Akai Ito - Tobiizu

Par LarryQuebrandoOTabu

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Uma história narrada pelo Destino. Não façam plágios, por favor! Iniciada em: 18/09/2021 Plus

O grande livro dourado
O dia mais esperado
Deusa menor
Parte de mim
Sala do piano
Maninho
Rainha
Dia de folga
Julgamentos
Parabéns, Hera

Na companhia de uma deusa primordial

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Par LarryQuebrandoOTabu

Oi oiii

Tudo bem com vocês? Faz um tempo já, né? kkkkkkkkkkk surto

Enfim, tô tentando desenrolar minhas fics em hiatus, então vai aqui um capítulo desse meu xodozinho *dedinhos tímidos se encontrando*

Espero que gostem, boa leitura!!!!


🩵


  Retiro o que disse.

Tobirama é um idiota. Ele não tem um mísero ponto comigo.

Francamente, não existe nenhum deus que tenha um bom caráter e seja no mínimo muito bem educado? Quer dizer, além de mim? Minha mãe estava certa em dizer que não é muito de o feitio de um deus ser paciente ou calmo. Provavelmente somos os seres mais explosivos e fáceis de se ofender do mundo, mas isso não quer dizer que não podemos ser cavalheiros e tratar os outros direito!

Óbvio que eu nunca interagi com ninguém para dizer isso. Minha mãe me teve e eu mal tinha idade para me virar sozinho e já estava nessa casa sem porta de saída ou janelas. Nix costumava me visitar nos primeiros anos, mas parou depois de um tempo. Ela dizia que era ocupada demais e eu não era mais uma criança, podia me virar sozinho. Dizia que me teve com um único propósito e esse não era ser uma mãe presente – ela não era nem com os filhos que moram pelo mundo inferior.

Não, o meu propósito era servir ao universo. Ele precisava de alguém para cuidar dos livros do tempo de cada alma que passasse por aqui. Alguém precisava assinar as obras. Só assim as portas da morte se abririam para aqueles que partiram e então eles poderiam finalmente serem julgados pelos três juízes de Tobirama e, por fim, receber a pena que mereciam.

Ok, pensando assim, parece que eu tenho ressentimentos de Nix e que eu odeio a minha vida. É claro que eu não tenho nenhum desses sentimentos comigo. Minha vida é cheia de mordomia e, francamente, existem seres que é até melhor não ter que conviver. Eu sempre lia que os humanos tinham um tio irritante ou que uma pessoa o tratava como lixo, inferior e menos do que ele merecia. E, bom, os deuses são assim também. É só ver Zeus! O que ele faz é tão... IRRITANTE! Eu com certeza não iria querer conviver com ele.

Não, muito melhor ser sozinho. Minha companhia era a melhor que eu poderia pedir.

Eu só... Gostaria de ver algo além dessas paredes. Bom, lá vamos nós de novo: eu sei que eu entro nos livros dos outros e enxergo exatamente tudo como era no dia que as coisas aconteceram. Eu já fui de Paris a Tokyo. Eu já viajei em todas águas, inclusive vi como era morar dentro dela. Conheci os pontos mais profundos da Terra e cada canto dos céus. Sei como foi a era que Urano governou. Sei como foi a de Cronos. Eu, provavelmente, era o ser vivo com mais conhecimento e experiência que existia..., mas nada disso era físico. Eu não estava lá de verdade. Eu não vivi nada na pele. Era deprimente por ser tudo muito... falso.

Porém, eu ainda assim acredito que se eu fosse viver entre os outros, eu seria, no mínimo, mil vezes melhor do que eles são. Talvez não a Izuna. É, com certeza não ela. Acho que ninguém conseguiria ser melhor do que ela. Era realmente impressionante o quão pura e de bom coração aquela garota conseguia ser. Então, eu provavelmente seria o segundo melhor exemplo para se seguir.

Essas pessoas e semideuses veneram Zeus, Hera, Poseidon... Até mesmo minha mãe. Não fazem ideia do quão ruins eles podem ser se quiserem. Zeus, bem, mesmo sem querer ele já é péssimo. Ele não tem um bom espírito e muito menos uma boa conduta. A mistura disso, bom, vocês já viram. O problema maior mesmo, é que ele era o que comandava os outros deuses e se achava superior por conta disso. E isso só fodia tudo ainda mais.

Se esse desgraçado fosse mesmo tão valentão e bonzão, ele não atacaria Izuna, que era apenas uma semideusa, muito inferior ao seu poder e força. Ou então não ameaçaria os outros Olimpianos, que também não conseguiriam contra ele. Se ele fosse mesmo todo poderoso como diz ser, teria enfrentado Cronos sem a ajuda dos irmãos. Se fosse realmente tudo o que espalha por aí, bateria de frente com forças consideradas superiores.

Se ele tentasse me olhar de uma maneira esnobe que ele é tão acostumado a olhar para todo mundo, eu simplesmente estralaria os dedos e faria do destino dele um Inferno. Ele não podia comigo. Na verdade, ele não podia com muitos. E me irritava que ele fingisse que isso não era verdade.

Tobirama não era muito diferente. Não sei se é por birra ou por trauma, e eu admito que nem me importo muito em descobrir também, mas ele vive querendo mostrar que é tão durão quanto seus irmãos que o expulsaram do Monte Olímpio. Que o menosprezaram. Que o fizeram sofrer como se ele fosse um nada. Ele agia de maneira fria e calculista. Ele nunca ajudou ninguém sem saber que iria receber algo em troca e fico realmente surpreso que tenha feito isso por Izuna.

Mas também, é exatamente por isso, que tenho um pé atrás. Parece que em algum momento ele vai cobrar a dívida e sei que Izuna também teme isso, mesmo que não pense a respeito ou demonstre para si mesma. É algo involuntário, porque é de Tobirama que estamos falando. Ele é um deus que não se importa com os outros. Nunca se importou. E temo que nem mesmo sua alma gêmea faça isso mudar.

