Terra Proibida - Essência

By EvaSans86

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Em um entrelaçar de passado e presente, mergulhe em uma trama que desafia os limites da razão e da sanidade... More

Nota da Autora
[Agora] A queda
[45 anos atrás] A proposta
Cap. 1 - Sentimentos Ocultos
Cap. 2 - Tormenta
Cap. 3 - Ecos do Passado
Cap.4 - A medalha
Cap. 5 - Revelação
Cap.6 - O nada
Cap. 7 - Oráculo
Cap. 8 - Isadora Moraes
Cap. 9 - Elizabeth Detzel
Cap. 10 - Segredos ao pôr do sol
Cap. 11 - Sangue quente
[45 anos atrás] A Alma à venda
[45 anos atrás] A casca
[Agora] O Salto
Cap. 12 - Despertar
Cap. 13 - O Animal que me tornei
Cap. 14 - Presente de grego
Cap. 15 - Feito de lágrimas e cinzas
[45 anos atrás] Ninguém se lembrou
[45 anos atrás] Inferno
[45 anos atrás] Quando todos os homens falharam
[45 anos atrás] Mais que morrer
[45 anos atrás] Seus pensamentos
[45 anos atrás] Miserável
[45 anos atrás] Esse tipo de amor...
Cap. 17 - A casa
Cap. 18 - Terceira morte
Cap. 19 - Primeira vida
Cap. 20 - Alguém tem que morrer
Cap. 21 - Sete Palmos
Cap. 22 - O Centro do Universo
Cap. 23 - Essência

Cap. 16 - Versões de uma mulher

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By EvaSans86

[Dias atuais]

Diego Del Toro

No crepúsculo e em um úmido quarto de hotel barato, um ruidoso ventilador de teto juntamente com o cantar dum galo, avisavam-no que o sol em breve apontaria no horizonte.

Acordou um pouco perdido e procurando por Elizabeth ao seu lado, mas logo que percebeu estar no controle, mesmo contrariado por estar sozinho e em uma cama pequena, um sorriso tomou seu rosto. Se levantou um pouco desajeitado e com dor no lugar onde havia sido baleado. Olhou pra cama ao lado e viu Wallace dormindo ruidosamente. Preferiu não o incomodar, já que daria a ele bastante trabalho, então era justo que descansasse bastante.

Instintivamente pegou um objeto desconhecido na mesa de cabeceira, por que estou fazendo isso? olhou a tela e viu escrito "5h00", que apetrecho estranho para ver as horas... um relógio de pulso não era mais prático? Enfiou o item no bolso junto com um maço de cigarros, mastigou três comprimidos para dor e foi até o banheiro, verificou no espelho a ferida e com um pouco de dificuldade trocou o curativo. Até que o Hórus fez um bom trabalho, achei que a cicatriz ia ficar parecendo um cu, mas olha... me surpreendeu. Lavou e verificou minuciosamente o rosto. Pegou uma camiseta limpa dentro da bolsa que Isauro tinha deixado em uma mala dentro do carro e decidiu dar uma volta.

Enquanto caminhava pelas ruas da pequena cidade ao nascer do sol, Diego revisitava os acontecimentos da madrugada. Embora não conseguisse acessar plenamente seus poderes, conseguiu projetar-se nos sonhos de sua amada. Sentia uma falta absurda de Elizabeth e, se pudesse, se materializaria naquele exato momento na cama dela, mas nem tudo eram flores, não pôde permanecer mais que meia hora fora do corpo. Estava selado.

Identificou por conta própria quatro selos. O primeiro, tinha a função de protegê-lo e estava rachado, por isso estava conseguindo assumir o controle do corpo por um tempo maior. O segundo e o terceiro, também apresentavam ranhuras. Eles bloqueavam a magia e a memória de Benício, que por tabela parcialmente o afetava, pois sua memória como Diego estava intacta, porém não conseguiria acessar livremente as memórias do outro e vice-versa o dividindo em dois, Quer dizer que Santiago e Liz trabalharam juntos? Pra quem odiava a minha bruxa, ele anda amiguinho demais, filho da puta. Já o último selo, bloqueava seus sentimentos. Claramente tinha sido colocado por Liz e sabia exatamente o por quê. Tinha também uma magia diferente, uma âncora, mas essa não conseguiu identificar a autoria. E pra variar um encantamento.

Das poucas vezes que conseguiu emergir por um tempo um maior, Benício ainda era adoldescente e geralmente acontecia quando estava sob uso de algum medicamento ou bêbado. Minha bruxa safada que o diga, lembrou com um sorrisinho diabólico no rosto. Acendeu um cigarro, deu um forte trago, soltou a fumaça pro alto, onde será que acho um café nessa cidade? E porquê preciso tanto de um café agora?

Achou uma padaria aberta, pediu um café e por sorte, sabia que era encostar o objeto esquisito que tinha no bolso no caixa que estava tudo certo. Sentou em uma mesa e seu olhar logo se fixou em um garotinho de aproximadamente dez anos sentado em uma outra mesa, atento a um objeto parecido ao dele. O que será que tem de tão interessante nessa coisa? De soslaio, se aproximou do menino.

— Oi! Que tipo de jogo é esse? — perguntou curioso.

— Ahh, é só corrida. — respondeu o menino entediado.

— Como que eu coloco um desse no meu? — mostrou ao menino o aparelho. Os olhinhos do menino brilharam.

— Assim, ó tio...

Encostou levemente na mão do garoto ao entregar o item esquisito e em poucos segundos absorveu tudo o que precisava saber sobre o celular que tinha. Crianças são fascinantes. Por sorte, a habilidade de absorver conhecimentos específicos de alguém ainda estava intacta, entretanto, sentia-se ligeiramente decepcionado pelos carros ainda não voarem como nos Jetsons, robôs humanóides ainda não estarem na moda, mas por outro lado felicíssimo que a inteligência artificial era finalmente acessível.

Trinta e cinco anos fora do ar... Tenho muito para atualizar.

Mas primeiro, preciso quebrar essa ruma de selos, magias e feitiços que me colocaram.

Eles não perdem por esperar.

