Sempre | Melhores momentos

By Souto14

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Para aqueles que vivem me perguntando sobre a volta do casal mais odiado e amado do universo literário. More

NOTAS
01 | Vizinhos novos
02| Reencontros
03| Invasão de privacidade e outras drogas
04| Segredos que nem são tão segredos assim
05| A namorada do meu melhor amigo
06| Lindos olhos
07| Não consigo mais
08| Amar você será meu fim
09| Na mesma moeda
10| Você não é um monstro
11| Reescrever as estrelas
12| Eu só queria que você soubesse
13| Palavras tem poder
14| Traidor
15| Aquele que não deve ser mencionado
16| Alucinações
17| Bonequinho de plástico
18| Palavras vazias e desesperadas
19| New York
20| O capitão retira a máscara
21| Entre casais
22| Não tem como piorar
23| Eu achei que tinha superado
24| Faca cravada no peito
25| Quero você, apenas você
26| Sinto nojo
27| Principe encantado uma ova
28| Hospital, enterro e saudade
29| Fugitiva
30| Medo de perder
31| Longe
32| Uma vez rei dos babacas, sempre rei dos babacas
33| My escape
34| Sempre será você
35| Farsas e mais farsas
36| Cinderela
37| Entre términos e beijos
38| Gold Bet
40| Nunca deixamos um Stone para trás
|THE END|
NOTAS FINAIS

39| Ferido

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By Souto14


         Às vezes eu costumava acordar de um sono longo, achando que os últimos três anos da minha vida não haviam se passado de um sonho feliz. Contudo, quando a primeira coisa que sentia era seu perfume inebriante e o calor do seu corpo aquecendo o meu, minha alma se aquecia de felicidade, fazendo com que um despercebido sorriso enfeitasse meus lábios. Me virei na cama, encontrando o homem da minha vida ainda dormindo. Seus braços permaneciam em volta da minha cintura, segurando-me como se tivesse medo de que eu fosse desaparecer a qualquer instante. Fechei os olhos e por um tempo me permiti ficar ali, imóvel, temendo que qualquer movimento meu, por menor que fosse, pudesse acordá-lo de seu sono profundo. E só Deus sabia o quanto ele precisava disso. De um sono calmo e longo, onde pudesse recuperar todas as energias perdidas nos últimos meses. Voltei a abrir meus olhos para poder admirá-lo silenciosamente. Com as pontas dos dedos afastei uma mecha de cabelo que caía sobre seus olhos, e o mesmo se mexeu me puxando mais para si. Precisei morder os lábios para que a minha risada não o acordasse. Ao constatar que ele ainda estava realmente dormindo, voltei a contemplar seu rosto angelical. Primeiramente, fitei seus cílios negros longos e expressos. Depois, desviando a atenção até seus lábios macios, precisando controlar a necessidade que tinha de tocá-los. Alguns instantes mais tarde, com o meu dedo indicador, passei a traçar linhas imaginárias pelas centenas de pintinhas que o moreno tinha pelo corpo. Elas me lembravam constelações e eu as adorava por isso.

― Por quanto tempo pretende me olhar dormir? ― Me assustei ao escutar sua voz rouca soar. Dean permanecia de olhos fechados, mas um sorriso bobo ia crescendo em seus lábios aos poucos.

― Você não me deu muita opção, me segurando dessa forma. ― informei em tom zombeteiro.

Seus olhos castanhos se abriram lentamente, fitando os meus com intensidade e seus lábios se esticaram em um sorriso de canto. Dean era tão bonito quanto um anjo e ao acordar, então...

― Não posso controlar te querer, mesmo que seja inconscientemente...

― E eu não estou reclamando!

― Sei que não... ― Dean se inclinou e depositou um beijo sobre minha cabeça.

― Deveria voltar a dormir... ― Sugeri ao ver que o mesmo ainda tinha a expressão cansada, mesmo que já estivesse suavizada.

Voltei a passar lentamente meu dedo indicador pela sua pele quente, traçando minhas próprias constelações.

― Acho que já dormi o suficiente...

― Tem certeza? Acho que não te admirei o suficiente... ― Travei seu olhar no meu, observando-o se tornar de marrom quente, quase vermelho.

