritado, não querendo olhar em seus olhos cinzentos.

— Isso o quê? 

— Chegar sem fazer barulho, droga. Eu me assusto a cada vez que você faz isso.

— Percebi — riu ele, indo até a geladeira e pegou a caixa de suco de laranja e bebeu direto dela.

— Ah! — fiz cara de nojo —Não faz isso!

Ele voltou os olhos cinza para mim, parecendo confuso.

— O que foi que eu fiz, agora?

— Isso — apontei para a caixa de suco — Sabia que eu bebi esse suco também?

Ele deu de ombros.

— O que é seu, é meu e vice e versa — disse sorrindo de forma insolente.

Revirei os olhos, afastando o meu copo de suco que estava bebendo agora a pouco.

— Pode ficar com a caixa inteira — disse me levantando para tirar as torradas da torradeira — Acabei de descobrir que sou alérgica a suco de laranja.

Ele suspirou alto.

— Você tem tanto ódio de mim a ponto de se enojar? — perguntou,  colocando o suco de volta na geladeira.

— Não estou a fim de discutir isso, Kai — murmurei me sentando no banco de novo e passando manteiga e geleia de morango nas minhas torradas.

Ele sentou—se de frente para mim, do outro lado da bancada, pegando uma maçã na fruteira.

— E você tem nojo de mim? — disse encarando minhas torradas como se fosse uma meleca particularmente estranha — Sinceramente, isso parece uma gororoba bem nojenta.

— Ainda bem que você não vai comer — falei, dando uma mordida na torrada.

Ele ficou me encarando como se a visão de meu maxilar se movendo fosse muito interessante. Parei de me castigar.

Ele voltou a si como que acordando de um transe. Kai sacudiu a cabeça.

— Não acredito que sou casado com uma garota que gosta de comer torrada com manteiga e geleia de morango.

E deu uma mordida em sua maçã. E o modo que ele a mordeu era tão...

Nem ouse terminar essa frase!, gritou minha consciência me repreendendo.

Senti meu rosto corando, voltei a comer minhas torradas.

— Eu também, não acredito que sou casada com um sociopata, mas olha nós aqui! — soltei sarcasticamente.

Ele suspirou, tentando controlar a raiva.

— Vai, pode jogar na minha cara — disse erguendo as mãos — Eu mereço. Quer dizer mais alguma coisa? Porque para isso, nossa relação, dar certo tem que haver sinceridade.

Ele parecia irritado.

— Não existe nada entre nós dois e nunca vai existir, ok?

Ele se inclinou sobre a bancada para mim. Seus olhos cinzentos me desafiam.

— Eu sempre soube disso, mas a Convenção acha o contrário  — citou com aquele sorrisinho sarcástico que eu detestava. E deu outra mordida na maçã.

— Dane—se a Convenção — falei desafiando—o.

Aquilo não pareceu abalá—lo. Continuava sorrindo daquele jeito insolente.

— Cuidado, querida, é nossa Convenção, agora — disse ele — Precisa mais deles, que eles de você.

— Não, querido — rebati, me inclinando na bancada, olhando em seus olhos azuis — É sua Convenção e é você quem precisa deles.

Ficamos nos encarando por um tempo imensurável. Até que vi um sorriso torto aparecer em seu rosto.

— Você fica uma gracinha quando está de mau humor—  disse, olhando para os meus olhos.

O encarei, incrédula, como se ele tivesse acabado de xingar minha mãe. Abri minha boca, tentando dizer alguma coisa e fechando—a novamente.

Kai sorriu de forma cruel. Saboreando minha falta de palavras.

Não sei o que deu em mim naquele momento, mas comecei a achar o modo como ele sorria muito bonito. O modo como o lábio superior afinava um pouco, enquanto o inferior parecia mais farto. E sem falar nas covinhas, que aparecem dos dois lados de suas bochechas. 

