Caio
Acordei quando o dia estava nascendo, saí da barraca tentando não acordar os dois, o que não tive muito sucesso. Will e Lou acordaram e saíram em seguida, ficamos os três sentados no tronco próximo a margem do lago esperando o sol nascer, mas ele não veio, ficou atrás das nuvens densas que estavam no céu aquele dia. Minha cabeça doía um pouco, na verdade doía muito, nunca mais eu vou beber na minha vida, o gosto amargo na boca era a pior parte de tudo.
Lou ainda mantinha os olhos fechados escorado em mim, o cheirinho de floresta e o vento frio era muito agradável, Will me olhou e sorriu, ficamos olhando para o lago por um bom tempo, começamos a desmontar a barraca e arrumar as coisas. Como da última vez, nós iríamos na confeitaria tomar café da manhã, e depois ir para casa. Dormir numa barraca com pouco espaço, com os amores da sua vida era ótimo, mas dormir em sua cama fofa e macia era melhor ainda, era um privilegio divino que eu não via a hora de usufruir.
Vi Ícaro sair da barraca dele, estava com uma queimadura em forma de garfo, comecei a rir imediatamente e o mesmo ficou de carranca, Luna apenas sorriu abafado e ele olhou indignado para ela. Não faço ideia de como aquela queimadura aconteceu, depois que terminamos de desmontar tudo, limpar o lixo do local e guardar em sacos, entramos nos carros e seguimos para confeitaria.
De início quase fomos barrados, até porque um grupo de adolescentes a maioria de ressaca, não é algo que transmite confiança, mas logo a gerente resolveu o problema e só sabíamos rir daquilo, Will fechou a cara para um rapaz que trabalhava lá, fiquei confuso e sem entender nada daquilo. Todos pedimos bolo de chocolate, só as bebidas que foram variadas, conversamos sobre a festa, sobre a queimadura do Ícaro que rendeu várias risadas, e também sobre o baile que está mais perto do que pensamos.
Assim acabamos tudo, nos despedimos e cada um foi para suas respectivas casas, ainda tinha o final de semana para aproveitar, Will ia dirigindo pensativo e com calma, Lou estava apagado no banco de trás, entrou e já foi se prendendo no cinto e dormindo. Assim que chegamos, carreguei ele para o andar de cima enquanto o Will arrumava as coisas, tomei um banho e troquei de roupa e fiquei deitado com o Lou. Will apareceu minutos depois e me chamou na porta, sai do quarto do Lou e fui para o dele.
— Oi, quer falar sobre algo? — Perguntei e ele confirmou balançando a cabeça.
— A pessoa anônima era o Diego, do nosso time, inclusive era nosso amigo — Disse suspirando e deitando na cama.
— Como descobriu isso? — Fitei sua expressão, não tinha reparado até então, mas ele parecia bem cansado.
— Ele mesmo se revelou, com uma história de paixão e troca. Quando ele ia fazer a grande merda, o Cassius apareceu e disse que tinha apagado tudo em relação a gente — Will sentou e ficou me encarando.
— Não faz sentido isso, tipo nenhum mesmo — Falei olhando para ele, mas na verdade fazia sentindo sim, Diego nunca gostou tanto de mim, e eu sempre senti isso, era meio que uma falsidade fingida de amizade, comecei a perceber isso ano passado, quando ele fazia de tudo para agradar o Will.
A gente era mais novo e ele era um tremendo pé no saco, tudo que eu falava para o William ele se metia, ou sempre tentava ser melhor que eu tem tudo, conforme eu ia firmando amizade com o Will, ele foi sumindo aos poucos.
— Acho que estamos fora de perigo — Disse sorrindo e me abraçando apertado, aproveitei o abraço e o cafuné que veio em seguida.
— Sim, Hey o baile já é daqui duas semanas, o que acha de a gente ir ver os ternos essa semana ainda, por mais que a gente não saiba de quem vai levar, pelo menos isso já fica resolvido — Digo sentindo a mão dele tatear por baixo da blusa e beliscar meu mamilo fazendo eu me arrepiar.
— Tudo bem, a gente vê sim — Will disse me dando um beijinho. — Por que o Cassius apagou as coisas, se ele não suporta você, ou não suportava? — Isso realmente tinha me intrigado, ele tinha a faca e o queijo nas mãos, era a oportunidade perfeita pra ele ferrar com tudo.
