Eu já esperava que Angel iria sair correndo aquela noite.
O problema é que eu não consegui tirá-la da cabeça!
O beijo foi ainda melhor do que eu fantasiei... Estávamos dançando em sintonia, ela também queria aquilo.
Aquele beijo foi o oque me trouxe calma após ver o meu pai e a vadia da Virgínia em uma sala, no próprio aniversário da mamãe... Eu estava me segurando para não quebrar a cara dele!
Minha cabeça estava uma verdadeira bagunça, bastou apenas os lábios macios de Angel encostarem nos meus, e todas as vozes de repente se calaram...
Aquela mulher é mesmo um anjo!
Quando eu cheguei em casa mal consegui dormir, fiquei deitado como um bobo olhando a sua pulseira...
Enquanto eu saia do meu quarto indo em direção a cozinha para comer alguma coisa, encontro com Virgínia.
A mesma para assim que me vê e tenta me intimidar com o seu olhar.
- Ora, se não é a vadia traidora!
- Mais respeito comigo, seu pirralho!
- Respeito? E o que você sabe sobre isso? Porque pela suas ações...
Ela se aproxima e é rápida, me atingindo com tapa em meu rosto.
- Não ouse!
- O que? Vai da uma de boa velha agora?- seguro-a pelo braço. - Eu sugiro que você dê logo o fora daqui e não volte nunca mais!
- Vamos ver oque o seu pai acha disso!
- Vai fazer o que? Transar com ele outra vez assim como fez na festa de aniversário da sua própria irmã e outras vezes mais?
- Aquela vadiazinha te contou, não foi? Pois saiba que independente do show que você faça, eu não vou embora daqui tão cedo!
- Sim, você vai, isso eu te garanto! Você vai subir aquelas escadas... correndo como uma maluca, atordoada, louca para ir pra casa. Porque enquanto estiver aqui, vou me certificar que a sua vida vire um inferno!
- Bom dia, irmã, bom dia meu querido! Como vocês estão?- minha mãe se aproxima, deixando um selar em minha testa.
- Estou ótimo, mamãe. E a tia Virgínia também, não é tia? A sua felicidade tá contagiante hoje!- sorrio com sarcasmo.- Se me derem licença, preciso resolver alguns assuntos.
Falo por fim saindo dali.
Quando entrei pela porta da cozinha vejo Marcus sentado fitando um canto específico da cozinha como uma estátua.
- Você é estranho!- falo enquanto pego alguns biscoitos em uma tigela.
- Não enche, Ward. Tô cheio de coisa pra pensar!
- Qual é a sua com a Levine? Não sabia que vocês se pegavam!
- Não é da sua conta! Por que não cuida daquela sua namorada que não parou de tagarelar a noite toda na mesa?
- Olívia não é minha namorada.
- Falo isso pra ela então!- ele ri soprado.
- Vou dar uma volta por aí, não me ligue!
Saio pelas portas dos fundos que era ligada a cozinha e sigo até o riacho que havia aqui no condomio.
Eu só preciso de um lugar de paz! Um lugar em que não tenha pessoas, eu gosto de lá.
Enquanto eu me aproximava, pude ouvir uma melodia aumentando a cada passo que eu dava. Era uma música cantada por uma mulher com uma voz melancólica e dramática, acompanhada de uma melodia clássica.
Me aproximo perto o suficiente para ver que se tratava de Angel...
Ela estava sentada sobre uma toalha branca, lendo um livro e escutando música.
Seria uma coincidência?
Parece que a cada vez que a vejo ela está ainda mais linda!
Ela estava com um vestido amarelo florido, o cabelo estava menos ondulado, oque me deixou um pouco desapontado, mas ainda sim, sua beleza era insuperável!
Até então ela não percebe a minha presença.
Achando isso divertido, fico por alguns minutos a observá-la, lendo tão entregue ao livro. As vezes sorria, fazia uma careta engraçada, revirava os olhos... ah... se ela soubesse...
Quando se inclinou para o lado para mudar a música, seus olhos encontram com os meus.
Não pude conter a minha risada com uma expressão de susto.
- Maluco! Você tá aí a quanto tempo?
- Já faz um tempinho... Não quis atrapalhar!- permaneço parado de braços cruzados.
- Então porque não deu meia volta e foi embora?
- Sua beleza me prende de uma maneira que não consigo explicar...
Ela pisca três vezes seguidas.
Já a vi fazendo isso antes quando parecia envergonhada, então provavelmente isso é um costume, achei que ela era míope!
Me aproximo e ela trava, mudando a direção do olhar para o livro que lia
- Que livro é esse?- pergunto curioso por não estar conseguido ver a capa.
- O jardim das borboletas, nem toda beleza será capturada.
- Não se sente mal lendo um livro desse?
- Você já leu?
- Quando estou muito chapado costumo ler alguns livros. Mas fui obrigado a ler esse, a Louise ficou falando dele por semanas!- dou de ombros.
- Respondendo a sua pergunta, eu gosto do enredo do livro, por mais que tenha assuntos desconfortáveis, é uma leitura que prende!- ela diz tão serenamente que me faz querer tomar conta de seus lábios espertos.
- Então você gosta muito de ler? Vi a sua estante de livros no seu quarto.
- Você está me atrapalhando!
- Só estou interessado em saber mais de você!
- Por que? Por que você tá agindo assim?- ela marca a página com o marcador e fecha o livro, voltando sua atenção a mim.
