Club 57 | CaitVi

By DaddaWho

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Violet Wolfgang não quebra promessas. No dia em que prometeu para sua irmã mais nova, Jinx, que conseguiria... More

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Feixe de Luz Distorcido
Playground
Sangue Novo
Perdoar e Esquecer
Apague as Luzes
Memórias
Milhões de Pedaços
Céus de Durban
Eu Quero Você
Olhos Cinzentos
Eco
Um Adeus. Ou, quem sabe, um até breve.

Acordo com o Diabo

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By DaddaWho

VI

Quando Caitlyn veio buscar sua moto no sábado a tarde, não trocamos uma palavra. Ou, pelo menos, nenhuma que fosse ofensiva. Descobri que ela mora há duas quadras daqui e, graças a Ahri, agora temos o número de celular uma da outra. De qualquer forma, não é como se fossemos nos falar, então eu deixo essa passar. Fico feliz que Caitlyn tenha escolhido me ignorar depois dessa merda toda, mas não espero que isso dure muito.

A paz do fim de semana logo acaba, quando eu pisco já é segunda-feira. Estamos no meio do ano agora, no auge do verão, e isso significa duas coisas: temporada de ensaios para o festival de música de Piltover e início de um novo semestre na Academia de Engenharia Hextec.

O festival de música de Piltover trás uma das épocas mais divertidas e caóticas do ano. Passo a maior parte do meu tempo ensaiando com a Pentakill, e todo ano nós compomos algo novo para apresentar ao público. Vários estilos de música diferentes ganham espaço lá, e os dias que antecedem o festival são sempre muito loucos, absolutamente tudo para. Dessa vez, a grande patrocinadora e anfitriã do evento é a Riot Records, o que significa que K/DA, True Damage e Pentakill vão estar no centro de tudo.

Vamos dividir o mesmo palco esse ano, com apresentações alternadas e muita coisa rolando. Pela primeira vez, vamos ter que trabalhar juntos, e posso dizer que isso vai ser, no mínimo, interessante. Três grupos completamente diferentes e com uma paixão em comum tendo que fazer acontecer em um dos maiores festivais do mundo. Não sei o que esperar disso, mas sair da rotina e quebrar tudo sempre foi o meu forte. Segundo Karthus, eu sou a força turbulenta e ousada da Pentakill, seja lá o que isso quer dizer.

Junto a tudo isso, porém, vem o começo de um novo semestre na Hextec. Se por um lado estou completamente incendiada pelo festival, por outro, me sinto inquieta ao ver que, até agora, minhas tentativas de colocar Jinx na Academia foram completamente inúteis. Minhas opções estão se esgotando e ao mesmo tempo que isso me deixa com raiva, também me deixa desesperada. Já tentei os meios legais que estavam ao meu alcance — e os ilegais também — mas nada funcionou. Quando se trata desse tipo de coisa, se você não tem contatos, você está na merda. E eu estou na merda.

Certos status não podem ser comprados e, sinceramente, isso é uma porra.

Uma mensagem de Akali faz meu celular vibrar.

10:14 — Jhomen: reunião na RR hj
10:15 — Jhomen: 11h

Minha única reação é resmungar e rolar na cama por alguns segundos antes de levantar. Tomo banho e me arrumo o mais rápido que consigo, mas quando estou prestes a descer as escadas correndo, encontro Jinx no corredor.

— Vai pra onde? — seus braços estão atrás do tronco, ela balança o corpo de um lado para o outro e me dá um sorriso suspeito.

— Reunião na Riot — levanto uma das sobrancelhas e sinto o piercing que está ali se mexer. —, porque? — os olhos azuis dela se arregalam de leve e ela morde o lábio inferior.

— Posso ir?

— Não. — respondo. Ajeito minha jaqueta preta no corpo e desço as escadas correndo, Jinx desce atrás de mim. — Eu tenho que sair e você demora demais pra ficar pronta.

