A Coroa de Luz [COMPLETO]

Por nalichiye

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[A Coroa de Luz é o 2° livro da trilogia Reino de Luz e Sombras.] A rivalidade entre os magos de luz e os mag... Más

Dedicatória
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23

Capítulo 4

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Por nalichiye

Abri meus olhos como se apenas tivesse piscado, mas agora estava em meu quarto e já era noite novamente.

Levantei agitada e a empregada, que estava entrando com uma bandeja, derrubou o metal no chão assustada. Ela arregalou os olhos quando me viu e não percebeu que eu já tinha notado sua presença.

— Preciso avisar a todos — ela saiu sussurrando para si.

Franzi o cenho. Aquela era uma reação um tanto quanto inesperada.

— Poderia ter morrido, Helene — a voz furiosa de Kardama chamou minha atenção para o canto mal iluminado perto da janela.

— Kardama, você ainda está aqui.

— É claro que sim. Onde mais eu estaria?! — seu tom de voz irritado não recuou por sequer um segundo.

— Por quanto tempo dormi? — Preferi ignorar sua raiva.

— Cinco dias, o que é pouco tempo considerando a escala de energia que você gastou. Isso significa que está ficando mais forte.

— Isso é bom — minha voz soou como um suspiro e apoiei meu corpo na cabeceira.

— Não, Helene. Por cinco dias não sabíamos se você acordaria — ele continuou irritado.

— Todos teriam morrido se eu não fizesse nada. — Revirei meus olhos.

— Eles também teriam morrido se você tivesse feito algo e estivesse morta agora.

— Porque você... — Minha acusação foi interrompida pela entrada de Nair no quarto.

Ela estava agitada e sequer bateu na porta antes de correr para me abraçar. Continuei encarando o rei sombrio com os olhos estreitos.

— Você está viva, filha — minha mãe disse sem desatar o nó de seu abraço apertado enquanto chorava inconsolável.

Minha raiva do rei sombrio dissipou rapidamente e foi substituída por um aperto no peito ao perceber o quanto aqueles dias deveriam ter sido difíceis para mamãe.

Aos poucos retribui ao abraço, então mergulhei minha cabeça em seu ombro como já não fazia desde quando era uma criança e comecei a chorar também.

— Eu sinto muito.

— Eu estava explicando para a sua filha que ela não deveria arriscar a própria vida nesse momento — Kardama disse com um tom de voz manso que nunca tinha usado antes.

Aquele...

— Isso é verdade, Helene — Nair se afastou para concordar enquanto limpava o rosto das lágrimas.

— Todos morreriam, mãe!

— Se você morresse, todos morreriam de qualquer forma, porque não teriam uma salvadora para quando a profecia se cumprisse — o rei sombrio continuou dissimulado.

Inclinei meu rosto para encará-lo com raiva e vi o sorriso de canto ladino que ele tentou esconder.

— Ele está certo, Helene. Não vale a pena se arriscar nesse momento.

Respirei fundo.

— Eu agradeço pela preocupação de vocês, mas se os argians morrerem, eu não vou ter o que proteger quando a profecia se cumprir — expliquei para mamãe.

— Os itzans, nossos filhos, seus pais, a si mesma... — Kardama começou a fazer uma lista enquanto levantava um dedo de cada vez.

— Kardama... — bufei, então balancei a cabeça para afastar minha raiva. — Não temos filhos.

— Precisamos resolver isso, princesa. Caso contrário, o que deixaremos para o mundo quando a profecia acabar?

Nair sorriu e balançou a cabeça para concordar sem desviar seu olhar do meu rosto. Ela não conseguia conter sua felicidade por me ver.

— Paz, dois povos, a salvação do fim dos tempos... — comecei a responder, mas ele balançou a cabeça para negar.

Outro sorriso ladino estampou o rosto do rei sombrio, que estava se divertindo em ser dissimulado.

— Mas você me fez uma promessa, Helene... — ele frisou a palavra.

Estreitei meus olhos mais uma vez. Kardama estava cobrando nosso acordo ou aquilo não passava de uma piada?

— Quando estiver pronta, princesa — ele falou e deu de ombros. — De toda forma, acredito que teria sido mais prudente esperar até que estivéssemos juntos para agir. Assim o risco de morrer seria menor.

— Como eu poderia ter certeza de que você estaria comigo? — protestei.

— Eu sempre estarei.

Minha mãe encarou o rei sombrio, então voltou a me olhar sorrindo. Senti meu rosto queimar e encarei o cobertor amarelo que ainda estava sobre meu corpo.

— Na verdade, decidi que não vou voltar para Senka até que você volte junto. Ou seja, até seu pai acordar.

Nair e eu arregalamos os olhos ao mesmo tempo para encarar o rei sombrio. Ela tentou apertar minha mão discretamente, animada pelo cuidado do itzan, mas tenho certeza de que ele notou.

