Club 57 | CaitVi

By DaddaWho

12.1K 918 1.7K

Violet Wolfgang não quebra promessas. No dia em que prometeu para sua irmã mais nova, Jinx, que conseguiria... More

⚠️ avisos ⚠️
Feixe de Luz Distorcido
Playground
Acordo com o Diabo
Sangue Novo
Perdoar e Esquecer
Memórias
Milhões de Pedaços
Céus de Durban
Eu Quero Você
Olhos Cinzentos
Eco
Um Adeus. Ou, quem sabe, um até breve.

Apague as Luzes

746 60 112
By DaddaWho

VI

Caitlyn e eu obviamente não estamos nos falando. Mal trocamos palavras quando nos vemos na terça-feira, o que faz Ekko e Ahri nos encherem de perguntas. Eu me contento em responder de forma superficial, Caitlyn parece fazer o mesmo. Tudo que sei é que quando a questionam, ela responde que ainda estamos juntas, o que significa que eu não caguei completamente as chances de colocar Jinx na AEH.

Junto a isso, tenho que lidar com os julgamentos silenciosos de Akali, e seus olhares sólidos e ardentes. Num geral, ela não se intromete, mas sei que essa história de namoro de mentira a preocupa. Vander, por outro lado, está radiante com meu novo relacionamento, então não consigo me esquivar das perguntas que ele faz. Ele não sabe que Caitlyn e eu estamos brigadas, mas prefiro que continue assim. Não quero acabar com as expectativas dele tão cedo.

Eu evito ir à mansão K/DA nesse período, sei que Caitlyn tem passado a maior parte do tempo lá, seja ensaiando ou desabafando com sua melhor amiga. Eu não sei o quanto Kai'Sa sabe sobre nós, nem sei se quero saber, mas ela parece neutra em relação a mim. Chego a ver algumas fotos das duas nos stories do Instagram, delas fazendo compras e outras coisas que costumam fazer juntas, nada relevante. Caitlyn parece estar bem, não é como se ela se importasse com as coisas que eu digo. Pelo menos era isso que eu pensava até encontrar com ela de novo no meio da semana.

Quando cruzo com Kiramann na quarta-feira no prédio da RR, por mais difícil que possa parecer, ela não aparenta estar brava comigo. Eu esperava que em algum momento ela fosse me mandar a merda, ou simplesmente me lançaria aquele olhar frio de sempre. Mas não é o que acontece. Ela só parece um pouco abatida e, por mais estranho que possa ser, meio triste. Ela mantém sua postura inabalável para todo mundo, mas eu sei que não passa de uma máscara. Passar tanto tempo com Caitlyn me ensinou algumas coisas sobre ela, por mais que eu odeie admitir isso.

Não a vejo depois, mas seu olhar gelado fica na minha cabeça.

A sexta-feira chega de novo, e com ela mais um evento social. Não que eu esteja a fim de ir, mas não é como se eu pudesse evitar Caitlyn para sempre. Estou no meu quarto, falando com Akali em uma chamada de áudio enquanto me arrumo.

O evento para o qual estamos nos aprontando é a festa de lançamento do primeiro álbum de um artista que tem explodido na mídia: Varus, ou, no nome artístico, Vaarus, com dois A's. Eu não teria nada a ver com isso, já que não o conheço. Mas, para minha surpresa, Evelynn fez uma participação no single principal, que também leva o nome do álbum, intitulado Unholy. Foi ela que me entregou pessoalmente o convite, e no fim, não tive como recusar.

— Eu não sabia que a Evelynn fazia esse tipo de coisa. — me movimento pelo cômodo com uma toalha enrolada na cintura e meu celular na mão.

Que tipo de coisa? — Akali pergunta do outro lado da linha. Sua voz oscila de volume, o que indica que ela está fazendo o mesmo que eu.

— Featurings. — respondo. — Ela parece ser uma pessoa com padrões bem… altos.

Ela é, mas o Varus a conquistou. Ele é um artista em ascensão com um repertório bem acima da média. Vai estar no festival, inclusive, no palco lateral. — ela comenta. — Além disso, Unholy meio que é a cara dela.

— Nem consigo imaginar a razão. — digo com sarcasmo. Sei que mentalmente Akali me dá um tapa.

Você sabe que a Caitlyn vai estar lá, né? — Jhomen muda de assunto.

— Tô sabendo. — respondo casualmente. Sei que vou ter que dar um jeito de me resolver com ela, não dá para ficar nesse clima de merda para sempre. — A gente vai se acertar, pode baixar a guarda.

