HOTEL CARO ━ gabigol

Від ellimaac

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━━━━━ ❝'Cê vai ligar fingindo que não aconteceu nada.❞ 𝐋𝐔𝐀𝐍𝐍𝐀 𝐒𝐂𝐀𝐑𝐏𝐀... Більше

[🖤❤] 𝐃𝐑𝐄𝐀𝐌𝐂𝐀𝐒𝐓
𝟎𝟏 | 𝐂𝐎𝐌𝐄𝐌𝐎𝐑𝐀𝐑 𝐎 𝐐𝐔𝐄̂?
𝟎𝟐 | 𝐑𝐈𝐎 𝐃𝐄 𝐉𝐀𝐍𝐄𝐈𝐑𝐎
𝟎𝟑 | 𝐄𝐒𝐒𝐀 𝐌𝐄𝐍𝐈𝐍𝐀 𝐃𝐄 𝐕𝐄𝐑𝐃𝐄
𝟎𝟒 | 𝐌𝐀𝐒 𝐐𝐔𝐄 𝐏𝐎𝐑𝐑𝐀
𝟎𝟓 | 𝐀𝐑𝐑𝐔𝐌𝐀 𝐔𝐌𝐀 𝐃𝐄𝐒𝐂𝐔𝐋𝐏𝐀
𝟎𝟔 | 𝐃𝐄 𝐕𝐎𝐋𝐓𝐀
𝟎𝟕 | 𝐃𝐎𝐌𝐈𝐍𝐆𝐎
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐭𝐭 𝐞 𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚)
𝟎𝟖 | 𝐄𝐒𝐐𝐔𝐄𝐂𝐄 𝐄𝐒𝐒𝐀 𝐌𝐈𝐍𝐀
𝟎𝟗 | 𝐀 𝐎𝐅𝐄𝐑𝐓𝐀
𝟏𝟎 | 𝐃𝐈𝐒𝐅𝐀𝐑𝐂̧𝐀𝐑
𝟏𝟏 | 𝐄́ 𝐒𝐎́ 𝐒𝐄𝐗𝐎
𝟏𝟐 | 𝐋𝐈𝐁𝐄𝐑𝐓𝐀𝐃𝐎𝐑𝐄𝐒
𝟏𝟑 | 𝐄𝐒𝐐𝐔𝐄𝐂𝐄 𝐄 𝐌𝐄 𝐁𝐄𝐈𝐉𝐀
𝟏𝟒 | 𝐒𝐄𝐌 𝐑𝐎𝐌𝐀𝐍𝐂𝐄, 𝐒𝐄𝐈
𝟏𝟓 | 𝐒𝐄 𝐄𝐒𝐂𝐎𝐍𝐃𝐀
𝟏𝟔 | 𝐍𝐀̃𝐎 𝐒𝐄 𝐌𝐄𝐓𝐄 𝐍𝐀 𝐌𝐈𝐍𝐇𝐀 𝐕𝐈𝐃𝐀
𝟏𝟕 | 𝐄𝐔 𝐏𝐑𝐄𝐅𝐈𝐑𝐎 𝐀 𝐏𝐀𝐙
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟏𝟖 | 𝐃𝐄𝐒𝐆𝐑𝐀𝐂̧𝐀𝐃𝐀
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟏𝟗 | 𝐃𝐄𝐒𝐆𝐑𝐀𝐂̧𝐀𝐃𝐎
𝟐𝟎 | 𝐃𝐄𝐒𝐄𝐍𝐓𝐄𝐍𝐃𝐈𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎
𝟐𝟏 | 𝐋𝐈𝐒𝐓𝐀 𝐃𝐎 𝐓𝐈𝐓𝐄
𝟐𝟐 | 𝐁𝐑𝐀𝐒𝐈𝐋𝐄𝐈𝐑𝐀̃𝐎
𝟐𝟒 | 𝐀𝐈 𝐅𝐋𝐀𝐌𝐄𝐍𝐆𝐎
𝟐𝟓 | 𝐒𝐄 𝐃𝐈𝐕𝐄𝐑𝐓𝐈𝐔 𝐃𝐄𝐌𝐀𝐈𝐒
𝟐𝟔 | 𝐂𝐀𝐅𝐄́
𝟐𝟕 | 𝐓𝐎𝐐𝐔𝐄
𝟐𝟖 | 𝐄́ 𝐒𝐎́ 𝐔𝐌𝐀 𝐃𝐄𝐒𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐀
𝟐𝟗 | 𝐂𝐀𝐒𝐀𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎
𝟑𝟎 | 𝐒𝐄 𝐎𝐑𝐆𝐀𝐍𝐈𝐙𝐄
𝟑𝟏 | 𝐂𝐑𝐎𝐀́𝐂𝐈𝐀
𝟑𝟐 | 𝐎̂ 𝐒𝐀𝐔𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟑𝟑 | 𝐐𝐀𝐓𝐀𝐑