Ela ama ir ao prédio da RR comigo, seja para ficar zanzando e jogando videogame na sala de arcades, pela sorveteria que tem lá do lado, onde eu sempre a levo e deixo que ela pegue quantos sabores aguentar comer, ou porque ela acha o máximo me ver ensaiar no estúdio. Sei que ela sente tanto orgulho de mim quanto eu sinto dela. No mesmo dia que eu entrei na Pentakill, ela fez questão de contar isso para absolutamente qualquer pessoa que passava por ela na rua. Jinx acha o máximo eu ser uma rockstar, é minha fã número um.

— Eu vou ser rápida, prometo. — ela fica me seguindo conforme eu ando pela casa. Vander nos acompanha com o olhar quando passamos pela cozinha. — Pai, fala pra Vi me deixar ir.

— Isso é coisa da sua irmã, filha. Não tenho nada a ver com isso. — ele ri e Jinx bufa baixo. — Não vai comer nada antes de sair? — ele me pergunta.

— Como alguma coisa na rua.

— Deixa que eu faço seu café.

— Mas eu tô com pressa e-

— Não vou deixar você se alimentar das coisas que eles servem nas lanchonetes daqui às dez da manhã. — Vander se move ágil de um lado para o outro, tirando algumas coisas do armário antes que eu possa protestar outra vez.

— Não deve ser pior do que as paradas que a gente comia em Zaun.

— Em Piltover eles comem ovos de peixe por opção, e ainda dão um nome chique pra isso, é bem pior do que em Zaun. — ele ri e eu faço o mesmo, concordando.

Jinx ainda está parada atrás de mim, me encarando.

— Tá — suspiro e reviro os olhos. — dez minutos, se não estiver pronta eu vou embora sem você. — assim que termino minha frase ela me dá um abraço rápido, depois sobe até o quarto correndo.

— Começou a temporada do festival de verão? — Vander questiona assim que minha irmã sai do cômodo.

Ele sabe como essa época do ano é para mim, por mais que eu ache maneiro, também trabalho para caralho. Vivo de ensaios e passo dias e mais dias compondo para o festival, é nesse período que meu pai garante que eu esteja dormindo direito e não me deixa viver de energético e fast-food. Ele se preocupa muito, num geral, mas não o culpo.

Quando morávamos no subúrbio, eu tive que trabalhar desde cedo para ajudar Vander a manter a casa, e tive que trabalhar mais ainda para que Jinx não precisasse. Queria que minha irmã estudasse e tivesse a chance de ter uma vida melhor do que a minha, então sempre tive que fazer tudo em dobro. Eu não reclamava, mas Vander sabia o quão esgotada eu ficava. Sei que ele não quer que isso aconteça de novo.

— É, vai ferver esse ano. — me jogo no sofá. — Vai estar lá no show?

— Na primeira fila. — meu pai me lança uma piscadela. —  Tem mais alguma coisa ocupando sua cabeça além do festival? — seu olhar é sugestivo. Vander sabe a resposta para essa pergunta, mas prefere me ouvir dizer.

— As inscrições na Hextec. — solto o ar com força pelo nariz e apoio minha cabeça no encosto macio do sofá, olhando para o teto. — Não consegui colocar a Jinx lá no ano passado, não sei se vou conseguir esse ano. É frustrante pra cacete.

— Você sabe que ela vai ficar feliz em entrar em qualquer universidade, ela tem notas excelentes pra isso.

— Eu sei, mas a Hextec é o sonho dela. Ela é minha irmã, é minha responsabilidade.

— Você não pode controlar tudo ao seu redor, Vi. — suas sobrancelhas volumosas estão franzidas, seu olhar é terno e preocupado.

— Eu preciso tentar, não vou deixar que Piltover tire isso dela. — Vander me encara bem nos olhos. — Nem de mim.

Isso está fritando os meus miolos, mas eu sempre fui assim, meio revoltada e radicalista, principalmente quando envolve Piltover. Meu pai não se manifesta contra isso, afinal, foi ele quem eu puxei. Jinx herdou a astúcia dele, mas eu peguei todo o resto. Em compensação, ela é bem mais parecida com a nossa mãe do que eu.

— Você é minha filha, tenho certeza que vai dar um jeito. — Vander assente para mim e eu retribuo. — Um café da manhã reforçado vai te ajudar. — ele coloca dois crepes sobre a bancada, um enorme e recheado e outro menor. Junto a eles, três copos térmicos com tampa.