De súbito, o moreno se posicionou sobre meu corpo, apoiando o braço esquerdo no colchão ao lado da minha cabeça e a mão direita usou para afastar uma mecha de cabelo do meu pescoço.

― Não vejo sentido em apenas admirar o que já é completamente seu... ― Sussurrou próximo ao meu ouvido, enquanto sua mão deslizava lentamente pelo meu corpo e suspirei.

― O que propõe, então? ― Perguntei curiosa.

― Eu não sei... ― Dean desceu seus lábios até a minha clavícula depositando alguns beijos molhados pela região. ― Talvez um segundo round da noite no chalé. ― Sugeriu com a voz incrivelmente rouca.

― O segundo não aconteceu no banho? ― sorri com as lembranças e ele fez o mesmo.

― Um terceiro round, então... estamos de acordo? ― disse travando seu olhar no meu, e senti algo se acendendo em meu íntimo. Em um gesto rápido troquei de posição com ele, ficando por cima.

― Isso seria no mínimo interessante.

(...)

Descemos as escadas de mãos dadas e prontos para responder todas as perguntas que nos fossem feitas. ― Pelo menos, a maioria. ― Ao entrarmos na sala, encontramos Max e Lucca conversando sobre algo, enquanto Mari se limitava apenas a ouvir tudo sentada ao lado do marido.

O meu melhor amigo foi o primeiro a notar nossa presença, e quando seu olhar acusador pairou sobre mim, corei violentamente. Max não tinha mais o costume de se meter em minha relação com o Stone, possivelmente, por já ter feito isso por anos. Mas aquele conjunto de olhar e sorriso diabólico que o mesmo me lançava como se conhecesse todos os meus segredos mais sujos, tinha me deixado vermelha feito pimenta.

― Descansaram o bastante? ― Questionou, cínico.

Em resposta, semicerrei os olhos em sua direção expondo minha indignação sobre seu comentário nada engraçado. Max apenas sorriu zombeteiro.

― Eu odeio vocês por me deixarem tão curiosa. ― Mari resmungou com os braços cruzados e cara amarrada, tomando a atenção das pessoas na sala para si.

― Não seja dramática... ― falei, fazendo a mesma torcer o nariz.

― Onde estão as crianças? ― Dean perguntou para ninguém em especial.

― Sua mãe foi botá-los na cama. Não sei se perceberam, mas dormiram quase o dia todo. ― Foi a vez do meu sogro tirar com a nossa cara, me fazendo ruborizar violentamente.

Uma coisa era ter seu melhor amigo insinuando coisas sobre a sua vida íntima. Outra era o pai do seu marido...

― Podemos começar, então? ― Stone soltou impaciente, deixando explícito seu descontentamento perante os comentários.

― Vamos esperar a Suzana chegar... ― Pedi. E mesmo que a contra gosto, o moreno concordou.

― Já estou aqui!! ― Minha sogra anunciou. adentrando o cômodo.

― Ótimo... ― murmurou e revirei os olhos pela pirraça do meu marido.

― Você começa ou eu começo? ― Sussurrei para Dean, depois de ter todos acomodados no sofá nos encarando como se fossemos dois atores prestes a apresentar uma peça de teatro. A curiosidade estava bem expressa nos rostos de cada um.

― Você... ― balbuciou de volta e assenti, sentindo um friozinho na barriga.

― Pelo amor de Deus, parem de enrolar e falem logo de uma vez!! ― Mariana berrou histérica. ― Do começo e com o maior número de detalhes possíveis. ― exigiu, voltando a roer suas unhas freneticamente. Ela realmente estava ansiosa...

― Como bem sabem, nós dois fomos ao tal evento ontem à noite atrás de fechar uma parceria importante para a empresa. Mas como não conseguimos achar Marcos Abdalla, resolvemos nos separar para procurá-lo. E foi quando tudo começou a desandar... ― Iniciei a narração.