𝟑𝟒 | 𝐏𝐑𝐄𝐒𝐄𝐍𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐀𝐍𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟑𝟓 | 𝐅𝐄𝐋𝐈𝐙 𝐀𝐍𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟑𝟔 | 𝐒𝐔𝐑𝐏𝐑𝐄𝐒𝐀?
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟑𝟕 | 𝐍𝐀𝐓𝐀𝐋
𝟑𝟖 | 𝐑𝐄́𝐕𝐄𝐈𝐋𝐋𝐎𝐍 𝐃𝐎 𝐋𝐈𝐋
𝟑𝟗 | 𝐂𝐑𝐈𝐀𝐑 𝐋𝐄𝐌𝐁𝐑𝐀𝐍𝐂̧𝐀𝐒
𝟒𝟎 | 𝐅𝐎𝐈 𝐔𝐌𝐀 𝐌𝐄𝐍𝐓𝐈𝐑𝐀
𝟒𝟏 | 𝐄𝐍𝐂𝐀𝐑𝐀𝐑 𝐀 𝐑𝐄𝐀𝐋𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟒𝟐 | 𝐄𝐒𝐂𝐎𝐋𝐇𝐀 𝐌𝐄𝐋𝐇𝐎𝐑
𝟒𝟑 | 𝐒𝐔𝐏𝐄𝐑𝐂𝐎𝐏𝐀 𝐏𝐓.𝟏
𝟒𝟒 | 𝐒𝐔𝐏𝐄𝐑𝐂𝐎𝐏𝐀 𝐏𝐓.𝟐
𝟒𝟓 | 𝐃𝐄𝐑𝐑𝐎𝐓𝐀 𝐄𝐌 𝐃𝐎𝐁𝐑𝐎
𝟒𝟔 | 𝐕𝐀𝐌𝐎𝐒 𝐂𝐎𝐍𝐕𝐄𝐑𝐒𝐀𝐑
𝟒𝟕 | 𝐍𝐎 𝐇𝐎𝐒𝐏𝐈𝐓𝐀𝐋
𝟒𝟖 | 𝐕𝐀𝐌𝐎 '𝐁𝐎𝐑𝐀
𝟒𝟗 | 𝐕𝐎𝐂𝐄̂ 𝐕𝐀𝐈, 𝐒𝐈𝐌
𝟓𝟎 | 𝐌𝐀𝐑𝐑𝐎𝐂𝐎𝐒
𝟓𝟏 | 𝐂𝐇𝐄𝐆𝐀 𝐃𝐄 𝐃𝐄𝐑𝐑𝐎𝐓𝐀
𝟓𝟐 | 𝐎𝐅𝐄𝐍𝐃𝐀-𝐒𝐄
𝟓𝟑 | 𝐂𝐇𝐀́ 𝐑𝐄𝐕𝐄𝐋𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎 𝐏𝐓.𝟏
𝟓𝟒 | 𝐂𝐇𝐀́ 𝐑𝐄𝐕𝐄𝐋𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎 𝐏𝐓.𝟐
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟓𝟓 | 𝐎 𝐏𝐋𝐀𝐘𝐁𝐎𝐘
𝟓𝟔 | '𝐓𝐀́ 𝐑𝐄𝐏𝐑𝐄𝐄𝐍𝐃𝐈𝐃𝐎
𝟓𝟕 | 𝐃𝐄 𝐕𝐎𝐋𝐓𝐀 𝐏𝐑𝐀 𝐂𝐀𝐒𝐀
𝟓𝟖 | 𝐂𝐀𝐒𝐀
𝟓𝟗 | 𝐋𝐎𝐈𝐑𝐎 𝐏𝐈𝐕𝐄𝐓𝐄
𝟔𝟎 | 𝐏𝐎𝐃𝐏𝐀𝐇
𝟔𝟏 | 𝐅𝐋𝐀𝐌𝐄𝐍𝐆𝐔𝐈𝐒𝐓𝐀𝐒?
𝟔𝟐 | 𝐂𝐎𝐏𝐀 𝐃𝐎 𝐁𝐑𝐀𝐒𝐈𝐋
𝟔𝟑 | 𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 𝐃𝐀 𝐇𝐎𝐑𝐀
𝟔𝟒 | 𝐋𝐔𝐙 𝐁𝐑𝐈𝐋𝐇𝐀𝐑
𝟔𝟓 | 𝐓𝐈𝐑𝐎 𝐍𝐀 𝐂𝐄𝐑𝐓𝐀
𝟔𝟔 | 𝐄𝐒𝐂𝐎𝐋𝐇𝐀𝐒
𝟔𝟕 | 𝐄𝐌 𝐂𝐀𝐒𝐀
𝟔𝟖 | 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟔𝟗 | 𝐑𝐄𝐒𝐎𝐋𝐕𝐈𝐃𝐎
𝟕𝟎 | 𝐌𝐎𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎𝐒
𝟕𝟏 | 𝐍𝐎 𝐀𝐋𝐋𝐈𝐀𝐍𝐙
𝟕𝟐 | 𝐂𝐋𝐀𝐒𝐒𝐈𝐅𝐈𝐂𝐀𝐃𝐎𝐒, 𝐄𝐋𝐄𝐒
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟕𝟑 | 𝐂𝐀𝐒𝐀𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎

𝟐𝟑 | 𝐐𝐔𝐄𝐑𝐎 𝐓𝐄 𝐕𝐄𝐑

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Від ellimaac

QUE SÉRIE FILHA DE UMA PUTA!!!

Luanna me viciou em The Walking Dead. Desde aquele dia na casa dela, antes de toda a confusão com o Veiga, eu venho assistindo toda vez que eu arranjo um tempo livre. Fiquei tão viciado que estou no fim da segunda temporada já. A primeira só tinha seis episódios e foi rapidinho para terminar.

Mas essa segunda temporada!!

Puta que pariu.

Essa, sem dúvida alguma, é a melhor temporada de todas. Nem assisti as outras. mas já sei que essa é a melhor. Porra, não tem como superar essa temporada.

Eu estou no fim do episódio doze, Rick acabou de matar seu melhor amigo, Shane, que se transformou em zumbi e Carl foi obrigado a dar um tiro na cabeça do morto. Tem noção disso? O moleque tem doze anos, mano. E matou o tio, padrasto, sei lá que porra esse doido era.

E mano, pra piorar, ou melhorar a situação, não sei, uma manata de zumbi está indo em direção a fazenda. Nem sei o que eles vão fazer pra matar tanto zumbi. Ainda estou processando a morte do Shane.

Seja como for, vai dar certo porque sei que tem onze temporadas no total e eu ainda estou na segunda. Tenho mais um episódio pra terminar dessa temporada. Mais um para ficar ainda mais louco das ideias.

Preciso de uma pausa.

Por isso, encho meu copo de água com a garrafa que eu trouxe lá da cozinha, pego meu celular e início uma chamada de vídeo com a Luanna. Só aquele rosto lindo para me deixar menos avoado por causa de uma série.

Ela leva longos quinze segundos pra atender.

— Sabe que horas são, Gabriel? — ela pergunta assim que atende com aquela voz de brava que faz um sorriso de adolescente surgir no meu rosto.

Está tudo escuro no vídeo e eu mal posso ver a cara dela. Só quero ver o rosto de Luanna e já vou me sentir melhor.

— Boa noite pra você também — digo, ouvindo o barulho de chave virando, carro desligando e alguém encostando as costas com força no banco. — Deixa eu ver seu rosto, preta.

— 'Tô um caco — ela desabafa e sua voz cansada me preocupa. — Horrível mesmo.

— Luanna, o dia que você for feia, eu saio do Flamengo.

— Ixi, se comprometeu. Vai ter que sair.

— Vai, preta. Quero te ver.

Ela suspira, não parecendo disposta a discordar de mim. Por isso acende a luz amarela do carro que é horrível, mas ajuda a enxergá-la melhor.

— Linda.

— Para de me iludir, Gabriel — ela pede, esfregando o olho e deixando o celular apoiado no volante. — Eu sei que estou destruída.

— 'Tava no barzinho até agora?

