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By plsnalua

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By plsnalua

𝗟𝗼𝘀𝗶𝗻𝗴 𝗚𝗮𝗺𝗲
𝖩𝗈𝗀𝗈 𝖯𝖾𝗋𝖽𝗂𝖽𝗈

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𝒊'𝒗𝒆 𝒔𝒑𝒆𝒏𝒕 𝒂𝒍𝒍 𝒐𝒇 𝒕𝒉𝒆 𝒍𝒐𝒗𝒆 𝑰 𝒔𝒂𝒗𝒆𝒅
𝒘𝒆 𝒘𝒆𝒓𝒆 𝒂𝒍𝒘𝒂𝒚𝒔 𝒂 𝒍𝒐𝒔𝒊𝒏𝒈 𝒈𝒂𝒎𝒆
𝒐𝒉, 𝒂𝒍𝒍 𝑰 𝒌𝒏𝒐𝒘, 𝒂𝒍𝒍 𝑰 𝒌𝒏𝒐𝒘,
𝒍𝒐𝒗𝒊𝒏𝒈 𝒚𝒐𝒖 𝒊𝒔 𝒂 𝒍𝒐𝒔𝒊𝒏𝒈 𝒈𝒂𝒎𝒆.


       Esses prazeres violentos tem fins violentos.

       E morrem em seu triunfo, como fogo e a pólvora. Que, ao se beijarem, se consomem.

       Visenya Velaryon sabia que havia se apaixonado pelo que nunca poderia ser. Um jogo perdido, sim, mas que ela decidiu jogar mesmo assim.

       O sol raiava depois da tempestade, e invadia os aposentos do príncipe com delicadeza. Na cama, deveras bagunçada e remexida, duas almas se acomodavam, mas apenas uma delas dormia. A princesa mantinha seus olhos vividamente abertos, observando o homem descansar pacífico ao seu lado. Em sua mente, a selva que havia se desfeito na noite passada voltava a se moldar em sua cabeça, mais sombria do que nunca. Pensamentos turvos, de medo, culpa, confusão, desgosto... paraíso.

       Ela havia se entregado a ele, enfim.

       Fora um diabo em pessoa que se colocou por de trás dela, com seus braços ao redor de seu corpo e sua boca sobre seu ombro. E mesmo com o horror, ela sentiu um estranho alívio.

       O calor do corpo dele ainda a aquecia de forma delirante. Seu fogo havia queimado juntamente ao dele, em uma perfeita dança, e por um momento, ela desejou poder rebobinar o tempo e voltar para aqueles segundos de prazer, para que a chama nunca apagasse, e para sempre vivesse ali, entre eles.

       Não poderia ser imortal, posto que é chama. Mas que fosse infinito enquanto dure.

       E ela iria partir esta noite.

       Nada no mundo a faria ficar, nem mesmo seu coração, que dormia ao seu lado. E isso lhe tirou o sono. Lhe tirou o sono porque esta fora a primeira e ultima vez, e, pelos deuses, fora tão sagrado. Cada segundo, cada momento, cada toque... estava completamente apaixonada pela impossibilidade que eles eram. Gostaria tanto que as coisas fossem diferentes, que ele fosse diferente. Que ele largasse aquela maldita família, aquela maldita guerra, que ficasse com ela. Mas nada era fácil com eles.

       E essa era a beleza que havia nisso.

       Estavam agora lado a lado, frágeis. Ela poderia apanhar uma adaga para apunha-lo no peito tranquilamente, e com toda certeza seria bem sucedida. Veria o sangue vermelho respingar pela cama enquanto a vida deixa a face de seu maior inimigo. E choraria por ele.

       Mas não conseguiu se mover. Em seu corpo, o êxtase do toque dele ainda reinava, lhe entorpecendo os sentidos. Estava completamente entregue, inútil.

       Quando o olho de Aemond foi calmamente se abrindo e a íris de um gelado violeta se focou nela, não emitiu emoção alguma. Ele analisou-a, que olhava-o profundamente, por quase um longo minuto, quando enfim proferiu.

       — Estou surpreso que não tenha me matado enquanto eu dormia.

       Não havia ironia. Ele falava sério.

       Visenya lentamente negou com a cabeça. — Eu também estou.

       Ela também fora sincera. Mas, por maior que fosse o absurdo que pronunciava, ele gostava quando ela era sincera.

       — Por que não o fez?

       Ela ponderou sobre aquilo. A explicação era terrível demais. — Eu não quis. Não hoje.

      Não me pergunte por que, implorou. Não me pergunte. Não poderia ser franca com ele quanto a seus sentimentos, mesmo que ele tenha sido com ela. Eu te amo, ele havia dito, mas ela não diria de volta. Suas mãos sobre as rédeas do controle já haviam se fraquejado por tempo demais, e, pelos sete, se admitisse... se ele soubesse o sentimento que causa nela, além do desejo... não haveria mais salvação.

       — Hm. — disse, e sua mão se guiou até a cintura dela, puxando-a para mais perto. — Acho que terei que correr esse risco mais vezes.

       Uma sobrancelha dela foi ao ar. — Quantas vezes?

       — Todos os dias. Soa bom para você?
      
       Soou doloroso, na verdade. Como
uma apunhalada no peito. Pensou em sua fuga mais tarde, e parecia mais amarga do que nunca.

       Doía como um inferno saber que ela precisava abandonar algo, mas que não conseguia porque ainda estava esperando o impossível acontecer.

       Aemond pareceu perceber seu semblante pensativo — Está arrependida, minha senhora?

       — Você está?

       — Estou. Muito arrependido por não ter feito isso muito, muito antes.

      Um sorriso ameaçou brincar em seus lábios, mas ela precisava ser séria. Estava em uma enrascada mental, um dilema existencial, o maior labirinto de todos. E como sairia dele?

       Talvez não quisesse sair.

       — Não. — proferiu firmemente. — Nada de nada. Eu não me arrependo de nada.

       — Então por que parece tão miserável, Visenya?

       Aquela pergunta era séria? Ela ajeitou-se na cama, observando bem o olho do homem com certa petulância. A coberta cobria o tronco dele, deixando seu peitoral desnudo, onde uma mão de Visenya estava apoiada, e ela quase a usou para enforca-lo. Infernos, ela queria atirar um soco em sua face, talvez arrancar seu último bom olho por ser tão desatento a complexidade que era os dois estarem em uma cama juntos. Mas também queria beija-lo, sentir suas mãos passando por suas curvas, sua voz sussurrando seu nome. Que terror era, a dualidade de seus sentimentos.

       — Queria que eu estivesse como, caro marido? Regozijando de alegria? Como se essa situação não fosse a mais problemática possível? — pontuou, óbvia e impaciente. — Ter consumado esse casamento não resolve nossos problemas, em absoluto. É só uma... trégua.