Chegava a sentir um nó crescendo em minha garganta todas às vezes que mencionava os nomes Abdalla e Miller. Ter que voltar para as lembranças da noite anterior e depois contar com detalhes tudo, foi completamente desgastante. Uma hora ou outra eu me via com a visão embaçada e a voz embargada, e por isso precisava interromper a narrativa para retomar o controle. Dean sempre continuava por mim. Ele não era nenhum pouco paciente com detalhes, não era objetivo e pulou boa parte do incidente com Marcos na estrada. Todos perceberam que havia algo mais a ser contado, mas ninguém chegou a ter a coragem de o questionar como sentiam vontade.

― E foi assim que a gente foi parar no nosso chalé fora da cidade. ― Dean disse por fim, e por longos segundos a sala foi engolida por um silêncio torturante.

As garotas estavam em estado catatonico desde que relatei sobre ver o Dean saindo de uma sala com a Miller. Mariana quase pulou no pescoço dele, se não fosse Max para segurá-la no lugar bem a tempo.

Os rapazes não se encontravam muito diferentes, suas cabecinhas pareciam estar trabalhando incansavelmente para processar toda a merda da aposta.

― Céus! Falem alguma coisa... ― exclamei à beira de um colapso nervoso.

― Vocês tão tirando com a nossa cara, né? ― Max foi o primeiro a se pronunciar. E a sua fala me atingiu como um soco no estômago.

― O que? Claro que... ― Comecei a dizer, no entanto, o tom de voz do Dean se sobrepôs ao meu facilmente.

― Eu pareço estar brincando, Phillips? ― Indagou completamente irritado. Seus olhos tinham voltado ao tom mais escuro, me fazendo ficar em alerta. ― Eu não sei o que denomina engraçado, mas não vejo graça em ter a sua mulher leiloada por um bando de filhos da mãe!

― Dean... ― Segurei sua mão com mais firmeza, tentando fazer com que o rapaz se acalmasse. Max não era o culpado pelo que tinha acontecido.

Os olhos azuis do meu melhor amigo, se arregalaram bruscamente ao ser acertado em cheio com as palavras furiosas do Stone. Max desviou a atenção do Dean, e seu olhar recaiu sobre mim feito uma pedra. O mar em suas íris estava tempestuoso enquanto passava de assustado para irado. O loiro não disse nada, mas sabia bem o que ele gostaria de dizer.

"Eu vou matar aquele filho da mãe!"

Não me surpreendeu em nada, ele era realmente super protetor. Mas não havia mais o que proteger...

― Momento só para garotas lá fora, agora. ― Mari exclamou subitamente.

A loirinha se levantou do sofá e seguiu até a cozinha, era o atalho mais rápido até o meu quintal. Suzana se levantou, em seguida, indo na mesma direção sem dizer nenhuma palavra.

― Preciso ver o que essa maluca quer... ― Falei ao fitar os olhos negros do meu esposo.

O que eu queria mesmo era ficar com ele até que a sua raiva desaparecesse, mas sabia que o mesmo também precisava de um momento a sós com os rapazes. E mesmo não querendo, soltei minha mão da sua para seguir o mesmo caminho que as outras duas.

Encontrei Mari e Suzana acomodadas nas espreguiçadeiras próximas a borda da piscina. Me sentei em uma cadeira vazia entre as duas e esperei até que a primeira pergunta viesse. Sabia que aquele seria o momento onde eu diria tudo o que não me senti à vontade para dizer na sala.

― Como se sentiu quando viu a Miller piranha saindo da mesma sala que ele? ― Mari foi a primeira a dizer algo.

― De verdade? ― Deixei que um suspiro abandonasse meus lábios, antes de me abrir completamente para as duas mulheres. ― Como se o mundo tivesse desabado sobre a minha cabeça. Tudo o que tínhamos vivido até aquele momento, se passou em um flash na minha cabeça, e eu só conseguia pensar em como tudo não havia passado de uma mentira...

― Ainda dói, não dói? Mesmo que agora saiba a verdade...

― Sim...

― Sei como se sente. Quando Max e eu voltamos a namorar no final do ensino médio, ainda doía no início. Eu já sabia que tudo não havia passado de uma armação, mas, não conseguia evitar pensar na dor que senti ao ver as malditas fotos. ― Disse em um tom melancólico.

― Um dia esse sentimento ruim passa? ― Questionei, esperando uma resposta positiva.

