Terra Proibida - Essência

By EvaSans86

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Em um entrelaçar de passado e presente, mergulhe em uma trama que desafia os limites da razão e da sanidade... More

Nota da Autora
[Agora] A queda
[45 anos atrás] A proposta
Cap. 1 - Sentimentos Ocultos
Cap. 2 - Tormenta
Cap. 3 - Ecos do Passado
Cap.4 - A medalha
Cap. 5 - Revelação
Cap.6 - O nada
Cap. 7 - Oráculo
Cap. 8 - Isadora Moraes
Cap. 9 - Elizabeth Detzel
Cap. 10 - Segredos ao pôr do sol
Cap. 11 - Sangue quente
[45 anos atrás] A Alma à venda
[45 anos atrás] A casca
[Agora] O Salto
Cap. 12 - Despertar
Cap. 13 - O Animal que me tornei
Cap. 14 - Presente de grego
Cap. 15 - Feito de lágrimas e cinzas
[45 anos atrás] Ninguém se lembrou
[45 anos atrás] Inferno
[45 anos atrás] Quando todos os homens falharam
[45 anos atrás] Mais que morrer
[45 anos atrás] Miserável
[45 anos atrás] Esse tipo de amor...
Cap. 16 - Versões de uma mulher
Cap. 17 - A casa
Cap. 18 - Terceira morte
Cap. 19 - Primeira vida
Cap. 20 - Alguém tem que morrer
Cap. 21 - Sete Palmos
Cap. 22 - O Centro do Universo
Cap. 23 - Essência

[45 anos atrás] Seus pensamentos

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By EvaSans86

Diego Del Toro

Seu ódio era frio.

Calculado.

Muito bem cultivado.

E cada ação que tomaria dali pra frente foi milimetricamente pensada para causar uma dor eterna a todos os que estavam envolvidos na tortura da maldita bruxa.

Sua maldita bruxa.

Agora, como e quando Elizabeth tinha se tornado sua bruxa, - ou quando ele havia se tornado propriedade dela - não saberia dizer de forma precisa. A mente de Diego era composta por tantas camadas, que certamente uma delas tinha se dedicado exclusivamente a ela, e nesse tipo de situação, essa camada se sobrepunha às demais em uma intensidade tão aterradora que sua razão era incapaz de dominar.

Isso porque o dia tinha começado tão... tranquilo.

Estava sossegado em casa, cultivando seu ingrato bonsai milenar do fruto ancestral, ouvindo em último volume um disco do Led Zeppelin, virando whisky como se fosse água e sendo minuciosamente observado pelos seus pets quando uma pedrada o atingiu certeira bem na cabeça.

Um fio de seu sangue escorreu.

Quem quer que fosse, tinha que ter muito culhão para interromper seu transe "cultivador" logo com uma maldita pedrada.

Muito puto, levantou-se de seu banquinho, tirou as luvas de jardinagem e pegou o bilhete que vinha amarrado na pedra.

"Preciso de sua ajuda URGENTE! Vendo minha alma.

Por favor, não me ignore.

Assinado: Sophia Lobo"

Pra quem tava com ranço de mim ao ponto de terminar o contrato, voltou atrás rápido demais.

Pensou em ignorar a loba. Agora que estava de férias, poderia ser pirracento todo o tanto que quisesse, mas estava curioso para saber como Sophia tinha conseguido furar o bloqueio dimensional de sua propriedade.

Materializou-se na cozinha do bordel, envolto na cenográfica fumaça, vestindo apenas sua confortável samba-canção vermelha que, inclusive, adorava. O ambiente era bem a moda da década de 70, a geladeira azul calcinha, armários numa tonalidade amarela, azulejos floridos e chão avermelhado expressavam bem a ideia "pós moderna" trazida pelos filmes de Hollywood e tendência nas revistas da época.

Com cara de poucos amigos, ao visualizar Sophia, revirou os olhos expressando o sentimento de um irmão mais velho ao se deparar com os mimos de uma irmã mais nova no perfeito clima de "o que é dessa vez? Não era você que tava com ranço de mim?".

Sophia estava encostada na pia segurando uma adaga, com um grimório muito antigo ao lado, pronta para tentar qualquer outro tipo de invocação.

Seja breve. - disse Diego, já indo até a mesa e se servindo de um cafezinho, como se estivesse em casa. - Não sou um gênio da lâmpada para atender seus desejos quando bem quiser, até porque, estou muitíssimo ocupado.

Claro, mas eu não tenho outra opção, Diego! - A loba começou a chorar compulsivamente.- por tudo o que é mais sagrado, por favor, me ajuda! Eu te dou a minha alma!

Notou uma movimentação estranha na casa, ouviu Madá desesperada tentando arrebentar a porta de um dos quartos e logo percebeu que faltava alguém ali.

Onde está a bruxa? - perguntou ele em tom sério.

Se entregou para que Madá e Raul conseguissem fugir sem serem vistos.

Como assim, se entregou? - Diego estava incrédulo e para quem antes vestia apenas cuecas em um estalar de dedos estava completamente composto.

O amuleto, Madá estava sem o amuleto... e ela foi...ela... bichinha...

Em um rompante, Madá apareceu na cozinha bufando de ódio, sendo segurada por Raul, que apanhava violentamente da morena tentando contê-la, sendo xingado de todos os nomes profanos da face da terra.

Sophia aos prantos, Madá gritando e xingando, Raul se defendendo dos tapas. Caos era a palavra que definia o momento e Diego observava a cena cerrando o maxilar e os punhos com olhos flamejantes.

Sophia, se recomponha! - ordenou um pouco mais bruto que o usual - Preciso que me dê algum objeto pessoal da Elizabeth. Algo que ela tenha usado recentemente.

