Terra Proibida - Essência

By EvaSans86

3.4K 426 5.1K

Em um entrelaçar de passado e presente, mergulhe em uma trama que desafia os limites da razão e da sanidade... More

Nota da Autora
[Agora] A queda
[45 anos atrás] A proposta
Cap. 1 - Sentimentos Ocultos
Cap. 2 - Tormenta
Cap. 3 - Ecos do Passado
Cap.4 - A medalha
Cap. 5 - Revelação
Cap.6 - O nada
Cap. 7 - Oráculo
Cap. 8 - Isadora Moraes
Cap. 10 - Segredos ao pôr do sol
Cap. 11 - Sangue quente
[45 anos atrás] A Alma à venda
[45 anos atrás] A casca
[Agora] O Salto
Cap. 12 - Despertar
Cap. 13 - O Animal que me tornei
Cap. 14 - Presente de grego
Cap. 15 - Feito de lágrimas e cinzas
[45 anos atrás] Ninguém se lembrou
[45 anos atrás] Inferno
[45 anos atrás] Quando todos os homens falharam
[45 anos atrás] Mais que morrer
[45 anos atrás] Seus pensamentos
[45 anos atrás] Miserável
[45 anos atrás] Esse tipo de amor...
Cap. 16 - Versões de uma mulher
Cap. 17 - A casa
Cap. 18 - Terceira morte
Cap. 19 - Primeira vida
Cap. 20 - Alguém tem que morrer
Cap. 21 - Sete Palmos
Cap. 22 - O Centro do Universo
Cap. 23 - Essência

Cap. 9 - Elizabeth Detzel

85 8 188
By EvaSans86

Holy water cannot help you now

Thousand armies couldn't keep me out

I don't want your money

I don't want your crown

See, I have to burn your kingdom down

[Seven Devils - Florence + the Machine]


Morte.

A energia da morte era palpável. Manipulável. Adaptável.

E Elizabeth tinha aprendido com o melhor.

O poder energético das almas vendidas e a canalização etérea.  Os mistérios da existência aprisionada na terra. A força da natureza e a sublimação. Tudo o que sabia sobre si mesma enquanto bruxa, tinha aprendido com Diego Del Toro em suas sincronizações.

Ele era detalhista.

E o detalhe, a precisão e a perfeição era o que faltava a Elizabeth agora. Sabia que a casca de uma Detzel era perecível e por mais que pudesse trocar de corpo quando a matéria não suportasse o poder, em suas convicções, jamais submeteria alguém de sua linhagem a essa troca. Não como sua própria avó tinha tentado fazer com ela anos atrás.

Era noite e a lua cheia iluminava o centro do jardim da casa de Elizabeth, em um lugar afastado e completamente protegido da vista de curiosos.

Neste lugar, calçado em pedras de basalto em formação circular, a ruiva estava de pé ao centro. Deixou as roupas caírem no chão, as mãos em posição de recebimento, fechou os olhos e inspirou o ar, soltando-o em seguida vagarosamente. Uma chama de fogo se fez no chão à sua frente e como fogo em pólvora, fechou o círculo.

O fogo era sua essência, mas naquele momento, o fogo sagrado de sua família era apenas um condutor para o ritual que realizaria. Ali ela incorporava a necromante. Dessa vez, seu próprio sangue faria o trabalho. Olhou para os  pulsos e um profundo corte se abriu neles.

Sete almas surgiram posicionadas ao seu redor. Elas eram suas ancestrais, eram as almas das cascas que pereceram antes dela. Agora, mais do que nunca Elizabeth precisava delas.

— Como? - Perguntou a elas.
Torne-se a rainha, rainha, torne-se a rainha, torne-se, torne-se a rainha. - as vozes das mulheres eram dissonantes e em camadas diferentes, línguas diferentes.
— O quê preciso fazer?
Ele não sabia de tudo, não sabia, não sabia de tudo, sabia, não sabia. NÃO!
— O quê preciso saber?
Se tornar, tornar rainha, rainha, se tornar a rainha Aimeé.

