Convergência Sombria | Bonkai...

By Dark_Siren4

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Depois de fugir do Mundo Prisão de 1994, Bonnie acha que pode ter uma vida normal ao lado de seus antigos am... More

1. Eu me caso com um sociopata
2. O Ritual de União das Almas
3. Enfrento a fúria da minha esposa
4. Deixo Kai me tocar
6. Acordando com Kai
7. Meu novo emprego e um cadáver
8. Canção de Ninar
9. Meus sentimentos e Minha sogra
10. Meu novo colega de quarto
11. Incêndeio um Espectro folgado
12. Um coração partido
13. O meu e o seu coração
14. Entre dois idiotas e minhas descobertas
15. Eu? Apaixonado? Quem diria
16. E o tiro saiu pela culatra
17. Um velho me ataca
18. Sou dele
19. Sem ele
20. Visito o cemitério
21. Sou flagrado
22. Ela me domina
23. Férias forçadas
24. A Revanche
25. Amigos e Respostas
26. A Flora e o Mar
27. Um lago de verdades
28. Para Sempre
29. Reunião de família
30. Nas Sombras
31.Conhecendo o inimigo
32. Possessão
33. Supernova
34. Em casa
35. O que falta em mim
36. Nós dois
37. Um pedaço de mim
Capítulo 38: Minhas Prioridades
Capítulo 39: O homem em chamas
Epílogo:
Antes que eu me vá...
Capítulo Bônus: Linhas de Sangue
Livro Novo!

5. Bonnie me dá um perdido

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By Dark_Siren4

Eu fiquei ali paralisado depois daquilo.

Ouvi o som do carro saindo da garagem. Corri até a porta da frente e tive um vislumbre do carro prata de Bonnie, saindo da entrada de carros de ré, quase batendo em um carro vermelho que passava na rua. E desaparecendo a toda velocidade.

Meu Deus! Para onde será que aquela maluca estava dirigindo naquele estado? 

Passei as mãos pelos cabelos, repassando tudo que eu tinha dito durante o café que a fez ficar daquela forma. Não vi nada do que pudesse fazer uma pessoa, orar e chorar daquele jeito. Embora, claro, eu ainda estava aprendendo a compreender as pessoas e suas emoções. Feições ainda eram uma parte bem chata do processo de aprendizado sobre empatia. 

Será que aquilo que eu disse sobre estar obrigado a ficar com ela a magoou? Uma onda de repulsa de mim mesmo, se abateu sobre meu ser.

Monstro, me lembrei das palavras de Bonnie. Eu sou um monstro...

Tentei lembrar a mim mesmo de que Bonnie não era o tipo de garota que se magoava fácil, ainda mais por um lixo como eu. Tinha algo realmente sério acontecendo com ela.

Corri até meu quarto pegando meu celular sobre a cama e disquei o número dela — que talvez possa ter decorado ao passar noites seguidas ligando as escondidas para ela, e quando a própria atendia, eu desligava no ato —,esperando que ela atendesse.

Ouvi uma musiquinha vinda do corredor. Segui o som até o quarto de Bonnie e lá estava o celular branco dela sobre o criado—mudo. Desliguei.

Sentei na cama dela, meio desesperado.

Seja lá o que estivesse acontecendo com ela, não estava em condições de dirigir. E se acontecesse alguma coisa com ela..? Afastei esse pensamento rapidamente, estranhamente temeroso.

Tentei manter o foco.

Para onde ela poderia ter ido?

Talvez tivesse ido para a casa de Caroline. Pensei em ligar para a loura, mas parei. Bonnie não iria para um lugar tão previsível como a casa da amiga.

Levantei exasperado e desci as escadas rapidamente.

Eu iria encontrá—la nem que tivesse que andar pela cidade inteira. Então, uma ideia me ocorreu.

Disquei os números de má vontade.

Ele atendeu na primeira chamada.

— Fala, verme — disse a voz de Damon do outro lado da linha.

—  Damon, e Bonnie saiu de carro feito louca daqui e..— disse eu estava andando, antes de ser interrompido por um Damon furioso.

— O que você fez pra ela, seu verme?! —  o ouvi gritar, fora de si —  Se você fez alguma coisa com ela, juro que o mato da forma mais lenta e dolorosa possível, seu verme inútil!

Em outra ocasião teria ignorado as ameaças dele, mas naquele momento eu estava muito preocupado com Bonnie. Então, apenas pedi que ele me escutasse educadamente:

— CALA A PORRA DA BOCA, DAMON! — gritei fazendo o se calar. 

Aproveitei aquele momento de choque para explicar o que tinha acontecido na cozinha naquela manhã. Ele ouviu tudo — finalmente — em silêncio.

Ele suspirou,  preocupado do outro lado da linha.

— Droga. Aconteceu de novo.

— O que aconteceu de novo?

— Olha aqui, verme, eu vou procurá—la e depois falo com você.

E desligou na minha cara. Assim sem mais, nem menos.

Senti meu rosto ficando quente de raiva.

Puta merda!

É nisso que dá se casar, Malachai. Você devia ter continuado sozinho, disse aquela vozinha pessimista em minha mente. Ignorei—a.

Saí da casa branca batendo a porta. Iria encontrar aquela garota nem que tivesse que andar até o inferno.

***

Mystic Falls não era uma cidade muito grande.

Acho que andei por praticamente todas as ruas e vielas que pude encontrar. E não vi nenhum sinal de Bonnie e seu carro prateado.

A imagem da bruxinha chorando não sai da minha cabeça. Seus olhinhos verdes daquela forma desesperada.