Izuna é bobinha. Dá para ver isso desde o primeiro momento que ela apareceu nessa confusão toda. Ela não se tocou que o pai estava morrendo. Ela já tinha oito anos, qualquer um nessa idade sabe que perder uma quantidade absurda de sangue não é um bom sinal. O cara estava tão transparente e fraco que era impossível não perceber. E então ele para de respirar e se mexer, e ela mesmo assim não se toca?

Como se isso já não bastasse, ela simplesmente confiou em Naruto sem mais nem menos. Tudo bem, tudo bem. Ele era um ano mais novo que ela e estava dizendo que iria ajudar. Izuna estava assustada e as Fúrias continuavam perseguindo-a, querendo matar a mesma. Qualquer criança preferiria correr o risco, mas diante todas as circunstâncias que ela já tinha passado e estava passando, ela simplesmente deu a mão e deixou o garoto desconhecido a levar para onde ele bem quisesse?

Ótimo! Tobirama a salvou e a transformou em uma deusa menor, mas ela realmente foi inteligente em pedir para ir com ele para o mundo inferior? Tobirama é um dos três grandes! A força dele, mesmo falhando, é muito mais potente que a dela no dia que ela mais se sentiu poderosa. Ela não pode contra ele. E se ele quiser fazer a mesma coisa que Zeus fez? O que o impediria? Seus servos? Eles morriam de medo dele e eles já estavam mortos!

Não, com certeza Izuna não era muito esperta. Inteligente sim, uma excelente pessoa sem dúvida alguma e com uma coragem insana. Mas era tola. Muito tola. Confiava demais. Se doava demais. Para ela, não importa se é um monstro na sua frente, ela simplesmente vai querer fazer carinho. E isso é tão preocupante.

Não me admira que ela tenha morrido.

Esse último pensamento me fez franzir o cenho. O que será que tinha matado ela? Ainda tinha tantas páginas para serem lidas. Não foi algo de um dia para o outro. Algo me diz que levou muito tempo para as coisas saírem dos trilhos – mais do que já tinha saído, no caso.

Será que foi Zeus? Será que ele descobriu que ela ainda estava viva? Será que ele matou Tobirama também e por isso que o livro é sobre os dois? Se eu bem poderia dizer algo, com certeza seria que aquilo era uma alternativa validada.

Bom, só tinha um jeito de descobrir.

💀📖 💓

Izuna quase sumia em meio a tantos travesseiros e cobertores. Seus cabelos longos e lisos estavam esparramados de forma graciosa e ela dormia serena de lado, com as duas mãos juntas embaixo do rosto delicado e perfeito.

Não existia luz no ambiente, mas Tobirama enxergava muito bem no escuro. Ele estava parado na porta, a encarando dormir enquanto o resto do palácio inteiro fazia o mesmo, deixando o mais incrível e completo silêncio, interrompido uma vez ou outra por um grito de desespero do Tártaro, que chegava até eles de forma abafada. Um copo de vinho estava em uma das suas mãos, que esporadicamente subia até seus lábios, ingerindo o líquido aos poucos. Ele não conseguia ficar bêbado com aquela porcentagem de álcool, mas desejava ficar.

Ele devia estar descansando, afinal, o dia havia sido bem desgastante para ele – começando por ter que ficar ele inteiro com a família que odiava e terminando por ceder parte de seu poder –, mas não resistiu à tentação de ir vê-la. Não sabia o motivo para ter expulsado os guardas que faziam ronda na frente do quarto dela, muito menos ter ficado ali por mais de horas, mas estava gostando de absorver o doce cheiro das flores e admirar seu peito subindo e descendo, como se mostrasse que ela estava bem viva.

Por sua causa.

Aquilo ainda não fazia sentido em sua cabeça e talvez nunca fosse fazer. Por que Inferno havia salvado aquela garota? O que ela tinha de tão especial para ter chamado sua atenção? Certamente ela era muito linda, mas seria só isso? Ele não conseguia achar a resposta.

Quando discutiram no corredor, Tobirama teve vontade de bater com a própria cabeça na parede assim que ela saiu apressada de perto dele. Havia deixado de comer e demonstrado um tiquinho de carinho apenas para fazê-la parar de chorar, mas então foi somente trocarem poucas frases e ele havia piorado tudo. Era sempre assim. Ele não servia para essas coisas, nem sabia o porquê de estar tentando.

Izuna se remexeu na cama com rapidez, seu corpo dando um solavanco no colchão, fazendo com que Tobirama piscasse os olhos e voltasse a enxergar ela e somente ela. Poderia ter sido apenas um sobressalto, um reflexo normal de seus nervos, mas a deusa voltou a se mexer, dessa vez gemendo baixinho em puro desespero.

Era um pesadelo.

Não tinha o que ele pudesse fazer por ela, ele não era o deus do sono como Hipnos era. Ele sim poderia fazê-la se acalmar e deixá-la num sonho tão bom que ela teria a melhor noite de sono de sua vida. Mas o que um deus dos mortos poderia fazer? Ele geralmente era o motivo dos pesadelos.

Suspirando, se aproximou devagar e silenciosamente. Deixou o copo com o vinho em cima da mesa ali por perto e encarou o belo rosto de Izuna, que estava transfigurado em uma careta de sofrimento. Oh, Tobirama sabia bem o que era um verdadeiro sofrimento.

— Não... Por favor, não... Eu não quero. – Ela sussurrou, se encolhendo mais na cama, se protegendo com as mãos.

Tobirama assentiu com a cabeça, como quem compreendia. Não precisava ler os pensamentos dela para saber o que a afligia. Ela estava sonhando com Zeus e suas atrocidades. Era previsível.

