Só Agora Eu Sei ✓

By JBoreggio

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Duas almas, dois destinos separados pelo tempo e circunstâncias, mas o fio sempre volta a aproximá-los. Duas... More

0 | PRÓLOGO
1 | FIO VERMELHO
2 | UM ESTRANHO EM MINHA VIDA
3 | NUNCA DIGA NUNCA
4 | PEÇAS SE ENCAIXANDO
5 | VOCÊ SE SUPERESTIMA DEMAIS
6 | UM JOGO DE XADREZ
7 | ME DESCULPE
8 | ESCOLHAS E DECISÕES
9 | COMO ANTES...
10 | O LADO BELO DA FLOR
11 | O IMPOSSÍVEL POSSÍVEL
12 | EXAUSTÃO
13 | "MEU AMOR"
14 | SOU UM CASO PERDIDO
15 | DECEPÇÃO
16 | "AS COISAS NÃO PEDEM A NOSSA OPINIÃO"
17 | O MUNDO É, REALMENTE, PEQUENO
18 | VISITA
19 | UMA SÚBITA REFLEXÃO
20 | PERDIDAMENTE APAIXONADOS
21 | ABISMO
22│A CULPA
23│NÃO ESTAVA SÓ
24│ALGUÉM COMO ELA
25│UM OÁSIS PARA DOIS
26 | UMA ÚLTIMA VEZ
27 | SUA VOZ
28 | LÁGRIMAS SILENCIOSAS E PALAVRAS SUSSURRADAS
29 | ANSIEDADE
30 | PESADELO
31 | NEGAÇÃO
32 | SENTIMENTO DE PERDA
33 | COMO VOCÊ REALMENTE ESTÁ SE SENTINDO?
34 | ESTRAGO PERFEITO
36 | QUAL... QUAL É O SEU NOME!?
37 | A HISTÓRIA POR TRÁS DO NOME
38 | SOZINHA COM ELE
39 | INDEPENDENTEMENTE DO QUE ACONTECER
40 | EPÍLOGO
40.1 | "SONHOS"
40.2 | "SONHOS" NÃO. ENFIM, REALIDADE
ᴀɢʀᴀᴅᴇᴄɪᴍᴇɴᴛᴏs
ᴄᴏɴᴛɪɴᴜᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ

35 | JUSTIÇA INJUSTA

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By JBoreggio

Hanna não sabia como e nem quando capotara em sua cama na noite passada e acabara dormindo. Também não sabia de onde tirava tanto sono, se já havia dormido literalmente um dia inteiro. A única coisa que sabia, era que não eram nem oito da manhã quando seu celular tocou em uma ligação desesperada.

Tateou-o pela cama e atendeu sem nem ver o contato - estava num estado de meio acordada e meio dormindo.

- Alô? - Perguntou com a voz rouca.

- Sou eu, Hanna. Bryan.

Hanna levanta-se de supetão e todo o seu sono se esvai.

Peter, Peter, Peter.

Não havia esquecido dele em nenhum momento. Após o sonho que teve com seu irmão, tratou de forcar-se no agora e no que havia urgência em ser feito, naquilo que deveria ter sido feito há muito tempo. Apesar disso, não deixou de lembrar-se do garoto, apenas não havia mais espaço em sua consciência para mais um fato que a faria ter mais pensamentos depressivos. Porém, agora que sua ficha caíra, o desespero a tomou novamente.

- Bryan? O que aconteceu!? O Peter está bem?

A morena escuta um suspiro profundo do outro lado.

- Eu, sinceramente, não sei, mas o médico pediu que nos reuníssemos. Isso com certeza não é algo bom.

Em "sinceramente, não sei", Hanna já estava de pé, colocando a mesma roupa que colocara na noite anterior, e em "não é algo bom", a mesma já estava em direção ao quarto da mãe.

- Em quinze minutos eu chego.

- Certo.

Antes que pudesse despedir-se e desligar a ligação correndo, escutou:

- E obrigado.

Hanna freou e sua respiração desregulou-se. Conseguiu responder mesmo assim:

- Também.

Então a ligação foi encerrada.

Não havia um motivo explicito ou óbvio para que eles se agradecessem, porém ambos necessitavam de alguma palavra reconfortante naquele momento.