Ele tinha alguma coisa tão contagiante. Mesmo com a personalidade detestável, Kai tinha algo de cativante que fazia impossível o ato de ignorá—lo.

E me dei conta de que estava mordendo meu lábio inferior e olhando para ele como uma retardada.

O sorriso havia desaparecido e em seu lugar, ficou aquele mesmo olhar daquela noite, na cozinha. Uma espécie de frustração, parecia corroê—lo, deixando seus olhos cinza extremamente intensos. Sua respiração estava um pouco ofegante.

Soltei meu lábio, tentando me situar.

O que está acontecendo comigo, pensei, ofegante. Deus do Céu.

Me levantei, deixando meu café da manhã inacabado. 

Ele ainda me olhava do mesmo modo, e aquilo estava me deixando, estranhamente nervosa.

— Eu vou sair, um pouco — inventei na hora, sem nem saber porque tinha feito aquilo.

Suas sobrancelhas se juntaram.

— Vai pra onde? — disse de um jeito estranho.

Em qualquer outra circunstância, eu teria dito que não era da conta dele, mas naquele momento, eu não estava pensando direito.

— Vou na casa da Caroline — inventei rapidamente.

E com isso, saí deixando—o sentado lá.

Rodei com o carro pelas ruas centenárias de Mystic Falls, apenas relembrando o que havia acontecido naquela cozinha.

Mas o que foi isso?, pensei tentando compreender minha reação à Kai.

Primeiro, fico encarando ele, enquanto dormia, agora, fico babando por ele na cozinha. Só pode ser esse ritual, mexendo com a minha cabeça. Só pode ser isso.

Sabia que tinha inventado aquela desculpa de ir à casa de Caroline. Agora teria que ir mesmo, pois numa cidade pequena como essa, Kai ficaria sabendo em dois tempos que eu não fui ao lugar que havia dito que iria.

Não que eu ligue para o que ele pensa, claro.

Dirigi até sua casa, parando no meio fio. Desci do carro, caminhando até a entrada da construção simples, porém, espaçosa que tomava conta de quase todo o terreno amplo.

Tomara que ela esteja aí.

Apertei a campainha e Caroline abriu a porta. Linda e loira como sempre.

— Bonnie! — disse me abraçando — O que a fez sair da toca? Peraí!

Disse me afastando e colocando as mãos estendidas na minha frente fazendo um sinal de pare.

– O Kai não fez nada, não é? — perguntou parecendo muito preocupada.

Eu sorri, tinha me esquecido de como Caroline poderia ser tão... Caroline!

— Vocês até me ofendem, falando assim — disse colocando as mãos nos quadris — Não sou nenhuma donzela indefesa! E é claro que ele não me fez nada.

Ela respirou aliviada e me convidou para entrar. O cheiro me atingiu antes mesmo de ver.

— Isso é cheiro de tinta?

Ela continuou andando na minha frente.

— Ah, me desculpe — murmurou ela olhando por cima do ombro — Eu comecei a pintar faz alguns dias.

Passamos pela sala de estar e lá estávamos os móveis encostados em uma parede branca, enquanto, do lado oposto estava cheio de latas de tinta.

A cor azul clara ainda estava fresca na parede.

—É melhor sentarmos na varanda dos fundos — disse ela — É o único cômodo da casa que não está cheio de tinta e solvente.

Fomos para a varanda, que tinha uma ótima vista do jardim bem cuidado de Caroline.

Sentamos em uma mesinha branca e enfeitada.

— Então o que a trás aqui, já que você não tem vindo na minha casa nos últimos tempos? — repreendeu ela, ainda sorrindo.

— É que eu senti falta de conversar com você — menti, mas não era de todo mentira.

— Conheço você desde o jardim de infância, Bonnie Bennett, e ainda pensa que me engana?

Ela arqueou as sobrancelhas louras, encarando meu rosto. Suspirei, me rendendo.

— É que é meio sufocante... ter o Kai por perto.

Sua expressão ficou mais terna.

— Ainda é difícil para você, não é?