— E pra quem é tudo isso? — pergunto, apontando com a cabeça para os recipientes de metal.

— Você, Jinx e Akali.

— Não sabia que você tinha uma terceira filha.— brinco.

— É como se fosse. — sua boca se curva num sorriso cálido. — Espero que a moto tenha ficado do jeito que ela queria.

— Ficou sim, passou uma hora lambendo aquela coisa como se fosse a oitava maravilha do mundo.— bufo uma risada e reviro os olhos.

Antes que a conversa continue, Jinx aparece no pé da escada, pronta para sair. Ela está estranhamente arrumada, vestindo um cropped de costas nuas, uma calça jeans rasgada e um coturno preto de cano alto que provavelmente foi meu em algum momento. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo alto, o que não impede que ele fique quase arrastando no chão.

Para quem só sai de casa de moletom, isso é bem duvidoso.

Eu finjo que não sei o porquê disso, pelo menos não agora. Vou deixar para ser a irmã chata e intimidadora mais tarde.

— 'Vambora.

━━━━━━◇◆◇━━━━━━

A reunião é curta, tudo sobre planejamento para o festival e coisas que já sabemos. Passo o tempo todo sentada ao lado de Akali e Jinx enquanto tomo meu chá gelado de abacaxi, ouvindo tudo sem fazer muitas perguntas.

Porém, uma coisa pega todo mundo de surpresa. Como último tópico, ao fim do evento, teremos que compor uma música juntos e apresentá-la. Os três grupos, criando algo novo que consiga unir estilos tão diferentes em uma única canção. Segundo o presidente da RR, Tryndamere, isso vai elevar o nível de tudo, já que o propósito do festival é unir pessoas diferentes com um fascínio em comum: a música. Isso nunca foi feito antes, então temos que mostrar que somos capazes de fazer acontecer, apesar das divergências, e que não existe um jeito certo ou errado de jogar esse jogo.

Isso nos deixa mudos por alguns segundos. É uma ideia absurda e genial ao mesmo tempo. Pode dar muito certo, ou muito errado.

Todos concordam com a proposta, isso torna as coisas mais intensas do que nunca.

— Bom, há mais uma coisa. — Ashe, também presidente da Riot Records e esposa de Tryndamere, continua. — Vamos competir com a Thresh Records esse ano. Pelo que sei, eles estarão em peso com vários artistas geniais. Vocês devem ter visto os últimos clipes… bombásticos que saíram, estamos correndo um risco. Sei que eles farão de tudo para nos prejudicar, não gosto de dizer que isso é uma competição, não é o intuito do festival, mas estamos numa posição difícil e não podemos perder o prestígio e patrocinadores que conquistamos para alguém como Thresh.

Ahri se remexe no assento, sendo abraçada pelo ombro por Senna. Ambas foram prisioneiras da Thresh Records por anos, sujeitas a um contrato abusivo que as mantinha como reféns, fazendo shows sem descanso e tendo problemas reais com as restrições de criatividade que a TR impunha. A ideia de vê-los no topo novamente é assustadora, principalmente para elas. É algo que está fora de cogitação.

— Deem o melhor que vocês puderem, lembrem a todos o porquê a Riot Records está onde está. Vocês são as nossas estrelas mais brilhantes, confiamos em vocês. — Tryndamere dá a palavra final. — Mostrem o que é música de verdade. — todos assentimos.

Uma discussão se inicia ali, não dura muito, mas é o suficiente para concluirmos uma coisa: vamos acabar com a raça desses filhos da puta. Mas não vai ser fácil. Eu estou nervosa, por mais que não diga isso para ninguém

— Você tá bem com isso? — pergunto para Ahri.

— Óbvio, eles merecem continuar por baixo. — ela parece determinada. — Vamos arrasar, né Senna?

— A Thresh Records não tem o que a gente tem. — Senna completa. — Só tinham alma quando prenderam as nossas.

— Nosso som vai quebrar tudo. — Ekko vibra  confiante e me dá um soquinho no braço, fazendo Jinx rir.