Não soube dizer quando, porquê ou como, mas sua mão encostou na dela. Como se tivesse sido puxada. O toque gelado de seus dedos por conta do líquido que tomava antes, fez Izuna ficar tensa, mas continuou dormindo. Tobirama se aproximou um pouco mais, escorregando sua pele na dela, apreciando a maciez da mesma. A deusa suspirou leve e o seu cenho se desfranziu. Ela esticou a mão e envolveu os dedos do deus, os entrelaçando com possessão e necessidade.

O braço de Tobirama se arrepiou pelo contato. Não eram todos que entrelaçavam seus dedos aos dele. Na verdade, não se lembrava de uma só pessoa que já tivesse feito isso antes. Muito menos com tanta vontade como ela.

Ele gostou do toque.

Se sentando com cuidado para não mexer muito o colchão, permaneceu do lado dela, com seus dedos unidos. Izuna aparentemente havia escapado dos sonhos ruins e suspirou leve mais uma vez, puxando as suas mãos para de baixo de seu rosto para a mesma posição que ela dormia anteriormente.

O toque do rosto dela era ainda mais macio e quente. Izuna praticamente abraçava sua mão, dormindo como um anjo. Tobirama encostou suas costas na cabeceira estofada da cama e respirou profundamente, movendo o polegar tão levemente que a deusa mal notou o carinho em sua bochecha.

E assim, ele permaneceu velando o sono dela pelo resto da noite.

Izuna só abriu os olhos quando percebeu que não conseguiria mesmo voltar a dormir após ficar muitos minutos tentando. Se espreguiçou naquela cama macia e confortável, se sentando devagar. Seu cabelo comprido e liso caiu sobre seus ombros e ela suspirou, encarando em volta ainda meio tonta de sono, demorando a reconhecer aonde estava.

Oh... Aquilo tudo tinha mesmo acontecido.

O que ela deveria fazer agora? Não estava numa espécie de férias naquele lugar – quem em sã consciência passaria férias ali? – e também não sabia o que era permitido a ela fazer ali ou não. Deveria ficar no quarto? Isso seria má educação? Que horas deveriam ser?

Suspirou, se apoiando nas mãos quando se jogou para trás. Sua mão esquerda doeu ao ser pressionada contra algo duro e ela franziu o cenho, se sentando direito de novo para erguer as inúmeras cobertas e ver o que era aquilo.

Um anel de ferro estigio com rubis pretos entalhados, era o causador do seu desconforto. Ela o girou devagar na palma da mão, analisando todos os detalhes. Parecia ter algo desenhado nele, mas os símbolos nunca tinham sido vistos por ela antes. Pareciam antigos. Muito antigos mesmo. Ele era grande e pesado, mas mesmo assim ela colocou em seu dedo do meio fino e delicado, gostando de como tinha ficado em sua mão.

De quem deveria ser? Será que do antigo dono do quarto?

— Lady Izuna? Posso aparecer? – A voz de Jody veio de lugar nenhum e a deusa riu baixinho dela. A fantasma era adorável, ela tinha gostado muito dela.

— Pode, Jody. – E então a fantasma apareceu no pé de sua cama. — Bom dia.

— Boa tarde, na verdade. – Ela riu e Izuna arregalou os olhos, chocada. Nunca tinha dormido tanto assim. Quase se levantou depressa com medo que Janus viesse brigar com ela por não ter feito seus afazeres ainda, mas então se lembrou que ele, assim como todo mundo que conhecia, devia achar que ela estava morta. — Lord Tobirama pediu que eu a ajudasse a se arrumar para o almoço. Ele me pediu para não a acordar para o café da manhã, mas quer a sua companhia agora.

— Ah... Certo. – Ela puxou as cobertas para o lado e se colocou de pé. — Sabe se ele ficou irritado? Sabe... Por eu não ter ido comer junto dele? Não quero desagradá-lo.

Porque provavelmente vou virar um fantasma também se isso acontecer. – Pensou no mesmo segundo.

— Hmm... – Jody murmurou enquanto abria o closet, já cheio de roupas, e passava a escolher uma para a deusa. — Lord Tobirama não parecia irritado, mas não estava de bom humor também. Porém ele nunca está de bom humor. – Deixou as peças de roupas separaras enquanto ia em busca dos sapatos. — Comeu depressa e foi resolver os problemas do sub mundo, então talvez seja por isso que ele não insistiu em ver a senhorita antes.

— Ou ele já se cansou de mim e pediu para você vir me chamar para ele mesmo me expulsar daqui. – Resmungou, rodeando o anel de ferro antigo em seu dedo.

Jody riu de uma forma verdadeiramente divertida e sincera.

— Duvido muito que esse seja o caso, senhorita. – Ela se virou para Izuna, trazendo os pertences que colocaria nela. — Senhor Tobirama é muito solitário aqui. Os outros deuses tem suas obrigações também e mal param por muito tempo no palácio. Mesmo a Deusa Nix não fica aqui tanto assim. E... Ele parece gostar da companhia da senhorita.

Isso fez as bochechas de Izuna corarem, ainda mais quando se recordou de um dos deuses do jantar da noite passada perguntando se ela seria a sua rainha. Se Tobirama era tão solitário, provavelmente era compreensível que eles perguntassem isso, já que ele nunca trazia outras deusas ali. Mesmo assim, esse pensamento de ser esposa de Tobirama a deixou extremamente envergonhada e com um frio na barriga.

Jody riu de novo, trazendo-a para a realidade novamente.

— Posso vestir a senhorita? – Ela questionou com um sorrisinho travesso e Izuna concordou, a ajudando no processo de trocar de roupas.