Me tornar igual a Aimeé? Merda.

Todas as mulheres se juntaram em uma só e ficaram em frente à Elizabeth. Odiava tudo aquilo, mas fazer a fusão era necessária. Precisava do conhecimento daquelas mulheres. Precisava chegar ao topo do mundo.

Os corpos celestes entraram pela boca de Elizabeth, e seus olhos tornaram-se uma luz branca. Como filmes sobrepostos, as vidas, os amores, as dores, os anseios, os medos de todas aquelas mulheres sincronizavam com os da bruxa. Era perturbador.

Enlouquecedor.

Diego?

Sua mente focou na figura que amava. O via ao longo do tempo por óticas diferentes, sentimentos diferentes.

Seu corpo desfaleceu.

Uma multidão com todos os espíritos de sua linhagem estavam a sua volta. Pela primeira vez em, talvez, milênios eles puderam escolher sua líder.

Não consigo parar!

Um turbilhão a invadia e não conseguia controlar a gama de informação que os espíritos sincronizavam com ela. Sentia que seu corpo estava colapsando.

Diego!

Suplicava em sua mente. Ele era seu âncora.

Desmaterializou-se.

Nua e coberta de cinzas, Elizabeth caminhava pelo templo gótico que remonta ao século 15 como a rainha que havia acabado de se tornar. Os homens, vestidos em trajes religiosos que tentavam se aproximar e impedi-la de chegar ao seu objetivo não conseguiam tocá-la, estava protegida por uma redoma energética e qualquer magia ou arma que tentassem lançar sobre ela voltava-se contra o perpetrador.

Imponente, majestosa, seus cabelos eram incandescentes mechas vermelhas. Seus olhos uma luz tão branca que era capaz de cegar quem a olhasse diretamente. Aproximou-se de um pequeno livro e antes de tocá-lo, foi emboscada por vários homens munidos de artefatos mágicos. Olhou pra trás. E com um sorriso, um flash da luz iluminava seus olhos, os corpos caiam enquanto suas almas ainda não entendiam que já estavam mortos. 

Elizabeth voltou sua atenção ao pequeno livro e mesmo com todas as barreiras mágicas que o protegiam, o pegou, o abriu e toda a grafia existente nas páginas se transferia para sua pele como tatuagens feitas em fogo. Doía. Dilacerava. Queria colocar tudo abaixo e sem conseguir controlar totalmente sentimentos, razão e poder, acabou por destruir com fogo o lugar.

Desmaterializou-se outra vez.

Agora estava no repositório das almas de Diego. O lugar parecia uma enorme adega, repleta de garrafas. Cada uma tinha um rótulo catalogando de quem aquela alma havia sido, data e motivo de estar ali. Elizabeth se apoiava em uma das dezenas de estantes cambaleante. Estava fraca e cada materialização era um esforço sobrenatural no qual lutava para suportar. Aquelas almas equivaliam a no mínimo umas cinco ogivas nucleares.

A bruxa olhou para a fileira de garrafas que estavam a alturas de sua visão em uma das estantes, as abriu com um único gesto e absorveu. Seu coração batia acelerado, seus olhos reluziam brancos, cabelos em chamas, a pele marcada. Ela sentia tanto poder percorrendo seu corpo que parecia que explodiria a qualquer momento.

Permitiu seu corpo cair no chão. Estava exausta. Sua matéria não resistiria por muito tempo.

▪︎▪︎▪︎

Thiago não estava sabendo como lidar com uma adolescente eufórica em casa. Infelizmente não tinha a opção de pesquisar no google "como desligar um oráculo", então comprou tudo o que qualquer menina naquela idade cobiçava.