Óbvio que há uma pressão do caralho nisso tudo, mas sinto que os próximos meses vão ser surpreendentes, em todos os sentidos.

Me afasto um pouco do resto conforme os nervos vão se acalmando. Converso casualmente com Olaf e Yorick —  as duas almas mais puras que conheço — sobre como serão as música que apresentaremos no festival. Nem de longe eles tem tanto sangue nos olhos quanto Kayle e eu, mas são tão dedicados e determinados quanto. Até Sona, Karthus e Mordekaiser, que são os mais racionais e ponderados da banda, estão contagiados pela energia caótica dos dias que virão. Teremos duas músicas para compor, é um desafio em tempo recorde.

— Ei, caras, a gente vai descer pra tomar sorvete. — Akali aparece como uma sombra ao nosso lado. — Vocês vem?

Yorick é o primeiro a aceitar e Olaf entra na onda, fazendo uma ceninha para convencer os outros três a irem também. Eles são caras grandões, cheios de marra, mas na real adoram abraços, sorvete de morango e são fãs das garotas do K/DA nas horas vagas. Olaf tem um pôster da Ahri colado na porta do guarda-roupa, quando eu descobri isso ele me fez prometer que não ia contar para ninguém. Yorick já é mais desprendido, todo mundo sabe que ele é membro número um do fã clube da Kai'Sa, tem até um o disco do All Out autografado por ela.

— Vou ao banheiro, vão na frente que eu alcanço vocês. — eles assentem.

Eu faço o que tenho que fazer, e quando volto, todos já desceram. Jinx é a única que ainda está ali, apoiada no parapeito da janela encarando algo distante. Chego mais perto, coloco uma mão em seu ombro e observo a paisagem urbana de Piltover.

— Olha, é a torre da Hextec! — ela diz, apontando com o indicador para a construção. É monumental, se destaca no meio dos outros prédios. Um enorme e brilhante edifício azul e dourado, as cores que a Academia veste com tanto orgulho. — Vai começar o novo semestre esse mês, tô empolgada. — seus olhos brilham.

— Ah, é? — digo como se já não soubesse disso.

— É, vão ter mais turmas do que no ano passado. Acha que consigo dessa vez?

Eu hesito por um momento. Seu olhar é cheio de esperança, é uma das coisas que admiro nela e que não tenho em mim. Ela sonha, muito, não importa quantas vezes dê errado. Jinx tem uma fé no mundo que não tenho, mas é tão teimosa quanto eu.

— Temos que tentar, não é?— digo e minha irmã sorri. — Agora, vamos.

Saímos do prédio da Riot Records e sinto minha cabeça fritar a cada passo que dou. Uma mistura de sensações brigam dentro de mim e não sei o que fazer para impedi-las de me nocautear.

━━━━━━◇◆◇━━━━━━

É começo de noite quando entro no Club 57.

Preciso de música e álcool para conseguir pôr as ideias no lugar. Minha mente está nebulosa, confesso que há uma certa pressão sobre meus ombros e não faço ideia do que fazer com ela. Tenho que dar um jeito de conciliar os dias corridos que estão batendo na porta, enquanto esgoto meu estoque de ideias para tentar fazer com que Jinx entre na Academia. O medo do fracasso é uma realidade que eu não consigo ignorar e, sendo sincera, acho que vou precisar de um milagre. Talvez alguma filosofia barata de barman me ajude dessa vez.

Sim, dá para notar que eu preciso dar um jeito na minha vida.

O club está vazio como eu esperava que estivesse, graças ao fato de ser sete da noite de uma segunda-feira. Blinding Lights toca em alto e bom som, mas num volume ideal para que as pessoas conversem umas com as outras sem precisar berrar. Passo por aqueles corpos estranhos sem dificuldade e logo alcanço o bar.

Há duas pessoas sentadas aqui: uma mulher com um vestido preto espera sua bebida, balança o corpo no ritmo da música e fala animadamente com alguém no celular, parecendo pronta para uma noite incrível. Do outro lado, um homem trajado de roupas sociais passa o dedo pela borda do seu copo, o rosto apoiado em uma das mãos e uma expressão cansada, como quem teve um dia de merda e precisa de algum consolo.