       Uma trégua que está me custando muito caro, ela pensou. No dia anterior, Anya interpretou essa consumação como uma mera forma legítima de dizer adeus a ele, apenas. Enfim entregar-se antes de ir embora para sempre parecia uma maneira muito poética de se partir. Mas agora, nada era como antes. Seus sentimentos estavam pipocando de forma gritante, lembrando-a de que jamais sentiria as coisas que sentiu com ele com mais ninguém. Lembrando-a de que jamais amaria ninguém como o ama.

       Como iria partir agora?

       A safira no olho de Aemond cintilou. Ele pareceu divertido. Se recusava a levar o que ela falava a sério.

       — Trégua? Mm, está bom, para mim. Podemos fazer esta trégua constantemente, será melhor para nossa convivência.

       Um quase rosnado escapou de sua boca. — Isso não estava no nosso contrato.

       — Tenho quase certeza que foder está incluso em todos os matrimônios, Visenya.

       — Não quanto são inimigos que estão envolvidos no matrimônio.

       Ele cerrou seu olho, colocando uma mera mecha de cabelo dela atrás da orelha, sussurrando sobre ela. — Gostaria de fazer um novo acordo com o diabo, Visenya?

       Seu corpo estremeceu. As lembranças da noite anterior aqueceram seu sangue, e quase, por um segundo, ela se esqueceu completamente do que estava falando.

       — Deuses, você me levará para todos os sete infernos... — murmurou, sentindo os dedos dele passearem por sua cintura nua por baixo do edredom.

       — Do contrário, minha senhora. Venho há meses lhe implorando para que me deixe leva-la aos céus.

       Ele lentamente beijou o queixo dela, depois o canto de seu maxilar. Ela se permitiu fechar os olhos como uma perfeita tola.

       — Sabe, Aemond — murmurou. —, você quer que o mundo pense que é um assassino frio sem coração, mas não é.

       Uma risada nasalada urgiu dele, aquecendo o pescoço dela. — Não, temo que eu seja apenas um tipo normal de assassino. O "sem coração" não me comporta mais, uma vez que tenho um e entregue de mão beijada a você.

       E continuou a beija-la. A boca dele a atirava dentro de um conto de fadas. Um conto de fadas sombrio, insano, repleto de luxúria, pecado, egoísmo. Seus lábios tinham o gosto de cada um de seus desejos mais terríveis, e pelos deuses, como era doce, amargo, irresistível. Ela queria poder ignorar tudo que estava envolvido, além do que sentiam um pelo outro. Queria poder mandar a merda qualquer guerra, qualquer desavença, mandar a merda o maldito trono de ferro. Ele a amava, que mais importa?

       Se viu afogando em um oceano, no qual não havia salvação. As ondas eram entorpecentes e selvagens, e não havia como lutar contra elas.

       Mas sua mãe criou uma guerreira.

       — Eu deveria ir.

       Recuou da presença dele, pondo-se sentada sobre a cama. Seus cabelos jogados pelas costas cobriam sua nudez, por aquele ângulo.

       — E onde vai?

       — Dormir, uma vez que fui privada deste luxo por toda madrugada.

       — E irá me dizer que não valeu a pena? — um muito breve sorriso brincou nos lábios dele. Mesmo divertido, Aemond não sabia sorrir. — Descanse em meus aposentos.
      
       — Oh, não. Tenho medo do que você se torna com o crepúsculo.

       Ele também se assentou ao lado dela. — Como dizia o velho ditado, o sol vê todos os meus feitos, mas a lua conhece todos os meus segredos.

       E a envolveu, deslizando suas fortes mãos por seu dorso, trazendo-a para perto em seu colo. Os corpos nus agora encaixavam-se com familiaridade. Ela fechou os olhos, sentada sobre ele de maneira aninhada, sentindo sua respiração sobre suas costas. Pediu controle aos deuses, ao que nariz de Aemond passeava por seus cabelos, pescoço, costas...

       — Fique aqui. — sussurrou. — Podemos fingir que nos odiamos de novo, se fizer as coisas serem mais fáceis para você.

       — Faria. — ela exalou em retorno — Definitivamente faria.

       — Então quer que seja assim?

       — Não. — nem precisou ponderar. Ela gostaria que as coisas fossem diferentes, mas não desse jeito. — As coisas nunca mais serão as mesmas. Agora tudo vai mudar.

       Soou como uma promessa, e realmente foi, pois quem falou em seus lábios fora outra coisa.

       — Não vá para seus aposentos. Fique. — ele pediu.

       Tentador. Ele a fazia duvidar de qualquer ideia que possuía, abrir mão de qualquer dignidade que lhe restava. Talvez ela fizesse o mesmo com ele. Talvez, depois de tudo que houve, Aemond estava disposto a fazer o certo. Ele a amava, não é? Se a queria perto, faria de tudo para tê-la perto.

       Por ela, talvez ele abriria mão de tudo.

       Mas seu raio de esperança se foi com o bater da porte. — Príncipe Aemond — a voz de um guarda ecoou — O conselho lhe aguarda.

       Anya não pensou que ele realmente fosse ligar para aquele comunicado. Estavam envolvidos demais no momento para ligar para qualquer outra coisa.

       Mas, mesmo que Aemond tenha rolado seu único olho em clara impaciência e falta de vontade, replicou em retorno. — Estarei lá em breve.

       A face de Visenya se transmutou para o perfeito choque com tanta violência que ela nem precisou expressar o que sentia, pois seu marido compreendeu imediatamente.

       — Eu preciso ter com o conselho, Vienya.

       Ela não parecia assimilar — Precisa?

       — Preciso. Estamos em guerra. Muito em breve teremos um conflito direto.

       Guerra. Verdes contra Negros. Seu marido contra sua mãe. Essa guerra.

       Ele não se importava com o que isso faria com ela, nem com seu sofrimento. Ele queria incendiar o mundo, mesmo que Visenya saísse queimada também.

       Ele amava mais o sangue e o fogo do que a ela.

       Ódio lhe ascendeu. Como fora tola de pensar que seria diferente? Com, por um segundo, quase fora tão idiota ao ponto de pensar que ela o faria mudar? Aemond, o objeto de sua mais fatal atração, era inegavelmente um monstro. Egoísta, traiçoeiro, perigoso. Um diabo.

       Ela não deveria tê-lo tratado de nenhuma outra forma.
 
       Levantou-se da cama como uma tempestade, enrolando o edredom em volta de si para que ele não ousasse ver nem mais um centímetro de sua pele descoberta.

       — Minha senhora... — Aemond a chamou, já notando que sua frase causara impacto.

       — Não venha com essa de minha senhora. Não sou sua coisíssima nenhuma!

       Um suspiro deixou a boca dele, ao que se ajeitou na cama para observa-la melhor, começando a lentamente vestir suas roupas. — Esperava que eu mentisse para você?

       — Esperava que você tomasse uma
posição diferente! — esbravejou, gesticulando. — Você diz que me ama, e ainda sim vai continuar a se assentar ao lado daqueles homens que querem acabar com minha família?

       A expressão dele tornou-se dura. Era o que acontecia quando a família de Visenya era mencionada.

