Flor da meia-noite

De ThalitaFagundes

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Dizem que quando estamos prestes a morrer, um filme da nossa vida passa na nossa cabeça. Mas não foi bem isso... Mais

1. Brisa de (i)realidade
2. Adina Hale?
3. Ninguém gosta de quem sabe demais
4. O que é ser um humano, afinal?
5. Visitas do passado
6. Asas. Magníficas... asas
7. Doses e algum Caído para acompanhar
8. A historia toda? Acho que não
9. Sofrimento adora companhia
10. Ligações perigosas
11. Quase uma rainha
12. Um adeus, a coroa, e o mestre
13. Barreira
14. Qual o seu tipo de psicose?
15. Anjos do FBI
16. Vamos esclarecer as coisas
17. Anjo da guarda?
18. Adina Hale
19. Um baile de máscaras é sempre um bom lugar para expor alguém
20. Não desista de mim de novo
21. O Mestre mente
22. Ache os Arcanjos. Mate Jordan Benacci
23. Marie Blake
24. Cinco minutos
25. Vamos jogar
26. A rainha do baile
27. Adina de Riverland
29. A chave
30. Vingança é um prato que se come frio
31. Primeiro você sonha...
32. ... depois morre
33. Isso é magia, Allyson
34. Amor, eu so sirvo pra despedaçar o seu coração
35. Hora de voltar pra casa
36. Lar, terrivel lar
37. Não minta para um mentiroso
38. A nova ordem da esperança
39. Amor. Uma palavra cortante.
40. Pandemônio
41. Vida cega e inconsciente
42. O cadáver de Allyson Hale
43. Colcha de retalhos
44. Antes do pôr do sol
45. Eu sei o que você fez no verão passado
46. Terra Prometida
47. Ainda estou aqui

28. A última dança

30 6 1
De ThalitaFagundes

Há muitas praias no estado. A de Beach Valley, provavelmente, é uma das menos populares, razão pela qual, é claro, é uma das preferidas de minha mãe. O mar aqui é mais forte que em Willard ou em Sunset End. Não sei ao certo por quê. Não me importo, sempre fui uma boa nadadora.

Depois daquela primeira vez, quando minha mãe soltou minha cintura e senti ao mesmo tempo o pânico crescente, a empolgação e o entusiasmo, aprendi bem rápido, e aos seis anos eu já estava nadando sozinha depois da arrebentação.

Há outras razões pelas quais as pessoas evitam a praia em Beach Valley, embora fique bem perto de Promade Park, um dos parques mais populares, a praia não passa de uma faixa estreita de areia com pedras e cascalhos.

Não me sinto nervosa até chegar à praia. Apesar de o sol estar baixando atrás de mim, ele ilumina a água e faz tudo brilhar. Protejo os olhos da claridade e vejo David perto da água, uma longa pincelada escura naquela vastidão azul.

Volto à noite anterior, aos dedos de uma de suas mãos tocando minhas costas com tanta delicadeza que era como se eu estivesse sonhando, e sua outra mão segurando a minha, seca e confortante como um pedaço de madeira aquecido pelo sol.

Ele está de costas para mim, olhando o mar, e eu fico feliz. Sinto-me pouco à vontade ao descer os degraus instáveis e corroídos pela maresia que levam do estacionamento à praia, parando para desamarrar e tirar os tênis e pegá-los com uma das mãos. A areia está morna sob meus pés descalços enquanto caminho em sua direção.

Há outras quatro pessoas na praia: uma mãe com uma criança, a uns trinta metros de distância, a mãe sentada em uma cadeira dobrável de tecido desbotado, com o olhar perdido no horizonte, enquanto a menina, que provavelmente não tem nem três anos de idade, brinca nas ondas, ela é derrubada, solta um grito (de dor? de prazer?) e se esforça para se levantar. Mais adiante, um homem e uma mulher caminham juntos.

E então me aproximo de David, que se vira, me vê e tenta sorrir. O sol reflete no cabelo dele, deixando o castanho um pouco mais claro por um instante. Em seguida, ele volta à cor normal.

— Oi — Diz ele — Que bom que você veio.

