Na minha primeira vez no experimento, recém-iniciando meu treinamento na Fulehart, após o golpe que virou minha vida de cabeça para baixo, fui forçado a entrar na organização para sobreviver. A primeira leva de Host salvou minha vida, acelerando meus glóbulos ativos durante o incidente, mas infelizmente, resultou em efeitos negativos a longo prazo.
De todos naquela sala, fui o menos interessado em aprender uma técnica de MAO. Apesar da curiosidade, sempre fui incapaz de desenvolver habilidade. A equipe conseguiu se adaptar, talvez porque seus glóbulos não foram totalmente modificados por uma droga. Embora lamente as oportunidades perdidas, consigo me virar com o básico.
Todos engolem as pílulas; um calafrio os envolve, uma reação normal. Agora, estão começando a sentir o sangue correndo pelo corpo a uma velocidade assustadora. Logo, alguns pensarão que não há mais volta e que estão à beira da morte. Enfim, a Host de sempre.
Apenas três resistiram à pílula: a 450, Maya e o garoto que nos mostrou a sala de etiquetamento. Abro um sorriso ao ver que eles três resistiram, poupando-se de treinar tanto quanto os outros. Pode ser egoísta, mas é assim que penso. Corro até Maya e a abraço.
— Parabéns! — Ela se contorce um pouco, não parece gostar de abraços, então a solto rapidamente. — Você passou pela parte mais difícil do MAO! Isso significa que é muito forte.
— Oi, garoto do corredor. — Ela esqueceu meu nome.
— Meu nome é Alex.
— Eu sei. Só que te chamar assim é legal.
— Vou tentar acompanhar sua linha de raciocínio — digo, abrindo um breve sorriso, mesmo não compreendendo muito bem.
— Sempre me dizem que sou inútil, acho que não sou mais inútil agora. — Seus olhos se movem rapidamente, sempre focando no chão — Fiquei feliz quando me chamaram para fazer parte desse time. Tudo o que quero é viver de verdade.
— Você é tudo menos inútil. — Pego em suas mãos, mas percebo que ela não gosta de toque físico e largo, fingindo que nada aconteceu.
Sinto vergonha rapidamente. Afinal, acabei de conhecê-la e já estou apelando para o toque físico. Bom, não conheço novas pessoas há alguns meses, então acho que desacostumei.
Me distancio dela e vou até o rapaz que me apresentou o caminho da morte.
— Olá! — Aceno para ele, que fica com a cara fechada. — Parabéns por conseguir usar o MAO, você é muito resistente!
— Já aprendi como utilizar esta bruxaria misteriosa. — Ih, rapaz.
Ele direciona sua mão para mim; uma tremedeira começa em suas mãos, veias saltam, uma presença sobe no ambiente, um som grave aumenta. Isso só dura três segundos, e depois ele abaixa a mão e fica ofegante. Com certeza, não sabe usar sua técnica direito.
— Moço, sinto muito, mas não senti nada. — Falo pirraçando.
— É óbvio que sentiu. Parei aqui porque não quero te machucar!
— Ah, viu, vai avisando aí quando quiser me machucar. Entenda, aqui vamos lhe ensinar a aprimorar sua técnica, ok? Não precisa fingir.
— Mas não estou fingindo!
— Deve ser o efeito da Host que está deixando assim... — cochicho na intenção dele ouvir.
— Já tenho minha técnica pronta, só estou um pouco cansado.
— Cansado é sinônimo de destreinado para você? — Cutuco a onça.
— Sou treinado em muita coisa, principalmente em passar o rodo na sua família.
— Que audácia a sua, seu corno.
Os olhos esmeralda de Yuli aparecem no meio de nós dois.
— Fiquem quietos por pelo menos um segundo! — Seu olhar está mais sério do que o normal. Yuli começou a trabalhar. — Seu número?
— Bacee — falou o chifrudo. — Números são para idiotas. — É por pessoas como ele que a sociedade intelectual não avança.
— Preciso saber o seu número, por favor.
Ele fica desnorteado e levanta a camisa, mostrando o número 380.
— Pronto, 380, vem comigo até ali na frente, vamos lhe ensinar a utilizar técnicas de MAO.
— Meu nome é... — Ele suspira antes de xingar a quinta geração de Yuli — Beleza, estou indo.
— Obrigada. — Ele vai até lá na frente, eu e Yuli trocamos olhares e damos risadas.
— Como ele te obedeceu?
— Sou a pastora desses gados, falo e eles obedecem.
— Vantagens de ser uma adolescente no padrão de beleza. — Quando falo isso, ela me dá um soquinho no ombro.
— Ok, agora só falta uma pessoa.
— Oi! — 450 surge das cinzas, como se estivesse ficado invisível ali. Yuli salta devido ao susto. — Prazer, 450. Pode me chamar de Emanuela.
Emanuela estende a mão e abre um sorriso, diferente da expressão que fez para mim.
— Prazer, Yuli. — Vejo que minha prima abre um sorriso de satisfação enquanto aperta a mão de Emanuela. Ela prefere claramente os mais "educados".
— Já tinha conhecido o Alex antes, só não queria revelar meu nome. — Ela se inclina para mim — Desculpa.
Ela abre um sorriso bobo, que claramente demonstra vergonha.
— Tudo bem, eu acho.
— Ótimo, para compensar, vou me esforçar ao máximo nesses estudos. Achava que vocês estavam tendo uma crise esquizofrênica quando falaram de criar uma rebelião aqui.
