No alto da parede da sala de aula tem um relógio. Estou parada observando-o a sete minutos — tempo em que acabei a prova e recolhi meu material, aguardando a autorização para sair da sala. Meu pé bate constantemente contra o chão num tic nervoso. Distraio-me do relógio, passando o olhar pela minha folha de respostas. Droga! Acho que a um era "b" e eu marquei "d".
Bufo, arrependida de não ter feito a prova com mais calma. Estou com medo do resultado e já me sinto meio decepcionada comigo mesma. Droga de sentimento ruim!
— Muito bem, pessoal! — a tutora diz, chamando nossa atenção — Quem já acabou a prova e quiser sair, sintam-se à vontade, apenas confiram se preencheram seus dados corretamente e me entreguem a prova. Os demais, fiquem tranquilos! Vocês ainda tem tempo.
Me levanto com calma, recolhendo minhas coisas. A mulher é paciente conosco e tem um sorriso educado, lhe entrego minha prova agradecendo e ela me entrega meu celular, guardado num plástico de volta.
Ano passado, a mulher que foi responsável por ficar conosco durante a prova tinha um olhar de carrasco. Me distrai vezes demais, temendo que ela olhasse fixamente para mim outra vez. Era assustador. E idiota, eu sei.
Durante a prova fiquei com tanto medo de fracassar que acabei fracassando. Depois, fiquei culpando a mim mesma, odiando-me e me sentindo incapaz. Dei tudo de mim e ainda não consegui. Me senti inútil.
Espero que esse ano seja diferente.
Quando finalmente saio do prédio, respirando um pouco de ar fresco, ligo meu celular e mando mensagem para Sakura.
"Posso te ligar?"
Em seguida, começo a caminhar até a rodoviária. Precisei ir até a cidade vizinha para fazer a prova e agora preciso pegar o ônibus de volta para casa. O percurso é mais longo, mas pelo ou menos serve para pensar melhor e quem sabe me livrar dessa ansiedade, mas acho que ela vai me acompanhar pelas próximas semanas.
"Você sabe que sim." — Ela responde.
"Eai?! Como foi a prova" — ela manda em seguida — "Quer saber, eu mesma ligo"
Assim que termino de ler a mensagem, o ícone de chamada aparece na tela. Sorrio um pouco, sentindo-me aliviada quando ouço a voz de Sakura.
— Eai, amiga? Estava difícil? Ta' muito nervosa ainda? Acha que foi bem?
— Se acalma, Saky! — peço, achando graça o fato dela ficar tão nervosa quanto eu. — Estava difícil sim. Meu estômago está dando voltas desde que acordei pela manhã e a última pergunta, eu realmente torço para que sim.
— Eu tenho certeza que sim. — ela responde, imagino-a sorrindo.
— Você também tinha essa certeza ano passado.
— Boba! — ela murmura em tom de reprovação — Aonde você está? Já pegou o ônibus?
— Ainda não. — afasto o celular do ouvido, olhando as horas — Daqui a pouco o ônibus sai, já estou quase chegando.
— Você devia ter pedido uma carona ao seu pai. — ela diz.
— Não queria incomodar.
— Ou a Naruto. — ela continua falando.
— Já disse que não queria incomodar. — Comprimo os lábios, torcendo para que ela mude de assunto.
Não suportaria falar sobre Naruto. Não com ela e não agora.
As cenas de alguns dias atrás ainda passam pela minha cabeça.
"Eu te amo"
— Hina, você ainda está ai? Ficou muda de repente.
— Estou sim. — murmuro.
— Eu perguntei se nós vamos sair hoje a noite ou se você vai ficar com o Naruto de novo.
— Você!
— Que? — ela pergunta, parecendo estar meio confusa — Eu?
— Sim, faz tempo que combinamos de sair só nós duas e isso nunca acontece.
— Tem razão! — ouço o som de um sorriso — Toma cuidado na volta — ela aconselha — Te amo, maninha!
— Também te amo! — respondo, sorrindo e desligo a ligação.
Já estou na rodoviária, compro minha passagem e espero na fila para ingressar no ônibus. Olho para a tela do celular, piscando com a chegada de uma nova notificação.
"Como foi a prova, lua?"