       — Aqueles homens são minha família também.

       — E eu sou sua esposa. A mulher que você tão veemente diz amar. Isso não importa?      

       — Importa bem mais do que pensa. Mas é mais complicado do que isso, e você sabe.

       Ela cruzou os braços. — Certamente não sei. Quer explicar?

       Severo, ele enfim disse: — Eu estou tão disposto a abrir mão da minha família pelo que sinto por você, quanto você está disposta a fazer o mesmo por mim.

       Aquilo foi como uma bofetada. Os olhos violáceos da mulher se arregalaram levemente.

       — Você deixaria, Visenya? Suas ideias, sua posição, sua honra, a lealdade a sua família, sua maldita história, por sabe-se lá o que é isso que sente por mim? Abriria mão de tudo?

       Ela quase engoliu seco, abalada. Estava chocada com a intensidade daquela pergunta, mas sua resposta não precisaria de reflexão.

       — Não.
 
       Sua voz ecoou pelo quarto, baixa, mas mais estrondosa que nunca.

       — E no entanto, não é exatamente isso que pede de mim?

       Era exatamente isso.

       — Não é justo. — ela diz, seus olhos quase marejando em raiva. — Você me roubou da minha família. Me forçou a viver nesse lugar repugnante com pessoas terríveis. Me fez ter opção alguma que não fosse ser sua esposa. Se jamais iria se dobrar a minha causa... se sabia que nossas ideias jamais iriam se alinhar... por que me trouxe para cá? Por que me arrastou para definhar e sofrer por algo que simplesmente não tem solução?

       Ele, já vestido, finalmente colocou-se de pé. Caminhou até ela com lentos e torturantes passos. — Quer saber porque, meu tormento?

       Ela assentiu, embora a expressão dele fosse tão serena que lhe apavorara.

       — Muito bem. — as mãos dele se guiaram ao queixo dela com delicadeza, fazendo-a mira-lo. — Eu queria você. Independente do que custasse a mim. E a você.

       Raiva lhe urgiu, cerrando os dentes. — Custou infinitamente mais a mim!

       — Sim. Eu estava ciente que era o ato mais egoísta e cruel do mundo, o que fiz a você. Ainda sei. — falou com calmaria. — Mas, francamente, minha senhora... eu não dou a mínima.

       Havia um brilho terrível em seu olho, e Anya estava horrorizada, mesmo que não conseguisse desviar sua vista da dele. Depois de tudo que passaram noite passada... aquela eram suas palavras? Ela não podia acreditar.

       — Não... dá a mínima?

       Ele negou. — Não.

       Anya piscou algumas vezes, desorientada. — Você... você disse que me amava. Amor não é isso.

       — Isso é o que você parece não compreender, Visenya. Você aprendeu sobre amor da forma errada, como é de se esperar de uma princesa. Aprendeu a esperar sua vida toda por um príncipe no cavalo branco, que faria de tudo por você. — ele arrebitou mais ainda o queixo dela, para que fitasse penetrantemente sua iris e sua safira — Eu? Mm, eu não possuo tal abnegação. Eu faria de tudo para ter você, mesmo que por crueldade, mesmo que por sangue. Mesmo que por dor.

        Horror e ódio lhe vieram com voracidade. Ela queria cuspir nele, berrar, espernear. Como podia dizer coisas tão terríveis como se não fosse nada?

       — Você é um monstro. Desprezível, repugnante...

       — Todas essas coisas. — disse. O jeito que ele falava era tão simplório. Proferia insanidades como um homem são, e isso a assustava. — Eu lhe trouxe aqui contra sua vontade por pura crueldade e egoísmo, minha senhora, é verdade. Eu a queria do meu lado, independente das consequências.

       Como ela pôde se esquecer da natureza dele? Cruel. Frio. Ambicioso.

       Ele a amava de sua própria forma sádica, errônea. Um lobo sempre seria um lobo, mesmo vestido de cordeiro.

       Ele a aterrorizava, da mesma forma que a fascinava.

       — Estamos claros?

       Cristalino. Ela amava um príncipe cruel. E não importa o quanto ele a amasse, sua natureza era imutável. Nem sentimentos poderiam mudar tamanho mal.

       Ele queira queimar o mundo inteiro com ela a seu lado, para que assistissem o fim de todas as coisas juntos. Enfim, ela compreendia.

       Um brinde a você, sua voz interior lhe disse, a você e a todas as pequenas tolinhas que sonhavam em se casar com um príncipe encantado e acabaram se apaixonando pelo vilão incompreendido.

       Visenya assentiu, fria, e assim que ele a soltou, ela marchou até a porta.

       — Onde vai?

       O tom dele já estava duro.

       — Para os meus aposentos, de onde eu jamais deveria ter saído.

       — Mas saiu.

       — Certamente um arrependimento que carregarei por toda vida.

       Ela também se fez tão fria quanto ele. E pensar que por um segundo cogitou ficar naquele maldito inferno com ele...

       — Eu não me arrependo de nada, ela disse. — caçoou Aemond.

       — Retiro o que eu disse. — replicou, ríspida — Aliás, eu retiro absolutamente tudo que eu disse a você, hoje e na noite passada.

       — Ah, minha senhora, acho que todos os gemidos que lançou em meu nome não são coisas que possam ser retiradas.

       O nervosismo lhe inundou, e um acesso de raiva atingiu seu olho esquerdo. Sentiu-se suja por ter se entregado a ele, suja por ter se rendido a um último pecado, antes de partir.

       — Abra a porta. — pediu.

       Mas ele não estava satisfeito. — Você sabia de meu posicionamento, antes de escolher se deitar comigo.

       — Você disse que me amava.

       — E amo.

       — Quem ama não tenta assassinar a família do outro, Aemond!

       Um suspiro escapou na boca dele.

       — Meu amor por você não se expande aos outros membros de sua família. Eu continuarei a lutar pelos interesses da minha família.

       — Isso faz de você meu inimigo. — ela diz, fria. — E faz seu amor ser inútil.

       Ele não pareceu incomodado com aquilo.

       — Amor é inútil, em todas suas faces. Está começando a ficar velha demais para não entender isso. — o tom bravo urgiu outra vez. — Olha o que o amor me faz? Perfura minha cabeça como um tumor, me leva a defender com unhas e garras uma mulher que quer ver minha casa, minha história pelas costas. O amor faz de mim um tolo, Visenya, você faz de mim um tolo. A única coisa que posso fazer para me defender é recolher os princípios que ainda me restam e me agarrar a eles, antes que você os revogue, como um maldito furacão. Os deuses sabem que só você tem esse poder.

       Visenya suavizou sua expressão por um segundo, juntando suas sobrancelhas.

       — Eu quero salva-lo, Aemond. Juntos... nós podemos fazer as coisas certas. Podemos evitar o futuro de fogo e sangue que nos aguarda e apaziguar tudo. Podemos fazer a Casa do Dragão uma só. Forte e reluzente. E depois disso... seríamos eu e você. Para sempre.

