Terra Proibida - Essência

By EvaSans86

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Em um entrelaçar de passado e presente, mergulhe em uma trama que desafia os limites da razão e da sanidade... More

Nota da Autora
[Agora] A queda
[45 anos atrás] A proposta
Cap. 1 - Sentimentos Ocultos
Cap. 2 - Tormenta
Cap. 3 - Ecos do Passado
Cap.4 - A medalha
Cap. 5 - Revelação
Cap.6 - O nada
Cap. 7 - Oráculo
Cap. 8 - Isadora Moraes
Cap. 9 - Elizabeth Detzel
Cap. 11 - Sangue quente
[45 anos atrás] A Alma à venda
[45 anos atrás] A casca
[Agora] O Salto
Cap. 12 - Despertar
Cap. 13 - O Animal que me tornei
Cap. 14 - Presente de grego
Cap. 15 - Feito de lágrimas e cinzas
[45 anos atrás] Ninguém se lembrou
[45 anos atrás] Inferno
[45 anos atrás] Quando todos os homens falharam
[45 anos atrás] Mais que morrer
[45 anos atrás] Seus pensamentos
[45 anos atrás] Miserável
[45 anos atrás] Esse tipo de amor...
Cap. 16 - Versões de uma mulher
Cap. 17 - A casa
Cap. 18 - Terceira morte
Cap. 19 - Primeira vida
Cap. 20 - Alguém tem que morrer
Cap. 21 - Sete Palmos
Cap. 22 - O Centro do Universo
Cap. 23 - Essência

Cap. 10 - Segredos ao pôr do sol

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By EvaSans86


Em uma das maiores favelas horizontais da América Latina, estava Wallace.

Jovem, pobre, queer, negro.

Discriminado e prostituído.

Uma vida marcada pelo preconceito e pelo ódio. Perambulando pelas ruas da cidade tentando achar alguma salvação mediante aos abusos que sofria, sua esperança se desfazia a cada passo. Não queria voltar para casa e fingir ser o que não era. Não queria ir para a escola e ter que suportar o bullying dos colegas por ser afeminado. Também não queria estar na rua e ter seu corpo violado.

Naquela noite, entrou no primeiro ônibus que viu e enquanto caminhava a esmo pelo setor comercial, onde apenas os errantes estavam despertos, teve um encontro absurdo com um louco enquanto vagava pelas ruas. Isso deve ter sido há oito anos atrás, quando ainda era um adolescente perdido.

- Ei, você! - disse um homem, surgindo das sombras atrás de uma pilastra. - Por quê não usa a tecnologia a seu favor? - O olhar dele era envolto em mistério e um sorriso de canto que causou um bom susto em Wallace.

Ah meu santo!? Por quê não uso a tecnologia? Nem casa eu tenho! Esse tio tá me tirando, depois eu que uso drogas? Faça-me o favor.

- Vou abrir seu caminho. - Disse o homem se aproximando de súbito.

Ah tá! Playboyzinho de merda. Senta lá Cláudia. - Ignorou.

Aos olhos de Wallace, o cara de pijamas a sua frente era apenas mais um dos viciados que circulavam pelo local e ele só queria ficar em paz. A noite já estava caótica o suficiente para ter que aturar os nóias.

- DÁ O FORA, MERMÃO! - disse ele irritado empurrando o homem.

O cara sorriu.

- Você vai me agradecer depois.

Antes que Wallace pudesse reagir, o homem estava bem à sua frente. Em um estalar de dedos e por um breve momento, notou a íris dourada daquele ser. Seu corpo se arrepiava por completo e também não conseguia desviar o olhar. Sabe-se lá quanto tempo seus olhos ficaram fixos no do outro.

O transe foi interrompido por alguém que chamava o homem.

- PORRA, Benício! - disse o outro cara que chegava assustado. - Como é que tu desce do carro e corre assim? Tô te caçando há horas!

