Dia seguinte, não pulou nada. Tá chegando no fim e todas as cenas são importantes.
Parei em frente a porta de madeira branca, aproveitando para arrumar os cabelos e desamassar minha roupa. Preparei meu melhor sorriso, e então, finalmente abri a porta. Mas não era o Dean quem estava andando de um lado para o outro na minha varanda, parecendo nervoso. Ao notar minha presença, seus olhos azuis foram postos sobre meu rosto e senti uma imensa vontade de abraçá-lo. No entanto, também estava com medo de que Dean aparecesse ali, justo naquele momento.
― Eu fiquei sabendo sobre o que aconteceu... ― começou a dizer. ― Eu tentei vir antes, mas... acho que eu estava com medo de não ser bem vindo.
― Alec, você sempre será bem vindo. Nós somos amigos.
― Eu não mereço essa amizade. Tudo o que fiz nos últimos seis meses foi agir feito um babaca, que não consegue aceitar um "não" da garota por quem é apaixonado.
― Você é um babaca, mas eu sabia disso quando cedi às suas investidas. ― Ele riu com as minhas palavras e percebi seu corpo relaxando aos poucos.
― Está sozinha? ― perguntou naturalmente e gelei. Não podia convidá-lo para entrar, por mais que quisesse muito. Havia algumas coisas que queria conversar com Alec, mas se o Stone resolvesse aparecer acabaria machucando ainda mais os sentimentos do capitão.
― Não... ― Fechei a porta atrás de mim, e comecei a andar até o banco que havia no finalzinho da varanda, me sentando nele. Alec se sentou ao meu lado, e então voltei a falar: ― Mari e Max estão passando alguns dias aqui para me ajudar com a papelada da adoção, mas vão embora depois de amanhã.
― Adoção?
― Isso aí. Eu vou adotar o Luca Lopez...
― O filho da sua falecida amiga? Não acha que está se precipitando...
― Não, eu não acho! ― Falei convicta. E por mais que a reação do Alec não tenha sido das melhores, não foi uma surpresa pra mim. Ao contrário de mim, ele tinha o espírito livre e eu duvidava muito que ele formasse uma família antes dos trinta e cinco. ― Antes de tudo isso acontecer, eu já o tinha como um filho, e, agora, esse sentimento apenas aumentou. Estou ciente de que para algumas pessoas eu esteja abrindo mão de muitas coisas, mas a verdade é que não me sinto perdendo nada.
― Então está certa sobre isso? ― Perguntou.
― Sim, estou! ― Afirmei contente com a minha decisão, e o capitão assentiu com um balançar de cabeça, junto a sorriso meia boca. Ele estava preocupado comigo... ― Vou ficar bem, capitão.
― Tenho certeza que vai. ― Alec finalmente sorriu de verdade dessa vez, fazendo meu coração se aquecer. Me sentia culpada por não poder retribuir o amor que ele sentia por mim, mas vê-lo sorrir daquela forma, me deu esperanças de que ainda não era o fim da nossa amizade.
― Mas agora eu preciso ir, tenho treino de futebol às nove. ― Disse se levantando do banco.
― Fiquei sabendo que vai ter um jogo importante na próxima semana... ― Me levantei também.
― É, mas ainda não estamos preparados e isso me preocupa um pouco. ― Desabafou.
― Já assisti a alguns treinos dos Lions e sei que vocês são muito bons no campo. E também sei que qualquer que for o problema entres vocês, o capitão do time vai conseguir dar um jeito. ― Reparei quando seu sorriso se alargou e fiquei feliz por ajudá-lo.
― Eu posso te dar um abraço? ― O rapaz dos olhos azuis mais lindos que já vi, perguntou hesitante. Seus braços estavam estirados no ar, e sua face levemente corada.
― Achei que nunca pediria... ― Brinquei, abraçando-o em seguida. Alec afagou meu cabelo com umas das mãos, e com a outra me abraçou apertado. Encostei a cabeça em seu peito e inalei o perfume familiar em sua camisa. ― Eu senti muita saudade, capitão... ― Murmurei.
― Eu também, princesa. ― Disse encostando seu queixo no topo da minha cabeça.
― Ainda seremos amigos, não é? ― Ele hesitou por alguns segundos, antes de falar:
― Sim, é claro que sim... ― Alec me soltou e sorriu. Mas não era o tipo de sorriso contagiante ou sacana que costumava esboçar. Era o que dava quando não podia cumprir uma promessa.
Voltei para dentro sentindo um forte desconforto em meu peito. Eu odiava quando isso acontecia, odiava quando as pessoas me deixavam. E não poder fazer nada me deixava doente. Entrei na cozinha me deparando com o olhar confuso da Mariana. Droga, lá vem mais problema...
― O que foi, Mari? Por que está me olhando desse jeito estranho?
― O Dean... ele está no quintal com Max e Luca. E acho que ele viu algo que não gostou lá fora!
De novo não, mas que...