— Pelo Lou, ele disse que toda a confusão criada ia fazer o Lou sofrer, e que não fez por mim nem por você, e sim por ele. Lou amoleceu a pedreira pelo que percebi, não sei se você tem noção disso, mas a maioria das pessoas que acabam conhecendo ele, sempre acham algo bom, ou se tornam boas de alguma forma — Afirmei, isso era a mais pura verdade.
— Sim, eu meio que transmite uma energia boa, acho que você entendeu o que eu quis dizer, é justo pelo justo — Will concordou rindo.
— Ah acabei de me lembrar, que ideia foi aquela de fazer o Ícaro beijar o Lou? Fiquei com vontade de esganar você — Enfiei o rosto na curva do pescoço dele, eu realmente não fazia ideia o porquê disso.
— Desculpa — Falei abafado e senti as mãos dele mexerem no meu cabelo com calma.
— Tudo bem, você estava bêbado também, e o Ícaro pior ainda — Disse me apertando no abraço, era bom o abraço dele, era como se fosse proteção.
Ficamos um longo tempo parados na mesma posição, estava pensando sobre os acontecimentos em relação a nós três, sem anônimo, sem mensagens e pegadinhas loucas, finalmente em paz. Lembrei das correntinhas e dei um pulo da cama, busquei as nossas e coloquei no pescoço dele, quando lou acordasse era só entregar a dele também.
— Senti saudades de usar isso — Falou enquanto tocava o pingente com "L&C", sorri e após pôr a minha, dei um selinho nele.
— Também, você tem alguma ideia mirabolante para o baile? — Perguntei me sentando e em seguida Will se posicionou no meu colo.
— Que tal a gente arrumar alguma menina para ir, tira as fotos, depois sai escondido com o Lou e faz nosso próprio baile? Essa ideia me agrada — Disse enquanto mexia os botões da minha camisa.
— Não sei se gostaria de chamar alguma menina sabe? Sei que somos bissexuais, mas não quero ficar vivendo uma mentira, acho que a gente pode ir no baile tipo, sendo par um do outro, e dando a entender que fomos sozinhos não sei... — Digo e Will ri assentindo e me deixando constrangido.
— Quem diria você meu amor, todo orgulhoso de assumir as bundas que come e os pau que chupa — Rolo os olhos quando ele diz isso e ele gargalha alto.
— Bom, podemos fazer nossa própria festa também, e ir depois do baile, sabe que o baile é só uma tradição que não se aplica muito na gente nas circunstancias atuais né? — Digo e ele concorda.
— Seria bom nossa própria festa, os amigos, você tem alguma ideia para decoração em mente? — William diz animado, festa temática era algo que ele amava.
— Não sei, o que acha de Candy Paty? Nós compramos alguns doces, coisas bem básicas e fazemos nossa própria festa, Lou poderá tirar milhões de fotos — Disse já pensando no sorriso contente que aquele ser baixo iria dar.
— É uma ideia bem agradável, eu topo — Disse saindo do meu colo — Vou acordar o Lou para gente procurar os ternos em lojas na Internet — Disse e foi saindo.
Peguei meu celular e disquei o número da minha mãe, talvez ele ficasse preocupada com o fato de eu simplesmente ter sumido ontem.
"— Alô mãe"
"— Olá filho como está?" — Notei a voz dela bem animada.
"— Bem e você? Essa animação toda tem algo a ver com aquele cara de ontem?" — Perguntei e comecei a rir, era óbvio que sim.
" — Eu ainda não estou morta, e o Claus é um amor, você precisa conhecer" — Dizia bastante empolgada, o que era ótimo.
" — Claro, é só marcar um jantar pra gente se conhecer" — Seria uma boa, uma coisa sempre me intrigou, foi a fato de eu nem o Will termos pais, tipo simplesmente não sabemos muitas coisas sobre, já conversamos sobre isso uma vez.
"— Grande jogo ontem, imagino que a comemoração deve ter sido cheio dessas meninas" — Pude notar o tom de tédio na voz dela.
"— Errada, na verdade a comemoração foi um acampamento no lago, só entre amigos próximos" — Mamãe sorriu do outro lado da linha.
"— Que bom filho, bom preciso ir, marquei de almoçar com Claus, beijos e se cuide "
"— Tudo bem mamãe, bom almoço" — Disse e em seguida encerrei a ligação.
Levantei e saí atrás dos meninos pela casa, e encontrei eles na sala comendo batata frita, algo meio engraçado para aquela hora do dia. Lou estava usando o gorro que comprou na Disney, não sei qual o objetivo dele com essas coisas fofas, mas tenho certeza que é matar a gente.