Parece que minha mãe tinha esquecido que Kardama já era meu marido e que não estava me cortejando. Na verdade, por alguns segundos até eu mesma esqueci disso.

— Vai deixar Senka sem um rei?

— Eu ainda sou o rei de Senka. Mas, por agora, também sou o rei dos argians e parece que a situação precisa de atenção.

Balancei a cabeça para concordar e voltei a encarar o cobertor.

— Isso é verdade.

Todos nós ficamos em silêncio.

— Bem, vou deixá-la sozinha para se arrumar e voltar à sua rotina, filha. Preciso voltar ao templo para pedir mais por seu pai e agradecer por você estar viva.

Torci meus lábios em um sorriso entristecido e balancei a cabeça para concordar mais uma vez. Então, abracei minha mãe novamente.

— Muito obrigada, mãe. 

Ela levantou e saiu dos meus aposentos sem deixar de sorrir. Após observar, voltei a encarar Kardama com raiva. 

— Tentou matar o meu povo!

— Não, eu apenas não me importei se morreriam. Existe alguma diferença. — Ele deu de ombros e encarou a vista da janela.

— Eu não vejo qualquer diferença, e...

— A diferença, princesa, é que se eu tentasse matar seu povo, eles estariam mortos.

Fiquei ainda mais irritada ao ouvir. Como ele conseguia ser tão arrogante?

— Por que não ganhou a guerra antes, então? — perguntei com deboche e fiz esforço para levantar da cama.

Ele me encarou pelo canto dos olhos com raiva.

— Nesse caso, a única pessoa que costumava me impedir estava ocupada usando toda a própria energia vital para formar um escudo — Kardama rosnou.

Revirei meus olhos, embora tenha tentado conter um sorriso, e segui meu caminho até o cômodo onde ficavam minhas roupas.

— Deveria ter me contado antes sobre a traição. Esse território também é meu.

Recuei antes de tocar a maçaneta e inclinei meu corpo para encarar o rei. Naquele assunto, eu sabia que ele estava certo, afinal sempre comunicava tudo o que acontecia em Senka.

— Na verdade, eu não contei para você.

— Isso torna a situação um pouco pior, não acha, princesa?

— Eu não queria que abandonasse Senka para me ajudar apenas porque eu sou incapaz. Saber lidar com essas situações deveria estar dentro das minhas capacidades como rainha.

Expliquei enquanto retomava meu caminho. Queria trocar aquele pijama por algum vestido para caminhar pelo castelo e voltar aos meus afazeres.

— Vi as ordens que deu a respeito — Kardama disse enquanto me seguia.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, mas continuei encarando minhas roupas enquanto tentava escolher alguma. O vestido verde com flores douradas no corpete e mangas longas abertas feitas em tule parecia uma combinar com aquele dia ensolarado, mas frio.

— E então? — Quebrei o silêncio.

— Eu faria diferente, mas concordo com a forma como procedeu.

Encarei novamente o rei, que estava apoiado na moldura da porta de madeira escura, olhando para mim.

— Obrigada — sorri sinceramente.

Kardama sorriu e me observou mais uma vez antes de começar a se afastar.

— Seu corpo ainda está fraco, mas quando se recuperar... — ele fez uma pausa para me encarar e verificar se entendi o final daquela frase.

— Eu espero me recuperar ainda hoje — brinquei e isso arrancou uma breve risada do rei sombrio, que estava saindo dos meus aposentos.

— Eu também — ele sussurrou, mas pude ouvir. Então, disse mais alto. — Encontre-me no escritório quando estiver pronta.

Franzi o cenho, mas antes que pudesse perguntar o motivo, ouvi a porta fechar. Agora eu estava sozinha.

***

Kardama estava sentado na grande e pesada cadeira do meu pai quando entrei no escritório. Olhei em volta, mas estávamos sozinhos.

— O que aconteceu desde quando dormi? — perguntei quando parei ao seu lado para ler a carta que estava escrevendo.

Era para Hadria, sua irmã, que estava em Senka. Ele não dizia muito, apenas perguntava como estava a situação no reino das sombras.

— Fizeram um antídoto para seu pai, mas não funcionou — ele contou sem desviar seu olhar do papel.

— Algum rastro do traidor?

— Ninguém apresentou um suspeito ainda. Acredito que vá demorar algum tempo antes que apresentem, já que agora entendem que precisam de provas. — O rei ficou calado por um minuto inteiro. — E mandei prenderem a condessa de Iluna na masmorra.

Arqueei as sobrancelhas e ele ergueu o rosto para ver minha reação.

— Na masmorra desse palácio?

— Sim.

— Por quê?

Não era como se eu fosse exatamente contra prender a condessa de Iluna. Seu tratamento comigo nunca fora respeitoso. Ainda assim, não parecia fazer sentido aprisionar uma nobre de Senka durante as investigações em Aruna.

— Porque ela estava aqui no dia do ataque morroian que adormeceu seu pai e isso pareceu uma coincidência muito nítida, principalmente por ser alguém que não gosta de argians.