— Oi pai! - disse a garota em uma chamada de vídeo o pegando completamente desprevenido com a palavra "pai".
— Vivi, oi! - Ele estava no momento de descanso do plantão noturno do hospital.
— Pai, eu tô preocupada com a Eva, vai demorar muito pra ela entrar em um corpo novo? Eu vi que ela vai acordar em outro corpo mas não consigo ver quando.

Minha estratégia vai dar certo? É isso? E nem precisei perguntar?

— Olha Vivi, se você não sabe...
— Mas pai, tem muita coisa que não sei, por exemplo, esse exercício de química aqui? - mostrava o livro pelo celular desesperada - Me ajuda? Não tô conseguindo passar de fase no Lol, ah eu queimei a sua frigideira favorita, mas por favor me deixa ir no show do BTS, eu quero muito, muito, muito! MEU DEUS! Não tenho o que vestir, preciso de algo lindo pra ver meu utt Jungkook... - disparava a menina enquanto Thiago entrava em modo automático. Sentado em seu consultório ele franzia o cenho enquanto massageava os olhos.

Se já não tivesse aproximadamente mais de mil e quinhentos anos, diria que era novo demais para ser pai, mas para tudo havia uma primeira vez, não é mesmo?  Pai de oráculo ainda por cima!

— PAI!

Os olhos da menina se iluminavam. Uma revelação.

— Vivi! - respondeu ele assustado sentindo a medalha em seu pescoço incendiar. Liz!
— VAI LOGO, PAI!

Virou moda me conjurar agora?

Thiago teletransportou-se até Elizabeth. Ela estava jogada no chão do repositório, rindo de uma forma alucinada. Fazia tempo que não pisava ali. Até isso Diego mostrou pra ela? Francamente. Tirou o jaleco e jogou sobre o corpo nu da bruxa a cobrindo. Quando encostou nela a realidade o bateu com força.

— Que foi? - disse ela entre risadas e lágrimas. Sua forma estava assustadora. - Não esperava me ver assim?

Ele engoliu em seco. Elizabeth estava se desfazendo de tão velha. Aparentava o dobro da idade que realmente tinha.

— Liz, precisava mesmo ser tão extrema?
— Eu vou trazer todos abaixo Santiago. Preciso da sua vitalidade. Por isto te conjurei. - Ela parecia exausta.

Ah! Merda! Pensou ele enojado.

— Eu não concordo com essa ideia, senhora Elizabeth Detzel.
— Então o que quer que eu faça? Devo mesmo sacrificar setenta crianças para recuperar minha casca, enquanto pra você algumas bolsas de sangue resolvem?

Ela tinha um ponto. Ele ficaria sedento por um tempo, porém, seria muito mais fácil administrar do que a morte de um monte de pequenos inocentes.

— Tudo bem. Tire de mim tudo o que precisar.

Do trio Del Toro, a força de Santiago consistia na extrema vitalidade e prosperidade. Quando era mortal, todas as suas plantações abundavam e seus animais multiplicavam. Era próprio da família a cura e a vida. O que também o fazia ser um necromante excepcional. Só havia usado a própria vitalidade para restaurar alguém uma única vez, quando um jovem mortal. Hella era o nome dela. Permitiu que a mente visitasse seu primeiro amor. Se pudesse moraria naquele sorriso, naquele abraço. A primeira vez que amou e odiou as Detzel com todas as suas forças. Será que ela também estaria fundida na espantosa imagem a sua frente?

Sem que ele percebesse, a bruxa estava a sua frente, o encarando com os opacos olhos verdes-musgo. Tudo o que conseguia demonstrar era a mais pura expressão de nojo.

Elizabeth passou com dificuldade os braços por cima dos ombros de Santiago ficando ainda mais próxima a ele. Hesitante, ele colocou as mãos em sua cintura.