Sei que não era um momento muito adequado para aquilo, mas comecei a me lembrar da noite passada, quando a vi parada na sala. Seu robe de seda vermelha aberto revelando aquelas curvas, aquela pele morena e linda.

Deus, minhas veias ficaram em chamas apenas com a visão de seu corpo seminu!

E quando ela percebeu meu olhar, ficou vermelha e se cobrindo. Logo em seguida, eu estava na cozinha com ela, morrendo de vergonha e tentando me explicar. Ela me ignorou. Como sempre.

E não sei o que me deu, mas eu já tinha me aproximado  dela . Bonnie ficou assustada com minha aproximação e se encolheu contra a bancada da pia, percebendo que não havia escapatória. A menos que soltasse por cima do balcão, mas queríamos evitar constrangimento, não?

Ela me olhava de cima a baixo de um jeito estranho, como se estivesse me vendo pela primeira vez. Foi aí que percebi, que ela avaliava meu corpo mordendo o lábio inferior de um jeito que fez meu sangue ferver.

Então, havia esse lado dentro dela? Interessante.

Não pude deixar de sorrir, vendo—a me olhando daquela forma. Pigarreei, chamando sua atenção.

Ela voltou a olhar para meu rosto, completamente vermelha, sua respiração descompassada.

Não sei porque aquilo me pareceu tão convidativo. Então, me aproximei com a mão estendida querendo tocar seu rosto, me perguntando se sua pele era tão macia quanto parecia.

Bonnie encolheu—se como se eu fosse bater nela. Parei minha mão a centímetros do seu rosto. Aquilo acabou comigo.

Eu causava tanta repulsa nela?

Me enchi de coragem e tentei novamente. Ela se encolheu mais ainda contra a bancada, fechando os olhos com força.

Meus dedos tocaram de leve sua têmpora. Sua pele era mais macia do que eu poderia imaginar. Deslizei suavemente os dedos por seu rosto, descendo até o queixo, desfrutando daquilo, com uma excitação devoradora que beirava o prazer sexual.

Depois de tantos anos imune aquela necessidade carnal, aquela sensação foi como levar um tiro à queima roupa. Tudo era tão mais forte quando se tratava dela.

Vi seu rosto se inclinando em direção ao meu toque, como se quisesse mais.

Afastei—me poucos centímetros, vendo seus olhos se abrirem assustados. E aquela vontade de abraçá—la voltou com força.

Aí tentei me desculpar de um jeito bem idiota, admito. E do nada, saí da cozinha, indo para meu quarto, e me perguntando o que diabos tinha dado em mim. Quase não consegui dormir noite passada. Tudo por causa dela.

E quando eu pensava que essa manhã seria um pouco melhor, me aconteceu isso.

Passei a mão nos cabelos.

Porque eu estou tão preocupado com Bonnie? Ela me odeia e não está nem aí pra mim. Então, por quê?, pensei com aquela vozinha pessimista.

Olhei na tela do celular e constatei que eu já estava andando a cerca de uma hora e meia. Damon tinha dito que me ligaria, mas até agora nada. Claro, que ele não era muito bom em cumprir promessas e seguir prazos.

Decidi ir até a Mansão Salvatore, por via das dúvidas e por falta de um lugar melhor para procurar por aquela garota. Não era muito longe de onde me encontrava.

Andei por cerca de meia hora até chegar à Mansão Salvatore. Era uma grande casa de construção baixa em pedra e madeira.

Cara, eu preciso comprar um carro urgentemente, resmunguei, cansado de tanto andar. Quando encontrar a Bonnie, vou dar umas belas palmadas no bumbum dela.

Senti o sangue ferver ao pensar nisso.

Meu Deus, sacudi a cabeça. Tô parecendo um pervertido.

Fui até a porta abrindo—a sem me importar em bater, afinal, eu já era de casa. Andei pelo corredor com paredes de madeira escura, chegando até a sala espaçosa e cheia de móveis. 

E lá estava, Damon, parado perto da lareira acesa. E como sempre, com um copo de uísque na mão.

Eu já ia brigar com ele, perguntando porque diabos não estava procurando Bonnie, quando vi um familiar de cabelo curto e escuro. Ela estava sentada em um sofá com Elena a confortando, dizendo algo que eu não conseguia entender.

Eu queria brigar com ela, antes de entrar aqui, mas quando a vi, essa vontade foi embora, quase que no mesmo momento.

Como ela faz isso? Deus do Céu! Só passei um dia com ela. 

— Ah, você está aí, verme? — ouvi Damon dizer.

Elena, que não tinha me visto, virou—se assustada. Bonnie se sobressaltou.

— Por que você não me ligou? —perguntei encarando Damon.

— Porque eu não quis — murmurou ele dando de ombros.

Senti meu rosto ficando vermelho de raiva.

— Eu fiquei andando a esmo pela cidade procurando ela — sinalizei Bonnie — E você a manteve aqui esse tempo todo e não ia me dizer nada?!

Ele sorriu daquele jeito irritante de quem não dá a mínima para o que eu acho.

Naquele momento eu quis muito enfiar uma estaca no peito dele. Cerrei os punhos, tentando conter a raiva.

Me concentrei em Bonnie, sentada ao lado de Elena com os joelhos contra o peito. Ela não estava mais usando o robe vermelho. Vestia uma calça jeans meio grande e uma blusa amarela.

Ela me encarava de modo frio. Caminhei em sua direção, tomado de alívio por vê—la bem. Entretanto, antes que eu pudesse me aproximar dela, Damon estava na minha frente bloqueando a passagem.