Sinto-me tímida de novo, idiota, segurando meus tênis gastos em uma das mãos. Posso sentir minhas bochechas se aquecendo, então olho para baixo, solto os tênis e os viro com o dedão do pé. Qual é Ali, ele é só mais alguém que faz parte do plano.

Trago as pernas até o peito, apoiando o queixo no joelho. David deixa um bom espaço entre nós, quase um metro, posso imaginar o porquê. Ficamos em silêncio por alguns minutos. No começo, busco desesperadamente alguma coisa para dizer. Cada segundo de silêncio parece estender-se infinitamente, e eu tenho a certeza de que David deve pensar que sou muda. Mas então ele pega uma concha parcialmente enterrada na areia e a joga ao mar, e eu percebo que ele não está nem um pouco desconfortável. Depois disso, relaxo. Sinto-me até feliz com o silêncio.

— Sei que ouviu o que eu disse ontem.

— É, eu ouvi.

— Então porque me ligou?

— Na verdade, eu não sei — Ele se vira novamente para o mar e fica assim por mais algum tempo — Por quê? Por que a Hazel?

— Tenho que perder os vínculos com a Allyson, varrer a sujeira.

— Você erra — Ele diz — Eu gosto de você, Ally, mas você erra ao achar que mesmo... Não sei. No fundo você sabe que não precisava matar ela.

— Já está feito — Sussurro — A Hazel já era. Ah David, você já passou por isso, já teve a sensação de se sentir invencível.

— E aí você me salvou.

— Não se pode salvar alguém que já está bem demais. Adam ajudou você e olha como agradece.

— Não devo nada ao Adam, devo a você.

— Ótimo — Ficamos em silêncio de novo e eu penso se falo ou não sobre a lembrança da Adina, ele devia saber dessas coisas. Ele sempre sabe.

Noite do Baile
Hazel

— Zack! — Grito com todo o ar que consigo juntar nos meus pulmões e corro — Zack, onde você está?

— Hazel — Escuto sua voz fraca saindo de uma sala escura e vazia.

Sigo o som e o encontro jogado em cima de uma carteira. Ele está sangrando, mas permanece sentado, olhando para a lousa atrás de mim. Então me viro.

"Surpresa! Bem-vinda ao nível 2"

Era o que estava escrito, apenas isso, com a caligrafia da Allyson. Sinto a raiva crescer dentro de mim e corro em direção ao humano, tirando ele de lá e o colocando no banco de trás do carro.

— Eu não vou conseguir te curar — Digo em prantos depois de longos minutos dirigindo pela noite — Sou inútil pra você agora.

— Não se preocupe comigo, você chegou a tempo.

— Como sabe?

— Biologia é a única matéria que eu sou bom — Rio pelo nariz e estaciono o carro — Allyson é esperta.

— Sim, muito esperta — Resmungo enquanto abria a porta com Zack escorado em mim.

Eu estava fervendo de raiva por dentro, com raiva da Allyson, e do que ela tinha se tornado. Queria matá-la, mas precisava lembrar que aquela não era minha amiga de verdade. Era tudo culpa do Adam, era ele quem eu deveria matar, e destruir tudo o que ele já tinha feito pra mim.

— Caramba, isso tá doendo.

— Eu sei, amor, eu sei — Seco as lágrimas enquanto corro pelos armários a procura dos meus remédios caseiros. Eu poderia entregá-la a polícia, ela seria levada presa e até acharmos um jeito de reverter a situação, ela não podia tramar joguinhos – Ainda não entendi, por que deixar você vivo? Por que me dizer onde estava? Tá muito fácil.

— Talvez lá no fundo ela ainda esteja lutando.

— Talvez.

Deixo tudo em cima da mesa e começo a limpar o local machucado, embora minhas mãos não parassem de tremer. Eu mal sabia o que estava fazendo, as lágrimas embaçavam minha visão, mas consegui terminar e cobri tudo com a gaze.

— Ah Hazel... — Zack percebeu que eu chorava baixo e pegou minha mão.

— Você não tem nada a ver com isso, absolutamente nada, e olha o que aconteceu. Eu nunca deveria me envolvido assim, você é humano, onde eu estava com a cabeça?

— Não é culpa sua.