Quando voltou ao hotel, Wallace ainda permanecia adormecido. Percebeu uma movimentação estranha no estabelecimento junto com um pedido de socorro vindo de um casal desesperado com uma criança no colo.

Tentou ignorar.

Falhou miseravelmente.

— Minha filha não respira! — dizia o rapaz que era pai da menina, andando de um lado pro outro, desesperado e com o telefone na mão sem conseguir discar direito.

Diego foi até a mãe e pegou a criança, mesmo sentindo o ombro latejando, começou a manobra de salvamento. Não era mais ele, não era possível ser ele próprio. Por um segundo, levantou o olhar e viu Benício.

Você leva mais jeito nisso do que eu. Assume esse caralho.

Bem conveniente, você.

Tinham especialidades distintas. Diego expert em matar, já Benício, salvar.


Benício Speltri

Acompanhou Diego como uma sombra. Queria observá-lo. Surpreendeu-se ao se deparar em um quarto que nunca tinha visto e com sua idolatrada tia Liz preguiçosamente deitada na cama.

Ele não tinha controle algum de seu corpo e também não conseguia acreditar nos insultos que tinha acabado de proferir. Como assim, furioso? É a porra da tia Liz! Não tem como eu ficar furioso com ela! A resposta de Elizabeth o deixou ainda mais confuso.

— Sua múmia caquética, seu demônio sênil, você não tem ideia de como eu senti sua falta!

Com esse tipo de resposta, o que aconteceu a seguir não o impressionou nenhum pouco. Mesmo estranhando, entendeu rapidamente a linguagem. Estava acostumado o suficiente para saber que aquilo era um sonho, então sentiu cada toque, o sabor dos lábios e do sexo da mulher em seus braços, assim como a absurda conexão que havia entre os dois — ou os três — naquele momento. Uma coisa era certa, amava Elizabeth desde sempre. Era visceral. Mas por que não conseguia expressar ou lembrar o que sentia livremente?

Admirou-se ao constatar que Diego fazia exatamente o que e como ele próprio faria, ao ponto de não saber dizer quem estava no controle, apenas que ela o amava de volta.

Espera... ela ama o Diego, mas e eu?

Porque ela me ignora?

Percebeu um vulto.

Dá o fora Thiago.

Já chega eu ter que lidar com o Diego nessa matemática.

Uma lembrança esquecida surgiu quando o sonho acabou.

Nela, se tocou que até meados de seus dezessete anos não costumava ter pesadelos e que eles vieram depois de um determinado marco: o dia em que dormiu com a ruivinha, que segundo Henri era mais feia que o cão.

Na época, Olívia tinha terminado o relacionamento por ele ter esquecido a data de aniversário de namoro, e já que estava solteiro, porque não sair pegando geral? Era o que ele queria muito ter feito, mas havia uma sombra chamada Henri que o seguia em todos os lugares, principalmente nas festas, e por mais que o odiasse, tinha que ficar de olho nele, afinal era o mais velho e o primo um caguete mimado. No dia em questão, o primo queria porque queria beber também e sua arma foi a chantagem.

— Se você me deixar dar um gole, prometo que não conto pro papai que você fuma maconha e também não conto pra Ju que você tava pegando a Marcela do segundo ano... Aí você sabe né? Uma coisa leva a outra... não dou quinze minutos pra Olívia estar aqui sentando a porrada em todo mundo.

— Ok. — respondeu por entre os dentes. — Engole essa porra toda no gut gut, otário. — entregou a longneck que tinha nas mãos para o primo. — Se você passar mal, não invente de me pedir ajuda.

Henri tomou o seu primeiro porre na vida e Benício tinha que esconder a merda toda do pai. Aproveitou que a tia Liz estava fora da cidade e se refugiou em sua casa, já que tinha as chaves e a senha.

Mesmo sem querer, cuidou do primo que vomitava sem parar e quando finalmente conseguiu colocá-lo pra dormir, decidiu que precisava de uma gratificação: nada como os caríssimos vinhos que a tia guardava para comemorar, ela nem bebe isso tudo, vai nem ver. Na adega, escolheu um vinho francês e como uma pessoa experiente, sorveu o líquido com um requinte, que nem ele próprio sabia que tinha. Levou um susto quando se deu conta que as luzes da piscina estavam acesas. Decidiu apagar, para vê-las se acenderem novamente. Mas que porra é essa? Desligou umas outras quatro vezes para, por fim, ir ver o que era. Elizabeth estava deitada em uma confortável chaise na beira da piscina, apenas com a parte de baixo do biquíni, fumando um e com fones de ouvidos, cantarolando alguma música que pouco depois descobriu ser de Milton Nascimento. Quando a viu, sentiu um impulso sobrenatural de mergulhar na piscina, tirou a roupa, deu outro generoso gole no vinho e se jogou. Quando saiu da água, na outra margem, já não controlava mais nada.

Dizem que bruxas bonitas desgraçam deliciosamente a vida de um homem. — disse ele ao emergir da água, sacudindo os cabelos igual a um golden em seguida.

— Benício! — Liz se assustou não ao vê-lo, mas com os respingos de água.

Tia Liiiiiiz... me diga, o quê você tá ouvindo? Divide comigo? — tal qual o adolescente que performava, saiu da piscina e se deitou na chaise ao lado da tia, fazendo questão de encostar o corpo gelado no dela. Pegou logo um dos fones e também o baseado das mãos de Elizabeth, que letárgica apenas observava boquiaberta. Benício deu um trago.

— O quê você faz aqui, senhorito, filho de Raul e Madalena Speltri? — Ele riu.

— Estou fugindo. E você? Não deveria estar nos States?

— Estou fugindo também. Nada melhor que a casa da gente.

— Tenho que concordar. — Ele se apoiou nos cotovelos a encarando — Mas acho que você não está fugindo só do trabalho, anda fugindo de mim também e isso já tem um bom tempo.

— garoto... — o tom era de advertência. — me respeita que tenho idade de ser sua mãe.

— Panela velha é que faz comida boa, tia Liz, nunca ouviu falar?

— Cadê aquela menina? Sua namorada? Como ela se chama mesmo? Olívia?