O vestido era mais suave do que o anterior. Invés das cores escuras, ele tinha uma tonalidade de verde bem clarinho. Batia na metade das coxas dela e as alças caiam graciosamente em seus ombros. Ele tinha uma cintura bem acentuada, com um "v" bordado com fitas de ouro. Era liso, mas quase na barra dele existia pequenas flores brancas. Ao tocá-las, Izuna sabia que eram as pétalas que ela chorou na noite anterior.

— Eu mesmo que o fiz. – Ela comentou enquanto prendia um colar de rubis negros no pescoço da deusa. — Percebi que essas pétalas não murcham, então aproveitei.

— É muito bonito, você tem talento. – Ela elogiou enquanto calçava as sapatilhas pretas muito simples comparadas a todo o resto que usava.

— Obrigada, Lady Izuna. – Jody sorriu de orelha a orelha, se curvando levemente para frente, totalmente orgulhosa pelo elogio recebido. — A senhorita vai querer que eu prenda seu cabelo hoje?

— Em um coque, talvez. – Disse, parando em frente ao espelho da penteadeira, se sentando na cadeira.

Jody assentiu e começou a enrolar as mechas da mais nova. Ela o prendeu bem a cima da cabeça, deixando alguns fios soltos em frente ao seu rosto. Insistiu para passar maquiagem na deusa, mas Izuna pediu que não exagerasse muito, terminando com uma sombra leve, delineador, um pouco de blush e um batom rosa clarinho.

A serva passou um perfume extremamente gostoso em seu pescoço e a ajudou a se levantar, avaliando a boa obra que havia feito. Izuna era muito bonita, agora entendia porque Tobirama a olhava tanto quando a mesma não estava prestando atenção.

— Vai querer colocar anéis ou ficará só com esse? – Pediu, puxando a mão da deusa que estava com o anel pesado.

Ela sorriu sem que a mais nova visse. Todos sabiam bem de quem era aquele anel. Afinal, tinha uma história por trás dele.

— Ahn... Acho que ficarei só com esse mesmo. – Deu de ombros e Jody sorriu um pouco mais aberto ao olhar para ela.

— Certo. Queira me seguir, Lady Izuna. – Pediu, começando a guiá-la pelo palácio.

Quando pararam em frente às portas duplas do salão de refeição, o estômago de Izuna esfriou. A deusa ficou com receio que Tobirama fosse severo com ela graças ao seu show do dia anterior. Afinal, existia tantas histórias que o temido e poderoso deus dos mortos havia feito coisas horríveis com pessoas que fizeram tão menos do que ela...

Assim que Jody desapareceu e os guardas abriram as portas para ela, se curvando respeitosamente, ela se viu obrigada a entrar. Deu um passo atrás do outro e abaixou a cabeça antes de seu olhar poder cruzar com o do deus. A mesa não estava lotada, dessa vez só tinha Tobirama ali e aquilo não ajudava em nada.

— Sente-se, Izuna. – Ele pediu com a voz baixa e controlada. Izuna assentiu, dando a volta na mesa para se sentar na outra ponta. — Não há necessidade de sentar aí. Sente-se ao meu lado.

Izuna comprimiu os lábios, mas voltou os passos, puxando a cadeira a direita do deus, se sentando nela. Automaticamente, vários servos vieram ao seu encontro, enfiando as louças e as comidas em sua frente.

Os dois ficaram em um silêncio desconfortável, apenas almoçando. Tobirama estava sem seu elmo e parecia rígido em sua cadeira, suas expressões fechadas enquanto seus olhos avermelhados encaravam a parede em sua frente. Ele nem parecia estar realmente ali. Seus pensamentos o levavam para outro mundo.

A deusa suspirou. Se todos os dias passassem a ser daquele jeito, iria ser um verdadeiro Inferno morar no... Bem, no Inferno.

Ela soltou os talheres por um momento, colocando as mechas soltas atrás das orelhas. Sentia tanta falta de seus amigos, era tão divertido fazer as refeições na mesa do seu chalé, com todos aqueles seus irmãos agitados e engraçados... Quanto tempo ela teria que ficar ali até se acostumar com a sua nova forma e Zeus se esquecer de tudo e a deixar em paz? Isso algum dia iria acontecer de fato? Ela rezava para que sim.

— Esse anel... – Tobirama falou de repente e Izuna olhou para a sua mão antes de finalmente olhar para ele. — Aonde achou?

O polegar dele automaticamente roçou em seu dedo do meio discretamente, sentindo a falta do acessório. Ele não havia achado naquela manhã, mas não sabia aonde teria ido parar, afinal, ele nunca o tirava. Talvez devesse ter escapado quando ele retirou devagar a própria mão do meio das da deusa quando amanheceu e ele preferiu sair de fininho do que deixá-la acordar e ver que ele passou a noite com ela, cuidando de seu sonho.

— Ahn... Estava na cama, aonde dormi, quando acordei. – Ela olhou para o anel bonito, porém sombrio. — É do senhor? – Afinal, as características deles batiam muito.

— Por que um anel meu estaria na sua cama? – Ele devolveu ríspido quase no mesmo segundo e os ombros dela encolheram.

— Tem razão. Me desculpe, Lord Tobirama. – Sussurrou, voltando a comer em silêncio.

Tobirama suspirou, se encostando no trono enquanto passava uma das mãos pelo rosto. Por que tudo o que ele falava saia de forma fria e rígida? E o mais importante, por que merda ele estava se importando com isso de repente?

— Nix passará a tarde com você hoje. – Ele voltou a falar, resmungando enquanto pegava os talheres de ouro mais uma vez. — Ela te levará para dar uma volta.

Izuna sorriu fraco, assentindo. Não conhecia a deusa, mas ela parecia ser uma boa companhia. Claro, boa no máximo que um deus gerado do Caos e sendo proprietário da própria noite profunda poderia ser. Mas ainda assim, ficou satisfeita de passar a tarde com ela.

— Tudo bem. – Respondeu, ainda baixo.

