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As portas fechadas, as meninas dormindo, metade das luzes apagadas, as cortinas intactas e o silêncio profundo instalado. Solitário, na ponta da cama, Louis suspira encarando o próprio celular, um tanto quanto preocupado, cogitando ligar para Harry, entretanto, não tem intenção de interromper a reprodução de nenhuma música.
Ele se arrasta até os travesseiros, largando o aparelho no caminho, tentando acreditar que o amado está bem e chegará a qualquer momento. Após cinco minutos, o celular começa a vibrar e não para mais, voltando para as mãos de Louis, que coçando os olhos, acessa o feed de notícias do Google, dando de cara com uma foto de Harry, com uma das mãos sendo puxada por Taylor, para dentro de uma casa noturna.
Em menos de três segundos, tendo lido apenas a manchete da matéria, o homem concentra toda a força do braço direito em arremessar o celular direto na lajota branca, partindo o vidro em mil pedaços. O som ecoa por todo o quarto, a voz de Harry dizendo que iria espairecer e talvez passar no estúdio ensurdece a mente de Louis, que levanta devastado, inicialmente estático, empalidecendo de uma hora para a outra.
...
Além das duas da manhã, Harry adentra a morada, subindo as escadas silenciosamente, se empenhando em não acordar ninguém. Ao entrar no quarto do casal, vê Louis adormecido por entre os enormes cobertores brancos. Ao se aproximar, lentamente, por pouco não cambaleando no caminho, beija a testa dele.
- Harry? - A voz rouca de Louis indica que acaba de acordar.
- Já cheguei amor, pode dormir. - Harry passa a mão pelos cabelos dele, bagunçando a franja.
- Que horas são?
Louis vira para o teto, se sentando na cama, com os olhos vermelhos e inchados.
- Duas da manhã, eu acho. - Harry murmura na defensiva, indo em direção ao toalete da suíte.
- Você saiu daqui às 3 da tarde falando que ia compor. O que aconteceu, posso saber?
Louis se levanta e o segue até o banheiro, o vendo tirar as peças de roupa para tomar um banho.
- Eu encontrei uns amigos, saímos e... acabei passando do limite de horário, só isso. - Harry desabotoa os botões da camisa.
- Quando foi que começamos a mentir Harry? - Louis se escora no batente da porta, o encarando com uma face de decepção.
- Do que você está falando, Louis? Eu fui compor, mas encontrei dois colegas e fomos para um bar. Não aconteceu nada demais.
Por mais que se esforce em manter a postura, a serenidade e a lucidez, o tom de Styles vacila, no momento em que se segura na pia, quase tropeçando.
- Realmente não aconteceu nada demais Harold, só a porra de uma foto sua com a Taylor, em todos os veículos de comunicação. - Louis o fita com lágrimas nos olhos, um olhar que mistura decepção com frustração.
Ao ouvir o nome da amiga, Harry congela por um momento, todo seu corpo se mantém em alerta e sua mente começa a pensar em uma saída para aquela situação.
- Você prometeu, Harry, você não ia mais ver ela. Se não por mim pela porra da sua família, faz um tempo que a gente parou de brincar de casinha, tem 5 meninas naqueles quartos que contam com você! - Tomlinson esbraveja ao final da frase, gritando.
- Eu sei que prometi, gatinho... - Harry caminha até o menor, que se esquiva de um possível abraço. - Só calhou dela estar no mesmo bar, a gente só conversou. - Ele segura o rosto avermelhado de Louis, usando o polegar para secar suas lágrimas.
- Harry. - Louis aproxima o rosto da camisa aberta do marido. - Você tá chapado? - A voz agora representa indignação.
Ele se afasta, voltando ao quarto.
- Foram só uns tragos, eu não fumei sozinho. - Harry tenta aliviar a tensão inutilmente.
- E fumou com quem posso saber?
- Com a Tayl...
- Nem termina, sério eu já tô decepcionado o suficiente! - Louis levanta um palmo para silenciá-lo.
- Vai começar com esse ciúmes sem motivo algum? Nunca te dei motivo para isso, vai começar agora?!