É impossível baixar a guarda com você, da última vez que fiz isso você pegou uma fã no banheiro do Club 57 e arrumou um namoro falso na mesma semana.

Eu ignoro essa farpa e abro meu WhatsApp, vendo que, para minha surpresa, há uma mensagem de Caitlyn, enviada dez minutos atrás.

— Ela me mandou um negócio. — Akali fica em silêncio do outro lado da linha, esperando que eu continue. — "Estou de azul, não vá combinando comigo."— parafraseio a mensagem que acabei de ler. Jhomen ri.

Previsível.

Ficamos em silêncio por algum tempo enquanto terminamos de nos aprontar. Eu olho fixamente para o meu reflexo no grande espelho do guarda-roupa, esperando uma iluminação divina sobre a roupa que vou vestir. Não há nada muito específico no convite sobre o código de vestimenta, só uma descrição vaga de "nada casual ou formal demais". Eu abro as portas do armário e encaro minhas roupas por alguns segundos, tirando algumas peças que combinam juntas de acordo com minha mente nem sempre tão lúcida.

Desamarro a toalha que está na minha cintura e começo a me aprontar. Passo minha calça de couro pelas pernas e subo a peça até o umbigo, afivelando um cinto nos passadores. Ela é um pouco larga, estilo calça de motoqueiro e sem punhos nos tornozelos, o que a deixa mais formal. Visto uma camisa preta e fico entre deixá-la solta para fora ou colocá-la dentro da calça. Escolho a segunda opção e decido manter os botões abertos, o que faz com que a parte de cima do meu abdômen e um pouco do contorno dos meus seios fique a mostra. Por último, coloco um blazer vermelho por cima da camisa.

Ugh, se arrumar dá muito trabalho. — a voz de Akali surge novamente pelo alto falante do meu celular.

— Já tá pronta? — pergunto.

Abro a gaveta do guarda-roupa onde estão meus acessórios e escolho alguns anéis de prata, os colocando de forma aleatória nos dedos. Eles contrastam bem com as tatuagens pretas que eu tenho nas mãos, o resultado me deixa satisfeita.

Quase, preciso de opiniões. — ela diz.

Eu dou a volta pela cama e apoio meu celular em pé na lâmpada fluorescente que fica na mesa de cabeceira. Akali muda a chamada para vídeo e se afasta da câmera frontal, de forma que eu consigo ver seu corpo todo.

E aí? — ela enfia as mãos nos bolsos da calça de alfaiataria verde escura. — Acho que tá faltando alguma coisa, mas não sei o que. — as correntes presas em seu top preto sem alças se mexem com seu tronco conforme ela anda de um lado para o outro.

— E aquela sua camisa verde transparente? — pergunto. Ela corre, pega a roupa no armário e coloca no corpo. — Se a gente não fosse praticamente irmãs eu te pegava, tá muito gata.

Você é comprometida agora, biscate. — Akali pontua, com a acidez e o sarcasmo característicos dela. Eu lhe mostro o dedo do meio e ela ri. — Deixa eu ver a sua roupa. — me afasto da câmera. — É assim que você pretende se acertar com a Caitlyn? Porque acho que vai dar certo.

— Você é ridícula.

Ninguém resiste ao seu tanquinho de fora, vai fazer as garotas chorarem no Twitter.

— Cala a boca. — digo rindo, Akali também ri. — Vou pedir meu Uber.

Te vejo na festa, cuzona.

— Igualmente, merdinha.

Desligo a ligação. Coloco meus dois colares de prata e desço as escadas enquanto peço um carro pelo aplicativo no celular. A mensagem de que meu motorista chegará em seis minutos aparece, tempo mais que suficiente para eu escolher algum sapato. Não que seja de fato uma escolha, no fim eu só calço meus coturnos tratorados de sempre. Eles combinam com tudo, o que posso fazer.

Logo que o carro chega, eu me despeço do meu pai e da minha irmã e saio, indo em direção ao Club 57. Vamos ver o que esse lugar tem reservado para mim hoje.

    ━━━━━━◇◆◇━━━━━━

O Club está completamente caótico quando chego lá. Com uma dose de sacrifício consigo passar pelos paparazzi que estão na porta, e logo quando entro consigo ver pessoas com copos, taças e todo tipo de bebidas nas mãos. Alguns fazem barulho, conversam e posam para fotos.  Uma parte dos rostos que vejo me são familiares, outros nem tanto. Há mais gente do que na festa de aniversário da Ahri, com certeza, mas não o suficiente para fazer o Club lotar de verdade.

