Refém por acaso

By AutoraVanessaAlmeida

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Alguns filósofos dizem que o destino é uma mão de via dupla, uma hora ele te ajuda e na outra te joga em um r... More

Avisos
Elenco
Dedicatória
001| A teoria do efeito borboleta
002| Cacciatore Vs preda
004| Il male che semini
005| A energia que emana das matas
006| L'atto di giocare con il fuoco
007|Sangue Carmesim
008| Vendetta
009| Made In Brasil
010| Coazione a ripetere
011| Pé na areia, caipirinha, água de coco
012| Conflitti interni
013| É mais uma do GG
014| Benvenuti nel cespuglio
015| O sol já nasceu na fazendinha
Então meus amores...
016| Lo splendore dei tuoi occhi
017| Olhos não mentem
018| Conseguenze
019| Io e il diavolo
020| O amor me enlouqueceu
...
021| Girassóis de Van Gogh
Aviso

003| A premeditação dos males

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By AutoraVanessaAlmeida

Eles, que tem o poder
Sempre dizem que tudo é igual
Como se pra tu chegar lá
Fosse só subir degraus

E não penhascos, montanhas
Truques e façanhas
Quem joga as cartas e tem artimanhas
Sempre diz que o jogo é justo, é certo
Pra quem?
Mar - Bea Duarte

P•r•e•m•e•d•i•t•a•r•, palavra feminina que deriva do latim, contém 10 letras, que têm o significado de decidir com antecedência, ponderar minuciosamente cada um dos seus atos.

O poder de decidir sobre as minhas escolhas já não estava mais sobre as minhas mãos, o sentimento de cárcere residia no meu âmago mesmo estando no conforto da minha casa.

— Perdeu o cu na minha cara? — Questionei ao segurança de quase dois metros que fazia questão de mostrar a sua presença ali.

Por sorte a Lia havia viajado de férias para Salvador, ou eu teria que inventar alguma desculpa mirabolante para explicar os dois postes ambulantes que me seguiam a cada passo.

— Tenho pena de você garoto — Um dos seguranças pronunciou ao abrir a minha geladeira e beber o leite direto da caixa.

Mas que cara folgado!

— Em primeiro lugar: Enfia a sua pena onde o sol não bate — Ponderei ao pegar um copo e estender em sua direção — E em segundo, a sua mãe não te deu educação não?

O segurança apenas riu, e puta que pariu, que sorriso lindo da porra.

O cara que me fez de babá era outro Deus grego na terra, mas o meu temperamento de filho de Iansã me fez ignorar a beleza inigualável dele e focar em sair vivo daquela mansão.

Preparei algo para comer tendo a plena consciência de estar sendo observado, até cogitei a hipótese de jogar a água quente do macarrão neles e sair correndo implorando por socorro, mas isso não daria certo graças ao meu sedentarismo e a maldita asma.

— Pega o queijo pra mim?

—Tenho cara de auxiliar de chefe? — O segurança com traços asiáticos rebateu.

— Então saia da frente da geladeira — Exigi levemente mau humorado — Você não é auxiliar de chefe, mas eu sou fantasma para atravessar as coisas é?

— Você realmente não tem noção do perigo garoto.

— Eu rio na cara do perigo e ainda sambo em cima dele de salto alto.

O segurança tentou manter a expressão neutra, mas não resistiu e caiu na gargalhada junto a mim.

Ethan era gente boa no fim das contas, ele apenas havia se envolvido com a pessoa errada, mas como minha saudosa bisavó já dizia: "Quem com porcos anda, farelos come".

— Quem é o seu chefe? — Questionei depois de servir o macarrão ao molho branco para eles.

— Você não sabe mesmo? — Rebateu com um sorriso de lado.

— Deveria saber?

— Dimitri é simplesmente o chefe da máfia italiana — Falou como se aquilo fosse normal — Você deveria temer ele e não desafiá-ló.

Lidar com traficantes pé de chinelo era uma coisa, mas máfia é um novo patamar, mas nada e nem ninguém vai conseguir tirar a minha marra e deboche, nem mesmo a morte.

Enfrentar a homofobia e a intolerância religiosa quebra você em pedaços minúsculos, quase microscópicos, porém essa dor lhe fortalece e te molda um ser humano mais forte capaz de enfrentar tudo para defender a sua fé.

Depositei os pratos no lava louças e aproveitei a calmaria para tomar um banho e recarregar as energias que perdi hoje.