— Bom dia Lou — Digo puxando ele e o envolvendo em um abraço apertado.
— Bom dia baby — Sorri ao ver a empolgação dele, normalmente o final do ano deixa todos empolgados. Ainda mais ele que já vai para o último ano e se formar uma série mais cedo, os privilégios de ser inteligente demais.
— O que querem fazer hoje? — Will disse abrindo espaço para eu poder entrar no meio deles.
— Não sei, não quero sair de casa, a gente podia só jogar vídeo game, ou procurar algo no YouTube, como aqueles desafios, ou transar sabe? Não reclamaria — William sorri safado e Louis repreende.
— Tem um que é de Yoga, casais fazem e é engraçado, é só a gente revezar e dá para brincar — Concordei assim como Will.
— Tem aquele jogo que tem o tapete, e as bolinhas, twist se não me engano, a gente podia comprar na loja de conveniência — Também era uma boa ideia, ficar me amassando com dois homens gostoso em um tapete, tem coisa melhor? Não tem.
Louis
Após decidirmos o que iríamos fazer durante o dia, subimos para o meu quarto e ligamos o notebook, o desafio era de imitar posições de yoga que eram mostradas, Will forrou o chão com duas camadas de cobertores, mas eu acho que não vai dar certo porque pode escorregar.
— Estão prontos? — Perguntei ao ver que eles tinham terminado de arrumar as coisas.
— Sim, pode dar play — Assenti e o vídeo começou, a primeira pose era uma que eles deveriam equilibrar um em cima do outro usando os pés. Will se deitou e esticou as pernas, enquanto caio deitava em cima tentando manter o equilíbrio observei várias vezes eles tentando, e ri bastante a cada queda.
— Você só fica rindo, então tenta também — Caio disse dando espaço, assenti e segui em direção ao Will. Segurei os braços ele e dei impulso, sentindo os pés tocarem minha barriga e logo consegui fazer que nem o vídeo mostrava, virei para o caio e ri.
— Para você é fácil, só é o filé de borboleta — Assenti rindo, e logo começamos novamente, mas não deu muito certo, os meninos caiam muito e eu ria bastante. Então decidimos parar com aquele jogo, e sair para almoçar alguma coisa.
Após termos feito as mudas de roupa e do banho, seguimos para o carro onde logo estávamos indo para uma lanchonete, Caio e Will cantarolavam Young and Beautiful e eu apenas ouvia as vozes, aproveitava cada momento com eles porque todos eram únicos, encolhi as mãos dentro das mangas da blusa do Will, era tão quentinha e confortável, acho que não preciso de roupas tendo dois namorados. E eu realmente amava usar as blusas do Will e do Caio, era muito bom sentir os perfumes e me sentir confortável nas peças. Passei a mão sobre o meu pingente, sorri, pois, estava com saudades dele, desde que começamos a ser "perseguidos", tivemos que mudar muitas coisas inclusive os tratamentos, e agora não precisava mais disso. Eu amava a forma que era tratado, amava ser recíproco com os sentimentos de ambos, sentia como se meu coração fosse uma grande fusão forte e sólida de sentimentos, eu os amava e o sentimento crescia cada vez mais.
Às vezes ficava em dúvida sobre as questões de deixar tudo em sigilo, mas imagino que causaria uma terceira guerra mundial no tradicionalismo escolar se a gente meio que se assumisse, ia ser um caos, com toda certeza.
Despertei dos meus pensamentos quando vi que estávamos entrando no estacionamento de algum lugar, descemos do carro e caminhamos para dentro, logo uma mulher apareceu e nos atendeu. Pedi lasanha e arroz com brócolis, Will pediu hambúrguer e batata frita, Caio pediu strogonoff de frango, e a bebida foi Pepsi.
— Lou estávamos pensando de ir logo preparando as coisas pro baile, principalmente os ternos — Assenti, ainda não tinha me tocado desse baile.
— A gente ia ver isso em lojas virtuais, mas acabamos nos distraindo com o fracasso em forma de Yoga — Sorri, pois foi exatamente isso.
— Tudo bem, acho que vou querer terno preto e vocês? — Perguntei fitando ambos, e eles concordaram na cor preta para todos, era estranho a ideia de estar em um terno preto novamente, a última vez que vesti um foi para ir ao enterro dos meus pais.
Pensar neles era uma grande incógnita, antes eu sentia uma tristeza profunda, agora eu sentia dúvida de como essas ocasiões seriam se eles estivessem aqui, se estariam em casa a tempo para tirar alguma foto, ou se levariam até a escola e ficariam até o final, mas eram apenas possibilidades.