Tobirama não gostou daquilo, gostava de ouvir a voz dela.

— Fale mais alto quando se dirigir a mim. – Ordenou ríspido mais uma vez e a deusa engoliu em seco enquanto assentia diversas vezes.

— Como o senhor quiser, Lord Tobirama. – Seu tom soou moderado e Tobirama a olhou seriamente.

— Tenho coisas para fazer, nos vemos a noite. – E então se levantou, saindo da sala sem mais nem menos.

Izuna soltou todo o ar que prendia nos pulmões, relaxando contra a cadeira. Ela fechou os olhos, colocando uma das mãos no peito. Estava nervosa, muito nervosa. Mas a questão era: ela estava nervosa daquela forma por estar na presença do deus dos mortos ou por que ele era intensamente intenso quando ficava sério?

— Mas já está encantadinha por ele? – Izuna sobressaltou de susto, quase caindo da cadeira ao abrir os olhos e ver a deusa Nix sentada na mesa com as pernas cruzadas, olhando para ela divertida. — Essa foi rápida.

— Deuses! – Izuna ofegou, os olhos escuros arregalados. Não tinha visto a mais velha aparecendo ali.

— Presente. – Ela ergueu a mão pálida, sorrindo de lado. — Mas quero dizer: ok, eu sei que Tobirama é tipo, uau! E que ele te salvou e te transformou em uma deusa, mas já?

— Não sei do que a senhora está falando, Lady Nix. – Izuna sabia bem do que ela falava e suas bochechas rosadas denunciaram isso, mas a deusa mais velha resolveu apenas rir e pular para o chão.

— Certo. Fiquei responsável de fazer você se distrair hoje. Tobirama meio que fez uma escala para você passar um dia com cada deus e se sentir mais acolhida aqui e todo aquele blá, blá, blá que eu parei de prestar atenção no mesmo segundo em que ele começou a falar. – Ela disse sincera, começando a andar em direção às portas e Izuna apenas riu baixinho, se levantando para segui-la. — Pensei em darmos uma volta pelos campos das almas e depois, quem sabe, assistir alguns julgamentos. Vai depender do meu humor.

— E eu posso fazer isso? – Izuna questionou preocupada. — Não quero que Lord Tobirama se zangue comigo. – Ainda mais, no caso.

— Minha querida, eu posso fazer o que eu quiser e você está comigo, isso diz que você também pode. Mas se quiser, podemos dar um pulinho no meu castelo dos horrores e ficarmos lá a tarde toda.

— Não, obrigada. Os campos das almas e os julgamentos estão bons para mim. – Izuna rapidamente negou, sabendo bem das histórias horripilantes dos monstros que Nix dava luz naquele lugar.

A deusa primordial riu.

— Foi o que eu imaginei.

Quando elas saíram pelas portas da frente, todos os soldados que existiam ali se curvaram ao mesmo tempo para elas. Nix os ignorou, mas Izuna sorriu agradecida pelo gesto, acenando de volta antes de continuar seu caminho junto da mais velha.

O ar estava mais seco naquele dia. O céu – se é que poderiam chamar aquilo de céu – era num tom de vermelho denso e muitos aglomerados de fumaça se espalhavam ali. O chão de grama morta com diversas flores murchas cheias de espinho faziam barulho quando elas pisavam em cima, mas Nix parecia não se importar com nada daquilo.

Ela segurou na mão de Izuna e antes que a deusa mais nova pudesse pedir o que aquilo significava ou se afastar do toque frio, as duas sumiram em uma explosão escura, reaparecendo instantes depois em um campo vasto e lotado.

Izuna apertou a barriga, sentindo vontade de vomitar mais uma vez, porém ela aguentou firme e não colocou nada para fora. Nix sorria divertida para a sua reação e esticou os braços, mostrando todo aquele pessoal que zanzavam desanimados com expressões perdidas em seus rostos tão murchos quanto os jardins do palácio.

— Bem-vinda aos campos Asfódelos, o limbo.

Izuna encarou em volta aos poucos e um tanto confusa, sentindo o enjoo ficar pior. Ali tudo era cinza, do ar – que parecia ser visível – aos rios. Ninguém parecia reconhecer ninguém, mas ainda assim pareciam passar a eternidade procurando por alguém. Suas expressões eram tão deprimentes que Izuna sentiu seus olhos marejarem de leve. Não tinha bancos ou lugares para se sentar, e os mortos não pareciam perceber que já estavam há anos lá, pois não sentiam cansaço. Eles não sentiam coisa alguma. Apenas... Vagavam sem uma direção ou propósito.

— É tão... Triste. – Ela sussurrou, levando a mão até o anel em seu dedo que pareceu ainda mais pesado naquele lugar.

— O que esperava do sub mundo, querida? – Nix não estava sendo debochada, parecia mais genuinamente curiosa mesmo.

Afinal, o que uma deusa como Izuna queria naquele lugar? Ali não era o mundo dos sonhos para ela, estava bem visível, e não importava quantos planos Tobirama fizesse para ela se sentir acolhida ali, o Inferno não era a casa dela. Izuna não era como Tobirama, Nix ou qualquer outro deus dali, ela não ficava mais forte morando no sub mundo, parecia ser bem pelo o contrário. Então por quê? Não devia ser só por Zeus, não fazia sentido. Parecia que Izuna estava tão perdida quanto aquelas almas no Limbo, procurando alguém sem saber que já havia encontrado.

— Não imaginava um mar de rosas, eu só... – Ela engoliu o nó na garganta, se agachando para passar a mão pelo rio parado e escuro. — Não sou acostumada a não ver vida nas coisas. – Recuou o toque, se sentindo ainda mais perdida por ter tocado na água.

— Não vou te mostrar o Tártaro então. – A mais velha pareceu cogitar por um tempo e por fim decidiu, se agachando para segurar a mão seca da outra. — Vamos para os Elísios. Vai te fazer bem.