Harry sai do banheiro atônito, não sabendo ao certo que emoção seguir, se sentindo cada vez mais encurralado.
Do outro lado da casa, o tom alto da discussão acorda as meninas, que se levantam com medo.
- O que tá acontecendo, Jeni?
Gabrielly abre a porta do quarto das gêmeas, vendo uma delas agarrada à Yasmin, enquanto a outra se mantém atenta a qualquer novo barulho.
- Não sei Bil, eu acho que o pai Harry acabou de chegar e eles estão discutindo por isso. - Jeniffer se encolhe.
- O pai Lou disse alguma coisa sobre veículos de comunicação, entra na internet, Bil, vê o que tá acontecendo. - Jennifer puxa a irmã pelo pulso fechando a porta.
Gabrielly pega o celular, procurando o nome de Harry, até encontrar a imagem dele com Taylor. Ela paralisa, com os olhos vidrados na tela.
- Gente, os pais estão brigando feio, devemos nos preocupar? - Talita adentra o cômodo, fechando a porta atrás de si, tomando cuidado para não bater.
- Jura, Talita? - Jennifer revira os olhos com a pergunta.
- Ai pirralha se toca. - Talita se senta ao lado de Bil, que se mantém imóvel com a recente descoberta. - O que foi, Bil?
- Eu acho que descobri o motivo da briga. - Gabrielly vira o celular para as irmãs, revelando a matéria no The Sun, relacionando Harry a Taylor.
- Aquela piranha me paga. - Jennifer toma o celular para si, para ler o texto. - Beijo? É por isso que tá tendo um quebra pau do outro lado?
- Que beijo? - Talita se escora na mais nova, avaliando a foto. - Eles não tão se beijando, você é idiota?
- Não tem na foto mas tá escrito, você não sabe ler, é analfabeta?!
Elas param até de respirar ao ouvirem algo quebrando no corredor, provavelmente o vaso de cerâmica, que ficava na última parede. O artefato não escapou da ira de Louis, que quase o atirou em Harry, se ele não houvesse desviado por instinto.
- Ciúmes?!
Louis não sabe se chora ou se ri, avança na direção de Harry exasperado, o vendo andar para trás totalmente apavorado.
- Você mentiu, Harry Edward Styles, você mentiu pra mim, você me fez de otário! - Louis para, não conseguindo mais efetuar um passo.
- Louis, do que você está me acusando agora?! Eu tô dizendo que não aconteceu nada, por que você não ouve?! - Harry responde na mesma altura apenas pelo desespero, trêmulo.
- Você não vai parar de me tratar como idiota?!
Enxergá-lo através de tantas lágrimas, engolindo em seco, parte o coração de Yasmin, que havia espiado na brecha da porta por uma fração de segundos.
- Eu nunca te tratei como idiota, você tá fazendo uma tempestade em vão, porque eu não fiz nada, é só uma foto, Louis! - Styles dá um passo e o marido levanta o dedo na face dele, o impedindo de se aproximar mais.
- Foda-se! Pra mim não é só uma foto, é você traindo a minha confiança, Harry, é você escolhendo ela ao invés de mim, é você colocando ela na frente da nossa família, seu filho da puta!
Face à face, ambos conectados um ao olhar do outro, exalam somente a euforia e a negação do que cada um defende. Com o coração palpitando veloz como as asas de um beija-flor, Styles abre a boca por um momento, ainda que não haja uma justificativa plausível que faça Louis mudar a visão.
- Não... eu nunca trocaria a minha família por nada, Louis, você não sabe o que está dizendo.
A resposta transcende o pânico, o caos e o medo.
- Eu não faço parte da sua família? - a voz de Louis falha. - Porque você me trocou, Harry.
Dando as costas para o parceiro, Louis cruza os braços quentes, fuzilando o retrato de família na parede, dos dois na frente da lareira, sentados com as pequeninas Talita e Gabrielly no colo, que tinham chupetas na boca.
- Você está agindo como louco, como se eu tivesse traído você, isso não é justo, é claro que você é minha família!