       Um breve brilho em seu olhar cintilou com ansiedade, desejo. Visenya viu ali que fundo, mas profundezas de sua alma, ele desejava aquilo, mais que tudo.

       Ela se aproximou. — Eu sei que existe bondade em você, bem profundamente, escondido em todo o veneno que lhe alimentaram por toda vida.

     Uma risada amarga deixou seus lábios Mesmo que sua íris ainda esboçasse esperança,  sua crueldade o cegava, nebulando sua mente com violência. O crescente amor, sentimento tão novo para ele, não era ainda nada comparado ao ódio, que fora a única coisa que sentira por toda a vida.

       — Bondade... eu não estou interessado em provar bondade. Sinta-se a vontade em me fazer o vilão de sua história, Visenya. Para minha sorte, não tenho nenhum interesse em ser o mocinho. Gaste seu tempo me pintando da forma que quiser em seu pequeno livrinho de aventura, se lhe fizer sentir melhor e mais pura. Eu tenho coisas para fazer.

       — Como o que, discutir com seu conselho a melhor maneira de matar minha mãe? É mais urgente, eu presumo.

       Ele tentou outra vez aproximar seu corpo do dela, mas a mulher recuou. O rosto tomado em trevas e dor.

       — Não encoste em mim.

       Ela não mais o mirava, mas tinha certeza que estava sendo analisada, pois seu corpo estava quente.

       — Vai sair assim? — ele quis saber. Sua voz era baixa, quase lastimada pelo rumo que a conversa tomou.

       Ela enrolou ainda mais o edredom envolta de si. — Eu sairia até mesmo nua, se preciso fosse preciso.

       Silêncio. Longos segundos torturantes reinaram, enquanto Visenya mirava firmemente o chão.

       — Espere. — disse. Estava delicado. — Eu sairei. Irei pedir para o guardas lhe trazerem roupas.

       — Quero ir para os meus aposentos.

       — Pedirei que levem você.

       O rosto dela ainda não o encarava. O rancor era abissal, e por um segundo, ela sentiu que Aemond ficou apreensivo com a possibilidade desse sentimento se pendurar por muito tempo.

       — Visenya...
   
       — Você precisa ir. — ela o lembrou.

       Demoraram alguns segundos para que ele enfim se mexesse. Seguiu, passando por ela, segurando na porta para abri-la. No entanto, antes que o fizesse, virou-se brevemente.

       — Posso vê-la esta noite?

       Sim, seu corpo disse.

       — Não. — exprimiu sua boca. — Eu preciso pensar.

       Eles cruzaram seus olhares uma ultima vez, e, pelos sete, era como uma brisa de verão fluindo entre ambos os corpos. Tantos sentimentos, tanto orgulho, tanto desejo... tanta dificuldade. Eram peças na mão dos deuses, os dois, para um cruel entretenimento. Não foram feitos para ficar juntos, como lua e sol, e fogo e pólvora na sua mais plena forma.

       E Visenya não poderia se deixar consumir.

       Ele enfim desviou o olho, dizendo frio. — Como desejar.

       E se foi, deixando só o fantasma de sua presença lhe assombrando.

      

       O corpete lhe apertava mais do que deveria. Agora já devidamente banhada, ela estava por ser ajeitada para enfim se encontrar com a rainha Helaena, ou, pelo menos, supostamente encontra-la. Visenya, no entanto, emitia caretas enquanto Dyana o amarrava sem piedade, vendo a si mesma no espelho com insatisfação. Seus aposentos, ou melhor, os antigos aposentos de Aemond que agora lhe pertenciam e lhe mantinham cativa, estavam perfeitamente iluminados com raios de sol, no entanto, tão tristes e vazios quanto os olhos de uma viúva.

       — Dyana! — Visenya reclama, assim que mais um aperto brutal foi aplicado.

       — Sinto muito, minha princesa. — ditou, embora estivesse com o tom menos gentil que de costume. — Estou desatenta hoje.

       Anya olhou-a de soslaio, desconfiando na atitude de sua criada, que sempre fora passiva e gentil. No terceiro puxão, pediu que ela parasse, virando-se para a mulher com rispidez.

       — Fale agora que mal lhe aflige.

       Dyana pareceu apática.

       — Nada me aflige.

       Visenya cruzou os braços. — Não insulte minha inteligência. Exijo que fale abertamente.

       — Minha princesa...

       — É uma ordem. — ditou, mirando-a com impaciência.

       Dyana abaixou seus olhos por um segundo, alisando suas próprias mãos antes de enfim voltar a mirar o rosto de sua ama. — Vossa Alteza... vossa alteza não pode ficar aqui.

       Anya não compreendeu.

       — Do que está falando?

       — Sabe do que estou falando. — seus olhos castanhos eram urgentes, como se sussurrasse através deles. — Vossa Alteza  deve partir.

       A princesa enfim compreendeu o que era falado. O plano. O bendito plano de Helaena, arquitetado há quilômetros de distância por Daemon. O plano que apenas poucas pessoas sabiam, e Dyana certamente não era uma delas.

       Seus olhos se arregalaram. — Como...

       — Mylena. — disse baixo, e Visenya ficou um tanto surpresa por sua ama ter confiado tanto na criada recém chegada — Eu sei de tudo, minha princesa. Eu... eu regozijei em alegria por saber que finalmente seria livre.

       — Dyana...

       — Eu irei ajuda-la. Terei imenso prazer em fazer isto. Seria meu maior sonho fazer o mesmo, se pudesse.

       Visenya notou nos olhos da menina uma tristeza absurda. Se perguntou o que haveria acontecido para tamanho rancor, mas não era muito difícil imaginar. Vindo dos verdes, qualquer atrocidade era cabível.

       — E o que te faz achar que irei ficar?

       Ela inspirou, como se buscasse coragem para falar abertamente, como lhe foi ordenado. — O estado que vossa alteza retornou a seus aposentos...acredito que tenha enfim consumado seu casamento.

       Os olhos de Visenya se arregalaram. Como fora tola, pelos céus. Nesta altura, todos já devem possuir o conhecimento da noite que passou com Aemond. Mesmo que tivesse ido até ele no meio da noite, retornara com a luz do sol... e nua, enrolada em um edredom. As bochechas dela de avermelharam de vergonha.

       — Isso não muda absolutamente...
 
       — Você o ama, minha princesa.
  
       Dyana a interrompeu não com uma pergunta, mas uma afirmação. Mas Visenya já havia sido confrontada com aquilo muitas vezes antes.

       — Sim. Mas amo mais minha família. — respirou fundo, sentando-se na cadeira. — O que ocorreu ontem... foi uma fraqueza, e uma forma de dizer adeus. Eu me arrependo, Dyana.

       Por mais que odiasse admitir, aquilo era uma mentira. Não, de nada ela se arrependia, realmente. Por uma noite, ela pode testemunhar o que gostaria que fosse o resto de sua vida. Uma miragem, é claro. Uma maldita miragem, mas bela. Entre eles, a paixão era tão curta quanto uma fração de segundo, como um magnífico quadro, guardado na parede do subconsciente.