Izuna abriu um sorriso pequeno para a deusa da noite e Nix sorriu de volta, encantada com a garota. Era assim mesmo, nem uma mulher realmente muito antiga e poderosa resistia ao encanto de um filho de Afrodite. Todas as proles da deusa do amor continham um dom absurdo de fazer todos se encantarem por elas, suas vozes enfeitiçavam, eram como sereias... Tão poderosas e perigosas quanto.

Nix precisou de um tempinho para recuperar a lucidez, sacudindo a cabeça como se precisasse se livrar da sensação de paz que Izuna lhe dava ou acabaria perdendo o posto da mulher mais gótica, trevosa e fria que existia no mundo. Se concentrou ao fechar rapidamente os olhos e as duas desapareceram, reaparecendo no outro campo que, realmente, fez a mais nova se sentir revigorada.

Naquele campo, a grama era tão verde e o céu tão azul, que doeu os olhos de Nix, a fazendo tampá-los como um vampiro fugia de luz. O campo do paraíso grego era dividido por várias paredes, como se fossem vários quartos gigantes, e em cada quarto, tinha o paraíso particular de cada alma bondosa e merecedora de estar ali.

Os olhos pretos e maravilhados da deusa menor brilharam enquanto ela escutava risos altos e diversos outros sons bons. Alguém dava à luz a um bebê e até o choro do pequeno serzinho parecia encantador naquele lugar. Ela respirou fundo, seu peito cheio de sentimentos bons e, as lágrimas antes juntadas em seus olhos, escorreram, formando pétalas com cores peroladas, que caíram aos seus pés de forma graciosa. Ela sentia a mais tranquila e prazerosa paz.

Nix a olhou, erguendo uma das sobrancelhas enquanto sorria de lado. Era tão exótico que se tornava engraçado. Izuna era de uma beleza surreal e parecia tão inocente e encantadora que fazia bem ficar ao lado dela mesmo sendo o monstro mais horrível e maldoso que poderia ser.

Ela decididamente estava contente que Tobirama tivesse arranjado alguém como a mais nova para lhe fazer companhia. O deus era muito solitário e amargo, e doía no coração de pseudo mãe dela, que seu filho fosse dessa forma. Ela odiava os outros Olimpianos e queria assistir a vida deles cair em ruínas, mas não a de Tobirama. Porque só eles sabiam o quanto cada um tinha sofrido por serem gerados para serem maus.

Enquanto Zeus havia sido gerado para ser a luz e escolhido ser ruim, os dois não tiveram essa mesma opção e eram melhores do que ele. Mas claro, quem contava as histórias obviamente camuflavam esses fatos. Afinal, o lobo era mesmo mau ou a Chapeuzinho Vermelho que era a vilã da história? Um deles morreu e o outro contou a história exatamente como queria. E todos compravam como verdade.

— Aqui é maravilhoso, Lady Nix! – Izuna sorriu encantada e a deusa mais velha riu.

— Pode me chamar apenas de Nix, Izuna. – Disse, abanando a mão como se não fosse nada de mais. — Vamos bisbilhotar algum paraíso aí. – Sorriu sapeca antes de caminhar em direção a um dos quartos, já abrindo a porta e entrando. Izuna não perdeu tempo antes de segui-la.

Seja quem fosse aquela alma, tinha uma péssima ideia de paraíso, porque as duas quase morreram do coração quando um enorme gigante de cem braços quase as esmagou logo de cara. Obviamente que Hecatônquiros não as via ou as sentia ali, mas o susto foi bem real. Tão real que elas simplesmente saíram correndo, fechando a porta depressa como se dependessem disso para viver.

— Mas que porra!? – Nix olhou totalmente confusa e incrédula para Izuna, que, ainda respirando bastante rápido, começou a rir, sem acreditar que tinham mesmo feito aquilo, ficava ainda mais engraçado quando lembrava que Nix era uma deusa primordial e que dava luz a monstros bem piores do que aquele.

— Isso foi tão insano! – Ela disse divertida, passando as duas mãos pelo rosto. — Podemos ver mais quartos?

— Você é maluca, Izuna. – Nix murmurou, mas acabou sorrindo de lado para a mais nova. — Gostei disso, vamos. – Ela indicou com a cabeça para a porta ao lado e Izuna sorriu radiante antes de a seguir.

Não dava para saber quanto tempo elas passaram fazendo aquilo. Eram realmente muitos quartos e em cada um, elas tinham uma surpresa diferente. Viram muitas mulheres nuas, viram momentos de glória, viram pessoas se declarando uma para a outra e até mesmo viram uma festa surpresa feita para um camaleão de estimação.

Tinha sido incrível, Izuna jamais imaginou que um dia passaria por isso. Na verdade, mal imaginava que aquele lugar podia ser mesmo tão incrível. Quando morresse, rezava para poder parar ali e que Nix fosse visitá-la.

— Precisamos ir. – A mais velha disse, fechando a porta do quarto que elas saiam, escutado os gritos de comemoração após terminarem de cantar parabéns para o Nicolaus, o camaleão. — Não podíamos ficar muito aqui, não estamos mortas ainda e regras são regras.

— Tudo bem. – Ela riu das palavras da mais velha e Nix a segurou pela mão de novo.

Elas desaparecerem mais uma vez e dessa vez quando aparecerem, Izuna não se sentiu tão nauseada. Talvez estivesse se acostumando ou o sentimento bom em seu peito, graças ao Elísios, ainda estava bem presente. Ela olhou em volta, as colunas enormes eram de um tom marrom escuro e o teto era cheio de estalagmites. Uma fila de pessoas entediadas e irritadas se alastrava até aonde as deusas não conseguiam ver e parecia que nunca pararia de chegar mais pessoas. Mais à frente tinha um enorme e tenebroso trono bem no alto e, logo embaixo, mais três que não eram nem de longe tão poderosos quanto. Todos eles estavam sendo ocupados.