Luana assente com um sorriso exausto. Seus olhos estão fundos e vermelhos.

— Luanna, duas e meia da manhã, porra. Assim não dá.

— 'Cê quer que eu faça o que? Preciso trabalhar.

— Mas não desse jeito, 'tá se matando, porra.

Ela dá de ombros, pressionando os lábios.

— Eu não posso fazer nada, preciso desse trampo.

— Você 'tá endividada? Cara, eu te faço uma transferência, ou posso sacar e te dar pessoalmente.

— Não — ela discorda abafando uma risada. — Não 'tô louca de aceitar dinheiro assim de graça. Você não precisa fazer isso por mim.

— Eu só não quero que você se mate de trabalhar. Sua rotina acaba com você.

— Relaxa — ela pega o celular do volante, apaga a luz e sai do carro. Entrando dentro de casa. — Não precisa se preocupar comigo. Eu dou conta.

— Nenhum ser humano dá conta de verdade de uma rotina dessas. — Me lembro do horário que ela me mandou mensagem hoje antes de ficar off-line. — Você saiu de casa hoje 10 horas da manhã, mano. E 'tá chegando duas da manhã do outro dia. Sem cabimento, na moral.

Ela ri do que eu digo, entrando em seu quarto, fechando a porta e apoiando o celular na cômoda.

— Você 'tá parecendo minha mãe falando, Gabriel. Já disse que eu 'tô bem e que eu dou conta.

De repente, ela começa a dar um show pra mim. Isso mesmo. Um show. Porque Luanna, não sei se faz de propósito, mas tira a regata que está usando, retira a calça e fica só de calcinha e sutiã.

Puta que pariu, Luanna!

Me obrigo a agir normalmente, afinal eu já vi o corpo dessa mulher completamente nu muitas vezes para ficar tão agitado vendo de novo. Eu conheço cada detalhezinho. Não devia estar agindo como quem nunca viu uma mulher gostosa antes. Mas... Luanna é meu ponto fraco. Nua, então, acaba com minha cabeça.

— Eu preciso tomar um banho — ela diz, caminhando pelo quarto só de calcinha e sutiã enquanto procura uma roupa para vestir.

— Vai me levar junto com você?

— Pro banho? — ela olha pro celular com um sorrisinho malicioso. — Nem fodendo, né?

— Poxa, preta. Eu só queria te foder agora.

— Vem me buscar, eu te passo o endereço.

— 'Cê 'tá falando sério? — me animo só de pensar na possibilidade.

— Claro que não — ela ri, debochando de mim e me deixando com cara feia de decepção. — 'Tô muito cansada, preto. Se eu pudesse, eu dormiria até meio dia.

— Vai ter que trabalhar que horas hoje?

— Tenho que estar no barzinho às 11 da manhã. Mas eu acordo às 8.

— Luanna — digo seu nome, balançando a cabeça sem acreditar. — Você pelo menos está se alimentando direito?

— Então — ela colocas as duas mãos na cintura e sorri para mim, tentando me ganhar.

E eu já sei a resposta, mesmo sem dizer.

Meus olhos não perdem tempo em analisar o corpo de Luanna de novo, mas não com malícia, e sim com preocupação. Ela está magra. Mais magra que o normal. Suas costelas estão ficando marcadas. Sua barriga está estranha de uma forma que eu não sei explicar. Ela não está com o corpo normal. Está perdendo peso.

— Vai se alimentar agora, Luanna — ordeno, com a voz firme.

— Preciso tomar um banho primeiro.

— Porra de tomar banho. Você precisa comer. E agora, caralho. Anda!

— 'Tá bom.

Ela pega uma roupa qualquer jogada pelo chão, se veste e sai do quarto me levando junto. Logo ela está na cozinha, me deixando em cima da bancada para pegar alguma coisa da geladeira.

— Ah! Sobrou bolo de cenoura que eu fiz ontem! — Ela exclama que nem um criança feliz, cortando um pedaço e comendo enquanto ainda procura o restante de sua comida. — Tem feijoada.

— Feijoada é muito pesado pra comer agora — informo, a fazendo assentir.

— Verdade. Então vou fritar uns ovos e comer com pão. Tem presunto e queijo aqui também. E acho que tem pão de forma no armário.

Quando menos percebo ela está na boca do fogão, preparando sua janta, se é que pode se dizer assim numa hora dessas da noite.