Sophia rapidamente o obedeceu a ordem, enquanto Diego segurou Madá interrompendo seu ataque de fúria e de frente a ela, com seus olhos dourados, mergulhou em sua mente, revirando suas memórias como se zapeasse canais de tv e, em milésimos de segundos, viu tudo o que aconteceu desde o momento em que ela e a ruiva se encontraram, até o momento em que se separaram.

Puta que me pariu! Era só elas terem ficado juntas, caralho!

Um pernilongo não seria capaz de encostar na Madá, ficaria afastado em um raio de, pelo menos, quinhentos metros, quiçá cachorro!

Porra Liz, assim você não me ajuda...

Ao terminar de ver o que precisava, soltou Madá que desmaiou sendo amparada por Raul, que sem entender absolutamente nada, logo após um comando, apagou também. Era melhor mantê-los inocentes sobre sua real identidade.

Voltando para a cozinha, Sophia se deparou com uma fera nunca antes vista e entregou a ele uma blusa que pertencia a bruxinha. O vampiro pegou a peça, apertou entre os dedos e com a raiva o dominando por inteiro, jogou a peça de roupa para o alto e com o olhar cintilante em ira, disse.

Mostre-me onde está sua dona.

A roupa se desfez fio a fio até se tornar um novelo dourado, que em uma explosão, uma das pontas seguiu até Liz, mostrando o local exato onde estava. Diego viu novamente o quanto a humanidade era perversa. Só que ele poderia ser infinitamente mais.

Antes mesmo que pisasse o porão onde Liz era torturada, tomou o lugar com uma energia tão densa que todos caíram desmaiados.

Ah não... bruxinha renegada, assim você me destrói!

Liz estava presa em um pau de arara, molhada e já devia ter levado choques homéricos. Seu rosto completamente desfigurado, com machucados, hematomas e queimaduras por todo o corpo, o vampiro via o quanto ela tinha sofrido até ali.

Diego a desamarrou, pegou no colo e lançou sobre ela um feitiço que anestesiava as dores físicas e também a colocou em um estado mental semelhante ao coma. Ela não precisava ouvir ou saber o que ele faria com aqueles infelizes. Era o melhor que poderia fazer para proteger o resto da sanidade que talvez ela ainda tivesse.

Você nunca mais vai passar por algo do tipo, eu te prometo.

Faltava pouquíssimo, para que a vida dela se esvaísse e mais uma vez, ciente do peso das próprias palavras, provou o amargor do próprio veneno. Lembrou que na primeira vez que a teve nos braços disse que ela ia sofrer ao ponto de desejar a morte e que quando isso acontece ele estaria lá esperando por ela. Como o destino era irônico, lá estava ele, mas não a queria morta.

Precisava ser rápido. A tortura para aqueles que ousaram tocar e machucar aquele corpo seria dolorosa, porém dessa vez seria a longo prazo.

Lançou sobre eles uma maldição.

Maldição essa que acompanharia suas famílias por, pelo menos, cinco gerações e absolutamente nada seria capaz de quebrar-la. Viverão na pobreza extrema e mesmo que ganhem rios de dinheiro, perderão tudo.

Rogou também uma praga.

Deu a eles uma bactéria que devoraria seus corpos e suas almas, lentamente, dia após dia, para sempre. Perderão membro por membro e remédio nenhum será capaz curar ou anestesiar suas dores.

E como lembrete de sua perversidade, teriam sonhos vividos experimentando diariamente todo o sofrimento que causaram a Elizabeth.

Esses filhos da puta vão desejar nunca ter nascido. A morte seria uma benção.

Esperem só eu cuidar dessa garota que voltarei para atormentá-los.

Tô de férias mesmo, bom que já garanti um bom entretenimento diário.

Agora, só restava quebrar sua regra magna de não levar outra pessoa para seu território sagrado.

Se materializou em casa com a bruxa nos braços e entrando em um dos quartos vazios a deitou sobre uma enorme e confortável cama que surgiu em um piscar de olhos.

O espírito da casa ao perceber a presença da garota, compôs rapidamente todo o ambiente. Paredes claras e peroladas, janelas enormes protegidas por delicadas cortinas em voal, um lustre pendente no teto cheio de cristais e piso em granito coberto por luxuosos tapetes persas. Os móveis davam um ar singelo e acolhedor ao local. Dentro dos armários, todo tipo de roupas e sapatos se realizavam. Um espelho enorme e uma penteadeira cheia de cosméticos também apareceram, assim como os adornos que deixavam o ambiente perfeitamente acolhedor para a jovem que ali chegava.

O cachorro de Diego logo apareceu ao seu lado, farejando Elizabeth, abanando o rabo demonstrando uma enorme felicidade. As gatas se esgueiravam pelos cantos curiosas, mas ao contrário de Seth, não ousavam se aproximar.

Diego nunca tinha visto a casa se comportar de forma tão proativa. Olhou para a bruxinha extremamente machucada na cama e ponderou.

Teoricamente Santiago concentra o mana no diafragma e o deixa fluir para outra pessoa criando um casulo. - respirou fundo, sentou-se na cama ao lado de Liz, corrigiu a postura. - vamos lá Diego, precisamos canalizar vida. - costumava conversar consigo mesmo em terceira pessoa, quando não sabia muito bem o que fazer.

Porque eu nunca tentei salvar alguém antes, mesmo? Ah... foda-se, pra tudo há uma primeira vez. Vamos lá bruxinha, me ajuda, aguenta firme.

Com os olhos reluzindo como faróis, o bruxo deixou sair de seus lábios a energia que concentrava. Imerso em um transe tipicamente etéreo, envolveu Elizabeth da mesma forma que observou Santiago tantas vezes fazer. Só que, quanto mais projetava, mais fraca Liz ficava.