— Olha você fugindo de novo! — Com uma expressão bastante sedutora, continuou. — Ela é passado, agora nós dois, ah! Nós dois somos eternos, nunca se esqueça.

— Você não vale um real, Benício. Vai dormir, que é hora de criança estar dormindo e me deixa em paz!

Sua bruxa gostosa dos infernos. Em vez de me aproveitar, quer que eu durma! — praguejou baixinho. — pra quem me chamava de museu, parece que o jogo virou, não é mesmo? Tiiiiiiia Elizabeth.

Elizabeth o encarou de uma forma estranha e mesmo com os olhos marejados, sem dúvidas ela era a criatura mais bela que ele já tinha visto. A beijou.

Ela subitamente tentou se afastar.

— Não foge de mim, amor. Só hoje. — bagunçava os cabelos da bruxa enquanto esfregava o nariz no dela.

— Diego...

— Minha bruxinha chorona... quanto tempo. — a beijou no ombro, no pescoço...

Seus lábios se encontraram em uma urgência tão grande e tão avassaladora, que não havia por parte dela resistência, apenas entrega. Era puro instinto. Se livrou da parte de baixo do biquíni tão rápido que nem notou o que fazia. A apertava, abraçava e entre aquelas pernas dedicava-se a fazê-la se desmanchar em seus lábios enquanto a chupava tal qual a uma fruta. Sem nem perceber, estavam no quarto e Benício experimentava a foda mais gostosa de sua vida. Era como se conhecesse cada ponto erógeno daquela mulher no detalhe, cada curva, cada expressão. Já tinha imaginado como seria diversas vezes, afinal, ela era o seu amor mais secreto. Não ia decepcioná-la. Entre vinhos, baseados e muito sexo, o que antes parecia uma noite desastrosa, se tornou a melhor de sua vida. Até que... ao acordar se deparou com uma estranha ao seu lado.

— Olha gato, não sei quem é essa tal de tia Liz, mas adorei ser ela. — disse a garota ruiva. Ela lhe deu um selinho — Se cuida, viu! Beba e fume menos.

A garota foi embora. Em choque, Benício não conseguia reagir, estava completamente atordoado.

— Eu bebo e passo mal, já você bebe e pega a primeira ruiva que aparece? Tu é muito otário, Benício! Nosso pai vai saber disso. — Henri estava encostado na porta com uma expressão vitoriosa. — Olha só a bagunça que você fez no quarto da tia. Ela vai ficar puta contigo e com razão. Vou até fotografar!

— Cala boca Henri. E pare antes que eu te arrebente.

— Acho melhor você me tratar bem priminho, se eu abrir minha boca, você ficará sem verba, sem festa por uns mil anos, sem a chave da casa da titia e sem a confiança do coroa.

— Seu PAU NO CU! Some da minha frente! — Jogando uns dois travesseiros em Henri.

Depois desse episódio, ficou nas mãos do Henri por um bom tempo. O pior é que se recusava a acreditar que não tinha dormido com a Liz. Nunca mais viu a garota que amanheceu com ele. Mas agora, ao experimentar transitar pelos sonhos e entender um pouco sobre o mundo sobrenatural que pertencia, percebeu que, sim, tudo o que aconteceu foi verdade e que a garota certamente era a tia disfarçada para não ser pega.

Esperta. Muito esperta.

Eu vou passar isso a limpo com a Liz.

O fofoqueiro do Henri me fez pagar de maluco pra geral.

Uma palhaçada isso!

Poderíamos estar juntos desde aquela época... afinal o Diego sou eu! Não sou?

Voltou a atenção para Diego pagando o café na padaria. Ele sabe que estou observando mas o filho da puta me ignora... palhaço. Mas e não é que esse desgraçado aprende rápido? Espera... quando passei a pensar tanto palavrão? O duplo agora observava um garoto. Quando Diego absorveu as informações, Benício também absorveu. Nossa... essas coisas nem eu sabia! Crianças são foda!

Reparou a forma como o outro andava, se portava e até mesmo respirava. Ele pensa que é o quê? Um rei? Aprendi com meu pai a odiar a monarquia. Atentou para a movimentação no pequeno hotel.

Quero ver ele salvar essa garotinha...

Você leva mais jeito nisso do que eu. Assume esse caralho.

Bem conveniente, você.

Um de nós dois precisa segurar a alma dela... e olha, se demorar muito, ela vai de base.

Que palavreado é esse? Até isso tu absorveu do moleque?

ele tem ótimos eufemismos para a morte. Posso dizer que ela "vai de arrasta pra cima" se preferir.

Benício conseguia ver a pequena alma se desprendendo aos poucos. Prestou os socorros necessários enquanto Diego a segurava no corpo, até por fim fazer a garotinha respirar novamente. Quando os bombeiros chegaram, Benício passou as instruções a eles sobre como estava a paciente e o que era necessário checar quando chegasse ao hospital.

— Qual o seu nome, doutor? — Perguntou a mãe, agradecida.

— Diego Ortega.

Thiago Taurus.

Um velho sentimento florescia indesejado no fértil solo de seu coração. O ciúme.

Maldita a hora em que a curiosidade o fez entrar nos sonhos de Elizabeth. Havia feito isso algumas vezes e se deparado com situações desconexas, mas dessa vez foi bem diferente: Diego realmente estava lá e constatou a gritante diferença em proporção de afeto.

Estava sentado na poltrona do quarto do hospital onde Liz estava. Taciturno, confuso, preocupado, ou melhor, desesperado.

— Diego, me traz um café, por favor. — Disse ela em uma voz manhosa, sem ao menos abrir os olhos.

Santiago conhecia bem as preferências de Liz. Já fazia um bom tempo que prestava atenção em seus gostos e padrões, mesmo que ela nunca lhe pedisse absolutamente nada. Enquanto ela se espreguiçava, se sentou ao lado dela e materializou o pedido.

— Santiago. — Em sua voz estava expressa o desanimo ao vê-lo.

— Seu café.

— Não precisava.

— Liz... — Travou. Engoliu em seco, contraiu o maxilar — eu... me desculpe.

