O NOVO DONO II - O LEGADO

By targaryen11

6.9K 608 160

A história de Ramon More

Introdução
1
2
3
4
5
6
7
8
9
12
13 (Final de degustação)

11

401 46 27
By targaryen11

A caixa me olha, esperando eu fazer o pagamento do que eu queria, ao me ver parada, voltou a mexer no celular.

E eu fico ali, camuflada, paralisada.
Os dois conversam atentamente, um e outro.
Uma garrafa de água na mesa, ao lado de uma Long Neck.

Então era isso...Ele mandou ela vir; sim, ele deve ter mandado ela vir aqui.

_Dá licença? - Olho pra trás, despertando. Um homem de meia idade quer chegar no caixa.

 A atendente me olha e eu saio.
Volto o caminho que fiz até aqui, em direção a saída.
Quando estou a um passo de sair, travo.

Volto.

Caminho até lá, até a mesa onde os dois estão.
Passo pelo caixa novamente e sigo.
Assim que me vê, a expressão no rosto dele muda.
Ela percebe que algo chamou sua atenção e se vira.

_Alice?! - Ela diz, surpresa, mas sorri.

_Oi...- Respondo, tentando sorrir, também.

Ela levanta e encosta o rosto no meu, para um beijo. Olho pra ele, enquanto ela completa a ação.
vejo que está assombrado com a minha presença ali.

_Prazer, né? Finalmente... - Ela fala, sem jeito. Está sorrindo muito, deve ter tido uma conversa agradável.

_O prazer é todo meu!

_Você quer ...É...- Ela aponta uma cadeira vazia

_Ah não, não... Já estou de saída...Só quis...- Olho pra ele, para os objetos na mesa e então pra ela - Dar um oi!
Ela sorri de novo. 

Claro que ela não queria ninguém além dele ali e não insiste, só estava sendo educada.

Eu também sou, e acima de tudo, tenho dignidade.

Ficamos nos olhando por um tempo, eu e ela. Ela sussurra um "obrigada" e eu saio.

A nota de R$ 50,00 amassada na minha mão, parece estar úmida, gelada.

Cada passo que dou, parece uma milha. A saída parece mais distante, não chega nunca.

Sigo o caminho pela rua, é como estivesse em meio a um furacão onde tudo roda velozmente e eu não me sinto bem.
O cara que me acompanhou não está mais no mesmo lugar.
Vejo um beco, bem a frente onde ele parou e imagino que ele pode ter seguido pra lá.
Na verdade, nem sei o que estou fazendo.

Ele me fez de palhaça, me fez de...

Tudo em mim chacoalha de nervoso.
Nunca imaginei passar por algo tão violento assim.

A cena dele me olhando lá na casa, o fato de ele estar tão preocupado consigo mesmo e a notícia que dei sobre a Larissa
Coloco a mão na testa, meu Deus, ele não podia o menos esperar eu ir embora?

Fecho os olhos, estou muito tonta. A cena que vem desde a casa dele, o perfume, as palavras, eles dois na mesa.
Preciso de um lugar pra sentar.
Já andei demais, não faço idéia de onde estou.

Encosto na parede de uma das casas desse beco estreito, Já está escurecendo; sinto algo melado molhar a lateral e vejo que estou encostada numa parede com infiltração e cheia de limo.
Preciso sair daqui!

Vejo uma porta aberta e uma luz sai de lá. Acho que tem gente sentada na porta.

Caminho até lá, preciso entender como sair daqui.
Vejo a nota de 50 na minha mão, eu mal tinha conseguido guarda-la, apenas a esmagava na minha palma fechada em punho.

_Oi, será que... - Antes de completar, vejo uma cadeira de ferro e sento nela.
As mulheres param o que estão fazendo e me olham, sem entender nada.

_Desculpe, eu estou...

_Voce tá passando mal, colega? - Uma delas pergunta.

_Claro que tá! Acho que ela tá tendo um teto preto! - A outra responde

_Não... Não, eu só...

_Rakely, RAKELY! TRAZ UMA ÁGUA AÍ! - A primeira grita, virando o rosto pra dentro de casa e então me olha de cima abaixo - Tá noiada?

_Não! Eu tenho pressão baixa e..

_Aham, sei! RAKELY! Ô garota emprestável! peraí! - Ela levanta e entra.

A que ficou , mexe no celular e eu lembro que deixei o meu lá na casa. 