Me sento entre os dois, talvez eu acabe a noite como algum deles.

A bartender em quem eu dei uns pegas no aniversário da Ahri não está aqui, mas não esperava que estivesse. Com sorte aquele foi um free-lance de uma noite e eu não vou precisar topar com ela de novo. Num cenário ideal, eu não teria saído aos beijos escondida com uma fã, mas eu já tenho problemas demais para ficar regulando isso. No mais, espero que ela não tenha alimentado alguma expectativa de que aquilo vai acontecer outra vez.

Peço uma bebida a um barman. Ele é grande, tal qual uma geladeira duas portas, usa uma camisa de mangas curtas com um colete azul por cima, tem algumas tatuagens à mostra e uma careca lustrosa. E um belo bigode, vale dizer. Consigo ler em seu crachá que seu nome é Braum, ele vem até mim com um sorriso genuíno no rosto. Apesar de grande ele é bem… fofo.

— Do que precisa hoje, menina? — ele diz, falando como se nos conhecêssemos.

— De uma cerveja, das boas.

— É pra já!— ele se vira de uma maneira ágil demais para alguém daquele tamanho, em poucos segundos uma garrafa e um copo estão na minha frente. — Aqui está, uma legítima Brewdog.

— Valeu. — tomo um gole direto no gargalo, apreciando o gosto levemente amargo, mas muito refrescante da cerveja. — Boa escolha.

— Você sempre pode confiar em Braum. — me lança uma piscadela e sorri.— Precisando, é só chamar!

Solto uma risada pelo nariz, esse cara é engraçado.

Bebo minha cerveja calmamente enquanto olho o celular. Assisto alguns stories no Instagram até chegar ao de Ekko, onde vejo uma foto que ele tirou com Jinx na sorveteria. Há uma legenda escrito "timebomb na área" junto com um emoji de explosão. Tudo o que consigo fazer é rir.

Ekko gosta da minha irmã desde que ele era adolescente, e eu sei disso porque, bom, todo mundo sabe. Menos a Jinx. Eles passaram um tempo sendo só amigos, mas de uns tempos para cá ela criou sentimentos por ele também. Não que Jinx tenha me dito alguma coisa, mas ela passa horas conversando com ele no Discord, toda vez que eles se encontram ela se arruma toda, como se ele já não tivesse visto ela desarrumada e descabelada um milhão de vezes. Eu vejo o brilho nos olhos dela sempre que o nome dele entra em alguma conversa.

Em resumo, é uma melação do caralho.

Agora eles estão nessa frescura de ninguém assumir o que sente. Sei que eles têm um pouco de medo, em parte porque nunca estiveram em um relacionamento antes, em parte pela minha possível reação. Sei que sou protetora com a minha irmã, não vou pedir desculpas por isso, mas também sei que Ekko é um cara maneiro. Ele não machucaria Jinx, nem em um milhão de anos. Eu sei que eu taco um pouco de terror na cabeça dele, mas é mais por implicância do que qualquer coisa. Acho que ele é o único cara bom o suficiente para Jinx, então, se for para ela ficar com um homem, que seja com Ekko.

Passo mais alguns stories, dessa vez chego em um vídeo que Kai'Sa fez de Caitlyn tentando cozinhar, e falhando miseravelmente. Nós ainda estamos nos ignorando, mas os olhares cheios de opinião dela sobre mim continuam os mesmos. Me lançou muitos desses hoje mais cedo. Às vezes ela me encara como se pudesse ver através de mim, é bem estranho, mas no fundo ela só deve estar procurando alguma outra coisa para julgar.

Falando no demônio, o próprio se senta ao meu lado.

Caitlyn se acomoda perto de mim como se tivesse feito isso um milhão de vezes. Tento deixar meu rosto com uma expressão neutra, mas é como se um grande ponto de interrogação estivesse na minha testa. Eu a observo de soslaio. Ela pede uma bebida e espera, revezando entre passar a mão no cabelo e tamborilar os dedos no balcão. Caitlyn tenta não olhar diretamente para mim, e se mexe desconfortável no banco toda vez que percebe que estou a encarando de volta. É um dos primeiros sinais de nervosismo que vejo nela.