"Precisamos conversar, por favor"
"Me responde"
Desvio o olhar da tela e subo no ônibus, agradecendo por ter um lugar vago perto da janela. Me sento e abraço minha mochila, apertando o celular entre os dedos. Fico alguns minutos imóvel, pensando em como responde-lo.
"Mais tarde conversamos" — mando e em seguida conecto os fones de ouvido, distraindo-me do mundo ao redor, enquanto o ônibus arranca do lugar e com certeza, Naruto está péssimo, esperando por minha resposta.
Eu juro, juro mesmo que queria tê-lo respondido na hora. Quando "eu te amo" saiu de seus lábios, senti como se as palavras fluíssem como carinho em mim. Me senti tocada, meus olhos marejaram e eu abri e fechei a boca inúmeras vezes, sem som algum sair. As palavras entalaram-se dentro de mim, paralisadas. O sentimento bom sendo substituído por medo.
Os olhos azuis de Naruto brilhavam, lágrimas acumularam-se no canto de seus olhos e eu continuei muda.
Com um "eu também te amo" preso na garganta.
Mas, não disse nada.
O sentimento arrebatador me fez recuar e ficar calada. Então, ele esperou ansiosamente por uma resposta e eu não a dei. A primeira lágrima escorreu dos meus olhos e mesmo depois de minutos, eu ainda estava como uma idiota abrindo e fechando a boca inúmeras vezes.
"Tudo bem, não precisa responder, Hinata" — ele disse desviando o olhar.
Me levantei do banco, dando alguns passos para trás. Desespero corroendo-me por dentro.
"Eu... Eu... Preciso ir para casa" — Falei, brincando nervosa com os dedos. Eles estavam tremendo. Agarrei a alça da minha mochila com mais força.
"Tudo bem, eu te levo" — Naruto também se levantou, puxando a guia de Kurama.
Neguei com a cabeça.
"Eu preciso pensar, Naruto. " — disse com seriedade. Eu também sentia o mesmo por ele, sabia disso. Mas, ainda sim estava sendo difícil. Por que eu não conseguia responde-lo? — "Depois nós conversamos" — eu disse me afastando, nem sequer dei a ele chance para retrucar. Ele não insistiu.
Não conversamos depois disso.
Minha cabeça estava confusa demais. Estava lidando com a frustração da minha mãe em conseguir um emprego, Hanabi sentia falta do nosso pai em casa, havia meu emprego e ainda haviam meus estudos. Agora eu precisava lidar com o "eu te amo" inesperado.
Eu sentia o mesmo que ele. Isso era um fato. Mas, naquele momento eu não conseguia lidar com a confusão de sentimentos que sua confissão causou em mim.
Eu só precisava pensar. E respirar.
Quarenta minutos naquele ônibus passaram-se voando e quando eu menos espero, dou de cara com Sakura, esperando por mim na rodoviária.
— Não precisava....
— Não venha dizer que não queria incomodar. — ela me corta, vindo me dar um abraço.
— Tudo bem. — retribuo seu abraço, dando espaço para outras pessoas passarem.
— Você já almoçou? — ela pergunta se afastando — Que pergunta besta! É claro que não almoçou. Vem! — ela segura minha mão.
— Acho que não quero comer nada não. — passo a mão pelo estômago — ainda estou enjoada.
— Isso é por causa da ansiedade! Mas, mais tarde vai sentir fome e não é nada saudável ficar longos períodos sem comer. Você tomou café?
— Comi umas bolachinhas no caminho.
— Hinata! — Sakura para, colocando as mãos na cintura — Não sei o que eu faço com você, hein! A tia Hana deixou você sair assim?
Coço a nuca e em seguida aperto as alças da mochila com força.
— Não sou mais criança. Minha mãe não precisa ficar em cima de mim a cada coisa que eu faço.
Sakura nega com a cabeça e continuamos a andar.
— Ela ao menos sabe que você foi de ônibus ao invés de pedir uma carona para o seu pai?
Comprimo os lábios, demorando um pouco para responder.
— Ela sabe que você foi?...
Balanço a cabeça para os lados.
— Você não contou para ela que seria hoje?
— Contei. — afirmo — Contei para as pessoas que eram importantes para mim — falo, me referindo a minha família, Sakura e Naruto — mas, acho que ela esqueceu.
— Eu não acredito nisso, Hina! — Sakura me para, parecendo estar chocada. — Não acredito que ela esqueceu.