Eu só ia até o portão...Só saí de lá porque me senti sendo observada, tive medo...E entao...Vim parar aqui

"Turistando "
Esse nome , a cena...Tô suando frio

_Sabe onde tem um moto táxi? - Pergunto

_Tem vários! - Responde antipática a que ficou

Respiro fundo, não tenho condições de julgar ninguém. Estou suando , vestida em trapos,suja, numa comunidade onde ninguém me conhece.

_Mas você podia me ajudar a...

_Tô sem crédito! - A escrota nem me olha pra falar.

Logo em seguida a mulher sai com uma garrafa de coca cola com água dentro e um copo.
Sem falar nada, me entrega o copo e vira a água.
Bebo num gole só e estendo, quero mais. Ela enche de novo.

_Chapadona... - Ouço a menina  dizer.
A outra fica calada, só segurando a garrafa.

_Quer mais? - Faço que não com a cabeça.

Ela senta no mesmo lugar, no degrau da sala, bem na porta.
Respiro um pouco melhor

_Você poderia pedir um moto táxi pra mim? Tô sem celular, não conheço nada aqui!

_Sem celular? O que tu fez? Trocou na boca?

_NÃO! - Falei um pouco alto demais - Não...Eu só... - Parei. Era uma história longa demais, louca demais.- Olha aqui, eu tenho dinheiro!

Elas olharam aquele bolo amassado na minha mão, e eu realizei que até eu mesma me acharia uma cracuda.

_Garota! Marca aí, tú não tá legal, não! - Ela me diz , colocando a garrafa no chão.

_Binha?! - A outra a repreende - Sabe nem quem é...- Ela me olha de cima abaixo - Tá toda mijada!
Eu estava tão fodida emocionalmente e me sentindo tão merda , que o que essa desconhecida falou me descontrolou ainda mais.

_Olha aqui,vai tomar no...

Antes de completar, o ronco de várias motos ressoa no beco.

As motos passaram por nós , mas uma parou.

_Misericórdia! - A tal Binha, que me deu água, exclamou baixinho.

O Ramon estava ali, e outros 5 mais a frente.

_Sobe! - Ele me diz

Elas me olharam, surpresas.

_Eu não vou!

_Sobe! - Ele repete

Eu não me mexo; a Binha me olha, amedrontada, sem entender o porque do dono do morro estar aqui, com homens armados até os dentes.

_Eu sabia...Olha a merda agora...Essa cracuda botando a gente na bola! - A escrota falou baixinho, mas eu ouvi.

_Como é que é? - Ouço o Ramon dizer, olhando pra ela como um bicho.

_Não...É porque a gente não conhece ela e...

_Tu chamou ela de quê? REPETE! - Ele cortou, perguntando mais alto, com a cara e postura que todos temiam.

Ela parece entender e se cala.
Eu levanto na hora, quero evitar mais merda.
A Binha se levanta junto.

_Olha, ela não tá fazendo mal nenhum não...Deixa a menina, a gente tava conversando , ela já vai embora, deixa a menina ir, por favor!

Eu me surpreendo com as palavras da mulher que , mesmo cheia de medo, me defendeu, sem nem ao menos me conhecer.
Ele olha pra ela e pra mim.

_Ela vai comigo!
A Binha segura a minha mão.

_Ela é minha prima! Você respeita morador, eu ouvi dizer! Ela é minha prima!

Quando ouço ela dizer isso, abaixo a cabeça e aperto a mão dela e sinto meus olhos encherem de lágrimas.
Eu me emocionei com a atitude dela.
Ele olha por um tempo e vê que eu estou um caco. Esquece a escrota que ainda está sentada, cheia de medo, e foca na mulher segurando minha mão.

_Não respeito morador mentiroso, e isso, te falaram?!

Sinto a Binha tremer ao meu lado e olho pra ele, pronta a falar

_Ela não é sua prima! Ela é minha mulher!
As duas me olham.

_Pode soltar a mão dela! Vem Alice, sobe!

Eu olho pra Binha e a abraço; ela não entende nada.
Digo obrigada no ouvido dela e a olho de novo. Jamais saberia agradecer o que ela fez por mim, sem nem ao menos me conhecer.

Olho pra menina escrota, que agora me olha com uma cara bem mais humilde. Jogo a nota de 50 em forma de bola na cara dela

_Bota crédito no teu celular, falida!

Passo pelo Ramon e subo na garupa de um cara qualquer que estava na tropinha dele.

O garoto chega a gelar.
O Ramon acelera e para lado a lado.
Me olha calado, mas sei que está questionando.

Só que ele não tem direito a questionar porra nenhuma.

Ele olha pro moleque com cara de animal e segue acelerado, saindo daquele beco sinistro.
Olho todos que nos acompanham, não vi o rapaz que me ajudou.