— Você nos viu? — ela calmamente pegou o café e deu um gole. Santiago apenas abaixou o olhar e a cabeça esmorecido. — Santiago, olha pra mim.

— Liz, eu... estou com ciúmes. — precisava falar, nunca mais iria guardar o que sentia.

— Estou vendo.

— Eu sei que não tenho direito algum de estar com ciúmes e isso está me corroendo de uma forma que eu não sei explicar!

— Engraçado isso e olha que não pareço nem de longe a Isadora.

— São situações diferentes.

— Diferentes como?

— Estamos juntos há mais de trinta anos e nossa relação...

— Nunca foi nada além de amigos com benefícios... — estava mortificado. Eu sou só isso pra ela? Nunca signifiquei nada? — Exceto pelos últimos anos.

— É isso! Nos últimos anos, o que eu sou pra você Liz?

— Você é um bom companheiro Santiago. — as mãos de Elizabeth afagaram seu rosto. — O que sinto por você é carinho, cuidado, parceria, afeto, mas o meu amor, o ar que respiro e o motivo de eu ainda estar viva, você sabe muito bem quem é.

— Sei. — sentiu um belo soco no estômago.

— Não se machuque. — ela o abraçou. — não existe uma única forma de amar, Thiago, e isso não quer dizer que eu não o ame também.

Não saberia dizer qual foi o momento exato no qual passou a gostar de Elizabeth. Não saberia enumerar tudo o que o encantava nela. Ela era forte, brava, independente, poderosa, charmosa, impetuosa... fria.

A primeira vez que a viu após a morte de Diego foi aproximadamente um ano depois. E o que antes achava que seria mais um plantão qualquer no novo hospital que trabalhava, o surpreendeu de forma assustadora ao reconhecer a calorosa energia da própria mãe, só que ficou mais assombrado ainda ao ver quem estava ao lado dela.

Em sua cabeça, algo estava terrivelmente errado. Como ele, alguém tão poderoso não conseguia sentir a energia de uma mísera bruxa Detzel?

O garotinho que chorava no colo da mãe também o lembrava bastante um certo alguém. Alguém que havia dissipado de tal modo, que achou nunca mais ser capaz de voltar dos mortos.

— Não ouse se aproximar deles. A não ser que queira que eu extermine sua existência tal qual fez com Diego. — Elizabeth estava ao seu lado. Podia sentir a ferocidade sem ao menos o encarar.

— Sua criatura desprezível! — Respondeu luzindo os olhos, pronto para atacá-la, quando percebeu seu corpo paralisado.

— Talvez você precise de mais três pessoas e armas forjadas por imortais para conter alguém tão grandioso como o meu amor. Já eu, preciso apenas querer matá-lo e pronto. Fácil, fácil.

Sentiu seu corpo começar a rasgar em uma dor excruciante.

— Elizabeth, aqui não! — estavam no meio do corredor em um hospital cheio de gente.

— Agora preciso de lugar para exterminar meus inimigos? — a bruxa congelou o tempo.

— Eu não farei mal a eles! Eu me arrependi do que fiz ao Diego e você não tem ideia do quanto!

— Deveria ter se arrependido antes.

A dor que viu nos olhos de Elizabeth não se comparava à dor física que sentia. Ela tocou seu ombro e projetou em sua mente todo o horror que Diego havia sentido, toda dor, todo desespero e desgosto. A memória da voz dele ecoou em sua mente:

"Eu devia ter escapado sozinho."

A imagem que veio em seguida, foi a de um garoto que por diversas vezes não fugiu do inferno que vivia nas mãos do próprio pai por conta dos irmãos. De alguém que desesperadamente os amava ao ponto de se permitir ser humilhado para ficar perto. "Juntos". Em lealdade à mãe.

— Elizabeth! — disse com a voz embargada. — me dê a chance de me redimir! Por favor!

— Nunca.

A bruxa se afastou e foi em direção a sua mãe reencarnada. Observou a ternura com a qual pegou carinhosamente de seus braços o garotinho que agora lhe sorria.

Diego, que desta vez sua vida não seja um inferno.

Decidiu observar Elizabeth de longe, mas antes, penou até conseguir mimetizar uma forma de tornar sua essência imperceptível à bruxa. Ficou chocado ao descobrir que sua querida mãe agora era casada com Raul Speltri e que o irmão era filho deles.

Como a Elizabeth conseguiu trazer meu irmão de volta?

Se ela, uma bruxa inexperiente, conseguiu trazer uma alma totalmente fragmentada e quase dissipada de volta, porque eu não consigo trazer uma alma intacta de volta à vida?

Será este o momento perfeito para trazer o Fernando de volta?

Tenho que tentar, questão de honra!

Debruçou-se sobre todo estudo que tinha compartilhado no passado com Diego, juntamente com a tecnologia humana que despontava.

Fernando não resistiu muito tempo após o nascimento e me lembro que eu guardei o umbigo em algum lugar... Sim... vamos testar!

Extraiu o material genético do irmão que não havia sobrevivido, introduziu em óvulos vazios, desenvolveu embriões e inseriu, um de cada vez em diferentes barrigas de aluguel. Testou três vezes e nada.

— Bruxa Detzel, como você trouxe o Diego de volta? — Se materializou de frente a ela no escritório que havia sido do irmão.

— E porquê eu te diria? — Ela se levantou da confortável poltrona, deu a volta na mesa e se encostou nela, cruzando as pernas enquanto, pegava uma caneta tinteira, e a segurava de uma forma ameaçadora e sexy.

— Eu quero trazer outra pessoa de volta. — Ela apenas o encarou com nojo. — Alguém que Diego também queria muito trazer. — nenhuma resposta. — Eu deixo você tomar todas as decisões referentes a ele, só acho importante o Diego não crescer sozinho.

— Benício. — corrigiu ela. — E ele não precisa de irmãos. Se considerarmos o que os próprios irmãos o fizeram, melhor que ele cresça só e em paz desta vez.

— Elizabeth... Por favor! Eu faço o que você quiser em troca!

— Passo. E Santiago, nunca mais se atreva a aparecer em minha frente. Isso é um último aviso.

