Sempre | Melhores momentos

De Souto14

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Para aqueles que vivem me perguntando sobre a volta do casal mais odiado e amado do universo literário. Mais

NOTAS
01 | Vizinhos novos
02| Reencontros
03| Invasão de privacidade e outras drogas
04| Segredos que nem são tão segredos assim
05| A namorada do meu melhor amigo
06| Lindos olhos
07| Não consigo mais
08| Amar você será meu fim
09| Na mesma moeda
10| Você não é um monstro
11| Reescrever as estrelas
12| Eu só queria que você soubesse
13| Palavras tem poder
14| Traidor
15| Aquele que não deve ser mencionado
16| Alucinações
17| Bonequinho de plástico
18| Palavras vazias e desesperadas
19| New York
20| O capitão retira a máscara
21| Entre casais
22| Não tem como piorar
23| Eu achei que tinha superado
24| Faca cravada no peito
25| Quero você, apenas você
26| Sinto nojo
27| Principe encantado uma ova
29| Fugitiva
30| Medo de perder
31| Longe
32| Uma vez rei dos babacas, sempre rei dos babacas
33| My escape
34| Sempre será você
35| Farsas e mais farsas
36| Cinderela
37| Entre términos e beijos
38| Gold Bet
39| Ferido
40| Nunca deixamos um Stone para trás
|THE END|
NOTAS FINAIS

28| Hospital, enterro e saudade

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De Souto14

Lis está prestes a perder mais uma pessoa. Margot é a mãe de um aluno da Anna Lis e elas se tornaram grandes amigas ao longo do livro.

Saí para fora do hospital e procurei por um lugar isolado. Disquei um número da garota com os dedos trêmulos e no terceiro toque ela atendeu.

– Lis, querida, não vai acreditar com que eu e o Max estamos jantando... – Mari disparou a falar na frente. Mas para ser sincera não me importava quem quer que fosse, minha amiga estava morrendo e deixando uma criança de seis anos sozinha no mundo.

Quando dei por mim às lágrimas voltaram a rolar pelo meu rosto feito cachoeiras e meus soluços eram altos e desesperados. Estava tão cansada de perder todo mundo...

– Lis... o que aconteceu? Por que está chorando? – Minha amiga indagou preocupada. Porém eu não conseguia falar nada. Sempre que eu lembrava dos fatos, mais sentia vontade de chorar. – Vai ficar tudo bem, querida! Agora, pare de chorar e me diga o que aconteceu. – pediu.

– Não consigo... – Murmurei, com a voz embargada.

– Anna Lis, está me deixando preocupada. Fale de uma vez o que diabos aconteceu!

– Margot está morrendo!

– O que? – a voz de Mariana era menos que sussurro.

– O médico disse que ela não passava dessa noite. – Me forcei a falar outra vez. – Os órgãos já estão todos comprometidos e ela cansou de lutar...

– Eu deveria estar aí... – indagou tristonha.

– O Resultado no final seria o mesmo. Ela vai morrer, Mariana, e vai deixar um filho sozinho no mundo.

– Luca não vai estar sozinho, ele terá você.

– Isso não basta, não sou o suficiente... Luca precisa da mãe. – Voltei a chorar.

Eu não queria que o meu pequenino passasse pelo mesmo que passei. Tivesse uma vida solitária como a minha. Luca merecia mais do que jamais tive...

– Scott! – alguém do outro lado da linha me chamou, e por um instante meu coração parou de bater e o ar fugiu dos meus pulmões.

– Scott!! – Aquela voz soou outra vez e pela milionésima vez senti meu coração se estilhaçar por saber que era realmente ele. Tentei dizer algo, mas as palavras não vieram. O celular ainda se debatia contra a minha orelha pela minha mão trêmula. – Ainda está ai?

Eu queria dizer que sim, mas não consegui. Escutei um suspiro do outro lado da linha.