- Henriiiiiiiii - respondeu o homem desfalecendo e sendo amparado pelo recém chegado. - liga pra Olívia, diz pra ela que eu não vou mais pro carnaval em Salvador! Diz pra ela voltar! - E do nada o cara chorava copiosamente aparentando estar muito bêbado.

- Desculpa aí mano. - disse o outro playboy, entregando a Wallace uma soma de dinheiro equivalente a três meses em diárias da faxina que sua mãe fazia. - volta pra casa tu também, você é muito novo pra estar na rua a essas horas.

Wallace nunca tinha pego em tanto dinheiro na vida e isso o assombrava.

Relutante, entrou no táxi que o cara pediu e voltou para casa. No dia seguinte, para sua surpresa, haviam recebido um presente de um dos empregadores de sua mãe, um computador. Não era novo, mas ligava e tinha programas instalados.

Que dahora!

Outro dia, quando foi ajudar a mãe em uma faxina, descobriu o que queria fazer da vida ao ver o dono da casa trabalhando. Não conseguia desgrudar os olhos dos códigos na tela do computador que o cara digitava. Parecia tão fácil. Achou um destino para o dinheiro que guardava para uma eventual emergência, ia aprender programação.

Agora, no alto de seus vinte e dois anos, sob o codinome Hórus, Wallace fazia a vida como hacker e não havia segredo que não fosse capaz de descobrir. Mas fora da rede, continuava enfrentando o preconceito entre os familiares e conhecidos. Tudo o que mais queria era deixar as quebradas, tinha dinheiro o bastante pra isso, mas não queria deixar sua mãe para trás e ela não queria sair de lá. Ela não aceitava seu dinheiro. Na cabeça dela era inconcebível a forma como o filho fazia dinheiro, acreditava piamente que o dinheiro vinha de prostituição ou drogas.

Empregos formais não o queriam, as pessoas da área eram machistas demais para entendê-lo e principalmente, levá-lo a sério. Se tinha uma coisa que ele adorava era poder se vestir e comportar como quisesse.

Deitado em sua cama, lia em seu tablet as informações sobre a vida de Benício, seu agora cliente, uma pontada de curiosidade inútil invadia a mente de Wallace. Já tinha limpado dos mecanismos de buscas todas as fotos críticas, vídeos ou matérias que o envolviam. Tudo o que estava na superfície ele já sabia. Também já sabia tudo sobre Henri, se brincar, até mais que o próprio, mas Wallace adorava saber de informações desnecessárias, quando se deparou com um exame de DNA datado de 1988, ano do nascimento de Henri.

Peraí... em todas as documentações eles são primos mas nessa análise de DNA são irmãos? Será que o Henri é fruto de um caso extraconjugal? Ou a mãe dele deu ele pra irmã? E quem é esse terceiro aqui... Thiago Taurus... que bizarro... preciso acompanhar essa família mais de perto.

Como eu sou Maria Fifi, minha santa Rihanna!


Benício

Ao despertar naquele amanhecer, os pensamentos de Benício oscilavam entre Diego, Elizabeth, Thiago e a sensação de estar sendo observado. Tudo estava girando. Que bad trip é essa?

Levantou-se na cama sentindo-se angustiado.

- Você é feito de quê? - Questionou Diego, como seu reflexo. Enquanto se apoiava cambaleante na pia do banheiro de Anita. Ela não estava na cama e tão pouco no apartamento. Decidiu ignorar o outro, aquilo provavelmente era uma alucinação.

O mal estar aumentava à medida que se sentia observado, mas por quem? E por quê? Ele sentia a corrente com a medalha em seu pescoço o sufocar. Não exitou em arrebentá-la. Inalou o ar profundamente. Fez um breve exercício de respiração tentando recuperar o foco. Então é assim que uma crise de ansiedade é na pele?

Estava angustiado, inquieto e tonto. Preciso sair daqui.