— Por favor, Lord Tobirama! Eu imploro! – A alma condenada estava ajoelhada no chão e suplicava em meio a um choro desesperado que Tobirama ignorava, ordenando que os guardas viessem levá-lo para o Tártaro. — Não! Não! Não! – Ele começou a espernear, se sacudindo nos braços em carne viva dos soldados. — Isso não vai ficar assim! Eu vou me vingar!

— Não aguento mais isso. – Tobirama murmurou, enfiando uma das mãos no rosto. — Hoje está pior do que sempre.

— Deseja parar, Lord? – Um, dos outros três juízes, perguntou ao seu soberano, mantendo o tom de voz calmo, baixo e elegante.

Tobirama encarou a enorme fila e suspirou derrotado. Não tinha como parar. Os mortos não paravam de chegar e os três juízes haviam sido bem claros que precisavam de sua presença para julgar aquelas 400 primeiras almas enfileiradas, afinal, eram as mais insanas e traiçoeiras. Precisavam de seu poder de ler os pensamentos. Era a droga do seu fardo eterno. E já havia enfrentado 235 almas, mais do que a metade.

— Não. – Ele se endireitou no trono, a expressão ainda mais fechada quando falou em alto e bom som. — Próximo! – Sua voz ecoou pelo salão, que tremeu e fez os pelos nos braços de Izuna eriçarem.

— Uau... Isso é...

— Excitante? – Nix tentou completar, sorrindo largamente enquanto assistia o próximo julgamento. — Sempre adorei ver Tobirama naquele trono. Ele não fica terrivelmente poderoso?

Oh, sim. Ele com certeza ficava terrivelmente poderoso naquele lugar. Izuna se remexeu desconfortável. Ela não tinha sido gerada para apreciar esses tipos de atos. Ela nasceu da deusa do amor, francamente! Aquilo era demais para ela.

— Eu preciso sair daqui. – Ela sussurrou e se virou, saindo aos tropeços para longe dali, fazendo os olhos de Nix e Tobirama – que havia acabado de notar as duas ali – seguirem ela automaticamente.

Nix franziu o cenho, sem entender. Ela olhou para o rei do mundo inferior e o encontrou com uma expressão semelhante, somada a dúvida do porquê merda as duas estavam ali. Ficou tentado em seguir Izuna e descobrir sozinho, mas se contentou em apenas mandar Nix ir atrás da mesma com um aceno de cabeça.

A deusa primordial assentiu uma única vez e seguiu a passos rápidos por onde Izuna havia passado. O clima do lado de fora estava ainda pior. Parecia que quanto mais tempo passava lá, mais o lugar parecia tirar sua vontade de viver. E era exatamente isso o que acontecia.

Nix cruzou os braços quando encontrou Izuna mais adiante, de costas para ela. A deusa mais jovem segurava os cabelos com força e as costas estavam tensionadas. Ela parecia transtornada e murmurava uma canção na tentativa de se acalmar. Querendo escutar melhor, a mais velha se aproximou.

Oh, quieta minha mente, tem sido dias difíceis. E os terrores não atacam as vítimas inocentes. Confie em mim, querida... Confie em mim, querida... Tem sido um período sem amor. E eu sou uma garota com três medos diferentes. Integridade, fé e lágrimas de crocodilo. – Ela respirou fundo, soltando os cabelos e relaxando os ombros aos poucos. — Confie em mim, querida... Confie em mim, querida...

— É uma linda voz a que você tem. – Nix comentou, assustando Izuna que se virou depressa para ela. — Ela é bem poderosa também. – Olhou em volta, percebendo que o pessoal na fila já não parecia mais tão irritado ou impaciente apesar de não saberem o porquê de estarem assim, já que eles não as viam. Pareciam entorpecidos, como se a voz de Izuna tivesse entrado em suas mentes e ordenado a ficarem calmos, porque podiam confinar nela, vítimas inocentes não eram atacadas por terrores.

— Eu... Costumava cantar e dançar para acalmar os meus amigos. – Ela informou baixinho, as bochechas extremamente vermelhas pela vergonha.

— Me mostre como fazia então.

— O quê? – O espanto da mais nova fez a deusa primordial rir.

— É, me mostre. Quero ver se é tão boa assim mesmo. – Esticou os braços, como em um pedido para ela ir adiante.

Izuna esfregou uma mão no braço oposto, se sentindo tão constrangida que mal conseguia olhar no rosto da outra. Ela olhou em volta, notando que não tinha mais ninguém ali que pudesse a julgar e talvez não seria tão mal assim fazer aquilo, com certeza a calmaria mais.

Ela se soltou mais, fechando os olhos enquanto respirava fundo. A canção voltou a ser cantada por ela, que improvisava as palavras de acordo com o que começava a sentir, e os movimentos simplesmente começaram a fluir.

A filha de Afrodite tinha muita delicadeza e graça para dançar. Quando pequena, insistiu para seu pai achar alguém para a ensinar a dançar balé. Hoje, ela não fazia mais essas aulas, mas ela nunca deixou de dançar daquela forma, não perdendo a elasticidade e muito menos a prática.

Nix sorriu, satisfeita. Izuna ainda permanecia de olhos fechados, então não pode ver como o lugar em sua volta começou a mudar. A deusa primordial ergueu a cabeça quando as nuvens de fumaça ficaram ainda mais densas, deixando o lugar ainda mais escuro. E, com muita surpresa, viu quando a grama começou a ficar mais verde conforme a mais nova passava por cima dela, movendo os pés e rolando no chão com sutileza. As flores em volta começaram a florescer, ganhando uma cor forte de vivacidade. As árvores, que antes não passavam de galhos secos fincados em um tronco oco, geraram os frutos mais lindos que a deusa mais velha já tinha visto, tanto que até deu água na boca.