— Está tudo bem. — digo, voltando a caminhar. Sakura dá uma corridinha para me alcançar — Tem muita coisa acontecendo, é difícil dar conta de tudo ao mesmo tempo. Imaginei que ela pudesse esquecer.
— Mas, isso é importante para você, não é?
— E daí?! Eu fiz a prova, não fiz?
— Mas, ela é sua mãe, ela deveria ter te apoiado.
— Sakura... Ela sempre me apoiou. — olho para ela, tentando faze-la entender que está tudo bem — Okay, ela nem me notou sair de casa hoje, mas durante a vida toda ela me incentivou a isso. Está tudo bem. — repito.
— Se você diz. — ela da de ombros, não parecendo estar convencida. — Eu estava torcendo por você.
— Sei disso. — sorrio — Obrigada — agradeço, me lembrando das mensagens de incentivo que ela me mandou a manhã toda, sem contar com as inúmeras vezes que ela me ajudou a estudar. — Você é demais!
— Eu sei! — ela sorri também — Agora precisamos comprar algo para você comer e depois vamos tomar milk shake.
(...)
Termino de comer meu sanduíche natural e embolo a embalagem para joga-la fora. Sakura fez questão de pagar para mim e ficamos conversando amenidades, enquanto eu comia. Olho meu reflexo pela tela do celular, conferindo se não estou com o rosto sujo. Sakura estava conversando com a balconista, enquanto termina de pagar pelo o que comi. A tela do meu celular acende.
" Você está ai, Hina?"
"Sei que estou sendo chato, mas realmente preciso falar com você. "
"Pode parar de me ignorar?"
Prendo o lábio inferior com os dentes e confiro se Sakura não está voltando. Não contei a ela o que aconteceu e por enquanto prefiro não contar. Sei que se ela descobrir vai me fazer falar sobre e não quero isso no momento.
"Não estou te ignorando" — digito rapidamente. — "Estou pensando, é totalmente diferente"
"Vamos fingir que não aconteceu" — ele manda em seguida.
Desvio os olhos do celular, vendo Sakura voltar para nossa mesa com dois copos de milk shake de morango nas mãos.
" Sua distância está me matando" — vejo a mensagem descer pela barra de notificação e viro a tela do celular para baixo.
— Com quem estava conversando? — ela pergunta, deslizando pelo banco. Ela arrasta meu milk shake até estar de frente para mim e prende o canudo do seu entre os lábios, sugando o conteúdo.
— Por que acha que eu estava conversando com alguém? — prendo uma mecha de cabelo atrás da orelha e repito seus movimentos com o milk shake. — Céus, isso é muito bom!
Seus lábios curvam-se num sorriso ladino.
— Eu sempre arraso na escola de sabores! — ela aponta o dedo para si mesma, satisfeita. Em seguida mistura o conteúdo do copo com o canudo, olhando diretamente para mim — E... sua cara denuncia tudo. Você é péssima com mentiras, Hina. Então, ou você estava conversando alguém que te deixou preocupada ou o preço do gás aumentou de novo, isso é de deixar qualquer um maluco.
— Na verdade... O Harry styles vai vir fazer um show aqui.
— Mentira! — o comentário faz Sakura se exaltar, fazendo milk shake vazar pela sua boca — Logo nesse fim de mundo?
— Aqui não é tão fim de mundo sim. — contra argumento.
— Se não fosse pelos Uchiha e os Uzumaki seria sim. Se não fosse por eles nossa cidade pareceria o velho oeste.
— É incrível como tudo gira ao redor deles. — reviro os olhos.
— Mas, fala ai, quando é o show? — ela pergunta animada.
— Era mentira, Saky. — revelo, vendo seu sorriso morrer.
— Cretina! — ela se curva na mesa, beliscando meu braço com força.
— Cachorra! — murmuro. Ela aponta o dedo do meio.
Viro a tela do celular novamente, vendo algumas mensagens dele e ligações perdidas.
Será que você não pode ser mais paciente, Naruto? Só preciso de um tempo! Só espere... E não desista de mim.
(...)
É noite e estou vendo uma animação com Hanabi. Ela está deitada no meu colo, enquanto acaricio seus cabelos.
— Eles vão achar a Dory? — ela pergunta.
— Não sei, o que você acha? — pergunto de volta.
Hanabi enfia a mão no balde de pipoca e coloca um punhado na boca, mastigando.