Varus contratou uma equipe de peso para sua festa de lançamento, principalmente na parte de decoração. Se eu não tivesse vindo aqui um milhão de vezes, não reconheceria esse lugar. Alguns fotógrafos se movem pelo local, pedindo fotos para algumas pessoas e fazendo clicks aleatórios. Vou me lembrar de tentar fugir ao máximo deles. A música é alta, mas o volume é satisfatório.

Tudo parece ter sido planejado nos mínimos detalhes.

As primeiras pessoas que encontro são Kayle e Olaf, que parecem estar nadando em doses de uísque puro no open bar. Eles me oferecem um gole, mas eu recuso. Cedo demais para isso. Yorick aparece logo depois, segurando um copo de algo que provavelmente não tem álcool, já que ele não bebe. Sona, Mordekaiser e Karthus não vem, festas badaladas do mundo pop não são bem o tipo de rolê que eles curtem. Eles só foram no aniversário da Ahri porquê… é a Ahri. Kayle e Olaf jamais recusariam uma festa com bebida de graça. Yorick só está aqui porque ele e Olaf não se desgrudam, e alguém tem que garantir que os outros dois não entrem em coma alcoólico.

— Tão sabendo do black-out? — Kayle pergunta, ainda segurando seu copo com uísque e um gelo redondo dentro.

— Que porra é essa? — questiono.

— Eu ouvi algumas pessoas conversando, em alguns momentos da festa as luzes vão se apagar por uns minutos pras pessoas se pegarem no escuro. — dá uma golada em sua bebida. — Uma surpresa da Unholy Night.

— Cacete.

Mal consigo prever a merda que isso vai dar.

— Meu único amor da noite vai ser esse Black Label. — Olaf dá um peteleco no copo. Kayle brinda com ele, concordando. — Mas a noite da Wolfgang aqui vai ser boa. — ele me abraça pelos ombros e ri com malícia. Me sinto na quinta série.

— Por falar nisso, vocês ainda estão brigadas? — Kayle pergunta, eu aceno positivamente. — Sabe, eu e a Sona brigamos às vezes, mas tem algo muito bom que nos ajuda a resolver.

— E o que é?

— Sexo. — ela faz um gesto obsceno de sexo oral com os dedos ao redor da boca. Quanto mais tempo eu passo com Kayle, mais normal esse tipo de coisa se torna. Ela é bem indecente quando quer, mas não é como se eu fosse muito diferente.

Yorick dá um tapa na própria testa. Ele é uma alma muito pura para esse tipo de coisa, não sei como ele veio parar numa banda cheia de malucos.

— Eu podia passar sem essa, mas valeu pela dica. — digo a última frase em tom de sarcasmo, mas ela não parece ligar.

— Estão servindo aperitivos no bar. — Olaf comenta, animado. — Você vem? — ele se dirige a mim.

— Passo. — respondo.

Olaf puxa Kayle pelo pulso e eles vão até o bar, Yorick olha para mim e suspira. Eu lhe desejo um boa sorte silencioso e volto a me misturar entre as pessoas.

Faço meu caminho pela multidão, e entre as dezenas de vozes falando ao mesmo tempo, ouço alguém chamar meu nome. Vou desviando das pessoas e encontro Ekko, Ahri e Akali parados com seus drinks em mãos.

— Ui, tá parecendo uma mafiosa. — é a primeira coisa que meu melhor amigo diz ao me ver. — Eu curti, braba demais. — coloca uma das mãos no bolso da sua jaqueta bomber roxo escura.

— Você tá linda! — Ahri exclama. Ela está radiante, usa um vestido preto justo de uma manga só e os saltos vermelhos que eu dei de presente de aniversário. O colar que Akali deu a ela enfeita seu pescoço, seu cabelo está jogado para o lado.

— Você também, raposinha. — ela sorri, caninos pontiagudos à mostra.

Akali, que os deuses a abençoem, estende um dos dois copos que está segurado na minha direção. É um Sex on the Beach, com uma rodela de limão na borda e tudo. Nós quatro bebemos e conversamos por alguns minutos, eu me questiono mentalmente onde estão as outras garotas do K/DA e o anfitrião da festa. Antes que eu possa indagar em voz alta, Kai'Sa e Caitlyn caminham até nós por entre a multidão. Varus e Evelynn vêm logo atrás, vestindo roupas pretas e chamativas, com direito a correntes e harness. As estrelas da noite.

O olhar de Kiramann encontra o meu, eletrizante, suas íris são claras e sólidas como gelo. O mundo ao redor parece parar enquanto eu a analiso. Ficamos nos encarando, mas sou tirada do meu transe por um Varus muito animado.

