O Fim de Ostara

By literatorturing

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Quando a princesa Oleandra descobre uma trágica profecia sobre sua irmã mais nova, ela decide que fará de tud... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20

Capítulo 16

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By literatorturing

Não senti ter escolha além de seguir qualquer direção que Caeda me apontasse, apesar de não saber para onde estávamos indo. Minha cabeça ainda latejava com os resquícios da ressaca enquanto pisávamos de pedra em pedra, evitando as partes mais molhadas e o musgo típico da costa. Para melhorar a situação, sentia meus calcanhares congelando com o vento e a umidade, apesar de estar de botas.

Meu corpo, nitidamente despreparado para aquela atividade, deslizava pelas superfícies mais planas e muitas vezes precisava do auxílio da mão enluvada de meu companheiro. Quando tinha tempo, observava-o andar na ponta dos pés, como se tivesse nascido para trilhar as jornadas mais irregulares.

— Diga. — Caeda parou bruscamente, quase me dando um susto.

— Você tem um olho nas costas?

— Não, você que não sabe ser sutil. Pergunte o que quer perguntar.

Pousei ao seu lado, fazendo meu máximo para não escorregar.

— Seu plano, então, é roubar uma pérola gigante de sereias.

— Precisamente. — Lutando contra o frio possivelmente tanto quanto eu, Caeda tomou um gole de seu cantil. — Com a exceção de que essas sereias são diferentes das que encontramos antes. Mais perigosas, e muito mais feias.

E eu pensando que Nisha era peculiar o suficiente.

— Mas por quê?

— Isso não lhe diz respeito. — Sem aviso prévio, Caeda guardou sua bebida e voltou a pular pelas pedras, deixando-me completamente para trás.

— Não acha que sua ajudante possui o direito de saber? — Gritei.

— Na verdade, não.

— Seu...

— Se quiser voltar, fique à vontade. Mas já atravessamos cerca de quatrocentos metros de pedras.

Resmunguei alguns xingamentos, alto o suficiente para que o menino-coruja escutasse, mas ele não pareceu se importar.

— E isso vai ajudar a Primavera, então. — Insisti, mas, ao invés de responder, ele parou em uma rocha grande e me entregou seu cantil. — Devo deduzir que não é chá? — Peguei o compartimento de metal com as duas mãos, tentando enxergar o que tinha dentro.

— Tenho quase certeza que tem café no meio. Beba sem encostar a boca.

Suspirando, tomei grandes goles do líquido amargo, o suficiente para me esquentar o peito. O gosto forte e reconfortante de álcool quase me fez esquecer de minha cabeça latejante.

— Vocês do Ferro-Velho bebem demais. — Entreguei seu cantil, o corpo temporariamente aquecido contra o vento gélido que soprava.

— E você está quase se tornando uma de nós.Vamos?

— Qual é o plano?

— Tenho um barco com algumas ferramentas do Antigo Mundo que consegui consertar. Se der tudo certo com as máscaras de oxigênio, conseguiremos nos manter debaixo d'água por vinte minutos.

— E as armas que trouxemos?

— Não são armas de fogo. Armas de fogo precisam de pólvora pra funcionar, e pólvora molhada se torna inútil para nós. — Caeda sacou seu cano de metal, e pude ver em seus olhos um vislumbre de orgulho. — Não. Essa aqui vai soltar uma rede de pesca de aproximadamente seis metros. Só tem uma munição, no entanto, então mire corretamente.

— Certo. — Olhei minha própria arma, namorando seu brilho metálico e sua traseira de couro fino. Pele de porco.

Eu nunca contaria isso para Caeda, mas não fazia ideia de como usar aquela coisa.

O mapa de Caeda apontava para um único canal, que se localizava entre rochas pontiagudas onde o barco com certeza não passaria, e cuja corrente possivelmente nos levaria para longe de nosso objetivo.

— Será um teste de resistência. — Disse o cientista, fitando-me com cautela. — O mar vai tentar te puxar para o Leste, então nade para o Noroeste. As rochas serão as únicas coisas nos guiando.

— Tem certeza que não preferiria se Viessa...

— O mais importante é não ser idiota. — Continuou, impaciente. — Se minhas previsões estiverem certas, temos mais ou menos uma hora até o anoitecer, mas elas possuem sono leve. Caso acordem, volte para o barco imediatamente. Não olhe para trás. Não tente lutar. Eu não vou nem tentar te salvar. Entendeu?

— Não ser idiota. — Concordei com a cabeça na tentativa de parecer decidida, ainda que meu coração batesse dolorosamente a fim de me convencer a desistir. Se mesmo Nisha me dava calafrios, não gostaria nem de imaginar o que aqueles seres eram capazes de fazer.

