Ótimo, colocaram uma porcaria de bomba ali. A primeira reação de Yuli é a mais inteligente que poderíamos ter no momento. Ela usará sua técnica de MAO.
Uma esfera esverdeada aparece em suas mãos. Seus olhos, já coloridos em esmeralda, brilham em um tom fluorescente. Uma aura envolve seu corpo, os galhos e pedras pequenas ao redor começam a flutuar a cerca de 30 cm do chão.
Uma onda de pressão é perceptível sobre a bomba, que fica com um aspecto levemente deformado. Veias começam a saltar em sua testa. Uma vibração é emitida, movimentando a bomba pelo ar e lançando-a até o campo direito da floresta.
A bomba explode entre as árvores. A pólvora impregna o ar, deixando um rastro de cheiro desagradável que se mistura com o aroma natural da vegetação da floresta. As folhas queimam, criando uma fumaça negra e densa. O calor chega até mim, aquecendo e provavelmente bronzeando minha pele.
De dentro da explosão, surge uma figura entre as chamas. Os cabelos cacheados volumosos característicos são facilmente reconhecíveis. É Lanna. Nas mãos, ela segura o colar que completa o de Yuli. Por incrível que pareça, ela não tem um arranhão, uma queimadura ou um cacho desgrenhado.
Tenho certeza de que ela criou uma ilusão.
Posso dizer que o MAO é uma arma que todos têm a mesma quantidade de munição, mas o que difere é como você a utiliza. Não adianta gastar todas as suas balas em um ataque sem direção, foco ou finalidade. Criatividade, estratégia, truques e manipulações definem se você é um bom soldado na Fulehart.
Lanna é uma ótima usuária de MAO; ela utiliza uma variação chamada Baiwo. Resumindo, ela pega um objeto específico e, com ele, consegue transformar o seu entorno conforme sua técnica. No caso dela, Lanna consegue trabalhar com a mente. Pelo visto, o colar que compartilha com Yuli também é um método de ligação telepática.
A praga conseguiu saber para onde queríamos ir. A bomba foi apenas uma distração.
— É uma ilusão! — Saco minha pistola, miro na figura de Lanna e atiro. Uma decisão precipitada? Sim, mas prevenir é melhor do que remediar. Pelo visto, estava certo.
A bala atravessa seu corpo rapidamente, que fica em uma forma turva e translúcida. As chamas parecem consumi-lo, o que me faz pensar que elas também são falsas.
— É uma emboscada! — Yuli grita para Noah. — Limpeza de área!
Os olhos de Noah, que sempre expressaram simplicidade e contenção, começam a se fechar em um tom frio e puro, de uma cor semelhante à neve. Seu cabelo fica cada vez mais grisalho, na mesma velocidade que seus músculos se contraem. Ele é como uma tempestade de neve prateada.
Kaiwo, a segunda ramificação de MAO. Consiste em alterar o estado da matéria. Diferente do Baiwo, não é necessário nenhum item, mas as técnicas devem ser simples e diretas. Noah, por exemplo, apenas consegue ser tão poderoso por seu treinamento intensivo e certos gatilhos.
Suas palmas se juntam, emanando uma onda de choque azul. Um forte tremor no chão é claramente perceptível, que é logo seguido por um soco de Noah. Seu capuz sobe rapidamente sobre seu cabelo. Ao redor, um vento gelado passa, como um pequeno vendaval.
Uma enorme onda de ventania cria uma geada que preenche toda a clareira. As chamas se apagam tão rápido quanto uma vela se apagaria com um sopro. O solo úmido sob os pés, coberto por uma fina camada de gelo criada por Noah, transmite uma sensação fria e escorregadia
Apesar dele ser um pacifista, é o nosso artilheiro de campo. Se quiser, pode acabar com um exército fútil inteiro sozinho.
— Comecem a flanquear! — Yuli grita, pois sem isso, nossa estratégia será inútil.
Nos separamos no campo gélido que Noah criou. A estratégia de Yuli está totalmente focada em como poderíamos neutralizar nossos oponentes antes que eles nos machuquem. Guerra de atrito, outro nome para a formação n° 4.
Me esgueiro atrás das árvores para tentar ao menos fugir das ilusões de Lanna. Tenho um medo genuíno de que ela consiga nos prender em uma dessas falsas visões que cria. Diria que facilmente torturaria todos nós se ela quisesse.
Consigo ver Toli a uns 20 metros de distância, escondido atrás das árvores, se movendo cuidadosamente. Outro ponto em que falhamos: não sabemos suas fraquezas.