Não sei porque ela está aqui, porque sentou ao meu lado e porque parece que, subitamente, minha presença parece causar tanto desconforto nela. Não sei se quero saber, sinto que não vai sair coisa boa daqui.

— Vi — ela me chama, meu nome sai da sua boca como um fio cortante.

Ela não me olha, seus olhos se mantêm fixos no drink em suas mãos. Caitlyn suspira, como se essa fosse a situação mais humilhante que ela já passou. Eu dou um longo gole na minha cerveja antes de responder.

— Que?

— A gente pode conversar? — seus olhos batem diretamente em mim. Ela não me olha com desprezo, mas com súplica.

— Eu não tenho nada pra falar com você.

— É importante. — ela fecha os olhos e puxa o ar pelas narinas. — Não estaria falando com você se não fosse.

É bem ousado da parte dela estar quebrando nosso silencioso acordo de ódio, ainda mais depois de ter cacetado a traseira do meu Mustang. Eu a olho, desconfiada, Caitlyn parece estar disposta a ir até o fim com isso e eu estou começando a ficar curiosa sobre o motivo.

— Tá, fala.

— Eu reservei um sofá no mezanino, é melhor pra conversar lá em cima. — ela diz, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Minha sobrancelha esquerda se ergue automaticamente e meus olhos se estreitam. Caitlyn se levanta e espera algum sinal meu, sua expressão é gélida como sempre. Eu hesito, mas decido segui-la até o piso superior. Quero descobrir onde ela quer chegar com essa cena toda.

Caitlyn se senta no sofá vermelho de dois lugares, me curvo e me sento ao lado dela. Encaixo minha garrafa de cerveja entre minhas pernas abertas e tiro um isqueiro e uma cartela de cigarros do bolso. Puxo um do maço, o seguro entre os lábios e acendo, tragando como se fosse a melhor coisa da terra.

Caitlyn estreita levemente as sobrancelhas.

— Não sabia que fumava. — cruza as pernas.

— Você não sabe nada sobre mim, Kiramann. — sopro a fumaça para o lado oposto de onde ela está sentada. — Então, o que você quer?

— Ouvi sua conversa com a Jinx mais cedo, pelo visto ela está tentando entrar na Hextec. — ela dá um gole no seu drink e me olha no fundo dos olhos.

Uma onda de raiva e confusão me corta por dentro.

— Você sempre está onde não deve, puta merda. — solto a fumaça do cigarro com força pelo nariz. — Tá me fiscalizando agora?

— Você se acha tão especial. — Caitlyn rola os olhos. — Eu não ligo tanto pra você quanto pensa, eu só tinha esquecido minha bolsa e quando voltei pra buscar acabei ouvindo sua conversa.

— E você me chamou aqui pra tirar uma com a minha cara?

— Só me escuta. — ela gesticula.

Eu posso simplesmente levantar e sair andando se eu quiser, mas estou disposta a levar essa merda até o fim.

— Há quanto tempo você está tentando colocar a Jinx lá?

— O que?

— Há quanto tempo, Wolfgang?— ela joga o cabelo para o lado.

Curvo meu corpo e encaro meus próprios pés.

— Um ano, talvez mais. — respondo, sentindo um gosto amargo na boca. Caitlyn chia. — O que você tem a ver com isso?

— Eu posso fazer a sua irmã entrar na Academia Hextec. — é nessa fala que ela ganha completamente a minha atenção.

Caitlyn pondera antes de continuar, apesar de tentar parecer casual, sei que seu corpo está tão rígido quanto um tijolo. Seu olhar me atravessa, a confirmação de que esse é um assunto que me deixa em um grau de vulnerabilidade parece deixá-la satisfeita.

— Como?

— A reitora da AEH é minha mãe.

Engulo seco. Claro, eu sei que a reitora da Academia se chama Cassandra K, mas não imaginei que esse K fosse de Kiramann. As coisas começam a fazer um pouco mais de sentido.

— E o que você quer de mim em troca disso?