Harry tenta se aproximar, mas antes que segure no ombro dele, Louis se vira repentinamente, o empurrando pelo reflexo de não querer ser tocado por ele.
- Isso não é justo, Harry? - Ele repete, desdenhando da frase cinicamente. - Não é justo eu me sentir idiota porque você estava com quem prometeu que não ia estar?! É isso mesmo o que não é justo?!
Desmontado, com o corpo tremendo, a testa enrugada e o semblante atordoado, Harry não emite uma só palavra, não sabe como reagir, o álcool dificulta seu raciocínio e torna suas pernas bambas.
- Você não tem nem coragem de admitir que está errado! - Louis o crucifica, dando a volta por ele, cauteloso em manter uma distância segura. - Covarde!
- Loui...
- Cala a boca!
É como se a onda sonora atingisse os tornozelos de Harry. Ele desaba no piso, sem tirar os olhos de Louis, perdendo o controle da própria respiração, que se une ao choro descompassado.
- Você acabou com a gente.
Mantendo o nariz acima, Tomlinson o repreende, mostra expressões de nojo e quebra de expectativas, dando passos para trás.
- Não... não, Louis... por favor... - Ajoelhado, com a coluna formigando, apoiado nas mãos que seguram no azulejo frio, Harry implora aos soluços. - Por favor, Louis... não vai...
Parado ao lado da escadaria luxuosa, Louis olha para ele por uma última vez, desolado, com as lágrimas pesadas pingando na camisa branca.
- Por favor... - O cantor tenta se levantar, se arrastar atrás de Louis, mas o corpo enfraquecido pela bebida não funciona corretamente. - eu amo v...
- Você não tem mais esse direito.
Louis corta a frase, virando as costas e descendo às pressas, correndo pelos degraus, como se houvesse um incêndio naquele corredor.
- Louis! - Harry consegue reunir as forças para gritar, ainda que perca o equilíbrio, caindo com o abdômen no chão.
O grito não impede que o nativo de Doncaster termine o primeiro lance, implacável, se distanciando o mais rápido que pode, sem olhar para trás.
Desgrenhado, com a testa suada, o choro crescente e o corpo exalando dor, Harry luta para rastejar, talvez as substâncias tragadas tenham chegado ao ápice do efeito somente agora.
- Louis! - O berro vibra as portas dos quartos, ecoando pelas extremidades do segundo andar. - Louis!
Não há outra palavra que saia da boca dele, incapaz de ter outro pensamento.
- Louis, por favor, volta!
Em pedaços, com o peito sufocando, Harry se apoia na porta ao lado, começando a se erguer, entretanto, cai novamente de joelhos antes de ver a escadaria.
Chorando incansavelmente, ele se encosta na parede, olhando para o fim do corredor, torcendo para que Louis apareça a qualquer momento, nem que seja para jogar outro vaso em sua direção.
Abraçadas umas às outras, as cinco meninas no quarto das gêmeas, fecham os olhos, apertando as pálpebras violentamente, como se pudessem adormecer instantaneamente, para minutos depois, acordar daquele pesadelo. Contudo, não é o que acontece, Harry continua gritando o nome de Louis, aos prantos, embriagado e sem resposta.
- Shh... - Talita tenta reduzir o choro abafado de Yasmin, que segura um travesseiro, nervosa, com os dentes batendo de tanto chorar. - Yas, calma...
Se tivesse condições de falar, a caçula apontaria a falta de moral que a irmã adquire, ao pedir calma, enquanto seu rosto incha de tantas lágrimas sentidas.
- Vai ficar tudo bem.
A mais velha estica os braços, unindo-as o máximo possível, alcançando o ombro de Gabrielly e a cabeça de Jennifer, que segura uma vela apagada, moendo a cera com os dedos, concentrando ali seu desespero.
- É só um mal entendido, tudo vai se resolver. - Talita alega o que não sabe, o que torce para ser verdade, mas tem certa dificuldade em acreditar. - Tudo vai se resolver.
Ela continua sussurrando pelos próximos dez minutos, tentando cobrir os berros de Harry, que vão diminuindo gradativamente.