A água morna do chuveiro e o aroma do sabonete de lavanda conseguiram apaziguar um pouco a minha alma, menos a parte dela que não sabia o que iria acontecer daqui para frente.

Adormeci tendo plena ciência de que a minha vida nunca mais seria a mesma, e eu seria obrigado a viver sob regras e ameaças se não quisesse morrer ou acabar provocando a morte de alguém da minha família.

A chuva fina e gélida do lado de fora refletia o meu humor, era como se toda a alegria tivesse sido sugada para dar lugar a uma premeditação de todo o mal que me atingiu.

Nietzsche em uma de suas divagações escreveu sobre Premeditatio Malorum, uma das suas teorias que mais se aplicam a minha situação atual.

É da natureza humana questionar e tentar prever ações e reações, mas somos julgados ao pensar em coisas negativas, tais como a morte.

"Ain, não pense assim"
"Não seja tão negativo"
"Pense sempre positivo que dará certo".

O fato é que devemos sempre estar preparados para o pior, "ser negativo" lhe prepara para uma dor futura bem maior, afinal, você e o seu subconsciente já estariam de certa forma esperando por aquilo.

Então ninguém poderia me julgar em imaginar que aquela situação poderia me levar à morte, mas pelo menos não carregaria o fardo de ter que lidar com quaisquer resquícios de esperança que poderiam se esvair.

— Que cara péssima — Ethan falou ao me ver entrar na cozinha.

— Experimenta estar em cima de uma cadeira com uma corda no pescoço — Rebati de mau humor — E o seu chefe pronto para chuta-la e me matar sem nem mesmo hesitar.

— Dimitri nunca exita em matar, considere-se uma pessoa com muita sorte então — O outro segurança falou ríspido e me fez revirar os olhos com a sua concepção errônea de sorte.

Sorte é ganhar na loteria, ou achar dois reais no bolso da calça, e não servir de babá para um mafioso que só resolveu não te matar por você ser alguém importante na polícia.

— A sua definição de sorte não é igual a minha — Rebati.

Observei meu reflexo no espelho da geladeira e constatei que eu realmente parecia muito mal, e eu jamais daria esse gostinho de fraqueza a ele.

Ajeitei um conjunto moletom cinza e um tênis branco da adidas, além de um chapéu cinza, também da adidas.

Ethan escaneou de cima para baixo e sorriu simplista, um gesto que reconheci como admiração ou talvez um flerte descarado.

A mansão parecia o castelo do Drácula de tão mórbida, a vontade era comprar algumas ervas e incensos para tirar a energia pesada e obscura dela.

— Vejo que você voltou — Dimitri debochava com um sorriso gigante em seu rosto.

— Como se eu tivesse alguma escolha palhaço.

A miniatura ruiva correu, meio desengonçada, em minha direção com os braços estendidos.

— Princesinha do tio — Murmurei ao dar beijinhos em sua bochecha gordinha.

— Segundo porta à direita, seu uniforme está em cima da cama.

Caminhei a contragosto e fiz questão de esbarrar no poste mafioso, mantive a postura ao subir cada um daqueles degraus até o quarto.

Observei o uniforme e ri nasalado da sua piada infame e a tentativa inútil de me humilhar.

O "uniforme" consistia em um vestido branco com preto, estilo que modelo pornô usaria em algum filme clichê de sexo submisso.

— Imaginei que Dimitri faria algo desse tipo.

— E quem seria você? — Indaguei para o moço de cabelos negros como a noite e sorriso deveras cativante.

— Diego Esposito — Apresentou-se com um sorriso amigável — Sou o irmão do Dimitri, só que menos babaca que ele.

— Sou o Arthur.

Diego entregou um conjunto que consistia em uma calça jeans branca e uma camisa, no mesmo tom, em algodão.

Aninhei a neném no meu colo e brinquei um pouco com ela antes de ter que encarar o babaca do pai dela novamente.

— Você é tão fofa e doce, tem certeza que é filha daquele ogro? — Indaguei mesmo que ela não fosse responder.

— Oglo.

Esqueci que as crianças eram uma espécie de papagaio sem penas e me arrependi de ter falado aquilo na mesma hora.

Desci com cuidado as escadas e sorri com a expressão fechada de Dimitri em minha direção, seu irmão tentava se manter neutro, mas não resistiu e piscou discretamente.

— Esse não é o seu uniforme.