Hanna sutilmente abriu a porta do quarto da mãe, indo a passos apressados, porém silenciosos até a mesma e agachou ao lado da cama.

- Mãe, eu tenho que ir ao hospital.

Agatha acorda em uma velocidade absurda, sentando-se na cama no mesmo momento.

- Hanna... - sussurra devido ao sono - Quer que eu vá junto?

A mais nova engole a seco e pensa no assunto. Por fim, após alguns segundo infinitos de espera, Hanna decidi:

- Quero. - Aceitou a proposta pois iria fazer aquilo que prometera à ela mesma e à mãe: que quando desabasse, deixaria que aqueles que a ama estivessem ao lado ela e cuidassem dela quando não conseguisse mais sustentar sozinha todo o peso, situação que, sabiamente, acreditava que aconteceria nas próximas horas que passaria.

Agatha olhou-a com surpresa, mas sorriu com o peito estufado em orgulho ao perceber a coragem de sua filha.

Era liberdade demais. O gosto daquele sentimento impregnava e transformava o azedo e mal-acostumado paladar de Hanna.

Agatha trocou-se em menos de dois minutos, colocando uma roupa similar à de Hanna, apenas sendo mais coloridas: a calça era azul escura, o tênis amarelo, o moletom um arco-íris de cores com uma frase motivacional extremamente grande, mas que era a personificação de sua personalidade. Dizia: Eu gosto de gente que sabe ser Sol mesmo quando a vida está nublada. Era clichê, mas Agatha gostava.

Fez todo o seu preparo às escuras, então, ao saírem do quarto e acenderem a luz da escadaria para que não caíssem ao descer, apenas naquele momento, Agatha pode perceber a mudança em sua filha, soltando um fraquejo exclamativo inconsciente.

- Jesus! - A mulher gritou em choque.

A morena soltou um fraco suspiro no pé das escadas, virando-se para a mãe enquanto abria a porta da frente.

- Fiz isso ontem à noite, antes de dormir.

Agatha assentiu silenciosamente, analisando cada pequena melhoria e mudança em sua filha, sentindo-se ainda confusa pelas ações repentinas, mas aliviada, ainda assim.

De pé na calçada, depois de dois minutos, o Uber finalmente chegara e ambas entram no carro, mas não antes de Agatha colocar sua destra no braço da filha e dizer:

- Você está linda. Você está você!

Hanna sorri minimamente com o elogio da mais velha, tendo seu coração enchido de paz e ternura. Ela finalmente era ela.

Ambas adentram no veículo e durante os próximos dez minutos nenhuma palavra é trocada entre as duas. Hanna estava muito absorta nas quinhentas mil paranoias que havia criado desde o momento em que soube que havia uma chance - chance essa muito grande - de Peter não estar bem. A preocupação estava entalada em sua garganta.

Checou se havia mais alguma mensagem de Bryan, o que não era o caso. Porém, seu aplicativo de mensagens estava lotado de mensagens de seus dois amigos, Alyce e Aaron, que estavam preocupados com o seu sumiço momentâneo. A culpa pesou em sua consciência por não lhes ter dado nenhuma explicação.

Abriu o grupo no qual consistia o trio e digitou a sentença mais verdadeira e transparente que diria aos amigos em todos aqueles anos de amizade em resposta aos questionamentos sobre seu estado:

"Eu não estou bem"

Continua em outra mensagem:

"E não me forçarei mais a ficar"

Então desligou o aparelho, com suas costas relaxadas e sua mente limpa.

***

Hanna e Agatha andam a passos apressados, quase correndo, até o quarto de Peter. Corredores passam como vulto na visão de Hanna, focando-se apenas no caminho que teria que seguir. Ao subirem e virarem inúmeras esquinas, finalmente a morena tem a visão de Bryan a poucos metros da janela de Peter.

- Bryan...! - Diz ofegante ao chegar.

O outro, que estava de costas, vira-se singelamente e olha com um nítido espanto para o novo visual de Hanna, tremendo os ombros em choque.

- Tá, pera, como?

Bryan piscava freneticamente, tentando entender o que havia acontecido de um dia para o outro para ver Hanna com aquela aparência. Engrenagens tentavam girar em sua cabeça, mas não chegava a nenhuma conclusão.