— Você nem faz ideia — suspirei outra vez.

Ela assentiu.

— E como está sendo conviver com ele? — perguntou ela.

— Tenso. Estressante — citei — Nós discutimos o tempo todo. 

É claro que eu não ia mencionar as partes em que ele ficava me olhando daquele jeito esquisito. Ou como quando ele se aproximava de mim daquela forma.

— Ele não agrediu você, não é? — perguntou ela meio alarmada.

Meus olhos quase me saltaram da cabeça.

— Não! De onde você tirou isso, Care?! — perguntei chocada.

— Desculpe, é que considerando as coisas que ele já fez com você, não achei muito difícil de imaginar isso —  disse se defendendo.

— Ele não encostou um dedo em mim desde o dia em que chegou — expliquei — Pelo contrário, ele está tentando ser legal comigo. O que só me deixa mais irritada.

Caroline riu.

— Sentindo falta do Kai sociopata? —provocou ela.

— Ah, com certeza! — soltei, sarcástica. 

Ela levantou um dedo no ar.

— Mesmo que ele seja um sociopata, uma coisa você tem que admitir.

— O quê? — perguntei.

— Seu marido é um tremendo gostoso! — disse ela se abanando.

— Gostoso? Só você mesmo, Care!

Ela me encarou, como se aquilo fosse o óbvio ululante.

— Qual é, Bonnie? Vai me dizer que não notou aquele corpinho sexy e aqueles olhos cinza perturbadoramente lindos? Eu, que não gosto dele, percebi isso.

Ao mencionar os olhos de Kai, senti meu coração acelerado.

Medo, querida. Puro e simples medo, tentou se explicar meu consciente.

— Mas toda essa admiração se dissiparia se você prestasse atenção nas asneiras que ele dizia — murmurei, tentando disfarçar meu desconforto.

— Você não acha que ele pode ter mudado após a Fusão com Luke? — perguntou ela de maneira séria.

Ponderei aquilo.

— Às vezes, eu quase acho que sim, mas aí, ele diz alguma coisa que me faz lembrar de como era antes e começo a achar a ideia impossível.

Ela ouvia tudo de forma pensativa.

— Mas você não espera que ele mude de uma hora para outra, não é? — murmurou com seus olhos azuis em mim — Ser o Kai faz parte da personalidade dele, mesmo que seja um cara irritante, agressivo e meio doido. No entanto, também absorveu a personalidade de Luke, então, de certa forma, ele é bom.

Aquilo me pareceu uma boa explicação. Eu não sabia que a Care, pensava dessa forma em relação à Kai.

— Não sei o que pensar sobre isso — murmurei, ainda desconcertada.

— Por que não dá uma chance a ele? — murmurou Caroline — Tente perdoá—lo.

Não acreditava que ela, que era minha melhor amiga, estava dizendo aquilo.

Senti aquele familiar rubor de raiva se espalhar pela minha pele.

— Eu nunca vou perdoá—lo — disse eu totalmente convicta.

Caroline parecia preocupada comigo.

—Toda essa raiva não está fazendo bem a você, Bonnie — murmurou ela, colocando sua mão sobre a minha — Você nunca vai conseguir seguir em frente se continuar odiando Kai.

Afastei minha mão da sua lentamente.

— Não quero mais falar sobre isso — falei bruscamente.

Caroline suspirou audivelmente.

— Sobre o que quer falar, então?

Forcei um sorriso.

— Como as coisas estão entre você e Stefan? — perguntei, já sabendo sua reação.

Ela se remexeu na cadeira, visivelmente desconfortável com o assunto.

— Podemos falar sobre outra coisa? — perguntou, relutante.

Arqueei uma sobrancelha.

— Eu falei sobre o Kai. Agora seja uma boa amiga e compartilhe suas dores comigo, sim?