Não a julgo, é normal enlouquecer aqui dentro.
— Beleza, está na hora da aula de vocês. — Yuli abre um sorriso genuíno. — Vamos, você gostará.
Emanuela nos acompanha até onde Alan está.
Os três estão alinhados horizontalmente, como uma fila de escola. Seus olhares estão concentrados e ansiosos. Lá atrás, pessoas com dor de cabeça e algumas se retorcendo no chão.
— Vocês três, Um, Quatrocentos e Cinquenta, e Trezentos e Oitenta. Com nomes informais de Maya, Emanuela e... — Ele cutuca Yuli, que cochicha o nome no seu ouvido. — Bacee! Foram os únicos que resistiram a uma dose de Host, adaptando-se facilmente à mudança brusca de velocidade. Logo, preciso fazer uma pergunta. O que vocês sentiram ao ingerir a substância?
— Estou sentindo calor interno, como se sua temperatura corporal estivesse aumentando. — Maya levanta a mão, enquanto seus olhos tremem. — Um leve formigamento nos músculos também. Ah, e o pior... dor de barriga. Estou preocupada, aqui não tem banheiro...
— Não se preocupe, não é... cocô. — Yuli se segura para não rir.
— Já eu senti uma dor de cabeça muito forte. — Bacee corta a fala de Yuli rapidamente. — Um arrepio na pele também. Além disso, as coisas mudaram de gosto e o ar está meio... pesado? Não sei explicar.
Emanuela espera Bacee falar e dá um passo a frente, com os braços cruzados.
— Sensações de formigamento e uma leve pressão, especialmente quando toco em algo. Nada de mais.
Durante a fala de Emanuela, Yuli estrala os dedos e flexiona os braços. As veias estão aparentes, músculos tensionados. Uma aura sobe, verde vibrante como folhas. Seus olhos brilham, cabelo mais vívido. Seu rosto adquire tonalidade rosada, e o ar ao seu redor fica pesado.
Todos ficam perplexos, observando a presença assustadora de Yuli. Seus fios flutuam como puxados por uma fonte de estática. Pés cravam no chão, corpo vibrante.
Em um só vulto, todo o ar denso se dissipa, e a aura do Taiwo se desintegra. Ela parece um pouco cansada, mas não quer mostrar. Logo, volta a falar.
— O que viram é o Taiwo, uma forma básica e rápida de melhorar o desempenho de vocês. Podem criar suas técnicas somente dessa base, mas antes, quero que conheçam as outras duas formas de utilizar o MAO. Maya despertou este tipo, devido às suas sensações internas.
Maya abre um sorriso, ainda confusa.
Noah dá um passo à frente com seu sorriso sincero, junta as palmas e flexiona os músculos. Aura prateada se origina acima de seus dedos. Uma brisa se dissipa em ventania, gelando rapidamente o ambiente. Em cinco segundos, pequenos flocos de neve se formam. O lugar está mais gelado.
— O Kaiwo...
Noah olha para Alan na esperança de continuar, mas recebe um olhar de "Continue!".
— Bom, é basicamente quando podemos alterar o estado exterior da matéria, aumentá-la, diminuí-la, controlar a temperatura, estado, movimentá-la, adicionar propriedades... essas coisas. Kaiwo não cria nada, e sim, transforma. Como transmutação, entendem?
Sua energia gira ao seu redor com uma aura frígida, agora, se dissipando de uma vez só.
— Mas, para ativá-la, uma série de gatilhos são necessários dependendo de sua complexidade. Não os revelem, para seu próprio bem. Minha técnica é simples, mas multiúso, então meu gatilho tem uma relação direta com essa propriedade. O Bacee despertou ela, devido às sensações externas.
Não sei o seu gatilho diretamente, e muito menos o de Alan. Tenho noção de que, sempre que Noah utiliza sua técnica, junta as palmas das mãos e tem sua pele esbranquiçada. Já Alan, é como se fosse automático, natural. Há certos momentos que realiza movimentos em específico, mas não é nada cotidiano.
— Perfeito. — Alan diz. Noah abre um sorriso largo, sabendo que sua explicação foi boa — E por último temos o Baiwo, a mais interessante que podem aprender.
Toli dá um passo à frente e estende a prótese, sem a luva reguladora. As sombras consomem a prótese incessantemente. Têm toque granulado, como pequenos grãos de areia sucumbindo à escuridão.
— KA, TA, NA, WO!
As sombras se esticam em linha até Bacee. Seu corpo é enroscado, imobilizado, tapando sua boca.
— Baiwo é uma ramificação que abrange todas as técnicas imagináveis. Basicamente, você tem um objeto especial, fala algumas sílabas, consegue fazer o que quiser. Parece prático, mas não é. Os gatilhos são mais metódicos, e sua mente deve estar totalmente conectada ao objeto. Se o perder, será difícil se adaptar a outro. Baiwo é canalizar emoções internas, muitos não conseguem fazer isso. Emanuela despertou, já que a pele ficou sensível aos objetos ao redor.
— Pronto, agora pode soltar ele. — Alan ri de desespero, sabendo que Toli não tem medo de machucar Bacee. Eu queria que quebrasse aquele chifre dele.
— Mas já? Poxa, ele fala tanto. — Assim que se faz! No final, Toli tira as sombras dele. Uma pena, diria.
— É isso. Agora que expliquei tudo, qual será a técnica de vocês?