— Exatamente. Nisha não é a única sereia com a capacidade de metamorfose, e elas conseguem te ler como um livro. Não confie em seus olhos. Encontre uma ostra fechada no ninho delas. E deixe o excesso de roupa no barco; vamos ancorar em breve, e duvido que essa saia vá te ajudar a lutar contra a maré.

Em cerca de cinco minutos, estávamos já vestidos com os equipamentos e as máscaras que se conectavam a um compartimento de ar preso em nossas costas. Foi a primeira vez que vira Caeda sem o manto que cobria todo o seu corpo, agora substituído por um traje todo preto e justo em sua silhueta franzina.

— Pronta? — Perguntou, mas não ficou na superfície por tempo suficiente para escutar minha resposta. Sem aviso prévio, Caeda jogou a âncora no mar e mergulhou de cabeça em direção ao canal largo e rochoso, capaz de afogar até o melhor dos nadadores.

Eu não conseguia evitar minha admiração por aquele pequeno e maldito cientista. Não sei se o que mais me apetecia era sua inteligência, coragem, ambição ou sede de poder, mas sabia que tinha algo em seu mundo que mal podia esperar para decifrar.

Acho que o invejava. Queria ser corajosa como ele, e talvez respeitada como ele.

Seguindo seus passos, mergulhei também, colidindo contra a água gelada como se passasse por um portal para um outro mundo.

O mundo debaixo d'água era previsivelmente gélido e escuro. Com o campo de visão limitado às áreas agraciadas pelos feixes de luz, demorou aproximadamente dez segundos para que já não conseguisse enxergar nem o resquício de Caeda. Não tinha medo do escuro ou do mar, mas meu corpo me urgia para fugir, e o silêncio me dizia que algo não estava certo.

Não sentia nenhuma movimentação na água. Nenhum sinal de peixes. Nenhum sinal de vida.

Gastei os primeiros minutos de oxigênio lutando inutilmente contra a corrente, sem ter em que confiar para me guiar além das instruções de Caeda. Noroeste, disse ele, mas em determinado momento nem eu mesma sabia onde se encontrava o Noroeste.

Apertei os olhos para tentar identificar algum traço do que podia vir a ser um ninho de sereias, até que uma silhueta surgiu à minha frente. Preparei a arma, o coração parecendo querer sair pelo pescoço; fugir, foi o que o cientista me havia aconselhado, mas não queria ir embora sem ele. Apesar disso, meu corpo estava paralisado de frio e medo.

Segundos depois, entretanto, consegui identificar o que a silhueta tinha em mãos.

Não era uma sereia.

Era um menino e uma ostra enorme.

Suspirei de alívio ao que seu rosto se tornava cada vez mais claro. O cientista apontou para cima, e me seguiu pela única trilha de luz em direção à grande sombra oval acima de nós.

Fui a primeira a chegar no barco. A ostra foi a próxima a me acompanhar, antes mesmo que Caeda emergisse.

— Ajude-me. — Pediu (ou ordenou?) Caeda, erguendo o objeto em minha direção. Assim que pus as mãos, percebi o quão pesada era quando fora d'água, forçando-se para baixo contra os meus braços e os do menino. Não ajudava o fato de estar molhada, e de meus dedos estarem anestesiados com a temperatura.

— Que merda...

— Rápido!

Não tinha escolha a não ser enganchá-la com minhas unhas e puxar, arriscando quebrá-las.  Quando finalmente consegui erguê-la para o barco, o impulso me fez cair para trás. Notei o rastro de sangue pelos meus dedos, mas só consegui rir com a adrenalina.

— Isso, porra!

Um ruído rouco saiu dos lábios de Caeda, acompanhando-me no que eu deduzi ser o máximo de risada que ele conseguiria dar.

— Você tinha razão. — Disse ele.

— Hum?

— Viessa seria muito melhor para esse trabalho.

— Vai se foder. — Não consegui deixar de sorrir.

Seu braço ossudo surgiu novamente da água escura, estendido para cima como um príncipe esperando pelo auxílio de seu súdito.

— Preciso de uma mão.

— Agora você quer minha ajuda? — Debrucei-me contra o parapeito, erguendo a mão em sua direção.

Antes que pudesse segurá-lo, no entanto, algo se movimentou na água, rápido demais para que eu tivesse o tempo de processar o que estava acontecendo. Nossos dedos, antes a centímetros de distância, se afastaram até que sua mão desaparecesse por completo na escuridão.

— Caeda?

Aproximei-me do mar para tentar identificar onde Caeda havia ido. O silêncio, quebrado apenas pelo som das ondas batendo contra as rochas, arrebatou meu corpo de choque e medo.

Tinha começado a anoitecer.

E Caeda tinha sido levado.

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