Continuei encarando o rei silenciosamente, sem saber exatamente o que pensar a respeito.

— Ela estava aqui em Aruna ou no palácio?

— Aqui no palácio.

— O que ela fazia aqui?

— Eu não fiz perguntas, Helene. Juntei os fatos e a prendi. Deixo qualquer questionamento ou julgamento para você. — Ele voltou a encarar a carta e a pena com a qual escrevia.

— Está nítido que ela é a culpada — comentei furiosa.

— Nítido até demais, não acha, princesa? — o rei continuou calmo.

— Acha que ela era uma isca? — Cruzei meus braços.

— Parece óbvio que sim para mim.

— Para mim, ela é a culpada.

— Helene, não julgue com o seu coração. Por mais que a condessa seja desagradável em muitos momentos, se não for a traídora, isso pode nos custar a cura para seu pai.

Torci meus lábios e respirei fundo. Ele tinha razão.

Batidas na porta chamaram nossa atenção.

— Entre — Kardama falou alto o suficiente para ser ouvido ao lado de fora.

Ermy abriu a porta confuso, então abriu um largo sorriso quando me viu.

— Você está viva! — Ele comemorou animado.

— Sim! — Respondi no mesmo tom e girei para que ele visse.

— Pode fechar a porta, guarda? — Kardama reclamou, deixando sua carta de lado para encarar a cena.

O sorriso de Ermy desapareceu e ele fechou a porta atrás de si.

— Trouxe o que pedi?

— Sim, majestade — o guarda afirmou e retirou um livro escuro do seu colete aruniense.

— Ótimo.

Arqueei as sobrancelhas ao observar. Todos os livros de Malkiur tinham a mesma capa dura de couro, completamente preta, apenas com o símbolo do sinete real em dourado.

— Estão roubando juntos um dos livros da biblioteca pessoal do meu pai?

— Pegando emprestado — Kardama corrigiu.

— Seu marido têm me obrigado a fazer todo o trabalho sujo para ele desde quando chegou — Ermy aproveitou a oportunidade para reclamar.

O rei bufou e eu fiquei ainda mais confusa. Eram tantas perguntas: a qual "trabalho sujo" Ermy se referia? O que os dois estavam tramando? Eles agora eram amigos? Por que aquele livro?

— Por que está fazendo isso? — Foi o que consegui perguntar ao rei em meio à confusão dos meus pensamentos.

Kardama deu de ombros.

— Tenho uma forte inclinação para acreditar que você é o traidor — o rei disse para Ermy, que arregalou os olhos, assim como eu.

— O quê? — perguntei ainda mais confusa do que antes.

O rei sombrio levantou e deu a volta na mesa para apoiar seu corpo no tampo de madeira e cruzar os braços enquanto encarava o guarda.

— Ermy conhece bem o castelo, pode entrar e sair sem causar suspeitas. Ele tem o motivo, que é o casamento da mulher que amava com um antigo inimigo do seu povo, e foi quem sugeriu que fôssemos até o reino dos elfos para buscar pelo antídoto na literatura deles, o que sugere que ele sabe algo que não sabemos — Kardama folheou o livro de Malkiur enquanto falava, então inclinou seus olhos azuis em minha direção, sorriu e o fechou. — Mas não tenho provas ainda. Por isso, esse guarda não vai sair do meu campo de visão por um bom tempo.

Dei um passo para trás, ainda surpresa, e inclinei meu rosto lentamente para encarar Ermy. Os motivos de Kardama pareciam lógicos, mas aquele soldado faria algo desse tipo com meu pai?

— Eu fiz essa sugestão porque queria ajudar! — Ermy protestou irritado e então me encarou com desespero. — Sabe que eu nunca trairia Aruna, Helene! Não colocaria toda a minha família em risco ou tiraria tudo deles por causa do seu casamento! Você me conhece melhor do que ninguém e sabe disso! Você pode ter mudado por causa desse mago das sombras, mas eu sou a mesma pessoa.

— Eu não acho que o Ermy chegaria a esse extremo... — Precisei concordar.

Assim como eu, Ermy sempre priorizou sua função como guarda-real em relação ao nosso relacionamento. Ele era devoto à Aruna e por saber disso, não faria sentido que eu suspeitasse.

— O sentido da traição não é trair a confiança, Helene? Se houvesse qualquer suspeita, seu pai não deixaria o castelo desprotegido para aquelas pessoas. — O rei sombrio sentou no sofá que havia no canto com o livro nas mãos e riu. — Mas não fiquem tão preocupados. Não tenho provas ainda. Quero apenas garantir que o soldado não faça movimentos suspeitos.

Estreitei meus olhos enquanto encarava Ermy, que abriu os lábios para falar algo mais, mas recuou e balançou a cabeça chateado.

Kardama estava certo quanto ao sentido da traição. Então, percebi que encontrar o culpado pela magia negra no castelo seria um desafio ainda maior do que pensava.

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