Ele já tinha a beijado antes. Já haviam transado algumas vezes tempos depois da morte do irmão. Mas o que aconteceria a partir dali não seria uma efemeridade. Ela consumiria sua vitalidade. Estavam na tênue linha que separava o ódio do amor. O que ia acontecer derrubaria as ressalvas que ambos tinham em sua amizade com benefícios. Estava reticente.

Ela o beijou. Thiago se esquivou olhando pro lado, respirando fundo.

— Tá com nojo?

Thiago mais uma vez engoliu em seco. Contraiu o maxilar. Tocou o rosto envelhecido, a puxou para mais perto ainda e a beijou. Sentiu a transferência começar. Aos poucos ela ia ficando mais jovem. Levou um leve susto quando o toque das mãos de Elizabeth entrou por baixo de sua camisa, tocando seu peito e em seguida descendo até a braguilha de sua calça. Ela ia de fato tirar tudo dele e ele não gostava da ideia.

Ela parou o beijo. Altiva olhou pra cima decepcionada, enquanto Thiago suspirava, vencido, mordendo os lábios e passando desajeitadamente as mãos pelos cabelos.

— E eu que sou a velha. - disse Elizabeth com sarcasmo.
— Você é PÉSSIMA, ELIZABETH! - disse claramente irritado - Me ajuda a te ajudar! - Suspirou, a puxando para si novamente quase enfiando a língua na garganta da mulher em seus braços.

Reiniciaram a transferência. Ele mesmo tirou a camisa enquanto Liz descia sua calça.

— Você aguenta mais um salto? - disse ele ofegante - já que serei drenado, vamos fazer isso em um lugar confortável, pelo menos?
— Sim. - Ele a pegou no colo.

Se materializaram no quarto de Elizabeth em Brasília. Ela estava visivelmente debilitada sangrando pelos olhos, ouvidos e nariz.

Thiago a colocou na cama, lambeu seu sangue e a beijou. Antes de transferir novamente, permitiu-se cheirá-la, começando pela ponta dos pés, subindo devagar, tocou suavemente o clitóris, deixando os dedos deslizarem para dentro de Liz, que arfava. A lambia devagar, com cuidado, percebendo a sensibilidade aflorar em ambos. Em cima dela, com olhares fixos um no outro, o verde-musgo tornava-se uma luz branca e o azul em dourado. Os lábios se encontram suavemente se convertendo em movimentos ávidos.

As mãos de Elizabeth se contraiam nas costas de Thiago que já estava entregue. Ela sentia o corpo dele entrando, invadindo, preenchendo, entregando. Devagar. Transferindo. A cada movimento ela sentia o corpo se recuperando. Soltou um gemido baixo. Ele se afastou um pouco. Cada vez que Thiago abria os olhos, ela estava diferente.

Era impressionante, a Liz que conhecia estava de volta.

Mais?

Ela gemeu assentindo.

Droga!

Ele estava entregue. Mudou a posição a sentando em seu colo. A movimentando em seu corpo, sentindo ela se contrair em volta de seu pênis. Tinha começado a gostar daquilo. Ela o  cavalgava jogando a cabeça e os cabelos pra trás. Por um breve momento sentiu que estava sendo observado, mas carregado pelo momento, deixou passar.

Linda!

Não resistiu em dar uma mordida. A agarrou pela nuca, enquanto sua outra mão apertava vigorosamente o seio de Liz.  Naquele momento queria se ligar a ela, mas infelizmente sabia que estava apenas sendo usado.

— San! - sussurrou ela sem parar o movimento que estava fazendo. Ela empurrou o corpo dele contra a cama, em uma posição onde podia senti-lo mais a fundo, mais rápido e mais forte.

Santiago a puxou para si, a beijou intensamente enquanto seus corpos explodiam em um orgasmo etéreo.

Quando Elizabeth deixou o corpo desfalecer ao lado de Thiago, ela não aparentava ter mais que quarenta anos. Ele, no entanto, parecia ter passado por uma experiência de guerra. Estava pálido e exaurido.