— Tá bem! — disse erguendo as mãos na defensiva — Depois que eu desliguei minha humanidade e fiz ele desligar a dele, e depois que voltamos ao normal... Sei lá, as coisas não são mais as mesmas. Ele tenta falar comigo, mas eu meio que estou evitando ele.

Assenti, compreendendo.

— Sabe que em algum momento, vocês vão ter que falar sobre isso, não é?

— Eu sei, mas é que está tudo tão confuso entre nós depois da morte da minha mãe — disse com os olhos se enchendo de lágrimas — Semana passada eu simplesmente acordei achando que a cor da parede não estava legal. Aí, então, pensei: “Seria bom dar uma renovada.” Então comecei a pintar a sala, mas aí achei que meu quarto não estava muito bom também, assim como o banheiro e tudo mais — ela deu um longo suspiro que doeu no meu coração — O único cômodo que não consigo mudar é o quarto da minha mãe. Eu simplesmente... Eu...

Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.

— Acho que... — prosseguiu com dificuldade — agora não é o momento certo para me envolver com ninguém — finalizou com um soluço.

Me levantei e a envolvi com meus braços.

Caroline ainda não havia conseguido superar a perda da mãe, eu compreendia isso. Eu mesma não entendia como Liz Forbes pode sucumbir tão rapidamente ao câncer daquela forma.

Alguns minutos depois, ela parou de chorar.

— Bonnie? — chamou me olhando com uma expressão divertida — Que tal fazermos um pacto?

— Que tipo de pacto? — perguntei desconfiada.

— Façamos assim — não gostei nada daquele sorrisinho travesso — Eu falo com Stefan, se você tentar perdoar o Kai. O que acha disso?

— Acho que você vai ficar pra titia eternamente — disse eu a contra gosto.

— Ah, Bon... Não custa nada tentar.

— Eu não suporto ficar perto dele, Caroline — expliquei — Como espera que eu o perdoe?

— Tenta, sua cabeça—dura! Não estou vendo você se esforçar para isso acontecer.

Eu não disse nada. Como eu poderia discutir com Caroline Forbes?

***

Caroline teve mais uma de suas inspirações malucas e cismou que queria fazer cupcakes. Fui arrastada junto com ela para a cozinha.

Passamos boa parte da manhã fazendo a massa, o recheio e a cobertura dos bolinhos. E ficamos a tarde toda sentadas em seu quarto, comendo cupcakes e assistindo a comédias românticas.

Bem que minha vida podia ser igual a esses filmes, pensei suspirando.

— Quando vai voltar pra faculdade, BonBon? — perguntou Caroline, me olhando, durante os trailers de um filme.

— Não tinha parado para pensar nisso. É que são tantos problemas. Acho que vou esperar a Convenção sair da cidade e depois eu volto.

— E... o Kai? — perguntou hesitante.

— O que tem ele? — encarei—a, não gostando do rumo da conversa.

— Você vai deixá—lo? Aqui sozinho?

— Você fala como se nós realmente tivéssemos alguma coisa, Care. Apenas me casei com ele, porque precisava proteger meus amigos. Não é como se eu o amasse.

— Mas não poderia gostar dele só um pouquinho, assim — disse ela, fazendo o gesto com os dedos — É que vocês fazem um casal tão fofo! — ela fez uma careta — Claro se você esquecer toda a parte da psicose e a violência.

— Não somos um casal — rebati.

Ela riu.

Olhei pela janela de seu quarto e vi que a luz do sol se esvai.

O celular de Carolina tocou ao seu lado.

— É a Elena — disse olhando no visor — Alô, Elena? O quê? Tem certeza? Não precisa, ela está aqui comigo.

Caroline desligou o celular, preocupada.

— O que foi que aconteceu? — perguntei séria.

— Uma coisa bem ruim — respondeu ela.

♡♡♡♡♡

Nota da Autora:

Oi amores!

Tudo bem com vocês? Espero que sim!

A Caroline é bonkai de coração, não é? E o que será que aconteceu com a turminha de Mystic Falls?

Beijinhos xxx Até o próximo!

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