O relógio marcava 5h40 da manhã e decidiu voltar para a casa do pai, lugar onde estava morando desde sua separação com Olívia. O apartamento de seu pai não era muito distante do de Anita, o que permitia que ele fosse a pé sempre que quisesse vê-la.

Em seu percurso, assustou-se várias vezes, pensando estar sendo seguido. Ao entrar no elevador do prédio viu um vulto. Aquilo o causou uma tremedeira instantânea, se a tranca da porta de casa não fosse sua digital, jamais teria acertado a chave na fechadura. Assim que entrou, sua gata Morgana, uma vira-lata cinza com manchas creme, se aproximou. Benício a pegou e a abraçou. Impressionante como abraçar aquele pequeno ser o trazia paz. Sentou-se no chão, atrás da porta por um tempo e finalmente deixou que as lágrimas fluíssem. Detestava se sentir frágil, inútil, incapaz.

Foi até o quarto onde viveu sua infância e adolescência. Suas coisas favoritas continuavam lá. As paredes em tom verde, piso de madeira, posters de rock, fotos, cadernos. Seu pai não tinha se desfeito de nada e isso era reconfortante. Deitou-se na cama, abraççou a gata e fechou os olhos.

Estava de joelhos em um terreno árido. Duas pessoas o seguravam. Suas mãos estavam atadas nas costas. Uma mão puxava sua cabeça para trás pelos cabelos e tudo o que seus olhos conseguiam ver era a claridade do sol do meio dia queimando sua pele. Sentia uma lâmina gélida encostada em seu pescoço. Um gosto amargo na boca, o gosto da traição. Contra a luz uma figura chamava a atenção.

- Seus malditos, cadê a Liz? - disse por entre os dentes.

- Ela será a próxima. - disse uma voz feminina

- Você caiu por uma Detzel, meu irmão? Como você teve coragem de passar todos os nossos ensinamentos a ela? - Disse Alejandro

- Nós já éramos caçados pelos reinos, agora além de caçados seremos exterminados. - Disse Santiago.

- FODA-SE! - Gritou ele. - Se tocarem em um fio de cabelo da Liz, eu juro, vocês não viverão pra contar história.

- Quem não viverá será você. Você nos expôs! - disse Alejandro inflamado de ódio.

- Eu? - Seus olhos focaram em uma mulher de cabelos chocolate e olhos verdes Ah Isadora, maldita Isadora! Ao lado dela estava Anita, que visivelmente tremia. Deu um sorriso, tentou se desmaterializar, mas a corda que o prendia o impediu. Não conseguia conversar mentalmente com os irmãos. Não conseguia projetar o espírito para fora do corpo. Havia sido preso por aqueles que amava. Não entedia como de repente tudo estava tão bagunçado. Preciso de ajuda Liz, mas por favor, não venha! Pela primeira vez em sua existência havia sido surpreendido.

Acordou.

- Isso foi novo. - disse Benício a si mesmo, ainda sentindo um gosto amargo na boca. Pegou o celular, viu as horas, abriu o gravador de voz e narrou o novo pesadelo. Tinha o hábito de categorizar seus pesadelos e como esse era uma novidade, escreveu em caixa alta "NOVO - Pesadelo sobre a traição de Diego #1". Gravou todos os detalhes dos quais conseguia lembrar.

A angústia veio novamente. Pensou no pesadelo anterior com Elizabeth e Thiago e decidiu que não fugiria mais da tia. Precisava vê-la.

Deixou a barba por fazer. Vestiu-se com uma de suas adoradas camisas xadrez em tonalidade verde, uma camiseta branca por baixo, calça jeans escura com alguns rasgos propositais, um coturno marrom escuro. Passou a mão pelo pescoço e se lembrou que tinha quebrado a corrente, lembrou da sensação de sufocamento. Melhor sem. Passou as mãos pelos cabelos, dando uma leve ajeitada. Colocou os óculos escuros, pegou a chave do carro.

Chegou no escritório da tia, cumprimentou a secretária e rapidamente foi abraçado pela copeira.

