i love you in every universe...

By thelucabishop

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O amor representado por Maya e Carina sempre foi grandioso, não há como negar. Com isso sendo dito, não exis... More

i love you in every universe.
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MasterChef

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By thelucabishop

Eu acordei naquela manhã muito mais tensa que o normal. O dia da grande final finalmente chegara e minha vida iria mudar, independente do resultado. O despertador tocou às oito e meia, como todas as outras vezes. Faziam quase três meses que eu acordava sem Maya ao meu lado, mas aquela era a última vez.

O silêncio do apartamento que eu tinha alugado me deixava maluca. Pelos últimos vários anos, estive acostumada a acordar com Maya fazendo barulho ou com Bruno pulando na nossa cama.

Los Angeles estava começando a esquentar novamente, mas eu sentia falta da chuva frequente de Seattle. Com certeza me vestia melhor em dias chuvosos e frios do que nos ensolarados e quentes.

Como nas últimas onze semanas, me levantei e fui direto para a cozinha. Precisava repassar - pela oitava vez - o menu criado para a final daquela noite. Eu escolhi três pratos veganos, com certa influência da culinária sul americana, mesmo que aquele estilo de vida não fosse meu ou que convivesse com a cultura. Era apenas para tentar algo mais ousado e desafiador, afinal, se eu precisava de um momento para receitas mais atrevidas, aquela era a hora.

Debruçada na bancada relendo o que escrevi em meu caderno, tentei achar algum defeito que pudesse ter passado despercebido. Tracy, que acordaria em alguns minutos, Mike e Tony, eram três ex-participantes da temporada que foram eliminados algumas semanas antes, já tinham provado a receita e todas as suas variações, mas ainda sim, eu estava insegura com o que planejei. A gravação iria começar apenas às oito da noite, então teria tempo de mudar o que fosse necessário. Tracy dividia o apartamento comigo, já que nos tornamos boas amigas ao longo de toda a jornada, assim como os outros dois, que moravam a poucos quarteirões dali. Precisava dos três para ter real confiança na hora do tudo ou nada.

O meu menu estava praticamente montado desde a segunda semana de gravação. Eu havia avisado a produção sobre os ingredientes que precisaria e várias vezes os questionava se estaria certo para fazer o que queria, e tudo parecia acontecer como o planejado.

– Beautiful, você precisa ficar calma. Tudo vai correr bem.

– Você não tem como me garantir isso - eu estava cada dia mais cansada e nervosa.

– Eu te conheço, sei o quão bem você cozinha, sendo amadora ou não. E não importa o que aconteça, você já chegou na final, meu amor - Maya dizia em um volume baixo, já que Bruno dormia apoiado em seu peito.

– Depois de tudo isso, eu não vou ter passado três meses longe de vocês pra ficar com o segundo lugar, bambina. Eu preciso ganhar.

– E você vai, confia em mim.

Suspirei fechando os olhos por alguns segundos. Queria muito conseguir fielmente acreditar no que a mulher me falava, mas a insegurança pré-final já começava a consumir os meus pensamentos.

– Que horas vocês vão vir?

– Nosso vôo é amanhã perto do horário de almoço, devemos estar aí logo no começo da tarde. Mas a gente só vai conseguir se ver na hora, acredito eu.

– Acho que o pessoal vem pra cá me ajudar a revisar a receita bem cedo. Se quiser vir, não tem problema também.

– Não se preocupe. Se ficarmos aí você não vai conseguir se concentrar.

– Eu tô com saudade – respondo com certa fraqueza na voz. Nunca pensei que precisaria passar tanto tempo longe da minha família, e cada dia ficava mais difícil.

– Nós também. O Bruno sente falta das suas torradas antes de ir pra creche. Tentei seguir a receita que você me passou, mas as minhas não ficaram boas.

– Depois de amanhã eu faço, ele pode ficar tranquilo.

Eu estava testando a preparação para o sorvete quando minha colega de quarto acordou. Não importava quantas vezes tentavam me fazer parar, eu não estava convencida de que tudo daria certo na hora.

Nós quatro passamos a manhã e a tarde inteira revisando a receita. Por mais que David, o outro finalista, de fato retornou na repescagem após sair uma semana antes de Jake, as chances podiam ser boas, levando em conta que ele já fora eliminado, mas ainda sim eu tinha o que temer.