Uma coisa era certa: Eu não falaria dele.

Alguma coisa nele era diferente, e eu sei que jamais um segurança doutrinado pelo Ramon faria o que ele fez por mim.
No começo, até pensei que ele poderia ter mandado o garoto me levar onde eu quisesse ir, mas não...Não era o tipo dele fazer isso.

Logo estávamos em frente a casa de onde eu tinha saído mais cedo.
Eu entrei , sem saber onde o Ramon estava e mal tinha interesse.
Subi e fui até onde tinha deixado a mochila no chão, antes.

Ela não estava lá.

Abri um armário pra procurar.

Lembrei do meu celular, desci. Tinha deixado ele na sala.
Ramon estava entrando na hora em que revirava as almofadas.

_Tá procurando isso? - Ele tira o celular do bolso.

_Me dá!

_Antes nós vamos conversar!

_Eu não tenho nada pra falar! - Falo, vendo ele reparar no meu short sujo pelo limo

_Mas eu tenho!

_Nada do que for dito vai mudar , então poupa o teu tempo e o meu. Quero sair desse inferno o quanto antes!

Ele olha pra baixo, tira o boné e joga no sofá; mexe no cabelo e tira a camisa em seguida.
Eu estava exausta e ainda tensa, mais ainda agora em frente a ele.

_Onde estão minhas coisas? Eu quero... - Aponto pro meu short - Tomar um banho, e seguir pra casa.

_Me deixa colocar as coisas no lugar, Alice...Me deixa explicar!

_Ramon...- Balanço a cabeça negativamente - Você foi um merda! Foi um escroto! Não tem desenrolo!
Ele passa a mão nos olhos, esfregando

_Eu sei que fui!

_Então não continue ...Apenas me entrega as minhas coisas...Eu tô sem dinheiro, estava perdida, dependi da piedade de gente que nem sei quem é... sozinha, suja... - Minhas lágrimas rolam - Só que você é mais sujo, mais perdido, e apesar de tanta gente ao seu redor, mais sozinho do que eu estive.

Ele me olha, quebrado

_Eu pensei que pudesse tornar você melhor...Mas não! Eu não posso!

_Você pode! Você faz!

_Pois é, fazia...Mas não quero!
Ele se aproxima e eu me afasto.

_Suas coisas estão no quarto! - Diz

_Não, não estão, eu acabei de vir de lá...Tô sem paciência para...

_Naquele quarto! - Ele aponta pro corredor , onde eu vi mais quartos hoje cedo.

Olho na direção e volto a olhar pra ele.

_Tem toalha lá no banheiro também, toma teu banho, depois a gente conversa!

Segui direto e entrei no primeiro quarto. Minha mochila estava , realmente, em cima de uma cama forrada.
Peguei roupa limpa, calcinha e entrei no banheiro.

Fiquei bastante tempo sob o chuveiro, lágrimas quentes me banhavam junto a água. Repassei cada momento, e sabia que aquilo seria muito terrível de apagar.
Meu estômago doía; não sei se pela falta de alimento ou se pelo nervosismo que esse dia me trouxe.

Era um inferno.

Abri a porta do box blindex e destampei o vaso que tinha uma pedra sanitária com cheiro de naftalina horroroso.
Vomitei a cerveja azeda que bebi mais cedo.
Os golpes vinham , mas já não saía nada.
Levantei  fraca e me enxuguei.
Vesti a roupa e fui buscar a minha escova de dentes.

Quando estava pronta, coloquei a mochila no ombro e fui até a porta.
Girei a maçaneta.
Girei de novo
Girei e forcei
Bati na porta e gritei por ele.

Eu estava trancada.

Continue Reading

You'll Also Like

779K 51.5K 67
Jeff é frio, obscuro, antissocial, matador cruel.... sempre observava Maya andando pela floresta, ela o intrigava de um jeito que ele mesmo não conse...
2.1M 177K 108
Os irmãos Lambertt estão a procura de uma mulher que possa suprir o fetiche em comum entre eles. Anna esta no lugar errado na hora errada, e assim qu...
554K 56K 84
🚫DARK ROMANCE - HARÉM REVERSO🚫 ▪︎ Se você é sensível a esse conteúdo NÃO LEIA! Eu fugi dos meus companheiros. Eu lutei para que eu pudesse fica...
46.4K 4.2K 22
Todo mundo achava que Olívia Senna era uma patricinha. Isso e que ela era esnobe, antipatica e, acima de tudo, mimada. Pelo menos foram essas as pal...