- Seu Benício, quanto tempo eu não te vejo! - disse ela o abraçando.

- Tia Graça! - ele retribuiu o abraço com um grande afeto. - Tia Liz tá muito ocupada? - perguntou ele às duas mulheres.

- Ela está com uma visita, um outro doutor que sempre vem aqui. - Disse a copeira

- O Doutor Thiago Taurus - disse a secretária.

O que o Thiago tá fazendo aqui? Não sabia que ele e a tia estavam tão íntimos assim.

- Então vou entrar. - Pegou uma xícara de café e caminhou até o escritório. Ao começar a abrir lentamente a porta ouvia trechos:

- Vou colocar mais uma estrelinha na sua ficha.

- Preferia outra coisa. Sabia que sou um ótimo botox?

- Te vendo assim nem parece que estava morrendo de nojo, sem contar a brochada.

- Bem na minha cara, dona Liz - Agora com a porta um pouco mais aberta, Benício via Thiago atravessando a mesa, ficando de frente a Elizabeth, acariciando sensualmente seus lábios, pronto para beijá-la.

Com uma cara surpresa e de poucos amigos, Benício abriu completamente a porta, com uma mão na cintura e o café na outra.

- Posso saber o que tá acontecendo aqui? Interrompo alguma coisa? - perguntou. Seus olhos ardiam e em sua mente vinha a tona os pesadelos da noite anterior e uma voz em sua cabeça dizia: Tá comendo a minha mulher safado?

Surpresos, Thiago e Elizabeth logo se recompuseram.

- Beni, quanto tempo? - disse Thiago sem graça.

- Thiago eu te vi antes de ontem...

- Até que enfim você deu o ar da graça Benício. - Disse Elizabeth com os braços cruzados e cara de poucos amigos.

- Então... Vim te ver, mas acho que a senhora está muito ocupada. - Lançou um olhar cortante na direção de Thiago.

- Eu só vim aqui checar o trabalho do cirurgião plástico que indiquei a sua tia, nada demais - disse Thiago com um sorriso amarelo, enquanto Elizabeth o fuzilava com o olhar.

- Eu volto outra hora. - Benício saia do escritório tomado por uma sensação de raiva que estava além de seu controle. Tinha algo mais ali. Não costumava ser ciumento, mas naquele instante estava possesso e odiava se sentir fora de si.

Entrou no carro sem saber ao certo aonde ir, entretanto, estava com uma pulga enorme atrás da orelha: os sonhos pareciam reais demais, como se fossem memórias. Lembrou-se de Elizabeth e Thiago quase se beijando e sentiu um ódio que não era comum.

Ligou o som do carro em uma rádio qualquer, tentando ocupar a mente com algum assunto que não fosse relacionado a si mesmo. A rádio, assim como seus pensamentos foram interrompidos por Henri, em uma chamada telefônica.

- Entrei com todos os processos contra os portais que divulgaram as fakenews hoje pela manhã. - Dizia Henri do outro lado da linha. - Também entrei com o recurso contra o seu afastamento na secretaria e no conselho. Ah, e sobre a Olívia, precisamos marcar um dia para ir ao cartório fazer a dissolução da união estável.

- Olha, nunca vi você ser tão eficiente em toda a minha vida, estou chocado.

- Você sabe que sou movido a dinheiro.

- Você é um belo de um mercenário.

- Vai me dizer que não é uma delícia extorquir os parentes?

- Sim... e tu tá ficando rico às minhas custas, né filho da puta?

- Quem liga? - rebateu, dando de ombros. - Vamos pra chapada nesse fim de semana?

- Não dá, não ando numa onda muito good vibes e fumei um ontem e me deu uma bad que não desejo a ninguém.

- Mas o QUÊ? Você fumou um e não me convidou? Tá explicado por que deu a bad. Mas isso não é desculpa, simbora pra Chapada.

- Marquei de jantar com uma mina no sábado.

- Meo deos, macho? Tu já não tá pegando a namorada da Júlia? Arrumou mais uma?

