Mitsuo
Eu encarei Rafaela, estávamos em casa, era agora minha e, por obra mágica do destino, de minha colega também.
- Está animada Rafaela? - Perguntei.
- Para que? - Ela me encara.
- Para ver sua nova casa! - Respondo.
- Oh, sim. Espera... Eu vou... Morar contigo?!
- É... Tem algo errado? - Perguntei, tentando não parecer deselegante.
- Ah, não! Não! É que... Parece estranho, só isso. Sabe? Ficar sem te ver e de uma hora para outra... Termos motivos para ficar ao menos um dia inteiro juntos...
Não pude deixar de ficar vermelho com tal pensamento. Rafaela e eu, juntos, por mais de uma hora na mesma casa... Mesmo que a nossa amizade nunca tenha passado disso e nem chegou a tentar, me fez pensar que eu, pelo menos, podia fingir que fazíamos uma progressão com relação à proximidade.
Abri a porta de casa, Rafaela ficou com seus olhos brilhando, era uma mansão grande, a sala tem paredes brancas e nossa cortina é vermelho sangue, os móveis são feitos de madeira ou couro marrom.
Ela deu um suspiro de admiração. Sorri, me sinto alegre pela primeira vez ao voltar pra casa, com Rafaela, admirada, vendo-a.
- Vamos Rafaela, não é nada demais... - Falo dando risada.
- Oh, é sim! Eu nunca vi uma casa grande, e essa, puxa! Como você viveu aqui?
- ... O que quer dizer?
- Quero dizer... Se não for incômodo, como é que você viveu sozinho por tanto tempo?
- ... Eu não sei - Corei.
- Me desculpe - Ela bota suas mãos no peito.
- Não se preocupe... - Peguei as mãos dela.
Nos olhamos demoradamente, Rafaela e eu estávamos juntos, talvez seja a chance que o destino me deu para consertar tudo. Eu só não podia perder tão facilmente ela.
- Mitsuo... ?
- Sim, Rafaela? - Perguntei, com um sorriso simpático.
- Acho que... Eu vou pegar minhas malas.
- Oh, bem... - Eu a soltei automaticamente.
Nós nos separamos, fiquei preocupado, mas não tanto, com a maneira estranha que agi, senti que queria Rafaela, mas a parte que o meu cérebro queria esconder parecia agir nos momentos que não me previa.
•••••
Pedi para Rafaela trocar-se para irmos para uma pizzaria aqui perto, garanti para ela que os caras que trabalham lá são o que são.
- Tem certeza? - Ela pergunta com medo.
- Tenho. Não se preocupe - Dei um sorriso.
Ela confirmou com a cabeça. Foi para o quarto, de vez em quando eu pensava em como sou sortudo nestas horas. Eu tenho finalmente companhia.
- Estou pronta, e você? - Ela pergunta.
Quase caí para trás, Rafaela tinha colocado uma camiseta vermelha, que realçava seus cabelos e olhos castanhos, usava também uma calça jeans e tênis vermelhos.
- Eu estou quase, só falta o sapato.
Peguei um par de sapatos sociais e fui até a sala, a moça estava quieta, olhando pela janela, a luz do luar fazia a beleza dela parecer nítida.
- Tudo pronto? - Ela me encara.
- Sim. Vamos?
Qual não foi a surpresa da Rafaela que, ao chegar, havia um monte de segurança e criança por todo o lado.
- Você tem certeza que aqui é seguro?
Acenei.
- Você confia em mim?
- Um pouco - Rafaela retrucou.
- Já basta.
Entramos, um tipo de garçom chegou, entregou o cardápio e já estava pronto para anotar o pedido.
- Quer tentar pedir essa? - Apontei para uma.
- Não. Eu não gosto muito. Que tal esta?
- Certo. Só não põe alho. Eu não gosto.
- Hehe, que engraçado. Eu também! - Rafaela riu.
- Como?
- Eu também não curto muito alho.
Realmente, essa garota é incrível!
- Então, me conta, como foi que você chegou aqui, afinal? - Rafaela pergunta.
- Eu... Bem... Só estava tentando viajar e conhecer algumas cidades. Sabe? Mas acabei desistindo no meio do caminho...
Dei um sorriso.
- Oh, que explorador... - Ela riu também.
O garçom trouxe a pizza.
- Que cheiro bom! - Rafaela exclama.
- Não tão bom quanto o seu...
- O que?
Alto demais... Alto demais!
- Não tão bom.... Quanto ao perfume que vi numa loja aqui perto.
- Ah! Sim.
Por pouco.
- E você? - Perguntei.
- Acho que lhe expliquei. Foi meio de repente, eu já tinha completado a maior idade, por isso estou aqui.
- Ah! Entendi! - Exclamei.
Começamos a comer, enquanto escutamos:
- E agora, com vocês: “ A Moda ”.
Enquanto escutávamos, disfarçadamente olhava para Rafaela, ela sorria, parecia nunca ter ouvido essa música antes. Comecei a escutar a música:
A moda da moça!
Oh que decepção!
Ela é da roça.
Mas tem pouca opção.
Que botas ela calça?
Oh moda atrapalhada!
Que roupas ela alça?
Oh moda empalhada!
Rafaela riu. Vi quando ela tentou disfarçar que, ao menos uma vez, tentou cantar algo que não sabia de cor.
Por que toda moça é assim?
Eu queria saber...
Queria uma pra mim.
Só pra moda ver.
O que você quer?
Quero essa moça toda formosa.
Que veio da roça, com um tostão sequer...
Mas é muito amorosa.
Ah, que moça!
Ela é pura alegria!
Veio da roça.
Trazendo a harmonia.
Batemos palmas. Rafaela riu.
- Uhu! - Ela falou.
- Você foi ótima - Ri.
Rafaela ficou rubra. Dei um sorriso.
- Eu... Só estava cantando... - Ela responde, sem graça.
- Hehe, tudo bem. Mas você é muito boa.
- Obrigada... - Ela fica mais vermelha.
Rafaela
Mitsuo se levanta, indo pagar a conta, mas antes, ele pegou uma bebida para nós dois, as garotas se aproximam dele rapidamente.
- Olá, qual seu nome?
- Uh... Com licença... - Mitsuo tenta afastar as duas primeiras moças.
- Seu nome é “ Licença? ” - A moça riu.
- ... É. Não! - Mitsuo tentou chegar perto da mesa onde estava.
- Você está sozinho? - A garçonete perguntou.
- Não. Estou acompanhado.
As moças parecem ficar arrasadas assim que meu amigo chega na mesa. Sinto olhares raivosos para mim.
Por que isso acontece?
Mitsuo ficou quieto. Seus olhos indicavam perdão.
Mitsuo
Fiquei com medo de Rafaela não querer mais ficar aqui e aproveitar a noite, foi quando tive uma das minhas poucas ideias muito malucas.
- Rafaela, eu vou ao banheiro rapidinho.
- Ok.
Na verdade, eu fui até a caixa de energia. Escutei a gritaria quando desliguei a luz.
- Ahh!!!!!! Eu vou morrer! - Gritou uma moça.
- Vamos Rafaela? - Disse enquanto pegava-a pela mão.
Saímos.