Vindo de Seattle, Maya e Bruno aterrissaram bem, indo direto para o hotel onde ficariam hospedados. Pelo que eu soube depois, o garoto dormiu o voo inteiro, facilitando para que a loira também descansasse. Maya me disse várias vezes que era mais complicado cuidar do menino sem a minha ajuda, mas eles pareciam estar bem. Passaram a tarde usufruindo das dependências do hotel, que incluia piscina e parquinho para Bruno se distrair. A produção ao menos se preocupou com isso.

Pouco antes das seis, eu finalizei os últimos detalhes do planejamento e fui me arrumar. Optei por roupas mais confortáveis, que não me limitariam na hora da correria. O vermelho da camisa de botões contrastava com o preto da gravata e da calça. A dolmã acabaria ocultando tudo, mas ainda sim, eu precisava estar bem vestida.

O carro da emissora chegou para me buscar sete em ponto. O trânsito fez com que demorassem pouco mais de meia hora, mas nada que fugisse do planejamento. Usei todo o percurso para revisar - mais uma vez - o que pretendia fazer até finalmente estar segura. Tentei lembrar de todos os ingredientes que precisaria para cada etapa, e isso com certeza me ajudou a acalmar os nervos.

Chegando no estúdio, fui colocada em um camarim com o outro finalista, que parecia até mesmo mais nervoso que eu. Nós dois tínhamos estilos completamente diferentes, e talvez fosse isso que definiria o resultado.

A produção passou alguns comandos e direções para nós antes de nos posicionarmos pouco antes da porta. Já era possível ver um pouco da movimentação interna, as luzes acesas e até mesmo ouvir o barulho vindo dos outros participantes, que já ocupavam o mezanino para assistirem.

- Nossa primeira finalista, a primeira a conseguir a vaga para essa final, com nove vitórias individuais, onze destaques positivos, duas virórias em provas em grupo e sem nenhum destaque negativo. - Gordon Ramsey, o jurado que costumava fazer as apresentações, começou a falar, dando o sinal para que eu entrasse na cozinha. - Uma obstetra e ginecologista de Seattle, mas nascida e crescida na Itália, com uma forte personalidade na cozinha.

A energia da cozinha era completamente diferente da que costumava sentir nas outras semanas. O ambiente era lotado de luzes azuladas e fazia tempo que não via todos os participantes no mesmo lugar. Foi só ao me posicionar na frente dos chefes que caiu a ficha: eu estava na final do MasterChef Amadores.

David entrou logo em seguida, com as mesmas palmas que recebi ao entrar.

Os outros dois chefes, Aarón e Christina, seguravam as nossas dolmãs. Era um marco especial, e provavelmente guardaremos aquele momento conosco para sempre.

Recebemos as fardas que tinham nossos primeiros nomes bordados logo abaixo do símbolo do programa, as vestindo imediatamente. Os chefes ditaram toda a lista de prêmios que o vencedor receberia ao final do programa, mas não era tudo aquilo que nos importava. Estávamos ali pelo título, por cozinharmos bem. Por seremos os dois melhores cozinheiros amadores do país.

– DeLuca, quem é a Carina que chega aqui, nesta noite? - Aarón perguntou assim que Gordon terminou a lista.

– É difícil descrever. Eu sou muito grata por tudo que essa cozinha me proporcionou, pelas diversas amizades que eu fiz, mas acima de tudo, pelo que aprendi com todas as provas. Hoje eu sou uma Carina muito mais confiante do que faço, com muito mais repertório e qualidade na hora dos preparos.

A pergunta foi repetida para o outro competidor, até que enquanto ele falava, eu olhei mais uma vez para o mezanino, percebendo que Maya não estava ali. Senti o coração bater mais forte, já que nas temporadas anteriores, os familiares já assistiam desde o começo, mas tentei não se desesperar.

– E essa temporada foi uma loucura, cheia de coisas novas e provas diferentes, mas só vocês dois sabem o quanto deixaram pra trás e o quanto sofreram pra estar aqui. Então agora eu quero chamar os familiares de vocês dois, começando pelo pai do David, Robert, e pela mãe dele, Lisa!

Eu senti o meu corpo aliviar naquele momento. O desespero tinha ido embora. Conseguiria abraçar Maya antes da prova começar. Os dois senhores entraram na cozinha logo abraçando o homem, que por pouco não chorou ao vê-los ali. Os chefes interagiram um pouco com os três, fazendo algumas perguntas sobre a história de vida de David e o que o levava até ali.