– Ainda consigo escutar seus soluços, meu anjo... entendo que não queira falar comigo, mas eu só queria dizer que: Estou aqui, sempre estive. Não tanto quanto eu gostaria ou tanto quanto você precisa, mas ainda estou aqui, sentindo toda a dor que está em seu coração como se fôssemos um só. Não deve estar sendo fácil perder outra pessoa importante para o câncer, mas és a mulher mais corajosa e forte que conheço. E ainda tem o garoto... tenho certeza que não estará sozinho, porquê, a amiga da mãe dele é a pessoa mais altruísta e maravilhosa de todo o mundo. Confie em mim. Só dessa vez. Vocês não estão sozinhos.

Quando dei por mim, as lágrimas já não desciam mais. E meu coração se encontrava mais leve. Ainda doía, mas não como antes... E Dean foi o responsável quando me disse todas aquelas coisas fofas e bonitas, me fazendo até duvidar se era realmente ele. A linha ficou muda por alguns segundos, que mais pareciam horas, no entanto, por mais que eu quisesse dizer algo não consegui. Queria agradecer pelas palavras e sentia uma imensa vontade de pedir algumas explicações. Mas quando as palavras finalmente saíram da minha boca, foi a coisa mais sincera que falei em meses:

– Sinto sua falta. – Murmurei com a voz trêmula. Silêncio...

– Oi, sou eu. – A voz de Mariana soou muxoxa, e mais uma vez eu havia perdido minha chance com o Stone.

– O que foi isso? – Perguntei atônita, ignorando o vazio em meu peito.

– Dean está passando alguns dias no Rio, e Max achou que era uma boa ideia convidá-lo pra jantar em nosso apartamento... – Explicou, ainda cabisbaixa. – O celular estava no viva-voz... eu não sabia que a ligação se tratava de algo tão triste, então quando ele te ouviu chorar ficou fora de si, e praticamente arrancou o celular da minha mão. – A voz da minha amiga estava embargada como se lutasse contra as lágrimas. E enquanto isso, eu tentava não pensar em Dean; em como ele estava, ou se ainda estava ao lado de Mari ainda escutando nossa conversa. – Max e eu estamos indo pra ir. Vamos demorar um pouco, mas peça pra ela esperar por mim... – Sua fala foi cortada por um soluço, e logo nós duas chorávamos ao pé do telefone. – Quero conhecê-la pessoalmente. – Disse por fim, as palavras quase inaudíveis. 

(...)

"Onde está me levando?" – minha voz embargada soou pelo carro, e ouvi um suspiro frustrado. Um homem estava ao meu lado, no banco do motorista, com os olhos na estrada. Não dava para ver seu rosto pois o alto nível de álcool em meu organismo havia deixado minha visão turva. " você é surdo?" – Elevei a voz, impaciente. " Droga!!" xinguei quando uma dor em minha testa se fez presente. Lerda como eu estava, acabei batendo a cabeça no vidro ao olhar para fora da janela.

"Se machucou? " – o cara, finalmente, abriu a boca e quando olhei em sua direção, massageando a testa, me deparei com olhos castanhos me encarando atenciosamente. Era o Dean. Paralisei, sentindo meu estômago embrulhar e minhas bochechas tomarem uma coloração ainda mais avermelhada. Estava lindo com os fios castanhos bagunçados de forma exagerada e a testa franzida de preocupação. E então, ele voltou sua atenção para a estrada, quebrando o transe no qual eu me encontrava.

"O que estou fazendo no seu carro?" – Perguntei confusa. Minha cabeça rodava feito um pião, e podia jurar que dava pra ver estrelinhas sobre a mesma.

"Estou te levando pra casa." – Disse, seco.

" Não me lembro de ter entrado aqui." – Murmurei, me ajeitando sobre o banco para vê-lo melhor. Porém, eu me sentia mole demais e meus olhos mal ficavam abertos.