Precisava de uma oportunidade. Percebeu naquele instante que talvez a bruxa nunca tinha matado alguém na vida e que apenas isso a freava de matá-lo. Se fosse a Isadora ou alguém mais experiente, ela não teria nem piscado. Iria observá-la um pouco mais. Até que o momento perfeito chegou.

Ouviu um grito. Estava seguindo a bruxa à alguns meses quando se deparou num resort em Jericoacoara. Em um dos quartos, o "parceiro" de Elizabeth jazia morto sobre a cama. Antes que alguém notasse algo errado, isolou o lugar, e apareceu diante da mulher, que estava completamente nua e transtornada.

— Elizabeth, calma! O que aconteceu?

O homem, que devia ter em torno de seus trinta anos, não apresentava marcas de violência ou, sequer, magia, e também não tinha nenhum problema de saúde aparente ou físico, só estava morto, constatou.

— Eu matei ele!

— Mas, como Elizabeth?

— Eu MATEI! — ela tremia e parecia alheia à sua presença.

— Eu sei, mas como? Não tem prova nenhuma de que você o matou.

— Eu não tirei toda a energia dele... Eu tirei... a vida... de uma pessoa... inocente.

— Elizabeth, primeiro, calma. — pegou uma toalha e a cobriu. — Isso acontece. Para seres sobrenaturais como nós, sempre haverá uma primeira vez. — Ela se afastou dele caminhando de costas, em completa negação, até se encostar na parede. Viu quando ela cravou as unhas nos braços com toda força, entrando em estado de pânico, se encolhendo e escorregando o corpo até o chão.

Como uma criatura pode ser tão poderosa e ao mesmo tempo tão vulnerável assim?

Ela não vai me matar nunca desse jeito.

Se agachou até a bruxa e se desmaterializou com ela do local onde estavam. Ordenou à sua nova secretária, Akemi, que apagasse qualquer traço que pudesse ligá-la ao crime e a levou para sua própria casa.

— Akemi, vou precisar de roupas femininas.

— Quais as medidas?

— Ela é alta... magrela... acho que qualquer roupa que vista uma modelo cairá bem.

— Entendido.

Elizabeth estava claramente alterada. Não apenas por ter matado alguém, era como se ela estivesse passando por uma enorme agonia. Ela mordia os lábios com a respiração entrecortada e estava tão vermelha que Santiago não conseguia entender o que via.

Por que ela parece tão sexy?

— Santiago, — a voz soava rouca. — Vamos fazer um trato? Eu te ajudo a trazer o outro Del Toro à vida, mas primeiro... você terá que resolver o meu problema. — Ela se comportava tal qual a uma gata no cio.

— Que tipo de problema? O que devo fazer? — Perguntou já sabendo bem o quê, mas espantado o suficiente para entrar em estado de negação.

— Eu preciso que o seu pênis funcione. Pode fantasiar que sou a Isadora se quiser, eu não me importo. Eu só preciso de alguém que não morra.

Não podia ver o próprio rosto, mas sem dúvidas aquele era o pedido mais inusitado e constrangedor que já tinha recebido em toda a sua história. Será que valia a pena? Será que ela cumpriria a palavra de ajudá-lo?

— Certo. Eu vou precisar de um tempo.

— Eu não tenho tempo Santiago. Eu preciso AGORA.

Tá explicado porque ela deu tão certo com o Diego.

Mas porra, incluir talarico na minha lista de pecados já é demais...

— SANTIAGO!

Reticente, tirou a roupa peça a peça e se deitou na cama enquanto Elizabeth o fitava. Punhetou com a mente em Isa e assim que estava ereto, a bruxa foi até ele, o montou e o introduziu.

Sem dúvida, aquela era o sexo mais esquisito que teve a coragem de se submeter.

Não posso negar, ela é linda.

Doida. Mas é sim gostosa.

Rebola bem...

Será que se eu entrar um pouco mais forte fica melhor?

Mudou a posição, assumiu o controle e se segurou para não beijá-la. Enquanto metia, seus olhares se encontraram. Aí entendeu que no branco reluzente daqueles olhos, ela deliciosamente absorvia a sua energia. Entre gemidos, apertos e arranhões, ela gozou e ele a seguiu.

Estava exausto. Seu corpo inteiro doía como se ainda fosse humano e tivesse levado uma surra.

— Elizabeth, você ainda vai cumprir o que prometeu? — bocejou.

— Assim que você acordar começamos.

Acordou com sede de sangue, ainda se sentindo cansado. Materializou uma bolsa de sangue recém doado e quando foi até a cozinha de sua própria casa, lá estava a bruxa, austera, majestosa, coando um café, conservando as mesmas estranhas manias do irmão.

— Mostre-me o que você tem. — Disse ela e nem se dignificou a olhar para ele.

Mulherzinha arrogante.

Se aproximou com cautela. Sentados na mesa, explicou em detalhes como estava tentando trazer o Del Toro mais novo de volta à vida, mostrou a ela os relatórios e o que aprendeu durante os testes.

— Seu estudo é quase perfeito, Santiago, exceto por duas coisas.

— E o que essas duas coisas seriam? — Tá achando que é o Diego, só pode.

— A mãe. Não é qualquer corpo feminino que suporta gerar uma entidade mágica dessa proporção. Diego me explicou uma vez, como vocês foram formados e percebi que a genética da mãe deve abarcar no mínimo quatro espécies diferentes e o pai, o quinto.

— Então errei na escolha da barriga de aluguel...?

— Não somente. Cada alma e cada corpo tem uma espécie de padrão em código. Você poderia reproduzir um corpo vazio, uma vez que a alma não está no mundo dos vivos e nem no mundo dos mortos.

— Então seria inútil o meu esforço?

— Sem mim, seria a mais pura perda de tempo, até você realizar tudo isso sozinho. — Elizabeth fez surgir sobre a mesa uma bela porém pequena garrafa de cerâmica. — Esse é o ingrediente que falta.

— Não me diga que esse tempo todo a alma do Fernando estava guardada com Diego?

— Essa foi a primeira alma que ele coletou. A alma está selada em momentos felizes de sua vida passada. Quando o embrião estiver no útero de alguém, espere até o terceiro mês e o liberte. Assim o corpo estará forte o suficiente para puxar a alma.