― Claro! Tudo um dia passa, Lis... é só não alimentá-lo. ― Disse dando de ombros e fitando o céu sem estrelas. Fiz o mesmo.

O silêncio reinou por alguns minutos até que Suzana resolveu se pronunciar também:

― E como descobriu que o meu filho não havia te traído?

Meu coração se apertou contra o peito ao lembrar de como tudo havia acontecido. Precisei magoá-lo muito até finalmente me convencer da verdade e a minha teimosia podia ter me custado uma vida sem o Stone.

― Nós dois temos esse negócio de sempre procurar a verdade dentro dos olhos um do outro... mas depois que os peguei saindo da mesma sala, me neguei a olhar pra ele. Entrei no carro daquele idiota e Dean veio atrás de mim... vocês já sabem o que veio depois. ― as duas assentiram. ― Quando chegamos ao chalé, ele ainda estava transtornado e eu magoada. No meio de uma discussão acabei olhando nos olhos dele, e Dean me mostrou o que de fato estava sentindo.

― A conexão entre vocês dois é algo admirável. ― minha sogra disse docemente.

― Conexão nem sempre é o bastante. Não quando você se recusa a vê a verdade por ela machucar o seu ego. ― as palavras deixaram meus lábios no automático. Mordi o lábio inferior quando as lágrimas ameaçaram cair.

Droga! Não deveria chorar justo agora...

― Como assim? ― Mari perguntou, sentando-se na cadeira.

Respirei fundo, tentando segurar as lágrimas a qualquer custo.

― Naquele momento fiquei sabendo da verdade, contudo, não aceitei. Eu não queria colocar sobre mim a culpa de um homem "inocente" estar machucado, e de ter arruinado o evento por ciúmes idiota. Foi por isso que pedi... ― senti a voz embargar conforme voltava as lembranças da noite passada.

― Você não fez o que estou pensando, fez? ― Mari questionou, seus olhos azuis quase pulando para fora do seu rosto enquanto me encarava fixamente.

― Você pediu o divórcio, querida? ― Suzana também ficou surpresa.

― Foi no impulso...

― Cacete!

― Como o Dean reagiu? ― A mais velha perguntou; a preocupação com o filho era notória.

― Mal... Depois de ter dito que não sabia se queria mais passar a minha vida ao seu lado, ele saiu no meio da noite e só voltou horas mais tarde. Quando retornou, parecia perdido e consegui ver em seus gestos como o havia machucado. Dean disse que me deixaria livre depois que voltássemos para a cidade... achei que aquele fosse realmente o nosso fim.

― O que aconteceu depois? ― A loira questionou.

― Caí na real. Quando percebi que estava o afastando desisti da raiva e de qualquer coisa que me mandasse ficar longe dele. E nós transamos. ― disse por fim, sentindo minhas bochechas tomarem um tom mais rosado por Suzana ter escutado isso.

― Uouu... que reviravolta! ― Mari exclamou surpresa.

― Pois é... uma hora tudo parecia estar desabando em nossas cabeças, e na outra eu estava tendo o melhor sexo da minha vida.

― Não é mentira quando dizem que os de reconciliação são os melhores. ― apontou Mari.

Com certeza, não!

― E depois? ― Suzana não parecia ligar pelo fato de estar falando sobre esse tipo de assunto.

― Quando amanheceu, Dean me explicou sobre o porquê de ter perdido a cabeça com o Abdalla... essa história de "intocada" mexeu muito com ele.

― E com você?

― Senti muita raiva no começo, ser tratada com um mero objeto é humilhante. Mas...

― Está tentando não pensar nisso pelo Stone. ― Apontou minha melhor amiga, e eu não gostava nenhum pouco de como ela estava sempre certa.

Dean havia perdido completamente a cabeça quando descobriu sobre a aposta e isso o fez arruinar o rosto de um homem. E por mais que eu sentisse muitas coisas a respeito da aposta e do Abdalla, fingir que nada tinha acontecido para que aos poucos ele esquecesse parecia ser uma boa ideia pra mim.

― O Abdalla não chegou a me tocar, não é como se eu tivesse sido mesmo uma vítima...