"Está bêbada, Scott, você mal se lembra do próprio nome!" – Cuspiu as palavras com desprezo e me encolhi sobre o acento de couro.

"Por que esta tão irritado, quando na verdade eu que deveria estar?" – As palavras sairam da minha boca emboladas uma na outra, contudo, Dean pareceu me entender.

"Pelo que, exatamente, você deveria estar irritada? – Retrucou. – Por ter perdido a virgindade com um cara por quem sente nojo, ou por eu ter corrido feito um cachorrinho até você outra vez?"

Então ele ficou magoado e sabia que eu era virgem quando transamos...

"Por que está gritando seu idiota?" Devolvi no mesmo tom. Meu cérebro parecia que estava prestes a explodir.

"Porque me importo com você! Será que é tão difícil de notar isso? Quando saiu do estacionamento transtornada dava pra ver que te deixar sozinha naquele momento era um erro. Vasculhei a cidade inteira atrás de te encontrar sã e salva, e então você me faz ir até um boteco de quinta pra te buscar. Custava ter atendido a merda do celular nas primeiras cem vezes que liguei? – Vociferou. " Você me deixa louco, garota." – Sua mão esquerda foi até os fios rebeldes, bagunçando-os mais um pouco. Suas feições estavam totalmente fechadas, apertando o volante com uma força exacerbada.

Droga, ele ficava tão sexi irritado.

Passei alguns minutos fitando o mesmo, admirando-o como se fosse a última vez. O que não deixou de ser.

"O que está fazendo? " – Dean me olhou de relance. Sua voz estava mais suave ao perguntar. "Pare de me olhar desse jeito, Scott."

" Não sei do que está falando..." – Sorri maliciosa. Para todos os efeitos, era a bebida. Dean riu baixinho fazendo meus pelos se eriçarem. Mas o clima foi cortado novamente quando senti meu corpo ser jogado pra frente, e se não fosse pelo cinto de segurança minha bunda estaria no piso do carro.

" Não fique tão distraída na próxima, donzela." – O encarei com indignação, tirando as mechas de cabelo do meu rosto ao mesmo tempo que Dean sorria com divertimento.

Ele abriu a porta do carro e se retirou do mesmo enquanto eu permaneci dentro, observando-o dar a volta e aparecer ao meu lado. " Vamos, saía logo daí." – Disse abrindo a porta.

"Não sei andar." – Resmunguei, quando minhas pernas não obedeceram meus comandos.

"Claro que sabe, Scott!"

"Esqueci."

"Ninguém esquece como se anda, Lis. Não tem mistério, um pé depois o outro." – Explicou.

Fiz assim como ordenou, e minhas pernas começaram a se mexer aos poucos. Meu pé direito foi o primeiro a tocar o chão, depois o esquerdo. Quando me vi totalmente fora do carro, Stone fechou a porta. Sorri contente por ainda saber andar e comecei a cambalear até a porta de casa, orgulhosa de mim mesma. O rapaz vinha logo atrás, tão perto que eu era capaz de sentir o calor que emanava do seu corpo tocar minhas costas. Para subir os degraus da varanda, Dean segurou-me pelo braço e sua outra mão foi até a lateral da minha cintura.

" Onde está sua chave?"

Procurei dentro da bolsa, mas não a encontrei em lugar algum. Só faltei despejar tudo no chão para ver que ela não estava ali.

"Acho que a perdi!" – relatei alegrinha. Com a bebida tudo parecia uma piada.

"Use a reserva embaixo do vaso." – ordenou impaciente.

"Como sabe da chave reserva?" – indaguei incrédula.

"Foi um palpite." – Disse, como se não fosse nada demais saber onde escondo minha chave reserva. Caminhei até o vaso no cantinho da varanda, meia cambaleante, e peguei a chave embaixo dele. No caminho de volta tropecei em meus próprios e quase meti a cara no chão, porém me segurei a tempo no corrimão da varanda. Dean me olhava preocupado, mas não disse uma palavra. Me recompôs e abri a porta, encontrando a casa em uma repleta escuridão. Procurei pelo receptor que ficava ali perto, e logo o hall estava iluminado.