Eu vou terminar matando essa garota se eu continuar...

Parou.

Os aproximadamente trinta minutos de tentativa estavam surtindo efeito reverso. Se afastou da garota que começava a colapsar, completamente desnorteado. Vasculhou em sua mente todas as formas que poderia usar para recuperá-la rapidamente e só restou apenas uma, o elixir.

Só que aí, haviam alguns problemas, o elixir antes de tudo era um veneno. O tipo de fórmula a ser ingerida apenas com a certeza da morte e ele não queria que a bruxa cruzasse essa linha. Não agora. Outro problema é que poderia ter reações adversas se ingerido puro, especialmente ela sendo de uma espécie diferente, ainda não testada.

Rapidamente cogitou uma nova hipótese. Precisava da fórmula ao menos diluída, como uma espécie de vacina, mas na situação que Elizabeth estava não teria tempo o suficiente para manipular o preparo.

A não ser que...

Não, não, não, NÃO DIEGO!

Puta que me pariu...

Se isso der certo eu vou sentir as mesmas coisas que ela por pelo menos um ano... ?

Ah, foda-se... é só um ano.

Será o suficiente pra recuperar ela mais rápido do que Santiago jamais conseguiria.

Ela só não pode tentar se matar depois...

Beleza, vamos tentar algo inédito!

Diego foi até sua adega de vinhos, pegou uma garrafa e serviu uma taça. Fez um corte na mão com uma adaga de prata e deixou pingar no líquido algumas gotas de seu sangue. Voltando ao quarto de Liz, ergueu delicadamente o corpo da garota e derramou sobre seus lábios o líquido que era engolido com dificuldade.

Vai doer.

Elizabeth Detzel

Pensou que morreria mais rápido.

Na cabeça de dela, sua vida não importava e por que não aproveitar a oportunidade para morrer logo de uma vez? Só não tinha calculado que durante a realização de seu mais profundo desejo, seria violentamente torturada.

Sua vadia imunda, onde está Madalena Ortega?

Não ia arregar. Jamais iria entregar Madá a eles. Mesmo sendo brutalmente espancada, não falou uma palavra sequer.

A prenderam em um pau de arara.

Jogaram-na água.

Eletrocutaram.

Por horas a fio.

Estava exausta. O tempo parecia parado.

Será que a morte ainda vem?

Notou algo - ou alguém - conhecido se aproximando. Sentiu quando ele a soltou e sem dúvidas os braços que a carregavam continham a experiência mais assustadora e também acolhedora que teve nos últimos anos. Só restava saber se ele tinha vindo para acabar com sua dor de vez ou para, assim como os outros, ampliar.

A segunda opção parecia mais realista. Apagou.

Acordou sentindo algo queimando seus lábios, descendo pela garganta até seu estômago e se alastrando dolorosamente para o restante de seu corpo. Aquilo só podia ser o inferno.

Gritava, mas ninguém podia ouvir.

Queimava, mesmo não tendo fogo algum.

Perdeu o raciocínio.

Diego Del Toro

Estava ao lado de Liz, atento aos efeitos do Elixir sobre aquele corpo. A garota ardia em febre e se contorcia, mas pouco a pouco sua vitalidade ficava mais forte.

À medida em que os ossos e a pele da bruxa iam se regenerando, Diego segurava sua mão e deixava um leve cafuné em seus cabelos. Sabia o quão dolorosos eram os efeitos do Elixir, mas logo ia passar.

Em três horas a casca estava perfeita. Examinou minuciosamente o corpo de Liz e constatou a eficácia de sua inigualável criação.

Coloquei Santiago no bolso! A bruxinha está nova em folha! Só tá suja... meu deus, ela tá imunda!

Pegou Liz no colo, a levou para o banheiro e a deitou na banheira. Ligou a água e removeu as roupas ensanguentadas que a envolviam. Seth apareceu ao seu lado segurando um potinho de sais e ervas aromáticas. Jogou um pouco na água e felicitou o cachorro pela ideia. Arregaçou as mangas da camisa e a esfregou com cuidado. Lavou carinhosamente seus cabelos e quando finalizou, a embrulhou em felpudas toalhas brancas. Criou uma corrente localizada de ar quente e a secou. Escolheu dentro de um dos armários um pijama confortável e a vestiu.

A cama já estava com lençóis novos quando a deitou novamente. Com uma cara boba, se permitiu admirar a garota que dormia.

Tá acabando bruxinha linda. Descanse bastante, porque depois vou te ensinar a usar toda a magia que você tem e filho da puta nenhum vai ousar chegar perto.

Diego ascendeu uma vela com propriedades calmantes e a colocou na mesa de cabeceira da cama. As cortinas se fecharam diminuindo a intensidade da luz externa.

Diana. Faça companhia à Liz. - pediu a uma de suas gatas, que prontamente subiu na cama e começou a amassar pãozinho. - boa garota.

Liz só precisava descansar, já tinha passado por coisas demais. Diego deixou o quarto com a sensação de missão cumprida. Foi até a cozinha, abasteceu a taça de vinho, pegou queijo e geleia na geladeira e foi para a sala. Sentou-se de frente para o piano.

Seth, o que você deseja ouvir hoje? - O cachorro começou a saltitar. - Chopin?

A resposta foi uma lambida no rosto. Bebericou o vinho, posicionou as mãos sobre as teclas e começou. Enquanto tocava, sua mente corria solta passeando por lugares, conversas, pessoas, fórmulas, portais.