- Relaxa, essa eu vou conhecer ainda.

- Se liga viu? Fica esperto! Tu tem imã pra maluca.

- Fica sussa Henri!

- Sussa? Tô trabalhando dia e noite por sua causa!

- ah tá! Vou fazer de conta que esqueci seus surtos.

- Me erra!

- Pimenta no cu dos outros é refresco, né seu puto? - Henri encerrou a chamada sem se despedir.

Adorava o pé de guerra que era sua relação com Henri. Desde pequenos cooperavam um com o outro em tudo, mesmo enquanto brigavam e se defendiam bravamente quando se tratava de ameaças externas.

Decidiu voltar pra casa.

Anita

Ela estava triste. Amava Diego e passou a amar Benício, mas também amava Júlia. Era poli amorosa e não queria abrir mão de nenhum dos três. Estava em crise, queria ser honesta com a namorada e sabia perfeitamente a consequência de suas ações, decidiu se antecipar.

- Ju, acho que precisamos dar um tempo.

- Você está vendo outra pessoa, certo? - disse Júlia cabisbaixa e engolindo em seco. Elas estavam sentadas uma frente à outra no sofá do escritório de Anita.

- Sim.

- Como você pôde fazer isso comigo? - disse ela alvejando Anita com pequenos socos.

- Sinto muito! - Anita chorava.

- Anita, eu conheço ele?

- Como você sabe que é um homem?

- Ah Anita! Eu não sou otária.

Anita sentia como se tivesse levado um soco no estômago.

- Eu te amo Ju. Não quero ser mais filha da puta do que já estou sendo com você.

- Você me ama? Quem ama NÃO TRAI!

- Ju, é muito mais complexo do que você imagina.

- Não, Anita, não é complexo. Acabou.

Júlia deixou o escritório e também um vazio em Anita. Para uma pessoa imortal a concepção de amor era bastante diferente, não importava com quem ela se relacionasse sexualmente, não importava a frequência com a qual se viam, pois o amor estava presente nos detalhes como o cuidado, amizade e apreço. Anita já amou várias pessoas antes e tinha certeza que amaria muitas outras, apenas queria que esse romance durasse mais um pouco, porém falhou miseravelmente. O término era triste, mas estava acostumada, o amor nasce, mas também morre. Em sua longa existência só uma pessoa era permanente, e essa pessoa era justamente a que mais tinha remorsos de ter traído: Diego.

No dia em que traiu Diego, tudo o que sabia era que metade dos aliados dos Del Toro estavam mortos e que tinham sido mortos pelas mãos do próprio Diego, que naquele momento, não passava de mais uma marionete da maligna bruxa Detzel, lendárias e conhecidas pela crueldade. Todos as queriam e, ainda hoje, as querem mortas.

Lembrou-se do trato que tinha feito com Elizabeth e como precisava ocupar a mente com coisas úteis, decidiu se dedicar ao plano, tinha Isadora, Olívia e Hórus para eliminar.

Ela adorava o conceito do efeito dominó, da reação em cadeia. O ato de movimentar apenas uma peça geraria uma série de eventos. E com essa ideia, decidiu executar a ordem de Elizabeth.

Para Isadora criou uma oportunidade única. Para Olívia, o pior momento de sua vida.

Benício sofreria um pouco, sim, mas ele era a isca perfeita. Propositalmente, não passaria o fim de semana com ele deixando claro que ele não só podia, como devia conhecer outras pessoas. Assim o relacionamento dos dois não ficaria monótono.

Se mesmo assim a Isa não conseguir chamar a atenção do Benício, ela pode desistir.

Na última noite em que Benício passou em sua casa, ela o fez baixar um aplicativo de relacionamento e pessoalmente distribuiu os likes que bem queria.

- Beni, essa aqui é linda. Que tal sair com ela?

- Tanto faz. Isso é sério mesmo?