Izuna continuou, agitando o ritmo da música. As suas palavras agora eram mais felizes e isso fez o céu explodir, começando a cair uma chuva gelada que encharcou as duas no mesmo instante.

— Ah! Pelos deuses! – Izuna saltou assustada, olhando para cima com o cenho completamente franzido depois. — Está chovendo? – Ela olhou confusa para Nix, que sorria desacreditada. — Está mesmo chovendo? Não é, tipo, incapaz de chover no mundo inferior?

— Não, só não é tão comum. – Ela respondeu em uma risada divertida, voltando a olhar para Izuna que semicerrava levemente os olhos, tentando a enxergar já que a água caia com força. Seus cabelos e roupas colavam em seu corpo e ela parecia ainda mais bonita daquela forma. — Acho que você mexeu com os sentimentos do lugar.

— Isso é ruim? – Ela olhou nervosa em volta, se surpreendendo com o quão mudado estava ao seu redor. — Como tudo isso aconteceu?

— Foi você. – A mais velha a olhava com extremo fascino e curiosidade. Quem era Izuna Uchiha no final das contas? — Fez gerar vida aqui.

— Oh! Isso não era impossível?

Com certeza. – Nix abriu os braços, apreciando as gotas geladas lhe banhando de forma fria e dura. — Continue, Izuna. Continue dançando e cantando. – Pediu e a mais nova não soube porquê falaria não, tirando as sapatilhas dos pés para poder ter mais liberdade.

Com um sorriso feliz e satisfeito, ela voltou a cantar, se movendo logo depois. O campo com vida se espalhou mais um pouco, rodeando todo o lugar aonde as almas eram condenadas pela eternidade. A chuva passou a cair mais forte e tudo ficou escuro, como se o lugar estivesse dividido em estar feliz com a mudança e zangado por sacudi-lo e o transformá-lo em algo melhor.

Ela riu divertida, se sentindo extremamente viva. Izuna estava precisando daquilo, estava precisando expulsar a tristeza e a melancolia de seu peito. Zeus, suas ações animalescas, quase morrer, precisar sumir e se esconder, saber que sua mãe e seus amigos a consideravam morta... Tudo aquilo não parecia pesar em suas costas naquele momento, porque ela estava verdadeiramente feliz.

Ela deu uma estrelinha sem nem ao menos encostar as mãos no chão. Quando firmou os pés novamente, ela sentiu a maciez da grama e o belo aroma das flores. Abriu os olhos para apreciar melhor, mas acabou travando por completo ao ver Tobirama ali, parado a alguns passos e com uma expressão completamente fechada, incapaz de transmitir o que ele sentia.

— Oh não. – Ela sussurrou, nervosa. Automaticamente ela tirou os cabelos molhados da cara e se ajeitou, engolindo em seco.

— O que fez com esse lugar? – Ele questionou seco, olhando tudo demoradamente para depois fixar seus maravilhosos e profundos olhos avermelhados nela novamente.

— Eu... Não sei. – Ela respondeu um pouco mais alto, mas ainda assim baixo. Suas mãos se apertavam uma na outra. — Não sei como fiz isso, eu só... Me senti viva.

Tobirama continuou a encarando firme, sem ceder a expressão ranzinza. Izuna já se arrependia amargamente de ter feito aquilo e planejava um jeito de se desculpar enquanto girava nervosamente o anel em seu dedo, tendo se apegado rápido ao objeto. O deus a encarou fazendo aquilo antes de se virar.

— Vá para o palácio e tome um banho. Não sei se essa chuva é boa para você.

Izuna assentiu diversas vezes mesmo que ele não fosse ver e somente relaxou os ombros quando as portas foram fechadas atrás dele. Ela soltou todo o ar de uma vez, o sentimento bom em seu peito passando na mesma medida que a chuva parava, deixando ainda mais claro que ela era a causadora de tudo aquilo.

Ela se virou devagar para Nix, que apenas permanecia olhando divertida e curiosa para toda aquela cena. Ela ergueu as sobrancelhas para a mais nova que fez uma careta fofa, fazendo as duas rirem.

— Venha. Te levo para o seu quarto antes de voltar para o meu castelo. – Ela esticou a mão.

— Vai embora? – Izuna se sentiu triste por ficar sozinha de novo.

— Tenho coisas para resolver e já passamos a tarde inteira juntas. Tente não grudar tanto assim em mim. – Brincou e Izuna sorriu pequeno antes de entregar sua mão para ela.

— Obrigada por hoje. – Ela disse quando as duas já estavam no quarto dela, molhando o chão. — Estava precisando.

— Eu sei. – A mais velha parecia saber de muitas coisas sem precisar que lhe digam.

— Sabe... Você não é exatamente o que eu imaginava. Todos sempre me disseram que você era tão... Má. – Admitiu, sorrindo sincera. Nix riu, colocando as mãos na cintura.

— Não espalhe a verdade, tenho uma imagem a zelar. – Piscou com um dos olhos e Izuna sorriu de novo, concordando com a cabeça. — Boa noite, Izuna.

E então desapareceu sem deixar a outra responder. Izuna olhou em volta, ainda sorrindo fraco. Jody apareceu no próximo segundo, secando o chão enquanto já pedia para a deusa ir para o banheiro que ela já estava indo para ajudá-la.

E assim, dessa forma mais insana possível, Izuna sobreviveu ao primeiro dia inusitado em seu novo mundo. 


🩵


E foi isso por essa atualização... Não sei se ainda tem alguém aqui que gostaria de ler, mas é isso kkkkk

Espero que vocês tenham gostado, anjos!

Se cuidem!

Até a próxima muah muah

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