Andei a passos lentos até a cozinha, com ele em meu encalço. Peguei um copo, depois a água na geladeira, e então bebi três copos cheios. Deixando tudo sobre a bancada da cozinha, caminhei em direção ao quarto. Minhas pernas estavam cansadas e meu cérebro também, eu só queria deitar e me afundar em um sono profundo. Ao me deparar com a mesma, me joguei sobre ela e inalei o cheiro de lençóis lavados.

"Precisa tomar um banho." – abri os olhos e o encontrei escorado no batente da porta, com as mãos no bolso..

" Amanhã eu tomo." – Resmunguei, repudiando a ideia.

" Amanhã, quando acordar, a única coisa que vai querer fazer é morrer pela puta ressaca. Então, aconselho que antes de dormir feito um anjo, tome um banho e uma aspirina para amenizar a dor..." – seu tom de voz era duro, parecendo até meu pai falando.

" Tudo bem, Stone. Você quem manda..." – Me levantei com dificuldade, e andei até o banheiro.

Depois de muitas tentativas fracassadas de tirar o sutiã, abri a porta e pedi ajuda. Ele hesitou um pouco, mas acabou fazendo. Seus dedos roçaram em minha pele, fazendo uma onda elétrica percorrer todo o meu corpo.

"Pronto." – Dean se afastou rápido, como se tivesse levado um choque e voltei a trancar a porta do banheiro.

Tomar banho nunca foi tão torturante. Enquanto a água se chocava contra minha pele, sentia como se ela estivesse sendo puxada do meu corpo. O frio que sentia era ainda mais insuportável.

Quando a tortura acabou, saí do banheiro com um roupão. Dean não estava no quarto, então aproveitei para vestir uma camiseta larga e uma calcinha. Entrei embaixo das cobertas, porém, quando estava quase adormecendo, Dean adentrou o cômodo com um copo em mãos e o remédio na outra.

" Tão incrivelmente sexy." Balbuciei sem um pingo de vergonha enquanto me sentava na cama. E ele estava mesmo. Os cabelos castanhos escuros estavam desgrenhados de uma forma atraente. Não usava mais o blazer, as mangas estavam dobradas até os cotovelos, e os primeiros botões da camisa branca estavam abertos. Dean Stone era o homem mais lindo que eu já havia visto em meus 22 anos de vida.

Quando ele sorriu de lado para o meu comentário, senti as borboletas em meu estômago se revirarem.

"Você está bêbada, não sabe o que diz." – Me estirou a água junto a aspirina, e depois de tomar tudo deixei o copo sobre a mesinha ao lado da minha cama.

O rapaz de olhos castanhos se agachou ao meu lado, me fitando tão intensamente que meu coração acabou perdendo o descompasso. Ele batia tão forte contra o peito, que era capaz de escuta-lo em meus ouvidos.

"Não existe ninguém mais bonito ou mais atraente que você. E isso nunca vai mudar." – Afirmei, com os olhos cravados nos seus. Queria que ele soubesse que eu estava sendo sincera.

O lado direito da sua boca se ergueu em um sorriso tímido, porém, belo. O castanho escuro das suas íris estavam de um marrom quente, quase vermelhos. E só Deus sabia o quanto aquilo mexia com o meu pobre coração.

"Não faz ideia do quão preocupado me deixou quando sumiu." – Sibilou, afastando uma mecha de cabelo do meu rosto. Seu toque quente sobre minha pele era perfeito.

"Bem, eu precisava de um tempo para assimilar tudo o que está acontecendo... Fui amante de alguém!"– As palavras ditas em voz alta se tornaram ainda mais vergonhosas, me fazendo soltar um grunhido de indignação. Mas ao voltar a olhá-lo nos olhos, vi seu semblante sereno se transformar em uma carranca novamente.