As palavras que deixaram meus lábios não condizem com o que eu realmente sentia. Estava ciente do quanto fui privilegiada por ter saído dessa ilesa, enquanto milhares de mulheres já tinham passado por coisas piores, mas ainda sentia meus ossos congelarem de medo só de pensar no que teria me acontecido se Dean não estivesse lá.

― Eu não deveria me sentir mal por tão pouco, não é? ― sorri, mesmo que quisesse desabar.

Senti braços me rodearem assim que a primeira lágrima rolou pelo meu rosto, e eu sabia bem a quem eles pertenciam.

― Tudo bem sentir medo, Lis... também senti quando nos falou sobre a aposta! ― Minha melhor amiga, quase irmã, murmurou. ― Sei que está segura agora, mas se algo tivesse te acontecido...

A abracei fortemente, deixando que meus medos transbordassem junto as lágrimas. Mari chorava junto a mim, nossos soluços se embalando em uma música triste e desesperada.

― Eu não devia ter entrado naquele maldito carro. Não devia ter duvidado dele... e agora, Dean se sente julgado pelo o que fez.

― Mas ele não está sendo julgado por ninguém, querida. ― Suzana afirmou; sua mão deslizava pelas minhas costas para me transmitir algum conforto. ― O meu filho fez o que qualquer um de nós teríamos feito. É assim que a nossa família é... nós cuidamos dos nossos.

― Suzi está certa! ― Mariana disse ao se afastar. ― Dean não precisa se sentir julgado por ter agido como alguém que se importa com você.

O peso em meu peito dispersou quase que por completo ao ouvir as palavras das duas. Usei o dorso da mão para enxugar meu rosto e sorri em seguida.

― Obrigada, isso significa muito pra ele. Para nós.

(...)

Com o fim do meu desabafo decidimos voltar para dentro e dar aquele dia por encerrado. Mas os rapazes não pareciam pensar da mesma forma, já que podíamos ouvir vozes alteradas da cozinha. Sem entender o que estava acontecendo, andamos silenciosamente até a sala.

― Sabe que ele vai vir atrás de você... Marcos não vai sossegar até se vingar. ― era a voz do meu sogro.

― Que se foda! Eu não tenho medo daquele covarde... ― Dean rosnou furioso.

Quando eu estava prestes a entrar na sala para perguntar o que estava acontecendo, Mari segurou meu pulso enquanto murmurava para que eu não fizesse aquilo. Em seguida, me puxou para o canto da parede e ficamos nós três ouvindo a conversa dos dois.

Onde está Max em uma hora como essa?

― E quanto ao que ele pode fazer a nossa família? Acha que pessoas como Marcos Abdalla conhecem limites? ― Lucca cuspiu com desprezo.

― Não vou permitir que aquele verme toque um dedo neles!

― Você não pode garantir nada, Dean! Essa merda vai piorar e tudo porque não soube controlar seus malditos instintos! ― rebateu friamente.

― O que queria que eu fizesse, porra? ― Dean vociferou ainda mais alto. ― Que eu a deixasse como moeda de troca pelo caralho do contrato? Nem se o inferno congelasse!

― Eu nunca diria algo assim! ― Lucca se defendeu, deixando a indignação bem explícita em seu tom de voz.

― É bom mesmo, pai... ― Dean rebateu friamente. ― porque se não o senhor seria o próximo!

― O que está acontecendo aqui? ― a voz da minha sogra soou de dentro do cômodo.

Estava tão perplexa com a discussão que, nem mesmo notei quando a mesma passou por mim e adentrou a sala. Mari fez o mesmo, e a segui com as pernas bambas. Stone parou estático ao botar seus olhos furiosos sobre mim. Pela sua expressão percebi que minha presença ali o incomodava, eu já tinha até um palpite do porquê. Dean sempre esteve ciente dos riscos que era mexer com Marcos Abdalla, contudo, nem chegou a hesitar ao me defender do babaca. Ele não queria que eu me sentisse responsável por qualquer merda que viesse a acontecer.

― Nada... ― Lucca respondeu, depois de me lançar um olhar culpado.

― Nada? ― Suzana perguntou, claramente irritada. ― Vocês dois estavam quase saindo na mão!