Lanna sabe quem está no nosso grupo e conhece nossas técnicas de cabo a rabo. Ela pode usar isso contra nós, e infelizmente, não podemos virar o feitiço contra o feiticeiro. Ela nunca revela os seus segredos, apenas para Yuli.
Das mãos de minha prima, uma aura verde e caótica surge de maneira gradativa, acumulando-se em uma esfera mágica concentrada. Em uma fração de segundo, o poder é desencadeado anarquicamente, dominando os nossos arredores com uma cortina de névoa esmeralda.
A floresta está imersa em uma atmosfera densa. A energia destrutiva reflete a luz de maneira distorcida, criando uma paisagem surreal e etérea. Com um poder lancinante, um grande círculo parece dividir nós do inimigo e, ao mesmo tempo, deletar as ilusões.
Diria que Yuli faz tudo com sua habilidade; ela conseguiu aprender como anular todas as outras técnicas oponentes e ainda consegue manipular sua própria habilidade. Ela é realmente espetacular.
Nossa estratégia consiste em uma coisa: atingir pelos lados. Quando nos reunimos, Yuli disse: "Flanqueiem eles junto a Toli, que eu e Noah damos cobertura". Eu poderia fazer isso mais facilmente se não soubesse que o time inimigo está totalmente oculto.
À frente, vejo uma pessoa com no mínimo dois metros de altura tentando se esconder atrás de uma das árvores. Um martelo enorme é perceptível de onde eu estou. Uma projeção azulada sai de seu corpo, como uma névoa incessante.
Já até reconheço aquela figura. É Axel, um dos maiores guerreiros da facção. Gosto muito dele, parece que dividimos o mesmo neurônio. Mas ele é tão perigoso quanto um urso desperto.
Acima dele, sua energia se torna quase material. Um dragão azul-cobalto rondeia o rapaz, de maneira não corpórea, mas tátil. Os olhos de Axel se tornam marinhos, preparados para atacar e revidar quaisquer ataques.
Numa tentativa de ser furtivo, recarrego minha pistola, mas logo sou interrompido por um som agudo que paira pelo ar. Do canto esquerdo, mais especificamente o de Toli, dezenas de projéteis semelhantes a agulhas nos atingem.
Consigo reconhecer essa técnica. Sabrina Slashing, irmã de Noah, outra integrante do time oponente.
— Fiquem na defensiva! — Diz Toli. Ele cerrou os punhos, e uma aura negra envolve seu braço, indicando que está preparado.
Agora, o perigo se torna cada vez mais real. Sabrina é muito inteligente e trata tudo como um pequeno jogo de tabuleiro. Cada movimento que ela faz é cuidadosamente calculado, para que caiamos em sua armadilha.
— Me deem cobertura! — Grito a todos. Toli, faça uma expressão de surpresa, que com certeza não será negativa.
Corro em direção a Axel. Enquanto disparo, sou atingido pelas pequenas agulhas que se assemelham a uma tempestade de granizo. Contraio meus músculos, arregalo os olhos e aperto as mãos. Meu sangue corre cada vez mais rápido por meu corpo, e meu coração está acelerando. Minha visão fica um pouco turva e avermelhada.
Este é o Taiwo, a terceira ramificação do MAO, que altera boa parte dos meus atributos físicos. Saco o mangual, e em um instante já estou de cara a cara com meu alvo. Ele é alto e tem manchas brancas por todo o corpo. Ele é lindo, mas infelizmente, vou ter que arrebentar a cara dele.
— Preparado para ir de base?
Salto na altura mais alta que consigo, passando por cima dele e, em um movimento rápido, rasgo sua camisa com o mangual. O sangue mancha meus sapatos. O cheiro ferroso não me causa memórias muito boas, mas agora não me importo em senti-lo.
Meu corpo não ajuda muito na execução dos golpes. Sou magro demais para causar danos tão expressivos quanto os de Toli e Noah. Todavia, todo menosprezado precisa se virar para não sair perdendo. Aprendi desde a infância um estilo de luta dos bairros periféricos.
Capwinder é o nome dessa verdadeira dança ministrada por chutes e acrobacias. Surgiu nas periferias de Cortom em meio às crises financeiras e sociais. Foi aprimorada ainda mais atualmente. No meu bairro, todas as noites as rodas eram comuns entre os moradores, já os treinando para se defender dos policiais que invadiam nossas ruas.