Com um frio na barriga, andei até a porta da cozinha, passando pela mesma e encontrando Max, Dean e Luca jogando futebol. Sorri pra mim mesma ao ver Luca comemorar pelo gol que fez em Max. O meu garotinho não sorria fazia dias e vê-lo feliz, fez meu coração transbordar. Passei mais alguns minutos observando os três, vendo Luca marcar gols e mais gols, um atrás do outro. E seus risos e gargalhadas deixava tudo muito mágico. Se eu pudesse, juro que congelaria o tempo para que aquele momento durasse para sempre.
― Tia Lis, vem jogar com a gente. ― Luca gritou no momento em que percebeu minha presença, fazendo o jogo parar e todos ali desviarem sua atenção para mim.
Mas naquele momento o único que me importava era o meu vizinho. Me aproximei deles a passos vagarosos, sempre com os olhos na direção do moreno. Dean havia desmanchado o sorriso largo e parecia desconfortável com a minha presença. Ele estava realmente chateado. Me abaixei para ficar na altura do menino, bagunçando seu cabelo em seguida e o mesmo deu risinhos.
― Agora a tia tem que conversar com esse rapaz aqui. ― Falei, olhando na direção do moreno. ― Pode ficar para outro momento? ― Luca assentiu com um balançar de cabeça e sorri. ― Obrigada, você é um ótimo garoto.
― Ei, garotão? Fiquei sabendo que tem sorvete de chocolate na geladeira, tá afim? ― Max, percebendo a situação, tentou ajudar. E funcionou, o loirinho foi com ele sem pestanejar.
E agora era apenas eu e o Dean. Voltei a minha postura normal com os olhos cravados nele que olhava em todas as direções, menos na minha. Enquanto ele tentava me ignorar, aproveitei para admira-lo. O moreno estava usando bermuda e uma camisa básica na cor azul escuro que o deixavam mais moleque. Os fios rebeldes estavam como sempre, bagunçados de uma forma sexi e natural. As pintas que ele tinha pelo corpo pareciam mais realçadas com o sol das nove. Eu poderia ficar babando pelo rapaz por horas e horas, mas tinha algo que eu precisava esclarecer.
― Achei que não viria mais... ― Criei coragem para ser a primeira a falar.
― Tive que fazer algumas ligações antes de vir. ― Respondeu seco, ainda sem me olhar.
― Não vi quando chegou.
― É, você parecia bem ocupada com aquele cara... achei melhor não interromper e entrei pelos fundos. ― Resmungou.
― O Alec só veio...
― Te consolar! ― Dean cuspiu com desdém, soltando um riso sem humor em seguida. Ele levou as mãos até os bolsos e me dirigiu um olhar rápido.
― Não tem motivos para ficar com ciúmes, Stone!
― O fato de já terem ficado não é "motivo" suficiente? Não se faça de ingênua, Anna Lis. ― Disse raivoso. ― Sabe que ele é apaixonado por você. O seu amiguinho não foi nem homem pra falar a verdade sobre a noite de quatro meses atrás. E na manhã seguinte, quando aquele babaca a puxou para os braços dele, você não o afastou. Deixou que ele a segurasse como um troféu...
― Está sendo injusto, Dean. Eu não tinha as minhas lembranças da noite anterior e me sentia confusa. E se Adams sente ou não algo por mim, isso é irrelevante. Antes de tudo ele e eu somos amigos...
O moreno soltou um suspiro frustrado, levando as mãos à cabeça. Pela sua inquietação, ele parecia travar uma luta interna; razão vezes a raiva.
― Eu não ligo que tenha amigos, Anna Lis. O meu problema é aquele cara e sei que o sentimento é mútuo. Você o vê como um simples amigo, mas não assim que o Adams pensa ao seu respeito... ― Dean parou de falar por alguns instantes, antes de retomar: ― Eu estava lá quando se abraçaram e escutei quando disse sentir falta dele. E eu não sei lidar com isso, Anna Lis! Ver que precisa tanto assim daquele cara me fez sentir inseguro quanto a nós. E não gosto de me sentir assim, principalmente, agora que as coisas começaram a dar certo. Eu não posso te perder, Scott. ― Disse a última frase, finalmente, me encarando. Senti um friozinho na barriga ao perceber seus olhos marejados.
― Você não vai me perder... ― Falei me aproximando dele.
Com o dedo indicador e o polegar, puxei o seu queixo para baixo, beijando-o. Dean rodeou os braços em minha cintura, colando nossos corpos e aprofundando o beijo. E foi quando senti seu gosto outra vez, que me dei conta do quanto estava com saudades daquilo.
― Eu sou louco por você, meu anjo! ― sussurrou, encostando nossas testas e fechei os olhos para aproveitar melhor a sensação do seu toque quente sobre minha pele. ― Desculpa por ser um idiota e ter arruinado o nosso café da manhã.
― Apenas faça o Luca sorrir daquele jeito mais vezes e vai ficar tudo bem.
― Ele é um bom garoto, gostaria de ter um filho como ele... ― Confessou botando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
― Não sabia que queria ter filhos...
― Na verdade, nunca parei pra pensar muito sobre o assunto. Mas enquanto brincava com Luca, a ideia me veio à cabeça... ― E ao escutar essas palavras não pude deixar de imaginar eu, Luca e Dean como uma família de verdade.