- Eu... - Hanna engole a seco - decidi parar com aquilo.

O mais alto poderia não entender o que a outra quisera dizer com "aquilo", mas, para Hanna, não era necessário. Ela saber já era o suficiente naquele momento. Era leve.

Bryan balança a cabeça para cima e para baixo devagar, ainda tentando acostumar-se com a ideia e o fato de que não poderia mais chamá-la de "ruivinha". Estalou a língua no céu da boca, respirou fundo e quando estava preste a ditar algo com urgência, para e sorri fraco para Hanna ao observar a estampa de seu moletom.

- Vocês, realmente, têm muito em comum, mesmo sendo tão diferentes... - Sussurra, mas Hanna consegue ouvir e franze de leve as sobrancelhas. Prestes a refutar e indagar o amigo sobre tal afirmação confusa, é interrompida pela chegada do casal mais velho.

- Olá, Hanna. - Charles a cumprimenta cansado.

- Oi, Aurora. Oi, Charles. - Por um breve momento, os cinco acabam por se encararem ao mesmo tempo. Hanna pigarreia e continua: - Esta é minha mãe, Agatha. Mãe, esses são os pais do Peter.

Todos se cumprimentam, com apertos de mãos nervosos e faces ansiosas. Ao acabar, todos se encaram.

- E então...? - Hanna pergunta.

- O médico mandou nos reunirmos. Tinha algo a falar conosco. - Bryan engole a seco.

Os cinco suspiram apreensivos.

- E quando ele vai falar? Vai demorar muito? - Hanna começa a jogar perguntas desesperadas.

- Eu... eu também queria saber. - Responde Bryan.

Agatha assente com a cabeça e senta-se na cadeira azulada mais próxima, pondo a bolsa sobre as coxas. Sua tensão é perceptível. Conhecera pouco Peter, mas fora o suficiente para ficar apreensiva e preocupada sobre seu estado, ainda pelo fato do garoto ser próximo de sua filha. Não haveria motivos para não se preocupar situação.

Aurora e Chales repetem a ação, sentando-se ao lado de Agatha. Seus ombros estavam tensos, assim como expressões.

Bryan e Hanna continuaram em pé, próximo um do outro. A de cabelos negros batia o pé direito freneticamente no chão. Seu tique-nervoso atacava-a. Sua destra também passeava por seus curtos fios de cabelo, passando-os de um lado para o outro.

- Vou buscar água. Querem um pouco? - Bryan se gentiliza.

Hanna aceita. Assim que o moreno se retira, começa a andar de um lado para o outro pelo corredor estreito. Sendo uma área V.I.P, o local era afastado dos quartos comuns e mais reservado, logo, quase nenhuma pessoa passava por ali.

O tique e taque do relógio em cima da porta era o único som audível, além das respirações hesitantes dos presentes.

Bryan, poucos minutos depois, traz um copo de água para Hanna, que a bebe quase por inteiro devido ao nervosismo. E assim o tempo passa.

Era oito e meia da manhã quando saíra de casa. Hanna, ao olhar o relógio novamente, depois de andar de um lado e para o outro, reparara que chegava perto das onze.

A angústia que os cinco sentiam era tanta, que o ar ficara sufocado. Certa hora, Hanna até mesmo fora ao banheiro ver se conseguia respirar um pouco mais. Não mudou nada. Talvez fosse ela o problema.

Agatha e Aurora começaram a conversar, ora ou outra Charles se enfiava no meio do falatório de sussurros - ninguém tinha coragem de falar mais alto do que aquilo. Bryan e Hanna apenas trocaram palavras uma vez: "Que horas são?", Hanna perguntara. Isso já fazia uma hora.

O moreno desistira de ficar em pé esperando, sentou-se numa cadeira mais afastada e olhava no celular a cada cinco minutos, checando as horas, vendo mensagens ou notícias, Hanna não sabia e nem queria saber. Não estavam sendo grossos ou secos um com o outro, só não tinham nenhum pingo de sanidade ou calma para começarem um papo qualquer.

Hanna estava prestes a torrar seus neurônios e invadir a sala que fosse para chamar o maldito médico e Bryan não tinha mais nenhuma força para impedi-la - na verdade, a agradeceria caso isso acontecesse.