- Sim! Já marquei um encontro pra vocês no sábado. - Ele queria dizer algo, mas preferiu não continuar. - Depois você me contará tudo! Vai ser divertido!

Agora, se dedicaria ao sou outro alvo, Hórus.

Sua vez, queridinho.

Enquanto estalava os dedos, sentada de frente para o computador, Anita decidiu vazar alguns de seus dados online, quem os acessassem estaria sobre sua mira, mas sabia que seria infinitamente mais fácil chegar no Hórus através do primo do Benício, o famoso Henri.

Preciso me aproximar dele, tomara que não seja hostil.


Alejandro Del Toro

Ele amava o luxo. A simetria. A beleza, o glamour e principalmente a popularidade.

Qualquer pessoa comum que o visse jamais imaginaria o quê de fato era.

Andando pelo tapete vermelho de Canes, era ovacionado como um dos melhores diretores de cinema da atualidade. Bonito, alto, jovem. Suas produções eram sinônimo de sucesso. Adorado pelas marcas, idolatrado por uma legião. Alexandre Távros era o momento.

Dos Del Toro, Alejandro era o porta-voz.

Sabia muito bem como usar as palavras a seu favor. Desde a morte do irmão, tudo o que fez foi angariar aliados, se promover e se proteger. A verdade é que não era um quinto do bruxo que Diego era. Não era bom em criar fórmulas, em manipular os elementos e muito menos lidar com os mortos. Também não era uma força da natureza como Santiago. Não era bom em fazer com que a vida se multiplicasse, não tinha o dom da cura e também tinha zero empatia com os necessitados. Claro, como todo artista ele também era sensível, mas tudo estava centrado em si mesmo.

Tinha a necessidade da adoração, de ser visto, de ser amado, idolatrado e principalmente de ser invejado. Odiava ser o terceiro irmão e agora que tinha virado o líder dos iluminados, nada podia detê-lo.

Estava prestes a receber um dos prêmios mais importantes da noite, quando intuitivamente abriu o celular para verificar o desempenho de suas redes sociais. A ideia era olhar rapidamente o aplicativo de mensagens, quando viu um número desconhecido. Abriu a mensagem e baixou a foto.

Seu nome foi chamado no palco. Colocou um sorriso no rosto. Recebeu o prêmio, fez um discurso perfeito e foi aplaudido como o esperado. Quando voltou ao seu assento ainda ostentava o mesmo sorriso. Se tinha uma coisa na qual desbancava seus irmãos mais velhos era na arte da atuação. Sabia esconder sentimentos e pensamentos como ninguém.

Quantas vezes terei que te matar?

Com um único encaminhamento de mensagem, escreveu: mate.

Isadora

Ela estava sedenta por sangue.

Quanto mais ansiosa, mais sede tinha. Hoje eu vou precisar me controlar. Só por hoje.

Isadora adorava a tecnologia. Os aplicativos de relacionamento facilitavam imensamente sua caça. Podia escolher tranquilamente os rapazes mais bonitos e drená-los. Como gostava de dizer a si mesma, adorava um "sangue premium".

Ela tinha cinco perfis diferentes, mas um deles proporcionou a experiência de conquistar o homem que sempre quis. Ou quase ele. Quando viu a foto de Benício, seu coração acelerou e quando o aplicativo sinalizou que ele também a tinha curtido, deu pulos e gritos de alegria.

No seu quarto de hotel, estava completamente indecisa sobre o que vestir. "Fazer a fofa, bela, recatada e do lar, ou fazer a sexy and perigosa? De qual ele gostará mais?

Vestiu um croped preto, uma calça vermelha aveludada e passou um batom discreto, para evitar borrões caso ele obviamente a beijasse. Colocou brincos descolados, pegou uma bolsa basiquinha da Chanel e partiu para o encontro.

Há dias atrás nunca imaginaria que conseguiria vê-lo tão rápido.

[Podemos nos ver no sábado? o que acha?] Disse Benício por mensagem.

