O caminho de volta foi outro, já que iam ao rio. Seguiram por uma estrada estreita demais. O caminho das rodas estava desenhado no chão, e entre elas uma linha verde de mato pequeno se estendia reta.
A estrada acabou no meio do nada, e uma floresta densa se revelou à frente. Tudo estava praticamente o mesmo que Daniela se lembrava.
Luciano desceu e logo ela. Com rapidez a moça pegou sua bolsa que deixou ao lado dos pés, fechou a porta e, junto aos rapazes, seguiram por um trieiro que serpenteava pela floresta.
Não passaram dois minutos e chegaram ao que parecia ser uma praia. Areia grossa, numa grande área aberta, jazia à encosta de um rio largo com cerca de trinta metros de largura e mais de cem de comprimento cuja areia o rodeava, no resto ela jogava água para uma floresta densa.
Daniela tirou o chinelo havaiana branco; tirou a blusa branca, mostrando a peça de cima de seu biquíni; tirou o short jeans azul claro, um mais comportado que o de mais cedo, e mostrou a peça do biquíni de baixo. Ambos vermelhos. Com o celular se fotografou em várias direções, fazendo caras e bocas, pegando junto ao seu rosto e parte de seu belo corpo e os olhos assustados dos garotos que a viam quase nua à frente deles. Luciano era um deles.
A moça percebeu que ali tinha dois pontos de torre e enviou para Érica uma das fotos que pegava todos olhando a ela, junto a um comentário:
"Aqui não é de todo ruim".
Ela enviou e abriu a foto. A foto entregava o olhar de Luciano para ela.
Daniela arqueou as sobrancelhas, virou para trás e pegou o primo desviando o olhar. Meio sorriso nasceu no seu rosto e ela mordiscou o lábio de inferior.
— Merda! — ela murmurou. Levou seu dedo à boca, olhando a foto que enviou para a sua mãe. O dedo indicador que segurava a parte traseira do celular, estava agitado, batendo sem parar. Um rompante de energia a percorreu o corpo e ela decidiu fazer mesmo assim. Então começou a digitar:
"Não faz ideia do cavalão que o Luciano está. Ele é o que está atrás de mim, o de camiseta branca me encarando."
Então mandou o emoji de língua de lado para fora, lambendo os lábios.
"Que calor!"
Colocou o celular junto ao chinelo e às roupas e foi correndo até o rio. Ela jogava o quadril para os lados e os passos eram certeiros quase como desfilasse.
— Venham logo! — ela exclamou.
Correu pela água, enquanto ainda raso e mergulhou tentadoramente, empinando sua bunda.
— Ai, papai, eu vou sim — Erik disse, correndo até o rio, sem hesitar.
Luciano deu um tapão na nuca de Erik, que quase o fez cair. Maurício e Rodrigo riram da situação.
— Tá, louco? — Erik perguntou, irritado, ficando de frente ao Luciano.
Luciano apontou o dedo a ele, avisando:
— Você está muito engraçadinho hoje. É melhor ir parando agora. — Ele apontou para o rio. — Aquela lá é minha prima e pode ter certeza que você nunca vai conseguir nada com ela. Parte porque eu não vou deixar.
Erik ficou quieto, talvez tendo agora noção do quanto estava provocando o amigo.
Luciano fez meia volta e tirou do meio das coisas de Daniela o short jeans curto dela e levou até o rio. Mas no caminho de ida, ela voltava, jogando a cintura de um lado ao outro, enquanto andava pela parte rasa do rio.
Quando a alcançou, Luciano estendeu a peça de roupa para ela.
— Veste isso.
— Por quê?
O rapaz agitou a mão.
— Veste!
Ela tirou o short da mão dele e jogou longe.
— Não. — E incrementou: — Se eu quisesse estar com ele, eu não teria tirado.
Ficaram frente a frente, um olhando para o outro, até que Luciano olhou por cima de Daniela, como ele era mais alto que ela, tentando disfarçar a raiva que sentiu. Ela logo saiu da frente dele, pegou o short longe e devolveu ao lugar que estava antes. Viu que uma luz piscava no topo da tela, sinalizando uma notificação. Ela se sentou sobre os chinelos, desbloqueou a tela e viu que era uma mensagem de sua mãe no whatsapp.