— Liz? Tudo bem?
— aham. - respondeu enquanto se entregava ao sono.
— Que bom. - Thiago se sentava na cama, tomado pelo mais absoluto mal estar. Sentia a garganta queimar com a sede.

Faziam anos que não sentia algo do tipo. Precisava de sangue com urgência. Como não era uma sede qualquer, os bancos de sangue que conhecia não seriam o suficiente. Precisava caçar.

Voltou ao quarto de Elizabeth quando o sol começava a nascer. Se aninhou como uma concha ao corpo da mulher que dormia silenciosa. Inspirou o perfume de seus cabelos, a beijou na nuca e também adormeceu.

Virei o botox mais eficiente da história...

Benício

Ele fechou os olhos e quando abriu tudo parecia coberto por um filtro azul.

Não estava mais na cama.

O tempo estava parado e a parede que separava a cabine  do banheiro onde estava da cabine de Vívian tinha se convertido a estilhaços que flutuavam como se estivessem no espaço, enquanto uma força além da gravidade puxava violentamente o corpo de Benício para baixo. No meio de tudo, estava ele, seu inimigo íntimo ou como de um tempo pra cá passou a considerar, seu outro eu.  Com aquele olhar oblíquo, felino.

nananinanão! - disse o outro balançando a cabeça em negação. - Você vai ficar quietinho aqui. - sussurrou no ouvido de Benício, tão perto que era possível sentir a respiração do outro em seu pescoço.

Um estampido destruía a capacidade de Benício de ouvir qualquer coisa depois daquilo. Seu corpo estava entorpecido, quando o homem puxou a medalha de seu pescoço, se afastando com uma piscadela irônica. Não tinha mais o controle.

Vermelho. Tudo girava vertiginosamente como se estivesse sob efeito de alucinógenos.

Santiago Del Toro. Apareça agora. - Disse Benício sem controle algum das palavras que saíam de seus lábios.

Luz.

Thiago se materializou sem entender absolutamente nada. Olhou para Benício que ria enquanto seu corpo, agora ferido pelos estilhaços, sangrava.

Vivian, querida. - Disse Benício - sua carona chegou.
— Oi? - Disse Thiago, olhando para a menina ainda absorto e confuso.
— Mandei salvar a menina, caralho! - ordenou.

Thiago estendeu a mão para a garota e se desfizeram no ar.

Benício sentia dor.
O outro deixava seu corpo com um "Bom garoto".

Acordou sentindo ter levado um tapa na cara. Já tinha se passado quase um mês desde o dia do sumiço de Víviam e das fatídicas matérias, entretanto esse sonho se repetia diariamente, às vezes com mais detalhes, às vezes com menos, mas com o mesmo conteúdo. E para Benício, esse sonho talvez fosse a forma como seu subconsciente tentava resolver as lacunas das quais não se lembrava.

Já perdi as contas de quantas vezes gravei a mesma coisa nessa semana.

Na cama, Anita dormia tranquilamente ao seu lado. Levantou-se e foi até o banheiro, lavou o rosto e se encarou no espelho. O relógio marcava duas horas da manhã. Puta que pariu. Oficialmente, ele estava afastado das suas funções como médico e sentia-se péssimo.

Segundo as últimas atualizações oferecidas por Henri, a origem das fake news era ninguém mais, ninguém menos que Olívia.

Agora o estrago já estava feito.

Respirou fundo, vestiu a camisa do pijama, pegou o celular e desceu para o pilotis do prédio de Anita. O céu estava estrelado e o aroma da dama da noite pairava no ar.

Benício foi até uma pracinha próxima ao prédio, bolou um baseado e deu um forte trago. Desde a adolescência não fumava um e estava surpreso por ainda saber como preparar. Sentou-se em um dos bancos e deixou seu olhar se perder na luz da lua que brilhava cheia. Colocou os fones de ouvido e ligou em uma playlist aleatória. Fechou os olhos.