— Bom…— ela começa. — Vou ser sincera, meus pais acham que eu sou uma piada. Desde que entrei para o K/DA, eu não paro de ouvir sobre como eu deveria largar esse "sonho juvenil" e fazer algo de verdade da vida, ou, pelo menos, fazer "música de verdade". — faz aspas com os dedos, consigo ver o desgosto estampado na cara dela. — Eles não me levam a sério como artista, ainda mais sendo uma cantora pop. Vivem falando de como eu mudei desde que entrei no mundo da música, comecei a ir pra festas e me comportar como uma espécie de delinquentezinha. — ela suspira pesadamente, como quem teve que ouvir desaforo a vida toda. — Agora, com o início da temporada do festival, tudo começou a ficar pior. Minha mãe não para de dizer o quanto meu irmão está se saindo bem na Academia, construindo uma carreira brilhante como engenheiro. Um garoto inteligente, responsável e mais uma caralhada de coisas, até o fato de que ele está namorando agora virou algo que eles jogam na minha cara.

— Comovente, mas o que eu tenho a ver com isso?

— Você consegue não ser estúpida por cinco segundos? — ela aperta o espaço entre os olhos.

— Não é porque você me contou a história da sua vida que eu vou começar a ser legal com você. — retruco. — Eu te acho uma escrota, então espere ser tratada como uma.

— Tá, tanto faz. — dá de ombros. — O ponto é, eu tenho que me dedicar exclusivamente ao festival, ainda mais agora depois do que o Tryndamere e a Ashe disseram sobre a Thresh Records, mas não vou conseguir fazer isso com meus pais tentando fazer com que eu entre na Hextec. Não posso faltar aos ensaios simplesmente porque eles inventaram alguma reunião falsa com o conselho só para me manter "ocupada" e coisas assim. Ontem meu irmão levou o namorado dele para conhecer meus pais, passei a tarde ouvindo sobre como o Jayce é o orgulho da família.

Caitlyn dá um último gole no seu drink. Ela me olha, de um jeito que eu nunca vi, como se fosse pedir meus órgãos numa bandeja.

— Eu tentei convencer eles de como o que eu faço é tão sério quanto o que meu irmão faz, que todas essas coisas que eles dizem que ele é, eu também sou. Isso virou meio que uma discussão, minha mãe disse que estou desandando na vida, que não quero saber de nada além de fazer músicas para adolescentes e um milhão de coisas que eu já ouvi antes. — Caitlyn umidifica os lábios, e então continua. — Eu me defendi, e no meio disso acabei falando que minha vida anda tão boa que até conheci uma garota. Acho que foi uma das únicas vezes que eles se interessaram de verdade em saber sobre a minha "nova vida".

— Você mentiu. — coloco a garrafa de cerveja vazia na mesa de vidro em nossa frente. — Você sabe que tem um milhão de garotas por aí querendo uma chance com você, né? É só escolher uma.

— Eu não preciso de uma peguete, Wolfgang, preciso de uma namorada.— ela engole seco. — Eu quero que você finja que namora comigo, e em troca eu dou um jeito da sua irmã entrar na Hextec.

Meu primeiro instinto é rir.

— Você só pode estar me zoando.

— Não estou. É verdade que eu poderia escolher qualquer uma, mas eu preciso que seja alguém com credibilidade o suficiente para fazer com que meus pais comecem a me levar a sério ou, pelo menos, me deixem em paz. — ela se arrasta pelo sofá e chega mais perto de mim. Caitlyn está tentando fazer essa situação parecer razoável, mas até agora eu só vejo como uma crise de insanidade dela. — E, por incrível que pareça, essa pessoa é você. Você tem uma moral que ainda não tenho, todo mundo só me vê como uma garota rica que provavelmente conseguiu uma carreira por causa do dinheiro, e meus pais me veem como uma adolescente com crise de identidade. Eu quero mostrar para as pessoas quem eu realmente sou, mas não vou conseguir fazer isso com meus pais fazendo de tudo para me puxar para trás. Se eles não me escutam, talvez escutem você.

— Você é bem calculista, mas pode não dar certo.

— Eu preciso tentar. Talvez eles ouçam alguém que faz "música de verdade". — ela ri pelo nariz e eu faço o mesmo. Isso é ridículo para cacete.