       — Vossa alteza mantém sua decisão? — perguntou a mulher, mais feliz.

       Visenya levantou-se da cadeira — Mas é claro. Antes do amanhecer, estarei longe, muito longe daqui. Eu lhe prometo, Dyana.

       Dyana assentiu, contente, voltando a vesti-la com mais calmaria, desta vez.

       E quando a noite caiu, o plano teve início.

       Devidamente pronta, a rainha Helaena pediu que a princesa Visenya fosse levada até ela, e assim ela fora escoltada por dois guardas por entre os corredores escuros da Fortaleza de Maegor, indo em direção a Torre da Mão, onde a rainha estava com a rainha viúva. Era imprescindível que Anya fosse sozinha, pois desta forma, sua escolta era muito menor do que seria, caso estivesse na companhia de Helaena. Ninguém ligava muito para a segurança de uma traidora, além de Aemond. Foram ao todo dois guardas caminhando com ela por entre os cantos escuros iluminados por tochas, tarde da noite. Quando Anya passou pela sexta tocha do corredor sul, parou de andar subitamente, e os guardas pararam junto dela. A princesa se queixou se alguma dor em seu tornozelo, e no momento em que se abaixou para analisar, um barulho brutal de gargantas sendo cortadas soou, fino e baixo. Quando elevou seus olhos, um dos guardas caíra ao chão, morto, e um segurava uma espada ensanguentada. Anya voltou a colocar-se de pé, observando o manto branco que havia acabado de assassinar um de seus irmãos de guarda com enorme curiosidade. Quando ele enfim tirou seu capacete, Anya viu ali o rosto de um homem muito conhecido e querido.

       — Lorde Westerling! — disse com surpresa.

       Ele fez uma breve reverência. — Princesa. Temos que agir rápido. Vista as roupas e a armadura dele.

       E indicou o guarda real morto. Ainda admirada, ela retirou as roupas e vestiu-se da armadura do homem, trajando-se de manto branco. Lorde Westerling apanhou o corpo morto do homem, arrastando-o para um canto escuro e não frequentado. Apossou-se de uma tocha e segurou o braço de Anya, levando-a dali.

       — Venha, princesa.

       Ela o acompanhou com pressa, observando tudo ao redor. Passaram por alguns soldados, que cumprimentaram o homem e olharam com estranheza para Anya, mas nada disseram. Quando enfim atingiram um corredor vazio, Lorde Westerling pairou em frente a uma parede de pedra. Sem demora, empurrou uma das pedras com força e, diante de seus olhos, uma passagem secreta lateralizada surgiu.

       — Como você...

       — Fui Lorde comandante da Guarda Real por muitos anos, antes de ser rebaixado para que sor Criston tomasse meu lugar. — disse ele, com a voz pesarosa. — Conheço muito sobre esses corredores. Entre.

       Sem demora ela o fez. Entraram na passagem escura e estreita, e lorde Westerling foi a guiando junto da tocha.

       — Lorde Westerling, por que está fazendo isso? — ela não conseguiu se segurar.

       — Servi seu avô por anos, minha princesa. — disse ele, apressado. — Qualquer um que tenha conhecido Viserys minimamente, sabe que não havia ninguém além da princesa Rhaenyra em sua mente para assumir o trono. A coroação de Aegon foi uma usurpação da mais desgostosa, e eu tenho sido omisso por tempo demais.

       Ela podia respeitar aquilo. — Daemon o contatou?

       — Sim. Ele tem informantes aqui dentro da Fortaleza. Venha, estamos quase na saída.

       E mais alguns minutos andando fizeram com que eles saíssem em uma porta na lateral da fortaleza, exatamente nos jardins, faltando poucos metros para que ultrapassassem os muros. Visenya pode ouvir barulhos distantes dali, altos e brutos, como se estivesse havendo uma grande movimentação dentro da fortaleza.

       — Retire esta armadura, princesa. — disse ele. — Pelo barulho, já devem ter encontrado o guarda morto. Sabem que você está vestida como manto branco, por isso, não pode andar pelas ruas vestida assim.

       Ela fez aquilo sem demora, retirando cada pedaço da armadura de cima de si. Logo, estava de cara limpa frente ao mundo.

       — Como sairemos?

       — Existe uma passagem logo a frente no muro entre os jardins e a saída lateral. — ele apontou. Visenya visualizou bem. — Você...

       Um barulho alarmante se fez presente. Guardas, sem dúvida, ao que a movimentação de suas armaduras era perfeitamente reconhecível. Lorde Westerling agiu rápido, entregando a ela um largo pano roxo e um punhal.

       — Enrole-se nisso. Você deve ir. Mate qualquer um que encostar em você. Tentarei lhe ganhar tempo.

       — Mas, e você?

       — Lhe encontro na cidade. Ande, vá!

       O lorde então saiu dali, puxando sua espada e deixando-a sozinha entre as belas plantas que faziam um labirinto de heras. Visenya respirou fundo duas vezes, tomando coragem para começar a correr na direção da saída. Já via a passagem indicada, e seu caminho estava absolutamente livre. Seria simples deixar a fortaleza, agora que a pior parte já havia sido vencida.

       Ela conseguiria.

       Mas então, outra vez, o diabo em pessoa se colocou na presença dela.

       De pé, com a espada no coldre, as vestes negras como a morte, as mãos juntas atrás das costas e, desta vez, na ausência do tapa olho, Aemond estava ali como um maldito fantasma, onipotente e onipresente, frente a ela.

       Terror tomou seu corpo. Ela freou sua corrida, olhando-o com os olhos arregalados. Ele, no entanto, curvou levemente os lábios, embora o olho estivesse tão sombrio quanto a noite.

       — Vai a algum lugar, minha senhora?

       Não haviam meios de inventar outra história. Visenya engoliu seco. Era o fim. Ele não a deixaria sair, nem que tivesse que morrer por isso. Lutar contra ele era impossível. Era melhor se render, de uma vez.

       Mas algo dentro de sua alma rugiu: não. Era ela quem não deixaria ele a impedir. Nem que tivesse que morrer por isso também.

       — Saia da frente, Aemond. — ditou, fria. — Eu vou ir embora essa noite.

       — Ah, — foi o que a voz dele disse, aspera. — ir embora. Para onde, posso saber?

       Era uma pergunta retórica. Ele estava brincando com ela. Brincando com sua presa, como um maldito predador.

       — Casa. — murmurou, firme. — Vou para meu lar, Aemond.

       Ele deu dois passos para frente, cortando a distância entre eles. — Casa, ela diz. — caçoa ele, aproximando-se mais ainda. — Você engana a si mesma, minha senhora. Já está em casa, sabe disso?

       Seu corpo grita em alerta com a proximidade dele, mas ela quase se permite cair na risada com o que ouviu. — Casa, aqui? Nesse inferno? Me choca o quão pouco você me conhece, Aemond.