Já havia ido e vindo diversas vezes buscar água ou apenas sair daquele local fervendo à tensão, mas nada parecia suprir o estresse de Hanna. O próximo copo de água que tomasse, vomitaria com toda certeza.

Seu estômago estava embrulhado, e não com as boas borboletas que sentia com Peter, mas, sim, com as facadas da ansiedade pedindo por respostas. Sua cabeça girava em tontura, tentando raciocinar quanto tempo mais demoraria.

E Peter.

Peter. O seu nome fácil de se pronunciar, que saia sempre com uma facilidade doce de seus lábios; o seu rosto, suave e tão lindo que doía os olhos, que com sua pequena marca de nascença no canto do olho esquerdo só deixava tudo com mais e mais charme; o seu corpo, que magicamente tinha o modelo e formato ideal para que fosse perfeito nas poucas vezes em que se abraçaram; e o seu cheiro, vindo do seu barato e suave - comum e vagabundo, também - perfume que Hanna tinha certeza que comprara em promoção numa das lojas mais baratas dos Estados Unidos para não gastar desnecessariamente.

Sentia sua falta. Sentia muita. A preocupação martelava, não somente seu peito, mas sua alma.

Hanna não sabia que sentiria tanta falta de Peter até quase deixá-lo.

Só se dá o verdadeiro valor às pessoas que gosta quando as perde - ou quase, era isso o que sua mãe lhe dizia.

Hanna já perdera alguém que ama uma vez. Lembra-se vividamente da dor de perder seu maior confidente e seu único irmão, Ethan. Então, quando se dá a liberdade e possibilidade de jogar-se com tudo em alguém, permitindo-se sentir algo novamente, o destino vem e toma-lhe tudo novamente.

Era uma justiça tão injusta, acreditava Hanna.

Justiça pelo fato de, em toda a sua vida, ter afastado aqueles que a amavam com tanta brutalidade. Parecia só a vida lhe dando o pagamento de todas as suas dívidas.

Injustiça pela vida ter-lhe dado como pagamento o Peter.

Eram suas dívidas. Era ela quem deveria decidir como pagá-las. Era injusto o destino ter escolhido isso por si só. Não era justo com ela. Não era justo com ele. Não era justo com ninguém.

Aproximava-se do meio-dia quando o médico não-se-lembra-o-nome aparece no fim do corredor.

Todos se levantaram com pressa, menos Hanna, que desde o início se mantinha de pé, mas isso não impedira que o sentimento de receio instalasse em seu peito.

- Bom dia.

Nenhuma respiração ou frase sussurrada pode ser ouvida a tempo, antes que Hanna já indagasse:

- E então!?

O médico olha apreensivo, porém, com formalidade e neutralidade.

- Eu preciso que o Sr. e Sra. Elliott me acompanhem por um momento, para que eu possa...

- Me deixe ir junto!

O médico olha-a com um misto de repreensão e compreensão.

- Senhorita, creio que eu não...

- Por favor. - Pedia pausadamente. - Eu te imploro.

O homem mais velho, à beira de seus cinquenta anos, ainda a fitava com cautela.

- Por que não podemos ir todos? - Charles se pronuncia.

- Acredito eu que isso seja um assunto mais particular, que poderá ser futuramente passado para os outros que não são familiares.

- Não há problemas, então. Deixe que todos nós vamos. - Diz com um quê de imperatividade e ordem.

Fitando a todos, o doutor suspira e assente solenemente.

- Sigam-me, então, por favor.

Hanna dá um passo, parando e em seguida virando-se, olhando a mãe.

- Pode ir. Eu vou continuar aqui. Qualquer coisa, venha correndo ou grite o meu nome - a mais velha dita sorrindo.

Agatha tinha o propósito de tirar um mínimo sorriso de sua filha, mas nem isso Hanna fora capaz naquele momento de clímax.

- Vou sim.

Hanna volta e acompanhar os demais.

Ao passarem por alguns corredores, enfim chegam a uma sala. Ao entrar, Hanna mal presta atenção aos detalhes e senta-se onde é indicado. Ao se posicionarem, os quatro - Bryan veio junto, também e obviamente, por mais que não tivesse dado nenhuma palavra sobre vir devido à exaustão -, de frente para o doutor, atentam-se às próximas palavras - palavras essas que ninguém estava pronto para ouvir:

- Peter não responde aos medicamentos. Teve uma convulsão nesta madrugada e por pouco não teve mais complicações. Está cada vez mais fraco e temo o que isso indica.