Elizabeth Detzel

Na penumbra iluminada por uma cálida vela, identificou a autoria da canção que ouvia, em meio ao turbilhão de vozes e imagens que ecoavam sem sentido dentro de sua mente.

Uma mulher inclinada sobre o piano a encarava e ela era estupidamente linda.

— Diego, eu quero que você toque algo "diferente" de Chopin.

Era como se ela fosse o próprio Diego e viu suas mãos acariciarem os lábios vermelhos da ruiva enquanto respondia:

— Posso tocar seu corpo se quiser.

Bleahhhhh! Que isso? Eu nem gosto de mulher!

No mesmo instante, vinham na cabeça expressões numéricas, algo sobre portais e onde pedras com um corte específico deveriam ser encaixadas. "/Ela acordou. /Tenho que calibrar os relógios dos mundos/" Mas que relógios? Que mundos? "/ O bonsai, só deu uma mísera folha, mas que caralho!/" - eu não sei cuidar de plantas! - "/Sophia! Tenho que avisar que a bruxa mequetrefe está bem /"- espera... quem é a bruxa mequetrefe? Eu? - "/ Exilar Madá e Raul, se bem que... Raul, não. / Queria ver a cara do Santiago com aquela proeza, a irmandade acabaria na hora./ Melhor não./ Seth queria que eu tocasse só pra dormir? Esse cachorro tá em outro patamar./" - eu não gosto de cachorro... "

Liz começou a se desesperar com a enxurrada de pensamentos que apareciam quase que sobrepondo aos seus.

— Alguém faz isso parar!

Diego pensava demais e Elizabeth estava perturbada com tanta coisa pipocando em sua mente sem conseguir controlar absolutamente nada.

A dor já tinha ido embora, mas incapaz de mover um único dedo e vencida pelo torpor adormeceu outra vez ao som dos inquietos pensamentos de Diego.

Sophia Lobo

Quem com ferro fere, com ferro será ferido? Ou quem com pedrada fere, com pedrada será ferido? Enfim... a frase bíblica se aplicou bem a pedrada que recebeu de Diego, mas nunca sentiu um alívio tão grande quanto o que teve ao ler o bilhete do vampiro.

"A bruxinha está bem.

Assim que ela aprender a se defender, devolvo.

Já vai pensando em como vai me agradecer.

Não aceito sua alma, mas aceito consultorias.

Isauro aparecerá com orientações de como proceder com a Madá."

Chorou e pulou de alegria. Correu até o quarto de Madalena e a abraçou. A morena ficou completamente sem reação, afinal não entendia o que estava acontecendo.

A Liz tá bem! - Disse Sophia explicando o motivo das lágrimas.

Jura? Onde ela está? Cadê ela?

— Tá com o Diego. Não sei bem onde, mas tá com ele. Agora arruma logo as suas coisas, Diego mandou o secretário dele te levar para um lugar seguro.

— Mas... mas... e o Raul?

— Madá, apenas vá. Esquece esse cara. - A garota assentiu.

Era triste se despedir de Madá, mas seu conforto era saber que se reencontrariam em um futuro menos caótico. Com um longo abraço apertado, desejou a ela uma boa jornada e entregou as malas da ativista à Isauro que as colocou no bagageiro. Enquanto o carro arrancava, Raul subia correndo pela rua atrás do veículo. Gritando para que parasse.

Madalena abriu o vidro do carro, se despediu do rapaz com um beijo e entregou algo nas mãos dele. Que atônito, assistia o carro partir.

— Raul, o que você pretende fazer agora? - Perguntou Sophia.

— Vou fazer o que me resta, Sossô, trabalhar muito e lutar. - Ele olhava marejado para o amuleto que Madá o entregou e com pesar, perguntou - Conseguiram achar a Liz?

— Sim, conseguimos.

— Isso é um alívio.

Elizabeth Detzel

Ela estava correndo pela mata, sendo perseguida por cães ferozes. Completamente sem fôlego, se esforçando para continuar. "/ Mamãe vai adorar estudar arte em Londres, lá ela vai poder ser ativista todo o tanto que quiser. /" Liz corria. "/Vou torcer pro Boca na libertadores, afinal quem liga pro Cruzeiro? /"...

De repente o pesadelo virou uma confusão analítica sobre futebol, escolas de arte, arquitetura, química, assuntos que tinha que resolver com Isauro, disco do Pink Floyd, fertilizantes de plantas, almas a recolher, que quando Elizabeth despertou, sua mente fervilhava e se confundia entre, pesadelo, realidade, seus pensamentos e os pensamentos nada tranquilos de Diego.

"/ A bruxinha renegada finalmente acordou! /"

Ofegante, Liz olhava para o ambiente ao redor sem conseguir reconhecer onde estava. Trêmula, se encolheu rente à cabeceira da cama quando viu o enorme cachorro pastor alemão a observando. Ele vai me atacar, ele vai... Ainda com o trauma vívido, começou a gritar desesperada e a se proteger cobrindo a face com os braços.

O cachorro apenas se sentou e apoiou a cabeça no pé cama abanando o rabo e as orelhas baixas.

Seth, pra fora! - "/caramba, ela morre de medo de cachorro... como acalmar essa criatura? Taí o tipo de coisa que devia vir com manual. / Será que eu desliguei o fogo? / Preciso de mais charutos de Havana.../"

Ao ver Diego se aproximando, Liz se encolheu mais ainda. Ele projetava uma energia densa e cheirava a fumo, tudo isso atrelado a sua figura masculina, a amedrontava e enojava.

Ele percebeu.