"O que foi? Vai continuar insistindo em mentir?" – Por incrível que pareça eu não estava com raiva, apenas magoada. Esse era o único sentimento que o álcool não foi capaz de me tirar.

"Pode dizer a verdade! Estou incrivelmente bêbada e não estou mais com raiva de ter sido feita de idiota e como você mesmo disse: por perder a virgindade com um babaca." – Por um momento vi a dor passar rapidamente por seus olhos.

Dean se pôs de pé rapidamente, e um sorriso de escárnio estampou seus lábios.

"Suas palavras chegam a me comover de tanta solidariedade." – iniciou, irônico. "E detesto ter que destruir esse carinha perfeito que você moldou por mim..." – Cuspiu as palavras em minha direção com puro desprezo. "Mas eu não traí ninguém e muito menos você foi minha amante. Sabe por quê? Porque eu nunca estive noivo, porra!" – Bradou alterado. "Então, pelo que sei não sou um filho da puta infiel, estou certo?" – Seu olhar era duro sobre mim, parecendo perfurar minha alma. "Alice e eu tivemos algo sim no passado, mas não durou mais que três meses porquê enquanto estava com ela, era em uma certa garota idiota em quem eu pensava. Decidimos que seríamos amigos depois do término, e essa é a minha única relação com ela. O que você escutou na minha casa não passou de um mal entendido..." – Deu por fim, ainda nervoso. As veias localizadas na região do seu pescoço estavam altas e pulsantes. Sua frustração e raiva eram quase palpáveis.

Pisquei atônita com todas as informações tentando digerir algumas coisas. Não havia noivado algum... A vergonha e o fracasso embrulharam meu estômago. Meu quarto estava a girar novamente, e meu coração batia desenfreadamente. O olhar raivoso de Dean estava me deixando ainda mais aflita, e quando meu estômago ameaçou botar todo o líquido destrutivo para fora, corri em direção ao banheiro quase tropeçando em meus próprios pés. Dean correu até mim e segurou meus cabelos até que meus órgãos tivessem sido colocados todos para fora. Ele praguejava algumas palavras inaudíveis no processo. Era constrangedor tê-lo ali, mas ao mesmo tempo reconfortante.

Eu tinha sido uma idiota por não ter escutado seu lado, e naquele momento eu me odiava por isso; Alice não era um problema, mas eu sim.

Voltei a deitar na cama com o auxílio do meu vizinho, me cobrindo até a cintura em seguida. Me sentia horrível, e no lugar do meu estômago parecia ter um buraco enorme.

"Está se sentindo melhor?" – Tinha preocupação em seu tom de voz.

"Um pouco melhor." – Forcei um sorriso, sem mostrar os dentes.

Senti a cama afundar onde ele se sentou, próximo as minhas pernas. Queria que fosse mais perto, no entanto, Dean parecia hesitante ao se aproximar.

"Então, o motivo de vocês não serem mesmo noivos é uma garota idiota..." – Murmurei sentindo minhas bochechas esquentarem. O riso dele inundou meus ouvidos fazendo um arrepio se alastrar por todo o meu corpo. Dessa vez não havia escárnio ou desprezo, apenas um riso sincero e inocente.

" Você não é idiota. Eu só estava com raiva!" – Se explicou. Não sei se era a bebida, ou apenas eu, mas queria muito beija-lo. Sentir seus lábios macios nos meus era a coisa mais gratificante do mundo.

" Talvez eu seja mesmo uma idiota..." – Admiti, olhando em seus olhos. "Talvez a culpa da gente nunca ter dado certo seja toda minha. Se eu tivesse dito que te amava a cinco anos atrás as coisas teriam levado um rumo diferente..."