– Tá ansiosa, não é, Carina? - Gordon riu ao me ver mexendo as mãos na frente do corpo. - Agora vem a esposa da Carina, Maya, e o filho, Bruno!

O menino entrou correndo, soltando a mão da bombeira assim que possível. Ao me encontrar com os olhos, tão azuis quanto os de Maya, que por sinal eu não via há meses, Bruno acelerou mais ainda e se jogou nos meus braços, e eu já estava abaixada esperando o abraço do garoto.

– Ei, piccolino. Eu senti muita saudade - disse já segurando as lágrimas, apertando o menino com força.

– Eu também, mama! - me deu um beijo molhado na bochecha, porém eu não me importei com aquilo. Me levantei com o menino no colo, o ajeitando com as perninhas em minha cintura, para finalmente abraçar Maya.

– Te falei que a gente vinha, não falei? - ela me abraçou com força, porém tomando cuidado com o filho que ainda estava nos meus braços. - Tô tão orgulhosa de você.

– Eu senti tanto a sua falta, amore mio... - Maya soltou uma risada fraca antes de soltar o abraço, dando-me um curto selinho.

– Qual é a maior qualidade da Carina, Maya? - Christina perguntou, também fazendo a curta interação que sempre faziam.

– Ela nunca desiste, nunca mesmo. Se colocar na cabeça que quer algo, ela vai conseguir não importa o quão difícil tenha que isso seja. E eu sou meio suspeita pra dizer, mas a Carina é uma das melhores pessoas desse mundo inteiro - deitou a cabeça no meu ombro por alguns segundos, sem tirar a mão de minhas costas.

– Nós vimos bastante disso nessa temporada mesmo. - eu sorri com os comentários, percebendo que meu rosto já devia estar vermelho. - Bem, agora vamos pedir que se despeçam, mas dessa vez vocês vão lá pra cima, assistir tudo.

– Você consegue, hum? E independente do resultado, você sempre vai ser a minha chef favorita. - Maya ajeitava a gola da minha dolmã, logo segurando o nosso filho. - Eu amo você.

– Eu também amo vocês. Obrigada por tudo. - dei um beijo na testa de cada um antes deles se afastarem em direção às escadas.

Os chefes repetiram sobre como funcionaria aquele episódio: três etapas, todas com três minutos para o mercado e uma hora e quinze de cozinha. Dava tempo de fazer algo bom.

Quando eles largaram o cronômetro para pegarem os ingredientes, devo ter repassado a lista pelo menos cinco vezes na minha cabeça. Eu não poderia esquecer de nada, qualquer coisa faria diferença no resultado final.

Cheguei em minha bancada segundos antes do tempo para o mercado acabar. Eles ainda nos deram dois ou três minutos para organizarmos o que pegamos e só então começou a primeira uma hora e quinze, para prepararmos a entrada.

Decidi começar pegando os utensílios maiores que eu precisaria que ficavam guardados no fundo da cozinha. Coloquei os tomates verdes picados direto no liquidificador junto com a manga, já começando a fazer os outros preparos enquanto esperava a mistura ficar pronta.

Antes mesmo de fechar os primeiros dez minutos de prova, eu acabei cortando feio o meu dedo indicador esquerdo. Não seria eu se eu não me machucasse. Levantei a mão para chamar os bombeiros - infelizmente a bombeira por quem eu queria ser atendida estava no mezanino cuidando de uma criança de três anos e meio -, me roubando alguns minutos que poderiam ser melhor utilizados.

De curativo e luva, voltei com o foco total. Eu precisava cortar o abacate e o pepino em cubos muito, mas muito pequenos. No entanto, por eu ter machucado o dedo, as coisas seriam um pouco mais difíceis. Vendo que eu não conseguia ter a mesma firmeza na mão esquerda, resolvi tentar segurar com a destra e usar a canhota para movimentar a faca. E deu certo.

A prova passou em um piscar de olhos. Comecei a pensar no empratamento nos últimos vinte, e aos dez minutos eu tinha decidido. Meu dedo parou de sangrar algum tempo depois, então quando vi que teria instantes de menos tensão, troquei o curativo para não desocupar a minha mão inteira.

A contagem regressiva começou quando eu já estava finalizando o último prato. Levantei as mãos faltando três segundos. Era melhor antes do que depois, hm?

Eu havia experimentado tudo ao longo dos processos, tanto de forma junta quanto separada, então estava confiante do meu resultado. A apresentação também estava bonita. Eu não podia ter começado a noite de forma melhor.