Oh, don't be scared about it
Don't forget it was real
Do you remember the way it made you feel?
Do you remember the things it let you feel?

[Do you remember - Jarryd James]

Pensava em Olívia. Pensava em seu inimigo íntimo. Precisava ligar os pontos e nada melhor do que estar brisado para conseguir enxergar novos rumos.

Algo o incomodava.

A medalha.

Passou a mão no pescoço e a segurou. Sentiu um suave choquinho. Pensou em repetir o que o outro havia dito no sonho "Santiago Del Toro. Apareça agora.", mas se recusou a acreditar que algo surreal como os seus sonhos pudessem ser verdade e não estava preparado para ser internado. Começou a rir.

— Meu reino por seus pensamentos. - Disse Anita, sentando-se ao seu lado logo em seguida. Pegando-o de surpresa.
— Uaaallll - Ele a encarou rindo. Fez como se fosse falar algo, mas parou.
— O que foi?
— Nada. Tô viajando aqui. Aceita? - Anita pegou o cigarro e deu um trago.
— Então vamos viajar juntos. Fale o que lhe vier à mente.
— Esse cara. Toda essa confusão na minha vida é por causa dele, mas... Anita, quem é ele? - Antes que a loira o respondesse, continuou - Não me venha com "grande amor do passado" ou "Ele não está mais entre nós", trabalhamos com nomes.
— Bem, o nome dele era Diego.
— Diego Del Toro...

Quando Benício completou o sobrenome Del Toro, Anita sentiu um arrepio percorrer a espinha. Sabia que suas hipnoses sempre davam errado, mas aquele era um caso de emergência. Acho que não vou bagunçar muito as coisas se eu simplesmente o colocar pra dormir. 

— Benício, você está tão cansado. - Ela segurou a cabeça dele o encarando - Seus olhos estão pesados, tudo o que você quer é dormir.

A paisagem ao redor parecia entrar em efeito vertigo. Era quase impossível manter os olhos abertos.

Ei? - Diego chamava a atenção de Benício apontando para Elizabeth e Thiago na cama - Olha pra isso? - falava incrédulo.
Benício não conseguia se manter em pé, mas os olhos estavam fixos na cena.
Enquanto Elizabeth e Santiago transferiam, Diego observava e comentava.

Esse traidor de uma figa!
— Eles não conseguem nos ver?
Só quando eu te matar, então relaxa
— O quê?

De repente a atenção de ambos estava no gemido que Elizabeth produzia. Diego caminhou vagarosamente até eles. Enquanto Santiago estava deitado na cama sendo cavalgado por Liz, Diego a abraçava por trás, beijando sua nuca, puxando seus cabelos e deixando suas mãos explorarem lugares aos quais o irmão não conseguiria tocar.

— O quê você tá fazendo? - Perguntou Benício chocado com tudo aquilo.
Pergunta errada, caro amigo. O que você está fazendo?

Era ele mesmo a beijando e se intrometendo no meio da cena.

Mais? - Perguntou a Liz sem ser ouvido.

Fechou os olhos. Quando os abriu novamente, estava no quarto de Anita, deitado na cama, molhado de suor. Mais um sonho bizarro pra lista. Hoje tá foda. Liz...

▪️▪️▪️

Isadora Moraes

— VOCÊ SABIA DA EXISTÊNCIA DELE ESSE TEMPO TODO E NÃO ME FALOU NADA? - Esbravejava Isadora no meio da rua.
— Fala baixo sua louca! - Anita arregalava os olhos enquanto tentava conter Isadora do barraco.
— Anita, você é MINHA AMIGA! COMO VOCÊ PODE FAZER ISSO COMIGO?

Anita tentava manter a calma em sua elegante postura, vestida em sua camisola de seda preta. Tudo o que lhe restava fazer era esperar a outra se acalmar. Ficaria calada. Decidiu abstrair, fingir demência e ir pra casa.