"Não diga bobagens. Você não fez nada errado, eu que fui um covarde a minha vida inteira." – Ele se aproximou um pouco mais, até que seus dedos alcançassem uma mecha do meu cabelo colocando-a atrás da orelha." Sou o único culpado por toda a merda que ficou entre a gente, e continua ficando..."

"Do que está falando?" – Indaguei confusa.

"Nesse momento minha vida está uma bagunça, Scott. Meu pai jogou uma responsabilidade sobre meus ombros e não sei se estou pronto para tal coisa... mas sei que não posso deixa-lo na mão por mais cretino que ele seja." – As palavras eram pronunciadas com pesar.

" Onde está querendo chegar?"

" Essa "responsabilidade" exige que eu passe um temporada em Brasília e não sei quando vou poder voltar." – seus olhos estavam sobre o piso do meu quarto, enquanto os meus vasculharam seu rosto atrás de achar qualquer coisa que dissesse que ele estava brincando.

" É uma piada, não é?"

O silêncio de Dean foi a coisa mais dolorosa que ouvi em meses. Já deveria estar acostumada com a forma que o cretino sempre agia, mas aquela dor corroendo meu peito nunca sessava e só havia aumentado significativamente quando a notícia de que estava prestes a perde-lo outra vez, chegou abalando tudo. Me livrei das cobertas e levantei da cama, devastada. A raiva estava consumindo cada célula do meu corpo. Ele permaneceu sentado na borda da cama com o tronco curvado. Encarando suas costas largas sob a camiseta branca, mordi o lábio inferior tentando engolir o nó que crescia em minha garganta.

" Qual é a porra do seu problema, Stone?" – Vociferei em sua direção, sentindo minha vista embaçar aos poucos. " Tem algum fetiche doentio por me ver sofrer toda vez que você saí da minha vida ou alguma merda parecida?" – Mais silêncio como resposta.

Os braços apoiados nas pernas e suas mãos puxando os fios de cabelo localizados em sua nuca. Parecia machucar, mas foda-se. O que estava fazendo comigo doía dez vezes mais.

" Você teve em mãos o poder absoluto de foder com a minha vida por quase duas décadas seu cretino. Você acabou comigo, Dean!! – Berrei com desprezo.

Contornei a cama ficando de frente para ele, que permaneceu com a cabeça baixa.

" Olhe pra mim." – Ordenei ríspida. Mas Dean permaneceu com olhar sobre nossos pés.

" Olhe pra mim, merda!!" – Vociferei sentindo o ódio me consumir aos poucos. E quando seu olhar amargurado me encarou não me importei se estáva sendo cruel.

" Você nunca me amou, só gostava de me ter como rota de fuga caso os seus relacionamentos dessem errado. – Dean ficou estático sobre minhas palavras. "Tinha tanto receio de ser como seu pai, mas a verdade é que você sempre foi igualzinho a ela." – Cuspi as palavras com escárnio. Vi quando seu corpo ficou tenso, e seus punhos estavam cerrados. " Eu te odeio com todas as minhas forças, Dean Stone."

Mãos me puxaram para frente e logo depois fui arremessada na cama com brutalidade. O corpo dele sobre o meu me deixou sem uma rota de fuga, enquanto ainda segurava meus pulsos.

" Chegaaa!" – Bradou. Quando seus olhos encontraram os meus, vi o quanto minhas palavras o haviam machucado. O seu olhar marejado e vermelho, foi como um balde d'água fria sobre minha cabeça. E a raiva que sentia se apagou tão rápido quanto havia surgido. " Por favor, pare!" – Implorou, fazendo meu coração se apertar contra o peito. "Você também fodeu com a minha vida, Scott." – Disse baixinho. "Os últimos 14 anos foram torturantes pra mim tanto quanto foram pra você. Perdi coisas assim como você e estive sozinho, assim como esteve. Você perdeu uma mãe; eu nunca tive uma. Eu não estive quando mais precisou e você não esteve quando precisei. Estamos fodidos igualmente, Lis... – senti uma lágrima quente rolar pelo meu rosto, e ela não era minha. – Eu não quero te deixar.