Combinaram de se encontrar em um dos points mais badalados da cidade. O que fazia com que Isadora ficasse ainda mais animada, tudo o que ela mais sonhou na vida era exibi-lo ao seu lado. Seu coração chega errou as batidas ao vê-lo. Ele é tão lindo!

- Oi, prazer! Benício - Disse ele beijando-lhe a mão e em seguida um selinho no rosto. Isadora corou como nunca ao sentir o perfume que exalava dele. Em toda a sua existência, desconhecia alguém tão ou mais cheiroso que Diego.

- Oiiii, prazer, Isadora! - disse ela com um sorriso deslumbrado, mordendo o lábio inferior em seguida, quase sem conseguir se conter de felicidade, afinal foram anos de espera.

- Vamos procurar uma mesa? - sugeriu ele.

- Vamos! - ela se agarrou à mão de Benício, tal qual uma criança. Ele encontrou um lugar próximo ao lago, aconchegante e intimista. Sentaram-se lado a lado. Isadora o olhava repleta de adoração.

- Então... o que você quer beber? - perguntou Benício, um pouco sem jeito.

- um gin tônica pra começar - Isa o observou levantar o braço pra chamar o garçom, mindinho e anelar abaixados enquanto médio, indicador e polegar estirados. Bingo! Ele vai tomar um whisky! O garçom se aproximou.

- Amigo, qual seu nome?

- Pode me chamar de Tito.

- Beleza, Tito. Traz um gin tônica para a senhorita e uma Ipa extremamente gelada, por favor?

Gostei dessa versão! Mais descolado, simpático!

- Mais alguma coisa meu patrão?

- Isa, quer beliscar alguma coisa? - ela estava tão fora de órbita olhando para Benício que foi surpreendida com a pergunta.

- Não, não. Talvez mais tarde.

O garçom se retirou e tudo o que Isadora conseguia fazer era admirar Benício e ele claramente estava começando a ficar sem graça.

- Então Isa, me fale sobre você. Do que você gosta, o que espera de mim...

- Ah! Eu gosto de muita coisa - disse ela com um enorme sorriso. A cerveja de Benício chegou antes do drink e ela observou sedenta ele dar um gole na bebida. Existia algo sexy na forma como o pomo de Adão dele se movia.

- terra Isa, Isa terra! - disse ele rindo.

- ai meu deus! - ela estava nervosa. Eu sou tão fabulosa, como posso travar na frente dele? Vamos cérebro, funciona! - desculpa! Tem horas que eu viajo um pouco.

- Normal.

Em um segundo de Iluminação, Isadora destravou. Contou a Benício sobre suas ações beneficentes, sobre seu suposto trabalho em uma multinacional e o quanto era uma pessoa humana e inteligente. Ele falava pouco, mas se mostrava bastante interessado no que ela tinha a dizer.

Ele estava bem próximo e a encarava sem desviar o olhar. Isa sentiu um breve arrepio. O cara legal e maravilhoso a sua frente era outra pessoa. Ele acariciou seu rosto e ao fechar os olhos, sentiu os lábios dele nos seus. Estava no paraíso. Imaginou aquele beijo por décadas e sua imaginação sequer fazia jus ao que estava sentindo. Ele a conduzia.

- Você dança? - Perguntou ele após proporcionar a Isa o melhor beijo de sua vida. Começava a tocar um pisêro.

- Sim!

Ele a guiou até a pista de dança. A cada passo que davam juntos, Isadora sentia que flutuava. Tudo estava tão perfeito que parecia um sonho. Até que algo alcançou o olhar dele, fazendo com que sua expressão solar, leve e descontraída mudasse para algo gélido.