Todos prendem a respiração.

- E... O que isso significa, doutor? - Aurora pergunta receosa. O medo transparece em sua voz.

O doutor fecha os olhos e solta o ar pela boca. Ao abri-los de novo, o cansaço pesa sobre os mesmos.

- Peter não terá muito tempo assim.

Um fraquejar é ouvido quando Hanna se engasga.

- Imagino que seja poucos dias, talvez horas, até que o corpo dele não reaja a mais nada. E, mesmo que por um milagre do universo ele consiga se recuperar, a probabilidade de ele acordar é quase nula. No pior dos casos, Peter poderá ficar em estado vegetativo sua vida inteira.

A respiração de Hanna se acelera à mil por hora. Se estivesse de pé, seus joelhos cederiam à pressão e estaria no chão neste mesmo instante. Conseguia escutar seu coração bombear sangue para seus órgãos, enquanto tentava puxar o ar para os seus pulmões. Suas mãos tremiam e sua mente ouvia o som de milhares de futuros e desejos sendo estilhaçados em mil pedaços. Sonhos e hipóteses de um futuro não tão distantes pareciam terem sido arrancados à força de sua alma. Sentimentos daquilo que prendia dentro de si parecia ganhar vida e querer escapar por sua garganta, mas não conseguia devido ao choro entalado nela.

O mundo não parecia ter parado para Hanna, e, sim, Hanna parecia ter parado no mundo. Seu estômago embrulhou-se, mas nem isso foi capaz de fazê-la soltar algum som, a não ser um exasperado e angustiado farfalhar que lhe escapara antes que pudesse raciocinar as palavras do médico.

Não, não, não, repetia seu coração.

Nunca, nunca, nunca, concordava a alma.

Sim, o cérebro ditou a verdade.

Balançou a cabeça minimamente para o lado e observou Bryan, que nem se mexera.

Com a maior lentidão, virou-se mais uma vez para o médico, e com seus olhos sem mais nenhum tom, soltou com inexpressão:

- O que quer dizer com isso?

Não havia entonação, nem magia, nem cantar. Eram apenas palavras, que juntas formaram uma pergunta. Pergunta tal que fizera a todos, incluindo Hanna, assustarem-se.

- A melhor coisa a se fazer é desligar as máquinas.

Depois disso, Hanna não ouviu mais nada.

Nem o cantarolar dos pássaros que acordavam lá fora e nem os dos passos de um lado para o outro, não muito distante dali. Nem mesmo o que o doutor recitava em termos médicos. Não ouvira nem sua respiração, nem seu batimento cardíaco. Sua visão também se fora. Não sentia mais nenhum gosto. Não sentia mais nada. Não tinha mais nada em si.

Tudo o que conseguiu ouvir, ver, sentir, tocar, respirar e reviver fora a cena no festival: Peter com a cabeça em sua curva do pescoço enquanto parara de chorar, sibilando num sussurro charmoso e belo:

"Canta pra mim."

Sim, e ela cantou.

Cantou um pedaço de si para Peter naquele momento. Um pedaço muito grande de sua alma. Entregou-se para ele, lá. Entregou-se e ele a acolheu de braços abertos, assim como ela havia feito com ele. Um havia abraçado o lado solitário do outro, apreciando aquele momento. Apreciando aquele sentimento nunca experimentado.

E então, Peter morreria e levaria uma parte sua consigo.

Porém, aquela parte era tão e tão grande que Hanna sentia que sumiria por inteiro. Havia dado tudo de si. E saber que tudo seria tomado de novo, fazia-a sentir seu chão desabar.

Isso não podia estar acontecendo, gritava em sua mente. Mas estava, e era... era. Só era. Era tudo.

Foi só quando as primeiras lágrimas caíram, que Hanna permitiu-se ter medo pela primeira vez em que vira Peter acomodado inconsciente em uma maca hospitalar.

Teve medo de tudo, e isso a assustava.

Ter medo do inevitável é o mais tolo e doloroso medo.

E esse era o pior.

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