— Você não vai se aproximar dela — murmurou com uma frieza ameaçadora em sua voz.

Aquilo me deixou com mais raiva.

— E quem é você para me impedir? — desafiei—o.

— Sou o cara que vai arrebentar todos os dentes da sua boca.

Ele me encarava com ódio.

— Damon? — chamou Elena do outro lado da sala.

Ele se virou de má vontade.

— Sabe que não pode matá—lo, não é? 

— Eu não vou matar ele, Elena — murmurou ele suavemente — Apenas vou espancá—lo até que se afogue na poça do próprio sangue.

Elena continuava séria. Damon gemeu, exasperado.

—Ta! — resmungou — Mas só faço isso porque a amo.

Elena sorriu pra ele.

Revirei os olhos. Aqueles dois me davam ânsia de vômito.

Damon voltou a me olhar e parecia meio triste por não poder me espancar.

— Você se safou, monstrinho, mas precisamos ter uma conversinha.

— Caham! — fez Elena.

Damon revirou os olhos.

— Uma conversa que não envolva nenhum tipo de violência física contra essa sua pele inútil.

— Você é tão gentil, Damon — provoquei—o.

Fomos até o escritório, deixando Elena e Bonnie na sala de visitas.

Entrei em um cômodo grande e bem decorado. Perto de uma grande janela havia um gabinete de carvalho com uma enorme poltrona verde atrás dele e as paredes eram forradas com prateleiras cheias de livros.

Antes que eu pudesse terminar de apreciar a decoração, Damon me empurrou contra a parede, sua mão apertando minha garganta, impedindo que o ar entrasse em meus pulmões. 

— Agora, me diga — sibilou —  O que você fez para que Bonnie ficasse daquele jeito?

Soltei uma mistura de engasgo com uma risada. Estava mais para um animal morrendo.

— Você disse a Elena que não faria isso — disse eu com a voz sufocada.

— Pois é, às vezes eu minto — deu de ombros.

— Não me diga — falei com dificuldade. 

— Não mude de assunto, verme. Responda minha pergunta.

— Eu não fiz nada — disse entredentes.

Ele riu, não acreditando nem um pouco. Seu aperto em volta do meu pescoço, aumentou. Arfei, tentando respirar.

— Você está facilitando muito as coisas para mim, garoto. O que você fez?

Eu já estava começando a enxergar pontos pretos na minha frente.

— Vai ficar... meio difícil de explicar se... eu... desmaiar.

Ele pareceu ponderar aquilo e alguns segundos depois me soltou. Respirei fundo, absorvendo todo o ar que podia e tossindo feito um fumante.

Damon parou no meio da sala, encarando—me de braços cruzados.

Achei uma cadeira ali perto e me sentei jogando de qualquer jeito.

— Então, monstrinho? — perguntou impaciente.

— Nós estávamos tomando café da manhã e nós meio que começamos a discutir. E você sabe como a Bonnie pode ser bem antagônica e...

— Ok, ok — falou com voz impaciente — Vamos a parte interessante da história.

Suspirei e continuei:

— Aí, eu disse uma coisa que... que a magoou — Damon cerrou os olhos azuis — E eu tentei me desculpar com ela e, do nada, Bonnie, começou a arfar e se encolher como se não conseguisse respirar. Ela começou a chorar e quando tentei ajudá—la, ela saiu correndo.

Damon fechou os olhos suspirando, parecia muito cansado. Às vezes, o peso dos anos parecia deixá—lo assim.

— Sabe que a única coisa que me impede de arrancar sua cabeça é aquela garota, lá na sala, não, é? — murmurou ele — Porque agora ela faz parte desse seu clã maluco e se eu matá—lo, todo o seu clubinho de bruxos e Bonnie morrem.

Aquilo me incomodou profundamente. Até pouco tempo atrás eu era um sociopata feliz e que fazia tudo o que queria. Agora eu tinha que cuidar de toda uma Convenção e de uma mulher que me odiava com a fúria de todos os quintos dos infernos.

— Você é o melhor amigo dela, Damon — falei, preocupado — Você sabe o que está acontecendo com ela, não é?

Ele me olhou sério, todos os traços de raiva desapareceram, só restando a preocupação que nós dois partilhamos.

— Só vou contar isso, porque agora você passou da categoria de verme para uma borboletinha menos malvada — murmurou, se referindo a minha mudança de personalidade — Desde que a Bonnie voltou do Mundo Prisão, ela não tem sido mais a mesma. Ela se isolou de todos. E no começo, ela tinha esses ataques de ansiedade, que foram diminuindo e sumiram. Até você ir morar com ela.

—  O quê? — franzi o cenho — Quer dizer que é minha culpa?

— Claro que é sua culpa, seu idiota — cuspiu para mim — Quando você a torturou naquele inferno, pensou que ela fosse superar isso numa boa?

Agora pude compreender porque ela agiu daquele jeito quando a toquei. A culpa recaiu sobre mim como um tapa na cara. Eu sabia que Bonnie me odiava por tudo que a fiz passar e até que tinha medo de mim, mas nunca pensei que fosse algo assim tão profundo e arraigado em seu ser. Mesmo depois de todo aquele sofrimento, eu ainda a estava matando por dentro.

Me odiei tanto naquele momento, que quase pedi para que Damon mudasse de ideia quanto a surra.

Damon me observava impassível.