— Acho que sim. — ela responde depois de engolir — Os principais costumam se dar sempre bem nas histórias.
— Nem sempre. — digo.
— Então, eles não vão encontra-la?
— Por que não terminamos de assistir o filme? Você está inquieta hoje.
— A mamãe já foi dormir? — Hanabi pergunta, mas ela sabe que sim.
Me surpreendi quando cheguei em casa no final da tarde e minha mãe estava bebendo. Não era um costume dela. As oito da noite, ela estava completamente apagada no quarto. Hanabi ficou praticamente sozinha o dia todo, quando cheguei, ela pediu para que fizéssemos algo juntas.
— Já sim, Nabi. — respondo.
— A mamãe está assim por causa do papai? — ela pergunta.
— A mamãe está meio mal sim, Hana. Mas, não é culpa do papai. As vezes, vida de adulto é complicada.
— Continue me chamando de Nabi. — ela pede e coloca minha mão de volta sobre seu cabelo, pedindo que eu continue com o carinho.
Ficamos assim por mais algum tempo, até que Hanabi finalmente cai no sono, na metade do filme. Nos levanto com cuidado, pegando minha irmãzinha no colo. A coloco na cama e beijo seu cabelo, em seguida a cubro e apago a luz do quarto, saindo para fora. Vou ao quarto ao lado, aonde minha mãe dorme desengonçada na cama. A ajeito melhor e cubro também, torcendo uma careta quando a beijo, sentindo cheiro de bebida ruim.
— Se eu for embora.... Você vai ficar bem? — pergunto, ouvindo seu ronco como resposta — Você vai cuidar da Hanabi? — pergunto, torcendo para que sim.
Quando era criança desde minha adolescência, precisei lidar com crises de humor da minha mãe. Quando ela estava bem, ela era amorosa, mas quando estava mal, costumava nos colocar para baixo como se isso a fizesse se sentir melhor.
Me abaixo acariciando seu cabelo, assim como eu fazia com Hanabi há pouco tempo atrás.
— Me prometa que vai cuidar dela, hein. — encosto minha testa na sua — Me ajude a proteger nossa caçula, ela merece nosso melhor. — me afasto a tempo de quase receber uma cabeçada involuntária.
Dou passos para trás e apago a luz do quarto.
Quando finalmente vou para meu quarto e me deito na cama, a única coisa que preciso fazer é responder uma mensagem do meu pai.
"Você está bem, princesa?" — ele manda. — " como foi a prova?"
"Fiquei muito nervosa" — respondo — "estou ansiosa com o resultado"
Abro o instagran e assim que a página inicial carrega, percebo que esse foi o maior erro da minha vida.
Uma foto de Naruto aparece, abraçando Shion. Os dois estão muito bem vestidos e parecem felizes. A legenda da foto faz meus olhos marejaram.
"Naruto Uzumaki e Shion Shimura aparecem juntos, o casal é o foco de nossa atenção"
Levo as costas da mão até a boca, mordendo-a de leve. Aperto em "ler mais".
"Em um evento da faculdade, Naruto Uzumaki foi acompanhado de Shion Shimura, rendendo boas fotos para nós. O jovem pousou ao lado da aluna de jornalismo, ambos parecendo bem a vontade e íntimos um do outro. Fontes anônimas afirmam que o Uzumaki tem um caso com a loira. — segue as fotos — agora nos perguntamos, aonde fica a morena misteriosa com quem Naruto estava saindo? Temos ai um triângulo amoroso? Trisal? Ou chifres? Rsrsrs"
Sufoco um grito, enquanto lágrimas escorrem pelo meu rosto. Desvio o olhar do celular, apertando os olhos com força, desejando que tudo isso acabe logo e que essa maldita página de fofocas seja banida.
Por que eu sigo essa porcaria mesmo?
Abro os olhos e vou deslizando as fotos para o lado. Na primeira, Naruto está abraçando Shion pelos ombros. Na segunda, eles estão um pouco afastados e Shion está gargalhando, enquanto Naruto a observa, sorrindo. Na terceira, ele está sozinho, aparentemente pego desprevenido enquanto ajeita cabelo. Na quarta e última foto, sou pega de surpresa, somos eu e Naruto no restaurante de sua mãe. O ângulo não é dos melhores e não dá para ver perfeitamente o que acontece, mas Naruto está segurando minha cintura e eu olho para ele. Não dá para ver meu rosto, a foto foi tirada longe demais. É do dia em que Naruto apareceu por lá com Shion.