Meus acertos consistem em giros e golpes coordenados pelo meu quadril e minhas pernas. Parece que estou voando. Consigo ministrar o mangual com facilidade, devido a sua mobilidade absurda. Distraio Axel com os rastros quase invisíveis do meu corpo.
Ele reage, olhando furioso para trás. Ataca com o martelo num movimento ágil, atingindo meu peito e causando uma contusão estonteante. A névoa azulada vaza pela minha barriga, deixando-me com uma sensação de vazio agoniante.
Derrapo sobre a terra úmida, encostando em uma árvore. O cheiro azedo das árvores adentra minhas narinas. Pegar a cartela dele agora é uma questão de honra. É possível vê-la brevemente em um dos seus bolsos. Já esperava por isso; ele não é muito bom em esconder as coisas.
Minhas mãos tremem de tanta adrenalina, preciso terminar com isso logo antes que me machuque. Já sei quem são os três integrantes do time. Sabrina está dando cobertura, suporte e arquitetando os movimentos de todos. Lanna está nos confundindo com suas ilusões. E Axel está na linha de frente.
Sinceramente, não sei quem mais poderia complementar essa equipe tão perfeita.
Só temos um problema; até agora não temos quem flanquear. A estratégia da Yuli caberia para qualquer time, menos esse. Uma guerra de atrito não pode ocorrer caso não consigamos criar contato. Então, temos que nos virar para conseguir pelo menos sair daqui com uma plaqueta. Faço um sinal com as mãos, indicando para meu flanco esquerdo vir para cá.
Toli corre em minha direção, deslizando em um pequeno desnível e tentando desviar das dezenas de projéteis sendo disparados. Quatro agulhas estão presas em seus braços. A grande aura em sua prótese se desenrola em uma linha negra.
— KA, TA, NA, WO! — Toli berra. Algumas palavras-chave são necessárias para desencadear qualquer Baiwo.
A linha é direcionada para Axel, onde ela é enroscada. A névoa azul se desfaz como uma bomba de fumaça. Pronto, agora ele está acorrentado por algo que é quase impossível de sair. Eu imediatamente pego a sua cartela e saio correndo para fora da enxurrada de agulhas. Toli me acompanha, porém, larga Axel.
Nesse momento, faço o que Yuli mandou fazer momentos atrás. Saco a pequena bomba que me deu e pressiono meus punhos sobre ela. Sinto meu sangue percorrer por todo o corpo, enquanto as pontas de meus dedos formigam cada vez mais. É como se estivesse abrindo uma comporta, para poder causar um estrago no final. MAO.
Quanto mais tempo passo segurando esta pequena esfera, mais sinto ela se movimentar e esquentar sobre meus punhos. Chega um momento em que consigo sentir o calor do líquido sobrevoar sobre minha pele. É o sinal.
Jogo a bombinha para cima e ouço o barulho de suas engrenagens girando. Ela ultrapassa as copas das árvores com velocidade. O estampido ensurdecedor da explosão da esfera vermelha reverbera pelos ouvidos. Todo o ambiente sucumbe a uma cor escarlate.
Estamos agora camuflados pela cortina de fumaça criada por aquela simples esfera. Tudo isto, desencadeado somente com o MAO, que faz atrito com aquela superfície de metal. Agora, o nosso jogo está ganho.
Os passos rápidos e os ruídos de combate contribuem para a cacofonia, enquanto o som de sua própria respiração acelerada ecoa em seus ouvidos. No caminho, alguns projéteis me acertam precisamente. Eram gelados, como minúsculas agulhas de gelo, deixando uma mistura de dor e formigamento sobre a pele.
Chego a um ponto onde consigo vislumbrar a formação defensiva. Yuli está exausta; ela manteve a proteção contra ilusões, defesa externa e potencialização por cerca de 5 minutos. Noah permanece firme no chão, usando o gelo para purificar a área de outras técnicas de MAO.
— Noah! — Yuli exclama diretamente para ele, sem perceber nossa chegada.
Ele não responde, apenas desliza os dedos pela areia no chão, criando instantaneamente uma imponente parede de gelo. O local esfria drasticamente, causando um pequeno choque térmico em nós, não acostumados àquela temperatura. Seus olhos estão sérios, e eu mal consigo reconhecer o Noah doce a quem tanto amo.
Percebo novamente que falta um membro oponente, e que deveríamos procurá-lo imediatamente. Antes que eu possa reagir, noto uma coloração arroxeada nas pontas dos pequenos projéteis.
Já identifiquei os envolvidos, mas, ao processar a informação, já estou caído no chão, paralisado pelo veneno, imobilizado ao lado do meu grupo.