"/Vish, ainda é daquelas nojentinhas. - ele levantou o braço e deu uma cheirada na própria roupa - se bem que... tá ruim mesmo/ não dá mais pra ficar relaxado em casa.../ e nem fumar enquanto ela estiver por perto... /ela deve estar com fome. / Mas primeiro onde eu coloquei aquele mapa, mesmo? / Hoje eu quero provar aquela sobremesa da senhorinha.../"

Porque eu tô ouvindo e vendo essas coisas?

Bom dia, Elizabeth. Não precisa ter medo, o Seth não vai mais entrar aqui, você está segura. Eu também não vou te machucar. - "/Tadinho do Seth, ele ficou tão feliz quando eu trouxe essa diaba, agora vai ter que se contentar em olhar de longe./" - Quer comer alguma coisa? Precisa de Algo?

É pedir demais me deixar morrer em paz?

Eu não quero comer!

Eu quero ficar só. - Liz apenas fez que não com a cabeça.

"/Vou deixar ela no tempo dela. Uma hora ela vai sentir fome. Tá só a pele e o osso, coitada, o autêntico se levantar a mão deus puxa. Mas, fazer o quê se ela não quer comer, só sei que eu quero!/ Uma picanha mal passada com queijo e uma cerveja bem gelada cai bem. /Um sangue A-, também./ De sobremesa a banana split daquela senhorinha da praça... / A tese, tenho que terminar de ler a tese e também a última edição do homem aranha / pena que tenho que observar essa peste por um tempo. / Hoje tava bom pra surfar... / pra transar também... / droga, vou adicionar a função babá na minha lista de atividades. / Boa ideia! Atualizar minha lista de pessoas a perturbar. / Será que o Alex tá se virando bem como líder? / Abacaxi com hortelã e vodca é uma maravilha. / Faz tempo que não troco ideia com o Fernando, essa porra precisa conseguir renascer. Se o Santiago não estivesse com ciúmes, poderíamos trazer nosso irmão de volta juntos. / Ah como eu detesto aquela Isadora, mas o Raul ainda não vendeu a alma, então não posso tocar na maldita... / eu e minha sede de apostas..."

Diego já tinha deixado o quarto, mas os pensamentos dele ecoavam em alto e bom tom.

Os três primeiros dias foram caóticos. Elizabeth não queria comer, então Diego a enfeitiçava por alguns minutos, três vezes ao dia e a fazia engolir comidas, que apesar de bem temperadas, para ela, eram insípidas. A ameaçava para que tomasse banho e sabendo das estratégias que ele usaria, a contra gosto ela ia. Tinha pavor de imaginar ele tocando em seu corpo da mesma forma com que ele tocava a outra.

Não sabia dizer o que "a outra", a mulher que ele chamava vez ou outra, de rainha maldita, deusa dos infernos ou musa do caralho, tinha visto naquele monstro.

Ela é tão cega e iludida quanto Isadora e Madá.

Que cara idiota.

Com uma semana, já tinha observado uma espécie de rotina nos pensamentos do vampiro.

Cedo, tipo umas seis da manhã, ele lia quadrinhos e por incrível que parecesse, essa parte do dia tinha até se tornado um pouco agradável. Era como se ele a colocasse diretamente dentro de um filme a cores. Uma pena que esse momento durasse apenas meia hora.

Depois ele trapaceava e brincava com os animais da casa e cuidava principalmente do, segundo ele, maldito bonsai. A coisa ficava chata quando ele começava com as teorias da física, química ou matemática. Nesses momentos Liz aproveitava para dormir. Eram assuntos tão maçantes que a voz dele calculando as variáveis se tornava apenas uma calmante enxurrada de sussurros perfeitos para dormir.

Uma coisa ela não podia negar, ele tinha uma sonoridade de voz boa.

Claro que também tinham momentos assustadores. Nem tudo naquela cabeça eram flores. Diego dedicava algumas horas do dia para executar "maldades". Tá certo que todos os alvos, pela lógica dele mereciam, - e ela até concordava - mas mesmo assim, despertavam um certo pânico em Liz.

Em quinze dias habitando aquele espaço, já não precisava mais que o bruxo a enfeitiçasse para que comesse. Mesmo ainda achando tudo completamente sem sabor, comia o que era necessário. Já caminhava pela casa e aos poucos ia conhecendo seus cantos e encantos, essa casa é literalmente viva! Evitava sempre entrar nos lugares onde Diego estava e, dia após dia, tentava se concentrar em seus próprios pensamentos. Mas o problema desses pensamentos é que eles eram sufocados por memórias ruins, e quando elas vinham, focar no que o bruxo pensava a tirava do lugar do desespero.

Certa vez Elizabeth se pegou observando não somente os pensamentos, mas também a forma masculina a alguns metros à sua frente. O céu estava lindo e ele observava as estrelas através de um telescópio. Ela queria ver também. Era deveras estranho saber que ele estava ciente de sua proximidade e mesmo assim a ignorando solenemente.

Aprendeu mais algumas coisas sobre ele. Diego adorava ficar só. Amava comer coisas diferentes, era viciado em quadrinhos e mangás. Gostava de testar tecnologias novas e era um entusiasta de jogos eletrônicos.

Conheceu também os defeitos. Ele era pirracento, boa parte do tempo mal humorado, beberrão, fumava mais que uma caipora e o pior de tudo, um maldito pervertido. Toda vez que aquela mulher aparecia na mente dele, Liz se perguntava, como deixar de ver uma merda dessa? Será que tem como pular pra parte que acaba?

Não foi pega de surpresa quando o monstro asqueroso a comunicou verbalmente que se ausentaria por alguns dias.

Será que estando longe a mente dele vai parar de invadir a minha?

Eu tô com medo...

Diego Del Toro

Era verdadeiramente um caso de expectativa versus realidade. Haviam duas Elizabeth, a de suas fantasias e a real.