David foi julgado primeiro, e recebeu ótimos comentários. Aquela final estava disputada, mas eu precisava me manter confiante da minha culinária.

Servi os três chefes e então expliquei o prato.

- Bem, eu fiz uma espécie de tartar em camadas de abacate, azedinha e melão selado em chá lapsang souchong. Tem também um pouco de pepino com açúcar de palma, shoyu e limão, outro só com sal e pimenta do reino, melão com bai zhu e pimenta-de-sichuan com sal. A granita de tomate verde com pimenta de cheiro, folha de arroz com pó de nori e wakame.

- Uau, isso é coisa pra caramba pra uma hora e quinze - Christina comentou assim que terminei de explicar. Eu nem sequer sabia como lembrei de tudo.

- Carina, como é que você preparou o wakame? - Gordon perguntou já prestes a comer.

- Eu só hidratei e depois reservei. - ele murmurou entendendo e ficou em silêncio pelo resto da experimentação.

- Você viajou com essa entrada, não é? - Aarón tinha uma expressão séria, depois de terminar o prato. Por alguns segundos, eu senti toda a pressão que tinha ido embora voltar de uma vez só. - Mas a gente vai viajando junto com você. O melão com o chá tá maravilhoso, tudo combinou muito bem, só faltou um pouco de acidez no resultado final, mas fora isso, ficou muito bom.

- Esse prato é bem delicado, você usou ingredientes muito sutís, então realmente falta um pouco de acidez pra equilibrar. Eu não sou um grande fã de receitas em que se mistura muito na hora de empratar, que fica tudo meio em cima um do outro, mas isso me surpreendeu. Eu achei muito interessante. Achei diferentão.

As avaliações acabaram e voltamos para a cozinha. Os chefes ainda ficaram alguns minutos longe, nos deixando mais nervosos ainda, mas eu confiava ter feito uma boa entrada.

Logo que voltaram, fizeram o anúncio dos próximos três minutos que teríamos para o prato principal. Eram vinte dois ingredientes que eu precisava pegar, e esperava não esquecer de nenhum deles. Fui contando conforme pegava, mas antes mesmo do fim dos primeiros dois minutos, David já tinha retornado para a cozinha. Isso me desestabilizou um pouco, talvez ele estivesse mais seguro do que eu, porém eu precisava manter o foco.

Voltei para a minha bancada com tudo que eu precisava logo que o tempo acabou. Em alguns segundos, a prova começou novamente e eu fui direto pegar os utensílios maiores que eu usaria.

- Na entrada eu me perdi um pouco, tive processos demais. Agora eu acredito que tenho a receita mais organizada e limpa na minha cabeça, talvez seja melhor. - eu falava com a câmera enquanto cortava as cebolas em brunoise, já que era protocolo e precisávamos interagir também. - Eu não sou vegana, nem quero ser, eu só quero dar um pouco mais de visibilidade para essa culinária.

A quantidade de coisas que eu fazia ao mesmo tempo me impressionou, mas estava tudo sob controle. Quando me dei conta, já estávamos nos últimos vinte minutos.

- Coloca mais pro meio da bancada, Carina! - ouvi Jake gritar do mezanino, provavelmente porque eu estava amassando a mandioquinha com a tigela apoiada na quina.

- Sem emoção não tem graça, Jake! - respondi rindo, mas realmente apoiei direito antes que caísse.

Quando terminei aquele processo, tive que colocar a massa no ultracongelador antes de selar, já que estava morno. Eu precisava daqueles minutos cronometrados, ou perderia tudo - e eu não estava com tempo para refazer.

- Alguém conta três minutos exatos pra mim? Ou vai congelar.

Ouvi alguns concordando em resposta, inclusive Maya. Ela foi a primeira a dizer que já tinha chegado no tempo, e eu confiava na contagem dela. Tinha que fazer isso no trabalho, mesmo que não sobre congelar raízes tuberosas mas sim sobre salvar a própria vida. É, eu podia confiar.

E realmente foi o tempo certo. A massa estava na consistência certa para eu selar. Eu queria que o nhoque ficasse macio por dentro e crocante por fora, mas isso era praticamente impossível sem o uso de ovos, coisa que estava fora do meu menu por não ser um ingrediente vegano.

- Carina, ainda faltam doze minutos, okay? Faz com calma - Tracy disse do mezanino, tentando me acalmar, mas não ajudou muito, já que na prova anterior, os últimos dez minutos passaram como se fossem apenas um.