"Então não deixe!"

"Não posso faltar com a minha responsabilidade."

" Eu não posso viver sem você, Dean!!" – Murmurei com a voz embargada. As lágrimas já rolavam pelas laterais do meu rosto, também.

" Nem eu sem você, meu anjo!" – Dito isso, Stone escondeu o rosto na curva do meu pescoço e chorou baixinho. Com minhas mãos já liberadas, levei uma até seus cabelos e a outra usei para abraça-lo forte. Se seria a última vez que o teria em meus braços, aproveitaria.

Enquanto escutava seus soluços baixinhos, permiti que mais algumas lágrimas banhassem minha face. Ele nem havia ido, e já sentia sua falta. Passamos um bom tempo daquela forma; abraçados, escutando a respiração um do outro. E quando meus olhos começaram a se fechar, escutei sua voz sussurra baixinho:

" Eu vou voltar pra você, Scott. Por favor, não desista de mim. Não desista de nós!"

***

Abri os olhos vagarosamente, me acostumando com a claridade do ambiente. Imagens de pessoas entraram em meu campo de visão, e quando minha vista finalmente focou, percebi que se tratava do casal 20.

– Graças a Deus você acordou! – Mariana anunciou, aliviada. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, eu só não sabia se por mim ou por Margot.

Minha amiga se debruçou sobre mim, dando início a um choro descontrolado. Olhei para Max, que estava em pé perto da porta, e pareceu me entender.

– Você desmaiou. – informou curto e grosso. Porém, consegui perceber o incômodo em sua face.

– Como está Margot? – Perguntei, quando a imagem da mesma me veio à cabeça, subitamente.

Eu não podia ter desmaiado... Ter sido tão fraca quando mais precisaram de mim!

– Preocupada com você! – Mari respondeu, depois de se afastar enxugando as lágrimas. – Ela disse que não poderia ir sem antes te pedir um favor... – Apesar dos seus esforços para não chorar outra vez, não foi o bastante. Mas dessa vez ela correu para o noivo, que a acolheu em seus braços como se sofresse junto com ela.

A cena toda me fez lembrar do sonho que tive com Dean. Teria sido um sonho mesmo, ou aquela noite realmente aconteceu? Ele voltaria mesmo pra mim, ou era só meu consciente tentando me iludir?

(...)

- Preciso que cuide dele para mim! - Sua voz chorosa e desesperada. E me peguei, completamente, surpresa com o seu pedido.

- O que?

- Sei que o que estou pedindo é um absurdo! Você não tem nenhuma obrigação, e cuidar de uma criança quer dizer abrir mão de muitas coisas. E eu não te pediria algo assim se não estivesse realmente desesperada... não consigo pensar em alguém melhor para cuidar do meu filho em minha ausência. Lucy apesar de ser um amor, já está com a idade avançada. - Seus lábios estavam ainda mais pálidos e minha amiga parecia cada vez mais cansada. - Por favor, diga que sim, Anna Lis! - Pediu outra vez e logo os aparelhos começaram a apitar.

Eu não sabia o que fazer.

Não que eu me importasse com

o que perderia se aceitasse a responsabilidade, porque Luca sempre sería o mais importante. Mas me amedrontava a possibilidade de errar com ele e com Margot. E quanto mais minha cabeça processava toda a situação, mais o olhar de desespero da minha amiga se tornava palpável. A vida abandonava seu corpo lentamente e tudo que consegui fazer foi chorar.

- Lis, me prometa que vai cuidar do meu menino. - Pediu uma última vez, antes de fechar os olhos e seu coração dar sua última batida. Daí em diante tudo ficou em câmera lenta.

Pessoas que vestiam jalecos, adentraram o quarto fazendo um alvoroço no qual eu não estava interessada. Um homem alto foi até ela e pediu para que alguém me tirasse dali. Algum ser me puxou para fora do cômodo, ao mesmo tempo que eu implorava para ficar.