— Você é a Vi, não é? Eu estava louco pra conhecer você. — ele me cumprimenta com um aperto de mão. — Espero que esteja aproveitando a festa. Não se preocupe com os fotógrafos, todas as fotos passarão por mim e pela Evelynn. — Varus explica. Parece que ele entendeu bem o conceito de tudo que acontece no Club 57, fica no Club 57. Isso me deixa mais tranquila, de certo modo.

— Vou deixar registrado.

— Vocês todos estão espetaculares! — sorri abertamente, olhando para nossa roda. — Oh, pelos deuses, temos que tirar uma foto dos casais. — ele assobia para um fotógrafo, que se aproxima de nós correndo.

Caitlyn e eu nos olhamos, compartilhando um pânico mútuo.

O homem faz alguns cliques de Ahri e Kai'Sa, depois de Akali e Evelynn, e logo chega até Kiramann e eu. Nossos amigos nos olham com expectativa, menos Akali, que está escondendo um riso com a mão. Nós não podemos fazer mais nada a não ser fingir que a situação é perfeitamente aceitável. Caitlyn chega mais perto de mim, e de repente há quatro câmeras apontadas para nós: a do fotógrafo e os celulares de Ahri, Akali e Ekko.

— Um casal perfeito. — Varus comenta, animado. — Vocês estão duras demais, até parece que nunca se encostaram.

— Er… a gente não curte muito melação em público. — intervenho.

— É tão brega. — Caitlyn completa, tentando soar casual.

— Essa é nova. — Akali me encara. Seus braços estão cruzados acima do peito, seu olhar é brilhante e altamente suspeito. Ela dá um sorriso de canto sugestivo, o mesmo que ela sempre dá quando está prestes a me zoar. — Eu cansei de contar as vezes que topei com vocês se pegando, vocês se agarram tanto que chega a ser nojento.

Eu poderia matá-la com as minhas próprias mãos agora, mas me seguro. Ela me lança uma expressão vencedora de quem conseguiu o que queria. Desgraçada.

— Só uma foto rápida e vamos deixar vocês em paz, eu prometo. — Varus diz.

Por fim, Caitlyn passa o braço ao redor do meu pescoço e eu a seguro pela lateral do corpo. Consigo sentir a textura macia da camisa de cetim azul escuro que ela usa, minha mão se encaixa perfeitamente na curva da sua cintura. Sinto o calor que sai do corpo dela, que está rígido como uma porta. Seu perfume cítrico entra direto pelo meu nariz.

— Tudo bem, chega. — Caitlyn fala depois que os cliques terminam e nos soltamos.

O fotógrafo vai embora e Varus o acompanha, tudo volta parcialmente à normalidade. Bebo meu Sex on the Beach em poucos goles, Kiramann e eu permanecemos em pacto de silêncio. Akali está se deleitando com o fato de eu não poder revidar a sua provocação, e o resto parece estar curtindo demais o momento para perceber o quão esquisita essa situação está.

━━━━━━◇◆◇━━━━━━

Não demora muito para a festa chegar ao seu auge. Ekko se separa de nós e se reúne com os outros membros do True Damage na pista de dança, Akali e Eve sobem para o mezanino enquanto cochicham coisas no ouvido uma da outra. Elas flertam de uma maneira um tanto pornográfica, quase desejo que alguém me dê um tiro.

Eu encontro com Kayle, Olaf e Yorick em alguns momentos, que não descansam até me fazer beber duas doses de Jack Daniels em seu mais puro estado. Kayle e eu dividimos um baseado, e depois de ouvir suas frases enroladas no meu ouvido por ela estar completamente bêbada, volto a pular de um grupo para o outro. Vou ter que deixar o pobre Yorick na mão dessa vez, mas provavelmente ele vai recorrer a ligar para Sona em algum momento. Ela é a única pessoa que consegue segurar a Kayle quando ela está alcoolizada.

Quanto ao Olaf, bom, ele vai dar um jeito.

Agora estou no canto da parede do bar com Kai, Ahri e Caitlyn, mas as namoradinhas conversam mais entre si do que com Kiramann e eu. Na verdade, elas nem prestam atenção na gente.

Caitlyn está ao meu lado, encostada com a lateral do corpo na parede de tijolos. Sinto seu olhar em mim, então viro a cabeça para encará-la. Ela estende a mão na minha direção, como se fosse me tocar, mas recua. Os finos anéis prateados que ela usa brilham em seus dedos. Sua boca abre e fecha repetidas vezes, como se ela quisesse me dizer algo, mas não soubesse o que.