Eu já estava empratando antes do sinal dos cinco minutos. Gostava de ter tempo o bastante para fazer com calma e ficar do jeito que planejei, porém isso me deixava mais nervosa ainda.

- O que é isso que a Carina tá empratando? - ouvi Aáron perguntar para os outros chefes. - É trufa?

- É trufa, Carina? - Christina repetiu em um volume mais alto, para que eu ouvisse com clareza.

- É sim. Quer que ponha mais?

- Se for pra colocar trufa, tem que por bastante! - Gordon riu, mas eu realmente coloquei algumas a mais.

Nos últimos sete segundos, eu já estava com as mãos levantadas. Não tinha mais o que fazer, não dava mais tempo de nada.

Já em frente aos chefes, eu fui a primeira a apresentar naquela vez.

- Bem, eu fiz um terrine adaptada num nhoque feito com lascas de mandioquinha cozidas no tucupi, que é um ingrediente da culinária brasileira, lascas de pupunha cozidas no leite de coco. E daí tem um caldo de tucupi com cogumelos secos, algas kombu, trufa fresca, um crocante de amêndoas, cogumelos eryngui e broto de beterraba - expliquei numa fala só, precisando até de ar ao final.

- Eu achei curioso você não só ir para o lado vegano quanto para a culinária sul americana, mais especificamente para a brasileira. O prato tá um pouquinho salgado, mas nada que atrapalhe tanto assim.

Não era um bom sinal ter um prato salgado como menu de uma final ao nível do MasterChef. Tentei me manter calma, ainda faltavam alguns comentários.

- Eu também gostei da escolha do tucupi junto com a mandioquinha, isso trouxe a impressão de um prato proteico, mesmo que com um pouco de sal a mais. Facilmente passaria a ser vegano se tivesse a chance de sempre comer o que você fez. Parabéns mesmo.

Eu agradeci os chefes confiantes do meu trabalho, só não lembrei que David ainda não havia sido avaliado.

Por mais que eu tenha recebido grandes elogios, ele também, talvez até se sobressaindo um pouco. Eu não podia negar, ele era sim um bom cozinheiro, mas eu queria aquele prêmio na mesma intensidade.

Em mais uma edição, a sobremesa definiria tudo.

De volta às bancadas, começaram os últimos três minutos para o mercado. Eu realmente escolhi ir longe ao fazer um sorvete, numa final do MasterChef, que não podia ter leite de vaca na composição, e ainda por cima usar frutos amazônicos. Ou eu ganhava aquilo pela ousadia, ou não seria eu.

Terminei o mercado antes do tempo, então passei o resto dos segundos tentando lembrar se eu esqueci alguma coisa. Era a primeira vez que eu voltava para a bancada antes do final dos três minutos, e talvez isso não indicasse coisa boa.

David tinha acabado de voltar ao final do tempo quando eu lembrei o que tinha esquecido.

- Puta merda, a glicose. - coloquei as mãos na testa assim que me recordei. Era o primeiro ingrediente que eu precisava usar, sem ele nada funcionaria.

- Usa o açúcar de coco no lugar! - Tony gritou do mezanino, e assim que fui olhar para eles, vi que Maya não entendia nada do que acontecia.

- Não funciona. Não vai dar tempo se eu tiver que fazer algum tipo de caramelo.

- Calma, mamma! - vi o pequeno Bruno se ajoelhar no chão, olhando para baixo. - Você consegue!

Eu soltei uma risada nervosa, voltando a encarar os ingredientes. Olhei rapidamente para a bancada do David e vi que ele tinha pegado dextrose, e talvez funcionasse.

- 'Vi, você vai usar toda a dextrose? Eu esqueci de pegar a glicose, não dá tempo de eu inventar alguma coisa.

- Não, eu vou usar só um pouco. Peguei mais por precaução mesmo. Deixa só umas cem gramas pra mim e pode ficar com o resto.

Eu nem conseguia agradecer a ele o suficiente. Eu precisava de pouco mais de 150 gramas para preparar, então ainda sobraria bem mais do que ele pediu para ficar.

Nessa confusão, o tempo já começava a rolar. O primeiro processo era com o que eu pedi para o outro finalista, então logo usei e tudo parecia dar certo. Porém, mesmo assim, eu não estava tão calma.