"NEM PENSE NISSO, DANIELA!".
Daniela ergueu o olhar avistou Luciano, abaixo do sol que já começava a descer. Sorriu, pensando na possibilidade e ponderou o que escreveria a sua mãe.
"E o que a senhora vai fazer?".
Riu sobre o que havia escrito e leu, procurando erros.
Sua mãe entrou online no mesmo instante e após dois segundos começou a digitar. Daniela chegou a rir.
"É sério, Daniela. Se você sequer olhar para o seu primo pensando nisso, eu juro que não vai ter um lugar para você quando voltar para São Paulo.".
E então Daniela começou a escrever.
"Mas veja de novo na foto, quem olhou quem primeiro aqui foi ele.".
Sua mãe voltou a digitar.
"Não interessa.".
Daniela ria, sozinha, entretida mais do que estaria se estivesse assistindo um filme que há muito esperara o lançamento.
"Tchau, mãe! "emoji de coração" De repente a fazenda ficou interessante.".
Desativou os dados da internet e começou a encarar o Luciano. A pele amarela brilhava bronzeada pelo brilho do sol. Ele usava a camiseta branca ainda que desenhava parte do corpo que ele escondia, com a bermuda jeans azul.
As pernas eram peludas, o sorriso sincero. Era uma joia perdida no meio do mato. E por mais que ele fosse muito atraente, Daniela tinha certeza que não teria muito trabalho com ele. Até porque Luciano não parecia ter muita noção do efeito que a sua presença podia despertar numa mulher.
Erik caminhou até Daniela e sentou-se no chão. Ele estava só de bermuda de brim bege quadriculada molhada. Seu corpo era todo magro, os braços finos e o rosto retangular anguloso.
— Você tem quantos anos?
Ela olhou para ele. O observou um pouco antes de responder.
— Dezoito, e você?
— Dezessete. Fiz agora em abril e você?
— Setembro.
— O que você faz lá pra São Paulo?
Ela voltou a olhar para o rio. O sol ardia a sua vista atrás dele.
— Nada demais. Até esses dias eu estudava, mas só.
— Faculdade?
Daniela gesticulou com a cabeça.
— Não, não. Estava na escola ainda. Eu era atrasada um ano no estudo.
— Ah, na época que ainda reprovava?
— Isso. — Ela o encarou de olhos semicerrados pelo brilho do sol. O menino riu, mas não ela. — E você, o que faz aqui?
Erik encolheu os ombros.
— Nada, na verdade. Eu terminei os estudos semana passada.
— Eu terminei antes de ontem.
— Hmm. E ajudo a minha avó. Eu moro no sítio dela. Eu, alguns tios e meus pais.
— Deve ser uma família grande.
— Nem tanto. Tá bem igual a sua aqui. Sua vó só teve os gêmeos, né?
Daniela assentiu com a cabeça.
— O que tem essa família de pequena, tem a outra do rio infernal de grande — Daniela comentou.
Erik soltou uma risadinha e a cutucou no braço.
— Ei, o Luciano falou o que a gente faz aqui nos natais?
Daniela fez que não.
— A gente se reúne aqui na praia, coloca música no doze e bebe até ficar loucão.
— Parece legal — ela comentou.
— Não é chato, pelo menos. — Daniela riu, olhando para ele. — É melhor que muita coisa, na verdade.
— Eu imagino — ela respondeu.
— Você vai vir, né?
Ela olhou para o Luciano. Se iria seduzir ele, uma festa era um bom primeiro passo. Ela podia, considerando o seu tratado com George, só pensava se faria com pressa ou com calma. Provavelmente com calma. Ela tinha tempo. Um ano dá pra enjoar de muitas coisas e ela queria poder usar ele para se distrair, na falta de outra coisa e queria saber usar para durar.
Ela suspirou. Só precisava voltar atrás no que digitou para o George. Mais tarde ela diria a ele que pensou bem e que concordava. Tudo para não perder ele, seria o que ela digitaria.
— Você vai vir? — Erik perguntou outra vez.
Ela olhou para ele, primeiro não respondeu nada, depois brincou:
— Se eu não tiver nada mais interessante pra fazer...
— Não vai — garantiu o menino.