— Akali parece estar adorando a situação. — ela apoia as costas na parede e me olha de soslaio enquanto eu acendo um cigarro. É a primeira vez que ela fala comigo hoje, provavelmente por culpa do álcool no seu sangue.— Ela é bem diabólica quando quer. — sua voz está levemente arrastada. Ela não parece bêbada, só um pouco atordoada.

— Eu não sei se ela tem um real controle sobre isso, pra ser sincera. — respondo, ela ri pelo nariz. — Mas o brilho nos olhos do Ekko chegou a me dar pena.

— Ele acha que a gente vai ter uma reconciliação melodramática.

— Pobre coitado.

Ficamos paradas no mesmo lugar, então ela diz:

— A gente pode ir pro bar? Tô louca por um Dry Martini. — encosta o topo da cabeça na parede.

— Das últimas vezes que você esteve nesse bar comigo eu acabei com um amassado no meu carro e um namoro falso. — sopro a fumaça para cima, Caitlyn revira os olhos.

— Beber comigo não vai te matar. — ela finge que está ofendida. — Eu sou gata e rica, o que mais você quer?

— É prepotente e teimosa também.

— E você não? — ela rebate, eu bufo uma risada e dou de ombros. — Se você aceitar beber comigo, eu não conto pra ninguém que te pego olhando meus peitos às vezes.

— Como é que é? — quase engasgo com a fumaça.

— Você pode me odiar, mas eu sei que você não é boba. — ela dá início a perturbação. — E que me acha gostosa.

— Você usa decote de propósito, não fode.

— É tão fácil te tirar do sério. — ela ri. — Você é assim na cama também?

— Se eu te ignorar, você para de falar? — rebato, mas não é como se eu estivesse falando sério. Caitlyn não parece ligar, acho que ela está se acostumando às minhas respostas curtas.

Antes que possamos continuar, somos interrompidas.

— Ah! — do nada, Ahri dá um gritinho. — Eu amo essa música! — ela diz ao ouvir a batida contagiante sair pelos alto falantes. Ela sorri para Caitlyn, que sorri de volta. — Vem, vamos dançar.

Kiramann olha para mim, eu dou um aceno de cabeça como quem diz "vá em frente". Ahri a puxa pelo pulso, e também puxa Kai'Sa. As três vão alegres para a pista, correndo em seus saltos altos. Tiro as costas da parede, caminhando até o bar.

Peço um Blue Devil ao barman, e não demora muito para a bebida estar em minhas mãos. Eu giro no banco e fico de costas para a bancada, coloco o copo no meio das pernas e observo a pista de dança enquanto trago meu cigarro. Ahri, Kai'Sa e Caitlyn estão na pista, é bem fácil para mim olhá-las de onde estou. Elas dançam outra música agora, e como não tenho nada melhor para fazer, fico observando.

A canção é bem animada, a batida fica na cabeça. Eu presto atenção na letra, tentando interpretá-la com meu coreano ruim. Caitlyn sorri abertamente para as amigas enquanto mexe o corpo, dança e canta, parece feliz. Por um momento esqueço o quão merda as coisas são entre a gente.

눈감아 달라구, ya-ya
(Agora, mantenha seus olhos fechados)

딱 한 번만 no rules, ah-ah
(Só por hoje não haverão regras)

모른 척해 줘 lights off tonight
(Finja que não sabe disso e apague as luzes)

나 참을 수 없을 거 같아 losing myself
(No fim, não posso evitar de me perder)

Caitlyn canta segurando o celular perto da boca como se fosse um microfone. Sua camisa azul está aberta e balança junto com seu tronco conforme ela dança. Quando ela vira mais o corpo na minha direção, consigo ver melhor o top-cropped preto e decotado que ela usa por baixo, o que deixa seu belo par de seios bem aparentes. Junto a isso, um colar com um pingente azul brilhante enfeita seu colo, nunca vi ela tirá-lo.

이제는 turning back
(Não tem como voltar atrás)

불가능해 난 점점 더 깊은 어둠에
(É impossível, porque eu já caí nas profundezas da escuridão)

너무나 짜릿해 나 눈을 감을래
(É tão emocionante que quero fechar meus olhos)

다시는 돌아갈 수 없을 것만 같애
(Mas acho que depois disso não vou poder voltar atrás)

Out of control
(Estou fora de controle)

As luzes na pista se revezam entre vermelho e azul. Kiramann parece envolta na própria realidade, sua pele clara contrasta bem com a iluminação. A saia da mesma cor da camisa acentua bem suas curvas, indo da cintura até o meio das coxas, completamente justa a silhueta. Caitlyn é bem bonita, linda, na verdade, mas isso é algo que eu sempre soube. Só escolhi deliberadamente ignorar, e é mais fácil odiá-la assim.