— O seu irmão achou que esse ficaria melhor — Respondi risonho — E nós não estamos tão íntimos assim para que eu use uma roupa daquela. Você nem me pagou uma coxinha!

— Oglo.

Giulia sorria apontando para o pai enquanto o meu sorriso ia diminuindo cada vez mais, olhei para Diego e o mesmo tentava não rir da minha total cara de pânico.

— Espero que isso seja a única palavra que ensine a minha filha.

Ethan me acompanhou até a cozinha e alguns outros cômodos da casa, incluindo uma biblioteca que parecia sair de um conto de fadas de tão bela.

A maioria dos funcionários eram pessoas bondosas que não faço ideia como foram trabalhar com aquele cara, mas a minha avó já dizia que a necessidade faz a ocasião, então eles devem ter algum bom motivo.

Dei a papinha para a Giulia, mas a ruivinha se negava a comer, e eu não julgo ela já que aquele trem parecia uma gororoba que serviriam na cadeia.

— Eca.

Tentei experimentar para ela ver que era ruim, mas a minha cara de nojo ao provar era o pivô para ela desistir de comer a papinha.

— Giulia tem alergia a alguma comida ou qualquer outra coisa? — Indaguei ao entrar em seu escritório.

— Nenhuma que eu saiba. Por que da pergunta?

Ignorei a sua pergunta e caminhei até a cozinha para preparar alguma coisa saborosa e saudável para a bebê.

— Posso usar a cozinha? — Perguntei para a moça responsável por toda a alimentação.

— Fica à vontade meu filho, só peço que limpe tudo depois.

— Sim senhora.

Peguei uma batata, chuchu, cenoura e cortei em cubinhos minúsculos, aproveitei o tempo que eles cozinhavam e já deixei o frango no fogo para ir desfiando mais tarde.

Coloquei uma música do Harry Styles e dancei sendo observado pela bebê que ria da minha dança totalmente desengonçada.

Desfiei o frango, preparei o tempero da sopa enquanto o macarrão terminava de cozinhar e retirar as verduras pré cozidas da panela.

— Neném, você nunca mais vai comer aquela gororoba de presidiário.

— Goloba — Tentou repetir e um sorriso involuntário surgiu no meu rosto.

Adicionei o macarrão ao tempero junto com o frango desfiado e os legumes e deixei cozinhar um pouco mais, aproveitei o tempo deles cozinhando para fazer um suco natural de laranja para a Giulia.

— Que cheiro bom, está cozinhando o que? — Diego questionou ao entrar na cozinha vestindo uma camiseta preta do Arctic Monkeys e uma calça jeans.

— Uma sopa para a Giulia — Respondi retirando um pouco da sopa para esfriar — Ela não quis comer aquela papinha horrível.

— Você é a primeira babá que se importa com a alimentação da Giulia.

— Prefiro o termo baby brother — Rebati humorado — Babá me lembra um filme de terror horrível da Netflix.

A sopa estava morna quando levei a primeira colherada até a boca da Giulia, ela saboreou e pediu mais, e isso foi o suficiente para eu ganhar o dia.

Após alimentar a neném, dei um banho nela e a vesti com um pijama fofo dos monstros S.A, beijei a sua testa e desliguei o abajur de flor do quarto.

Organizei as roupas dela e dobrei as que estavam no cesto de roupa suja, além de reorganizar as roupas por peças.

A mansão estava parecendo um deserto quando terminei de organizar o guarda roupa da Giulia, aproveitei para perambular um pouco e conhecer melhor a biblioteca dos meus sonhos.

— Agora entendo o motivo da Bella ter ficado com a fera! Não foi por amor, era pelos livros.

— Como estudante de psicologia você deve saber que falar sozinho é um dos sinais de esquizofrenia, certo?

— Nossa, não sabia! Talvez você devesse estudar psicologia no meu lugar — Respondi exalando toda a ironia que existia em mim.

— Você realmente não tem o mínimo de noção do perigo.

Dimitri sorria maléfico e a cada passo seu era um meu também, posso estar morrendo de medo dele, mas isso seria algo que nunca iria admitir e muito menos deixar transparecer.

— Continue tentando Dimitri — Falei bem perto do seu rosto — Quem sabe um dia terei medo de você.

— Essa sua coragem ainda será o motivo da sua ruína.

Ele saiu da biblioteca deixando apenas o rastro do seu perfume amadeirado e uma ameaça, de inúmeras, que ele já havia feito.

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