- Como?- me faço de bobo.
- Por que tá dando em cima de mim?
- Porque você é interessante, inteligente, gosto da sua personalidade. Você é como esse livro, a cada interação que eu tenho com você me sinto ainda mais preso, desejando mais.
Angel parece sem palavras por alguns minutos. Achei ter visto um pequeno sorriso em seus lábios, mas de repente sua expressão muda.
- Você acha que vai me enrolar com essas suas palavras, Ward? Pois fique sabendo que eu não estou nem um pouco interessada em você!
- Gosto do meu nome quando é você quem diz... Ele soa tão...- suspiro.- Mas, eu espero, Angel, como sempre esperei desde aquele dia.- ela me olha confusa.
- Será que dá pra você me deixar em paz?
- Não.- me junto a ela, me sentando em seu lado.- Que cantora melancólica é essa que você tá ouvindo? Aqui tá parecendo um velório!
- É Lana del Rey!- ela revira os olhos, voltando a abrir o livro.
- Não revira os olhos assim... Estou tentando não ser um pervertido!- falo e rio ao ver Angel envergonhada.
- Idiota.- ela murmura.
- Eu me lembro de uma cena de um livro, mas não lembro o nome dele... Eles estão próximos a um lago, e então...- tiro o livro de sua mão cuidadosamente, e a levanto.- Eles começam a dançar como se estivessem em um baile...- seguro em sua cintura e a guio para um lado e outro.
Angel ri negando com a cabeça
- Pode por favor, me deixar ler em paz?- ela tenta sair, mas a seguro mais firme.
- Por que você só não aproveita? Isso é uma cena de livro, o que a moça faria agora?
- Sairia correndo.
- Não, ela aproveitaria esse momento mágico... Nem todas as moças são como você que sai correndo, exceto a Cinderela!
- Você é mesmo um mulherengo!
- Acho que você me subestima demais.
- É apenas a maneira que você se mostra, Ward Kennedy.
- É a minha defesa! Você também tem a sua.
- Pare de joguinhos! Não adianta você fingir interesse pelo oque leio, ou recriar cenas de livros, você não me engana!
- Me sinto até ofendido assim.- faço um bico. - Sabe? Essa foi a coisa mais brega que já fiz por uma garota, tirando a vez em que me vesti de senhora Uker para a festa de chá de Louise, mas acho que isso não conta.
- Oh, eu deveria me sentir especial?- ela pergunta debochando.
- Só saia um pouco da defensiva, Angel. Se eu quisesse apenas te enrolar, eu já teria dado o fora e procurado qualquer outra garota.
- Então o que você quer?
Ainda dançávamos escutando a cantora melancólica. Colo mais ainda os nossos corpos quentes e beijo a sua bochecha, a ponta do seu nariz e depois selo nossos lábios.
Angel suspira e sinto seu corpo amolecer em meus braços.
- Se eu te disser oque eu quero, você vai ter a certeza que sou um completo psicopata.
- Não tenho dúvidas disso!
- Não quero assustá-la. Mas se quiser, podemos ir com calma... Posso dançar conforme a sua música, ultrapassando as minhas exigências, isso tudo para que você possa se apaixonar por mim.
- Me apaixonar por você? Eu não seria tão burra assim.
- Eu estou apaixonado por você! Eu sempre fui, desde o dia em que eu te ajudei a entrar na sua casa, você estava bêbada chorando ajoelhada em frente ao portão.- Rio.- Depois dali, jamais fui capaz de te tirar da minha cabeça.
Angel me olha ainda confusa.
Pela sua expressão, estava parecendo ter uma briga em sua mente.
- E quando você me beijou ontem, isso foi o suficiente para que eu parasse de vez de tentar conter isso tudo, para me arriscar. Acha que... É fácil pra mim?
Talvez eu tenha dito mais do que deveria.
Mas eu cansei de ter que esconder toda essa paixão, todo esse desejo... Eu só a quero! Quero muito...
Angel estava sem palavras então a beijo.
Desta vez, um beijo tão lento, tão suave... Em nenhum momento ela hesitou, pelo contrário, apronfundávamos mais e mais.
Logo ela interrompe o beijos, me empurrando levemente, um pouco eufórica.
- Vou esperar até que você ceda a mim, Angel.
- Isso não vai acontecer!- ela diz enquanto recolhe suas coisas.
- Bom, depois de ter me declarado pela primeira vez... Eu não vou desistir! Você será minha e eu serei seu.
O olhar de Angel estava uma mistura de fúria e ao mesmo tempo surpresa. Então ela passa por mim saindo dali.
Eu não esperava me declarar assim para ela tão facilmente, mas eu já não estou mais conseguindo me conter, eu só a quero.
Quero que seja mais que beijos ou sexo, eu quero que ela seja a minha mulher!
Sem ar
Tonta
Surpresa
Com raiva
Com desejo
São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que eu nem sei mais oque pensar realmente. Merda!
Minha cabeça está uma bagunça.
Aquilo foi sério? Ele é apaixonado por mim? Mas como? Por quê?
Como explicar pra mim mesma que eu fui para aquele riacho na esperança de vê-lo?
Que diabos tá acontecendo comigo?
Ele é Ward Kennedy, um babaca, assassino! O que eu tenho na cabeça?
Ele me ameaçou, apontou uma arma pra mim, me colocou em uma péssima situação? Por que isso não é o suficiente para me afastar?