Henri não conseguia pregar os olhos. Deitado em seu quarto iluminado pela caleidoscópica luz da lua que entrava pela janela, sua mente dava voltas e voltas, todas terminando no nome Júlia. Durante muito tempo acreditava ter superado o passado, mas tudo voltava à tona como uma avalanche pronta para esmaga-lo. Era tentador demais ter um motivo qualquer que justificasse espioná-la. Precisava evitar o contato.
Mas era curioso demais.
Levantou-se da cama, preparou uma garrafa de café, acendeu um cigarro, colocou papel e caneta em sua frente sobre a mesa da cozinha. Esboçou e arquitetou os mais mirabolantes planos, os descartando em seguida por serem muito arriscado. "preciso de uma estratégia silenciosa, nada que me exponha... como não pensei nisso antes? Isso é brilhante!"
Um dos privilégios de ser um advogado criminalista era o de possuir muitos amigos. Uns dentro da lei enquanto outros bem fora e foi pensando justamente em seus amigos fora da lei que Henri começou a executar seu plano.
Assim que o dia amanheceu ligou para o amigo de um amigo, que conhecia outro amigo até por fim encontrar Hórus, um habilidoso hacker com uma enorme reputação, que a um preço assombroso aceitou o trabalho.
— Bom dia, idiota - dizia Henri a Benício por telefone – encontrei a solução ideal para o seu problema.
— E?
— e essa brincadeira vai te custar dez mil pilas.
— O quê? – respondia assustado. – isso tudo?
— em dólares. Pegar ou largar.
— Farei a transferência ainda hoje.
— Ótimo.
Na verdade o preço do hacker acabou não sendo tão assombroso assim. Hórus havia cobrado de Henri apenas dois mil e quinhentos reais, o valor superfaturado devia-se a uma verba indenizatória por ter sido obrigado a reviver momentos traumáticos. Adoraria saber em primeira mão que fotos eram as que o primo tanto procurava e qual o seu conteúdo. "Há coisas que o dinheiro não paga!"
O e-mail chegou às oito da manhã do dia seguinte, trazendo como assunto a palavra "revelação". No corpo da mensagem apenas uma curta frase, pagamento recebido, e um arquivo em anexo. O arquivo era um espantoso cruzamento de dados sobre Júlia e Olívia "digno do FBI!", e o mais importante, as fotos.
— Estou curioso! – disse Beni ao atravessar a porta do pequeno apartamento de Henri.
O lugar estava uma verdadeira bagunça, cinzas de cigarro pelo chão, roupas jogadas sobre os empoeirados móveis e cheiro de casa fechada. Benicio foi logo em direção às janelas, abrindo para que ar puro entrasse. Henri colocou o notebook sobre a mesa da cozinha e ao lado uma garrafa de café. Benício se serviu de uma enorme xícara, puxando uma cadeira e se assentando ao lado de Henri que tentava criar suspense para abrir a visualização das fotos.
— Isso é o que eu posso chamar de a serviço da arte!
— Caramba! – A face de Beni era um mix de espanto e surpresa. – mas eu... eu nunca fiz essas fotos!
— Fez! E sinto-me profundamente injuriado por você ter escondido de mim tudo isso.
— Mas... – "eu sou o seu pior pesadelo" ecoava em sua mente.
— Se eu estou me sentindo traído, imagine a Olívia?
— Henri...
— Só pode ter sido quando você fez aquela especialização na Alemanha...
YOU ARE READING
Terra Proibida - Essência
VampireEm um entrelaçar de passado e presente, mergulhe em uma trama que desafia os limites da razão e da sanidade. Benício Speltri, um homem comum à beira do abismo da loucura, desvendará os enigmas que envolvem sua própria existência e o destino do unive...