나를 감시하는 저 spot, spot, spotlight
(Estou rodeada de holofotes)

비출수록 어둠 속으로 빨려 들어
(Enquanto eles brilham em mim, vou sendo arrastada para a escuridão)

끝이 보이는데 I know it's not right
(Consigo ver o final disso, mas sei que não é certo)

I can't stop me, can't stop me
(Não consigo me parar)

Seus olhos monólidos e protuberantes encontram os meus pela milésima vez essa noite, mas isso não os deixam menos ardentes. Seu cabelo solto emoldura bem o seu rosto delicado, suas sobrancelhas são bem marcadas e os lábios são… vibrantes; finos, delineados e vermelhos como o diabo.

Me lembra daquela noite de Halloween, da festa cheia de mauricinhos da Piltover High. Eu tinha 17 anos, Caitlyn tinha 16. Me lembro de vê-la dançar com o grupo dos populares no meio da sala luxuosa dos Medarda, como se o mundo fosse acabar ali mesmo. Eu estava sentada no balcão de mármore bebendo uma cerveja, e ela me olhava da mesma maneira que está fazendo agora.

Eu não fumava nessa época.

내 앞에 놓여진 이 red, red, red line
(Bem na minha frente está essa linha vermelha)

건너편의 너와 난 이미 눈을 맞춰
(E estamos nós duas de frente uma para a outra, trocando olhares)

느끼고 싶어 짜릿한 highlight
(Só quero aproveitar esse momento emocionante)

I can't stop me, can't stop me
(Não consigo me parar)

Eu não sei quanto do que aconteceu naquela noite me afetou, mas a julgar pela dor que eu senti, talvez tenha sido demais. Eu não costumava odiar tanto Piltover, nem me importar com as coisas que eles tiraram de mim. Eu estava feliz em ter conseguido uma bolsa para jogar basquete na Piltover High e estava prestes a conseguir uma bolsa de esportista em uma universidade estadual. Eu podia ter tido uma vida simples e confortável em um bairro comum de Piltover, quem sabe eu viesse a fazer parte da liga de basquete, mas de repente isso passou a não ser o bastante.

Não sei quando fiquei desse jeito, quando a minha ambição passou por cima de tudo que eu achava justo. Quando eu passei a querer tanto sair da sombra de Piltover. Eu estava feliz em só seguir a minha vida, mas isso foi antes.

Risky risky wiggy 위기
(Está sendo tão arriscado e perigoso)

This is an emergency
(Isso é uma emergência)

Help me, help me, somebody stop me, cuz I know I can't stop me
(Me ajude, alguém precisa me parar, não consigo sozinha)

답은 알고 있잖아, 근데 가고 있잖아
(Eu já sei qual a resposta, mas continuo mesmo assim)

이러고 싶지 않아, 내 안에 내가 또 있나 봐
(Não quero fazer isso, mas deve ter outro eu dentro de mim)

Eu sempre quis confrontar Caitlyn sobre o que aconteceu. Queria gritar com ela, encher a cara dela de porrada, dizer que aquela foi uma reação completamente exagerada por eu sem querer ter arranhado a traseira do Jeep dela com meu Mustang. Mas o fato é que eu sempre tive medo de que aquilo não tivesse relação com o arranhão. Ela podia ser só uma pessoa cruel, e aquela foi a sua forma de mostrar que era melhor que eu. Tinha um alvo invisível nas minhas costas e todo mundo sabia disso. Kiramann foi a primeira pessoa a atirar, e a última.

Eu era só a Violet, a garota bolsista de Zaun que não tinha nenhum direito de estar no mesmo lugar que a elite.

Por oito anos eu achei que tinha esquecido isso, que tinha virado essa página, até Caitlyn aparecer de novo. Talvez eu devesse deixar para lá, mas o que fazer se olha-lá ainda me dói nos ossos?

Será que ela continua me vendo da mesma maneira?

O refrão da música ecoa distante na minha cabeça agora. Eu termino meu Blue Devil num único gole e dou um último trago no meu cigarro. Deixo o copo no balcão atrás de mim e jogo a bituca do meu fumo no chão, pisando em cima dela quando me levanto.

O DJ para a música e fala algumas coisas que não me importam. Todo mundo presta atenção nele, então aproveito para ir até o banheiro sem grandes dificuldades. Graças a tudo que é sagrado não tem ninguém aqui. Eu jogo uma água no rosto e me debruço sobre a pia de granito, escutando uma voz masculina e abafada anunciar o black-out daqui poucos minutos. Me olho no espelho, e então solto a respiração que nem sabia que estava segurando.