— Olha aqui, seu monstrinho. Eu adoro aquela garota como se fosse minha irmãzinha. E a conheço como ninguém — disse de uma só vez —  Haverá momentos nos quais você vai querer dar uns cascudos nela de tão chata e rabugenta que ela é. E ela pode parecer “A Toda Poderosa Bonnie Bennett” — fez aspas com os dedos —, mas saiba que no fundo ela morre de medo de você apesar de tentar não demonstrar. E ela é frágil, precisa de carinho, porque se sente sozinha, mesmo que não diga. E eu sei, que você é meio insensível a sentimentos humanos, mas tente ao menos ser legal com ela, ok?

Eu não sabia o que dizer a ele. Nunca tinha ouvido Damon falar assim com tanta ternura de ninguém.

E, naquele momento, senti o peso de seu olhar sobre mim. Sabia que ele esperava que eu fosse bom para Bonnie. É que eu só não sabia como fazer aquilo. Ser bom.

— Mas, se por um acaso, você ignorar tudo isso que eu disse a você, lhe dou aquela surra — ameaçou ele — E não conte a Bonnie sobre o que conversamos.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, a porta do escritório se abriu e Bonnie passou por ela.

Meu coração se acelerou.

— Eu só queria dizer que estou indo para casa — disse ela olhando para Damon e sorrindo levemente.

Quando se virou para falar comigo assumiu aquela expressão fria:

— Você vem ou não? 

E saiu da sala como uma verdadeira Bennett. Orgulhosa e altiva.

Dei um último olhar a Damon e me levantei saindo da sala.

Elena nos esperava na porta da frente. Bonnie e ela se abraçaram com carinho. Senti algo meio parecido com inveja ao ver os braços de Helena em volta dela assim.

Sentindo—se carente, Malachai?, zombou aquela vozinha em minha cabeça.

O que está acontecendo comigo, droga?, resmunguei.

Saímos e demos a volta na Mansão e lá, nos fundos da propriedade que dava uma vista incrível para um descampado, estava o carro de Bonnie, bem estacionado.

Bonnie abriu a porta do motorista, quando segurei sua mão. Ela olhou assustada para sua mão e em seguida para mim.

Aquele simples toque fez todo o meu corpo vibrar.

— Não acha melhor eu dirigir? — perguntei meio afobado.

—  No dia em que você dirigir meu carro, vai ser porque eu morri — disse se desvencilhando de meu toque e entrando no carro.

Quase soltei um: “Talvez eu possa providenciar isso.” Mas ela não entenderia a piada e acabaria surtando de novo.

Sentei—me no banco do carona e ela deu a partida no carro.

Geralmente sou um cara extremamente falante, mas durante aquele curto período de tempo em que ficamos ali dentro do carro, eu não disse uma palavra.

Durante todo o caminho fiquei com a cabeça encostada contra o vidro, apenas pensando em tudo que Damon me disse. Acho que Bonnie percebeu meu silêncio excessivo, pois ficava virando a cabeça a cada cinco minutos em minha direção.

— Então... — começou ela — Sobre o que vocês conversaram? 

Continuei na mesma posição, sem olhar para ela.

—  Nada de mais — disse eu — Apenas as ameaças de Damon. O de sempre.

Ela não disse mais nada depois disso, mas não conseguia sentir a curiosidade fervilhando dentro dela.

Quando estávamos adentrando a garagem, pude perceber uma figura parada no meio da varanda branca.

Bonnie e eu nos entreolhamos confusos e saímos do carro. A bruxinha foi na frente em sua passada rápida, atravessando o gramado.

Quando chegamos até lá, pude ver que era um homem velho com um terno preto simples, porém elegante.

Ele sorriu de forma amigável ao nos ver. Seus olhos azuis nos avaliavam.

— Olá, meninos — disse ele como se fosse nosso avô.

— Quem é você? — perguntou Bonnie, cautelosa.

— Ah, me desculpe — ele sorriu minimamente — Não me apresentei a vocês. Sou Ezequiel Trainor, sou um dos Anciãos da Convenção Gemini —  murmurou ele estendendo a mão a Bonnie, que a apertou ainda cautelosa — Theodora me mandou aqui para iluminar o jovem casal sobre algumas questões.

Não gostei da palavra casal, mas não disse nada.

Bonnie o convidou para entrar. E foi educada oferecendo uma xícara de café a ele.

— Então — murmurei quando já estávamos todos sentados na sala de estar — Que tipos de questões o senhor veio, com sua graça, iluminar?

Ele deu um leve sorriso pra mim.

— Você tem o mesmo senso de humor de seu pai, Malachai.

Me remexi incomodado na poltrona, incomodado.

— Bom, como você passou um tempo no Mundo Prisão e a senhorita Bonnie, aqui, não fazia parte de nosso clã até ontem a noite, creio que devo colocar os dois a par sobre sua União.

Nós nos ouvíamos em silêncio.

— Como assim? — perguntou Bonnie.

— Bom, vocês devem estar curiosos sobre algumas coisas, não é? — murmurou ele, levemente divertido — Como por exemplo, esse leve batimento em seu peito como se fosse um segundo coração.

Eu o encarei abismado. Como ele sabia disso?

Olhei para Bonnie, que tinha a mesma expressão.

— O quê... o que significa isso?—gaguejou ela.

Ezequiel se aconchegou na poltrona, sorrindo. Ele parecia um vovô fazendo isso.

— Durante o Ritual de União das Almas, como diz o nome, suas almas são unidas. É uma forma de manter nosso líder e sua companheira em sintonia um com o outro, para que possam, assim, governar juntos nossa Convenção em perfeita harmonia.

Ok. Aquilo era muito esquisito.

— E o que os dois corações têm a ver com isso? — perguntei.