A mulher de 1,65 estava, realmente, furiosa por vê-los brigando e sua postura autoritária era bastante semelhante a do ex marido e do filho.

Dean trocou um olhar duro com o pai antes de olhar para a mãe.

― Ele já disse que não foi nada. Agora pare de tentar dar uma de esposa honrada e mãe do ano, pois você não faz a mínima ideia de como se faz isso.

Engoli à seco no segundo em que as palavras transbordando veneno deixaram seus lábios. Percebi o corpo da mulher enrijecer com o impacto da fala do seu único filho.

― Não fale assim com ela! ― Lucca se colocou entre os dois, adotando uma expressão ameaçadora para defender a mulher que amava.

Há dois anos atrás quando Suzana voltou de onde quer que ela estava, pai e filho compartilhavam do mesmo ódio pela mulher de pele dourada e olhos verdes. No entanto, depois que Dan nasceu e Suzi passou a conviver mais com a gente, em algum momento, os ex companheiros se aproximaram e ele decidiu perdoá-la. É meio complicado tentar explicar o que eles de fato têm, entretanto, é algo parecido com amores que deram errado por terem acontecido na hora errada. Meio clichê, eu sei. Mas é exatamente o que vejo quando olho para os dois juntos.

― Não menti, menti? ― Dean deu um passo à frente. Ele realmente não sabia quando parar...

Lancei um olhar rápido na direção do homem de cabelos grisalhos, maxilar trincado e punhos cerrados. Em seguida, desviei minha atenção para a figura pequena escondida atrás do namorado, encontrando as órbitas esverdeadas brilhando intensamente pelas lágrimas que segurava. Suas mãos estavam trêmulas ao segurar o braço de Lucca, impedindo que ele avançasse sobre o filho.

― Dean, chega cara! Você está passando dos limites... ― Max se manifestou para a surpresa de todos.

Eu nem sabia que ele estava ali.

― Eu ainda nem comecei, Phillips...

O clima na sala se tornou ainda mais pesado com a sua declaração, e por longos milésimos de segundos tudo o que se podia ouvir eram as seis respirações em ritmos completamente diferentes. Eu, particularmente, tinha minhas vias respiratórias tampadas pelo nervosismo. A sala havia se tornado um campo de batalha e pior do que brigar com um desconhecido escroto, era fazer isso com a família.

― Estou cansado de participar do conto de fadas no qual "Suzana Bittencourt" nunca foi embora. Não sei como conseguiu fazer com que todos te perdoassem em tão pouco tempo, mas, já deve ter notado que não sou como eles. O seu teatrinho de boa samaritana não fez com que as minhas lembranças ruins desaparecessem com o passar dos anos. ― Stone esboçou um sorriso amargo, enquanto tinha um olhar gélido sobre a mulher.

Eu estava em parte ciente do quão escroto Dean estava sendo ao jogar todas aquelas merdas sobre uma pessoa verdadeiramente arrependida, mas a outra parte conseguia entender a raiva irracional que ele nutria pela mulher que o havia rejeitado durante maior parte da sua vida.