— Basicamente você quer me usar em benefício próprio.

— Não é como se você não fosse sair ganhando. Eu sei como colocar a Jinx na Academia Hextec, tenho como mexer uns pauzinhos e você sabe disso.

— Eu posso conseguir isso de outro jeito.

— Você sabe que é mentira. — ela rebate.— Se pudesse, ela já estaria lá. Eu sei que você não é burra, Vi, entende como as coisas funcionam. Esse tipo de coisa exige contatos e você não tem nenhum, mas eu consigo fazer acontecer.

— Você é bem mais descarada do que eu pensei que fosse.

— Só estou falando a verdade. Estou cansada das pessoas dizendo onde é o meu lugar, e acho que você também. Essa é a sua chance de realizar o sonho da sua irmã, mais que isso, mostrar para Piltover do que Zaun é capaz. O que você tem a perder?

Ela está realmente negociando um sonho comigo, e o pior, está dando certo. Caitlyn usa todas as cartas que tem para que eu concorde com essa maluquice, ela precisa que eu diga sim.

Se me dissessem meses atrás que, algum dia, eu cogitaria ser a namorada falsa de Caitlyn Kiramann, eu acharia loucura.

Ainda sim, aqui estou.

— Por quanto tempo?

— Até o fim do verão.

— Porra, três meses?

— Eu estou sendo razoável, é pouco tempo pra um namoro. — Caitlyn permanece firme e insistente.

Aperto os olhos, tentando pensar racionalmente. Finalmente, depois de tanto tempo tentando, eu tenho uma chance real de fazer Jinx entrar na Academia de Engenharia Hextec. A primeira, e possivelmente a última. Isso me deixa em euforia, mas ao mesmo tempo a ideia de ter que fingir namorar Caitlyn por três meses é nauseante.

Como posso fingir gostar de uma pessoa que eu odeio?

Ela percebe a dúvida no meu rosto, então usa uma última cartada.

— Mas, claro, você pode recusar a minha oferta, mas quem sabe se você irá conseguir outra chance de colocar Jinx na Academia depois disso. Você tem uma oportunidade agora, Vi, ou de repente você começou a aceitar viver na sombra de Piltover?

Ela joga baixo, muito baixo, mas acerta em cheio.

— Cê é bem boa de tiro.

— Sou uma excelente atiradora. — seus lábios rosados se curvam em um sorriso de canto. Arrogante, como sempre. — Não vou contar pra ninguém sobre isso, nem pra minha melhor amiga.

— Não ligo se a Kai'Sa souber. — dou de ombros.

Jogo a bituca do meu cigarro dentro do copo vazio dela. Caitlyn faz cara de nojo, mas não reclama.

— Como você sabe que minha melhor amiga é a Kai'Sa?

— Ahri e Akali são minhas melhores amigas, gênia. Eu fico sabendo das coisas. — minha voz é ácida, mas ela parece levar numa boa.

— Certo. Mas então, o que me diz? — ela não consegue esconder a expectativa, seus olhos falam por si só, brilhantes e azuis.

Não consigo acreditar que estou realmente concordando com isso. É como fazer um acordo com o diabo.

— Sim, Kiramann, eu aceito ser sua namorada de mentira. — uma onda de algum sentimento que eu não sei descrever percorre o meu corpo todo. É como se fosse um arrepio nos meus órgãos internos. — Como vamos deixar isso público?

— Eu tenho um ensaio de fotos com as meninas na semana que vem. — Caitlyn me dá um sorriso suspeito. — E você vai me levar.

━━━━━━◇◆◇━━━━━━

Oi galera, tudo bom?

É eu demorei pra atualizar, eu sei, pois então tomem um capítulo de cinco mil palavras. Agora nosso CaitVi vai começar a acontecer.

Eu também fiz uma playlist da fanfic no YouTube, é só vocês pesquisarem por "Club 57 | Wattpad", talvez eu faça uma playlist no Deezer também. Recomendo vocês darem uma olhada, essa fanfic vai ser bem musical (acho que deu pra notar), então todas as músicas da playlist tem importância.

Espero que tenham gostado, até o próximo capítulo!

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