Ele juntou as mãos enrugadas sobre o colo.

— De certa forma, é um efeito colateral da União, bem útil, na verdade. Vocês sentem as batidas do coração um do outro em tempo real. Daí a sensação de ter um coração a mais no peito.

Nesse momento, fiquei hiper consciente das batidas de meu coração, que ficou meio acelerado e também senti o palpitar do outro, muito rápido. O coração dela?

Olhei para Bonnie que encarava o próprio peito, parecendo atônita.

— Vai ser praticamente impossível mentir um para o outro — murmurou o velho — Porque seus corações vão entregá—los.

Bonnie voltou os olhos verdes para mim, intrigada. Meu coração se acelerou mais um pouco.

— Vocês não dormem no mesmo quarto, não é? — perguntou Ezequiel.

Eu e Bonnie o olhamos como se ele tivesse subido na mesa pelado e tivesse começado a dançar com maracas.

Como ele sabe de tanta coisa? Será que está nos espionando?, pensei, meio paranoico.

— Como sabe disso? — Bonnie o interpelou.

— Eu e Theodora discutimos essa situação antes de escolhermos uma esposa para Malachai — disse o velhinho casamenteiro — Sabíamos que vocês tinham um passado bem conturbado, mas não podíamos perder a oportunidade de termos uma bruxa tão poderosa em nossa Convenção, senhorita Bonnie. E também porque tive um casamento arranjado como o de vocês.

Bonnie estava vermelha como um pimentão, aposto que estava se mordendo de ódio.

— Você teve um casamento arranjado? — perguntei a ele, dando tempo para que Bonnie se acalmasse.

— Sim. Meus pais e uma outra família da Convenção, tinham uma rixa muito antiga. E achavam que o melhor jeito de acabar com aquilo, seria casando seus filhos — ele sorriu ainda mais ao lembrar—se — Minha esposa e eu nos odiávamos com a fúria do inferno. Dormíamos em quartos separados. Os primeiros meses foram difíceis, havia muitas brigas entre nós, mas com o tempo nós começamos a nos odiar menos. Depois nos tornamos amigos. E, enfim, acabamos nos apaixonando um pelo outro.

Será que ele achava que aquilo iria acontecer entre mim e Bonnie? Eu não acreditava que isso pudesse realmente existir entre nós dois.

— Sugiro que comecem a dormir no mesmo quarto, logo — murmurou ele calmamente — Assim podem acelerar o processo.

O coração de Bonnie se acelerou dentro do meu peito. Ela estava ameaçadoramente perto de avançar no pescoço do velho.

—  Você ficou louco? — exclamou ela, parecendo o capeta — Eu nunca vou dormir na mesma cama que essa..! Esse..! — ela ficava tentando arrumar um nome pelo qual me chamar e aquilo me fez rir.

Ela me fulminou com os olhos. Eu, como um homem nada sensato, continuei rindo da cara dela.

— Se isso for porque a senhorita é virgem, não se preocupe com isso, querida — murmurou o velho muito calmo, como se estivesse lidando com crianças — Tudo acontecerá em seu devido tempo.

Parei de rir na hora, quase engasgando, aliás.

Bonnie ficou branca feito um fantasma e depois seu rosto assumiu um tom de púrpura intenso.

Ela ia matar o velho.

Quer dizer que Bonnie ainda é virgem?, pensei com meus botões, chocado com a ideia. Ela tinha o quê? Vinte e um anos? E ainda era virgem?! Mas ela é tão linda! Como isso não aconteceu ainda?

Minha mente tentava trabalhar nesse assunto, quando fui interrompido por uma Bonnie furiosa:

— Como vocês podem saber de uma coisa dessas — gritou, agora realmente revoltada — Vocês andaram me espionando ou quê?!

Ezequiel não pareceu abalado com o chilique da garota.

— Nós apenas conversamos com seu ginecologista.

Bonnie levantou—se do sofá e, por um momento, pensei que fosse partir para cima do velho. Porém, não. Ela somente ficou parada ali com o rosto rubro e cerrando os punhos.

— Vocês me obrigaram a me casar com um sociopata, machucaram meus amigos, me fizeram ter que dividir minha casa com ele —  disse apontando pra mim — E agora ficam vasculhando minha vida sexual! Qual é o problema de vocês, seus malucos?!

O velho não pareceu se importar com os gritos de Bonnie, eu por outro lado estava apavorado.

— Ei, BonBon, pega leve... — tentei dizer.

Ela me olhou de um jeito que gelou até a alma. Nunca senti tanto medo de uma mulher na minha vida.

— E você fica quieto! É tudo sua culpa!

Acho que encolhi na poltrona.

— Senhorita, só estou adiantando um assunto que em algum momento você e seu marido teriam que conversar, afinal, todos os nossos líderes precisam de um herdeiro.

Meus olhos quase saltaram das órbitas. Agora a pouco estávamos falando da virgindade da Bonnie e agora estamos falando de... bebês?! Que velocidade era aquela?

— Ele não é meu marido! — ela surtou, ficando completamente pálida.

Me preocupei achando que ela fosse ter mais um daqueles ataques de ansiedade. Levantei, indo devagar até ela com as mãos levantadas, sinalizando que não ia tocá—la.

Bonnie me encarou furiosa, seu coração batia descompassado dentro de meu peito.

— Bonnie — falei suavemente — Se acalma.

—  Sai de perto de mim — murmurou ela, entredentes.

— Bonnie, olha nos meus olhos. Respira fundo.

Parei na frente dela.