— Mas me fala — ela começa a falar, mexendo na frigideira — por que está acordado uma hora dessa? Jogadores não têm uma hora específica para dormir pra não ficar cansado no CT de manhã?

— Sim, mas eu estava assistindo série e nem vi a hora passar. 'Tô indo pro último episódio da segunda temporada de The Walking Dead.

— Caralho! — ela exclama, virando o rosto para me encarar com aquela cara de quem foi surpreendida. — Você realmente gostou da série, né? Terminou duas temporadas rapidinho.

Seloco, Luanna! Essa série é foda!

— Eu sei — ela se anima junto comigo. — Eu sou viciada. Mas, assim, chega numa determinada temporada as coisas ficam mais... chatas.

— Também, né? Pra que fazer onze temporadas? Tenho certeza que metade do elenco vai estar morto até lá. Me fala se o Glenn morre. Esse moleque é fera demais, se morrer, eu paro agora de assistir.

— Eu não vou te falar nada — ela dá risada da minha reação, colocando os ovos no pão e o deixando em cima de um prato ao lado do copão de Coca-Cola. Luanna precisa passar numa nutricionista urgente. Não se alimenta direito e quando se alimenta se entope de açúcar. — Mas muita coisa vai acontecer ainda, relaxa.

— Tenho certeza que o fazendeiro morre. Deve morrer nesse último episódio, né?

— Para de me pedir spoiler! — ela implora, rindo. — Não vou te contar nada, você tem que...

Ela para de falar ao ouvirmos um barulho estranho. Luanna olha assustada para trás. Imediatamente me preocupo. É a primeira vez que vejo o olhar de Luanna tão assombrado. Nem quando seu irmão e o seu ex nos viram na casa dela, ela ficou tão assustada quanto.

— Que foi isso? — pergunto.

— Espera aí — ela pede, deitando o celular o que faz a câmera ficar virada para o teto e me impossibilitando de vê-la.

Não ver o que está acontecendo só me deixa ainda mais nervoso, principalmente por ouvir a voz de Luanna e o barulho que se segue.

— Marcos, caralho! — ela repreende. — Isso é hora de chegar?

— Sai do meu pé, Yasmin! — diz provavelmente o tal do Marcos com a voz completamente arrastada de um bêbado. — Me leva pro quarto e me mama, vai!

— Eu não sou a Yasmin, seu animal!

— Ah, Luanna! — o cara exclama feliz e eu fico ainda mais irritado. — Você é tão linda!

— 'Tá... Não, Marcos. Me solta! Sai... Sai, porra! Fica aí!

— 'Tá bom — diz o cara com manha.

Segundos depois, o celular é erguido e a cara da Luanna aparece na tela.

— O que foi isso? — pergunto assim que a vejo e suspiro de imediato.

Luanna pega o pão e o copo de Coca-Cola e logo começa a caminhar de volta para seu quarto onde tranca a porta e finalmente se senta em sua cama.

— É o namorado da menina que eu divido a casa.

— A tal da Yasmin?

— Isso — ela confirma, respirando fundo e mordendo o pão. — Ele é um alcoólatra do caralho.

— O que ele fez com você? Eu ouvi você mandar ele te soltar.

— Ele me abraçou, aquele maluco. 'Tá tão bêbado que nem sabe o que faz — ela diz de boca cheia.

— Ele já fez isso antes?

— Que? — ela franze o cenho, tentando me entender. — Não. Não, Gabriel. Ele não é um perigo. Juro pra você. O filho da puta é inofensivo, não bota medo nem numa mosca. Foi fácil me soltar dele. Fica de boa.

— Não vou ficar de boa sabendo que um bêbado chega na sua casa no meio da madrugada e fica te agarrando.

— Não é assim. Marcos é um idiota. Não é um perigo. Confia em mim.

— Por que você não sai dessa casa?

— Porque eu não tenho dinheiro pra pagar um aluguel inteiro. Aqui eu pago metade.

— O dinheiro que você ganha no barzinho não compensa? — Porra, ela trabalha que nem uma condenada e mesmo assim não consegue ter dinheiro para fazer o que quer.

— Poderia compensar se eu não tivesse cheia de dívida.

— Que tanto de dívida é essa, Luanna? Tentou abrir uma empresa ou algo assim?

