Kardama
Eu havia meticulosamente inspecionado cada recanto do castelo, observado minuciosamente súditos, guardas e agricultores, sem encontrar qualquer indício sobre a traição de Aruna. Embora todos pudessem ser inocentes e possuíssem álibis sólidos, a possibilidade de qualquer um deles ser o culpado não podia ser descartada.
Não encontrar o responsável não era uma opção. Helene precisava daquelas respostas para ter seu coração apaziguado e a tensão gerada por essa incerteza poderia impactar negativamente meu herdeiro meio-sangue.
No entanto, reconheço que, às vezes, uma busca desenfreada por pistas pode ser temerária. É preciso refletir, formular uma boa estratégia e somente então agir.
Diante disso, decidi dedicar parte do meu tempo diário à observação de Malkiur. Apesar de ser capaz de reduzir o palácio a ruínas, não encontrei nada além do ritual empregado na invasão. Descobrir o que o silêncio de um homem sem memória poderia me contar parecia mais interessante.
No entanto, essa não era a circunstância presente.
— Permite? — perguntei ao tocar a cadeira em frente à de Malkiur na mesa onde estava sentado, pouco depois de Helene deixar o cômodo.
O antigo rei de Aruna pareceu surpreso com minha aparição repentina, mas consentiu.
— Então, você é o marido de Helene. A que devo o... — Ele começou a falar, mas eu o interrompi.
— Chega de fingimentos, Malkiur. Não comigo. Já te observei o suficiente para perceber que está apenas simulando ter perdido a memória.
Meu estimado sogro arregalou os olhos por um breve instante, depois respirou profundamente e soltou uma breve risada.
— Como percebeu? — Ele perguntou, colocando as peças de seu jogo de tabuleiro diante de mim.
Naquele momento, nós dois sabíamos que não havia mais ninguém por perto.
— Não consegue controlar suas emoções diante das lágrimas de Helene. Já o vi em batalha, sei que não se deixaria levar tanto por uma estranha — repliquei, pegando uma das peças para examinar sua estrutura. — Por quê?
— Quando ocupava o trono de luz, cada um dos meus passos era observado de perto. Eu era o centro das atenções para muitas pessoas, especialmente os servos do palácio. Ao me tornar apenas um homem debilitado e incapaz de liderar, posso passar despercebido enquanto investigo o responsável pelo ataque — explicou o antigo rei de Aruna.
Eu tinha diversas indagações sobre as investigações de Malkiur, mas antes de prosseguir, havia outro assunto que precisava de ainda mais atenção.
--- Não! Helene não deve ser informada sobre meu estado de saúde. Ninguém deve estar ciente disso. Todos já se despediram, não necessitam de mais despedidas.
Estreitei o olhar ao fitar o antigo rei de Aruna.
--- Por que menciona mais despedidas? Pensa na ideia de morrer? — perguntei.
— Se as investigações não progredirem conforme o planejado e isso colocar Nair e Helene em risco... Você, agora como marido e pai, compreende o que estou querendo dizer — ele respondeu.
Dei uma leve risada e retornei a peça ao seu lugar no tabuleiro.
--- Então, após incontáveis anos de guerras, o poderoso Malkiur está disposto a aceitar o abraço da morte...
— Esse momento chega para todos, Kardama — ele concluiu, terminando de organizar o tabuleiro e estendendo a mão para que eu iniciasse o jogo. --- Não façamos Helene sofrer duas vezes sem um motivo razoável.
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A Coroa de Luz [COMPLETO]
Fantasy[A Coroa de Luz é o 2° livro da trilogia Reino de Luz e Sombras.] A rivalidade entre os magos de luz e os magos das sombras gerou uma grande guerra, que não parecia ter fim ou ganhador até o surgimento de um dragão com uma ameaça que poderia destrui...