— Tem razão, a culpa é do Adam — Me levanto limpando a mão em um pano e me aproximo um pouco mais dele sorrindo, que já vestiu a camisa novamente, encaro seus olhos pela primeira vez depois que o peguei na escola, e estava pronta para beijá-lo.

Então um frio sobe pela minha espinha.

— O que foi, Hazel? — Ele está sorrindo, mas não movo um músculo sequer — Não gostou da nova cor?

— Não... você também não.

— Obrigada por cuidar de mim, mas agora eu tô no jogo — Zack aperta a mão em volta do meu pescoço e eu perco o ar. Ele me empurra de encontro ao balcão — Quem diria, morrendo pelas mãos de um simples humano, tantos anos pra acabar assim, não é mesmo?

— Zack, para com isso — Minha voz sai fraca e falha.

Tento, em vão, me soltar, mas sem meus dons eu continuo inútil. Zack me joga em uma cadeira e pega um daqueles braceletes de plástico, daqueles que os avós geralmente usam nos jardins e o trava ao redor dos meus pulsos.

— Zack...

— Ei, calminha, não é como se já não tivéssemos feito isso.

Me assusto quando ele surge na minha frente, depois de vasculhar os armários, com uma embalagem de álcool nas mãos, jogando boa parte do conteúdo em mim, me ensopando, o cheiro invade o lugar e quase fico tonta. Logo depois ele tira um isqueiro do bolso, aproximando do meu rosto. Ah merda.

— Não precisa ter medo, até parece que vou deixar isso acabar tão fácil e rápido — Zack travou o isqueiro para não apagar e o deixou no chão. As chamas dançaram diante dos meus olhos.

— Não precisa fazer isso.

— Mas eu quero — Ele sorri e espalha o resto do álcool pelo chão, ao redor de onde estou sentada. Ele esbarra o pé no isqueiro, deixando-o se virar no chão — Boa sorte — O fogo está perto do álcool, perto do círculo.

— Zack! — Gritei apavorada enquanto ele se afastava de mim, discando números no celular — Por favor!

— Tá feito — Ele diz para quem está do outro lado da linha e sai da casa, fechando a porta em seguida.

O fogo se aproxima. Queima meus olhos.

Jordan

Era o fim. Eu estava sozinha, e não queria acreditar que Hazel estava morta, mas quando vi Zack junto com Adam e Eve na entrada da hidroelétrica no dia seguinte, minhas esperanças foram pelo ralo. Allyson não estava lá, nem a Jessica, e nem mesmo o David. Senti a raiva crescer dentro de mim quando finalmente percebi que fui traída. Allyson se aproveitou da sedução para agarrar David para o lado dela, de novo.

— Boa tarde, Caída — Adam disse sorrindo e entrei junto com eles para aquele lugar escuro e fedido — Que honra.

— Vim falar com você, sozinha.

— É claro — Ele sorriu e dispensou os dois, se sentando em uma mesa. Aquela mesma mesa do dia em que me torturou me fazendo ver a expressão da Allyson mudar de um segundo para o outro, me fazendo ver a cor de seus olhos mudarem.

— Me diga o que pretende com ela, eu te darei qualquer coisa se me prometer não a machucar.

— Ah, mas eu não vou tocar na Allyson, Jordan, não até obriga-la a te matar — Adam sorri, mas não um sorriso comum, é sombrio, macabro — Devagar, e intimamente, vou fazê-la lembrar de todas as vidas que ela passou com você e distorce-las. E depois vou fazê-la acordar a tempo o bastante pra ver o trabalho que fez, e quando ela gritar, a cabeça dela vai partir ao meio, e tudo o que conquistamos poderá ser levado adiante. Vamos completar a tríplice e vou conseguir tudo o que queria antes de tudo ser tirado de mim. Então só depois disso, vou matá-la. É isso o que vou fazer com ela, Jordan. Esse é o jogo.

— Por quê? Por que tudo isso? Eu não entendo.

— Era tudo pra ser meu! — Adam se exalta e bate na mesa — Eu era o preferido da Marie, ela me treinava para comandar depois do Peter, e aí a Allyson cresceu majestosa e roubou toda a atenção pra ela. A atenção da escola, a atenção da Marie, a atenção de todo mundo. Ah, como a Ally é linda e perfeita. Mentira!

— A culpa não é dela. Foi uma maldição.

