"Estações, elas vão mudar
A vida vai fazer você crescer
Os sonhos vão fazer você chorar, chorar, chorar
Tudo é temporário
Tudo vai passar
O amor nunca morrerá, morrerá, morrerá
Eu sei que
Pássaros voam em direções diferentes"
Sn subiu as escadas rapidamente, entrou no quarto do namorado pisando duro, e se enfiou no closet, João vinha logo atrás, tentando alcança-la e resolver a situação, como se isso fosse possível.
- Amor, espera, vamos conversar, Sn.
Ele surgiu na porta, vendo ela pegando as poucas roupas que mantinha na casa do jogador.
- Não me chama assim, porra. - gritou, virando-se para ele com os olhos cheios de lágrimas não derramadas.
João sentiu um sentimento ruim em seu peito ao ver sua garota magoada, odiava ser o causador daquilo.
- O que você está fazendo?
- O quê você acha? - colocou as mãos no quadril e depois deu de ombros. - Estou indo embora, não tenho mais o que fazer aqui.
- Me deixa explicar, por favor? Sempre resolvemos tudo conversando, e não tem que ser diferente agora.
Sn suspirou, passando as mãos no rosto, sentindo vontade de chorar. Ela não iria fazer isso na frente dele, ele não merecia vê-la tão frágil depois de tudo que leu em seu celular, depois do que escutou.
- Não dessa vez, ok? Você nem imagina como estou me sentindo, João. - ela riu, negando com a cabeça e se afastou com uma mochila preta em baixo do braço e as mãos carregando suas roupas.
Sn abriu o bolso maior, enfiando tudo dentro de quarto jeito.
- Foi tudo um mal entendido, princesa, prometo. - seu tom de voz desesperado ecoou pelo cômodo, enquanto a garota entrava no banheiro em busca da escova de dente e dos produtos de beleza. - Eu prometo, não quis dizer nada daquilo e aquelas mensagens foram um erro.
- Eu não reconheço mais você.
João não queria ter feito nada daquilo e sentia-se péssimo por magoar Sn. Estava jogando video game com seus amigos, e a namorada dormindo no quarto. Ele falou que Sn estava insuportável, que não saia do pé dele um só momento. Estava muito estressado e seus pedidos por atenção, os abraços constantes, a insistência dela em fazer o jogador assistir algum filme com a mesma nos dias de folga, quando tudo o quê João queria era dormir ou sair com seus amigos e beber.
Sn escutou ele desabafando com amigos e isso irritou a mulher, mas tudo piorou ao escutar menções a influenciadores e tiktokers com quem ele conversava. Ela não acreditou naquilo, que era real, e se moveu de volta para o quarto fazendo o que nunca pensou fazer, pegar o celular do namorado mexer sem permissão.
O mundo da estudante desabou quando ela viu que era sim verdade, mensagens sedutoras que João trocava com aquela mulher todos os dias. Ele curtia as fotos, comentava no privado e elogiava o quão gostosa aquela mulher era.
Sn foi até o rapaz em busca de alguma satisfação que explicasse aquilo. João ficou irritado por ser confrontado na frente de outras pessoas e gritou coisas estúpidas, que agora não dava para simplesmente retirar, não dava para voltar em nada do que fez.
- Me perdoa, eu sou um idiota. - disse quando ela saiu do banheiro carregando mais pertences e enfiando na bolsa.
Ela sentiu lágrimas escorrendo pelo seu rosto, e respirou fundo, tentando, mesmo que inutilmente se controlar.
- Estamos juntos a quanto tempo, hum? Cinco minutos ou cinco anos? - pergunta. - Você não era só meu namorado, era o meu melhor amigo, confiei em você.... E você não se mostrou digno de confiança, João. Você partiu o meu coração de uma forma que nunca pensei que faria.
- Linda, eu realmente errei lá em baixo, errei em tudo que disse, me arrependo disso, das mensagens de tudo, mas não traí você, nunca encontrei ela ou algo do tipo.
Ele se aproximou tentando abraçar ela.
- Você me traiu. - gritou, batendo no peitoral dele e chorando, e João passou os braços em volta dela tentando conter sua fúria que só aumentou. - Me larga, porra, me larga.
João se afastou, a deixando ir.
- Foram só mensagens, Sn, só isso, eu sinto muito mesmo, mas jamais iria te trair.
- Traiu sim, minha confiança, e o nosso relacionamento, a partir do momento em que deu abertura para outra mulher, me traiu quando deixou ela se colocar entre a gente, na nossa vida. Não preciso que saia beijando ou trepando com alguém pra me trair, as mensagens já foram isso. - suspirou resignada. - Olha, você se perdeu em algum momento, acho que nem você se reconhece, João, a fama te mudou ou só revelou quem você era de verdade e eu nunca percebi.