Cortei mais uma vez o meu dedo enquanto diminuía os pedaços de polpa do cupuaçu. Dessa vez, foi o da mão esquerda, então agora eu estava de luva e curativo em ambas as mãos. Que maravilha, Carina.

Segui a prova tentando me acalmar ao máximo. Eu não tinha como ter certeza que tudo acabaria bem no final até que o momento chegasse, e isso me preocupava mais que o normal.

Pouco depois dos chefes avisarem sobre a metade da prova já ter passado, eu planejei começar a cortar os pedaços de coco em lascas, mas não conseguia abrir os potes de jeito nenhum. Talvez fosse pelas luvas, talvez fosse pelo nervosismo, mas aquelas tampas das conservas não soltavam de forma alguma. Tentei usar a ponta da faca, a toalha, até mesmo um garfo, e nada de abrir.

Alguém do mezanino gritou um "Traz aqui!", mas eu não sabia se podia ter a ajuda deles. Olhei rapidamente para os chefes, que pareciam tão aflitos quanto eu em não conseguir continuar o que precisava, então levei aquilo como um sinal positivo.

Ter uma esposa ex atleta olímpica e bombeira que não sai da academia nunca foi tão útil.

- Bambina, abre pra mim! - Ergui ambos os potes para o mezanino, e a Maya abriu aquilo como se não fossem nada. Em dois segundos, ela me devolvia com a tampa solta.

- Confie em você mesma, beautiful - respondeu enquanto eu me afastava, e talvez fosse aquilo que tivesse me dado um pico de energia.

Eu precisava fazer aqueles meses longe de Maya e Bruno valerem a pena. Tinha passado longas semanas longe da família que eu construí e havia prometido que nunca iria embora. De certa forma, esses meses longe foram sim uma maneira que eu os deixei para trás, mesmo Maya dizendo que não era assim que ela e nosso filho viam a situação.

O método correto de se fazer um sorvete era colocando por algumas horas na sorveteira ou com nitrogênio líquido, mas eu não tinha tempo ou experiência para nenhuma das opções. Durante as vezes que fui treinando em casa, eu notei que dava certo se eu fizesse a base do sorvete na primeira meia hora, deixasse congelar por vinte minutos e depois apenas suavizasse na sorveteira. E era isso que eu estava fazendo. Só que eu sem querer desliguei a máquina, e a temperatura saiu de -20°C pra 0°C. Não tinha condições de eu fazer um sorvete ali.

Voltei a massa pro ultracongelador e tirei faltando sete minutos para o final da prova. Deixei o sorvete criando textura enquanto fritava as lascas de coco. Finalmente tudo parecia estar bem.

Empratei o crocante de coco no fundo com o creme de cupuaçu nas laterais. Eu só teria que servir o sorvete na hora da avaliação, então estava mais confiante de que o visual também estaria bom.

Terminei de limpar os pratos, e quando fui tirar o balde de sorvete da máquina, o gelo resolveu travar tudo. Não conseguia tirar aquilo de forma alguma, então tive que apelar a passar uma toalha de papel molhada com água morna nas laterais interiores para soltar. E o tempo acabou logo que eu deixei o recipiente na mesa.

Foi assim que a prova encerrou. No meio do caos, porque vi que David estava tão zoneado quanto eu, mas nós dois entregamos um bom trabalho.

Quando os chefes e o mezanino começaram a bater palma, o homem veio até mim. Nos abraçamos forte, tínhamos chegado longe juntos, e nós dois merecíamos estar ali. Eu não torcia para que o prato dele estivesse ruim, eu só queria que o meu estivesse melhor.

- Obrigada mais uma vez pela dextrose. Não teria entregado sem.

- Não foi nada. Acima de tudo, quero que isso seja uma disputa justa.

Os chefes logo nos chamaram para a apresentação final. Dessa vez, David foi primeiro novamente. De certa forma era bom, assim eu teria tempo de me acalmar antes de explicar a produção do prato.

Ele recebeu comentários maravilhosos, apenas alguns poucos detalhes que poderiam ser melhores foram mencionados. Isso me deixou um pouco apreensiva, mas ao mesmo tempo eu estava muito confiante do que havia preparado.

De volta ao lugar que ele antes ocupava, era a minha vez. Servi o sorvete com calma, tendo cuidado para colocar quantidades iguais.

- Bem, eu fiz um sorbet de cupuaçu com coco em lascas, uma farinha crocante de tapioca e um aerado de coco.