       — Não aqui. Não este lugar. — ele diz, enfim chegando tão proximo que a respiração dele podia ser sentida no pescoço dela. — Você sabe, Visenya. — ele murmura. Seus pelos se arrepiam com a voz dele. — Sabe que toda vez que nos beijamos, nossas almas sussurram coisas uma para a outra.

       Ela prendeu a respiração quando a mão dele foi até o canto de seu cabelo, colocando-o atrás da orelha.

       — E o que elas sussurram, posso saber? — indagou petulante, odiosa, mas já sabia a resposta.

       E ele a disse em lingua antiga, com um sussurro em seu ouvido. — Bem vindo ao lar.

       Sete Céus. Visenya engoliu todo calor de seu corpo, recuando dele com voracidade e raiva.

       — Quem lhe disse que eu estava aqui?  — vociferou.

       Ele suspirou. — Helena confessou quando o guarda foi achado. Não pude ficar para ouvir o resto do sórdido plano de fuga. Quando ela disse que passaria por aqui, tive que ver o rosto de minha esposa pessoalmente. — mesmo duro, o sadismo em sua voz não disfarçava a decepção.

       Nem a dor.

       — Sinto muito em quebrar seu coração, meu senhor. — disse irônica. — Mas agora, suponho que estejamos quites.

       — Ah, eu lhe perdoo, Visenya. — ele falou com bom humor, embora ela soubesse que não passava de sarcasmo. — A cada vez que você me faz de tolo, mais impenetrável eu me torno. Está me dando uma verdadeira aula sobre a psique de mulheres ardilosas. Me diga, meu tormento, foi por isso que se deitou comigo? Para me amolecer e fugir de mim com facilidade?

       Aquilo lhe doeu. Doeu que ele pudesse pensar que ela era uma mulher tão fria, tão terrível ao ponto de brincar com os sentimentos de alguém daquela forma. Doeu que ele achasse tão pouco dela.

       Mas o que saiu de sua boca foi:

       — Sim.

       Mesmo com a feição deleitada, algo na íris de Aemond trincou.

       — Muito esperta. — disse. Sua voz era gélida como as terras de sempre inverno. — Devo dizer que quase conseguiu ter sucesso.

       — Quase?

       — Quase. — ele diz. — Mas não fique triste, minha senhora. Pelo menos você conseguiu passear um pouco com essa estupidez que planejou. Viu passagens secretas, jardins, flores... mm, é mais do que verá daqui para frente, e por um bom tempo.

       Sentiu uma dor terrível em seu corpo, bem como náuseas. — O que está dizendo?

       — Estou dizendo que vou lhe carregar agora mesmo para meus aposentos onde poderei vigia-la de perto. E, devo lhe dizer, não há nenhuma previsão para que saia de lá tão cedo.

       Ela recuou mais duas vezes. Só a ideia de ficar trancafiado no mesmo quarto de Aemond era aterrorizante, medonha... entorpecente. Era um ingresso para perder completamente sua sanidade, seu juízo, sua alma.

       Era oscilar na borda do inferno e do paraíso. Era uma batalha que não poderia mais lutar.

       — Terá que me levar morta. — disse, mais séria do que ele gostaria.

       — Já chega, Visenya. — disse, impaciente. Caminhou até ela, mas a mulher puxou o punhal, erguendo-o na direção de seu próprio pescoço.

       Ele interrompeu seu andar no mesmo segundo. Seu rosto se encheu de ódio e trevas. — Sua vida vale assim tão pouco?

       — Saia da minha frente, ou... — apertou mais ainda a lamina contra sua garganta.

       — Ou o que? Vai cortar sua própria garganta? — ele vocifera, colérico. — Você, uma valiriana legítima, cujo sangue de dragão é tão intenso que nem mesmo a permite ser queimada, vai tirar sua vida por rainhas e bastardos?

       — Irei tirar minha vida por minha família. — ela diz, firme. — e faria isso em mais um milhão de vidas.

       A safira de Aemond trovejou como na noite que se beijaram. Mas agora, não havia romantismo.

       — Eu não vou deixa-la ir. — declarou.

       — Então irá me matar. — apertou a lamina. Sentiu certa dor, e a esta altura, sangue deveria ter escorrido.

       Aemond arregalou seu único olho. — Pare com isso. — bradou com tom controlado, mesmo que emitisse certo desespero. — Abaixe essa maldita lamina, Visenya.

       Mas ela não deu ouvidos. Vendo talvez que ela jamais desistiria, Anya viu algo completamente novo se apossar do corpo de seu marido, algo que ela nunca havia visto nele em toda sua vida, nem nos momentos mais extremos, tampouco nos mais perigosos. Viu algo que ele declara jamais possuir.

       Ela viu medo.

       Aemond ergueu as mãos levemente aos céus como se estivesse rendido.

       — Abaixe o punhal, Visenya, pelos malditos deuses.

       — O que foi, marido? Seu egoísmo e crueldade não conseguem ir tão longe quanto gostaria? Terá que abdicar de algo hoje. Minha presença ou minha vida, escolha. — disse, parando a lâmina por um instante. Sentia dor, mas não havia se cortado profundamente.

       Ainda.

       — Se você apertar essa lamina, Visenya, eu juro por todos os deuses, antigos e novos....

       — Jura o que? Se eu morrer agora, que mal você poderá me fazer, Aemond?

       Ele se achegou ainda mais perto dela, tão nervoso e temeroso quanto jamais foi visto. Ela manteve o punhal firme, e mesmo que ele estivesse a centímetros dela, qualquer movimento seria fatal.

       — Se fizer isso, a amaldiçoarei como quem amaldiçoa o pior inimigo. Juro por todos os deuses que não deixarei o Estranho lhe levar para o outro mundo, e você jamais descansará em paz. — ele diz, frio, sério, desesperado. Ela arregalou seus os olhos. — Farei com que sua alma vague por esse mundo tenebroso sem paz enquanto eu viver.

       Aquilo a deixou sem fôlego. Tais palavras, tão profundas e místicas. Nunca pensou que Aemond seria capaz de proferir algo assim, tão ilógico, tão iliteral, como nos contos de horror que escutava quando menina.

      Ela acreditava neles, no entanto.

       — Se assim for, irei lhe atormentar. — ela diz junto a brisa, chegando mais perto do rosto dele. A faca posicionada para um corte mortal. — Irei lhe assombrar por toda vida.

       — Se isso a fizer ficar comigo sempre, então que seja. — murmurou. — Tome qualquer forma. Me assombre. Me deixe maluco. Mas fique comigo.

       Era a voz de um diabo soando a sua frente. Um paraíso sombrio no qual ela se via envolvida toda vez, mesmo que tentasse evitar a todo custo. Mesmo com a insanidade de suas palavras, ela sabia que eram reais. Sua alma não seria levada pelo Estranho, jamais. Estava atrelada demais a dele para deixa-lo, mesmo que em diferentes planos. Aemond estava sempre com ela, não como um prazer, não mais do que ela sentia prazer consigo mesma, mas como seu próprio ser.