- Me escuta, princesa, escuta o que estou dizendo, não jogaria nosso relacionamento fora por uma qualquer.
- Você jogou tudo fora por nada. - ela gritou encarando-o com dor. - Traiu, João. Não tem outro nome para o que você fez. E sabe o pior? Não consigo sentir ódio de você, eu só sinto uma dor absurda, angustia por nunca ter passado pela minha cabeça que aquele garoto que cresceu comigo, meu melhor amigo, seria tão baixo a ponto de deixar o nosso amor se esvair dessa forma, uma relação de anos jogada no lixo como se não fosse nada. Não tava feliz comigo? Terminasse! Você me fez parecer uma idiota. E eu só consigo me sentir perdida e com medo, sem saber o que fazer agora, porque eu sou tão burra que não pensei que teria que viver sem você um dia.
- Meu amor, me perdoa, você está certa, mas posso melhorar, não sei o que fazer sem você, Sn.
- Vamos ter que aprender, é o melhor.
- Sn, não me deixa, por favor, eu estou implorando.
- Foi você que fez isso. - murmurou sem forças para continuar discutindo. - Eu dei tudo de mim nesse relacionamento, se está acabando a culpa não é minha.
- Eu te amo.
- Eu que te amo, João, e isso sim é amor, porque quem ama não faz o que você fez, eu sempre te respeitei, a cima de tudo eu sempre respeitei a mim mesma e o nosso relacionamento. - soluçou.
- Foi um erro, baby.
- Não, isso não foi um erro, é questão de caráter.
João estava chorando, então ela continuou:
- Eu sei que vou amar você por muito tempo ainda, não negarei isso, mas vou superar você, um hora eu vou seguir em frente porque sei que mereço mais que passar por isso aqui. - falou suspirando aliviada por colocar aquilo para fora. - Eu irei dormir no quarto de hóspedes, quero que respeite minha decisão e não venha atrás de mim, você fez sua escolha e agora eu estou fazendo a minha.
- Acabou? Vamos acabar assim?
- Sim, não posso ficar com você. - ela disse, destruída por dentro, mas com a confiança de que ia se reerguer. - E eu queria tanto, João, eu sonho com uma vida ao seu lado, fiquei muito tempo ao seu lado, te apoiando e lutando para que pudesse realizar os seus sonhos.
- Sn. - murmurou.
- Você não pensou em mim? Eu não passei pela sua cabeça um só segundo antes de você decidir dizer que estava louco para sentir a boca dela?
- Não fala isso, amor. - ele estava com nojo de si mesmo.
- Eu não consigo entender onde que eu errei.
- Não foi você, não foi sua culpa, eu que sou um estúpido, burro, idiota.
- Tenho que ir embora. - Sn se virou e pegou sua mochila, respirando fundo.
- Sn, por favor, por favor.
Ela conseguia escutar os soluços dele, e tirou coragem de onde nem sabia existir para o deixar para trás mesmo assim. Ela passou pelos quatro rapazes reunidos na sala de estar como um furacão.
Respirou fundo quando chegou ao lado de fora, o choro vindo a tona, ela passou a mão nos cabelos, tentando se acalmar.
A porta da nova casa de João no Rio de Janeiro abriu, e ela se virou pensando que era o ex namorado, mas viu o rosto de Guillermo, que encostou a porta e se aproximou com as mãos no bolso da sua calça.
- Ei.
- Você é meu amigo, ia me contar isso em algum momento?
- Eu não sabia de nada disso, estou tão surpreso quanto você. - falou. - E João era seu namorado, seu amigo, você não ia acreditar em mim se por um acaso eu soubesse e fosse falar contigo.
- Desculpa pela cena. - ela disse com a voz embargada, com o celular em mãos para pedir um Uber.
- Lo siento (sinto muito), por tudo que aconteceu ali, você não merecia passar por nada disso.
- Está... Está tudo bem. - ele a abraçou. - Eu vou ficar bem.
- Sei que sim, você é forte.
- Tenho que chamar um Uber.
- Não é confiável andar sozinha em um Uber a essa hora da noite, Sn. - falou, se colocando ao lado dela, passando o seu braço pelo ombro da amiga. - Vamos lá que levo você em casa, mi corazón.
- Gracias, Gui.
- Yo tenho que impedir que tu madre venha arrancar a cabeça dele. - sorriu, pegando a chave no bolso e destravando seu carro.
Sn se acomodou no banco, com a mochila no colo, colando o cinto. Guillermo fez o mesmo e pouco depois estavam pegando a avenida, indo em direção a casa de Sn. Ela encostou a cabeça no banco, respirou fundo e secou as lágrimas. Ela forte e não ia morrer por amor. Ia superar ele, sabia que um dia ia conseguir.
Tudo ficaria bem.
Ela repetiu para si mesma até se tornar verdade.
{Espero que gostem}
XOXO, MAY