Essa parte era mais simples de explicar por não ter tido muitos processos ou ingredientes, então os chefes logo começaram a comer num silêncio que me agoniava cada vez mais.

- Carina... - Gordon suspirou depois de ter comido toda a sobremesa. - Assim como o David fechou o menu com chave de ouro, você fez uma sobremesa muito delicada, a tapioca com o coco tá bem suave. O sorvete em si trouxe uma acidez, um cítrico, muito agradável, que equilibra bem com os outros preparos. O crocante complementou bem, ainda mais com a espuma. Eu só acho que se você tivesse escolhido uma louça um pouco menos funda, ficaria melhor de comer, porém isso não interfere. A coerência entre todo o seu menu foi sensacional, você fez um ótimo trabalho.

Eu apenas agradeci antes que Christina, seguindo a ordem da mesa, começasse.

- Isso me deu a sensação de estar comendo uma nuvem estando na praia mais bonita que possa ser imaginada. É bom a gente terminar um menu com uma sobremesa que tenha sabor. O sorbet tá delicado, até mesmo a farinha crocante. Eu só concordo com o Gordon na parte do empratamento, talvez até pela forma que foi tudo colocado aqui, mas apesar de tudo, isso ficou muito bom.

- Essa sobremesa, na verdade todo o menu, diz bastante sobre a sua trajetória nesse programa. Você sempre soube o que estava fazendo, em momento algum se descontrolou apesar das dificuldades que as provas apresentavam e tudo mais que aconteceu. A sobremesa é extremamente agradável, mesmo que pudesse ter uma espuma um pouco mais firme, ela desaparece muito rápido na boca. Mas meus parabéns.

- Obrigada, chefes. - eu abaixei a cabeça por curtos instantes antes de voltar para o lado de David.

Nós dois voltamos para a cozinha, parados em frente às bancadas. Olhei para trás e vi o mezanino todo em silêncio, com Maya segurando nosso filho no colo ainda sentados num dos banquinhos que forneceram para as famílias.

- Bem, primeiramente parabéns a todos os participantes. A temporada foi incrível, eu nunca tinha visto uma temporada com tão bons cozinheiros, mas essa se superou. - Mais uma vez, Gordon começou. - Carina, você chegou aqui já ganhando, não é? Trouxe um menu vegano, isso exige muito conhecimento, muito estudo, ainda mais em tão alto nível. David, como a gente te fala desde o primeiro episódio, a base da culinária francesa foi espalhada e modificada pelo mundo todo, mas você trouxe o clássico do clássico. A parte técnica foi muito bem planejada. Vocês dois foram excepcionais, podem ter certeza.

- Foi lindo o que vocês fizeram nessa final. Os dois menus foram cheios da personalidade de cada um. Com certeza nós podíamos experimentar isso de olhos fechados e iríamos saber que foi feito por um ou pelo outro. De verdade, foi uma jornada linda tanto para vocês quanto para nós - Christina finalizou apenas antes de pegar o envelope que estava guardado no totem abaixo do troféu. - Mas agora, são vocês que sobem aqui.

Os três andaram até onde antes eu e o David estávamos, nos dando espaço para subirmos no palco levemente alto onde eles passaram a temporada inteira.

- Eu tô muito, muito nervosa agora, per Dio - sussurrei para o outro cozinheiro, que riu concordando. - A cozinha sempre teve um significado muito grande pra mim. Foi me prendendo na culinária que eu passei por muitas fases difíceis na minha vida e que me ajudava muito a manter memórias da minha mãe depois que ela foi embora com o meu irmão mais novo. Infelizmente nenhum dos dois está mais por aqui, mas cozinhar parece que sempre vai me deixar mais perto deles. Foi pela minha comida que eu conquistei minha esposa, e agora até filho nós temos! - Maya riu lá de cima. Nós lembrávamos daquela primeira briga que tivemos quando eu tentei mostrar que eu queria algo mais íntimo, só conseguindo mostrar isso levando lasanha para que ela provasse. - Então eu queria começar agradecendo aos dois que estão ali em cima, que sempre foram minha maior força e meu maior incentivo. Doía o meu coração não estar com eles todos os dias, mas valeu a pena. Isso aqui foi maravilhoso, e eu faria tudo da mesma forma mais um milhão de vezes. Quer dizer, menos aquele mil folhas que foi um desastre no segundo episódio. Eu saio daqui outra Carina, outra profissional, com outra visão do mundo e da cozinha.