       Sua mãe costumava lhe dizer que se apaixonar era uma benção dos deuses. Mas Visenya sabia melhor.

       Não fora abençoada pelos deusas. Fora amaldiçoada.

       E por isso, Visenya Velaryon decidiu que não morreria naquele dia. Olhou ao redor, vendo as tochas iluminando o labirinto de heras. Nem mesmo raciocinou, ao que apanhou uma delas em rápido movimento e atirou no chão, incendiando a grama entre eles. Aemond recuou, surpreso, e tentou apagar as chamas com os pés, mas haviam muitas plantas, e não tardou para que o fogo se alastrasse, tomando o caminho até a a passagem secreta e as heras com ardor. Seu marido foi regressando na medida em que tudo queimava para que se salvasse, mas Visenya correu por entre o fogo vivo sem sentir dor nem calor. Chamuscando sua roupa, ela pairou na porta da passagem apenas para vislumbrar de longe, por uma última vez, a face de seu diabo, seu tormento, seu marido, seu paraíso sombrio. Ele estava de pé, preso e rodeado pelo fogo, que impedia sua saída. Em breve queimaria o solo que estava de pé, selando de uma vez por todas sua vida. Visenya poderia salva-lo, talvez. Seria apanhada e capturada no processo, mas assim Aemond não morreria. O terrível dilema lhe torturou por segundos enquanto ele se entendia na onda de chamas que avançavam. Ele a observava perplexo em ódio, amor e assombro, e ela, com olhos marejados e peito pesado.

       E então, Visenya deu as costas, indo embora, deixando seu marido para morrer sem nem olhar para trás.

       Seguiu a passagem chorando amargamente, e ela lhe levou até muito além dos muros, onde tentou ajeitar as vestes queimadas e enrolou o pano em seu rosto. Trocou as pernas por entre as ruas comuns da cidade enquanto as lagrimas lhe desciam sem previsão para parar. Anya sentia mais dor do que quando tivera suas mãos mutiladas pela faca de Sangue. Era como se houvesse arrancado um pedaço de si mesma e atirado ao fogo, sentindo pela primeira vez a dor de ser queimada. Andou sem rumo por tanto tempo, desesperada em tristeza e amargura, que se perdeu em meio as ruas.

       Foi quando, subitamente, sentiu alguém segurar seu braço. A mulher prendeu a respiração, assustada, e quando se virou para esfaquear quem lhe apanhara, viu ali Lorde Westerling.

       Suspirou aliviada, abraçando-o com olhos molhados. — Meu lorde!

       — Minha princesa. — ele a abraça de volta. — Consegui retardar a guarda real. Mas temos que correr, eles em breve irão vasculhar a cidade.

       Assentindo, ela enxugou suas lagrimas e passou a segui-lo. Andando agora na direção certa, deu-se conta de que nunca estivera ali antes. O cheiro de fezes e podridão, as casas mal construídas, as pessoas com péssimas condições, todas caminhando juntas no mesmo fluxo direcional: a rua da seda, onde prazer e luxúria eram achados por um preço certo. Ela tentou esconder seus olhos daqueles que olhavam-na com curiosidade. Se vissem o violeta de sua íris, saberiam que uma Targaryen estava presente, e seu disfarce seria frustrado. Com sorte, conseguiram tomar caminhos discretos até o apse da multidão, e quando atingiram o antro da cidade, dentre a multidão de pessoas, Anya pode sem demora identificar aquele que seria sua passagem de ida para casa. Um homem de capa laranja.

       — Ali. — ela diz ao lorde. — Aquele homem.

       Assentindo, o ex lorde comandante seguiu entre o povo, ainda segurando o braço da menina, e a levou até o homem indicado. Era careca, com uma barba engraçado e olhos com tinta negra pintadas em baixo. Parecia dornês, mas era difícil dizer.

       — Sim? — ele perguntou.

       Visenya tateou a flanela negra e a estendeu para ele com urgência.

       O homem nem mesmo precisou raciocinar.

       — Muito bem. Venham comigo.

       E mais uma perigosa jornada se iniciou. O estranho lhe levou até uma portinha nos fundos de um estabelecimento antigo, onde uma escadaria espiralada velha e malcheirosa os guiou até um porão úmido e escuro. Ele abriu uma porta ruidosa e permitiu a passagem dos dois, mas assim que o fizeram, fechou a porta, os trancando lá dentro. Anya observou o local escuro e úmido, iluminado apenas por uma breve chama de vela. A princesa encarou o lorde, que mesmo sendo homem de coragem, parecia tão inseguro quanto ela. Ele desembainhou sua espada.

       — Não há necessidade para isso, meu lorde. — uma voz com sotaque pesado soou de dentro da escuridão. — Estamos todos entre amigos, e ninguém fará nada a princesa, exceto, talvez, ajuda-la.

       Ambos tornaram para a direção que a voz vinha. Vagarosamente uma silhueta foi se aproximando da luz, e ali estava uma mulher que Visenya jamais havia visto em toda sua vida.

       Esbelta, utilizando um vestido de seda branco belo, embora um pouco vulgar, com pele de tom pálido e cabelos brancos como os de um Targaryen, a face dela se fez visível quando muito perto do fogo. Seus olhos negros faiscaram junto de seu sorriso ardiloso.

       — Verme Branco. — lorde Westerling disse.

       Ela suspirou. — Este nome tem sido indevidamente utilizado em alguém que, mesmo com as circunstâncias, tem mantido mais classe do que a maioria dos que se assentam no Pequeno Conselho. Não, me chame de Mysaria.

       Anya pareceu muitíssimo surpresa.

       — Você é o Verme Branco? — não usava tom desagradado. Estava admirada.

       Ela soltou outro breve sorriso.

       — Princesa Visenya. — ela se curva levemente. — Não vamos perder tempo. A esta altura, já devem estar vasculhando cada canto imundo da cidade. Seria impossível fugir, se qualquer outra pessoa estivesse lhe ajudando, além de mim.

       Ela então abre uma portinha pequena ao lado de onde a vela ficava. Outra passagem secreta, Anya pensou, que ótimo!

       — Está é a passagem que utilizo para meus contrabandos. Ela levará a um porto afastado, e lá, um veleiro lhe aguarda para leva-la diretamente para Pedra do Dragão. — ela diz, segura daquilo.

       Lorde Westerling não perdeu tempo. Guardou sua espada e tocou em direção a passagem. — Rápido, princesa.

       Ainda com o manto sobre seu rosto, Anya foi andando em direção a porta, mas parou um segundo antes. — Obrigada, Mysaria. Segurarei o trono de minha mãe, com fogo e sangue, e quando ela for rainha, a coroa jamais esquecerá do que fez essa noite.

       A mulher sorriu com os olhos. — Um legítimo dragão. Assim como seu pai me disse.