— Lou, o anônimo era o Diogo do time, mas as coisas já estão resolvidas, pelo incrível que pareça Cassius foi o salvador da pátria — Fiquei confuso quando ele disse isso.
— Como assim?
— Ele que apagou as coisas do celular e arquivos do Diogo, a maior merda possível foi interditada por ele — Cassius não era uma pessoa má, apenas não tinha facilidade de se entrosar, fora o pai problemático que ele tinha.
— Ele não é uma pessoa ruim, agora mais que nunca deveriam tentar algum contato, entendo que tiveram rixas durante muito tempo, mas passado é passado certo? — Ambos concordaram, e vimos duas garçonetes trazerem nossos pedidos. Minha lasanha estava divina, e assim que terminamos voltamos para casa.
No caminho passamos na casa da Ícaro, decidimos chamar ele a Luna e para nossa sorte ela estava lá, íamos assistir algum filme ou jogar algo, quando chegamos em casa entramos e eu só tirei os tênis e troquei de calça, voltei para sala e os meninos estavam decidindo qual filme por. Ícaro estava envergonhado, ele me olhava e ficava vermelho, vi a queimadura no braço dele, ela aconteceu quando Pandora esquentou o garfo na fogueira e encostou nele. Não tive como impedir nem a Luna conseguiu fazer nada, foi algo bem imprudente na verdade.
Jogamos os cobertores no chão e enchemos de almofadas, ficamos todos juntos enquanto na TV passava "Interestelar", era um filme bem legal, sobre a terra estar tendo pragas que destruíram grãos específicos e aos poucos o alimento ia acabando, praticamente um reflexo do futuro, me aconcheguei no peito do Caio, enquanto Will tinha a cabeça deitada no meu colo, quando o filme acabou, fomos para cozinhar e comemos panqueca com bacon, Ícaro me pediu desculpas e o Will não perdeu a oportunidade de tirar uma com a cara dele.
William
Depois de termos lanchado, ficamos na sala jogando uno, era um clima bem divertido e descontraído, conversamos sobre inúmeras coisas e sobre o baile, Luna já estava vendo a roupa que iria e Ícaro também, bom seria legal nós todos irmos ver os ternos e praticamente é isso que vai ser feito. Lou estava bem tranquilo, usava a correntinha dele e aquilo deixou ele feliz, era bem nítido que ele estava feliz.
Ícaro e Luna foram embora as 18:30 horas da noite, continuamos na sala deitados no chão vendo filme, Lou estava com a cabeça deitada no meu colo, e eu tinha minhas costas apoiadas no corpo do Caio, podia viver assim, vendo filmes e comendo algumas besteiras quando desse fome, mas ano que vem muitas coisas mudariam, principalmente pela resposta dos olheiros dos times de grande escala no futebol. Estava tão empolgado com outras coisas, que realmente esqueci esse detalhe. Provavelmente minhas chances foram reduzidas a zero após eu ter ficado fora do jogo, mas não tinha problema já que ainda tinha o Caio, e ficaria muito feliz se ele conseguisse entrar
Arrumamos as coisas na sala após o filme terminar e fomos para o quarto, ficamos deitados conversando e ouvindo música, o quarto do Lou sempre era bom de ficar olhando, as fotos, os desenhos, era bem bonito. Ficamos encarando o teto e senti Lou pôr as mãos dentro da minha blusa, olhei para ele com a sobrancelha arqueada e ele riu dizendo que estava com frio na mão. Concordei, mas senti as mãos dele descendo e acabei gargalhando, foi uma boa tentativa de tentar uma investida. Me aproximei dele dando um beijo em seus lábios, e puxando o inferior com cuidado, Caio se juntou a nós pondo as mãos dentro da blusa do Lou que soltou um riso abafado e safado.
Em poucos minutos os beijos já não eram tão calmos, e os toques já não eram suaves e comportados, era uma grande mistura de desejos, era amor na sua forma mais bruta, era o nosso amor, ardendo como o sol.
Lou estava entre nós dois, enquanto Caio o beijava, eu mordia sua costa e seu pescoço fazendo ele gemer, que gemido gostoso ele tem, perdemos totalmente a noção do tempo, para que o tempo existia? Meu pau já estava pulsante na minha cueca, e chegava a doer, foi quando ouvi a porta abrir.
— Will eu vim parabenizar.... — Minha mãe estava parada, olhando com uma cara indecifrável, merda!