Abro os comentários e só tem gente falando o quão fofos eles são juntos.
Fecho os comentários imediatamente, sentindo vontade de gritar. Meu rosto está todo manchado por lágrimas e meu nariz começou a entupir.
Para terminar de dilacerar meu coração, abro os stories de Naruto e a mesma foto com a loira está lá.
Desligo o celular e o guardo no fundo da gaveta para impedir de arremessa-lo na parede.
Eu só precisava de um tempo para pensar, eu não queria ser trocada!
As lágrimas continuam a escorrer e me esforço para não fazer barulho, então me obrigo a ir dormir, mesmo sentindo aquela terrível sensação de fracasso, perda. Me sentindo descartada e incapaz.
Era só eu ter dito que o amava, mas como eu não disse, quem disse que ele esperaria por mim?
Não consigo dormir durante a noite, pensando em como Naruto me trocou na primeira oportunidade que teve.
(...)
Quando acordo na manhã seguinte, não sinto ânimo para nada. Sinto vontade apenas de ficar deitadinha, fingindo que estou bem e que não estou sofrendo com o que aconteceu.
Mas, é tudo minha culpa. Eu quem causou isso.
Essa sensação de que perdi algo bom... Penso que Naruto nunca mais vai me abraçar ou beijar. Ele nunca mais vai fazer carinho em mim e eu nunca mais vou poder brincar com seus bichos de estimação.
— Você é uma derrotada, Hinata. — digo para mim mesma, jogando os pés para fora da cama — Você faz tudo errado, sempre estraga tudo! Que ódio!
Pego minha toalha e vou para o banheiro na força do ódio, pois ainda sou pobre e não posso sofrer em paz, tenho que ir trabalhar.
Enquanto tomo banho, não tenho nem forças para chorar mais, embora sinta meus olhos arderem.
Isso é ridículo! Quantas vezes disse para mim mesma que não choraria por um homem?! Mas, no fim, é isso que o amor faz com você. Te torna fraca e vulnerável, o coração fica exposto e as pessoas de quem você mais gosta é quem te machucam mais.
Desligo o registro do chuveiro e vou para o meu quarto me vestir o mais rápido que posso. Minha monotonia já fez com que eu me atrasasse e agora não tenho tempo para tomar café da manhã com minha família. Desço as escadas de dois em dois degraus, diminuindo o passo no meio do caminho.
— Fale mais baixo, Hanabi — minha mãe reclama, pondo as mãos na testa — minha cabeça está doendo.
Solto um suspiro. Hanabi para imediatamente de falar e se concentra no pãozinho que deveria estar comendo.
— Desculpa, mamãe. — ela pede, sua voz soa baixinho.
Minha mãe faz um gesto com as mãos, pedindo que ela se apresse para comer. Hanabi está toda bonitinha com o uniforme da escola.
— Bom dia. — digo adentrando a cozinha.
Minha irmã acena para mim e minha mãe me da um beijo na cabeça, indicando a mesa do café.
— Estou atrasada. — digo comprimindo um sorriso — Você vai levar a Nabi na escola?
— Vou sim — ela acena — E depois vou entregar mais uns currículos.
— Okay. — lhe dou um abraço e beijo sua bochecha — Boa sorte.
Em seguida vou até Hanabi, a abraçando apertado.
— Bom diaaaaa!!! — prolongo a palavra, lhe dando um beijo demorado na bochecha. Hanabi retribui o carinho — Vamos terminar o filme quando eu chegar, Okay? — digo e ela assente — Nada de dormir dessa vez, viu mocinha?
— Ta bom. — ela sorri. — Prometo!
(...)
Está quase no meu horário de almoço, quando a porta do restaurante é aberta e por ela passa Naruto. Seus olhos focam-se nos meus, provavelmente captando toda minha tristeza, mas minhas mãos estão ocupadas e preciso equilibrar uma bandeja cheia de louças de volta para cozinha. Desvio de um garçom quando quase trombo com ele, lhe pedindo desculpas e abro a porta dupla, colocando a bandeja sobre o balcão.
Puxo uma enorme quantidade de ar e me viro para trás, dando de cara com Naruto.