—  Anita? Aonde você vai? - Isadora estava se sentindo solenemente ignorada. -  Se eu não seguisse ele eu jamais saberia que você estava envolvida com ele o tempo todo! - Anita entrou na portaria do prédio sem ao menos a olhar. - ANITA!
—  Quando você parar de berrar a gente conversa. Se você está seguindo ele esse tempo todo, já percebeu que ele não é o Diego. Então, deixe ele em paz.
— Ele vai ser meu! - A porta do elevador se fechou separando as duas.- dessa vez ele tem que ser meu! - disse a si mesma.

▪️▪️▪️

Elizabeth Detzel

Ela se sentia extraordinária.
Completamente diferente de como estava no dia anterior.

Agora, sentada em seu escritório, zapeando em seu tablet as principais notícias do dia enquanto tomava um café sem açúcar, Elizabeth tinha uma clara visão do quê fazer.

— Quanta falta de consideração sua me deixar sozinho na cama, dona Liz. - disse Thiago entrando no escritório com um copo térmico nas mãos contendo um líquido duvidoso dentro.

Ela apenas jogou o tablet na mesa na direção dele para que ele pudesse ler a manchete criminal do dia.

— Obra sua? - perguntou Elizabeth em tom sério.
— Obra nossa!  - disse ele entusiasmado enquanto bebia seu precioso líquido- Olha só sua cútis, Liz! Como minha filha costuma dizer, "olha o glow up da gata"!
— Não desvia o assunto Santiago!
— Uni o útil ao agradável, minha rainha. Eliminei todos que machucaram e injustiçaram a Vivian.
— Bom trabalho.
— Espera, não ouvi bem, pode repetir? - Um sorriso irradiava o belo rosto de Thiago que se sentava de frente a Elizabeth com uma expressão manhosa.

Liz sorria, vencida, se afundando em sua cadeira com o rosto em brasas. Era como se na noite passada estivesse com os dois ao mesmo tempo e isso a inquietava e excitava.

— San, precisamos selar o Beni novamente.
— Sim. Vamos aproveitar a próxima lua de sangue. Dessa vez eu farei o ritual.
— Vou colocar mais uma estrelinha na sua ficha.
— Preferia outra coisa. - disse ele fazendo biquinho. - Sabia que sou um ótimo botox?
— Te vendo assim nem parece que estava morrendo de nojo, sem contar a brochada.
— Bem na minha cara, dona Liz - disse ele atravessando a mesa, ficando de frente a Elizabeth, acariciando sensualmente seus lábios, pronto para beijá-la.

— Posso saber o que tá acontecendo aqui? Interrompo alguma coisa? - perguntou Benício ao abrir a porta e se deparar com a cena. A cor dourada iluminava suavemente sua íris castanha.

Tá comendo a minha mulher, né safado?



 

Continue Reading

You'll Also Like

5.5K 685 27
Onde Kara Danvers volta a forks para morar com seu pai jeremiah e sua irmã, onde vão começar um novo ano letivo. Essa história é uma adaptação de cre...
6K 688 22
| 𝐸𝑙𝑖𝑧𝑎𝑏𝑒𝑡ℎ 𝑆𝑎𝑙𝑣𝑎𝑡𝑜𝑟𝑒, uma garota meia bruxa e meia vampira. Filha de Damon Salvatore com uma bruxa sangue puro. 𝐸𝑙𝑖𝑧𝑎𝑏𝑒𝑡ℎ é...
129K 9K 53
Anastasia "Ana" Swan é a irmã gêmea mais nova de Bella Swan. Ela é a definição de gentil e inocente. De seu sorriso a suas ações, mas não confunda su...
1.1M 87.2K 48
•DARK ROMANCE• o ano é 2030, um vampiro acaba sendo descoberto por um ser humano e é torturado até entregar seus companheiros e como identificá-los. ...