― Querem saber de algo interessante, talvez até mesmo um pouco dramático? ― Dean passou o olhar rapidamente pela sala, encarando a todos nós por breves segundos. ― Eu não tive uma infância muito agradável. Meus pais ou passavam a maior parte do tempo brigando ou vivendo uma vida dupla... ― seu olhar frio voltou para Suzi. ― Não jantávamos juntos, não íamos ao parque ou eventos escolares... tudo porquê os dois sempre estavam no meio de uma discussão nova. Quando nos mudamos para São Paulo foi por culpa dela. Havia um novo cara na parada e meu pai achou que leva-la para longe a faria parar. Mas não parou... ela sempre dava um jeito de encontrar alguém. Eu tinha oito anos e já havia visto a pior face de um relacionamento e por esse motivo prometi a mim mesmo que não seria como o meu pai. Mas meus planos acabaram frustrados quando me apaixonei pela minha vizinha. No final do dia, eu sempre me via um pouco mais fascinado na garota e a cada acordar era um inferno diferente convivendo com os meus pais. Eu me odiava por não conseguir tomar o controle dos meus sentimentos, e acabava sendo um escroto com alguém que não merecia nada além do melhor de mim... mas como eu podia oferecer algo que eu não possuía? Tudo o que eu era se resumia a uma criança frustrada e carente. Quando tivemos que nos mudar outra vez, Lucca veio com o argumento de que seria bom para a empresa. Duas semanas em Brasília e eu descobri o real motivo... a Santa Suzana estava prestes a jogar a nossa farsa de família perfeita no lixo por causa do seu novo amante, e esse havia sido o jeito do meu pai contornar as coisas. Claro que ele falhou miseravelmente, e ela deixou que os seus casinhos fossem expostos na mídia feito uma novela Mexicana. Foi quando o cara finalmente pediu o divórcio e Suzana sumiu no mundo como se não fossemos nada além de pedras amarradas em seus calcanhares a impedindo de ser livre. Nenhuma ligação, carta ou e-mail... não tive notícias da mulher que me pôs no mundo por quase oito anos. ― Dean pausou a fala por alguns segundos para puxar o ar de volta aos pulmões e devolver as lágrimas, que faziam seus olhos brilharem intensamente, para o lugar inicial. ― Depois da separação dos dois, meu pai decidiu que lidar comigo sozinho era um problema que ele não estava nenhum um pouco a fim de enfrentar, e por isso acabei em um colégio interno por quase três anos. Depois de sair dele nossa relação acabou evoluindo para o meio profissional. Ele mandava, eu obedecia, e como recompensa no fim do mês caia um salário na minha conta. Mas estava tudo bem... quem consegue superar um abandono, consegue dois, não é mesmo? ― sorriu com escárnio outra vez. ― E não apenas superei, como também formei a minha própria família onde não precisava fingir nada. Eu estava verdadeiramente feliz com isso, mas é claro que dona Suzana não deixaria barato... você teve que voltar e começar a destruir tudo o que lutei pra conquistar.

― Eu nunca quis destruir nada... eu só queria recuperar. ― Suzana balbuciou com o rosto banhado em lágrimas.

A risada sarcástica do Dean inundou o cômodo, fazendo meu estômago se contorcer em aflição.

― Recuperar o que? O dinheiro que você perdeu com o divórcio? ― suas palavras eram puro ódio.

― Cale a merda da boca, Dean! ― Lucca ordenou furioso, avançando alguns passos na direção do filho, mas sendo impedido por Suzi outra vez.

Por mais abalada que transparecesse estar com todas as acusações, ela não permitia que o ex marido tocasse no filho.

― Seu jeito protetor chega a ser cômico, pai... ― cuspiu como se a última palavra fosse um palavrão. ― Lembra das vezes que dizia desprezá-la mais do que qualquer outra coisa no mundo? O que mudou?

Dean esbanjava um sorriso de escárnio, apenas, para maquiar a tristeza em seus olhos.

― Onde quer chegar armando esse circo? ― Lucca questionou, calmo. Sua expressão tinha passado de furiosa para passiva em uma velocidade assustadora, e eu sabia o que isso significava. Essa era a pior versão de um Stone... ― Ao menos consegue ver o quão mimado e patético você está sendo? Pelo visto, ainda insiste em continuar me decepcionando. Se quer jogar a culpa da sua vida ser medíocre sobre a sua mãe, tudo bem. Mas fique ciente, Dean, que a culpa é completamente sua. Você é o único infeliz com a forma como as coisas estão. Você é o problema. Sempre foi.

Não...

Lucca não tinha dito aquilo...

Antes que pudesse fazer qualquer coisa para defendê-lo das palavras bem planejadas do pai, Dean se pronunciou de forma igualmente calma e fria.

― Talvez esteja certo... eu posso de fato ser o problema. Mas isso não diminui o peso da culpa sobre o ombro dos dois por terem o criado. ― Dean esboçou um último sorriso de escárnio, antes de começar a andar em direção às escadas.

― Dean!! ― O chamei, mas o mesmo me ignorou completamente.

Não demorou muito até que ele sumisse de vista e tudo o que se pudesse ouvir fosse o som dos seus passos pesados subindo as escadas.

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