— Elizabeth, obrigado.

— Agora, não o deixe se aproximar do Benício. Não vamos deixar que o passado se repita mais uma vez. Você me prestou um grande favor e eu estou apenas lhe devolvendo a cortesia. Espero sinceramente não te ver de novo.

A Bruxa desapareceu sem deixar rastros.

Pensou que seria fácil encontrar uma mãe para Fernando, mas percebeu que era uma missão quase impossível. A única com energia compatível era Madalena Speltri.

— Você não é louco de tentar isso. O corpo da Madá não suporta, ela já abortou oito crianças. Mais uma gestação vai matar a minha amiga!

— Mas isso foi por conta da maldição que você rogou no Raul!

— Eu não roguei no Raul e sim no maldito coronel Moraes, e sim, eu sinto muito por ela. Eu nunca desejei que esse mal a atingisse, eu lá ia saber naquela época que os dois iam se casar? Por isso entreguei o Benício a ela, entende? E nós não a faremos passar por mais um sofrimento!

— Então lascou!

— Vou te dar uma solução. Mas saiba que cobrarei por este favor.

— Vamos lá. — Tudo ela cobra! Tudo! — Já estou na merda mesmo!

— Você conhece o mapeamento de almas? — ele assentiu.

— Sim, conseguimos rastrear onde e quando determinada pessoa nascerá, mas eu preciso de alguém vivo, Elizabeth, e em idade reprodutiva.

— Você é mesmo irmão do Diego? Como pode ser tão lento?

— Ah vah Elizabeth, eu lido com gente viva! — ia começar a apelar até que caiu a ficha. — Bem... Entendi.

Era só rastrear o sangue da Madalena e encontrar alguém da mesma família com características semelhantes.

Mariana Ortega, era o nome e irmã mais nova de Madalena. A sorte é que ela vivia longe o suficiente para que as crianças não se encontrassem. Era também uma mulher que todos consideravam bem casada, então, certamente a gravidez não seria indesejada. Oito meses depois nasceu Henri Ortega Flores, que hoje atende por Henri Speltri.

Henri Speltri

Já havia entrado em consenso com o pai, a ex e com a vampira que a melhor forma de achar Benício ou Diego seria onde toda a merda começou: Em Diamantina.

Antes do nascer do sol pegaram a estrada. Raul preferiu ficar e dar suporte técnico caso precisassem, enquanto Júlia o acompanhava no banco do carona, Anita com as mãos derretendo no banco de trás e ele, para azar de todos, no volante. O problema era que as duas estavam brigando tanto que, por incrível que pareça, achou menos perigoso ele próprio dirigir.

— Aposto que tá toda felizinha porque vai encontrar o Benício. — disse Júlia destilando ódio, quase fazendo um 'nhãnhãnhã".

— Olha... Até que estou mesmo! — Respondeu a loira de forma bem implicante, cruzando os braços, bufando irritada.

— Então você quer mesmo ver ele? Tem nem vergonha de dizer isso na minha cara? Sinceramente, viu?

— Olha quem fala! Meteu tanto o pau no ex, chamou ele de stalker, psicopata, maluco, até denunciou ele na Maria da Penha pra no final me enfiar em um carro junto com quem? Com quem? Com quem? Com o dito cujo! Melhooooores amigos! — retrucou Anita.

— Vagabunda! Como eu fui me apaixonar por uma mulher dessas? Piranha!

— Nunca me fiz de santa.

— Você só mentiu durante todo o nosso relacionamento, Anita!

— Você queria o quê? Que eu chegasse e falasse, oi Júlia, eu sou uma vampira, tudo bem pra você? Tenho 1617 anos, já transei com mais de cinco mil pessoas, e ah, eu me alimento apenas com o sangue de monges tibetanos virgens e ah! sou adepta a poligamia?

— CÍNICA!

— PERTURBADA!

— VAGABUNDA!

— Isso eu sou mesmo, não nego.

Henri já estava de saco cheio. Elas paravam e começavam tudo outra vez. Cinco minutos caladas, meia hora brigando. Começavam com a traição, iam para o que detestavam uma na outra, se ofendiam, paravam. Depois se criticavam e começavam com a história do chifre outra vez. Depois de quatro horas de tortura, parou em um posto de gasolina. Fumou uns cinco cigarros. Bebeu uns quatro cafés. Se hidratou e se preparou mentalmente para voltar para a estrada.

As duas aguentaram caladas míseros dois minutos e trinta e seis segundos cronometrados no relógio. Quando o assunto foi ele pela terceira vez, não resistiu.

— AS DUAS CALEM A BOCA, POR FAVOR! EU NÃO AGUENTO MAIS! PAREM DE BRIGAR!

— Mas Henri! Ela tá te ofendendo e eu tô te defendendo! — Júlia estava indignada.

— Defendendo? — jogou o carro no acostamento e freou bruscamente. — Se continuarem com essa merda eu vou deixar as duas aqui no meio da estrada!

— Tenta. — bufou Anita revirando os olhos.

— Como é que é?

— Henri, você passava mesmo dos limites... — interviu Júlia antes que a briga mudasse para Henri versus Anita.

— Passava, no passado, lá atrás. Me incluam fora dessa merda de vocês duas. Tão achando que meu ouvido é penico?

Desceu ele do carro, acendeu mais um cigarro e quando estava conseguindo finalmente relaxar, o carro partiu. O cigarro chega caiu da boca, perplexo por ter sido ele o deixado para trás.

Mas que cretinas? E agora?

A carteira e o celular estavam no carro e tudo o que tinha restado eram dois míseros cigarros e um isqueiro.

Ah não! Sem cigarro não!

Diego Del Toro

Enquanto Benício relaxadamente assistia e lia algo sobre insetos no celular durante o trajeto até Diamantina, Diego que não podia — conseguia — assumir o controle, ponderava sobre como tomar o corpo de forma permanente. Era ele quem devia ser a consciência dominante e não um retardado aficionado por insetos, que ao seu ver, era uma meramente uma sombra.