A real era bastante sem graça. Mas depois de tudo o que passou, seria estranho ela ser vivaz. Os principais sentimentos que a bruxinha projetava eram medo, nojo e raiva, que nele refletia em um suave mau humor, o que também, não era muito distante do seu estado natural.

Não fazia ideia do que se passava naquela cabecinha e ok. Não ia invadir o espaço dela com perguntas e impondo sua presença sem ser desejado. Essa era a parte legal da fantasia, a sua musa, rainha ou deusa tinha a personalidade que ele quisesse.

Já estava com o saco cheio de ficar em casa. Aproveitou que a garota estava se alimentando regularmente, se cuidando bem sozinha e se permitiu arejar um pouco as ideias voltando para a dimensão "oficial".

Estava com saudade de fazer pactos idiotas e de, simplesmente, conversar.

Aparentemente ela está se recuperando, mas existe uma enorme barreira comunicacional entre nós dois.

Você, pelo menos, já tentou conversar com ela? - perguntou Sophia. Os dois tomavam café na mesa da cozinha do bordel.

Não. Os sentimentos dela em relação a mim, me repelem. Fico desconfortável só de tentar me aproximar. Devo trazer ela de volta pra você em uma semana, mas não queria que ela vivesse aqui nessa cidade.

Concordo com você.

Porquê você também não se muda pra outra cidade? Que tal gerenciar uma casa de apoio ao invés de um bordel? Entendo que você adora o show, a noite e a arte, mas não tá na hora de refazer a trajetória?

Eu tenho medo. Você sabe que as pessoas não me levam a sério.

Eu te levo a sério e conheço muito bem a sua capacidade, Sophia. Você será uma excelente psiquiatra ou psicóloga, basta querer. Muita gente precisa de você, principalmente desse seu lado humano.

Diego, mas eu sou uma travesti!

E daí?

Ninguém vai me dar credibilidade!

Eu te dou! Senão não estaria aqui chorando minhas pitangas e levando bronca. Você é uma das poucas pessoas que considero como amiga. E se eu digo que vai dar certo, é porque vai!

A loba o abraçou. Diego sabia que ninguém cuidaria dos traumas de Liz melhor que ela.

Agora que já tinha tratado dos assuntos sérios, era hora da diversão. Estava sedento por sangue então, por que não aproveitar a oportunidade e fazer uma visitinha a um dos torturadores de Liz?

Já dei a eles maldição, praga e pesadelos... que tal eu tirar as pessoas mais queridas? Ah como eu amo estar de férias! Vou tirar um por um.

Era uma casa modesta e austera. Um rapaz de aproximadamente 15 anos, que se divertia no jardim com os amigos logo se prontificou a ir até o portão quando ouviu a campainha.

Boa tarde, eu vim visitar o Tenente Machado. - Diego se exibia em um traje militar com a divisa de General.

O garoto o saudou como os subalternos costumavam fazer, o convidou a entrar, e em seguida foi buscar o pai que estava em uma cadeira de rodas já padecendo pela praga. O homem começou a tremer quando viu Diego.

Olá Tenente Machado! Vejo que você está muitíssimo bem! Ainda bem que apareci, não é mesmo? - o homem se lançou ao chão ficando de joelhos, tentando rezar. - Agora você reza!? Interessante como a fé surge em momentos como esses.

Diego deu uma volta pela sala da casa observando as fotos que haviam sobre um móvel. Constatando a decadência financeira que começavam a atravessar e vendo as fotos de uma criança, continuou:

Ele é seu único filho? - apontou para o rapazinho que agora estava paralizado. - é uma pena. Tomara que ele tenha a oportunidade de renascer em uma família melhor.

O vampiro atacou o rapaz na jugular, absorvendo até a última gota de seu sangue, deixando o corpo cair inerte sobre o chão. O pai gritava de dor diante da perda.

repete comigo. - disse o vampiro ao se aproximar do homem, segurando seu rosto para o fazer falar de forma forçada - Eu matei o meu próprio filho.

Eu... matei o meu ... próprio filho.

Parabéns! - mudando a tonalidade de voz, disse por entre os dentes - Lembre-se todos os dias da sua vida, que por ter encostado e feito mal a Elizabeth Detzel e a tantas outras pessoas, você perdeu tudo o que mais amava.

Deixou a bagunça para que o homem se virasse e se desfez como fumaça.

Elizabeth Detzel

Mesmo distante, Diego permanecia falando em sua mente.

O tempo todo.

Foi interessante conhecer um pouco mais sobre Sophia através dos pensamentos dele. Não imaginava que a loba era tão velha e que ao longo da vida já chegaram até mesmo a serem inimigos. Sentiu saudade do carinho que a amiga transmitia, mas logo o medo chegou com o pé na porta, quando as ideias macabras do vampiro começaram a correr soltas.

A crise veio. Entrou dentro de um armário e chorou compulsivamente enquanto Diego brincava com um de seus torturadores. Não saberia dizer qual dos dois homens a fazia sentir mais pavor.

"/Isso aqui tá uma maravilha dos deuses, como nunca comi isso antes? / Acho que minha musa dos infernos vai gostar disso. / que fofo! certeza que essas pragas formam um esquema de pirâmide... tomara que alguma pessoa normal o adote, já tenho três gatos.../ vai, vai, vai, VAI! É GOOOOOOLLLLLLLLLLL.../ Eu preciso da Anita hoje. Sozinho sim, celibatário, aí não!..."

Então o nome da mulher que ele pensa o tempo todo é Anita?

Anita Stier

A que devo a honra de recebê-lo em minha casa a uma hora dessas? - disse a loira, se aproximando de Diego que estava na sacada de seu quarto em Paris.