Passo meu dedo indicador na cicatriz que tenho na sobrancelha, como se isso fosse juntar os meus pedaços.

— Vi — eu me assusto quando Caitlyn aparece. — Tá tudo bem? — ela parece preocupada de verdade, mas minha cabeça está nebulosa demais para que eu me importe.

Kiramann pousa a mão sobre o meu ombro e eu sinto minha pele formigar por baixo do blazer.

— Tá, eu só… — a encaro pelo reflexo. — Esquece. — não quero começar isso de novo, não vou ficar esfregando sal na ferida.

Caitlyn não parece acreditar, mas também não força a barra. Ela abre a boca para falar algo, mas antes que possa fazer isso, as luzes se apagam e tudo fica escuro.

— Ah, ótimo. — dou um suspiro. Kiramann fica em silêncio por um minuto, mas depois a ouço ofegar. Ela respira como se estivesse com falta de ar, o som ecoa pelo banheiro. — Caitlyn?

— Por que as luzes se apagaram? — sua voz é trêmula, ela soa desesperada.

— É a surpresa da Unholy Night, acontece um black-out geral pras pessoas fazerem coisas obscenas no escuro.

— Quando elas vão voltar?

— Não sei, daqui alguns minutos, talvez. — sua respiração fica ainda mais forte. — Tá tudo bem? — ela não me responde. Eu me viro e estendo a mão para tocar nela, mas quando o faço, ela recua.

— Não encosta em mim. — ela parece desesperada, e fala como se estivesse engasgada com alguma coisa.

— Eu não vou fazer nada com você, Kiramann. — não sei onde ela está, então ligo a lanterna do celular e o deixo com a tela virada para baixo em cima da pia. O ambiente fica numa meia luz, não é o ideal, mas pelo menos consigo vê-la. — O que tá acontecendo?

Ela olha para mim, olhos arregalados e pupilas dilatadas. Seu peito sobe e desce muito rápido, seus dedos estão tremendo, seu corpo está agitado. Ela aperta e solta as mãos em movimentos ritmados, parece estar suando.

Caitlyn está tendo um ataque de pânico.

Eu tento me aproximar dela, mas ela recua. Suas orbes azuis estão nebulosas, ela parece… com medo. Não só da situação, mas de mim. Ela continua indo para trás, e eventualmente bate as costas na parede. Tenta se segurar no azulejo, mas suas pernas parecem não responder ao resto do corpo.

Eu a seguro antes que caia, ela não parece ter forças para resistir. Kiramann tenta me empurrar para longe, me dá alguns socos nos braços e na parte de cima do peito numa tentativa de me afastar, mas falha.

Então ela começa a chorar, de um jeito que parece que as lágrimas estavam guardadas há semanas. Seu corpo está tão perto do meu que consigo ouvir seu coração bater.

— Eu não vou te machucar. — eu ajeito o corpo dela no chão, a fazendo ficar sentada. Eu pego meu celular e o deixo ao lado dela, trazendo a luz mais para perto. Isso parece deixá-la um pouco mais calma. — Pode confiar em mim.

Sinceramente, não sei porquê estou a ajudando. Ainda sinto uma coisa ruim no peito quando olho para ela, e tive essas mesmas crises por culpa dela. Seria muito fácil para mim deixá-la aqui sozinha, no escuro. Talvez assim ela soubesse como eu me senti e experimentasse o gosto amargo que eu passei. Caitlyn está completamente vulnerável, se eu quisesse me vingar agora, revidar de alguma forma, eu poderia facilmente.

Acho que ela sabe disso, mas, mesmo assim, cá estou.

Uma coisa estranha toma conta de mim, como um formigamento interno. Demoro a perceber que é empatia.

Me sento na frente dela e fico parada, deixo que ela me observe enquanto controla a respiração. Ela parece achar um ponto fixo no meu rosto e se concentra nele, parando de hiperventilar aos poucos.

As luzes se acendem, Caitlyn fecha os olhos e encosta a cabeça na parede, aliviada. Ela leva mais alguns minutos para se recompor totalmente, seu corpo se estabiliza e ela volta a parecer consigo mesma de novo. Caitlyn se desequilibra um pouco nos saltos pretos ao se levantar, vai até o espelho e encara sua face no reflexo. A maquiagem está incrivelmente intacta. Ela ajeita o cabelo e alisa suas roupas, eu encosto na parede e observo sem dizer nada. Algumas garotas entram no banheiro nesse meio tempo, mas nós duas fingimos costume. No máximo elas devem achar que a gente estava se comendo aqui dentro.