Essa existência já pode e deve ser aniquilada.

Puta que me pariu, que saco esses vídeos! Tanta coisa interessante no mundo e esse merda fica assistindo insetos?

Lembrou que antes da morte, tinha ancorado a casa acrônica na dimensão dos vivos, em um terreno onde ninguém ousaria, ou sobreviveria ao entrar: a Fazenda das Almas.

O lugar pertencia a Liz, e mesmo ela jurando não colocar mais os pés naquele lugar, ainda era a localização mais segura, caso o pior acontecesse. Afinal toda a dimensão onde ficava a casa era mantida por sua magia e no momento em que deixasse de existir, tudo poderia se desfazer.

Calculou faltar apenas uma hora para chegar ao berço da tragédia, e mais duas horas para chegar até sua querida casa. Mas enquanto não chegavam, elencou uma lista de prioridades para suas próximas ações:

Sempre será Elizabeth, não tem nem condições de não ser ela. Gostosa.

Quebrar todos os selos e encantos que me prendem.

Entrar em casa em segurança.

Preparar um elixir tão poderoso, capaz de quebrar as paredes da consciência entre todas as vidas e liberar cem por cento meu potencial letal e energético.

Voltar para Liz e mandar o Santiago à merda. Esse maldito já me substituiu por tempo demais.

Anular todo o poder que cedi ao Alejandro e passar a liderança pra Liz, ela é muito melhor nessas coisas do que qualquer um de nós.

Tornar a Liz imortal e dona do mundo todo.

Fora sua pequena lista, queria fumar, queria foder, queria beber, queria sangue, queria destruição e muita morte, queria o caos completo. Mas ao mesmo tempo, também queria estar em casa com sua amada Liz nos braços, suas plantas e bichinhos, na mais perfeita e paz.

Chegando à Diamantina, reparou as mudanças na cidade, nas pessoas, nos ares. Passaram na rua onde era o antigo bordel e também passaram em frente onde tinha sido o casarão dos Del Toro. Apenas o bar continuava aberto no mesmo lugar.

Wallace desceu rebolativo do carro como de costume e Benício, ainda com o ombro latejando e fazendo careta, entrou no recinto primeiro. Sentaram-se em uma mesa. Pediram alguma coisa no cardápio e enquanto esperavam, Diego notou alguém os encarando.

— Desculpa moço, é que meu avô tem Alzheimer. Tem horas que ele se lembra de algumas coisas e acho que ele se invocou com o sinhô. — disse o rapaz que os atendiam.

— Tudo bem. Ele me conhece mesmo. — Respondeu Diego. Agora sim!!!

Se levantou e foi até o velhinho.

— Seu Antônio Quincas, quanto tempo!

— Diego, aquela árvore tá florida, florida. Cê precisa ver que belezura, ela tá cheinha de frutinha, enorme, enorme! Eu tive lá ontem.

— Desculpa moço, meu vô não sai de casa já tem uns quinze anos. Ele adorava ir pros rumo da Fazenda das Almas. Sempre que ele fica "lúcido" ele fala naquele lugar.

— Obrigado seu Quincas. Obrigado por ter me esperado. Agora você pode descansar, tudo o que eu prometi se realizará.

— Nãaaaao meu fi. Cuidei casdequê gosto muito docê e da ruiva... Madá me mandou a foto do filho dela quer ver?

Diego conversou mais um bom tempo com o velho.

Antônio Quincas era o dono do bar onde Madá tinha trabalhado e descobriu ser uma pessoa de um coração incrível. Deixou aos cuidados do velho a árvore do fruto ancestral que Liz quase matou e as fotos de Benício criança no colo de sua mãe o pegou de surpresa.

Pensar em Madá e saber que ela já não estava mais no mundo preencheu sua mente.

Será que Benício foi um bom filho?

Será que ela foi feliz?

Será que se tivesse despertado antes, teria conseguido impedir sua morte tão precoce?

Pararam o carro defronte a porteira da fazenda. Mas além daquilo, não havia mais caminho. Diego reconheceu o próprio encanto protegendo o lugar.

Finalmente em casa.

Meus bichos devem estar com saudades!

Com uma animação pueril, desceu do carro e tentou abrir a porteira. Ela nunca antes pareceu tão pesada. Wallace o ajudou.

— Caralho mano, nunca vi madeira pesar tanto!

— É porque tem um encanto protegendo as terras. Ninguém além de mim, Liz e o velho Quincas pode atravessar.

Wallace apenas fez uma mesura de "desculpa aí" e Diego cruzou a fronteira.


Benício Speltri

Não viu o momento em que apagou e muito menos sabia onde estava. Apenas se via no meio de uma mata fechada.

— Diego, o encanto! — gritou Wallace.

Encanto?

— Wallace, que encanto? — gritou de volta. Estavam a aproximadamente uns quinhentos metros de distância um do outro.

O hacker apenas levou a mão na cabeça irritado.

Mande ele procurar um hotel, até eu conseguir tirar o encanto desse lugar vai demorar um pouco e ele não pode entrar, senão morre.

— Então estou na famosa Fazenda das Almas?

Diego não respondeu. Tirou o celular do bolso e viu que o objeto não funcionava.

— Como nós vamos nos achar sem uma estrada ou GPS? — o outro revirou os olhos.

Benício voltou até Wallace, entregou o celular e a carteira ao rapaz e deu as instruções orientadas por Diego.

Caminharam tanto que Benício já tinha perdido a noção do tempo.

— Tem certeza que você sabe como chegar na casa? Se é que ela existe?

É claro que sei!

— Não parece.

Estamos no rumo certo.

— Com base em quê, exatamente?

Com base no sol. Tá bom pra você?

— ah tá, que nem os nossos malditos ancestrais?

Não subestime a sabedoria ancestral.

— Não é você que está caminhando há horas, sem efeito de analgésicos e morrendo de sede.

Desculpa, mas essa burrice aí não foi minha.

— Nem o tiro que levei foi culpa minha, seu arrombado!

O que esperar de alguém criado pelo Raul Speltri? Francamente!

— Não fala mal do meu pai!

Pode deixar, vou falar mal dele e de você mesmo. BURRO!