— Não — ela ri do que eu digo, engolindo a comida e bebendo um pouco de Coca. — Quando eu consegui o apartamento lá em São Paulo, meu irmão pagou a entrada e eu não permiti que ele pagasse o resto. Eu 'tava trabalhando numa empresa boa de marketing e conseguiria me sustentar. A ajuda dele sempre foi bem-vinda, mas depender disso já era demais pra mim. Por isso comecei a pagar sozinha. Até reformei o apartamento inteiro. O problema é que fui demitida e tive que congelar minhas dívidas. Agora que estou trabalhando de novo, 'tô podendo pagar. Mas com juros. Meu dinheiro vai tudo pra isso, e o restante eu uso pra pagar a metade do aluguel e os gastos com meu carro. Não sobra quase nada.

— Porra — suspiro, às vezes eu esqueço o quanto é difícil ser um simples trabalhador em nosso país. Tenho mais dinheiro do que eu preciso. — Eu vou te ajudar.

— Não vai, não.

— Vou sim, Luanna. Vou sacar um dinheiro pra você.

— Eu não vou aceitar seu dinheiro, Gabriel. Não 'tô passando fome. Você tem que ajudar quem precisa.

— Você passa fome, sim. Mas porque quer — ela assente, sorrindo. — E eu não quero que você more na mesma casa que um maluco.

— Mesmo assim, meu dinheiro não é suficiente pra pagar um aluguel por aqui. Rio de Janeiro consegue ser mais caro do que São Paulo.

— Vem morar comigo então — sugiro sem pensar, a deixando com o cenho franzido e uma expressão chocada.

— 'Cê quer que eu more com você? — ela pergunta só pra ter certeza.

— Aqui você pode morar de graça e é pertinho do seu trabalho. Pelo menos se livra de um maníaco.

— Gabriel — a voz dela ganha mais intensidade como se ela quisesse saber o real significado desse pedido. — A gente moraria na mesma casa. É isso mesmo que você está sugerindo? A gente nem namora, o que você falaria pra sua família?

— Que estou ajudando uma amiga endividada.

— Ata — ela assente. — Uma amiga.

— Se você quiser que eu te apresente de outra forma, é só falar.

— Você gostaria de me apresentar de outra forma?

— Depende de você.

— Depende de mim? Eu não sei o que você quer comigo. Tipo a gente transa, conversa todo dia. Você já até tem liberdade para me ligar por chamada de vídeo. Mas tudo isso significa o que?

— O que significa pra você? — Devolvo a pergunta, sentindo meu coração acelerar.

— Eu perguntei primeiro.

Respiro fundo e me aconchego no travesseiro. Ô merda, não era para as coisas caminharem para um assunto tão sério quanto esse. Eu gosto da Luanna e gosto do que a gente tem. Mas... não quero me precipitar. Não quero quebrar a cara. Não dá para fazer tudo na base da emoção. Eu sei que há sentimento da minha parte, mas isso não basta.

Por isso eu digo:

— Não sei o que significa — mentira, eu sei o que significa, só tenho muito medo de dizer e de estar me iludindo. — Eu só quero te ajudar.

— Não preciso de ajuda. Eu 'tô bem.

Acho que nem ela acredita no que diz.

Luanna está perdendo peso, está dormindo pouco, trabalhando muito. Sua vida corrida está acabando com ela. Devia enxergar isso. Mas não vou discutir. Não mais. E não hoje. Ela precisa descansar, já tomei muito do tempo dela.

— Você é forte — é o que consigo dizer, oferecendo um sorriso. — Sei que consegue dar conta.

Não sei se ela consegue dar conta, por isso vou ter que me preocupar em dobro. Será que devo conversar com a chefe dela? Ela é amiga da Dhiovanna. Talvez eu consiga melhorar esse tempo de serviço de Luanna. Assim ela não se mata de trabalhar.

— Agora vamos falar de coisa boa — ela pede, mordendo outro pedaço do seu pão. — Me fala o que 'tá achando da série.

QUE VONTADE DE BATER NO GABRIEL até ele admitir logo pra Luanna que tá apaixonado. O coitado se perde no que fala. Ele quer uma coisa e diz outra e fica nisso. Mas calma. As coisas não vão ser assim pra sempre. É um processo, que vai acelerar muito daqui pra frente.

Espero que vcs estejam gostando. Próximo cap será o grande dia do Trio do Flamengo.

Ô DIA ABENÇOADO.

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