Acordei sobressaltado de mais um pesadelo onde via a minha mãe morrer na grande guerra.
— Micael o que se passa? Tiveste um pesadelo? — perguntou Ravi.
— Não é nada pai, desculpa ter-te acordado. — desculpei-me.
— Não acordaste, na realidade o que me acordou foram os líderes, eles precisam da minha ajuda fora da base. Vim aqui despedir-me de ti, vou ficar uns tempos fora. — diz Ravi com um olhar infeliz no rosto.
O meu coração começou a bater muito depressa e lembrei-me de todas as vezes que alguém saía do campo era difícil de voltar vivo.
— Pai, não vás. — imploro quase a chorar.
— Micael, tem de ser. É para o bem da base. Já tens oito anos, quase nove tens de compreender que a base é mais importante do que qualquer outra coisa até do que nós mesmos. — respondeu Ravi.
Eu engoli o choro e fiquei atento às palavras do meu pai.
— A Rosanna e o Yuri vão tomar conta de ti enquanto eu estiver fora. Já sabes que pode demorar muito tempo... — começou Ravi a dizer com um suspiro.
— Quanto tempo pai? Quanto tempo pode demorar? — pergunto eu desesperado.
— Pode demorar até três anos ou mais. — respondeu Ravi e abraçou-me com força.
— Amo-te pai, por favor volta para junto de mim. — pedi eu triste e libertei-o.
— Também te amo muito meu filhote. — responde Ravi e sai rapidamente.
Vejo o meu pai a ir-se embora e sinto um vazio no peito, esta noite iria ser sombria, vazia e escura.
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Um total de três anos se passaram, na escola eu era chamado de parvo, chorão, órfão, o sem pais, todos os nomes horríveis que possam imaginar.
Por ser um dos melhores da turma essas ofensas tornavam-se cada vez mais recorrente por inveja do meu sucesso.
Uma das poucas pessoas que parecia ter empatia comigo era o Xavier, um garoto órfão que também sofria de bullying por ter os pais traidores.
Eu aproximei-me dele e disse:
— Olá, sou o Micael, mas acho que já sabes isso visto sermos da mesma turma.
— O que queres de mim Micael? Vieste aqui para me chamares nomes e dizeres que sou filho de traidores e que não devia estar aqui? Já ouvi muito disso não preciso ouvir mais, ainda para mais de um órfão. — ataca-me Xavier sem sequer me ouvir.
Ao ouvir as palavras dele senti um baque no peito, mas mantive-me no lugar.
— O que estás ainda a fazer aqui? Desaparece. — manda Xavier com amargura.
— Não vou a lado nenhum. Eu e tu somos os melhores da turma, ambos sofremos abusos da turma toda por causa dos nossos pais e dos destinos cruéis deles. Eu quero ser teu amigo. Não queres ter amigos? — perguntei eu com confiança, mas com medo de ser mandado embora.
Xavier observa-me de perto e diz:
— Quero muito ter amigos, mas não sei o que é amizade.
— Bom, eu diria que amizade é estar sempre presente nos melhores e piores momentos e ajudar mutuamente. — digo eu.
— Eu quero formar um grupo. — diz Xavier.
Na altura pensei que um grupo seria ótimo porque seriam mais pessoas para se juntarem a nós e para sermos amigos.
— Ótima ideia, mas quem se iria juntar a nós? — perguntei eu.
— Aqueles dois. — responde Xavier a apontar para um canto da sala onde dois jovens estavam a ser vítima de risos e piadas.
— Vamos ajudá-los. Rápido. — digo eu sem pensar duas vezes.
Aproximamo-nos deles e vemos que um dos rapazes está no chão e a sangrar do nariz.
— O que estão a fazer? Já estão a ir longe demais! Daqui a uns meses fazemos doze anos e vamos parar de ser considerados crianças! — disse eu em tom de reprovação.
— Cala a boca seu bebê chorão órfão. — disse Rafael e empurrou-me.
Eu caí no chão e de repente ouço um baque e um grito.
Olho em volto e vejo Xavier com um ar enfurecido com uma cadeira na mão, Rafael no chão agarrado à cabeça e os amigos dele a ladearem-no para o ajudarem.
Xavier largou a cadeira e ajudou-me a levantar, infelizmente assim que largou a cadeira deixou uma abertura para que os amigos de Rafael reagirem de maneira bem violenta.
Agarraram no Xavier e atiraram-no contra as mesas e cadeiras da sala fazendo-o bater com as costas com força e soltar um grito de dor.
— Xavier! Larguem-no seus cobardes! — grito eu e atiro-me a um deles que me deu um soco em cheio no nariz fazendo-me ver estrelas e um borrão começou a formar-se nos meus olhos.
Antes de ir ao chão e desmaiar vejo o Xavier a cair no chão sem reagir, a sangrar da boca e do nariz.
Nesse momento eu percebi que tínhamos de nos aprender a defender contra este tipo de monstruosidade e as melhores pessoas para nós ajudarem eram sem dúvida alguma o Yuri e a Rosanna, uma vez que, trabalham na biblioteca e nos conseguiam arranjar todos os livros que quiséssemos para nos defendermos.
*****
Primeiro capítulo criado!
Aposto que ninguém estava à espera disto!
Muitos de vocês conhecem o grupo do Xavier como os monstros que eles eram, mas nunca souberam o que lhes aconteceu e aqui está.
Um início sombrio para a nossa história. O que será que vem depois?