Ela parecia um animal encurralado, podia sentir todo o seu medo. Bonnie fitava meus olhos, tentando se acalmar. E aos poucos vi a raiva esmorecer de suas feições. A garota sentou—se no sofá, torcendo as mãos nervosamente, seu rosto enrubescendo de vergonha. O coração dela batia levemente acelerado em meu peito. Depois, eu me sentei na poltrona em que estava antes.

Ezequiel que observava tudo calmamente parecia satisfeito com alguma coisa.

— Quero que me desculpem por causar problemas a vocês, apenas estou fazendo isso para tornar seu relacionamento mais fácil. Acreditem.

Eu o encarei, indignado.

— Mais fácil? O que tem de fácil nisso? — gesticulei ao redor, sinalizando aquele caos.

— Sim, Malachai — assentiu ele — Aposto que algum de vocês já pensou em ir embora, não?

Eu nunca tinha pensado naquilo, mas vi Bonnie levantar o olhar para ele.

Ezequiel prosseguiu:

— Mesmo que um de vocês partisse, um sempre encontraria o outro — explicou — Suponhamos que Malachai fosse para Nova York. A senhorita também iria, mesmo que não soubesse que ele foi para lá. Um sempre atrai o outro. É pura física.

— Então quer dizer que nos encontraríamos independente de onde estivéssemos? — perguntou ela com pesar.

— Sim — disse o ancião.

Bonnie pareceu ponderar aquilo.

Ezequiel deu uma olhada em seu relógio de pulso.

— Preciso ir, meninos — disse o velho se levantando — Me desculpem por causar tanto infortúnio a vocês dois.

Eu levei até a porta, mas antes de sair ele me disse algo:

— Essa aí tem atitude forte. Não poderíamos ter escolhido uma esposa melhor para você, Malachai. Cuide bem dela.

E saiu sem dizer mais nada.

Ótimo. O velhinho casamenteiro arrumar a confusão e eu que vou ter que enfrentar a fera lá dentro.

Quando voltei para a sala, Bonnie não estava mais lá. Ouvi uns barulhos vindos da cozinha. Fui até lá e a vi guardando alguns de meus pratos de café da manhã na geladeira, enquanto, os outros colocava na pia.

Ela parecia muito concentrada em alguma coisa, nem percebeu minha presença na porta. Pensei em perguntar se queria minha ajuda, mas sabia que não aceitaria.

Sai, a deixando limpar minha bagunça e já estava indo para o meu quarto quando vi a TV da sala. Não sei como não tinha visto essa tela de sessenta polegadas dos deuses. Acho que estava distraído demais.

Sentei—me no sofá, pegando o controle remoto e pensando: Tomara que tenha TV a cabo.

Zapear pelos canais, procurando algo bom para assistir. E me peguei pensando se Bonnie iria gostar de me ver ali.

Ah, mas que se dane! Ela tem que se acostumar com a minha presença.

Acabei colocando em um documentário idiota sobre tigres. Só Deus sabe o porquê. Terminei de assisti—lo e Bonnie ainda estava na cozinha.

Senti um cheiro forte de tempero vindo de lá. E cara, era gostoso. Acho que fui igual àqueles personagens de desenhos, que são agarrados por um aroma invisível e arrastados até sua origem.

E lá estava Bonnie com um avental amarrado na cintura e mexendo algo em uma panela com uma colher de pau. Ela remexia o conteúdo com um pouco mais de vigor que o necessário e resmungava alguma coisa que não consegui compreender.

Não pude deixar de rir. E ela se virou, assustada.

— Não faça mais isso — disse, muito brava.

— Isso o quê? — perguntei de braços cruzados e sorrindo.

— Você sabe. Chegar assim sem fazer barulho.

— Desculpe, eu não tinha percebido. E aliás, o que essa panela lhe fez? — perguntei apontando para o objeto.

— Contente—se de que seja a panela e não você — murmurou com uma sobrancelha levantada.

— Uuui — fingi me encolher — Me dá até arrepios de imaginá—la me atacando com uma colher de pau.

Ela se limitou a me encarar e me remexi , incomodada com seus penetrantes olhos verdes.

— O que você tá cozinhando, aí? — perguntei erguendo o pescoço, tentando ver.

— Comida. Do tipo comestível.

— O circo a abandonou ou você apenas fugiu, Bonnie? — murmurei revirando os olhos — Eu vou ajudá—la.

Eu já estava quase dando a volta na bancada quando ela disse:

— Não! Quer dizer, não preciso da sua ajuda.

Ela parecia meio desesperada. Aquilo me fez rir.

— Quero apenas ajudar, BonBon — disse eu, sorrindo e indo para o lado dela, checando o conteúdo na panela. Era algo parecido com galinha ensopada e um monte de gororoba que não reconheci, mas o cheiro era divino.

Pude ver alguns legumes espalhados pela bancada da pia, cortados pela metade e outros inteiros. E havia temperos por todos os lados.

— Não precisa, Kai. Deixa que eu faço isso sozinha.

Tentei ignorar o arrepio que desceu por minha coluna quando ela disse meu nome.

Cruzei os braços para disfarçar meu desconforto.

— Bonnie, eu não tenho mais nada para fazer. E você sabe que eu não curto o tédio como uma pessoa normal. Então, o que precisa que eu faça?

Ela ficou me encarando.

Ficou assim durante alguns segundos, ponderando.

— Tudo bem! — exclamou erguendo as mãos para o alto em sinal de rendição — Você mexe o ensopado.