— Ela não te contou? — Ele ri — Maldição? Não, não, realmente a culpa não é dela, a culpa é da Kaleesa. Era pra Adina ter morrido aquele dia e aquela Bruxa interferiu, e olha só quem ela segue agora. Todos sempre acabam me seguindo.

— Kaleesa? O que ela não me contou?

— Hans? — Ele diz, e um cara enorme surge na porta.

Eu sabia que podia dar conta de um Nephilim, mas com certeza teriam outros, e Adam quis deixar bem claro que eu estava sozinha.

— Isso ainda não acabou — Digo com sangue nos olhos.

— Tenho certeza que não.

Allyson

— Lembro que minha mãe biológica me trouxe aqui uma única vez. Agora me lembro de tanta coisa – Suspiro – Lana disse que ela era uma tia distante e me deixou passar um dia inteiro com ela. Ela me balançava na água, na altura de seu quadril. E, então, uma só vez, ela simplesmente me soltou. Quer dizer, não totalmente. Eu estava com aquelas boias infláveis nos braços. Mas fiquei tão assustada que berrei desesperadamente. Eu só tinha alguns anos, mas lembro, mesmo depois de Adam ter roubado algumas de minhas memórias, juro que lembro. Fiquei bastante aliviada quando ela me pegou. Mas... mas também decepcionada. Como se tivesse perdido a chance de fazer algo incrível, sabe?

— E o que aconteceu? — David inclina a cabeça para olhar para mim — Você descobriu a verdade e sua mãe adotiva a proibiu de vê-la? — Ele está sorrindo, e um nó se forma na minha garganta.

Desvio o olhar, voltando-o para o horizonte. A baía está relativamente calma hoje. Lisa, repleta de tons de azul e de roxo enquanto a água recua da praia com um leve ruído de sucção. Inofensiva.

— Ela morreu — Respondo, surpresa com a dificuldade de dizer isso. David fica quieto a meu lado, então continuo: — Ela se matou. Quando eu tinha quinze anos.

— Sinto muito — Diz ele, tão baixo e suave que quase não ouço.

— Não importa, ela era louca mesmo.

Dizer a ele que ela na verdade foi empurrada precipício abaixo não pareceu certo pra mim. Eu já trazia tragédias demais comigo, repassa-las pra outra pessoa não era bem o que eu planejava.

— Ah, eu já ia esquecendo, você saiu cedo ontem — Ele pega uma coisa dentro de uma mochila ao seu lado e o sol bate no objeto, o fazendo brilhar. Acho que ele não queria pesar o clima dizendo que na verdade ele mesmo ajudou Hazel e Jordan a me tirarem da festa à força — Mas o resultado ainda saiu. Parabéns, rainha do baile.

— Ahm... eu já deveria ter me acostumado com isso — Rio e ele coloca a coroa em minha cabeça, estava linda aquele ano, logicamente. Me senti meio chateada ao pensar que aquela era minha última coroa.

— Você ainda me deve aquela última dança.

— Achei que não queria mais olhar na minha cara.

— É uma honra ser usado por você — Eu rio quando ele me levanta da areia — E sei que lá no fundo você tem algum tipo de sentimento humano, não sou de perder as esperanças fácil.

Apesar de não gostar nada das intervenções de Adam, admitia que estava precisando de uma agora. Parecia que Allyson estava querendo voltar e eu não podia deixar isso acontecer, precisava curtir o meu momento na luz.

— Mas eu matei a Hazel.

— E eu vou te salvar, Allyson.

David coloca uma música no celular e eu sorrio quando reconheço o começo dela, era Angel, do The Weeknd. Uma de suas mãos vai para as minhas costas e com a outra, ele me conduz. A areia estava pesada sob meus pés, mas naquele momento me senti leve como se dançasse em cima de uma nuvem.

Me aproveito da sensação que aquele abraço me trazia, uma sensação de solidez, me senti humana em muito tempo, assim eu percebi que tinha que parar antes que seja tarde demais.

— Eu preciso ir.

— Ally.

— Eu disse que não podia fazer isso com você, David, e falei sério, você só vai me distrair e tenho que levar isso adiante. A Jordan vai morrer, e nada que você disser vai impedir isso.

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