Logo saímos do ambiente, voltando a encarar o caos da pista de dança. Caitlyn suspira e caminha até o bar, ela parece subitamente sóbria agora. A assisto pedir uma água ao barman, ela vira o copo nos lábios como se fosse a melhor coisa do mundo.

— Cê tá legal? — questiono.

— Estou. — me lança um sorriso discreto, ela parece sincera. — Eu só não estou mais no clima de ficar aqui com esse monte de gente, mas também não quero ficar sozinha.

— Seus pais não estão em casa?

— Devem estar dormindo, e meu irmão está na casa do Viktor. — ela pausa por um segundo. — Jayce é o único que sabe disso. — ela reforça a última palavra, enfatizando o que acabou de acontecer.

Honestamente, isso é muita coisa para processar. Num dia eu não sei nada sobre Caitlyn Kiramann além do que me interessa saber, e no outro a consolo durante uma crise de pânico no banheiro do Club 57. Mesmo sem intenção e vontade, estou começando a conhecê-la. Pior, eu sinto que entendo ela. Saber suas vulnerabilidades é bizarro, porque até quinze minutos atrás eu achava que ela não tinha nenhuma.

— Você pode ligar pra ele, ou chamar a Kai.

— Eu não quero estragar a noite dele, nem a dela. — ela encara a pista de dança. — Sei que eles vão ficar preocupados, grudar em mim e me fazer dezenas de perguntas. Não é o que eu preciso, não vou ficar esfregando sal na ferida. Só quero continuar a minha noite sem um clima de velório e pessoas sentindo pena de mim.

— Eu entendo. — gostaria que essa frase fosse da boca para fora, mas não é. — Então, o que você quer fazer? — apoio o cotovelo no balcão, ela parece analisar as opções.

— Ir pra um lugar mais tranquilo seria legal, mas essa hora da noite os únicos bares abertos parecem ter corpos escondidos no porão.

— A gente pode ir pra minha casa. — digo sem pensar. Caitlyn me olha como se eu tivesse entrado em pane. — Eu já ia vazar, de qualquer jeito. — desconverso.

— Você sabe que não precisa fazer isso.

— A gente já tá no inferno mesmo, melhor abraçar o capeta logo. — dou de ombros, ela ri.

— Tudo bem. Você pede o Uber?

— Claro.

━━━━━━◇◆◇━━━━━━

Oi galera, cês tão bem? Mais um capítulo gigante pra vocês, espero que tenham gostado. Estou ansioso para o rumo que a fic vai tomar daqui pra frente, espero que vocês curtam o processo tanto quanto eu.

Pra quem não sabe, recentemente eu criei uma pasta com as referências dos cenários que aparecem/vão aparecer na fic. O link está lá no meu mural, mas eu irei postar as imagens nos capítulos conforme eu for citando. Inclusive, vou deixar umas aqui. Lembrando que as imagens não são 100% precisas, algumas coisas podem mudar, é só para vocês terem uma visão melhor de como eu imagino os cenários na minha cabecinha.

Eu também criei uma pasta no Pinterest pras CaitVi, o link também tá no meu mural, vocês podem acessar por lá ou pesquisar meu user: @daddawho

Pra fins de curiosidade, a música citada no capítulo se chama I Can't Stop Me, do TWICE. Está lá na playlist da fic.

Dito isso, segue aqui algumas fotos do quarto da Jinx e da Vi, que já apareceram. (Fiquem atentos ao quarto da nossa rockeira favorita)

Jinx:

Vi + Suíte:

Por hoje é isso galera, vejo vocês no próximo capítulo!

Continue Reading

You'll Also Like

144K 9.5K 46
Merliah Cavalcante, prima de Raphael Veiga, sai de Curitiba pra São Paulo, por conta de um novo projeto como modelo. Conviver com jogadores não vai s...
141K 19.2K 67
S/N Peña, uma brasileira de 21 anos, é uma jovem estudante de Direito, sargento e pilota da Aeronáutica Brasileira. Além de tudo, ela é convocada par...
559K 37.6K 54
Onde o capitão do BOPE Roberto Nascimento é obcecado por Hayla Almeida uma estudante de psicologia e fará de tudo para que ela seja sua. perfil da fa...
191K 20.9K 31
Beatriz viu sua vida mudar drasticamente aos 16 anos, quando descobriu que estava grávida. Seu namorado, incapaz de lidar com a situação, a abandonou...