— O desgraçado "todo poderoso" jura que é alguma coisa... Cuida que eu vou tratar você como uma doença, espero que saiba que eu vou te apagar da minha mente Diego!

Antes que você consiga eu vou te aniquilar. Esse corpo é meu.

— Não é não. Nem é você quem tá no controle agora.

Ótimo saber. Vou te deixar andar igual notícia ruim, pra deixar de ser otário.

Benício se sentou ao pé de uma árvore. Estava cansado. Diego começou a cantarolar e isso o estava irritado profundamente.

Um elefante incomoda muita gente... dois elefantes incomodam muito mais...

Diego já estava no elefante número trezentos e vinte e um, e não parava quieto, quando decidiu interromper.

— Tem certeza que você é um espírito milenar e não uma maldita criança?

Sou atemporal, Benício. Posso ter a idade que eu quiser. Trezentos e vinte e dois elefantes...

O pôr do sol finalizava o dia no horizonte. Estava com fome.

E é assim que morre um idiota e uma persona egocêntrica que jura ser eterna?

Trégua? — perguntou Diego.

— Trégua.

Repete comigo, criaturas da noite, mostrem o caminho até a casa.

— Oi?

Repete logo!

— Simples assim?

Não enrola. Não fale da boca pra fora, fale e coloque a sua consciência nisso. Você não tem ideia do quão fortes são as palavras.

Benício disse as palavras, mas tinha certeza que Diego estava trollando. Segundos depois, pequenas luzinhas foram emergindo das sombras mostrando o caminho, eram vaga-lumes. Um quilômetro à frente estava a casa, iluminada pela luz da lua e das pequenas criaturas. Por um breve momento contemplou a magnitude da construção que agora estava totalmente integrada à natureza. Era idêntica a casa que sonhava construir.

Elizabeth Detzel

Deixou o hospital, já que seu plano tinha fracassado e para acalmar o coração de Santiago decidiu experimentar ficar um pouco mais perto dele: na casa dele. Eram mais de trinta anos ao lado um do outro, e mesmo que às vezes quisesse matá-lo, o bruxo segurava a onda e as pontas. Aprendeu a gostar dele, da sua calma, da paciência e da lerdeza.

Embora no fundo de sua alma, estivesse extremamente preocupada com Diego — aka Benício —, tinha que trabalhar na contenção das feras. Uma vez desperto, Diego era safo o suficiente para passar por cima de tudo e sobreviver ao que quer que fosse, e sim, confiava cegamente nele, ao contrário de Santiago, que em sua máscara calma, certamente estava em uma grande turbulência interna.

Foi oficialmente apresentada à Vivian. A adolescente a olhava com um misto de curiosidade, surpresa e receio, tal qual uma gata assustada. Foi cômico vê-la puxando Santiago para um canto, sussurrando:

— Pai, você não tem medo dela? Ela é mais forte que você!

— Esse é o charme dela, Vivi. — respondeu o vampiro.

— Pai, pelo amor de Deus, se comporta. Porque se você fizer merda eu vou ficar do lado dela!

Um sorriso vitorioso se desenhou em Liz. Que querida!

— Tia Liz,— a menina se aproximou um pouco reticente. — Eu autorizo você a namorar meu pai também. O Diego e o Benício serão um pouco ciumentos, mas logo tudo muda e você ficará com os três.

— Como?

— Poliamor, tia. Relacionamentos modernos são assim.

— Vivian! — protestou Santiago.

— Ai pai! Tô dando a dica do melhor caminho.

— Garota...

— Santiago, não brigue com ela. — botou ordem enquanto o vampiro apenas negava com a cabeça chocado. — Tempos modernos. Aprenda.

— Mas Lizinha...

— Não seja ridículo.

— é pai, evolui! Tá certo que nem todo pokemon evolui, mas...

Elizabeth riu. Vivian a abraçou e deu língua ao velho Santiago.

— Tia Liz, seja muito bem-vinda.

— Obrigada Vivi. — deu um beijinho na testa da menina. — Você pode me levar até a Eva?

Sentiu a fraca energia da sobrinha assim que se materializou na casa, e também conhecia perfeitamente as intenções de Santiago ao mantê-la por perto. Silenciosamente entrou no quarto da garota e se sentou ao lado dela na confortável cama. Admirou o ambiente. Alinhou os cabelos de Eva como uma mãe, beijando carinhosamente sua testa em seguida. Vivian se aproximou e se sentou próxima as duas.

Preciso te trazer de volta minha menina.

Por favor não desista.

Alguém terá que me substituir um dia e eu desejo imensamente que seja você.

— Ela parece muito com você.

— Você acha? — disse com uma expressão feliz — Ela é minha sobrinha, filha do meu irmão mais velho. E assim como ele, pra variar, ela me rejeita.

— Que coisa! Eu ia adorar que você fosse minha tia! — pausou um pouco olhando para a outra garota — Mas o que tem de errado com ela? Meu pai até hoje não conseguiu descobrir. Às vezes ele é meio lento, mas tá demorando tanto, que estou ficando sem paciência!

— Eu confesso que também não sei. — Liz não conseguia conter o riso, pois realmente Santiago era bem devagar às vezes. — Acho que terei que consultar as nossas antepassadas.

— Você conversa com todas elas?

— Nem são taaantas assim.

— Mas suprema que nem você não existe nenhuma, né?

— Todas elas foram supremas em seu devido tempo.

— Mas Tia, e se ela não acordar nunca?

— Ela vai. Prometo que vou dar um jeito. — deu uma piscadinha para Vivian.

— Você promete mesmo?

— Com todo o meu coração.

Eva Detzel

Algo novo estava acontecendo. Em tanto tempo, era a primeira vez que conseguia ver alguém e ela era simplesmente magnífica. Transmitia uma energia tão reconfortante e tão arrebatadora que se pudesse a abraçaria de volta.

Quem é ela?

Eu gosto dela!

Não! Não vai embora, fica mais!

Por favor...


[Autora entra no chat]

Acho que esqueci algo na estrada... O que será que foi mesmo?

Próximo capítulo eu me lembro. 

Até lá!

Xoxo!

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