— Hinata, precisamos conversar. — sua voz soa autoritária, mas desta vez não desvio o olhar nem nada do tipo.
Simplesmente ajo de forma teimosa e o ignoro, tentando proteger a mim mesma. Tento passar por ele, mas Naruto é grande e bloqueia minha passagem. Quando tento abrir o outro lado da porta para passar, ele segura meu braço e me puxa com força, arrastando-me pelo corredor.
— Me solta! — brado com ele, batendo em seu braço.
— Não! — ele meio que grita e sinto alguns olhares em nós.
Por sorte, somos bloqueados pela parede e Naruto nos faz entrar em uma sala, trancando-a em seguida. É o escritório de Kushina.
— Sei que não posso te obrigar a nada, mas vamos pelo ou menos conversar e resolver isso! — ele diz, largando meu braço — Não pode fugir de mim para sempre.
— Você tem razão! — elevo minha voz, deixando meu lado irracional comandar — Não pode me obrigar a nada e eu estou dizendo que não temos nada para conversar!
Naruto bagunça os cabelos e solta um suspiro, sentando-se de forma relaxada na cadeira. Alguns minutos se passam.
— Naruto, eu preciso trabalhar!
— Como não temos nada para conversar? — ele me ignora — Você tem me evitado há dias! — ele solta uma risadinha sem humor — isso tudo por que falei que te amo?
Sinto um bolo sufocar minha garganta.
— Isso tudo porque você é um idiota! — solto sem querer — Te pedi um tempo e você foi correndo para outra garota!
— Hinata... — os olhos dele se arregalam, os azuis tremeluzindo — Ouviu o que está dizendo? — sua voz soa calma — Você quem está sendo completamente idiota... E irracional!
Arfo com força, ouvindo suas palavras serem despejadas contra mim.
— Sei que te deixei confusa com minha confissão e tudo mais. Não me arrependo do que disse, mas me arrependo de como fiz. Eu tentei me explicar, tentei mesmo. Mas, e você? Você ignorou todas as minhas mensagens, todas as minhas ligações e simplesmente decidiu se afastar. Sabe como eu me senti com isso?
Tento falar algo, mas não consigo.
— Se você tivesse lido minhas mensagens, teria visto as milhares de desculpas que enviei a você e teria visto que a convidei para um baile. Depois quando aquela merda de foto vazou, teria visto minhas explicações, mas agora acho que nem isso você merece — ele bagunça o cabelo, lançando um olhar magoado para mim, provavelmente se sentindo tão ferido quanto eu — Shion é minha amiga, nada mais que isso. Eu te disse. E se não fosse tão covarde deveria ter visto a mensagem aonde eu explico que tirei sim uma foto com ela por vontade própria, mas que nada naquela legenda era verdade e que todos aqueles sorrisos foram tirados em momentos manipulados. Mas, não. Você resolveu fugir como sempre faz. Isso tudo é realmente porque me declarei para você? Isso tudo te assusta tanto assim?
Naruto se levanta da cadeira e serve água em um copo, deixando-o sobre a mesa.
— Eu vou indo, é melhor conversarmos quando você pensar melhor.
Ele sai da sala, fechando a porta.
— Que merda você fez, Hinata? — pergunto para mim mesma.
Eu te amo deveria ser motivo para felicidade, então porque gerou todo esse conflito conosco? Não estávamos prontos para isso? Eu não estava?
Bebo a água que ele deixou sobre a mesa e guardo o copo em seguida.
— Naruto... — murmuro seu nome — o que nós dois estamos fazendo?
(...)
— Ele disse que me ama. — as palavras saem naturalmente da minha boca, carregando um tom de tristeza.
— Ahn?! — Sakura se vira para mim, enquanto termina de vestir sua jaqueta. Seu olhar é meio confuso — Quem?....
— Naruto — esclareço — Ele disse que me ama.
Um sorriso surge no rosto de Sakura e ela saltita toda animadinha pelo vestiário, vindo me abraçar.
— Quem bom, amiga! — ela segura meus ombros e foca seu olhar no meu — E por que essa carinha? Vocês não estão namorando oficialmente?
Balanço a cabeça para os lados e a puxo de volta para um abraço.
— A gente meio que brigou.
— Que? Por quê?
— Também não sei, Saky. "Eu te amo" deveria ser bom, não é? Por que com a gente não foi assim?