— Se quiser, posso ir embora... - ele sorriu, se apoiando de costas no para-peito.

Anita a cada passo que dava em direção a ele deixava uma peça de suas roupas caírem, até alcançar os lábios que a beijaram com força. Aproveitou por horas aquela deliciosa masculinidade completamente ciente de que não era com ela com quem ele mentalmente fodia. Mas se essa era a única forma de tê-lo, não se importava.

— Como vão as férias?

— Tranquilas. Tem notícia do ciumento?

— Está às voltas com a Miss. Até que gosto dela.

— Credo, aquela garota me dá nojo. Me dá tanto nojo que falar nela cortou meu barato. Tchau.

— Diego, mas já?

Ele se despediu dela com um rápido selinho e desapareceu.

Era sempre assim.

Santiago Del Toro

O irmão tinha desaparecido de suas vistas e isso, por um lado, era ótimo, mas no fundo sentia falta dele. Era uma lástima que seu ciúme o tornasse tão irracional daquela forma. Irracional ao ponto de adquirir a forma física de Diego para saber como Isadora reagiria caso desse brecha.

Ela caiu.

E ele experimentou a diferença na entrega que ela exibia na cama achando que dormia com Diego.

Agora a merda já tava feita. Ele tinha acabado de produzir provas contra si mesmo.

Diego & Elizabeth

Encontrou Elizabeth enfurnada dentro de um armário ao voltar para casa. As gatas o guiaram até ela.

— Elizabeth, tá tudo bem?

— Eu não consigo sair daqui. - respondeu ela com a voz baixinha e trêmula.

— Mas a porta está aberta.

— Eu não consigo me mexer. - ah meu pai... será que o Seth tentou chegar perto? Essa menina parece um gato assustado.

Estendeu a mão para Liz que reticente a segurou. Nem eu, que tecnicamente estou morto, tenho a mão tão gelada... cada vez que a vejo ela tá mais magricela.

—Você não comeu nada nesses dois dias?

— Não.

— Vou ter que voltar a te forçar a comer?

— Não.

— Ótimo. Vamos pra cozinha.

Ajudou a garota a sair do armário, indicou para que ela o seguisse e cabisbaixa acompanhou seus passos.

Na cozinha Diego prendeu os cabelos com uma liguinha, colocou um avental e começou o preparo de uma refeição para Liz, que se sentou na mesa, olhando atentamente para tudo o que ele fazia. Os objetos voavam para todos os lados e pouco a pouco, uma pasta à bolonhesa ia se montando. Seth apareceu na cozinha carregando um maço de manjericão e o bruxo o felicitou jogando pedacinhos de carne para ele.

Era uma cena até bonita vê-lo cozinhar. Ele estava realmente concentrado naquilo.

— Liz, o que você quer ouvir? Serve um disco do Beatles?

— Uhum. - A expressão corporal da garota, que antes estava amuada, teve uma leve mudança ao ouvir o nome da sua banda favorita.

Diego que estava de costas, cortando os ingredientes na bancada da pia, se virou para Elizabeth e materializou um disco de vinil lacrado nas mãos e entregou a ela.

— Todo seu. - Até que enfim uma expressão de gente viva nessa bruxinha fedorenta!

— É sério? - Liz sorriu. Não só por causa do disco, mas também porque já tinha se acostumado com ele a chamando de bruxinha fedorenta, renegada, maldita, diaba, peste. Quando ele se tornou tão familiar?

Liz pegou o disco e rapidamente foi colocá-lo para tocar na vitrola da sala. Ao voltar para a cozinha, o prato estava servido. Sentou-se à mesa e constatou que há muito tempo não ouvia o próprio estômago roncar. Diego se sentou à sua frente com uma taça de vinho ao lado. Ele ralou um pouquinho de parmesão sobre a pasta no prato dele e deu uma generosa garfada. Comer é uma das melhores coisas no mundo. A garota fez o mesmo.

Faziam anos que Elizabeth não comia algo tão gostoso e isso a assustava.

Até que essa diaba fica bonitinha quando come...

Só que precisa comer bem mais.

Pra ela, suco de uva, não vou embebedar uma adolescente.

"/ Como assim adolescente? Eu já tenho dezoito anos! /"

Ela teve que se contentar com o suco.

— Gostou da massa?

— Gostei... Diego, como você faz as coisas voarem?

— Hummmm.... - É tão automático que simplesmente o que quero vem, mas basicamente eu conjuro o tempo todo... Vou ensinar a ela, mas com uma condição. - Você quer aprender?

— Quero.

— Então, me prometa que vai comer direitinho daqui pra frente. Quando você ganhar, pelo menos três quilos, ensino.

— Tá bom - Liz amuou. - Você vai cozinhar sempre?

— Isso depende... vai me elogiar sempre?

O rosto de Liz enrubesceu. Diego se levantou da mesa com um sorriso triunfante e gaiato.

O que eu acabei de fazer mesmo? ahhhhhhhh NÃO! Eu deixei ela sem graça. Mas que merda.

Na verdade Elizabeth estava tão feliz com aquele disco dos Beatles que tudo o que queria era correr para o quarto e ler o encarte, ouvir e aprender as músicas. Foi o que fez. Naquele instante, se esqueceu totalmente de tudo ao redor, até mesmo da voz mental de Diego ao fundo. Era como se tivesse voltado a ser a Elizabeth Detzel de antes.

Bem, se ela continuar se comportando assim, tá ótimo.

A voz de Diego na mente de Liz, parecia cada vez um pouco mais baixa. Mas desde que ainda o ouvisse, estava tudo bem. Aqueles pensamentos já faziam parte dela também. Mas ultimamente, prestava bastante atenção quando a outra aparecia. Será que algum dia teria pelo menos um décimo da finesse e sofisticação dela? Se olhou no espelho e a única coisa que tinham parecido era a cor do cabelo.