Eu sorri, me sentindo vitorioso. E comecei a mexer a sopa, enquanto ela cortava um tomate. E fiquei observando seus movimentos com a faca. Ela ficava sexy como o inferno segurando uma lâmina afiada.

— Sabe que tá cortando do jeito errado, né?

— Como se houvesse um jeito certo de cortar um tomate — resmungou ela, ainda concentrada na tarefa.

— Claro que tem.

— Qualquer idiota na face da Terra, sabe cortar um tomate, Parker — murmurou, praticamente esfaqueando o tomate.

— Pois é, você faz parte dessa pequena população — disse indo para seu lado com a menção de pegar a faca — Deixa que eu ensino.

Ela se virou abruptamente, com minha súbita aproximação. Suas mãos grudadas na bancada.

Senti o coração dela se agitar no meu peito. A estava assustando de novo, mas droga, eu não sabia como me aproximar dela sem a aterrorizar. Aquilo seria mais difícil do que eu imaginava.

— Ei, BonBon, eu quero apenas ajudar — murmurou, erguendo as mãos de forma que pudesse vê—las.

Bonnie me olhou desconfiada. E fiquei observando seu rosto, enquanto suas feições se acalmavam um pouco.

—  Ok — murmurou, oferecendo a faca, ainda desconfiada.

Revirei os olhos.

— Não adianta apenas me observar.

— E o que espera que eu faça? — questionou, desafiadora.

— Vire—se para a pia — disse eu.

— Por que? — perguntou cautelosa.

— Confie em mim — murmurei olhando intensamente em seus olhos.

Ela enrubesceu com seu coração batendo mais forte em meu peito. Ainda desconfiada, virou—se para a pia, olhando por cima do ombro.

— E agora, mestre cuca?

Eu cheguei mais perto dela, só uma nesga de ar separava nossos corpos. Ela enrijeceu com minha aproximação. Meu coração batia meio fora de compasso e saber que ela podia sentir isso me fez ficar mais nervoso.

Meus braços envolveram seu corpo com minhas mãos sobre as suas que eram tão pequenas. Senti a suavidade de sua pele macia.

— Agora — murmurei com meu rosto muito próximo ao dela — Corte o tomate devagar e em rodelas finas.

E mostrei o movimento.

Claro que eu não podia ignorar que estava muito perto dela. Sentia seu cheiro de jasmim invadindo meus sentidos e o calor de seu corpo me envolvia de um jeito que me deixava meio maluco. Minha respiração saía entrecortada. E meu coração parecia uma britadeira tresloucada.

Seu cabelo curto, roçava na minha orelha, fazendo cócegas.

— Tudo está na forma como você move o pulso — sussurrei em sua orelha. Pude ver a pele de seu ombro se arrepiar.

Será que eu a estava assustando tanto assim?

Apertei de leve sua mão em volta da faca. E senti seu coração batendo muito mais rápido em meu peito.

Depois que ensinei como se fazia a soltei rapidamente, voltando para o que estava fazendo antes.

Mas que merda está acontecendo?, pensei, um tanto fora de mim. O que essa bruxa idiota está fazendo comigo?

Foi como se todo o meu corpo estivesse queimando de um jeito esquisito. Essa sensação era meio parecida com o que eu sentia antes de matar alguém. Uma espécie de excitação e adrenalina.

Agora parecia mil vezes mais forte.

Depois que terminamos de cozinhar, almoçamos em silêncio. 

Aquele ensopado era uma coisa de louco. Maravilhoso! Mesmo que Bonnie não fosse muito gentil, eu tinha que admitir que ela cozinhava muito bem.

Depois, lavei a louça, enquanto, ela foi para seu quarto.

Passei o restante do dia sentado no sofá, fingindo assistir o que estava passando, quando na verdade só pensava na insuportável da Bonnie Bennett e seu cheiro delicioso de jasmim.

***

Já deveria passar da meia noite, quando subi para o meu quarto. Bonnie não havia descido para jantar. A porta de seu quarto estava fechada e não ouvi nenhum som vindo de lá.

Ela deve estar dormindo, pensei entrando no meu quarto. Tomei um banho e me joguei na cama.

Eu não queria dormir, pois sabia que eles estariam lá, me esperando em meus pesadelos. Entretanto, também não podia ficar acordado a noite toda. Respirei fundo e fechei os olhos tentando dormir.

E se passaram uma, duas, três horas e nada do sono vir. Revirei—me de um lado para o outro na cama. Até que decidi me levantar e beber um copo d’água. Talvez eu conseguisse dormir.

Abri a porta, passando pelo corredor e parei bruscamente na porta do quarto de Bonnie. Nem sei, porque fiz aquilo.

Fiquei observando os veios da madeira,  enquanto, uma idéia tentadora passou pela minha cabeça.

Para com isso, Kai!, a voz pessimista gritou para mim.

Eu continuei meu trajeto até a cozinha, porém, novamente, parei no meio da escada.

Vou apenas entrar rapidinho, pensei tentando me convencer. Ela nem vai saber que estive lá. Eu só preciso vê—la.

Nem pense nisso, garoto!, gritou a voz. Afinal, você detesta aquela bruxa metida!

Eu sabia que não estava agindo com meu juízo perfeito, mas a necessidade de vê—la me consumia de um modo que eu não conseguia explicar. Talvez fosse a força daquela união me atraindo para ela como um imã. Era inexplicável.

Nem pense nisso, ameaçou a voz.

Ah, vai à merda!, joguei as mãos para o alto irritada. Afinal, já vou para o inferno mesmo.