— Vem cá! — Sakura desliza pelo chão, sentando-se encostada num armário e me faz sentar ao seu lado — me conta direito o que aconteceu.
— Ele disse que me amava, eu fiquei confusa e não consegui responder na hora. Eu estava pensando em coisas demais e em vez de focar no lado bom da declaração, eu só consegui pensar que talvez eu vá embora. Ai eu travei e não consegui responder.
Deito a cabeça no ombro dela, sentindo-a me abraçar e brincar com uma mecha do meu cabelo.
— Fui covarde demais para responde-lo e ele apareceu em uma foto com outra garota.
— Talvez tenha uma explicação para isso....
Pego meu celular no bolso do jeans e abro as mensagens de Naruto aonde ele fala sobre Shion. Elas realmente estão lá, ele fala sobre como o fotógrafo tirou a foto no momento exato em que ela riu e ele a olhou. Nem sequer foi ele quem a fez rir. E de toda forma isso não significaria nada. Em uma das mensagens ele diz :
"não fiz nada de errado, hina."
"Você é importante para mim, nunca faria nada para magoa-la."
"Não propositalmente"
— Então qual é o problema? — Sakura pergunta, devolvendo-me o celular após ler as mensagens.
— Fiquei morrendo de ciúmes e chamei ele de idiota. A gente teve uma briga e agora está tudo tão estranho. E tudo começou depois que ele se declarou!
— Hina...
— Sakura! "Eu te amo" deveria ser algo bom, mas amar alguém sempre traz consigo esses sentimentos ruins. É doloroso amar alguém, sabendo que um dia essa pessoa vai te magoar, mesmo que sem querer.
— Hinata! Você não pode pensar assim! — ela me repreende — É claro que no amor nem tudo é perfeito, ele tem sim seu lado feio. Mas, na vida certas coisas, certas dificuldades valem a pena serem enfrentadas. Vocês dois discutiram, e daí? Já parou para pensar que uma boa conversa, com um pouquinho de civilidade e maturidade pode resolver tudo? Você já parou para pensar que se vencer esse obstáculo Naruto pode te fazer muito feliz?
— Já sim, Saky. — respondo — É por isso que eu quis responder que também o amava. Quando ouvi sua declaração, foi a primeira coisa que eu pensei. Mas, ai o medo me venceu. Relacionamentos são complicados, não quero que minha felicidade dependa de outra pessoa. Não quero viver sendo magoada por ela porque me expus. Relacionamentos são assim. Não são só coisas boas.
— Mas, também não são só coisas ruins como está pensando. É claro que há uma balança entre esses dois lados e se ela pender pro lado ruim é um sinal claro para cair fora, mas e se for pro lado bom? Eu sei o que você está pensando, Hina... Eu te conheço. Eu sei que está pensando no relacionamento dos seus pais.
— Nem sempre só amor resolve. — murmuro.
— É diferente. Eles mantiveram o relacionamento por causa dos filhos, não por amor. Mas, enquanto houver amor há solução sim, você só tem que lutar por isso.
— E se tudo der errado?
— E se tudo der certo?
Olho para ela.
— Você não vai saber se não tentar. Mas, para isso precisa parar de ser covarde. Você não pode ser confusa o tempo todo e querer que ele não se confunda também. — Sakura se levanta, esticando as mãos para me ajudar — Se você gosta mesmo dele, precisa assumir isso. Para sí mesma e para ele também. Nem sempre dá tudo certo no amor, Hina. Mas, se der para você, é uma chance para ser feliz. Não porque ele te completa, mas porque ele te complementa. Ele já assumiu o que sente, e você? Vai ter coragem?
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Notas
Não fiquem com raiva de nenhum deles, tentem entender o lado dos dois! A hina, por exemplo, é cheia de inseguranças — ambos são, na verdade — Mas, agora que ela sabe o que sente só precisa criar coragem para lidar com isso. Só vamos torcer para ela conseguir, porque esse "joguinho" deles só vai fazer com que eles se machuquem. Naruto já cansou de jogar e se confessou, agora é a Hina....
Ainda estou no aguardo por mais respostas!! Não se esqueçam de ler as notas do capítulo passado!!
E deixem sua opinião sobre a história! Seja suas expectativas, opiniões ou críticas — não importa se sejam boas ou ruins, desde que sejam construtivas!!
É isso e até o próximo! Beijos 💗