"/ Queria ver ela. Pelo menos bom gosto o Diego tem. /"

Mais dias passaram.

Agora que Liz já estava se alimentando direito e se comportando como uma garota de sua idade, não doeria deixar ela sozinha um pouquinho. Ele adorava ficar em casa, mas tinha que sanar a sede e também a luxúria nos braços de um alguém qualquer.

— Aonde você vai? - Perguntou a garota percebendo que ele ia dar "umas voltas"

— Vou ver a mulher que engoliu o tamanco. Quer vir junto? Você pode passar um tempinho com a Sophia.

— Não, eu estou segura aqui. Ainda tenho medo de voltar.

— Tudo bem então. - ele deu um sorriso de despedida. - Lembre-se de comer nas horas certas, seu corpo precisa estar forte para começar a praticar magia e feitiços. Vou ficar fora dois ou três dias. Tem livros, revistas, papéis se quiser desenhar, Tv, discos e os bichinhos.

"/ Quando foi que passei a ficar triste com a ausência dele?

Homem é uma coisa mesmo. Certeza que ele foi direto pros braços dela.

Ah não, vou ter que ver aquilo tudo de novo? Prefiro quando ele tá matando alguém.

Quando foi que normalizei matar pessoas? /"

Anita Stier

Quando o vampiro apareceu em sua casa, já sabia exatamente o que ele tinha ido buscar: A cura para uma paixão reprimida. Eram necessárias medidas medidas drásticas para que Diego voltasse ao seu estado habitual.

— Anita, quero que me sangre. - disse ele triste - Preciso tirar esse sentimento de mim.

— Você está gostando dela tanto assim?

— Mais do que você imagina.

— Será um prazer te ajudar. - ela sentiu um amargor subir pela boca, indiretamente, aquilo também era uma tortura para ela. Áspera, disse - Vou te sangrar igual a um porco.

Se materializaram em um castelo medieval.

Amarrou Diego pelos pés, deixando-o de cabeça pra baixo e com uma adaga de prata, fez um corte profundo em seu pescoço.

Sabendo que na cabeça dele, ele projetava outra pessoa, o machucaria tanto, que quando terminasse, essa mulher seria a última pessoa na face da terra que ele iria se permitir amar.

Foi assim que Anita matou o amor dele por ela no passado.

Foi assim que matou o amor dele por Hella, quando ela escolheu Santiago.

E seria assim que mataria o amor dele por Elizabeth.

Elizabeth Detzel

Os pensamentos de Diego estavam muito mais sombrios que o habitual. Mórbidos. Sem cores.

Liz se deu conta disso na hora que foi tentar dormir. Era estranho estar sozinha naquela casa enorme . Sentia falta daquela energia, e podia também dizer, que sentia falta do perfume dele que tinha mudado completamente para um delicioso aroma amadeirado, rústico e fresco.

Era perturbador o que a outra estava fazendo com ele.

Ah não! Tadinho!

Não fala assim com ele, não machuca ele, sua ridícula!

Ele estava sofrendo e apagando toda e qualquer memória que a continha e isso deixou Elizabeth com calafrios. Ainda mais quando começou a perceber que a conexão existente entre suas mentes estava ficando cada vez mais fraca.

Liz surtou no momento em que não conseguiu mais ouvir Diego. Sua mente, agora vazia, a guiava para os momentos terríveis que passou nas mãos do coronel, dos torturadores e da avó. Entregue ao desespero, implorava para que o vampiro voltasse, para que não morresse, para que não a deixasse só.

Diego Del Toro.

Não pensou que levaria tanto tempo para desarraigar as fantasias românticas que tanto ocuparam sua mente no último mês. Agora que estava de volta ao centro de sua própria vida, Elizabeth não iria mais influenciar seus sentimentos. Ainda seria legal com ela, mas não morreria mais de amores.

Foi o que pensou.

Ao colocar os pés no jardim de casa, Seth rompeu porta a fora pulando sobre ele, puxando-o para casa pela roupa para que fosse mais rápido. Nunca viu o cachorro se comportar daquele jeito.

— Diego! - A voz de Liz estava fraca.

Olhou para a garota lânguida no beiral da porta e seu faro logo se atentou para o sangue que escorria por entre suas pernas. A alcançou antes que caísse.

— Bruxinha acorda! - ele deu leves tapinhas no rosto dela - Liz! Amor... Acorda, por favor! Acorda.

Se materializou no banheiro com a garota em seus braços, sentou-se no box, ligou o chuveiro e se molhou junto com ela.

Por que ela tá sangrando tanto? Como ela se machucou? Ela tava tão bem quando eu saí!

Lentamente, com a água morna escorrendo sobre seu corpo, Liz recobrou a consciência e o abraçou.

— Diego, tá doendo muito.

— Onde? - Ela pegou uma das mãos dele e levou até o ventre. Foi quando ele caiu na real. Ela estava com cólica e também menstruada. Nunca suspirou tão aliviado, afinal além de bruxa, ela é uma mulher. - Vou te dar um remedinho pra dor. Você não comeu nada hoje pelo visto.

Ela encostou a cabeça em seu pescoço e ele massageou delicadamente seu abdômen por um tempo.

— Você consegue tomar banho sozinha? Vou fazer um chá pra você.

Liz o abraçou um pouco mais forte. Não adiantava fugir. Os cincos dias tentando apagar os efeitos dela sobre sua mente foram gastos à toa. Ali, naquele chão, molhados, ele era totalmente dela.

Bruxinha ardilosa. Te amo.

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