No lado de fora senti as lágrimas banharem meu rosto, sentindo a dor da perca me inundar. Os sons se tornaram mudos e minha vista ficou preta. Senti minhas pernas falharem e cai de joelhos no meio do corredor. E sem me importar mais com nada e nem ninguém, me permiti chorar como bem queria.

Margot estava morta.

Como eu contaria isso para Luca?

Braços me rodearam estourando a bolha a qual me envolvia. O corpo rígido dele contra o meu, trouxe uma sensação de êxtase por todo o meu corpo, porém eu ainda chorava feito uma criança em seus braços. Minha cabeça contra seu peito e suas mãos em minhas costas. Até aquele momento eu não fazia ideia de quem se tratava, mas quando o aroma de creme de barbear com um leve frescor de menta inundou minhas narinas, eu sabia exatamente de quem se tratava. Por um momento pensei estar sonhando; ele não teria vindo até aqui, certo? Com certeza era meu consciente materializando-o.

Mas então seus lábios se aproximaram da minha orelha, arrancando-me um suspiro quando seu hálito quente tocou a pele sensível.

- Vai ficar tudo bem... - Sua voz rouca foi como uma luz no fim do túnel. Soltei-me do seu abraço de urso, só para poder rodear seu pescoço em um abraço desesperado, e chorei um pouco mais. Suas mãos foram para a minha cintura e então sua voz rouca e aveludada soou outra vez: - Estou aqui, meu anjo.

Estávamos nós dois no chão do corredor, e ele parecia não se importar com isso. Seu abraço só se tornava cada vez mais apertado enquanto o tempo passava. A dor ainda estava lá e não queria dar um "adeus" tão cedo, mesmo que tê-lo ali amenizasse um pouco. Luca também não deixou meus pensamentos por nenhum segundo; o medo da sua reação ao descobrir tudo me dava náuseas. Lucy também me preocupava, a mesma já era uma senhora e um abalo emocional poderia ser ruim para a sua saúde.

Passos de alguém correndo soou pelo corredor, e logo pude ouvir a voz de Mariana.

- Oh meu Deus!!

Me desvenciliei dos braços de Dean e olhei em sua direção. A loira tinha os olhos fixos no vidro que dava visão para dentro do quarto de Margot. Seu queixo tremia, e seus olhos azuis estavam esbugalhados e úmidos. Eu sabia muito bem como ela se sentia...

Sem dizer mais nada, Mari girou sobre o calcanhares e se jogou nos braços de Max que estava logo atrás dela, observando cada movimento da garota. Enquanto ela se debruçava em lágrimas, ele a segurava firmemente e acariciava seu cabelo com uma das mãos. A face do meu melhor amigo entregava o quão doloroso era para ele ver a garota que amava triste.

Voltei meu olhar para frente para o rapaz ajoelhado a minha frente, mas o que vi sobre seu ombro foi o que mais temi desde que saí daquele quarto. Lucy e Luca estavam no final do corredor paralisados com nossa cena, provavelmente sabendo do que se tratava. O pequeno foi o primeiro a se mover em nossa direção a passos lentos, enquanto a senhora começou a chorar de lá mesmo.

- Por que está chorando, titia? - Questionou, já parado ao meu lado. Seus olhinhos brilhavam em ansiedade e medo. - Cadê a mamãe?

Tentei dizer algo, mas as palavras pareciam presas em minha garganta. O desespero em seu rosto aumentava a cada segundo que se passava e ele não tinha sua resposta. O pequeno sabia, só não queria acreditar. Eu queria tanto tirar a dor que ele sentiria e coloca-la em mim...

Luca se jogou em meus braços, e choramos juntos pela morte da sua mãe.

- Ficaremos bem, Luca. Agora seremos eu e você contra o mundo. - E com aquelas palavras assumi a promessa com Margot.

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