       Visenya não teve tempo para ponderar sobre o que ouviu. Adentrou na passagem atrás do lorde, aflita. Esta era ainda mais escura, estreita e longa, e até mesmo escorregadiça. Andaram por longos, longos minutos, até enfim sentirem a areia em seus pés e a noite sobre suas cabeças. Estavam na praia numa região um tanto deserta, não se tratando do porto comum de Porto Real, e nela se encontrava um veleiro com larga carga de caixas e baús. Anya não sabia qual era a bagagem, mas assim que o capitão, um homem moreno e corpulento, avistou duas figuras se aproximando, logo saltou de seu barco, pondo a desamarrar a corda com rapidez. Já parecia estar a par de tudo.

       — Venham logo. O alarme da cidade já soou sete vezes.

       Então era oficial: absolutamente todos já sabiam de seu sumiço. Tentou imaginar Aemond agora. Estaria morto? Urrando em uma dor lacerante? Aquele pensamento a torturou, deixando sua boca com gosto de bile. Se ele houvesse morrido, ela o amaldiçoaria da mesma forma que ele disse que faria. Amaldiçoaria sua alma para que ficasse para sempre a atormenta-la.

       Voltando a chorar, correu avidamente até a embarcação. O capitão terminou de tirar as cordas, voltando para seu barco enquanto ainda berrava que andassem logo. Pelos deuses, ela estava tentando, mas a praia era longa.

       — Parados! — uma voz berrou.

       Quando Anya olhou para trás, um grupo de cinco guardas da patrulha da cidade vinham por ali. Mantos dourados raivosos e parecendo muito sedentos em cumprir a lei.

       — Princesa Visenya, pare imediatamente. — berrou um deles, correndo na direção de onde estavam.

       Um enorme desespero atingiu o coração de Visenya. Haviam sido descobertos e jamais embarcariam. Eram muitos, de fato. Era o fim.

       Mas Lorde Westerling tinha outros planos.

       — Corra, princesa. — ele bradou sua espada. — Lhe darei tempo.

       — Meu lorde...

       — Vá! — ordenou em um berro.

       Visenya não pode nem olhar para trás. Correu com toda força de seu corpo pela areia da praia, sob a noite estrelada e o luar pálido, tocando em direção ao barco enquanto lagrimas molhavam seu rosto com violência. Sons de luta e espadas trincando preenchiam seu ouvido, mas ela não pôde vislumbrar... pulou dentro do convés do pequeno veleiro, e ao vê-la dentro, o capitão içou as velas, fazendo-o começar a navegar. Desesperada, a princesa enfim virou-se para trás, esperançosa em ver o lorde chegando para viajar com ela também, vitorioso após derrotar cinco homens. Mas seu coração errou a batida. Fora como se o tempo parasse, e ela visse tudo ao seu redor mover-se muito de vagar. Haviam homens ao chão, mortos na areia, e Lorde Westerling de pé, sangrando, mas trincando sua espada em uma árdua luta contra um manto dourado. Anya gritou, tentando o alertar, mas de nada adiantou... o outro guarda veio por suas costas e atravessou a espada em sua cabeça. Ele caiu morto.

       Visenya berrou em lamento, e seu corpo se movimentou em impulso, querendo pular para fora do barco e retornar para a praia para matar os dois malditos, vingando lorde Westerling, mas o capitão a segurou pela cintura com força e certa raiva, tampando sua boca.

       — Acabou, ele está morto!

       — Vou acabar com eles, acabar com aqueles desgraçados! — dizia, chorando como uma criança. — Como ousam tocar com mãos podres um homem tão justo! Arrancarei as cabeças, um por um!

       — Se voltar lá, ele terá morrido por nada, sua tola!

       O corpo dela se acalmou, sua expressão se esfriou. Mas os olhos continuavam a derramar lágrimas, vendo o corpo de Lorde Westerling jogado na praia, agora já há metros de distância. Mais uma vez, Anya via sangue inocente ser atirado pela terra. Se perguntou quanto mais viria a ser desperdiçado, e se um dia se acostumaria em vê-lo pingar em prol de sua causa. Tanto sangue apenas para ver sua mãe sentada em um trono.

       Todo império era erguido através de sangue e fogo, ela pensou, dura. Lide com isso, Visenya.

       O capitão então a soltou, respirando fundo.

       — Tente dormir, princesa. Pegaremos outra rota para evitar sermos seguidos, mas logo estará em seu lar.

       Lar. O sorrido quente de sua mãe, os abraços apertados de seus irmãos. Lar, ela dizia a si mesma. Sim, estou indo para meu lar. Não aguentava mais ficar longe deles naquela terra que agora se tornara estranha para si. Lar, ela estava indo para seu lar.

       Mas os pensamentos e sentimentos sombrios logo tomavam conta dela junto a imensidão negra do mar. Os beijos de Aemond por todo seu corpo naquela noite. Morto, ele estava, em todos os sentidos. Aquela fora a primeira e a última vez, um jogo perdido. Amar ele era um jogo perdido, ela sempre soube, mas quis jogar mesmo assim.

       E naquela noite, diante da luz da lua e as calmas ondas do oceano, quando lembrou-se de seus lábios nos dele, ela podia jurar que realmente ouviu sua alma lhe sussurrar "bem vinda ao lar".




•••

Olá, caros leitores ávidos.

Eu sei. Eu sei. Eu sumi por muito tempo. Tempo demais. Tempo mais que demais, e para piorar, sem dar satisfação a ninguém. No lugar de vocês, eu teria ficado bastante irritada por isso, pois sei bem como é esperar muito para ler alguma coisa e ser absolutamente frustrada pelo sumiço de uma autora. Soa até como uma irresponsabilidade afetiva. Mas queria que vocês entendessem que eu passei por alguns eventos na minha vida pessoal bastante fortes que realmente me tiraram completamente a estabilidade em todos os sentidos. Social, sentimental... por um longo tempo eu venho passado por um processo de recuperação disso, e simplesmente não achava forças para escrever, nem mesmo para dar satisfação a ninguém. Eu precisei de um tempo para me recompor, sozinha, sem me preocupar com nada além de mim. Me desculpem se isso soa extremamente egoísta. Talvez seja. Mas foi só o que eu consegui fazer naquele tempo. Nesse processo, eu aparecia por aqui! Lia os comentários, sorria e ria com eles, lia as mensagens no meu perfil, lia o quanto vocês gostavam, até mesmo umas teorias de que eu sou uma tal maria (meu nome é ana luisa gente KKKKKKKKKK), mas eu simplesmente não tinha forças para aquilo naquele momento. Peço perdão do fundo do meu coração, mas quero dizer que, não importa o que aconteça, eu não tenho intenção nenhuma de abandonar essa fic. Ela é muito especial para mim, vocês são muito especiais para mim! E o curso dela já está praticamente pronto até o fim. Mesmo que outras coisas venham a me deixar mal, eu prometo a vocês que sempre vou achar uma forma de me recompor e escrever mais um capítulo, pois me faz muito bem.

Agradecendo muito por todo amor, paciência e carinho,

Att, nalua.

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