Henri

Não conhecia pessoalmente o Hórus, mas já o considerava pakas. Dentro das pastas que o hacker tinha mandado sobre Júlia, tinha visto um ingresso que ela comprou para um evento goodvibes na Chapada dos Veadeiros chamado "secrets in the sunset". Pesquisou tudo sobre o evento, embora não fosse o seu tipo de rolê favorito, pensou "por quê não diversificar um pouquinho". Comprou o ingresso certo de que veria a mulher pelo qual era obcecado. Sabia perfeitamente que estava fazendo merda, mas ele não conseguia se controlar. A última válvula de escape, a pessoa que poderia dissuadi-lo da ideia, detestava a vibe jovens místicos e estava, com toda certeza, muito ocupado com a namorada da Júlia.

Seu espírito fofoqueiro imaginou diversas formas de contar para Júlia com quem a namorada dela a estava traindo, mas ser filho da puta com o primo e melhor amigo estava completamente fora de cogitação.

Benício ficaria puto com seu comportamento obsessivo de stalkear, sim, mas o ajudaria a melhorar novamente. Já trair a sua confiança revelando seu caso, destruiria a parceria de ambos e, para Henri, Benício era a pessoa mais próxima, não primo, mas um verdadeiro irmão.

Chegando no evento tudo parecia gratiuz demais. Cumprimentou as pessoas com um namastê. Quando eu contar isso pro Bê, ele vai ficar chocado. Pegou o celular, fez um vídeo e enviou pro primo.

Algumas pessoas dançavam, meio que em transe em volta da fogueira, outras conversavam esparramadas em pufes distribuídos pelo ambiente a céu aberto. Em outro ponto, músicos ditavam o ritmo zen do local. No céu a lua brilhava minguante. Luzes interligavam as árvores. Um aroma diferente perfumava o lugar.

- é uma lenha especial - disse uma mulher com a fala arrastada, ela estava vestindo roupas de linho cru, uma coroa de flores sobre os longos e desgrenhados cabelos castanhos. Mesmo ela não sendo indígena, usava pinturas de alguma tribo.

- interessante. - respondeu Henri sem vontade alguma de continuar a conversa.

Reparou que quase todos ali falavam da mesma forma. Tinham em média umas mil pessoas.

Não sabia que a Ju curtia esse tipo de coisa, ah se arrependimento matasse!

Desde o momento em que chegou, ainda não tinha a encontrado. No mínimo ela deve ter desistido. Sorte a dela.

De repente ele começou a sentir uma sede incontrolável.

- Você aceita água? - perguntou um homem, bastante esquisito por sinal. Primeira vez que vejo um careca de cabelo comprido na vida! Que rolê, isso só pode ser castigo.

- Opa irmão, obrigado! - Pegou o copo, levou até a boca, mas por instinto não conseguiu dar um gole sequer. Melhor tomar uma cerveja quando chegar na pousada.

Poucos minutos depois, as pessoas que antes estavam confraternizando como se estivessem em um retiro religioso, começavam a se agarrar.

Opa, agora sim! Agora aqui tá começando a ficar interessante!

Uma mulher se aproximou de Henri e subitamente o beijou, enquanto um homem o agarrava por trás, beijando-lhe a nuca. Em um susto ele se desvencilhou dos dois que agora se agarravam à sua frente.

Eita porra! Isso aqui foi de zero a cem muito rápido!

Ao olhar ao redor, seus olhos colidiram com os de Júlia. A reprovação dela era nítida. Arrependido, Henri desviou o olhar, mas o que enxergou era absurdo demais para ser verdade. Tirou o celular do bolso e não se surpreendeu com a falta de sinal.

Sangue e fogo! Que inferno é esse?

Um homem o puxou para si. Henri, petrificado, viu as presas, os olhos escurecidos e a pele seca. A medalha em seu pescoço aqueceu e emitiu uma espécie de energia que repeliu o monstro, dando brecha para que corresse. Precisava de ajuda, mas antes tinha que achar a Júlia. Não deixaria aquele lugar sem ela, custe o que custar.


The secret's in the sunset
The lies are in the waves
We ain't seen the worst yet
And it's just too late to change


[Secrets in the sunset | Goodbye June ]


No próximo capítulo, as coisas estão prestes entrar em colapso.

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