E com isso, subi as escadas apressado. Parei em frente a porta do quarto dela. Meu coração batia acelerado e lembrei que deveria acalmá—lo,  pois isso poderia acordá—la. Respirei fundo girando a maçaneta e... nada.

A porta estava trancada por dentro.

Claro que ela não dormiria com a porta do quarto destrancada, com um ex—sociopata dormindo no quarto ao lado.

Aquilo só podia ser o destino me dizendo que essa situação iria dar merda. Por isso, virei—me cabisbaixo indo para o meu quarto.

Quando toquei a maçaneta, lembrei de um feitiço de arrombamento que eu sabia. O diabinho sobre meu ombro sorriu.

Fiquei feliz por uns cinco segundos. Antes do meu lado Luke Angelical assumir.

Cara, isso é tremendamente errado, ele me julgou. Invadir o quarto de uma garota no meio da noite. Tá parecendo aqueles estupradores que passam na TV.

Como eu odiava ter assumido a personalidade do meu irmão. Principalmente nessas ocasiões. Quando eu era psicopata, não tinha nenhum tipo de preocupação com culpa e coisas erradas, mas agora, até o simples fato de roubar um chiclete me fazia sentir o pior ser humano do mundo.

Que nojo! Eu não vou estuprar a Bonnie, pensei que meu rosto corria. Quero apenas vê—la.

E porque quer vê—la?, questionou a voz maliciosa.

Nem eu mesmo sabia explicar isso.

— Ah, que se foda! — disse pra mim mesmo, indo até a porta dela.

— Phasmatus abertu — sussurrei.

E ouvi um clique abaixo como o de uma chave girando na fechadura. Quando girei a maçaneta a porta se abriu. Meu coração deu um tranco na hora.

Fica calmo, cara, disse para a minha pessoa alegrinha até demais.

Inspirei e expirei, tentando acalmar as batidas de meu coração e abrir a porta devagar.

O quarto estava escuro e pude notar que tinha o dobro do tamanho do meu. Na penumbra, percebi que haviam poucos móveis, que consistiam de uma poltrona, uma estante com livros, uma penteadeira e um espelho grande e antigo. Ainda sem falar na cama king size imensa, toda em madeira escura. A luz suave da lua entrava pela grande janela, iluminando fracamente o quarto. 

Então, pude vê—la.

Deitada de bruços na cama com travesseiros e lençóis espalhados loucamente a sua volta. O lençol havia escorregado de seu corpo, deixando—o totalmente à mostra.

Meu coração acelerou mais uma vez. Bonnie se mexeu levemente, mas não acordou.

Isso já é maldade, pensei, sem fôlego, vendo a blusinha curta dela que deixava a base de sua coluna à mostra. E sem falar naquela calcinha! Boxe azul e de bolinhas pretas, que rodava perfeitamente nas curvas de seu corpo.

Jesus, me ajuda, implorei, sentindo aquele fogo se espalhar por meu corpo.

Minha respiração estava fraca e descompassada.

Andei devagar até a lateral de sua cama, parando ao seu lado. Seu rosto estava virado em minha direção. Agachei—me sentando no chão de pernas cruzadas.

Bonnie dormia profundamente. Seu semblante parecia tão sereno, sem aquele ar de raiva e amargura constante. As sobrancelhas arqueadas e elegantes, a pele suave, o nariz pequeno, a boca carnuda e provocante.

Percebi que eu mesmo mordia meu lábio inferior. Senti meu rosto ruborizar.

Por vontade própria, meus olhos percorreram seu corpo de novo. Senti minhas veias em chamas outra vez.

Deus, como ela consegue fazer isso?, perguntei—me. Me provocar até dormindo?

Levantei e peguei o lençol, cobrindo—o até a altura das costelas. Tomando todo o cuidado de não tocar sua pele.

Sentei—me novamente no chão.

A mão dela estendida ao lado do rosto. Com cuidado para não acordá—la, coloquei minha mão sobre a sua, sentindo a maciez dela. E perguntei—me se o restante da sua pele era assim tão macia.

Bonnie suspirou e se remexeu, virando—se na cama.

Me apavorei, achando que a tinha acordado com meu toque, mas ela continuava dormindo profundamente. Apenas tinha voltado na minha direção deitada de lado. Suas pernas tinham escapado do lençol.

Você não está me ajudando, BonBon, suspirei, cobrindo—as novamente.

Segurei sua mão outra vez, deitando minha cabeça sobre o colchão com o rosto bem próximo ao seu, sentindo sua respiração em minha pele.

Como eu podia ter machucado uma criatura tão pequena, indefesa e linda como essa? Qual era o meu problema? Será que eu não conseguia enxergar a maldade no que estava fazendo?

Eu me odiei tanto naquele momento! Eu me mataria, antes de tocá—la de outro jeito doentio como aquele!

Pensei em tudo o que Damon me disse naquele dia. Sobre Bonnie precisar de carinho, porque se sentia sozinha. Eu nunca fui bom em demonstrações de afeto, mas por ela eu podia tentar ser melhor. Mesmo que ela me odeie.

— O que você está fazendo comigo, garota? — sussurrei, apertando meus dedos nos seus gentilmente — Estamos juntos não faz nem 48 horas.

Eu sei que estava escuro, mas podia jurar que vi um sorriso em seu rosto.

♡♡♡♡♡

Nota da Autora:

Oi lindos!

Acho que finalmente o Kai ta tomando ciência das coisas horríveis que ele fez pra nossa BonBon. Antes tarde do que nunca, não?

O que estão achando da história? Estão amando? Odiando? Comenta aí ^—^)

Beijinhos xxx. Até o próximo!

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