- Eu sempre amava a cozinha, desde pequeno - o outro cozinheiro falou logo depois de eu encerrar. - Eu não queria brincar de carrinho, eu não queria ir jogar basquete com o meu pai, na verdade só queria roubar as panelinhas da minha irmã e me divertir com aquilo. A cozinha é minha maior paixão, acima de tudo. Eu queria muito agradecer aos meus pais, à minha irmã, que me incentivaram a estar aqui dia após dia, e a claro, aos chefes, que definitivamente fizeram isso acontecer.

Nós dois já chorávamos pela emoção de estar ali. Era mágico, mesmo que só um de nós voltasse para casa com o troféu. David veio em minha direção depois de alguns instantes após a sua fala. Ele era poucos centímetros mais alto que eu, mas fiz questão de ficar na ponta dos pés para abraçá-lo propriamente.

Os chefes chamaram todos os outros presentes para descerem. Maya ficou na ponta, segurando a mão do Bruno que estava a sua frente. Eu não tinha certeza se ele entendia o que estava acontecendo, mas era importante ele estar ali. Aáron segurava o troféu enquanto Christina estava com o envelope, prestes a ler.

Eu podia sentir meu coração batendo na garganta. Em questão de minutos, a vida de um de nós iria mudar, e eu tinha que torcer por mim mesma.

- Vocês sabem que os dois são vencedores, não sabem? - concordamos com acenos, sem dizer uma palavra sequer. - Mas alguém precisa estar no topo do pódio.

- O vencedor dessa temporada linda é ...- apenas soltou o lacre, dobrando a aba para trás - Voa alto, Carina!

Foi instantâneo. No momento que escutei meu nome, eu abaixei no chão, sem me ajoelhar, apenas dobrando os joelhos. Estava com a mão no rosto sem conseguir acreditar naquilo, até que senti um serzinho tentando me abraçar com aqueles bracinhos pequenos. Bruno dizia algo como "você conseguiu, mamma!" quando eu o abracei de volta, o mais forte que eu conseguia. Me levantei ainda com ele em meus braços, dessa vez procurando Maya. Ela já estava logo ao meu lado, e era capaz de estar chorando mais do que eu.

É, Maya Bishop, eu duvido que você tenha sequer imaginado na sua vida que ia chorar em rede nacional por causa da sua esposa.

Bruno não soltava do meu pescoço, mas isso não impediu que eu abraçasse Maya também. Ela secou o meu rosto antes de me dar um beijo, que pouco durou, porém era o suficiente. Deixei o garoto de volta com a loira e fui abraçar os chefes, que também já estavam por perto. Christina me deu o troféu, logo seguido de um abraço que se repetia com cada um dos jurados.

Os outros participantes, principalmente os que eu costumava ter mais contato, vieram depois, me envolvendo num abraço coletivo.

Naquele ponto, o chão estava todo coberto de confetes de papel que caíram depois do anúncio do vencedor e eu sequer tinha notado. Maya cumprimentava os jurados também e os quatro interagiam com o pequeno Bruno, que estava completamente entretido em toda aquela movimentação. Ele desceu mais uma vez do colo da outra mãe, correndo até mim quando viu que meus amigos já haviam se afastado um pouco.

Por último, ainda faltava falar com David. Ele merecia aquele prêmio tanto quanto eu. O encontrei perto de sua família, e ele fez questão de esticar a mão para dar um hi-five em meu filho antes de me abraçar mais uma vez.

- Não tinha outra. Esse prêmio era seu, isso foi definido no primeiro episódio, e você merece.

- Muito obrigada, 'Vi. Você também arrasou nisso tudo, não se esqueça disso.

Voltando para perto de Maya e dos chefes, os cumprimentei mais uma vez.

Foi nos últimos momentos antes da produção entrar para começar a desmontar o estúdio que eu percebi que eu tinha chegado no mais perto do completo que minha vida poderia chegar. Eu tinha Maya, eu tinha o nosso filho, e agora também o sucesso em ambas as carreiras.

Quando fomos para o hotel, eu fiz questão de agradecer a Maya mais uma vez. Realmente havia me desestabilizado pela avaliação do prato principal, mas naquela curta interação eu recebi o apoio que eu precisava.

Diferentemente do que planejamos, deixamos que Bruno dormisse na mesma cama que nós. Ele sentia a minha falta tanto quanto eu sentia a dele, então estava tudo bem se aquela noite ele estivesse conosco.

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